Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 43
Capa de Revista


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo!
Temos a volta de algumas sobrinhas neste.
Boa leitura!



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Nossa noite foi da perfeição ao problema no clique de uma câmera. E, claro, mesmo que eu garantisse à Alex que tudo estava bem, que eu o aceitei com o pacote completo, isso não melhorou o seu humor.

E quando nos deitamos, ele se escorou em minha barriga, me abraçando forte pela cintura. E, mais uma vez, me vi acalmando meu noivo naquela noite.

— Não adianta sofrer por antecipação. – Falei no quarto escuro.

Ele não me respondeu. Deu um beijo na minha barriga e afundou seu rosto ali. Comecei a acariciar o seu cabelo, tentando arrumar o caos que era, pois, mais uma vez, ele tinha molhado a cabeça e se recusado a penteá-lo. Não demorou muito e senti a tensão em seus ombros e pescoço diminuir, até que ele relaxou completamente, quando pegou no sono.

Acordei na mesma posição e confesso que com um pouquinho de câimbra, e pude notar que o dia já estava a todo vapor, Alex ainda dormia e, diante da pouca luz que entrava por uma fresta na cortina com blackout, vi que ele não tinha a mais suave das expressões em seu rosto. Suas sobrancelhas estavam formando um único arco e sua testa estava enrugada.

Passei o dedo entre as suas sobrancelhas para aliviar a expressão, ele não gostou muito, murmurou o meu nome e virou o rosto para o outro lado.

— Espero que você se levante com um humor melhor do que com o qual foi se deitar. – Murmurei e comecei a massagear seus ombros, que estranhamente estavam tensos.

Eu estava quase dormindo quando escutei meu celular vibrando no criado ao lado da cama. Não estava a fim de atender, mas estava insistente.

Só estendi a mão para pegar o aparelho, porque poderia ser algo urgente.

E tinham várias mensagens na barra de notificação.

Li por alto algumas, até que a de Pietra me chamou a atenção. Ela não perguntava nada, só havia me mandado uma foto.

Uma foto do que aconteceu nessa madrugada, a foto nada mais era do que eu, completamente segura e escondida nos braços de Alex e ele olhando fixamente para minha direção, evitando todas as perguntas e flashs.

Tem quase cem fotos aqui, Kat.— Dizia a mensagem de Pietra. – Mas nenhuma de seu rosto.

Fiquei aliviada em saber disso. Eu ainda poderia aproveitar calmamente o meu anonimato.

Mas as demais mensagens me deixaram apavorada, principalmente quando uma delas era de Matti.

É assim que você procura manter seu cargo? É fazendo pose para um pandemônio de fotógrafos enquanto banca a namorada amorosa? Saiba que se continuar assim, serei obrigado a te tirar da empresa e te mandar para Londres. Eu te dei opções Katerina, escolha a correta.

Arregalei meus olhos para o que li. Como ele se atrevia?! Quem ele achava que era? Com os olhos ardendo de fúria e quase tremendo, escrevi a seguinte resposta.

Você deixou de ser o meu avô na data em que armou um casamento para mim. Não se atreva a misturar a minha profissão com a minha vida pessoal. Você é o meu chefe, só isso. Não fiz nada que denegrisse a imagem da Empresa que represento. Minha vida pessoal é minha. E você não irá interferir nela. NUNCA MAIS!!

Mais algumas mensagens, minhas amigas tentando consertar o irremediável, vendo pelo lado positivo que meu rosto não tinha sido fotografado em nenhum ângulo.

Eles até filmaram vocês. Que coisa absurda. Deve ter sido horrível. Mas o Alex! Nossa, ele te protegeu de todos eles. O tempo inteiro. Achei fofo. E nada parecido com o que haviam comentado dele.— Vic escreveu.

Que namorado que você arrumou, Kat. Parabéns! Ele não deixou de te proteger em hora nenhuma. E garantiu de te tampar até quando você entrou no carro! Como vocês estão agora? Porque a arrancada dele meio que demonstrou o humor dele... espero que tudo esteja bem por aí... — Mel mandou.

