Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 41
Felicidade


Notas iniciais do capítulo

Já é domingo e eu cheguei mais cedo.
A resolução do gancho.
Espero que gostem.
Bem... que quiser ouvir a música que é citada no início, recomendo colocar o replay infinito e deixar tocando enquanto leem!



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With your loving, there ain't nothing

That I can't adore

The way I'm running, with you, honey

Means we can break every law

I find it funny that you're the only

One I never looked for

There is something in your loving

That tears down my walls

I wasn't ready then, I'm ready now

I'm heading straight for you

You will only be eternally

The one that I belong to

The sweetest devotion

(..)

I've been looking for you, baby

In every face that I've ever known

And there is something 'bout the way you love me

That finally feels like home

You're my light, you're my darkness

You're the right kind of madness

And you're my hope, you're my despair

You're my scope, everything, everywhere

The sweetest devotion

Hitting me like an explosion

All of my life, I've been frozen

The sweetest devotion I've known

(Sweetest Devotion – Adele)

— Eu fico. – Falei e fui interrompida por um Alexander desesperado, que se levantou de uma só vez e começou andar de um lado para o outro gesticulando sem parar.

— Olha Kat... eu juro que te entendo, sei que não é fácil ficar longe da família, ainda mais das suas sobrinhas, mas...

— Eu disse que fico. Alex. – Me levantei e tentei pará-lo, para que ele me olhasse.

— Você... – Alex finalmente me olhou. – Fica?!

— Sim. Eu... – Mordi a língua, porém ao lembrar do rompante de meu namorado de meros segundos atrás, me pus a falar. – Eu não posso te abandonar. Eu não posso te deixar. É mais forte do que eu. Só o pensamento em te deixar me machuca. Não sou forte para entrar em um avião, te deixar aqui e seguir para Europa para continuar minha vida. Porque não existe vida sem você!— Acabei por falar. – Sim, me dói ficar longe da minha família? Dói. Muito. Eu entraria em um avião agora caso eles precisassem de mim? Claro, sem nem pensar duas vezes! Mas eu teria que voltar. Porque eu não vejo mais a minha vida sem você ao meu lado! Eu não sei o que é isso. Eu não sei como começou, só sei que tem algo que me puxa, que me faz precisar de você. Você disse, no domingo retrasado, sentado naquela cozinha, que sente uma necessidade imensa de me proteger. Que você não sabe de onde surgiu. É o mesmo comigo. Eu preciso estar ao seu lado. Não importa como. Eu posso viver longe da minha família. Contudo não posso viver sem você. É claro que eu os amo, que sinto a falta deles. Caramba! E como! Sinto falta das minhas amigas. Mas pensar em ficar sem você é doloroso. Me faz preferir a morte a viver!

Alex, que ouviu todo esse meu discurso, calado e parado na minha frente, apenas deu um passo para frente, segurou o meu rosto e me beijou. Um beijo desesperado. Urgente. Como se ele quisesse garantir que eu jamais sairia do seu lado.

Você me escolheria? – Disse, quando, sem fôlego, encostou sua testa na minha.

— Sim. – Falei.

— Tem certeza? Entre toda a sua família, seus amigos e eu, você me escolheria?

— Eu não os estou abandonando, Alex. Mas sim. Eu te escolheria. Porque... bem, eu posso ver minhas amigas indo e vindo entre um continente e outro. Vejo meus pais fazendo o mesmo. Posso até imaginar as minhas sobrinhas vindo passar férias aqui. Mas eu não consigo ver você fora daqui. Isso. A Califórnia. Isso aqui é a sua vida. E eu sei, bem no fundo. Eu sobrevivo a essa mudança. Você não. E não adianta mentir para mim, essa é a verdade, você jamais sobreviveria à vida na Europa. Escolher a minha família, é perder você. Mas escolher você, não é perder a minha família. É aumentar a que já tenho.

— Como você sabe que eu...

— Que você não sobreviveria à Europa? – Chutei.

— Sim...

