Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 45
Da Teoria para a Certeza


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo cheio de explicações.
Tenham uma ótima leitura!
Nos vemos nas notas finais.



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Alex me jurou por toda à noite que não era para que eu me preocupasse. Que eu poderia ficar tranquila, que aquilo não iria virar uma exposição de toda a minha família e amigas.

Eu queria acreditar piamente nele. Queria mesmo. Mas eu não conseguia. Algo escrito no bilhete me dizia que essa pessoa tinha informações exclusivas, como se tivesse um informante. Alguém que realmente me conhecia.

Passei por todas as pessoas que conheci por último e que conheciam Alex. Não consegui pensar em ninguém da turma dele que pudesse fazer isso. Tudo bem que eu ainda era um peixe fora d’água comparado com o restante, mas eles não trairiam Alex... não quando ele parecia se dar bem com todos. Depois deles, fui para o escritório. A única pessoa que era mais próxima a mim era Milena, e, pelo visto ela não tinha feito a associação entre a mulher da foto e eu. E, também duvido que ela falaria sobre o assunto tão alto se soubesse a verdade, afinal, ela deveria prezar pelo emprego. Dos demais funcionários, teve aquela, Hanna ou Matilda, que comentou sobre o casamento fracassado... ela era uma possibilidade, se a fonte dela realmente conhecesse toda a família, saberia de alguns detalhes. Mas não todos. Minhas amigas nunca me visitaram no trabalho... e a foto. Aquela foto. Daquele momento. Não... ninguém tinha.

Tinha que ser alguém ainda mais esperto.

Será que era alguém da checagem? A grande maioria são invasores virtuais... poderiam conseguir algumas coisas, ainda mais se invadissem meu telefone. Acontece, mais uma vez que tinha a foto.... e dentro da igreja não tinha câmeras. Nenhuma. Só do fotógrafo contratado, mas ele garantiu que não tinha fotografado o momento, ou foi isso que ele falou.

O que me restava com uma lista bem reduzida de pessoas.

Minha própria família e minhas amigas.

Pietra, Vic e Mel... não, elas não fariam isso comigo. Nossa amizade era de anos e as meninas não se venderiam. Jamais. Eu as conheço.

Minha família?! Kim não faria isso comigo. Ian e Tanya? A filha do meio deles está vindo nessa semana, eles não iriam querer que ela virasse capa de revista também... Meus pais, meus avôs maternos e minha avó paterna também não fariam isso.

Mas Matti sim. Será que tinha sido ele? Ele me queimaria a esse ponto? Querendo forçar a minha a saída da empresa, ele colocaria a imagem do trabalho de uma vida nas páginas de fofocas e a entregaria de bandeja para as hienas? Será que ele chegaria a esse ponto?

Ou... talvez, tivesse sido a Mia. Quem melhor do que ela para ter as informações e essa foto?? Ela não gosta de mim e já deu para perceber que nem de Alex. Fez aquele comentário no Twitter...  era uma forte candidata.

— Quem foi? – Sussurrei no quarto silencioso.

— Você não vai dormir hoje, vai? – Alex me perguntou, eu estava deitada no peito dele e ele me abraçava apertado. Tão apertado quanto suas costelas em fase de cicatrização permitiam.

— Desculpe-me se te acordei. – Falei e tentei ficar imóvel para que ele pudesse voltar a dormir. E foi o que ele fez, enquanto eu fiquei ali acordada, a certa hora da madrugada, com um cérebro que não desligava, formando teorias e mais teorias sobre a possibilidade de minha irmã ser a informante, acabei por me levantar, bem devagar para que Alex não acordasse.

Sai do quarto e logo senti Loki do meu lado, claro que nossos filhos peludos me escutariam andando pela casa.

— Está tudo bem, Ruivo. Vai dormir. – Falei para o cachorro que começou a me acompanhar.

Logo Stark veio e fez a mesma coisa, e depois de algum tempo, eu tinha até Thor nos meus calcanhares. Desisti de andar à toa e voltei até a cozinha, onde fiz um bule de chá e o levei para a sala.

Me enrolei no cobertor que tinha escondido atrás do sofá, liguei a televisão e resolvi ver um dos filmes que Alex tinha feito.

Quase duas horas depois, quando os créditos começaram a subir, eu me vi novamente encantada com o talento de meu noivo. Três filmes, três personagens completamente diferentes. Queria ver mais um, mas a julgar pelo cansaço que começava a me derrubar, eu não chegaria nem na metade, assim, desliguei a TV e me deitei no sofá mesmo, olhando para a porta de vidro e para o pouco de céu que eu conseguia ver.

Acordei um tanto assustada, com o dia já clareando e cheiro de café rondando a casa. Stark e Thor tinham desaparecido do meu lado, mas Loki continuava firme, deitado aos meus pés, com a cabeça em minha perna, me olhando.

— Bom dia, Lokinho! – Falei para ele e me sentei, me espreguiçando e conferindo as horas. Eram 6:30 da manhã. – Hoje é o dia. – Murmurei para mim e não sabia se subia para me arrumar ou se ia para a cozinha e encarava Alex que não deveria estar de muito bom humor por ter sido abandonado no quarto.

Escolhi a cozinha e depois de dobrar e guardar o cobertor no cantinho dele, ajeitei meu robe e meu cabelo e parei na porta. Alex, ou tinha me ouvido e decidido me ignorar, ou realmente não prestou atenção no fato de que Loki tinha entrado na cozinha e comia a ração.

 - Bom dia! – Tentei puxar assunto ao começar a lavar o bule de chá.

Ele me olhou um tanto atravessado pelo canto do olho e continuou a fritar os ovos.

Coloquei água para ferver e, ao passar atrás dele para pegar o que precisaria para fazer o meu almoço, dei um beijo em seu pescoço. O mal-humorado apenas grunhiu algo ininteligível.