Eu sou obrigada a dizer a verdade e bancar a sincera. Já que sou conhecida por ser a Italiana Louca, tenho que dizer que quando vi algumas fotos e vi que tinha um vídeo do momento, eu pensei que algo de ruim tivesse acontecido. Sei lá... levando em consideração o que aconteceu naquele vídeo com a ex dele... achei que ele poderia ter perdido a cabeça e voado em algum dos paparazzi. Mas não, ele não fez isso, e confesso que, apesar de ninguém ter tentado tirar uma foto de um ângulo absurdo, a situação tinha muito mais fotógrafos tentando chegar perto de vocês do que na vez que acabou em processo. Não sei o que você fez, Kat, mas deu certo. Ele só tinha olhos para você e tentou de todas as maneiras proteger a sua identidade. E, se me permite dizer algo, eu, como uma espectadora que ainda não o viu nem por videochamada, só digo que esse homem não te ama, ele te venera. A forma como ele te olha! CA-RAM-BA! É de dar inveja a qualquer mulher! E como ele te protegeu??! É nítida a diferença entre como ele age com você e como ele agiu com a ex. Ele não só está do seu lado, ele se preocupa com você em um nível que eu nunca vi ninguém fazer. E olha que eu conheço muita gente. Esse é para envelhecer do lado e viver a eternidade.

Abri um sorriso para essa mensagem. Eu sabia que ele me amava, mas ler que as pessoas eram capazes de ver o que eu via... não tinha preço.

Respondi no grupo de uma maneira bem genérica.

Chegamos bem em casa. Não sei como ele está agora, ainda está dormindo e não viu as fotos e as reportagens, nem sei se ele vai ver. E sim, ele é especial. Acho que eu fiquei sabendo disso quando coloquei meus olhos nele naquela praia há um mês... meio que sabia que ele veio para ficar.

Outra mensagem que chamou a minha atenção foi da minha sogra, ela, por milagre, não tinha escrito muito, mas o pouco era carregado de preocupação.

Kat, minha querida, como você está? Como está a sua cabeça? Deve ter te assustado tanto. Como te falei naquela nossa conversa, eu estou aqui para te ouvir. Se precisar desabafar com alguém, conte comigo.

Respondi na hora.

Muito obrigada, Dona Amelia. Eu estou bem. Como eu falei para a senhora e para o Alex nessa noite, eu sabia que isso fazia parte do pacote. Não é agradável ter a privacidade invadida assim, mas Alex me protegeu o tempo inteiro. Até onde eu vi e até onde me contaram, meu rosto não apareceu em nenhuma foto. Então estou segura até, pelo menos, terça à noite... é Alex quem me preocupa, a reação dele, depois que tudo passou, a mudança de humor que ele teve foi tão repentina que quase me assustou.

Minha sogra deveria estar com o telefone na mão para responder assim tão rápido.

É como eu te disse, Kat... Alex e os paparazzi nunca coexistirão pacificamente. Contudo, ontem ele se saiu bem. Vocês se saíram bem. Eles vão dar uma recuada agora, acredite em mim! E o que tem terça-feira??

Epa... acho que Alex não comentou em casa sobre o lançamento da campanha, mas não poderia deixar a minha sogra na mão, ainda mais quando ela é tão preocupada comigo. Assim, respondi.

Terça é o lançamento da campanha da Porsche... acho que Alex ia comentar com vocês no jantar de amanhã.

Bem... sobre isso conversamos mais tarde. Alex já acordou?

Não... está dormindo. – Olhei para ele por cima do telefone, Alex tinha trocado de posição novamente, seu rosto virado para mim. - E espero que fique assim por mais tempo. Não quero que ele veja as fofocas.

Você vai aprender que é um tanto difícil escapar das fofocas, Kat. Apesar de Alex fazer o possível para não ver, sempre tem alguém que manda a reportagem. Não vou mais te perturbar. Mas se precisar de algo, me chame. E se Alex estiver muito mal-humorado, leve ele para o Rancho. Lá ele vai se perder nos meios das trilhas até que se acalme. E Jonathan pediu para avisar que amanhã vai aí... e quer sobremesa no almoço.

Obrigada pela dica. Se precisar faço isso. Tenha um bom dia, Dona Amelia. Um abraço para a senhora e dê um no Sr. Pierce por mim e avisa que eu vou fazer a sobremesa! Beijos.

Estava pensando se abria ou não algum site de fofoca, decidi por não. O que eu tinha que saber, já sabia. Abaixei o celular e dei de cara com duas orbes azuis me fitando.