— Simples. Basta te ver na praia. Basta te ver tirando a prancha do deck do carro e correndo em direção à água. Você é uma criatura que precisa do clima daqui para viver. Você pode viajar, ficar fora por um, dois, três meses. Mas tem que voltar para cá. O clima da Europa, a cultura europeia, isso não combina com você. Alex, não negue, quando você brincou que tinham mandado a pessoa mais errada do mundo para Califórnia, você sabia o que dizia, porque você se colocou no meu lugar, só que não vindo para cá. Indo para lá. Você se imaginou vivendo na Europa, longe das praias de areia branca, longe da corrida matinal em uma orla, longe do surf ao pôr do sol, e soube que não resistiria.

— Eu não tenho aversão à Europa.

— Não, não tem. Pode ir para lá e ficar comigo por um mês. Mas para viver lá? Não, você não viveria. – Disse com certeza. - Não combina com você. A rotina de uma vida burocrática como a minha, te mataria aos poucos. Te deixaria infeliz.

— E por que você tem tanta certeza de que pode sobreviver aqui, quando não gosta daqui?

— Eu nunca disse que não gosto da Califórnia. Eu disse que não gosto do verão e do calor. É completamente diferente. Mas respondendo à sua pergunta. O que eu amo fazer, pode ser feito aqui. E eu amo o meu trabalho, Alex, com todas as dores de cabeça e todos os problemas, eu amo o que faço. Simples assim.

— E a sua família?

— Ainda é minha família. Eu falei o que falei, porque sou apegada a eles. Principalmente à Liv e Elena. Mas... elas vão crescer. Vão ter a vida delas. E eu tenho que aceitar isso. Eu tenho que aprender a viver para mim. Não em função de outros. Tente entender, é o meu mecanismo de defesa. Como você pode ver, não tenho um mundo de amigos como você tem, tenho três fiéis amigas e só. Nunca fui boa em fazer amigos. Socializar não é, e nunca foi, a minha maior qualidade. Por isso ainda fico receosa com o futuro. Talvez isso mude um dia, talvez não. Mas é algo meu. Sempre fui assim. E espero que você entenda isso, pois estou fazendo o meu melhor para que nós possamos funcionar.

Ele me soltou, olhou para mim, para o céu. Ponderou. Voltou a ficar na minha frente e, um tanto acanhado, começou a dizer:

— Não é para você sair correndo. Não é para te assustar. Mas... – Parou, respirou. Colocou a mão no bolso e tirou, repetiu o gesto e quando levantou a mão, tinha uma caixinha em sua mão.

Eu me engasguei na hora.

— Calma. Eu sei o que você disse. Sei que falou que seu pai me mataria caso aparecêssemos casados em dezembro. Porém, eu te fiz todas essas perguntas. Te pressionei assim foi, porque... Kat. Sendo sincero. Eu não sei mais viver sem você. Eu tive o desprazer de ficar longe de você na segunda e na terça, e meros dois dias pareceram um ano, eu só preciso saber... não é para hoje, não é para o mês que vem, ou para o próximo ano. Mas, você, quando você se acostumar com a sua vida aqui, quando conseguir conciliar tudo e ainda poder se encontrar com todos que moram na Europa com uma frequência que irá te deixar mais feliz. Você se casaria comigo? – Alexander me perguntou ao ficar em um joelho e me estender a caixinha. E lá dentro eu vi o anel mais lindo do mundo. Não era nada exagerado, chegava até a ser simples, mas era perfeito. Reconheci as pedras, no centro uma maior, água marinha, a minha favorita, e ela era rodeada de pequenos diamantes que faiscavam à luz do céu.

— Alex... – Murmurei. – Eu... – Devagar levei minha mão até a caixinha e parei, admirando a peça, depois meus olhos encontraram os dele, e eu percebi, seus olhos azuis eram exatamente da cor da pedra central do anel, e me olhavam não em expectativa, mas reverentes. Como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo para ele, como se ele tivesse esperado séculos pela minha resposta. – Sim! Eu me caso com você! – Respondi diante de seu olhar. E pude notar o que uma simples palavra era capaz de fazer, pois vi as suas feições irem mudando aos poucos, até que um sorriso, tão lindo que me fez perder o fôlego, ornou suas feições. E ele tirou o anel do estofado no meio da caixa e depois de beijar a minha mão direita, o colocou em meu dedo anelar, se levantando para, mais uma vez, me beijar. Não teve como eu não responder a esse beijo à altura. E, quando nos separamos, tanto ele quanto eu, sorriamos. Desviei minha atenção de seu rosto e o abracei, contemplando o anel em meu dedo e pensando.