Estava fazendo o meu sanduíche, colocando um pouco mais de molho do que seria necessário, quando, depois da segunda xícara de café, meu noivo falou algo.

— Você saiu do quarto para ver um filme?

Olhei para ele.

— Não era a minha intenção, mas como você sabe o que vi?! – Parei a explicação no meio.

— Eu acordei, mais ou menos às três da manhã e como você não estava no quarto, vim te procurar, do alto da escada te vi assistindo ao filme e tomando chá.

— Poderia ter se juntado a mim. – Disse e o olhei.

— Não sei o que tanto te interessa nos filmes que fiz... – Falou.

— Eu já te falei o que. Você!— Tive que explicar. – Eu quero saber como é fazer o que você faz. Como é te ver sendo alguém completamente diferente. E já que você não quer ver comigo para ficar tagarelando no meu ouvido alguns segredos de bastidores, eu me contento em ver a sua filmografia sozinha. E tenho que te falar, vi três filmes, e adorei os três. Amei ver o seu trabalho. Achei surpreendente a forma como você dá vida à personagens que não tem nem um pouco de semelhança com quem você é. E posso te garantir, se a opinião de uma pessoa completamente leiga serve para alguma coisa, é claro, você é muito talentoso.

Alex balançou negativamente a cabeça.

— O que, você não acredita na sinceridade do que eu falo ou no seu talento?

Ele ficou calado e voltou a fazer o café da manhã, fritando alguns pedaços de bacon.

— Porque eu espero sinceramente que seja a primeira, Alex. Você me disse que não iria desistir. E eu acreditei em você!

Ele me olhou nos olhos, creio que procurando a mentira, ou um indício de que eu mentira sobre tê-lo achado talentoso.

— Vamos trocar de assunto? – Pediu.

— Foi você quem começou com esse. – Claro que eu não deixaria barato.

— Mas por que você saiu do quarto? – Ele voltou ao tema da manhã.

— Não conseguia dormir. Muito na cabeça e não queria te acordar.

— E posso saber o motivo de você preferir passar a noite pensando sozinha ao invés de dividir o que tanto te incomodava comigo?

— Porque são teorias bobas, até insanas. – Garanti e peguei minha xícara de chá para tomar, enquanto meu noivo partia para a terceira xícara de café do dia.

— Que teoria? – Ele me encarou, ao puxar o meu banco para perto de si.

— Que a Mia pode ser quem entregou a foto e passou as informações para o paparazzo.

Alex me olhou.

— Você acha isso? Ela faria isso com a própria família?

— Eu não duvido de que ela é bem capaz de fazer isso...

— Mas e a família?

— Isso não é lá muito importante para ela, Alex. Mia não se importa com os irmãos... vive julgando o que eu faço, nas poucas vezes que nos encontramos depois da humilhação na igreja, ela sempre tocou no assunto e saiu rindo. Para me humilhar, para me ver mal, sim, ela é capaz de fazer isso.

Alex me olhou espantado.

— Will jamais faria isso!

— Kim e Ian também não. Mas a Mia nunca esteve na mesma página que nós!

— A cada dia que passa eu me arrependo mais e mais de nunca ter mandado a Mia ficar na dela e calada e quando tive a chance.

— Ela iria adorar isso. Ignorar a existência dela é a melhor coisa que você faz! E agora sou eu quem peço para trocar de assunto!

— E vamos falar de? – Finalmente ele me dava um beijo de bom dia.

— Qualquer coisa… como que dia vamos voltar a correr? Ou, pelo menos fazer uso daquela academia. – Dei as opções.

— E eu achando que você iria perguntar que dia iríamos pular na piscina…. Que decepção!

Tive que rir.

— A menos que a água seja aquecida, eu só vou entrar dentro daquela piscina no verão… detesto água fria.

— Para a minha sorte é aquecida. Agora, quer me informar por que não gosta de água fria se você veio de uma país onde neva? - Alex me indagou enquanto arrumávamos a cozinha do café.

— Caí dentro de um lago congelado uma vez… fiquei mais de quatro horas boiando, sem conseguir sair, gritar… Odin, o husky do meu avô, foi quem me achou. Quando me tiraram de lá, eu estava mais morta do que viva. Minha mãe me disse que eu estava completamente azul. O fim da história foi: dois dias de hospital e uma semana com uma gripe daquelas. – Acabei de contar a história.

— Quantos anos você tinha? – Alex me seguia até o quarto. Todo curioso e preocupado comigo.

— Tinha sete. Saí para patinar no gelo, estava dando um pulo com pirueta tripla, não vi o buraco. Cai direto. Nem sei como tive a ideia de tirar os patins na mesma hora em que consegui tirar a cabeça de dentro d’água. Ou teria me afogado...

Alex me observava com os olhos arregalados e ficou assim até que acabei o meu banho.

— Quantas experiências de quase morte você já teve? – Perguntou quando saí do banheiro, já quase pronta.

Parei para contar.

— Três.

— E os touros na Espanha?

— Eu não fui parar no hospital em Pamplona. Isso não conta. Burradas não são experiências de quase morte. – Expliquei.

— E você voltou a patinar mesmo depois de ter caído em um buraco.

— Dois meses depois. – Garanti. – Apesar de que passei a dar uma volta no pedaço que usaria como rinque. E nunca mais patinei tão longe de casa. Até hoje faço isso.

— Você ainda patina? Dando saltos e giros e tudo? – Perguntou impressionado.

— Sim, por diversão. Assim como danço balé também. Não posso forçar muito, mas não tive que abandonar como hobby.

— Só seu sonho de ir para as Olimpíadas... – Alex murmurou.

