Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 128
Holofotes


Notas iniciais do capítulo

Bem, e lá vem mais um capítulo grandinho por aqui. Desses para você ler enquanto espera a contagem regressiva para o ano-novo.
Spoiler: E os sinos de casamento começam a tocar um pouquinho distante para um certo casal.
Boa leitura!



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 E depois de eu ter contado para toda a família sobre a promoção e de Wendy ter chegado para ser a minha secretária, se dando bem quase que imediatamente com Amanda e Milena, as atenções se voltaram para o jantar de noivado de Pepper e Will.

— Só me tire uma dúvida. – Perguntei para Alex. – Tirando sua família, a família da Pepper e o pessoal do surf, mais quem vai?

— Não faço ideia. – Ele me respondeu ainda deitado. – Só sei que poderíamos inventar uma desculpa e não aparecermos.

— Isso seria impossível. Primeiro, você é irmão do noivo, segundo, Pepper é minha amiga, terceiro, sua mãe apareceria aqui em um átimo para nos levar pelas orelhas.

— Eu estou todo quebrado, Kat. – Alex rolou na cama.

A verdade era que a semana de gravação tinha sido puxada e, foram gravadas cenas externas, todas de ação e como Alex não usa dublê, ele acabou por se acidentar em uma determinada cena, caindo de um carro em movimento. Não foi nada grave como ocorreu há quase um ano, mas deu para assustar. E agora meu noivo ostentava vários arranhões, um corte um pouquinho maior no ombro e hematomas espalhados pelo corpo.

— Então liga para eles e pede para adiarem. Você sabe que Pepper já nem queria fazer esse jantar, você pede para adiar e é bem capaz de ela arrastar o Will para Vegas e se casarem lá sem ninguém por perto. Agora levante dessa cama e vem se arrumar. Sua roupa está separada.

— Quem separou minha roupa, você ou a Dupla Dinâmica da Moda?

— Eu. Eles só escolhem a suas roupas quando você vai aparecer em público. No mais, eu sou a responsável para te deixar apresentável quando você vai ver a sua família.

— Não critique as minhas roupas. São confortáveis. – Alex reclamou. – Você está ficando igual a Hilary.

— Vicenzo odeia suas roupas mais do que Hillary. Ele me disse que se pudesse colocava roupa em metade do seu closet.

— Você adoraria isso, não?

— Só sobraria as roupas que eu comprei para você, Alexander. Mas, como eu também adoro uma roupa confortável, não vou deixar nenhum dos seus personal stylists queimarem suas amadas calças cargo e moletons três vezes seu tamanho. Agora, banho! – Puxei-o da cama.

— Você nem está pronta! Por que eu? – Silenciei-o com um beijo.

— Seja um bom menino e vá para o banho, Alex. – Pedi e fui empurrando o mimado para o banheiro.

E, enquanto Alex ia reclamando sem motivos, eu terminei de me arrumar.

— Nem acredito que eu vou ficar esperando o bonito hoje... – Murmurei e deixei o quarto para organizar a água e a ração dos três gulosos que estavam aproveitando o dia mais fresco para ficarem do lado de fora.

Meu noivo fez hora e quando desceu, eu estava prestes a subir a escada e ir buscá-lo no quarto.

— Vamos? Minha mãe já ligou perguntando onde estamos.

— Espero que você tenha falado que estamos atrasados por sua culpa.

— Eu não. É mais fácil ela pensar que você nos atrasou... assim ela não briga. – Ele respondeu sorrindo e foi me guiando para a garagem.

— Sei. – E, para mudar de assunto, acrescentei. – Não se esqueça que temos que buscar Dona Ilsa.

— Minha mãe fez questão de me lembrar disso também.

Como sempre ele fazia, abriu a porta do carro para que eu entrasse e depois assumiu o volante, a ida ia tranquila, até que ele falou:

— Quer fazer uma aposta?

— Sobre?

— Sobre quem vai criar o primeiro climão da noite, a mãe ou o pai da Pepper.

— Não vou fazer isso. Ela já está bem nervosa com tudo. Passou a semana me ligando e me perguntando se esse jantar era necessário. E, caso aconteça algo, favor não rir.

— E qual é a graça de ter um irmão mais novo de quem eu não posso rir?

— Você pode rir de Will quando quiser, mas não hoje à noite. Você se lembra de como estava nervoso quando foi a nossa vez? Will não riu, só te apoiou. Faça o mesmo.

— Sim, senhora. – Alex bateu continência.

Revirei meus olhos e observei o tempo. Estava fechando.

— Isso não é boa coisa. – Comentei ao ver um relâmpago.

— Essa é a sorte da Pepper.

Dei uma cotovelada nele, e parece que acertei em algum lugar já machucado, já que ele soltou um gemido.

— Deveria me desculpar, mas não vou. Você está merecendo. – Falei casualmente.

— Por que as mulheres sempre se unem quando se trata de noivados, casamentos, aniversários, batismos?

— Porque os homens nunca parecem perceber a importância destas datas. – Rebati.

Vi que Alex me olhou um tanto torto, porém, como estávamos chegando na casa de Dona Ilsa, ele preferiu deixar o assunto morrer.

— Pode ir lá chamar a sua avó. – Ele comentou.

— Dona Ilsa é a sua avó.