Será que alguma vez na história, houve um casal tão apressado quanto nós?

— Kat? – Ele me chamou.

— Diga? – Desfiz o abraço e olhei para o meu... noivo.

— Se você não quiser ficar com o anel agora, eu vou entender. Sei que é cedo, mas...

— Mas o que? – Perguntei só para deixá-lo desconfortável.

— Eu acho que eu deveria ter conhecido a sua família antes de fazer o pedido, então...

— Se é isso que te faz ter tanto receio, Senhor Certinho, – Peguei o anel, troquei de dedo e de mão. – Pronto. Mas eu não vou deixar de usá-lo. Não mesmo. – Dei um beijo nele. – Até porque... eu acho que seus pais, ou pelo menos a sua mãe, já viu esse anel... então ela vai saber o que aconteceu aqui.

— Sim, ela vai saber. E falando na Dona Amelia. Creio que você tem que voltar para ajudá-la.

— Com certeza. – Confirmei.

Ele deu uma corrida até Duke e assim que montou, parou do meu lado e só soltou, com um brilho no olhar e um sorriso no rosto que me indicou que não viria boa coisa por aí.

— Quer apostar quem chega primeiro?

— Você não... – Não consegui terminar a frase, pois Alex bateu com os pés no torso de Duke mandando o cavalo a começar a galopar. – É assim que você me pede em casamento? Me entrega um anel e sai correndo?? – Gritei bem alto.

Como resposta só ouvi sua gargalhada.

— Você me paga, Alex. Ah, me paga! – Murmurei e montei Furia. Sei que estava em uma desvantagem enorme, porém, se eu pude conhecer um pouco desse cavalo, era que ele é rápido, e bastava uma boa amazona, confiante na sela, para que ele voasse. – Furia, faça o seu melhor. – Dei o comando e deixei que o cavalo galopasse do jeito que ele queria pelo terreno. Não demorou muito e eu vi o rastro de Alex, para logo em seguida, já conseguir vê-lo. – Vamos, Furia, um sprint final, sei que um cavalo como você consegue! – Instiguei o veloz Mustang e em poucos minutos, estava emparelhada com Alex.

— Mas como?! – Ele se espantou.

— Isso Furia! – Dei duas batidinhas no pescoço do cavalo! Mais um pouco e ganhamos essa! – Passei voando por Alex e entrei ainda mais rápido na área da casa, só para ver meus sogros sentados na varanda, com os três cachorros aos seus pés. Quando parei, na porta do estábulo, Furia deu uma empinada e relinchou alto, porém, não estava nem um pouco cansado da longa corrida. Desmontei e esperei por Alex. Não demorou e ele apareceu. – Creio que você perdeu. – Falei sorrindo assim que ele desmontou.

— Se você fez isso com um Mustang, o que você não faz com o Filho do Perigo?

Dei uma risada.

— Você vai ficar sabendo. – Dei um tapinha no rosto dele. – E sim, eu vou trazê-los para cá. Agora, o perdedor vai tratar dos cavalos, se certificar de que eles tomem bastante água e tenham ração suficiente, depois de serem escovados. – Falei.

— E você vai fazer o que? Ficar me perturbando?

— Tenho um almoço para fazer, Surfista. E não se esqueça. Tome um banho antes de se juntar a nós à mesa. Ninguém merece se sentar ao lado de alguém com cheiro de estábulo!

Alex murmurou qualquer coisa que eu não entendi, mas resolvi por ignorar.

Assim que pisei na varanda, ainda podia ouvir Alex reclamando. Já meus sogros...

— Bela corrida. – Sr. Pierce comentou.

— O cavalo ajudou, e muito. – Dei todo o crédito à Furia de la Noche, afinal, foi o pobre quem fez todo o trabalho duro.

Dona Amelia estava rindo das reclamações de Alex.

— Ele te deixou para trás, não deixou?

— Pode apostar que sim. Porém, ele esqueceu que Furia é rápido como uma bala. – Comentei, e sem querer balancei a mão, atraindo o olhar de minha sogra, que só abriu um sorriso.

— Vai lá tomar um banho, antes de entrar na minha cozinha, Kat. – Mandou.

— Sim, senhora! – Respondi, mas antes de ir, tirei um tempinho para fazer um carinho no trio peludo. – E vocês três... precisam de um banho urgente, também. – Falei ao me levantar.