— É... só esse. Mas fico feliz de poder andar, correr, dançar... O resultado de tudo poderia ter sido outro. Tive sorte e alguém lá em cima olhou por mim. – Terminei de falar ao mesmo tempo que terminava de me arrumar. – Agora tenho que ir, pretendo sair mais cedo hoje...

— Você quer uma carona?

— Tem algo para fazer em algum lugar? – Questionei.

— Vou no estúdio resolver como ficará o restante das gravações e depois ir atrás de Hugh para falar com ele para parar de te mandar os problemas que eu tenho que resolver, além de começar a resolver o mistério do paparazzo. Então, vai querer carona?

— Claro! Amo dirigir, mas gosto mais da companhia... se arrume logo, vou ajeitar as coisas do trio. – Dei um beijo nele e desci a escada com os sapatos na mão.

Como eu poderia ter imaginado, Alex não demorou para ficar pronto, e eu ainda estava brincando com Thor e Stark quando ele desceu.

— Loki não quis brincar? – Ele estranhou o Ruivo deitado, quieto, apenas me observando.

Olhei para o cachorro. Ele me encarou de volta. E, como eu o tinha há anos, percebi o motivo dele estar tão quieto. Ele estava preocupado comigo, porque eu estava nervosa e ansiosa.

— Loki só está espelhando o meu estado de espírito. – Falei para Alex, ao me levantar do chão e pegar as minhas coisas que eu já tinha arrumado.

Meu noivo observou o cachorro que me observava atentamente.

— Cachorros são incríveis, não são? São capazes de fazer qualquer coisa, até mesmo se preocuparem com seus donos. Enquanto Thor parece ter sido feito para te fazer sorrir, esse aqui – ele acariciou as orelhas do Ruivo. – Parece que te escolheu para te proteger.

— É... deve ser isso mesmo. – Beijei o alto da cabeça do meu cachorro e me despedi dos outros dois, que estavam fazendo um cabo de guerra com o brinquedo.

Alex me guiou até o carro e quando entramos na BMW, ele se virou para mim e apenas disse:

— Preocupada com hoje à noite ou com o fotógrafo?

— Com o paparazzo. E, não é comigo... meus pensamentos não param de colocar a Mia por trás disso e, com a chegada de Liv, tenho medo do que possa vir a sair na mídia. Não quero minha sobrinha nas revistas, não quero ter que deixá-la dentro de casa por conta de um desgraçado que quer uma foto minha, quer soltar no ventilador cada erro que cometi na vida. Quero que Olivia possa se divertir.

— E ela vai. Eu te prometo. Isso não vai durar para sempre. Depois que a novidade passa, as fotos param de ser frequência, tem sempre um novo rosto em Hollywood. – Alex me garantiu e assim que tirou o carro de dentro da garagem, pegou a minha mão na nele e ficou assim por todo o trajeto, dirigindo com uma só mão, mesmo quando ultrapassava os carros.

— Que horas te pego? – Questionou quando já estávamos bem perto do escritório.

— Às 16:00, por favor. – Pedi e vendo que ele estava parado no semáforo da rua abaixo de onde o prédio se localiza, me despedi dele ali.

— Não... te levo até a porta.

— De jeito nenhum. Posso apostar que estão esperando por nós. Sabem qual é o meu carro, devem saber o seu também. Eu fico aqui... Boas reuniões para você! Te iubesc. ­— Me despedi dele.

— E isso é?

— Eu te amo! – Brinquei e dei um beijo na ponta do nariz dele e acabou ficando um pouco marcado de batom.

— E que idioma? – Ele foi mais específico.

— Romeno.

— Então... – Ele parou para pensar no que eu tinha falado e soltou um “Te liubesc”, meio cheio de sotaque e um tanto errado, mas com um sorriso tão grande no rosto que eu nem me importei em corrigi-lo.

— Te vejo daqui a pouco, Surfista! – Outro beijo e desci do carro.

Vi quando o semáforo abriu e ele passou por mim, dirigindo devagar, atrapalhando o trânsito, mas não deixou de abaixar o vidro do lado do passageiro e falar:

Rakastan sinua, Kat!

As pessoas que estavam caminhando perto de mim, olharam na minha direção, eu poderia muito bem tentar disfarçar, contudo não o fiz, não deu de responder, porém acenei de volta, sei que ele me viu pelo retrovisor. Com um sorriso no rosto, segui pela rua e ao virar a esquina, me deparei com dois homens com câmeras no pescoço, um deles checava o celular e falava com o outro o seguinte:

— Ela tem um Porsche Cayenne, último modelo, preto e de vidros filmados, a placa do carro é 8HCR197.

— Ótimo, vou colocar o Mike de aviso, se ele vir um carro assim passando por Hills. - Falou o segundo.

Agi normalmente, agradeci ao fato de estar com os cabelos soltos e de óculos escuros, então passei por eles como se não estivessem falando de mim ou me esperando. E, mesmo assim, ainda pude escutar:

— E se o Alex a trouxer? Estão em alerta, o imbecil do Taylor teve que deixar o bilhete ontem... tudo estava indo muito bem, ela estava no papo, até que viu o bilhete e saiu voando pela cidade... – Continuou o segundo que digitava freneticamente no celular.

— A BMW dele é fácil de reconhecer. Azul marinho. Com deck para a prancha de surf. 9WOT102.

— Eles não estavam em um BMW na madrugada de sábado.

— Tenho que perguntar para a minha fonte, mas ela não me passou mais nada. – Falou o primeiro fotógrafo que, ao ver um SUV preto se aproximando, preparou a câmera. – Mas que merda, que horas que essa mulher vai vir trabalhar? Eu quero vender essas fotos ainda durante o dia. À noite tem o lançamento da campanha da Porsche e eu quero ver se pego alguma foto exclusiva. – Reclamou.

— Conseguiu entrar no evento?

