Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 44
Ameaça


Notas iniciais do capítulo

De volta com mais um capítulo! E agora com uma boa notícia, até novembro, pelo menos, vou conseguir postar duas vezes na semana. Assim, os dias serão às quartas e aos Domingos!
Capítulo fresquinho saindo do forno!
Boa leitura!



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Passamos a noite no Racho e, no domingo pela manhã, voltamos para Los Angeles, não tinha motivos para ficarmos lá, escondidos do mundo, e, além do mais, meus sogros viriam para o almoço e, acredito, ficariam para o jantar também.

Para nossa sorte, não tinha nenhum paparazzi acampado no portão, o que indicava que outra celebridade poderia ter aprontado na noite de sábado e nós já éramos notícia velha.

Com a nossa saída no dia anterior, todo o meu serviço doméstico acumulou para hoje, não me importei, às vezes isso é necessário. Claro que Alex não me deixou fazer tudo sozinha, dividimos as tarefas e, quando meus sogros chegaram, eu já estava na cozinha, terminando a sobremesa, cantando qualquer coisa.

— Esconde isso porque o Jonathan está vindo para cá! – Dona Amelia entrou na cozinha brincando.

Me virei para recepcioná-la.

— Bom dia, Dona Amelia! – Retribui o abraço que ela já me dava.

— Bom dia, minha querida. Como você está? E eu disse você! – Me perguntou, me olhando atentamente.

Olhei em volta, não vi nem Alex, nem meu sogro.

— Bem assustada com tudo. Com a velocidade que os fotógrafos apareceram na nossa frente. E com as quatro capas de revistas que Lee me mandou ontem.

Dona Amelia se sentou em um dos bancos e soltou:

— Hugh te mandou as capas das revistas? Por que não para Alex?

— Disse que sou mais calma que Alex.

— Isso não foi certo. Você não está acostumada com isso! Não tem que tomar essa responsabilidade para si.

— Não me importei, eu só...

— Katerina, não é assim que funciona. Ele nem te conhece direito. Você não tem uma assessoria de imprensa, não tem advogados e um batalhão jurídico atrás de você para contornar essa situação. Isso é dever dele, com a imagem de Alex. A sua será limpa por consequência, não é justo te jogarem aos leões assim! Não é você que tem uma vida pública aqui.

Fiquei encarando minha sogra enquanto ela parava e parecia pensar em algo, me esquecendo, temporariamente, do almoço.

— Uhn... Dona Amelia... – Chamei-a, ela estava estranhamente calada, e isso não era normal.

Ela voltou a si, mas notei que ainda pensava.

— Já escondeu a sobremesa? – Olhou para a balcão atrás de mim.

— Já sim... apesar de que a geladeira não é lá um senhor esconderijo, qualquer um vai achar a torta lá.

— Não se preocupe com o almoço agora, conhecendo meu marido, ele primeiro vai querer resolver todas as pendências que ele acha que existem no cômodo. – Ela disse e me guiou para fora da cozinha.

Nem pisei na sala e meu sogro apareceu, ele tinha um caderninho nas mãos e uma trena dependurada no braço, Alex estava bem atrás dele, murmurando algo que não entendi.

— Meu pagamento já está pronto? – Sr. Pierce me perguntou ao me abraçar e depois me pediu que o seguisse.

— A segunda parte, tanto do almoço quanto do jantar, sim. – Respondi com um sorriso. Apesar da feição de pessoa séria, meu sogro era um verdadeiro amor de pessoa.

Ele parou na porta do cômodo que seria o meu escritório e eu percebi que nem Alex, nem Dona Amelia tinha nos seguido. E eu nem notei que eles tinham saído da sala.

— Agora me explique o que você quer e onde quer.

Comecei a falar o que eu achava que ficaria bom nos lugares. Algumas vezes ele só concordava com a cabeça e anotava no bloquinho, outras ele me perguntava se eu estava certa disso.