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O restante do final de semana passou distinto. Minha sogra não só reparou no anel na minha mão, como comentou com meu sogro, porém ambos nada disseram. Preferiram aguardar o anúncio oficial.

Quando esse anúncio seria?

Nem eu ou Alex tínhamos pressa. Afinal, era um trato nosso.

Com o final da tarde de domingo se aproximando, Alex tratou de arrumar as malas e colocá-las no carro. Doido para voltar para casa. Não que os seus pais também não fossem voltar para LA, mas ele simplesmente clamava que queria liberdade.

Enquanto ele ficou por conta das malas, eu fiquei por conta do resgate e recuperação do trio canino. Loki foi o mais fácil, Stark relutou, mas entrou dentro do carro.

Thor foi um problema. Quem diria que aquele lesado teria se apegado de tal forma ao meu sogro e se recusava a ouvir o meu chamado.

— Thor! – Bradei. – AGORA!

E o que o cachorro fez?

Pulou no banco de trás do carro do meu sogro, que ria da situação e simplesmente coçou a cabeça do meu cachorro, deu um petisco para ele e fechou a porta.

— Te entrego ele nessa semana. Até lá. – Sr. Pierce me disse. – Eu tomo conta dele.

Fiquei pasma com a situação. Tão surpresa que Alex teve que me garantir que eu teria o meu cachorro de volta. E falou isso por todo o caminho. Mesmo quando eu começava a enumerar tudo o que o destrambelhado iria precisar.

— Nosso filho vai ficar bem! É só uma fase de rebeldia adolescente.

— Meu cachorro tem dezesseis anos, Alex. A fase de adolescente dele já passou há muito tempo! ELE É VELHO!!

— Relaxa, meu pai vai ligar ao primeiro sinal da motosserra.

Duvidei dele.

Já em casa, reparei que a diarista tinha feito um trabalho incrível. Até as minhas caixas ela tinha movido e empilhado de um jeito que não aparecia.

— Definitivamente Carmen é um anjo! – Comentei.

— Você vai ter a oportunidade de conhecê-la. – Ele falou quando começou a guardar as roupas limpas.

— Você arruma aqui, eu arrumo a lavanderia. Jantar por sua conta. - Barganhei e desci com o cesto de roupa suja.

O nosso final de domingo foi bem preguiçoso, nada mais justo do que assistir a um jogo da NFL escorada em meu noivo. Ele todo nervoso com o desempenho dos Seahawks e eu sem entender nada, só achando graça de suas reações e as gravando para o caso de ele cismar que eu sou a torcedora exagerada da casa.

— Posso saber o motivo de você não ter largado o celular enquanto víamos o jogo? – Ele perguntou assim que me deitei ao seu lado, já quase dormindo.

— Uhm... interessante, tem alguém com ciúmes aqui! – Falei para provocá-lo.

— Não é ciúme. Só... curiosidade. – Saiu pela tangente.

— Bom saber, vou informar para os meus contatos que você não é ciumento. – Tentei soar o mais séria possível.

Alex me encarou. E diante da cara que ele fez, eu não me aguentei e comecei a rir.

— Qual é a graça? – Ele perguntou já bravo.

— Sua cara. – Respondi ainda rindo. – Você fica todo fofo quando está dando um ataque de ciúmes. – Dei um selinho nele.

Claro que ele não gostou de ser o motivo das minhas risadas.

— Vai ficar assim agora? – Questionei, distribuindo beijos no seu rosto. E ele ficou calado. – Ele vai. Que pena...

Pelo canto do olho vi que Alex levantou uma sobrancelha.

— Eu até ia contar o que eu fazia, mas agora não vou mais. Você não está merecendo que eu seja tão boazinha.

— Kat... – Alex finalmente abriu a boca.

— Olha! Ele agora está falando! – Me ajoelhei na sua frente.

— Não brinca comigo.

— Ah... mas agora eu posso. Sabe por quê?

E lá veio a feição taciturna novamente. E não resisti, me inclinei para frente, colando o meu rosto no dele e sussurrei na sua orelha:

— Eu tenho provas de como você é o torcedor fanático. Ainda mais do que eu.

— Você?!

— Sim. Eu gravei as suas reações. E se você abrir a boca para me chamar de torcedora exagerada, pode imaginar onde todos aqueles vídeos vão parar, não pode?