— Não. Vou ficar na porta. Lá dentro só o pessoal autorizado. Ninguém que eu conheça conseguiu a credencial. Mas vou ficar até o fim, sempre tem um que sai bêbado demais e carregado, ou aquele novo casal que vai ser as páginas dos próximos dias... – Riu do que planejava.

Com essa fala, me vi novamente pensando no fato de que Mia estava por trás do vazamento das informações e que, à noite seria uma provação. Eu tinha a opção de chegar depois de Alex. Ele poderia parar para as fotos ao lado do carro que eu sabia que ficaria exposto e, então, eu me encontraria com ele lá dentro. Afinal, eu também era convidada. Parecia um bom plano. E, assim, eu não atraia ainda mais olhares para cima de mim e poderia tentar evitar que a visita iminente de Olivia virasse um desastre.

Faltavam poucos metros para a entrada principal do prédio quando os dois fotógrafos saíram correndo na minha direção. Eu não sabia para onde eles iam, e se eu corresse, entregaria que estava ali. Mantive o passo e um deles passou por mim correndo tanto que quase me derrubou no chão, ele nem se dignou a olhar para trás e se desculpar, só saiu gritando palavrões e xingando, dizendo que Alex tinha enganado a todos.

Quando me recuperei do quase tombo, entrei no prédio, os dois seguranças me pediram o cartão de acesso e me cumprimentaram, além de perguntarem se tudo estava bem.

— Sim, claro. Só dois malucos. – Falei como se não tivesse importância, mas por dentro eu tremia.

— Estavam acampados aqui desde cedo. – Me informaram. – Quer tomar alguma providência, senhora?

Era a oportunidade perfeita.

— Eles ficaram só na calçada, ou tentaram entrar ou fotografar o interior do prédio? – Questionei.

— Só ficaram na calçada. Não sei quem eles esperavam.

— Não podemos fazer nada. Mas se tentarem entrar no prédio ou fotografar o saguão, vocês podem bloquear. Aqui é propriedade privada. – Avisei e me encaminhei para o elevador. No momento em que as portas se fecharam, respirei fundo, tentando me acalmar para começar o dia. Estava quase conseguindo, quando ouvi um bip no meu celular. Uma mensagem.

Achando que era de Alex ou até mesmo de Olívia, tirei o telefone do bolso da saia e olhei. Não reconheci o número, não era nenhum contato.

Eles vão, logo, logo, saber de tudo sobre você. Tudo. Eu tenho todas as informações e vou vendê-las. Não vai demorar muito, e o seu posto de mulher perfeita vai ruir. Tudo o que você tem, vai acabar. Seu avô vai te colocar na rua. E eu vou rir da sua cara, como sempre fiz.

Confesso que quando comecei a ler, fiquei com medo, mas o final só serviu para provar o que eu já desconfiava.

Mia queria me derrubar. Era ela o contato dos fotógrafos.

Seria uma briga interessante. Se eu quisesse jogar nos termos dela. Mas fazer isso, era me rebaixar ao nível dela, e eu jamais chegaria a esse ponto.

Minha irmã queria guerra, e eu poderia jogá-la da forma que eu sabia.

Ignorando a existência dela e fazendo justamente o oposto do que ela pensava que eu iria fazer.

Mia tinha certeza de que eu iria recuar, que eu me esconderia. Que eu voltaria para a segurança da vigília de meu avô.

Ela estava redondamente enganada.

Eu já não tinha um avô... não voltaria para Londres.

Eu iria chegar ao lançamento da campanha ao lado de Alex. De mãos dadas com ele.

A mídia estará lá. Todos vão ver. Todos vão saber.

E minha irmã vai morrer de ódio. Porque ela quer vender o meu rosto, e eu vou dar isso de graça para quem quiser ver.

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Eu trabalhei normalmente e, bem mais calma do que estava pela manhã, encarei a minha agenda apertada como se fosse qualquer outro dia.

Fui conversar com o pessoal da Pesquisa sobre o novo software que eles estavam desenvolvendo, tive tempo de me apresentar aos trainees e aos estagiários que começavam seu programa de 18 meses e, não foi difícil de lembrar dos meus primeiros dias na empresa quando vi a carinha de animados dos trainees, principalmente quando eles foram designados para áreas que lhes interessavam. A trainee de Milena, que pegou o elevador comigo, estava tão eufórica que não parou de falar um minuto. A jovem de 17 anos, chamada Amanda, estava tão empolgada por começar que disse que nem se importava se tivesse que subir e descer os 30 andares de escada todos os dias.

— Espero, um dia, poder estagiar e trabalhar aqui. Meu pai é funcionário daqui também. – Me disse dando pulinhos.

— É mesmo? – Perguntei.

— Sim... ele trabalha no transporte. É um dos capitães dos navios. Eu pouco o vejo, mas ele ficou muito feliz quando eu fui selecionada.

— Imagino que tenha ficado.

E Amanda não parou por aí...

— Pelo visto essa empresa realmente é coisa de família, não é? – Questionou feliz.

— Pode-se dizer que sim. – Respondi e chegamos ao andar da minha sala.

— UAU!!! Isso é muito, muito... – E faltaram palavras na boca da adolescente para descrever o que ela via. – Muito obrigada por me dar essa chance! – Ela me abraçou apertado. – Epa... acho que ...

— Tudo bem! – Garanti. – Venha, vou te apresentar à sua chefa. – Indiquei o caminho.

E Amanda me seguiu com um genuíno sorriso no rosto e quando paramos na frente da mesa de Milena, ela começou a dar pulinhos de ansiedade.

— Milena, a sua trainee, Amanda. – Apresentei. – Amanda, essa é Milena. Ela é a secretaria executiva do prédio e a responsável por filtrar o que entra e o que não entra dentro da minha sala. É com ela que você vai trabalhar. – Informei e Amanda foi logo estendendo a mão para Milena.