— Juro que é uma ideia, mas eu não entendo absolutamente nada disso. – Falei.

E lá ia meu sogro dar a opinião de quem entendia do assunto, muito parecido com meu pai... só que com este, o assunto era carros.

— O senhor acha que vai ficar bom o que eu falei? – Perguntei até um pouquinho nervosa.

Ele me deu um sorriso.

— Vai sim, Kat. Agora...

— Toda vez que alguém fala isso, me dá um nó no estômago! – Retruquei nervosa, o que fez com que ele desse uma gargalhada.

— Não vou te passar um sermão, filha. Só quero saber que madeira vai querer.

— Ah... isso.

— Sim, isso, Katerina. E?

— O senhor ficaria muito ofendido se eu dissesse que não tenho ideia? Não quero nada branco, porque encarde com o tempo e não há nada que tire isso. Nem pode ser muito escuro, porque senão queima no sol e nem pensar que eu vou colocar cortinas aqui para escurecer o cômodo.

— Então eu já sei o que vou fazer.

— Vou deixar na mão do senhor. Não entendo nada disso! Nadinha! – Respondi.

— Só não vale reclamar depois!

— E eu lá sou de reclamar de algo que ganhei? Claro que não. Apesar de que ainda acho que estou dando trabalho...

— Você está tirando o Jonathan do meu pé, Katerina. Está me fazendo um favor! Nada de desistir agora! Lembre-se que eu também preciso dos meus momentos de paz.

Meu sogro olhou um tanto injuriado para a porta. E lá estava a minha sogra com um sorriso debochado no rosto.

— Bem... eu vou lá começar a fazer o almoço. – Saí pela tangente.

— Alex já começou... – Dona Amelia me disse.

— Melhor eu correr ou é bem capaz que ele ponha fogo na cozinha. Aquele lá não tem a menor ideia de como fazer essa receita! – Apressei o passo para encontrar meu noivo, com cara de perdido olhando para a receita que eu iria fazer.

— Mas o que é isso?! – Ele apontou para o meu caderno.

— Uma receita de família.

— E está em que idioma?

— Eu sou de onde, Surfista? – Questionei.

— Isso aqui é um texto em finlandês?! – Perguntou assustado.

— Pode apostar que sim.

Alex me entregou o caderno com uma cara que me fez rir, bem, não só a mim, mas aos seus pais também.

— E você falou que era fácil. – Apontou para o caderno.

— Eu nunca disse isso. Eu falei que você era inteligente que ia pegar o jeito. E você está indo até bem.

Alex bufou.

— Só que nós não entramos na ortografia nem na gramática, por isso você estranhou. – Terminei de explicar.

Ele ainda estava incrédulo com a escrita do meu idioma nativo. E minha sogra veio ver o que tanto tinha assustado o filhote.

— Bem... não vou dizer que é fácil, mas pelo menos está no alfabeto latino. Podia ser muito pior, filho.  – Ela disse e mostrou a receita para meu sogro que só olhou um tanto desconfiado para o papel.

Alex não acreditou na mãe.

— Tudo bem... entendi. Mulheres se defendendo. – Falou por fim e deixou a cozinha.

Dona Amelia olhou para o marido.

— Entendi. Ficar de olho no...

— Não, Jonathan, parar de olhar para a geladeira pensando que pode comer a sobremesa antes do almoço. Não julgue a receita antes de comê-la, só porque você não entendeu o que está escrito! – Ela parou e cruzou os braços, esperando que o marido, que já estava perigosamente perto da porta da geladeira, saísse da cozinha. – Agora, Kat... pode começar e pode me explicar o que é isso por favor.

Comecei a fazer a receita que levava presunto, na verdade era uma receita de Natal, mas como minhas companhias não sabiam disso, resolvi testar o paladar deles para a cozinha finlandesa.

— O cheiro disso está muito bom! O que é isso? – Alex gritou da sala.