— A fofoca já chegou até você... – Não era uma pergunta.

— Bom dia! – Decidi por ignorar a conversa que ele queria iniciar.

— Bom dia, Kat. – Ele se apoiou em um cotovelo para me olhar. – E então... muito ruim?

— Você realmente quer conversar sobre isso? Mal acordou.

Ele deu uma risada.

— Estou acordado ouvindo seus dedos voarem pela tela do celular há um tempo... mais ou menos quando parou de massagear os meus ombros.

— Você me enganou muito bem. – Comentei.

— Faço isso para viver, não é? Me finjo de morto, finjo que estou dormindo... porém, voltando, a coisa está muito ruim?

— Não. Mas as fotos já atravessaram o país, o Oceano Atlântico e chegaram na Europa. – Resumi.

— Seus pais?

Tive que rir da ironia da situação.

— Não. Matti.

Alex se ajeitou para se sentar na minha frente.

— E?

— Ameaçou o meu emprego. Disse que se isso continuar, ele me demite.

— Kat... eu...

— Ele que faça isso. É ele quem vai perder. Não eu. Se for preciso, Alex. Eu abro uma empresa no mesmo ramo que a dele. Eu começo do zero. Não me importo. Mas não vou renunciar a você, nem do que temos. Além do mais, como eu já cansei de falar, eu sou a herdeira de tudo. Podem colocar qualquer um como CEO, mas no final do ano, quando forem repartir os lucros, uma parte virá para mim. E não vai ser pouco dinheiro! Será dinheiro que poderia me deixar sem trabalhar pelo próximo ano e ainda sobraria. Quem tem a perder, se ele me demitir, é Matti. Pois não vai durar um mês no cargo, tenho certeza de que Cavendish o tira de lá.

Meu noivo me encarou.

— Dezembro não vai ser agradável, vai?

— Nem um pouco. Eu vou ouvir coisas que eu não quero. Mas eles não vão me quebrar, não mais.

— Você vai falar com alguém sobre essa ameaça ao seu cargo?

— Minha mãe e meu pai me pediram para falar, porém não sei se quero. É uma briga minha.

Nossa.— Ele destacou.

— Não precisa, Alex. De verdade. Eu me viro com ele.

— Diz respeito ao que você gosta de fazer, Kat. Diz respeito a você, é claro que é minha briga também. Que tipo de homem eu seria se, quando a minha noiva precisasse de apoio, eu simplesmente a deixasse à própria sorte? Essa briga é nossa, Kat. Você querendo ou não.

Eu estava tocada com toda essa preocupação.

— Muito obrigada, Alex. – Passei a mão em seu rosto com aquela barba por fazer. E ele aproveitou a minha proximidade para me puxar para o seu colo.

— Estou sempre por aqui, Kat. Sempre estarei.

— Eu sei que vai. – Confirmei olhando no fundo dos seus olhos.

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Nós tentamos ficar longe das fofocas, mas parecia inevitável. A cada segundo parecia que alguém tinha que mandar uma mensagem ou ligar para falar sobre a reportagem.

Por fim, acabamos seguindo para o Rancho, pois até na porta da nossa casa, alguns pararazzi acamparam, o que piorou não só o humor de Alex, como o meu.

Quando chegamos, Alex pediu licença e desapareceu por um tempo. Já eu, por mais que tentasse ficar longe do celular e de qualquer meio de comunicação, foi-me impossível, pois Olivia, estando à toa dentro de casa, não parava de me bombardear com inúmeras mensagens sem sentidos, e depois de ficar cansada de receber os meus “sim”, “não”, “talvez” ou “você quem sabe”, decidiu por fazer uma chamada de vídeo.

— O que foi agora, Liv? – Perguntei sem paciência alguma.

— Isso não é justo! Estou precisando de ajuda para arrumar a mala, você é expert nesse assunto, já que rodou o mundo o que, umas duas vezes?? Então... tia! Me ajuda!

Me joguei no sofá da sala e encarei minha sobrinha mais velha pela tela.

— Eu tô falando sério! – Ela disse. – Se não me ajudar, eu coloco todo o meu guarda-roupa dentro de todas as minhas malas. – Garantiu.