— Que claramente prefere você. Ela te trata melhor do que qualquer um.

— E alguém está com ciúmes! – Cantarolei e desci do carro para tocar a campainha.

Alex ainda murmura qualquer coisa dentro do carro quando o portão foi aberto e eu entrei para buscar Dona Ilsa. Como ela gostava de fazer, veio me cumprimentando em alemão e depois emendou uma conversa ainda em seu idioma nativo.

Alex, que vinha aprendendo alemão na base da obrigação nos últimos meses, entendia uma ou outra frase, sendo que até mesmo dava seus pitacos nas conversas que Dona Ilsa e eu sempre temos.

Chegamos na casa de Will um pouco tarde, porém, nada demais. Assim que cruzamos a porta e cumprimentamos os presentes e eu fui apresentada à família de Pepper, a própria noiva me puxou pelo braço e me arrastou para a cozinha, onde já estavam Emily e Pietra.

— O que você está fazendo aqui? – Perguntei para a italiana.

— Fui convidada!

— POR FAVOR! – Pepper chamou a nossa atenção. – Depois as europeias brigam! Preciso da ajuda de vocês! COM URGÊNCIA!

— Estamos aqui para isso. O que foi? – Emily perguntou.

— Meus pais.

— O que tem eles? – Foi a minha vez de puxar o restante da conversa.

— Resumindo, meu pai não é fã do nosso sogro. – Ela olhou para mim. – Tudo porque minha mãe é MUITO fã dele.... enfim, ele está possesso por ter que dividir a mesa com ele e com o fato de que a minha mãe está meio que bajulando os Pierce... ou só o Sr. Pierce, porque ela meio que esquece que Dona Amelia também está aqui.

Foi Pietra quem veio com a solução.

— Isso é fácil de ser resolvido.

— Como? – Emily perguntou antes de Pepper.

— Misture todos os convidados ao redor da mesa. Meio como fazem no Palácio de Buckingham. Nenhum casal se senta perto do companheiro e pessoas alheias ficam misturadas. Podemos fazer isso dar certo à mesa. E, claro colocar a sua mãe longe de seu pai e de seu sogro.

— Pode funcionar. Só não podemos colocar seu pai de frente para o Sr. Pierce. Eles devem ficar no mesmo lado da mesa e bem longe. Mais algum problema? – Continuei.

— Acho que não... mas se aparecer...

— A gente se reúne de novo.

— Obrigada! Vocês salvaram minha vida! – Pepper nos puxou para um abraço em grupo.

— Vá fazer a social que vamos organizar os convidados e colocar as plaquinhas dos nomes. Você é a estrela da noite e tem que circular. – Emily saiu empurrando Pepper para fora da cozinha e depois voltou e se reuniu na ilha. – E como vamos fazer isso? Só temos meia hora! – Olhou desesperada para Pietra.

— Atrasos acontecem. Desliga o forno que ganharemos tempo.

E nós três ficamos por ali, organizando os presentes à mesa de forma discreta e depois fomos arrumar tudo.

Pepper ia e vinha de vez em quando, sempre meio desesperada.

— E seu pai? – Perguntamos.

— No bar.

— Nosso sogro?

— Conversando sobre futebol com o pessoal do surf.

— Menos mal.

— Mas a minha mãe está olhando para ele com cara de fã apaixonada. Mais ou menos como a Emily olha para o Kim Nieminen quando ele joga.

— CALA A BOCA, PEPPER! – Emilly deu um tapa na noivinha da noite.

Pietra soltou uma gargalhada, eu consegui me controlar a tempo.

— Isso vai ser um desastre! – Minha cunhada gemeu em desespero e depois começou a rodar igual a uma louca pela cozinha.

E, para completar a festa, Dona Ilsa apareceu na cozinha e quis saber o que acontecia.

Pepper, desesperada, contou tudo e a avó de nossos noivos só soube rir.

— Vai dar tudo certo, minha filha. Só não deixe ninguém beber muito e se certifique que as facas não estejam afiadas demais. – Foi o conselho da matriarca dos Pierce, do qual Pietra gostou muito.

Pepper afundou o rosto nas mãos, contudo, era hora do jantar e ela tinha que estar apresentável.

— Eu não vou conseguir fazer isso.

— VAI SIM! – Falamos juntas.

— Eu vou desmaiar.

— Se você desmaiar, Dona Amelia vai achar que daqui a alguns meses será avó. Então força na peruca e se mantenha de pé. – Empurrei a nervosa noiva para fora da cozinha.

Saímos do cômodo alguns minutos depois e fomos procurar nossos companheiros.

— Até que enfim te vejo! – Benny abraçou Pietra.

Matt abraçou Emily também e Alex só me olhou desconfiado.

— Depois eu conto. Essa vai entrar para os livros. – Comentei baixinho e ele me abraçou rindo. A conversa sobre futebol continuou até que Will e Pepper chamaram os convidados para a mesa.

À primeira vista todos estranharam o fato de que as famílias e os casais estavam separados, porém, à medida que o jantar foi sendo servido e as pessoas conversando umas com as outras, o clima melhorou, mas era claro que, principalmente Dona Amelia e o pai de Pepper estranharam o arranjo. Os únicos que se sentaram perto foram os noivos, na cabeceira da mesa e, um pouco antes da sobremesa ser servida, Will chamou a atenção dos presentes e anunciou o noivado propriamente.