— Algo que eu acho que você vai gostar! – Respondi.

— Tem mais coisa? – Minha sogra perguntou.

— Sim... a entrada, salmão fresco. Na geladeira... – Indiquei.

Ela foi logo colocando a mesa e pegando a entrada e experimentando.

— Isso é muito bom! – Ela falou.

E bastou que ela falasse isso para que meu sogro e meu noivo aparecessem voando na cozinha.

— Não... espera. Eu também estou com fome... – Alex bradou tentando tirar o garfo da mão da mãe. Porém, quem ganhou a disputa foi meu sogro.

Não preciso dizer que a entrada acabou em minutos.

— Então isso é comida finlandesa? – Perguntaram.

— Sim.

— E o que está no forno também?

— E a sobremesa. – Confirmei.

Os três se olharam e eu entendi a conversa silenciosa.

— Mais vinte minutos. Acabei de passar o molho.

Se eu tivesse falado que demoraria mais dois anos, a reaçã dos três seria a mesma, pois parecia que eu queria matá-los de fome.

O almoço ficou pronto, para a alegria da família.

Como eu tinha previsto, meus sogros ficaram pelo resto do dia e estenderam a visita até o jantar, mudando o assunto conforme o dia passava: saindo da nossa presença repentina nas capas de revista, para o evento de lançamento do carro e, por fim, Olivia.

Alex bem disse e, agora eu tinha a prova, minha sogra estava tão ou arrisco a dizer, ainda mais animada do que minha sobrinha para a bendita da viagem.

E eu juro, comecei a temer pela minha sanidade nos próximos dias.

Logo depois do jantar e de uma longa conversa sobre como manter a calma e a cabeça no lugar quando me deparar com paparazzi, meus sogros se foram, restando Alex, nossos cachorros e eu, olhando para a televisão sem nada ver.

— Mais alguma pessoa no seu pé? – Alex me perguntou quando me viu jogar o telefone no sofá.

— Não. Muito pelo contrário. Não me mandaram mais nada... e isso me incomoda.

— Quer saber o que estão falando?

— Claro que não!! Não quero ouvir um bando de gente falando mal de mim. Tenho consciência de que não agrado a todos, mas também não quero ouvir o que dizem por aí. Por outro lado...

— Por outro lado...

— O silêncio de Vic, Pietra e Mel me assusta.

— E posso saber o porquê?

— Porque elas viram algo e não querem que eu veja. E quando chega a esse ponto. Quando elas impõem silêncio de rádio... vamos dizer que a coisa não está bonita.

— Silêncio de rádio?

— Sim... sempre fizemos isso. Caso alguma estivesse em uma encrenca ou precisando de muita ajuda, as outras três imporiam o silêncio, não falariam nada, mas discutiriam entre si a estratégia de ajuda.

— E se for só o fuso horário? – Alex tentou ver o lado bom do silêncio.

— Se não tivesse mais nada, eu tinha recebido, no mínimo, uma contagem regressiva da Pietra sobre o GP de Austin. Ela vem me perturbando assim desde que falei que vou.

— E nada?

— Nem uma palavra, uma figurinha, um meme... absolutamente niente.

— Você tem algum palpite?

— Nenhum. Não posso imaginar o que possa ser.

— Ainda fico com a teoria de que não é nada. E que, por uma vez na vida dela, Pietra teve o senso de ficar calada.

Peguei meu celular no sofá, me levantei e encarei meu noivo.

— Você não conhece Pietra Agnelli, Alexander. Ela é incapaz de ficar calada. Incapaz. – Falei e decidi dar o dia por encerrado. – Eu vou tomar um bom banho e tentar esquecer o que aconteceu. – Me virei e subi as escadas, rezando internamente para que eu não amanhecesse nas capas de mais nenhuma revista.

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Cheguei no escritório um tanto apreensiva. Queria saber se alguém desconfiava de algo ou se alguma fofoca que eu tinha visto apareceu.