— Aí você carrega as malas. – Respondi.

Olivia se levantou da cama, bufou e correu em círculos pelo quarto.

— Fazer esse drama não vai me convencer a te ajudar. Mas talvez você possa tentar um lugar na RADA[1]. – Comecei a brincar com a cara dela.

Ela me fuzilou com o olhar, furiosa.

— Nem esse carão... já sou imune a caras feias. Vejo todos os dias no trabalho.

— MAS TIA!!! – Começou a pular.

— Tudo bem. Quantos dias você vai ficar fora? – Comecei.

— Dez.

— Para onde você vai?

— Califórnia. Mas eu não sei ONDE!!

— Para onde você está indo, uma coisa de cada vez! – Cortei-a.

— Califórnia e depois, três dias e meio em Austin.

— Certo. Na teoria, a previsão do tempo.

— Dias quentes em LA. Tá marcando chuva fraca em Austin, mas não sei se vai rolar. Nunca chove nos finais de semana de Grande Prêmio... Estamos precisando fazer a dança da chuva com o Cacique Cobra-Coral!

— Então o que você precisa para chuva que também pode ser usado no calor?

— Tênis.

— Vai ou não viajar com eles?

— Sim.

— Então pode trazer outro sapato pesado, qual é?

— Uma botinha... vai que chove forte...

— Então uma botinha sendo separada. – Falei e ela correu até o closet para pegar o sapato.

— Você tem o tênis da viagem, uma bota para chuva, o que falta?

— Uma sapatilha coringa para ir a qualquer lugar!

— Isso! – Confirmei.

E fui conversando com Liv até que ela separou todas as roupas que queria e, praticamente, fechou a mala.

— Por que pareceu tão fácil? – Ela reclamou. – Eu estava quase maluca de preocupação e de tanto olhar para a previsão do tempo para decidir a roupa!

— Às vezes precisamos conversar para destravar o cérebro. – Falei rindo. – E por favor, não esqueça do checklist dos eletrônicos, eu não vou te emprestar nenhum carregador. E nem da minha violeta!

Minha sobrinha saiu pulando pelo quarto para voltar e me mostrar uma folha de papel e, na outra mão, a minha violetinha.

— Tá tudo anotado aqui. Até a minha câmera! Vou levar para o autódromo! – Me disse feliz. – Ô tia... cadê o tio?? Eu tô estranhando que ele ainda não apareceu para dizer oi...

— Alex não está tendo um bom dia.

— Uhn... é por conta das fotos, né? Absurdo aquilo! Credo.

— Você viu?!

— Todo mundo viu... apesar de que você não apareceu em hora nenhuma, mas a gente te conhece, né? Então vimos... Deve ter sido... sufocante, aquele monte de flash pipocando... aquele bando de desocupado gritando...

— Não foi uma das melhores sensações, Liv.

— Foi estranho... – Ela começou e depois mordeu o lábio.

— O que foi estranho, Olivia. Eu já falei, nunca pare uma frase no meio.

— Normalmente é a “Outra” – Ela fez aspas com os dedos. – quem aparece em situações assim. Não você. Por isso foi estranho. Parecia errado. Porque ali não era um evento. Eram duas pessoas se divertindo na balada.

— Isso acontece por aqui.

— Coisa chata. Não é à toa que um monte de celebridade surta. Tem que ser muito concentrado na própria vida para não ficar doente.

— Nisso você tem razão.

— Mas eu vou mudar de assunto, porque falar nisso tá fazendo com que uma nuvenzinha escura paire sobre a sua cabeça.

— E sobre o que você vai falar. Se for sobre o seu roteiro, eu não sei nada.

— Não... o tio me disse que tá pronto e que não ia te contar, para você não vetar alguns lugares.

— Desde que ele não te leve a Las Vegas...

Ela riu.

— Não... não tem Las Vegas. Mas eu quero contar uma fofoca.

— Não quero saber o que “A Outra” aprontou. – Falei sem emoção.

— Ela aprontou alguma coisa?? Não tô sabendo não. A Tia Pietra não me perguntou nada. – Disse confusa.

— Chame a Italiana Louca de tia na frente de muita gente e você vai parar em um caixão.

Liv riu....

— Eita que eu tô com vontade de fazer isso. Imagina chegar perto dela no hotel e dar aquele grito de “TIA” e correr para um abraço?