— É um prazer, senhora!

— Pelo amor de Deus! Senhora não! Pode me chamar de Milena! – Minha secretária disse rindo. – E espero que esteja pronta para trabalhar, porque aqui o ritmo é alucinado.

Amanda abriu um enorme sorriso.

— Pode apostar que sim. E onde eu vou ficar?

Milena apontou para a mesa perto da dela e logo estava passando as primeiras informações sobre o que a garota iria fazer... deixei as duas ali e voltei para a minha sala para finalizar o projeto de carga de dois clientes... isso não era mais minha responsabilidade, mas como eles exigiram isso – e pagaram por essa exclusividade – eu estava quebrando a cabeça para traçar uma rota rápida, segura e que não nos desse prejuízo.

Um pouco depois das três, com meu serviço todo em dia, Milena entrou na minha sala, sorridente, porque a trainee estava correndo pelo prédio no lugar dela, com o intuito de confirmar a minha agenda para a próxima semana.

— Se eu li direito, você vai sair cedo todos os dias? – Perguntou descrente. – E não vai vir na quinta e na sexta? Vai ao médico?

— Não... – Garanti. – Minha sobrinha vai vir me visitar. E não quero que ela fique trancada dentro de casa por todo o tempo.

— Certo. Compromissos até às 15:00 horas. Anotado. E a reunião com Londres? Não é na quinta?

— Mandei um e-mail e pedi que fosse adiantada para quarta. Parece que aceitaram.

— Claro. Então, na outra segunda, tudo volta ao normal?

— Sim. Trabalho das 8:30 às 18:00. Se eu tiver que sair mais cedo, eu te aviso. E, por favor. Primeira quinzena de dezembro. Dos dias 5 a 12, estarei em Londres para a reunião semestral. Preciso que Mitchell, do Financeiro, assuma o posto para mim, enquanto eu estiver fora. Quero uma reunião com ele em 15 dias, para ajustar os pormenores.

— Será que ele vai aceitar... ele recusou esse cargo! – Milena disse preocupada.

— Eu preciso de alguém para resolver um problema de última hora que eu não poderei resolver à distância, Milena. Eu sei da situação dele. Mas preciso de alguém de confiança e ele me passa isso. Mitchell é tranquilo e sabe liderar sem sobrecarregar ninguém. Ele fará o básico e saíra na hora de costume. Você filtrará ainda mais o que ele irá olhar e o que vai sobrar para mim.

— Certo. Creio que assim ele deva pegar o cargo.

— Ainda temos que conversar. E você participará da reunião, pois algumas coisas ficarão nas suas mãos... Como não marcar nenhuma reunião para ele com novos clientes, mas isso fica para daqui a 15 dias.

— Tudo bem, anotado. Mais alguma coisa?

— Sim... não escravize Amanda. Ela tem cara de ser uma boa menina, mas não abuse da boa-vontade dela.

Milena riu.

— Com ela querendo correr pelo prédio, e você fazendo as suas rondas... eu acho que não vou andar mais tanto assim... Era só isso tudo. Creio que já está na sua hora.

Conferi a tela do celular. E lá vi uma mensagem de Alex. Ele estava na garagem.

— Sim. Minha deixa. Um bom final de tarde para você, Milena. Nos vemos amanhã! – Me despedi dela e comecei a fechar e guardar as minhas coisas.

Não demorei dez minutos e estava parada na frente do elevador. As portas se abriram e quase que Amanda me joga no chão.

— Me desculpa, Chefa! Prometo tomar cuidado da próxima vez.

— Sem problemas, Amanda. Boa tarde para você.

— Tchauzinho! – Ela disse e foi correndo para a mesa de Milena, já perguntado o que poderia fazer para ajudar.

Fiz uma viagem sem paradas até o segundo subsolo. E caminhei devagar até o carro que tinha uma mudança. Os vidros claros foram substituídos por insulfilm escuros. E assim que passei por ele, escutei as portas serem destravadas. Guardei minha bolsa e pasta no banco de trás e logo me sentei ao lado de Alex, que parecia um tanto taciturno.

— Poderia dizer boa tarde, mas creio que você me responderia com o famoso “Para quem?” – Comentei diante de sua imobilidade.

— Nunca com você! – Ele me garantiu, olhando para mim.

— Não precisava fazer essa mudança por mim. – Apontei para os vidros escuros.

— Não vou negar que foi pensando em você que coloquei isso. – Alex disse. – Mas foi pensando em Olivia e em mim também.

Levantei uma sobrancelha.

— Amanhã será como voltar à Faculdade depois que apareci na TV pela primeira vez. – Ele disse e ligou o carro.

— Não estava por perto quando isso aconteceu. – Comentei.

— Todos atrás de mim, com câmeras nas mãos, para provar que eram meus amigos.  A diferença é que amanhã, quando eu colocar a cara na rua, os fotógrafos vão começar com as mesmas velhas perguntas e os mesmos cliques inconvenientes. Não vou negar que copiei a ideia de seus carros... – Ele falou.

— Ajudou alguma coisa? – Perguntei me referindo aos vidros ultra escuros do Aston Martin que no último sábado tinha servido de fortaleza para nós dois.

— Muito. Nenhuma foto nossa lá dentro. Vou fazer isso com o Jeep também.

— Bem... não terá foto, mas eles saberão quem somos.

— Eles sempre parecem saber.

— Vai por mim. Eles sabem. Estavam parados na porta da garagem hoje cedo... esperando pelo meu carro, tinham até a placa. E o nome do paparazzo de ontem é Taylor. Ou do sobrenome, vai saber. - Passei a imformação que sabia para frente.

Alex deu uma risada sarcástica.

— Não te disse que todo mundo tem um preço.