Do momento em que parei o carro na minha vaga – Alex queria me trazer, mas eu o impedi, afinal, se tiraram uma foto nossa na frente do prédio, quem sabe alguém não faria a ligação e pudesse estar vigiando? E para a minha sorte não tinha ninguém, um problema a menos. – até o instante em que eu sai de um elevador lotado com funcionários de todos os setores, nenhum comentário, nenhum olhar carregado de reconhecimento. Assim, me permiti relaxar.

Pelo menos ainda não sabem... Ainda.

Trabalhei normalmente e já tinha até me esquecido do assunto, quando parei ao lado da mesa de Milena e lá tinha não só uma, mas duas revistas, com a foto de sábado estampada. Sendo que uma das revistas era nova para mim.

Minha secretaria não tinha me visto, e continuou a conversar no telefone com alguém.

— Como assim ainda não sabem quem ela é?

Silêncio diante da resposta.

— Bem... eu quero saber quem é! Adoro uma fofoca de celebridade e, todo mundo comentou o barraco que foi quando ele a tal de Suzanna se separaram... meu Deus, lembra da cena na porta do restaurante? O tapão que ela deu na cara dele? Os gritos de que ele era um inútil! Eu não o conheço, mas ainda acho que foi encenação pura por parte da modelo!

Outra vez uma pausa, mais curta dessa vez.

— Ah! Eu tinha me esquecido dessa cena! Sorte nossa que a Maggie trabalha naquele lugar e filmou toda a discussão, ou melhor o monólogo da Suzanna e cada um dos tapas e o banho de café que ela deu nele! Ela foi má ali... nossa! Bateu nele com tanta força que abriu o supercílio dele. E depois que tudo acabou, ficou falando aquele monte, dizendo que o Alex era um namorado abusivo, que não a deixava trabalhar... a louca era ela!

Silêncio até que Milena soltou:

— Não sei no que isso vai dar, mas estou esperando a indireta da Suzanna nas redes sociais. Porque ela não vai deixar barato!! Ela e a Mia!! Bem... vou indo, me fala se postarem algo, tenho que trabalhar.

E antes que Milena desligasse o telefone, voltei para a minha sala, percebendo, quando me sentei na minha cadeira e peguei uma caneta para fazer um rascunho do que sabíamos sobre a próxima empresa com quem eu iria ter uma reunião, que minhas mãos tremiam. De ódio.

Não por Milena ficar fofocando no telefone, isso era o de menos. Mas pelo que eu fiquei sabendo.

Finalmente alguém me deu uma versão sem cortes do fim do namoro de Alex. E tinham dado detalhes até demais.

— Ah, se eu ponho as minhas mãos nessa Suzanna! – Murmurei antes de tomar um gole de água e respirar fundo.

Voltei a me concentrar no que eu tinha que fazer e não no passado do meu noivo, e quando vi, já passava das 18:00. Dei o dia como encerrado, e antes de ir embora, conferi a agenda para o dia seguinte.

Último compromisso agendado era às 15:00. Deixei um bilhete para Milena, pedindo que ela não marcasse nada depois das 16:00 e aproveitei o ensejo e já marquei minha folga na próxima semana. Eu era a chefe, e tinhas ótimos motivos para tirar uma folga, afinal, eu não tirava férias propriamente ditas há mais de seis anos.

Minha intenção era ir direto para casa, porém, eu tinha muito na cabeça. Assim, de última hora, decidi por fazer um caminho diferente e acabei sentada no Restaurante de Dottie.

— Se fosse o Alex eu diria que a maré o tinha jogado aqui de volta. Mas você, creio que foi esse tempo fechado! – Ela brincou ao me receber. – Onde está nosso menino, trabalhando?

— Na fisioterapia.

— Caiu de novo?

— Sim, e dessa vez se machucou muito feio. Tem duas semanas que está andando enfaixado.