Por parte da família de Pepper, as comemorações foram contidas, os Pierces não esconderam a alegria de terem mais uma na família, mesmo que o relacionamento dos noivos já fosse de longa data, e teve a turma do surf, que, assim como tinham comemorado quando Alex anunciou o nosso noivado, comemorou de forma ruidosa o de Will e Pepper, prometendo o devido batismo quando eles aparecessem para surfar.

Apesar dos temores de Pepper, não houve nenhum incidente, a cena mais constrangedora da noite foi quando sua mãe quis que ambas as famílias tirassem fotos de forma reunida.

Na hora deu para perceber que era a única coisa que Pepper não queria que acontecesse e ela, um tanto nervosa, tentou inventar mil e uma desculpas para adiar o momento. A Sra. Robinson bateu o pé e começou a organizar os presentes para que as fotos fossem tiradas.

E foi Emilly quem surgiu com a ideia que enterrou o clima estranho que estava se formando, quando sugeriu que deixássemos os noivos no meio e as famílias ao lado de cada um.

Depois desse pequeno momento de tensão, o Sr. Robinson voltou para o bar e Sr. Pierce se encaminhou para o outro lado da sala.

— Isso não aconteceu com a sua família. – Pepper murmurou perto de mim ao ver a cena.

— Eu não fui pedida em casamento na frente das duas famílias ao mesmo tempo. Quando foi a vez de Alex pedir a benção aos meus pais, eles já sabiam... os seus nem faziam ideia.

Minha cunhada esticou a cabeça para olhar em volta novamente.

— Mesmo assim. Está um clima estranho...

— Não está não. Seu pai está se comportando muito bem e sua mãe está devidamente afastada de nosso sogro, nada de ruim vai acontecer. – Garanti.

E realmente não aconteceu, não demorou muito e os convidados começaram a irem para suas casas, e, para quem pensou que poderia sobrar somente as duas famílias, os Robinsons foram embora cedo, somente se despediram polidamente de todos e partiram. E foi só aí que Pepper pode respirar com alívio.

Alex e eu também não nos demoramos muito, primeiro, porque nossa semana foi cansativa e segundo, ainda deixaríamos Dona Ilsa em casa.

Na volta, Dona Ilsa não deixou de comentar todas as manobras que fizemos para que não houvesse uma cena desagradável no noivado.

— Sua amiga italiana foi inteligente e Emilly também pensou rápido na hora das fotos. Se elas estiverem por perto quando do casamento, nada sairá errado.

Alex ia segurando a risada ao meu lado e eu acabei por bater nele.

— Peraí, Kat! Você disse que eu não poderia rir na festa! Não proibiu a risada depois da festa.

— Mesmo assim, Alex! Estamos falando do noivado do seu irmão! Tenha um pouco de simpatia. Meus irmãos não pegaram nem no meu pé, nem no seu em Londres!

— Jamais vou esquecer a cara de decepção da mãe de Pepper quando ela notou que havia lugares marcados à mesa e que ela estava bem longe de meu pai....  – Ele deu uma risada. - Mas nada foi melhor do que na hora da foto em família...

Dona Ilsa e eu deixamos Alex falando sozinho e começamos a conversar em alemão. A conversa, que girou em torno do casamento do neto mais novo, virou completamente quando a guiei para dentro da casa.

— E, claro, não podemos esquecer do seu casamento. Quando será mesmo? – Ela me questionou.

— Não temos data e nem ideia de uma data. Quando for o dia de nos casarmos, Dona Ilsa, a senhora será uma das primeiras a saber. – Desconversei, a Matriarca não caiu muito na minha conversa e, após levantar uma sobrancelha, apenas soltou:

— Eu quero ter a chance de acompanhar esse casamento, Katerina. De ver sua família e amigos ao lado da minha família e dos amigos de meu neto.

Sem ter uma resposta na ponta da língua, preferi somente acenar e, depois de garantir que Dona Ilsa estava segura em casa, despedi-me dela e corri para o carro.

— Minha avó cobrou o nosso casamento de você, não cobrou? – Alex me perguntou assim que me viu.

— Sim.

— E você respondeu o que?

— Nada.

Ele deu uma risada.

— Ao que parece, ela está achando que eu é que estou te enrolando...

— Ninguém está enrolando ninguém aqui, Alex. Não tem nem um ano que nos conhecemos. Acho que esse tempo juntos é bem importante para sabermos se realmente queremos passar a eternidade um do lado do outro.

— Deveria ter falado isso para ela. – Ele comentou.

— E eu nem entendo o motivo de tanta gente se preocupar com o nosso estado... já moramos juntos, por que as pessoas fazem tanta questão de um anel e um papel assinado? – Disparei.

— Porque elas não passaram pelo que você passou, Loira. Se tivessem passado, saberiam os seus motivos de ainda não ter marcado a data.

Só tive com concordar com Alex, afinal, era exatamente este o motivo de ainda não ter nem pensado na data.

— E, antes que você fale algo, não, eu não estou preparada para um casamento. – Falei.

— Eu sei que não está. E eu não estou nem um pouco preocupado com isso, Kat. Como você disse, estamos juntos, e é isso o que importa. Uma festa, uma assinatura em um pedaço de papel não vão mudar em nada o que nós somos.