— Se você morrer eu não me responsabilizo. – Falei rindo.

— Quem vai morrer? E por quê? – Alex reapareceu depois de mais de uma hora sumido.

— Eu! – Liv gritou. – Depois que chamar a Pietra de Tia na frente de muitas pessoas.

— Ela é atacada assim?

Tanto eu quanto Liv confirmamos.

Alex levantou uma sobrancelha.

— E como você conheceu essa criatura?

Liv riu do adjetivo.

— Longa história... Mas estudávamos no mesmo colégio na Inglaterra. Lógico, ela era interna lá.

— Isso explica muita coisa. – Alex murmurou e se voltou para Liv. – Animada?

Ela pegou o celular e só mostrou as duas malas.

— Creio que isso quer dizer sim. – Ele falou e me olhou.

—  Era o guarda-roupa inteiro. Diminuímos para 1/4.

Ele ainda estava um tanto espantado.

— Leva em consideração, tio, que nós vamos para Austin.

— E duas cidades, significam o dobro de roupas... – Alex chutou.

— E o dobro de dúvidas para escolher as roupas. – Eu tive que falar.

— Também não foi assim, assim. Eu estava me virando. – Olivia se defendeu.

Olhamos para ela.

Quase me virando. – Ela se corrigiu.

Continuamos a olhar.

— Tá bom. Eu não sabia o que levar, felizes?? – Ela disse mal-humorada.

— Você disse que tinha uma fofoca. – Alex começou.

Encarei meu noivo e ele me olhou de volta.

— Escutei lá da cozinha... vocês não falam baixo. – Disse sem remorso.

— Não é fofoca. É só uma coisa engraçada. – Liv disse. – Peraí que eu já volto com a culpada. – Pediu e saiu do quarto.

Coloquei a chamada no mudo e olhei para Alex.

— Mais calmo?

— Sim, depois de socar umas trinta árvores e correr alguns quilômetros, eu estou bem.

— Socar trinta árvores? – Perguntei cética e levantei a mão dele.

— Sou o Capitão América, se esqueceu? – Fez piada e eu vi que ele já estava um pouco melhor.

— Bobo. E falando em Capitão América... – Apontei para a tela do celular onde Liv chegava com uma Elena usando uma camisa com o escudo do super-herói. Liguei o microfone e esperei pelas duas irmãs se ajeitarem... pelo visto Elena tinha se machucado de novo.

— E o que foi com essa mão, Elena? – Perguntei ao vê-la de carranca.

Elena procurou pela origem do som e pisou em cima de Liv para poder nos ver.

— Eu machuquei. – Disse simplesmente, estendendo a mão. Liv começou a rir. - Não é para rir! – Olhou ofendida para a irmã.

— Conta para a tia e para o tio o que você fez. – Liv instruiu.

— Mamãe me mandou parar de falar nisso. – Elena fez um beicinho.

— Mas nós ainda não sabemos, Lena. O que foi? – Tornei a questionar.

Ela nos olhou e só soltou.

— Eu bati num menino ontem.

Alex do meu lado segurou a risada, e eu me surpreendi, porque Elena é pacífica, sempre foi.

— E posso saber o motivo?

Alex se ajeitou do meu lado para escutar a história da fã do Capitão América. E fã dele por associação.

— Sabe... eu fui com essa blusa ontem para a escola. – Elena começou. – Eu sou fã do Capitão América, tio. – Explicou para Alex. – Gosto muito dele. Ele é fofo, simpático e digno de levantar o mjölnir, é meu super-herói favorito. E como ontem foi sexta-feira, a professora falou que podia ir sem o uniforme. E eu fui com a blusa do meu herói favorito. – Ela explicou.

Olhei para Alex e ele parecia realmente interessado na história da Elena, se esquecendo do papel que ele interpretou como dublê. E foi logo perguntando:

— E o que aconteceu na escola?

— Bem... na hora que eu cheguei uns meninos da minha sala ficaram rindo da minha blusa. Mas eu não liguei. E eles falaram que o Tony Stark é o melhor super-herói. Eu sei que ele é também. Gosto do Tony... mas eu ainda prefiro o Capitão. Só que eles não pararam de me perturbar e na hora do intervalo, o Cody chegou para mim e disse que eu não podia usar camisa de super-herói, porque super-herói é coisa de menino. Que eu tinha que usar alguma coisa de princesa. E falou que era para a minha mamãe dar a minha blusa para o meu irmão. – Disse nervosa.