— Não precisaram subornar ninguém, foi a Mia. Agora tenho certeza. – Falei assim que ele cruzou o portão do prédio e alguns flashs dispararam.

— Dessa vez sem fotos. – Alex murmurou azedo, e entrou de uma vez na rua, confiando em seus instintos de motorista e na potência do motor do carro. – Como sabe?

Peguei meu celular e li a mensagem em voz alta.

— Tem certeza? Me pareceu bem genérica.

— Esse final? “E eu vou estar rindo da sua cara, como sempre fiz.”? Alex, isso aqui é a minha irmã, eu tenho certeza.

— Não vou contra a sua certeza, você a conhece melhor do que eu... – Ele comentou e depois ficou calado.

— Mas algo ainda te perturba...

Ele tirou o celular do console do central e me entregou.

— Veja por si mesma. - Disse ao destravá-lo.

— Aonde?

 - Mensagens.

Abri o aplicativo de mensagens e logo vi, um número fora dos contatos.

Acha que namorar uma pobre garota rica, que mal chegou na cidade e que não conhece esse mundo das celebridades, será a sua salvação? Acha que assim vai voltar aos holofotes? Está muito enganado. O romance de vocês está fadado a acabar, ela vai sair correndo quando te conhecer de verdade. Ou quando souber algumas coisas... em quem será que ela vai acreditar? Você não é perfeito, Alexander. Nunca foi. Ela não te conhece. Mas eu sim... e eu não vou deixar você voltar a ser a celebridade que era nunca mais. Aproveite os poucos minutos de exposição, pois logo estará voltando para o mundo dos fracassados.

Eu li, e reli. Depois do que Dottie me disse, eu sabia quem tinha mandado isso.  

— Pelo visto sua ex não quer que você seja comentado por aí. – Falei ao bloquear a tela e voltar com o aparelho para onde estava.

— Como sabe que é ela?

Mordi o lábio e contei toda a verdade, levou o tempo para que chegássemos em casa e assim que Alex parou o carro, se virou para mim e apenas disse:

— Você escutou uma conversa da sua secretária, juntou com uma informação que você pegou no nosso primeiro encontro e foi buscar respostas com Dottie? Por que não com minha mãe? – Ele me perguntou, um tanto ofendido pelo que fiz, mas não com raiva.

— Vamos dizer que Dona Amelia já tinha me contado uma parte. No dia em que saímos para cavalgar... ela me contou muitas coisas, algumas sobre você, outras sobre ela... eu contei para ela tudo o que aconteceu comigo. Sua mãe é uma excelente ouvinte.

— Sei que é. – Ele confirmou. – Mas você não me respondeu.

— E depois de juntar o pouco que a sua mãe me contou, com o que escutei de Milena, procurei Dottie. Foi lá que a coisa começou, e eu sabia que ela me contaria tudo, e um pouco além.

— Por que não pesquisou na internet?

— Porque pessoas mentem em notícias, tudo para vender. Eu tive a experiência de ler que já sabiam tudo de mim, quando nem ao menos o meu rosto eles tinham visto, Alex... assim, busquei em fontes que eu sabia que seriam sinceras comigo e, de pessoas que gostam de você.

— E a que conclusão você chegou? – Perguntou sério.

— Que eu quero acertar sua ex com alguma coisa bem pesada... uma bola de demolição, uma bigorna... qualquer coisa que a elimine desse mundo. – Falei e busquei pela cicatriz que ela havia deixado no rosto de meu noivo. – Isso foi ela. – Murmurei, passando a ponta do dedo na cicatriz no alto da sobrancelha dele.

Alex segurou a minha mão e deu um beijo na palma.

— Não começou lá. Tudo começou uma semana antes, em uma viagem para a Semana de Moda de Londres. Ela desfilou para as maiores grifes por lá e, como sempre, depois dos desfiles, vêm as festas. Suzanna tinha que ir em todas, não podia faltar. Eram as malditas festas, com seus malditos tapetes vermelhos. Sempre muitas fotos, muitos fotógrafos perguntando demais. Eu nunca, nunca comentei nada sobre as roupas que ela vestia, independentemente do que mostravam. Porém eu não gostei da forma como ela se portou em uma das festas. Eu não queria estar lá, já tinha ido a três no período de cinco dias, mas ela se achava a dona do lugar, sempre tirando fotos, rindo alto e, nas palavras dela, fazendo novos contatos no mundo da moda. Só que não era isso. Ela conheceu um milionário italiano.

— O atual noivo dela?

— O próprio. Acontece que ela estava comigo. E Suzanna não é de perder uma presa. Ela precisava se ver livre de mim, em tempo recorde, mas não poderia ser ela a culpada. Pois ela tem uma imagem a manter. Então, começou a falar na minha cabeça, a me irritar. Ser a Suzanna que me alertaram que ela era, e que eu nunca escutei, nunca achei possível. Ela começou a aparecer mais do que normalmente fazia, bebeu além da conta e quis ir para a pista de dança, me levando junto. Quando tropeçou nos próprios pés, de propósito, me culpou. E aí ela começou a bolar um plano para terminar comigo. Ela pensa que eu não notei, contudo ela atua mal demais para passar despercebido. No outro dia ela sumiu, saiu cedo da suíte e só voltou tarde da noite, quando embarcamos para LA, ela discutiu comigo pelo voo inteiro, dizendo que eu não dava o devido apoio a ela e qualquer outra coisa... foi uma semana dos infernos... até que ela terminou tudo, por telefone. Não me deu maiores explicações. Eu nem pedi. No dia seguinte, eu estava na praia, era domingo e eu resolvi voltar a fazer o que eu gostava e o que, por causa dela, eu tinha deixado de fazer com frequência, ir à praia e surfar. Não sei como ela me encontrou, mas quando saí do mar, ela estava lá, sentada do lado da minha mochila e sorria para mim. Achei estranho, mas sabendo que atrás dela sempre tinha um batalhão de fotógrafos, tratei-a e bem e perguntei o que queria. Suzanna queria conversar. E eu deveria ter percebido que tinha um plano ali... porque a calma dela não era natural. Levei-a para o restaurante da Dottie, aliás, ela pediu que fosse lá. E a cena que Dottie te contou aconteceu.