Sem ter palavras para agradecer o tanto que Alex me compreendia, apenas peguei a sua mão na minha e a beijei, mais certa do que nunca de que eu queria passar a entidade ao lado dele, e era isso o que importava de verdade.

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O mês de setembro passou voando. Era inacreditável o que a estreia de uma nova série poderia movimentar a TV americana. E, logo que a segunda quinzena se iniciou, Alex passou a ter diversos compromissos além das gravações. Entrevistas para revistas, jornais eletrônicos, sites especializados e, claro, aparições nos mais diversos programas de TV.

E, com uma agenda tão cheia, sua equipe veio junto. Eram discutidos os mínimos detalhes desde a roupa até mesmo se ele deveria usar maquiagem ou não.

Houve dias em que eu chegava do escritório e encontrava a equipe de marketing e redes sociais discutindo até mesmo os melhores horários para se postar em uma determinada conta.

Alex acompanhava as discussões, dava seus palpites e, às vezes, ao ver a minha cara de perdida e assustada, ele apenas me sorria e dava de ombros e, somente mexendo os lábios, me dizia: “No final, vai dar certo!” Eu somente balançava a cabeça de forma positiva, chegava perto de todos e os cumprimentava, rumando logo, ou para meu escritório para continuar com o meu trabalho, ou para a cozinha onde eu fazia o jantar para um batalhão.

Juro que me era estranho ver o rosto de Alex até mesmo em chamadas de outdoors... a série estava sendo amplamente divulgada e, conforme algumas reportagens que li, era a grande aposta da emissora para esta temporada, além da estreia mais esperada pelos telespectadores.

Com Alex sendo entrevistado, é logico que algumas perguntas sobre os últimos três anos foram surgindo, e, como ele havia discutido com a equipe e, depois que eles saíam, comigo, a resposta padrão que ele dava era “precisava descansar a imagem.” Alguns repórteres ainda insistiam no tema, mas eram desviados para as outras “carreiras” de meu noivo, principalmente quando ele começava a falar do abrigo de animais onde ele trabalhou e de onde ele adotou Stark.

Com um pouco de insistência de Alex, eu acompanhei alguns programas de TV, estava sentada no fundo da plateia enquanto ele era entrevistado e, algumas vezes fazia parte de alguns quadros também.

Minha opinião sobre tudo isso? Uma grande perda de tempo, pois pude presenciar a falsidade de algumas pessoas e, também, como muita coisa era fabricada para parecer o que não era, principalmente as mulheres. Juro que cheguei a me assustar com a quantidade de maquiagem que algumas outras convidadas dos programas usavam no rosto.

A estreia da série estava marcada para o dia 23 de setembro, às 22:00, uma sexta-feira. E o show ocuparia o horário nobre da TV, todas as sextas. Isso, claro, se fosse tão bem recebido pelo público como parecia e se esperava que fosse.

E, a penúltima semana de setembro se iniciou, com aquele clima de expectativa na família e no meu trabalho, já que o trio, ou melhor, o quarteto de fãs de Alex estava tão nervoso quanto eu para que a sexta chegasse logo.

— Eu juro. Vai chegar o domingo, mas não a sexta! – Amanda comentou na quarta-feira.

Sem comentar nada, acabei por concordar com ela.

— Eu estou falando sério! Até mesmo a minha aceitação na UCLA já chegou e nada de dar sexta.

— Você só está dizendo isso porque está querendo sair para comemorar que foi aceita na universidade que você queria. – Milena brincou com a garota.

— Também queria Stanford, mas, Stanford não achou que eu muito inteligente para estudar lá. Não faz mal, assim posso continuar trabalhando aqui, agora como estagiária graduanda em negócios e administração, né Chefa? – Ela gritou lá da antessala.

— Sim, Amanda, mas se você continuar a gritar desse jeito, eu vou te transferir para o escritório de Dubai!

— Faz isso não, quero ser a sua sucessora aqui na Califórnia! Você de CEO da NT&S e eu de Chefe de Escritório, que tal? – Agora ela já estava na porta da minha sala.

— E eu aposentada! – Milena interveio.

— Eu primeiro. – Wendy fez coro. – Até porque junto com Amanda é capaz que venha Olivia!

— Senhor, o tumulto iria estar formado! – Milena continuou com a brincadeira.

Já Amanda, ela nem ligou.

— Vocês vão ouvir falar de mim. E Stanford se arrependerá amargamente de não ter me tido como aluna.

— Com certeza, Amanda. Agora volte ao trabalho ou todo mundo aqui vai fazer hora extra na sexta-feira. – Ameacei.

O restante da semana pingou, e, enfim, a sexta chegou.

E, se eu achei que Alex iria querer assistir ao piloto da série e comentar o que tinha que ser comentado comigo e com os pais e irmão, eu estava redondamente enganada.

Por mais que minha sogra tenha me alertado de que, talvez, Alex não quisesse assistir ao episódio, eu ainda tinha esperanças de que iria. Só que ele não assistiu, e eu nem perguntei o motivo, uma vez que já sabia: ele é o seu pior crítico, sempre fora e tudo piorou com os comentários de Mia e Suzanna.