— E o que você fez? – Alex continuava a passar na minha frente na hora de fazer perguntas.

— Eu não falei nada e voltei a brincar de boneca com as minhas amigas. Eu levei a Peggy comigo. – Ela mostrou a Barbie dela. – Junto com ele. – Mostrou um cachorrinho. – Mas o Cody não parava de implicar e de falar na minha cabeça. Até que ele foi lá e pegou a minha Peggy e tirou a cabeça dela. E depois de fazer isso, tornou a falar que super-herói é coisa de menino. – Elena começou a chorar. – Super-herói não é coisa só de menino!! Tanto que não é, que tem a Mulher Maravilha, tem a Lady Sif, a Natasha Romanoff, a Pepper Potts, a Capitã Marvel... e eu falei isso para ele. E sabe o que ele falou? – Nos olhou triste.

— Não, Lena, não sabemos.

— Que mulher não é super-heróina. Que elas só estão lá para ajudar, mas nunca ganhariam uma briga. Eu já tava triste porque ele tinha estragado a minha boneca, e ele pegou e derramou suco em mim, falando que eu não podia gostar do Capitão América! E que ele é fraco! Eu fiquei brava, porque a minha blusa do meu herói favorito estava suja, peguei e bati nele.

— Você bateu nele como? Deu um soco? Um tapa? – Alex pediu os detalhes. E eu dei um pisão no pé dele. Isso não era pergunta a se fazer.

— Dei um socão na cara dele. Igual ao que o Capitão América deu no Ossos Cruzados naquela briga do elevador. Assim, ó. – Ela imitou o movimento de fechar o punho e esticar o braço. – Só que a cabeça dele é muito dura... e o nariz também. Aí eu me machuquei.

— Mas você colocou o polegar dentro da mão quando bateu nele? – Alex perguntou todo preocupado.

— Quer parar!! – Chiei no ouvido dele.

— Não...  não coloquei. Papai e vovô me perguntaram a mesma coisa. Agora eu sei e na próxima vez eu vou fazer isso!

— Não vai ter próxima vez! – Eu falei e do outro lado escutei Tanya ralhando com a filha mais nova a mesma coisa.

— A mocinha não vai mais brigar na escola por nenhum motivo. Eu já te expliquei o que você tem que fazer. Agora para o banho! – Tanya ordenou à filha mais nova. – Kat! – Me cumprimentou. – Já posso te chamar de Alex, ou fica estranho? – Perguntou para Alex.

— Alex. Essa é a Tanya, mãe do trio. Tanya, esse é Alex. – Fiz a devidas apresentações.

— Olá, Tanya! Muito prazer. – Ele falou um tanto sem graça.

— Igualmente. E pelo visto vocês já sabem da última peripécia da Elena. – Disse cansada.

— Acabamos de saber pela própria. – Falei rindo.

— É... o garoto mereceu. Perturbou a coitada a aula inteira, uma hora ela explodia, mas não precisava ter quebrado o nariz do menino.

— Ela quebrou o nariz dele?! – Perguntei espantada.

— Sim. Espero que não fique torto. Bateu com força, a danadinha. Mas o menino mexe, no mesmo dia, com o super-herói favorito dela e ainda por cima arranca a cabeça da boneca favorita... ele pediu. E você não ouviu isso. – Deu um tapinha na perna da Olivia.

— Sei de nada... – Liv disse rindo. – Se a senhora tivesse me deixado ir, o menino não tinha só um nariz quebrado. Eu e o Tuomas iriamos fazê-lo se arrepender de ter mexido com a anãzinha de jardim.

Tanya encarou a filha mais velha.

— Só digo as verdades!

Minha cunhada ignorou o comentário da filha e se voltou para nós.

— Gostaria muito de poder conversar com vocês sobre a estadia dessa aqui. Mas meu dever de mãe me chama – Ela levantou um dedo e ouvimos Elena gritar por ela. – Então, só digo o seguinte, se desobedecer, ou for uma pré-adolescente muito chatinha, pode trancar no quarto e tirar celular e afins.