— Ela encenou o término daquele jeito? – Falei abismada.

— Aquele não foi o fim, Kat. – Alex me garantiu. – Mais tarde, e sem fotógrafos por perto, ela apareceu aqui em casa, eu não estava aqui. Como tinha a chave, foi entrando e quando eu cheguei, metade dos vidros da casa estavam quebrados. Ela gritava e arremessava os móveis nas paredes, quebrou toda a minha casa...

— Te provocando para que você reagisse e saísse como o vilão. – Constatei.

— Exatamente. Ela queria alegar que eu abusava dela. Que batia nela. Nunca fiz isso. Não fui criado assim. Eu nuca levantei a voz para ela. Para paparazzi, sim. Ainda mais os que gostam de invadir meu espaço pessoal, ou que invadiam o dela, já quebrei câmera e dedo de alguns... não me arrependendo disso. Mas eu nunca encostei a mão nela.

— E como você vez, enquanto ela quebrava tudo?

— Me sentei na escada e deixei que ela fizesse o que queria. Ela gritou, quebrou minha cozinha, o quarto, que não é onde nós dormimos hoje. Onde será o seu escritório... não sobrou um copo ou um vidro, ou um prato inteiro aqui dentro. E quando ela percebeu que eu não iria cair no joguinho dela, me bateu novamente, me xingou de todos os nomes que você pode imaginar, falou o que bem entendeu e quis e saiu pela porta. Antes que ela pudesse voltar, troquei as fechaduras. E para arrumar a casa do jeito que está hoje, levou quase um ano e meio.

Eu estava pasma.

— Ela destruiu esse lugar? – Perguntei.

— Sim... não sobrou nada, nenhum móvel inteiro. A casa não era assim antes, aproveitei que tudo estava destruído e reformei.

— Eu entendo o seu motivo para não revidar aos gritos, ameaças e ataques de Suzanna. Mas... – Comecei e tive que morder a língua para não falar besteira.

— Por que eu parei de atuar? Por que eu recusei o papel principal em uma série? – Ele continuou por mim.

— Sei que o que ela disse te magoou, porém... você tinha que fazer o contrário! Você é talentoso e atuar corre nas suas veias.

— Parei porque, enquanto eu estivesse na mídia, ela não me daria sossego. Suzanna foi destaque por mais de um ano depois da briga que foi filmada no restaurante. E, se eu estivesse nos holofotes, ela inventaria mentira atrás de mentira. E, por mais que eu soubesse que estava acabando com a minha carreira, minha consciência estava limpa, porque eu sabia que com cada mentira que ela inventasse, quem sofreria eram meus pais, minha mãe.

— Mas ela sofreu, quando você falou em desistir. – Falei demais.

— Você não viu a feição dela quando fui acusado de bater em Suzanna, Katerina. Ela sabia que era mentira, mas mesmo assim... aquilo quase acabou com ela. Dona Amelia nunca comentou essa notícia. Nunca. E quando a própria Suzanna desmentiu para o mundo inteiro ver, minha mãe sumiu por quase quatro horas.

— Foi ficar perto dos cavalos...

— Ela te contou isso?

— Mais ou menos... eu te falei que ela me contou uma parte da história. A parte dela, pelo menos.

— Se ela sofreu assim, Kat, imagina se os ataques continuassem? Se Suzanna inventasse uma agressão? Cismasse de me processar? Minha mãe não sobreviveria. Eu parei tudo, eu sumi, para que a minha família pudesse ter paz. Só por isso.

Encarei meu noivo. Ele tinha sido sincero. Sincero até demais.

— Não tem um dia em que eu não sinta falta de atuar, Kat. – Falou depois de quase dez minutos em silêncio. – Fico pensando em como teria sido se eu tivesse tido paz para poder estrelar a série. Me pergunto até onde ela iria, quantos anos no ar... eu nunca vou saber. – Ele abaixou seu rosto em meu ombro e ficou ali. Só me restou controlar a minha raiva e acariciar a sua nuca.

Eu via vermelho e queria muito poder encontrar com essa Suzanna e dar uns bons tapas no meio de sua cara cheia de plástica.

— E por que voltou agora? – Perguntei para me distrair dos planos que passavam pela minha cabeça.

Alex suspirou audivelmente em meu ombro e virou o rosto de encontro ao meu pescoço.

— Primeiro porque senti falta de fazer algo que gosto. – Ele começou sussurrado. - Segundo, Lee estava no meu pé... disse que o pessoal me queria como garoto propaganda de qualquer jeito. As ofertas de cachê aumentavam a cada recusa minha, mas eu não queria dinheiro. Nunca foi pelo dinheiro, e, por curiosidade, perguntei o que queriam que eu fizesse. É uma propaganda diferente de tudo o que você já viu, Kat. E foi isso que me fez aceitar essa campanha. Creio que você vai gostar... – Falou e me deu um beijo.

— Eu já iria gostar, mesmo se você ficasse calado.

Ele riu.

— Puxa-saco. – Brincou.

— Mas eu não estava falando de você! Estava falando do carro! – Continuei com o ar leve e Alex soltou o nosso abraço e voltou a se sentar no banco do motorista, sua expressão ficando séria.