— Quantas costelas?

— Três quebradas e duas trincadas. Fora os hematomas. – Falei ao me sentar no banquinho.

— Vai ficar aqui ou prefere uma mesa?

— Estou bem aqui na bancada. Não vim para comer...

Dottie me encarou.

— Preocupada com as revistas? – Perguntou baixinho.

— Mais ou menos. Mas não estou assustada. Tenho ótimas pessoas para cuidar de mim.

— Isso você tem! Apesar de que não conheço sua família, mas sei que vou gostar deles. O que te trouxe aqui, se não foram as minhas panquecas?

— Alex.

— O que você ouviu?

— Mais para o que eu não sei.

— Suzanna?

— Sim. Ouvi como as coisas se desenrolaram aqui... – Comecei.

— Maggie, por favor, fique com as mesas agora, sim? – Dottie pediu e eu dei uma olhada para Maggie, a informante de Milena. Depois se virou para mim. - O que você ouviu?

— Não vou falar mais nomes, mas é verdade que ela bateu nele?

— Sim. Com uma xícara, acertou o lado esquerdo dele, abrindo o supercílio.

— Como a briga começou? – Me vi perguntando. – Ele nunca falou.

— Foi de repente. Eles chegaram em um domingo de manhã, ele tinha ido surfar e ela estava fazendo yoga ou qualquer coisa parecida. Era a cena de sempre, ou de todas as vezes que eles vinham. O que estava sendo bem raro. Os dois estavam bem ocupados e Alex estava sendo cotado para uma série que iria ao ar no outono. – Dottie começou e logo colocou na minha frente um prato. – Você come e eu conto, só para disfarçar.

— Tudo bem. Não almocei mesmo... – Falei e belisquei uma panqueca.

E Dottie continuou.

— Eu tinha acabado de servir o prato de panquecas dele, essas com chocolate, e uma xícara de café. Para ela a mesma comida de passarinho, frutas, sem açúcar, sem leite... eu vi a cara de desgosto dela ao vê-lo comer e logo em seguida, perguntou algo como se ele não iria parar de comer como criança nunca. A pergunta dela chamou a atenção de todos, mas Alex só mordeu mais uma panqueca e olhou para ela, dizendo assim: “Achei que nós tínhamos combinado que eu não falaria da forma como você come e nem você comenta o que eu como.” E a mulher virou uma fera, deu um grito, dizendo que ele jamais a apoiou, que ele não ligava para o que ela fazia. Que ele tinha que apoiá-la, pois não era fácil ser a modelo mais bem paga do mundo e manter a forma e ser a única da relação que realmente tinha um emprego.

Dottie deu uma parada e testou as minhas reações.

— Depois deu um tapa na cara dele. Riu do fato de que ele não desviou e continuou a atacar a carreira dele. Os clientes que estavam por aqui começaram a sair, comentando o que acontecia, logo paparazzi entraram e começaram a fotografar e ela só falou: “Nem sei como eu pude me relacionar com você! Você não basta de mais um menino rico que vive à sombra do nome e da fama dos pais! Você não tem talento nenhum! Nunca teve. É só mais um nesse mundo. Sem brilho próprio. E eu não vou ficar presa a uma pessoa que não tem futuro nenhum nessa indústria. Não mesmo. Porque você é um fracasso e vai acabar com a minha carreira. Eu devo ter ficado com você por pena! Só pode! Você é um nada!” E aqui ela deu mais uns dois tapas nele, jogou a caneca de café na cara dele, terminando o serviço ao acertá-lo com a xícara. Quem estava aqui dentro estava horrorizado, Alex vinha sempre e sempre tratou todos muito bem, sempre de bom humor, sempre brincando. Ela nunca fez isso... e, antes de sair, ainda pegou os dois pratos e arremessou no chão.

Eu tinha ficado tão pasma que nem me mexia, nem piscava.