As mãos de Alex, que até então estavam em minha cintura, passaram para meus ombros, e ele me afastou de si para que pudesse descobrir se eu falava a verdade ou não.

— Você fez realmente isso?!

— Sim, e não adianta tentar apagar, está salvo na nuvem, em mais de uma. Sou uma mulher precavida. – Pisquei para ele e roubei um beijo.

— Se você fosse realmente precavida não estaria me provocando desse jeito. – Alex me alertou com uma voz um tanto rouca.

— De que jeito? – Perguntei inocentemente.

Ao invés de me responder, ele apenas olhou para meu corpo.

— Ah! Desse jeito! Não foi intencional. Mas eu acho que sou irresistível para você, não é mesmo? – Dei um peteleco no nariz dele.

— Você não faz ideia, Katerina. – Sua voz me provocou arrepios e seus olhos estavam focados nos meus, quando seus braços envolveram minha cintura e me puxaram para mais perto, me sentando em seu colo. Aproveitei a oportunidade e enlacei meus braços em seu pescoço, começando a dar beijos por toda a extensão da sua mandíbula. – Hoje você vai continuar com isso? Porque, da última vez, eu fiquei a ver navios.

Eu ri.

— Hoje você não está completamente enfaixado e, não temos companhia dentro de casa. Além do mais, creio que merecemos comemorar nosso noivado, não? – Cada palavra que eu falava era acompanhada de um beijo.

Alex não esperou que eu terminasse o último beijo, se aproveitando de sua força e da forma como eu estava em seu colo, ele simplesmente precisou se virar um pouco de lado para que logo eu estivesse deitada na cama, presa por seus braços. Encarei meu noivo e o que vi em seus olhos fez minha pele pegar fogo.

— Você quer uma comemoração, Kat? – Ele me perguntou, ficando por cima de mim, uma de suas mãos brincava com a barra da camiseta de meu pijama, enquanto a outra subia lentamente a extensão do meu braço, vindo a parar na base do meu pescoço.

— Eu quero essa comemoração há tanto tempo quanto você, Alex. – Murmurei e o trouxe para bem perto de mim, colando seu corpo no meu, sentindo seu peso, o gosto da sua boca, a sua necessidade tão igual à minha.

E, finalmente, depois de tantos dias brincando com o desejo, nos entregamos a ele.

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Olkaa hyvä. Sammuta se![1]— Pedi e me aconcheguei melhor em meu travesseiro. Ali estava tão bom, tão quentinho.

Porém o bendito do celular não parava de tocar.

Olkaa hyvä! – Gemi em desespero.

Meu travesseiro se mexeu e riu. Só que travesseiros não se mexem e muito menos riem. Um tanto desorientada, abri os olhos e vi onde estava.

Estava praticamente deitada em cima de Alex, tendo uma visão completa de seu abdômen definido e de todas as suas tatuagens. E foi quando eu me dei conta do que havia acontecido.

— Está acordada agora? – Ele me perguntou, deslizando preguiçosamente sua mão nas minhas costas.

— Mais ou menos. – Murmurei e depositei um beijo em sua barriga. – Isso vai depender das horas.

— Creio que você se esqueceu de desarmar o despertador que usou na semana passada. Ainda são 4:45 da manhã. E você ainda pode dormir mais, a menos que queira sair para correr... – Ele parou de falar.

— Eu não vou sair para correr sozinha. – Respondi à sua pergunta. – Posso muito bem ficar aqui por mais uma hora e meia. Dormindo. – Completei quando senti para onde sua mão estava indo.

— Não arruíne os meus planos, Kat.

— Tecnicamente, ainda é madrugada. Seja um noivo bonzinho que eu te recompenso depois. – Barganhei mais uma hora de sono.

— Eu vou cobrar. – Ele murmurou.

— Eu ficarei feliz em pagar.

Alex me abraçou forte, praticamente grudando o meu corpo no dele e começou a cantarolar, me fazendo voltar a dormir quase que imediatamente.

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Eu posso considerar essa como a melhor segunda-feira da minha vida. Enquanto muitos estavam mal-humorados, murmurando como almas condenadas a viverem a eternidade vagando na terra, eu estava completamente realizada e feliz.