Então, na sexta-feira, às 22:00, a nossa TV estava desligada e eu estava sentada no jardim dos fundos, perto da piscina e, para tentar me distrair, estava dedilhando meu violão, que eu tinha tomado vergonha na cara e comprado, depois de Liv ter surrupiado o meu em Londres, tocando algumas músicas dos anos 80 e mais algumas que eu gostava e sabia tocar sem precisar de partitura.

— Isso é um milagre! – Alex comentou ao se sentar do meu lado na espreguiçadeira.

— Só porque eu estou tocando?

— Não. Você perto da piscina. Já se vão onze meses desde que você se mudou para essa casa e até hoje não deu um mergulho... e não me venha com a desculpa de que você não teve tempo, porque nem quando seus sobrinhos estavam por aqui, em pleno verão, você entrou na água...

Dei de ombros, não iria explicar pela milionésima vez que eu preferia a água em seu estado sólido.

— Se está com tanto remorso por essa piscina não ser usada, fique à vontade. Vou continuar por aqui para fazer a sua trilha sonora... – Brinquei.

E, Alex acabou por me surpreender quando tirou a camisa e mergulhou de uma vez, acabando por respingar água em mim e, só para encher a paciência dele, comecei a dedilhar o tema do filme “Tubarão”.

— Uma musiquinha para animar a sua natação! – Falei um pouco mais alto quando ele voltou para a superfície.

Ele ficou dentro d’água pelo tempo em que o episódio foi ao ar, só saindo às 23:00, quando o chamei, pois, seu telefone tocava.

— Atende aí. – Alex me instou. – Eu não ligo.

— É o Lee, Alex. – Mencionei o nome do empresário.

Sem muita animação, Alex respondeu à chamada e, antes mesmo que eu pudesse me afastar, escutei o comentário do empresário, já que meu noivo colocou a chamada no autofalante enquanto se enxugava.

— Garoto, os números acabaram de sair! Simplesmente foi a melhor estreia de uma série nos últimos vinte anos! Os números não mentem, pode confiar em mim! – Lee falava e, não satisfeito, repetiu tudo à exaustão.

Alex só ouvia e, depois, acabou por tirar a chamada do viva-voz e saiu andando pelo jardim, com o telefone no ouvido. E ficou assim por um tempo, até que entrou na casa vindo para onde eu estava, brincando com o telefone em suas mãos.

— Então? – Perguntei quando ele se jogou do meu lado no sofá da sala, tinha entrado para lhe dar privacidade enquanto estava no telefone.

— Foi um sucesso! Maior estreia da história do horário! Maior audiência da sexta-feira. E... – E aqui ele parou.

— E?

— Ganhamos a primeira temporada completa e a segunda! – Disse com um sorriso imenso.

— O QUE?! – Foi a minha vez de abrir um sorriso. – Isso sim que é começar um show com o pé direito e dois pés na porta! – Dei um pulo e o abracei apertado.

— É, Loira! Hoje é para comemorar! – Ele falou enquanto me rodava.

— Mas antes você tem que passar a boa notícia para frente!

Alex saiu andando pela casa e foi passar a novidade para frente, além de brincar com o pai sobre os números da noite, já que com essa informação ele jogou a série na qual o pai é protagonista, para segundo.

E, se tudo deu mais do que certo para Alex, agora era a minha vez de esperar a semana pingar, e que chegasse logo quarta-feira para que eu embarcasse para Singapura e tentasse ganhar de vez o cliente mais exigente que a NT&S poderia sonhar em ter.

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Estava parada no meio do quarto, conferindo se tudo o que precisava levar para Singapura já estava separado, e, se não, corria para colocar em cima da cama para depois olhar o tamanho da mala que precisaria levar.

— Acho que tudo está aí. – Murmurei sozinha e fui atrás de uma mala que coubesse tudo.

Enquanto guardava as coisas, meu celular tocou, era Pietra.

— Estou em Los Angeles e vou precisar de carona para Singapura. – Foi assim que ela se identificou assim que atendi a chamada.

— Você nem me falou que estava em Los Angeles! – Reclamei. – A última vez em que te vi foi no noivado da Pepper.

— Então, tivemos que vir até aqui para ver umas coisinhas...

— Benny também veio?

— Sim, e se o Tatuado estiver em casa, gostaríamos de conversar com vocês dois.

— Aquele assunto que você começou e não terminou no aniversário da Olívia?

— Exato. Pode ser hoje?

— Só temos hoje, Pietra. Embarco amanhã cedo por conta do fuso horário.

— Nós embarcamos. Aí na sua casa, ou preferem aqui?

Por aqui eu presumi que fosse a casa de Benny...

— Onde acharem melhor. – Garanti.

— Peça ao Alex para te trazer, pois sei que você não sabe chegar até aqui... se perde nas saídas. – A Italiana Louca deve a audácia de dizer.

— Vou tentar falar com ele, se tudo deu certo hoje no set, ele deve estar voltando para casa a essa altura.

— Ótimo! Até daqui a pouco. E não se esqueça de colocar o meu nome no manifesto do voo.

— Benny não vai?

— Dessa vez não. Eu tenho a impressão de que ele está precisando de um tempinho em casa.

— Sentindo falta do mar?

— Também. Você sabe como é a Europa quando começa o outono...

— Sei e sinto falta.

— Só você sente falta do frio, da chuva e dos dias curtos e cinzentos! Pelo amor de Deus!