— Antes de fechar a porta, gritou que se ele fosse homem de verdade teria reagido, mas pelo visto era uma barata. Alex tentou ir atrás dela, mesmo com o supercílio cortado, mas tudo o que aconteceu foi ela dando outro tapa nele, na frente de todos os paparazzi que já estavam lá fora. Suzanna foi embora e Alex, para tentar escapar das fotos, ainda mais que ele ainda estava sendo processado por um, entrou novamente. Mas o menino estava o caos. Ele não tinha entendido nada. Ninguém tinha entendido nada. Lembro que ele ficou aqui até que os fotógrafos pararam de tentar entrar. Ele saiu me pedindo desculpas e ficou três anos sem aparecer por aqui. Voltou quando encontrou você!   

Olhei para o prato de panquecas na minha frente.

— Meu Deus...

— Você não acompanha fofoca, acompanha? – Dottie me perguntou colocando uma mão no meu braço.

— Não. Não leio sobre isso, não tenho tempo...

— Não acabou nisso. Ela continuou a atacá-lo. Disse que ele era um namorado abusivo, que a mandava fazer coisas que ela não queria, que nunca a respeitou. Uma amiga dela chegou a insinuar que ele bateu na Suzanna semanas antes. Não foi para frente, mas a mídia adorou o barraco online. Todo dia era uma nova confissão em caixa alta no Twitter, e isso, aliado ao silêncio dele, colocou a modelo em evidência. Capas de revista, programas de TV... ela virou a celebridade. E ele sumiu. Para algumas pessoas isso foi a prova de culpa, que ele realmente fez algo com ela... e, um ano depois, perguntaram a ela se era verdade que ela apanhou dele.

— E mais uma vez ela atacou a família inteira. – Chutei.

— Muito pelo contrário. Disse que ele era tão dócil que não era capaz de fazer nada. Chamou-o de idiota em um programa de grande audiência e terminou dizendo que todos estavam vendo o fracassado que ele era. Depois dessa entrevista, não vi Suzanna falando mais dele. Até hoje à tarde...

Engoli em seco, enquanto Dottie pegava o celular.

— Ela e a amiga, Mia. – Me mostrou a postagem e os comentários.

Só uma idiota para namorar esse idiota.— Era o tuíte de Suzanna.

Idiota?? Essa daí é uma perdedora. Ainda mais que ele. Formam um grande casal, para ser esquecido em cinco minutos!! Nunca vi casal mais ridículo.— Mia respondia.

— Até parece que a Mia te conhece... – Dottie comentou.

— E conhece. – Falei sem pensar.

Dottie se virou para mim.

— Como disse, Kat?

— Mia é minha irmã. Esses ataques só vão aumentar. E eu te juro, não sabia de nada disso antes de conhecer Alex.

— Acredito em você... e, posso ser bem sincera?

— Vá em frente.

— Creio que vai ser você quem vai colocar essas duas no lugar delas. Porque você já conhece como as cobras agem.

— Não tenho tanta certeza, Dottie.

— Kat, eu confio em você. E posso te jurar, vi as mudanças que você já fez por aqui.

— Eu não fiz nada!

— Você está trazendo o Alex de volta para a antiga vida dele. Aos poucos. E vai ajudá-lo a voltar a fazer o que ele gosta. Não é um trabalho de dias... talvez leve meses ou anos. Mas eu sei que você é a única que poderá fazer isso. Porque você não se importou com o que ele é. Mas com quem ele é. Vai por mim, sei o que falo, tenho anos de experiência em observar casais e casais. Vocês dois me passam a mesma sensação de se conhecerem há séculos que Jonathan e Amelia passam. – Me garantiu.

Fiquei tão sem graça que nem tinha palavras para respondê-la.

— Vou preparar o jantar de vocês. Fique aqui. E se Alex te ligar, perguntando onde está, diga que está levando uma surpresa. – Me falou e foi para a cozinha.