Claro que minha felicidade tinha nome, sobrenome, apelido e várias tatuagens (e cicatrizes também), mas ninguém precisava saber disso, era uma informação completamente confidencial.

Minha manhã voou de tal forma que só me dei conta que a hora do almoço já tinha passado quando Milena me avisou que os clientes para a reunião das 14:30 tinham chegado.

Essa reunião e as três seguintes me fizeram perder, novamente, a noção da hora. Tanto que, quando terminei a última e dei uma olhada no relógio em meu pulso, notei que já passava das 19:00 horas.

Com o serviço pronto, sem nenhum problema para resolver e aumentando a minha carta de clientes a olhos vistos, dei o dia por encerrado. Quando fechei a porta do meu escritório, o correio noturno estava passando.

Jimmy Brown, o responsável pelas correspondências, me parou na porta do elevador e me entregou um envelope. Observei o papel chique e vi uma logo que eu reconheceria de longe, a correspondência nada mais era do que um convite.

Um convite para o lançamento da versão 2023 da Porsche Cayenne. Juntamente com a apresentação da nova campanha publicitária.

— Interessante... Agora tenho dois motivos para ir. – Ri sozinha dentro do elevador.

O caminho para casa foi tranquilo, até demais. Não tinha trânsito, não errei nenhuma entrada e sem xingar a habilidade de direção de ninguém, acabei por chegar mais rápido do que o normal.

Guardei o carro na garagem e estava subindo os degraus da entrada principal, quando notei que a casa estava toda apagada. Me perguntei se Alex tinha ido a algum lugar, então, tentei me lembrar se os carros e as motos estavam na garagem, estavam. Estranhei a situação, porém deixei pra lá, talvez ele ainda não tivesse voltado da primeira sessão de fisioterapia e como saiu cedo, se esqueceu de acender uma luz. Abri a porta e antes que eu tirasse o primeiro sapato, o aroma de um jantar bem feito e elegante invadiu as minhas narinas.

Levantei a cabeça tentando enxergar uma parte da porta da cozinha, mas não cheguei a olhar para esse cômodo, pois entendi o motivo da falta de luzes acessas. Toda a sala do térreo, que equivale a quatro ambientes distintos, estava iluminada por velas.

Eu praticamente me engasguei com a surpresa e fiquei observando como a sala havia ficado, já que a enorme parede de vidro dava ao ambiente um aspecto muito maior, refletindo as luzes.

Eu nem sei como removi os sapatos, só sei que antes mesmo de chegar perto do sofá da sala, onde eu colocaria a minha bolsa, duas mãos cobriram os meus olhos.

— Não. Você vai lá pra cima.

— Mas... Alex. – Tentei retirar suas mãos de meu rosto. Eu precisava ver como tudo estava.

— Daqui à pouco. Sobe, toma um banho. Te chamo logo. Acho que você vai gostar do que está lá em cima. – Ele começou a falar e a me guiar pelo cômodo. – Cuidado com o degrau. – Disse na minha orelha. – E agora, um por um. – Foi me explicando e ele só libertou os meus olhos quando estávamos na segurança do quarto.

— Mas o que é... – Eu ia reclamar, até que vi o quarto. – Alex! – Disse emocionada ao ver como o quarto estava. Também a luz de velas, com um enorme buquê de rosas vermelhas no centro da cama.

— Vá tomar um banho, eu já volto. – Ele me deu um beijo e saiu do quarto antes que eu pudesse reagir.

— O que está acontecendo aqui? – Questionei ainda olhando para o buquê. Que tinha um bilhete.

Só siga as instruções. Prometo que irá gostar.

Rakastan sinua!

Ele tinha me avisado para tomar um banho. Foi o que fiz, comecei tirando os anéis e brincos, e antes que eu pudesse remover a roupa, abri a porta do banheiro. E um verdadeiro banho de banheira estava preparado para mim.

Alex tinha pensado em tudo, e eu ainda não estava entendendo nada!

Juro que fiquei tentada em chamá-lo para dividir esse banho comigo, mas, ao mesmo tempo em que eu o queria aqui, eu sabia que ele não viria. Seja o que for que estava aprontando no andar de baixo, era importante para ele. Assim, eu aproveitei esse banho dos deuses sozinha.

Fiquei dentro da banheira até a água começar a esfriar, e quando terminei meu banho, estava decidida a fazer valer todo esse esforço do meu noivo.