— Entendi o recado, Pietra. Até daqui a pouco, tenho que terminar de arrumar a mala.

A Louca desligou depois de se despedir e eu voltei a me concentrar na minha mala de viagem, sempre de olho na previsão do tempo para o final de semana.

Com a mala arrumada, aproveitei o tempo ainda à sós para acrescentar o nome de Pietra no manifesto de voo. Estava encerrando a ligação no momento em que Alex chegou e, ao me ver sem minhas camisetas de banda de rock, estranhou.

— Temos algum compromisso que eu não sei, ou pior, me esqueci?

— Oi para você também! E a resposta é mais ou menos. Vamos à casa de Benny. Ele e Pietra querem conversar conosco.

— Aquela conversa que não terminaram no aniversário de Olivia? – Alex se aproximou de mim e me deu um beijo.

— Exatamente.

— Algum dos dois deu uma ideia do que poderia ser?

— Não, Alex. Pietra não deu nenhuma dica.

— Sua intuição diz que pode ser o que? – Ele ia andando pela casa e deixando suas coisas nos lugares, enquanto ia conversando comigo.

— Não faço ideia. Agora vá tomar um banho para podermos ir. Você terá que ir dirigindo, não lembro o caminho. – Falei quando ele chegou ao segundo andar.

— Quase um ano em Los Angeles e ainda se perde. Depois se diz a piloto!

Deixe o comentário sem resposta e fui organizar mais algumas coisas, como roupas que estavam lavando e a ração e água do trio.

Peguei minha bolsa e fui para a garagem, Alex me encontrou dentro do carro, editando um arquivo no celular.

— Trabalho a essa hora?

— Adiantando para amanhã. Não sei como será o voo e nem se terei tempo para trabalhar. – Expliquei quando ele deu a partida e saiu da garagem.

E enquanto íamos ganhando as ruas de Los Angeles, ficamos em silêncio, Alex concentrado no trânsito e nas ruas e eu trabalhando.

— Então, sobre a sua viagem... já está tudo arrumado? – Alex quebrou o silêncio, assim que notou que eu tinha terminado de digitar na tela do celular.

— Sim. Vão ser poucos dias.

— Fica para assistir a corrida?

— Fico. Vou aproveitar o fuso bem adiantando de Singapura para ficar mais um dia, mesmo que a corrida seja à noite.

— Por favor, só não use óculos escuros! – Ele fez piada.

Tive que rir.

— Vou tentar não aparecer na TV de óculos. – Disse sarcasticamente.

— Vou assistir só para garantir que você irá cumprir a promessa.

— Admita, Alexander, você vai assistir porque gostou do esporte, não porque existe a remota possibilidade de que eu vá ser filmada, mas, em todo o caso, vou lembrar de dar um tchauzinho quando vir a câmera.

— Só não sorria muito, não quero nenhum austríaco se apaixonando por você... – Ele falou brincando, ou nem tanto.

Olhei para Alex.

— O que? – Ele ficou desconfortável com a minha encarada.

— Nada, só vendo a sua cara de ciumento. – Gargalhei e dei um beijo sem sua bochecha.

— Eu não sou ciumento. – Ele murmurou, mas suas orelhas e bochechas estavam em um tom rosado, contradizendo suas palavras.

Com pouco chegamos à casa de Benny e Alex simplesmente buzinou para indicar que estávamos ali.

— Não dava para tocar a campainha? É para isso que elas servem! Você está chegando na casa de seu amigo, não chamando um cachorro! – Reclamei enquanto descia do carro.

— Ele faz exatamente assim lá em casa!

— Não! Ele toca campainha. – Rebati e fui atrás do interfone. Não precisei apertar, pois Pietra apareceu.

— Bem que Benny disse que eram vocês... Por que não tocar a campainha? – Ela questionou séria.

Só apontei para Alex.

— O que vocês duas tem contra buzinas? – Ele rebateu assim que passou por Pietra, já entrando na casa.

— É grosseria anunciar a sua chegada assim. – Dissemos simplesmente.

— Vocês fizeram aula de etiqueta palaciana por acaso? – Alex continuava a reclamar, dessa vez indo na nossa frente.

— SIM! – Tornamos a responder e ele parou de repente, e quase que tropeçamos nele.

— Onde e para que?

— Na escola. – Respondi.

— Ah! Esqueci que tinham estudado juntas. Mas ainda não entendi o motivo de terem tido aulas de etiqueta palaciana...

Pietra revirou os olhos e só soltou.

— Porque o Colégio Interno tinha um ótimo histórico de ter tido alunas que ingressaram nas famílias reais da Europa ou que faziam parte destas famílias.

Alex olhou na minha direção e eu só confirmei com a cabeça.

— Tinha alguém da realeza nessa escola?

— Sim. Princesas Beatrice e Eugene da Inglaterra, uma Arquiduquesa da Áustria e uma Condessa da Espanha... – Respondi.

— Não se esqueça daquela doida da Holanda... – Pietra acrescentou.

— Ah, ela também.

— E vocês são amigas?

— Não. Não temos sangue azul para fazer parte do ciclo delas. Mas elas estavam lá. – Garanti.

Com pouco Benny apareceu e tendo pegado a conversa no final, só falou:

— Quem é a Condessa da Espanha?