Dei uma olhada em volta, vendo alguns clientes e, logo percebi que Maggie me fitava curiosa. Quando percebeu meu olhar, se virou e foi atender a outra mesa, porém, eu notei, ela tinha o celular na mão. Com certeza tinha passado a fofoca para frente.

Alex me mandou uma mensagem pouco tempo depois.

Algum problema por aí? Está tudo bem? Vou te esperar para jantar. Te amo!

Não estou no escritório. Estou esperando a surpresa que vou levar para você ficar pronta. E antes que pergunte, não, não vou te contar o que é!— Respondi.

Dottie não demorou na cozinha e me entregou dois embrulhos.

— Eu sei que você também vai gostar disso. Depois das panquecas, é o prato preferido de Alex. Me conte a reação dele. – Falou logo depois que eu paguei.

— Eu te conto, Dottie. E muito obrigada por me contar o que ninguém quis.

— Como eu te disse, Kat. Tudo pelo nosso menino! Agora vá logo antes que ele morra de fome!

Me despedi dela e fui para o carro. No caminho notei que alguém estava com uma câmera na mão, tirando fotos de algum lugar, rezei para que não fosse de mim. Parei ao lado da porta do motorista e vi que tinha um bilhete preso no limpador de para-brisa.

Um tanto desconfiada, peguei o pedaço de papel e uma letra claramente masculina me avisava o seguinte.

Olá, Katerina Nieminen!

Como pôde ver, eu sei quem você é. E sei mais. Muito mais. Sei onde trabalha. O que faz. De onde vem. Sei quem são suas amigas e, tenho fotos de sua família. Vamos ser amigos e eu não te entrego para a mídia. Mas se você não me responder em 24 horas, sua vida estará em todas as revistas de fofoca, inclusive essa foto.

A foto em questão era do exato momento em que Lucca beijava Eleanor no meio da igreja. E eu, ao fundo, parada, olhando a cena, completamente perplexa diante do que tinha acontecido.

Meu telefone é esse. Entre em contato comigo que podemos negociar um bom preço pelo meu silêncio. Aguardo ansiosamente pelo início da nossa amizade.

Não tinha assinatura, mas tinha um número de telefone.

Tive que respirar fundo para não começar a gritar desesperada. Eu não ligava para a minha foto, apesar de nunca ter visto nada que foi publicado do casamento fracassado. Eu me importava era com o fator família e amigas.

Vi um flash estourar ao longe. Ótimo, tinham me fotografado. Se eu não fizesse nada, essa foto também entraria para as fofocas. Quase que liguei para o número e fiz o acordo, contudo, quando estava para apertar o “ligar”, Alex me ligou.

— Oi Kat... Só conferindo se você não se perdeu. – Ele brincou.

Fiquei alguns segundos sem reação, até que falei:

— Temos um problema. Um bem grande.

— O que foi? – O tom brincalhão de sua voz se fora. Ele soava sério e preocupado.

— Sabem quem sou. E... estão ameaçando entregar fotos da minha família e amigos para a imprensa.

Alex xingou vários palavrões do outro lado da linha.

— Como você sabe disso? – Perguntou depois da explosão.

— Deixaram um bilhete no para-brisa do meu carro.

— Dentro do seu escritório?

— Não... no estacionamento público onde eu ainda estou parada. – Murmurei.

— Saia daí! Agora! Seja lá quem foi, ainda está por perto e está te fotografando. Venha para casa direto, o mais rápido que conseguir. Tente manter a feição séria.

Alex ainda falava quando eu liguei o carro e o potente motor roncou alto.

— Kat... não é sempre assim.

— Eu sei... eu acho. – Murmurei e me concentrei em manobrar meu carro para sair dali. Aproveitei que o trânsito estava tranquilo e acelerei o que podia. Notei que uma moto me seguia e fiz uma coisa que aprendi com meu pai, tantos anos atrás. Pude até escutar a voz dele em minha cabeça...