Corri no closet e busquei pelas peças de roupas certas. Uma que eu sabia, ele estava bem curioso sobre como ficaria em mim.

Fiz questão de arrumar meu cabelo e ainda fiz uma maquiagem leve. Alex merecia isso. A única coisa que faltaria eram os sapatos de salto. Eu tinha pavor de ficar calçada em casa. Quando me olhei no espelho que ia do teto ao chão na parede do closet, fiquei contente com o resultado.

Minha intenção era descer sem avisar, contudo, não tive coragem, e, quando cheguei na porta do quarto, chamei por Alex.

— É seguro descer? – Perguntei alto.

— Sim. – Veio sua resposta.

Devagar, tentei fazer com que os meus sentidos se aguçassem para poder entender o que se passava no andar de baixo, discerni o cheiro das rosas, de bacalhau, tempero e mais alguma coisa que não identifiquei. E, em dúvida sobre que cheiro era esse, cheguei no alto da escada e olhei para baixo.

Para os dez jarros repletos de rosas vermelhas, cor de rosa, amarelas e até mesmo brancas. Vi a forma como ele havia distribuído às velas e, reparei em uma mesa que nunca estivera ali.

Pois, bem no meio da sala, tinha uma mesa de dois lugares, daquelas bem típicas dos restaurantes e ela estava posta para dois.

Mordi o lábio para não chorar de felicidade.

Enquanto eu trabalhava e pensava em Alex e no nosso relacionamento relâmpago; ele ficou em casa e me preparou esse jantar.

Dei um passo para começar a descer os degraus, e logo vi meu noivo me esperando no pé da escada, também todo arrumado.

Quando cheguei perto dele, Alex teve que engolir em seco.

— Pela sua cara, eu vou presumir que você gostou do meu vestido. Mas saiba que você também está muito bonito! – Falei e tive que ficar na ponta do pé para beijá-lo. – Isso tudo é para mim?

Ele, que ainda estava um tanto hipnotizado pela minha escolha de roupa, teve que engolir em seco, para me responder.

— Você merece. – Disse na minha orelha ao me abraçar por trás.

— E agora eu acabo de ficar sem graça. – Murmurei diante de tamanha atenção.

Alex riu.

— Considere isso como os meus agradecimentos por tudo o que você fez por mim na semana passada. E. – Pegou a minha mão e me guiou até a mesa. – Esse é o nosso verdadeiro primeiro encontro. – Disse ao puxar a cadeira para que eu me sentasse.

— Não poderia ser melhor. – Falei e não consegui conter o sorriso.

— Me espere aqui, eu já volto.

— Tem certeza de que não precisa de ajuda? – Perguntei.

— Kat. Hoje não. – Ele me respondeu.

Mordi o lábio e voltei a observar a sala. Até em cima do meu piano tinha velas, as flores estavam espalhadas pelo lugar e notei que não eram apenas rosas, tinham frésias, hortênsias, lírios e amores-perfeito, todo o ambiente tinha se transformado e uma aura de puro romantismo pairava no ar. Por fim, meu olhar parou na mesa. No cuidado que ele teve de arrumar de tudo e, tive que sorrir ainda mais. Bem no meio, tinha um pequeno arranjo de violeta. Branca com as bordas lilás.

— É, você realmente prestou atenção na história que te contei. – Murmurei e comecei a passar a mão na pontinha da flor.

Meus olhos, mais uma vez, vagaram pela sala e me peguei a pensar que eu precisei me mudar para o outro lado do mundo, ser um tanto descuidada, para que alguém pudesse realmente fazer algo por mim.

Quando que eu imaginaria ganhar uma noite dessas?

Jamais.

Alex tinha pensado do meu banho ao jantar, ele tinha pensado em mim ao montar tudo isso. Em mim.

Mordi o lábio com mais força e tive que reprimir a vontade de chorar. Eu não sei se eu merecia tudo isso. Mas a felicidade que eu sentia era tamanha que eu não poderia expressar a minha gratidão jamais.

— Em que tanto pensa? – Alex, parado bem atrás de mim, me perguntou.

— Em você. – Fui sincera.

Em mim? – Questionou curioso e tirou a cadeira que estava na minha frente para se sentar ao meu lado.