— Uma chata que estudou na mesma escola que a gente. – Pietra respondeu, não dando importância nenhuma à pessoa da Condessa.

— Você não me falou que estudou com condessas... – Benny reclamou com Pietra.

— E com Princesas da Inglaterra, pelo que acabaram de falar. – Alex murmurou depois de cumprimentar o amigo.

— Cada dia eu descubro algo mais absurdo vindo dela. – Benny riu e veio me cumprimentar e nos levar para dentro da casa, acabamos na cozinha, sentados à mesa, bebericando vinho e suco, pois eu não bebia e Alex estava dirigindo.

Depois de os donos da casa terem nos atualizado sobre os últimos meses e como foi passar o verão na Europa, passaram para os assuntos principais da noite.

— Bem, eu sei que a Bionda se lembra de que eu falei que iríamos precisar da ajuda de vocês. – Pietra começou.

Fiz que sim com a cabeça.

— Pois bem... – Foi Benny quem continuou, depois de servir uma taça de vinho para a namorada. – Nós vamos abrir um restaurante aqui em Los Angeles. Estamos tentando aproveitar o lugar que era dos meus pais.

— E qual é o problema com ele? – Alex questionou.

— Dívidas. – Pietra foi direta e fez uma careta.

Alex olhou para ela, creio que se perguntando o motivo de ela ter falado assim.

— E, para você estar engolindo o próprio orgulho e falando isso, suponho que a sua família é contra o investimento... – Conjeturei.

Nonna não é, mas até ela foi voto vencido quando demos o valor da dívida e de quanto gastaríamos para arrumar o local.

— Vão fazer uma filial do...

— Não. É o nosso restaurante. – Ela destacou. - O de Maranello faz parte da cultura e do povo daquela região... não há motivos para expandir. Até porque nem faria sentido. Ele é famoso porque os fãs da Ferrari espalharam sua existência e os demais fãs da F1 ficaram curiosos com o que tinha lá. Querendo ou não, o Ristorante acabou virando um ponto turístico para quem gosta de automobilismo e da Ferrari. E criar uma filial dele aqui em Los Angeles não faz sentido, mesmo que a categoria esteja expandindo o público na Terra do Tio Sam.

— Entendo... então, falando de números. – Sem querer entrei no modo negociadora e isso não passou despercebido por nenhum dos três.

— Estão dispostos a nos ajudar? – Benny perguntou.

— Não disse isso. Quero ver o tamanho da dívida e quero saber se o local vale o investimento.

— Se não valer o investimento vão...

— Eu gosto da ideia de um restaurante. Não sou dona de nenhum, mas gosto de comida boa. E, se o Benny fez um curso intensivo com a Nonna, e já tem o conhecimento do mundo dos restaurantes, aposto que a comida será boa. O que eu quis dizer é que, talvez, não vale a pena pagar uma quantia astronômica de dívidas para um local que não trará retorno, mas sim comprar ou construir algo em outro local. – Expliquei.

— Mas você não conhece Los Angeles para saber disso. – Benny retrucou.

— Ela não conhece, mas eu conheço. – Alex respondeu por mim. – E conheço muitos restaurantes também.

Pietra abriu um sorriso e se levantou correndo, voltando pouco depois com duas pastas nas mãos.

— São estes os valores. E assim está o imóvel. – Na minha frente ele colocou o valor dos débitos e a prévia que seria para arrumar o local, e na de Alex, as fotos de como está o prédio hoje, depois de um bom tempo fechado.

Peguei a pasta e fui direto no valor da dívida. Fazendo uma careta quando vi um número de quase seis dígitos.

— Eu sei que é alto. – Pietra foi se explicando.

— Além da memória afetiva do lugar, sejam sinceros, o que dá para aproveitar?

E foi Benny quem começou a discorrer sobre o local. Pietra, sendo formada também em arquitetura, foi dando as suas opiniões sobre as reformas que precisavam ser feitas e mais algumas melhorias que o ambiente sofreria.

— O local é bom?

Dessa vez foi Alex quem falou.

— Sim. Lembro que seus pais viviam recusando ofertas de compra... – Ele falou olhando para Benny.

— Pois é... por um tempo eu me arrependi por eles não terem aceitado a última...

Os três começaram a conversar sobre o imóvel, localização e o que poderia ou não ser feito ali, Alex entendia uma ou outra coisa de construção, já que o projeto da nossa casa foi ele quem fez. E, eu estava fazendo contas. Muitas contas.

Creio que eles pediram a minha opinião sobre alguma coisa, pois Alex teve que me cutucar na cintura para que eu voltasse para esse mundo.

— Desculpe-me, estava...

— No modo Katerina empresária e Vice-Diretora de uma Multinacional gigantesca. – Pietra falou. – O que tem para nós?

— Por alto, tendo em vista as dívidas e esse planejamento de reforma, creio que vocês vão precisar de quase um milhão de dólares...

— Setecentos mil. – Pietra me corrigiu.

— Sempre jogue valores para mais. Ainda mais em reformas... Mas, é claro que poderemos tentar um desconto nas dívidas. Abater alguns juros...

— Você sabe fazer isso? – Benny perguntou.

— Cresci fazendo isso, Benny. E te garanto. Vou conseguir abaixar. Mas o valor final não.

— E por que não?