— MÃE!! – Olivia falou revoltada.

— Ainda vamos conversar com vocês, sem a presença dela, mas já agradeço o esforço que é manter essa bipolar por perto por tantos dias. E, só peço uma outra coisa.

— Que é? – Eu e Alex perguntamos juntos.

— Nada de ensinar a Elena a dar socos sem quebrar uma junta. Um já foi experiência para o resto da vida.

— Pode deixar. – Eu garanti, mas Alex ficou calado, só meneando a cabeça.

— Um prazer te conhecer, Alex. Vamos poder conversar em Austin. Kat... te cuida, Matti está uma fera, tão nervoso que nem o seu pai aguentou a falação e desligou o telefone hoje. Adeus para vocês. – Se levantou quando Elena a gritou pela terceira vez, perguntando se era para lavar o cabelo. – E você, Olivia, para a cozinha. O jantar é sua responsabilidade.

Olivia fez uma careta.

— Sim, mamãe.

— E é para descer agora.

— Sim, senhora. – Respondeu e depois de verificar se a mãe estava fora de alcance, veio se despedir. – Bem, a fofoca era essa. Mas eu não contava com a minha mãe aparecendo... tinha o final, da Elena contando como o tal do Cody começou a chorar depois de ter a cara esmagada, todas as meninas rindo dele, chamando o menino de bebezão da mamãe, e, depois, como elas partiram para cima do menino. No final, Cody levou a pior, porque nem o boneco de ação que ele tinha na mão escapou, e ninguém sabe quem quebrou. – Terminou o relato. – Lena quebrou a articulação do dedo médio e está sem intervalo até a volta do recesso. Ela nem está ligando para a falta do intervalo, está mais brava porque o Cody disse que ela não pode gostar do Capitão América. Mas é a Elena, daqui a pouco ela esquece isso... ela não consegue ficar com raiva de ninguém. – Deu de ombros.

— Sei que não. – Segurei a risada, minha sobrinha mais nova era uma figura.

— Tenho que fazer o jantar. Tia, muito obrigada pela ajuda com as malas. Tio te vejo pessoalmente na sexta-feira, e por favor, não conte o roteiro para a tia!! Beijos! – Mandou vários beijos para a tela e desligou a chamada.

 Assim que desliguei, Alex comentou:

— Seu irmão tem que ensinar a Elena a se defender, ou toda vez ela vai se machucar daquele jeito.

— Elena não vai mais se meter em confusões.

— Ela pode precisar disso um dia. Nunca se sabe. Seu pai não te ensinou autodefesa?

— Não... Nunca precisei.

— Vou ter que te ensinar então.

— Já disse que não luto.

— Não é luta, Kat... é defesa.

— Tenho um spray de pimenta e um taco de hockey dentro do carro. Já basta.

— Um dia te convenço. Mas vou conversar com o Ian. Elena precisa aprender. Assim como Liv. Não tem como deixar as duas andando por aí sem saberem se defender. Creio que eu vou... – Tampei a boca dele.

— Você não vai ensinar a Liv a se defender. Eu não quero minhas sobrinhas lutando nada e você nem pode, seu ombro não está 100%.

Ele revirou os olhos.

— Quando nós tivermos nossas meninas, eu vou ensiná-las a se defenderem. Vou treiná-las muito bem.

— Filhas?? No plural?? – Perguntei.

— Sim. Já disse. No mínimo 5!

Comecei a rir.

— Se for um ou uma, agradeça.

Ele fechou a cara.

— Posso tentar te convencer a ser três?

— Até cinco. O corpo é meu. Não vou passar por mais de uma gravidez de jeito nenhum!

— Torcer para ser de gêmeos. Você é gêmea... – Ele disse com um sorriso. – uma menina e um menino. Correndo por aqui... atrás do Stark ou do Loki... pulando em cima do Thor.  – Ele começou a ver o futuro.

Levantei do sofá e deixei meu noivo fazendo planos para um futuro incerto, muito incerto.

— Imagina uma garotinha loira, agitada e falante igual à Elena? – Ele deu uma risada.

— E eu espero que nenhum deles puxe a sua tendência de ser jogado dos lugares. – Murmurei.