— Sim. E tem como não pensar? Olha o que você fez! – Gesticulei para a sala. Só que ele não olhou para o ambiente, ele olhava para mim e logo levou sua mão direita ao meu rosto para limpar a lágrima que tinha, teimosamente, caído.

— E precisa chorar?

— De alegria? Sim! Ninguém nunca, jamais, fez o que você está fazendo aqui hoje. Nunca. Eu nunca recebi tamanha atenção. Kiitos[2].

Ele abriu um sorriso enorme e seus olhos brilharam em resposta.

— Ah... Kat. Você não faz ideia do que eu faria por você. – Disse antes de se levantar e sumir para a cozinha.

Só que dessa vez, mesmo sabendo que ele não queria a minha presença lá, me vi obrigada a segui-lo. Sim, todo o ambiente estava perfeito, mas não tinha graça se ele não estivesse ao meu lado. Assim, o mais silenciosamente que consegui, fui atrás dele. E quando entrei na cozinha, ele murmurava algo baixinho, enquanto tomava um gole de vinho. Parei bem atrás dele e dei um beijo em seu pescoço.

— O que tem aí dentro?

— Te pedi para ficar lá.

— Eu sei. Só que eu não quero ficar sozinha. Prometo que não vou te atrapalhar. – Jurei.

— Não vai, é?

— Não. – Garanti e muito educadamente me sentei no banco e fiquei olhando para ele. – Nem no seu caminho eu estou.

Alex balançou negativamente a cabeça e se virou para o armário, de onde tirou outra taça.

— Você disse que só em ocasiões muito especiais... abra uma exceção para essa. – Falou ao colocar a taça na minha frente.

— Tentando me embebedar, Sr. Pierce? – Brinquei.

— Talvez eu tenha sorte. – Me serviu a taça.

— Só uma. – Pedi.

— Como quiser. – Ele fez uma mesura. – Mas será que você pode...

— Se você ficar, eu fico. Como eu disse, não quero ficar sozinha.

— Tudo bem, isso não vai demorar. – Me informou e veio se escorar ao meu lado, brincando com uma mecha do meu cabelo. – A propósito, eu gostei do seu vestido.

Escondi meu sorriso atrás da taça.

— Escolhido pensando em você.

— Eu agradeço. – Sua mão deixou o meu cabelo e veio para o meu rosto. – Porém, acho que vou gostar ainda mais quando ele estiver no chão do nosso quarto.

Encarei-o.

— Querendo ir direto para a sobremesa, é? – Perguntei me levantando do banco e ficando na sua frente.

Alex cruzou os braços e levantou o queixo, uma posição de quem se achava o superior. Eu nem liguei, e só fiquei na ponta dos pés para poder ver seus olhos azuis e lhe dar um beijo.

— Esqueceu de por os sapatos, é? – Ele brincou ao colocar as mãos em minha cintura.

— Foi intencional. Não consigo ficar calçada dentro de casa. E pelo visto você pegou a minha mania! – Olhei para os seus pés descalços.

Alex me abraçou e foi só aí que eu realmente reparei na diferença entre nossas alturas. Seu queixo se apoiava no alto da minha cabeça sem que ele precisasse esticar o pescoço. E, nessa posição, ele começou a me embalar e quando notei, estávamos dançando sem música, no meio da cozinha.

— Eu te amo, Alexander! – Falei assim que ele acabou de me rodar e eu voltei para os seus braços.

Rakastan sinua, Katerina! – Ele me respondeu em finlandês e voltou a me beijar.

Nosso jantar 5 estrelas, no meio de nossa sala, foi o melhor jantar da minha vida, com a melhor companhia que eu poderia ter. Não tinha nada, absolutamente nada, que estragasse esse momento.

E depois de arrumar a cozinha, de aproveitar o máximo de tempo ao lado dele, sentada no sofá da sala iluminada pelas velas, de apagar cada uma das velas, eu terminei o meu dia exatamente no mesmo lugar onde ele havia começado, nos braços do homem que eu tanto amo.

 

[1] Por favor! Desligue isso!

[2] Obrigada.


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Notas finais do capítulo

E é isso!! Espero que tenham gostado dessa dose extra grande de água com açúcar que foi esse capítulo!
Muito obrigada a você que leu!
Até o próximo capítulo!
Bom feriado e se cuidem!
xoxo



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