— E, terceiro, porque eu precisava. Eu não aguento mais ser realmente a sombra de alguém, não quando eu vejo as coisas erradas que as pessoas estão fazendo. A falta de interesse e de amor pela profissão. Eu fui criado por atores, eles não começaram no topo, mas me mostraram como é difícil chegar lá e ainda mais complicado, permanecer lá. E eu vejo um monte de gente que pode fazer melhor, que pode entregar uma atuação de verdade, mas tudo o que importa é dinheiro. Isso me irrita. Hoje não é sobre atuar, é sobre ter o maior salário da TV. E não foi para ser a sombra de sanguessugas de dinheiro que eu estudei tanto, Kat. Não vai ser fácil voltar, sei disso, talvez a minha chance tenha passado quando disse não, três anos atrás, mas eu não posso continuar a aceitar certas coisas que eu sei que são erradas. Não dá mais. E, também, não vou arriscar a minha vida para que outro leve o crédito, quando essa pessoa não se importa. O tombo que eu tomei, acendeu um alerta, hoje foi a confirmação.

— Que confirmação? – Perguntei curiosa.

— Eu não era nada mais do que um número ali. Por acaso você se lembra de terem me ligado ou mandado mensagem, querendo saber se eu estava bem?

Parei para pensar, eu não vi nada disso.

— Não...

— Ninguém do estúdio me ligou, Kat. Ninguém quis saber se eu estava vivo.

— O senhor Earl, sim. – Corrigi.

— Fora ele, quem tinha que se importar, ficou calado. Quando entrei no estúdio hoje, para conversar sobre a queda, me disseram que eu tinha sido substituído, que era para passar no RH e acertar o que gastei... nem uma palavra sobre como eu estava. E sabe do pior... eu já tinha visto isso acontecer e fiquei calado, porque não era comigo! Percebi, um tanto tarde, que ser o dublê de alguém, não vale à pena, não quando se tem amor à vida, pelo menos. Posso voltar a fazer isso? Claro, mas não no ritmo louco que estava fazendo. Eu não quero ver o medo nos seus olhos nunca mais. Nem nos seus, nem nos de meus pais. Will estava certo em me olhar estranho no quarto de hospital. E mais certo ainda quando me xingou.

— Will te xingou?

— Falou muito na minha cabeça na segunda de manhã. Me mandou ter responsabilidade e, se eu quisesse me matar, que eu fizesse isso de uma vez, porque ele não iria ficar tentando acalmar a minha mãe cada vez que eu caísse de algum lugar e fosse parar no hospital.

— Errado ele não está. – Falei.

Alex me encarou e continuou.

— E falou que eu tinha que escolher, ou continuava nesse ritmo de suicida e perdia tudo o que era importante para mim, ou tomava vergonha na cara e começava a pensar nas pessoas que me amam. Porque eu não teria a sorte de encontrar outra mulher que me amava ao ponto de mal me conhecer e aceitar a ficar do meu lado em qualquer circunstância, até mesmo dentro de um hospital.

Senti meu rosto corar na hora.

— Ele... Wil... Will falou isso?

— Meu histórico de namoradas deu a ele essa margem... Você foi a única que aceitou ficar do meu lado no hospital. Sem nem pensar duas vezes. Wil conheceu as outras... soube na hora que você era diferente. E errado ele não está. Ainda mais depois do que você me disse durante a noite. Eu prometi que não desistiria, e não vou.

— Sei que não vai. E eu vou aguardar pelo dia em que você vai ser recompensado pelo seu trabalho. – Dei um beijo nele.

— Também não é para tanto, Kat... um passo de cada vez.

— Você pense assim. E quando acontecer o que eu estou falando, deixa que eu te lembro com o famoso: “Eu te avisei que isso ia acontecer, não avisei?”

Alex deu uma risada.

— Não vou discutir isso com você... Não mesmo. Vai que você é uma bruxa e pode prever o futuro. – Brincou comigo.

Saímos do carro e ele fez questão de pegar a minha mão, para, então, trocar de assunto.

— Então... já resolveu a sua folga da semana que vem?

— Pode apostar que sim. E, para a sua informação, eu vou sair cedo todos os dias da semana.

— Creio que Olivia tem que vir passar mais tempo por aqui... assim, quem sabe, eu tenho uma desculpa para passar mais tempo do seu lado... – Ele me abraçou e tentou me fazer sentar no sofá ao lado dele.

— Nem pensar. Já são quase cinco e meia e, enquanto você fica perfeito só de colocar um terno, eu preciso me arrumar. Não posso aparecer de qualquer jeito ao lado da estrela da campanha. – Falei e me desenlacei de seus braços.

— Você vai encarar os fotógrafos comigo?

— Vou. Enquanto a sua ex acha que você vai fazer de tudo para me proteger da mídia, minha irmã tem a certeza de que eu jamais apareceria ao seu lado em um evento. Mia está errada, ela não espera que eu apareça ao seu lado, pois ela está contando que eu vou permanecer no anonimato e, assim, ela poderá me chantagear à vontade. Só que, com o meu rosto na mídia, ela não tem barganha nenhuma para fazer com ninguém. E era uma vez a chantagem dela. – Afirmei. – E, o mais importante, eu tenho orgulho de você e do que você faz, Alex. Por isso vou estar ao seu lado. Você me apoia no meu trabalho, eu te apoio no seu.

— Você tem certeza, Kat? Eu não me importo se você entrar e me esperar lá dentro.

— Alex. Chegou a nossa vez de dar o troco. Confie em mim.


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Notas finais do capítulo

Quarta-feira é o dia em que finalmente vocês vão ler sobre esse lançamento. Tá chegando!
Espero que tenham gostado do capítulo e antes de encerrar, queria muito agradecer aos comentários que recebo! Vocês não fazem ideia de quão feliz um fico! Podem continuar!
No mais, até quarta!
Boa semana e muito obrigada a você que leu até aqui!
xoxo



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