Foi quando meu celular vibrou, uma outra imagem, na verdade, quatro imagens anexadas de uma mensagem de Lee, o empresário de Alex.

Me desculpe a hora, Katerina. Mas resolvi mandar para você porque é mais calma que Alex. Quer que respondamos a isso, ou vão ignorar?

Abri as imagens, para ver quatro capas de revista. Uma reconheci por ser típica de fofoca, as outras me eram desconhecidas. Mas as quatro capas tinham uma foto em comum.

Alex e eu. Ele me abraçando todo protetor.

A legenda das fotos ou melhor, a chamativa manchete, era o único diferencial entre elas.

Em uma lia-se:

Novo casal em Los Angeles.

Depois de apenas algumas fotos na praia, temos a confirmação de um novo par no jet set.

Isso porque nem sabiam quem eu era, ainda...

A Nova Loira de Alexander Pierce.

Tudo o que sabemos, até agora, da nova namorada do galã.

Sabiam o que?? Não viram a minha cara!!

Casamento à vista.

Sim, destrinchamos o visual da noiva de Alex. Dos sapatos até o belo anel em seu anelar direito. E podemos dizer: ela tem gosto caro!

Bem... isso não era mentira. E nem tão difícil de se fazer, qualquer fanpage do Instagram faz isso com as roupas da Duquesa de Cambridge!

Um novo romance ou uma substituta?

Será que Alexander Pierce tenta esquecer Suzanna procurando por sósias da top model?

Revirei meus olhos para a última manchete. Quem escreveu isso? Uma especialista em teoria da conspiração?

Lee esperava uma resposta, e eu não poderia dizer nada, sem consultar Alex, afinal, ele é o famoso aqui.

— Diga o que você quiser. – Ouvi a voz dele sob o meu ombro e dei um pulo.

— Desde quando está aqui?

— Escutei você parar de repente. Vim ver se era por conta da minha brincadeira com o futuro de nossos seis filhos...

— Você está triplicando esse número a cada momento. – Sibilei.

Ele apontou para meu celular.

— Diz a ele para não responder. Não precisa nem de um “sem comentário”, tudo isso é para vender mesmo. – Disse sério. – E Kat.

— Sim. – Olhei para ele.

— Você não é uma substituta. Nunca foi, nunca seria e nunca será.

— Sei disso, Alex. Mais do que você imagina.

— E me desculpe por isso. Por tudo isso. – Fez uma careta para o meu celular.

— Não ligo. Não vão acertar nada, quer apostar?

— Não. Eles sempre acham alguém... todo mundo tem o seu preço. – Disse infeliz. – Mas vamos trocar de assunto. Temos que comer alguma coisa. – Brincou comigo.

— Vou responder a mensagem e te encontro na cozinha, pode ser?

— Te espero lá. – Ele se virou e seguiu pelo corredor, chamando por nossos cachorros. Eu levantei o celular e só respondi assim, para Lee.

Ignore. Nada de comentários. Nenhum.

E como vocês vão fazer na terça-feira? Alex vai sozinho? — Veio a resposta rápida.

Eu vou com ele. Mas terça é um evento para o qual eu também fui convidada, e não como namorada dele.

A história do casamento, vocês não querem que fale nada.

Não tem o que falar. É uma joia, como qualquer outra. É tudo especulação. — Garanti.

Obrigado, Katerina. Nos vemos na terça.

Até.

Reabri as fotos e simplesmente apaguei aquelas coisas. Seria melhor para mim e para Alex.

Contudo, uma vozinha lá no fundo me dizia:

— Você foi capa de uma revista, Katerina. Querendo ou não, isso é publicidade... será que você vai ter a cabeça no lugar para aguentar o que está por vir tanto no que diz respeito às fofocas, quanto ao seu emprego?

Eu não sabia dizer.

 

[1] Royal Academy of Dramatic Art. Escola de Arte Dramática de Londres, uma das mais antigas do Reino Unido, por lá passaram nomes como Anthony Hopkins, Timothy Dalton, Ralph Fiennes, Tom Hiddleston e muitos outros.


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Notas finais do capítulo

Quando a Elena souber que o Tio foi o Capitão América nas cenas que ela mais gosta, a loirinha vai à loucura.
Espero que tenham gostado.
Uma ótima semana a todos.
Até o próximo capítulo!
xoxo



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