KitKat, se um dia você achar que estão te seguindo no trânsito, dê um jeito de reduzir perto de qualquer semáforo e passe por ele quando tiver a certeza de que o seu perseguidor irá pegá-lo vermelho e terá que parar, assim, não faça hora, acelere, mesmo que isso resulte em multa, e vá até o seu lugar seguro mais próximo.

E foi exatamente isso que fiz, em uma movimentada avenida, reduzi um pouco a velocidade, esperando que o semáforo ficasse amarelo, quase nos segundos para fechar, quando vi isso acontecer, acelerei pelo cruzamento, vendo que a moto teve que ficar, vez que o entroncamento era movimentado. Depois dessa, não vi mais ninguém atrás de mim por mais de uma quadra, e assim que avistei o muro de casa, já fui abrindo o portão, não esperei que abrisse tudo, bastou o suficiente para que meu carro passasse e eu entrei, para fechar foi tão rápido quanto. Com o portão fechado e me sentindo segura, notei que Alex me esperava na garagem, feições sérias e preocupadas. Assim que desliguei o carro ele veio para o meu lado e abriu a porta.

— Como você está? – Perguntou ao me abraçar.

— Me sentindo segura, agora. – Abracei-o de volta e forte. - Uma moto veio atrás de mim até quase metade do caminho. Consegui despistá-la. Porém não tenho certeza se não sabem que não moro aqui...

— Não devem saber... não te viram no sábado de manhã ao meu lado.

Apertei meu noivo com mais força.

— O bilhete te assustou, não foi? – Ele me puxou para fora do carro, me segurando firme.

— Muito. E... tinha uma foto. Uma foto que eu nunca vi. E que nem deveria existir.

Alex se afastou me encarando nos olhos.

— Que tipo de foto? – Questionou preocupado.

Peguei o bilhete e a foto e entreguei para ele.

Alex passou os olhos pelo papel, a ameaça de exporem a minha família e, depois, parou na foto.

— Presumo que esse é o seu ex? – Ele disse.

— Sim.

Alex analisou a foto e soltou dois comentários.

— Ele fez uma péssima troca.

— Obrigada por me animar um pouco. – Falei sem graça.

— E você estava maravilhosa vestida de noiva. – Continuou. – Parecia uma Deusa Escandinava. Fico feliz pelo tal de Dempsey ser cego... porque agora eu tenho essa deusa só para mim.

Escondi meu rosto em seu pescoço, abraçando-o novamente.

— O que eu faço, Alex? – Murmurei.

— Não caia nessa. Ele quer dinheiro. Muito. Começa assim, depois ele começa a te seguir em todos os lugares, até que tira uma foto bem íntima e te pede milhões. Milhões que você não vai ter... e justo essa, ele vai publicar.

— Mas e minha família? Minhas amigas??

— Eu já estive no seu lugar, Kat. Um número de telefone pode levar à pessoa, acredite em mim. Não se preocupe. Eu te prometo.

Acreditei nele.

— Eu ia ligar... se você não tivesse me ligado, eu ia ligar.

— Imaginei que você tentaria isso. Mas não caia nisso, jamais. Ou nunca mais terá paz. Agora... o que você trouxe? – Mudou de assunto para tentar aliviar o clima.

— Algo que Dottie me disse que você iria gostar.

E ele abriu um enorme sorriso.

— Tem mais de três anos que eu não como isso!! – Falou, começando a me ajudar a tirar as coisas de dentro do carro. e depois me guiou para dentro de casa, sempre me dando beijos na minha têmpora e me garantindo que tudo iria terminar bem.


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Notas finais do capítulo

Está aberta a casa de apostas e de caça! Quem é a pessoa por trás do bilhete? E quem quer a cabeça da Suzanna?
Muito obrigada a você que leu.
Até domingo com o próximo capítulo!
xoxo



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