— Por conta dela. – Apontei para Pietra. – Você ainda não sabe, mas está namorando uma das mulheres com o gosto mais caro e, também, a mais indecisa do mundo.

Pietra fez uma careta para mim e Benny me surpreendeu quando falou.

— Noivo. Estou noivo dela.

Alex que estava só no suco, assim como eu, porque estava dirigindo, se engasgou e eu abri um sorriso.

— E já marcaram a data também, eu suponho.

Pietra deu um tapa no ombro de Benny e saiu praguejando em italiano, me xingando porque eu sempre tinha que descobrir tudo.

— E quando é? Preciso da data para pensar no vestido. – Dei a resposta que ela daria.

— Agosto de 2023. Na última semana. – Benny respondeu pela noiva.

Alex cumprimentou o casal e eu voltei a pensar no que eles queriam fazer.

— Bem... como temos onze meses até o sim de vocês, temos que começar essa reforma o mais rápido possível. – Comentei.

— Vocês estão dentro? – Benny perguntou.

— Eu não estou falando nada. – Alex se fez de sonso.

— Não sei por ele, mas fica como meu presente de casamento para vocês. E deixa que eu negocio com os bancos. Porque você, Pietra, só sabe ameaçar e xingar.

A Louca deu de ombros, mas tinha um enorme sorriso.

— Claro, vocês podem entrar de sócios. – Benny garantiu.

— Nem pensar! Já basta a direção de uma empresa. E, além do mais, vocês entendem de restaurante, não eu! – Pulei fora.

Alex também recusou a parceria, mas disse estar sempre disponível para ajudar no que precisarem e Benny já foi falando que poderiam colocar alguns móveis no estilo mais rústico no local. Os dois engataram uma conversa que não me interessava, assim, eu e Pietra ficamos falando sobre negócios e o motivo da família dela não ter dado o apoio que ela queria. E, quando fomos na cozinha para ver se tudo estava em ordem, ela só me falou.

— Não é que não gostam de Benny. Até meu pai aprovou o noivado, é só que ainda não confiam nele. Você sabe que ele teve alguns problemas com...

— Sei. Não precisa tocar no assunto.

— Pois então. Meu pai acha arriscado investir tanto em alguém que está a menos de um ano e meio completamente sóbrio. Mas eu tenho certeza de que Benny irá provar que ele está errado.

— Eu acho que tudo dará certo no final. Só não fique muito preocupada com o que está por vir.

— Esse é o problema. Eu estou.

— Com o casamento?

— Com tudo. Você nos ajudar com as negociações com o bancos e o Alex ter a paciência para escutar cada uma das ideias de Benny já me acalma um pouco, todavia...

— A mudança é grande.

— Para quem sempre viajou o mundo, mas teve a Itália como base, sim.

— Só te digo uma coisa, você se acostuma com a falta que a Europa faz.

— É, eu acho que sim.

Após a conversa, o jantar foi servido. A conversa começou a enveredar para o assunto casamento, porém, Pietra logo cortou o papo, falando sobre qualquer outra coisa, menos o seu futuro status de casada. E um pouco antes de irmos para casa, ela me perguntou:

— Mas, Katerina, que horas a gente embarca?

— Oito da manhã. – Respondi.

— Oito da manhã?! Vai me fazer madrugar?

— Ou você pode pegar o voo comercial, mas não faço ideia de que horas ele decola do LAX.

Pietra saiu reclamando que eu estava tentando sabotar o sono de beleza dela e depois, reclamando mais ainda porque teria que passar a noite em claro para arrumar a mala.

E, claro, eu não deixei por menos...

— Se fosse esperta, já tinha arrumado, eu te disse que estava arrumando a minha.

E a Italiana Louca só me encarou, e, se tivesse algo ao alcance de uma mão, com certeza teria me arremessado.

Com o fim do jantar, ofereci minha ajuda na cozinha, sendo logo descartada por Benny, que disse que eu era visita e que tinha que fazer jus à essa condição.

— Tem certeza? – Perguntei.

— Você já nos ajudou demais, Garota que Veio do Norte. Agora deixa com a gente.

Agradeci o gesto e, acabamos por nos sentar na sala para refinarmos os nossos planos. E como eu tinha que me levantar cedo, fomos embora antes das meia-noite, ainda com Pietra reclamando que eu iria dormir, mas ela não.

— É até bom que você realmente não durma essa noite, porque assim toma seu remedinho e apaga durante todo o voo e me deixa trabalhar em paz.

Em resposta ganhei uma careta.

— Com coisa que tenho medo de cara feia. – Comentei e entrei no carro.

Nossa volta estava se desenhando para ser bem silenciosa, por alguma razão, Alex estava pensativo, e nem adiantou que eu chamasse a sua atenção para algo, porque ele não me ouviu.

Quase em casa foi que ele se fez presente, e dessa vez quem estava distraída era eu, pois estava cochilando no banco do carona.

— Você não acha que eles estão apressando as coisas? – Ele questionou sem olhar para mim.

Por alguns poucos segundos eu quis dizer que ele estava sendo hipócrita, já que nós dois fomos morar juntos com poucas semanas de namoro e com um mês estávamos noivos, contudo fiquei em silêncio e deixei que ele continuasse com o pensamento, só para saber onde ele iria chegar.

— Sei que parece estranho, logo eu, de todas as pessoas, estar dizendo isso, porém, eles conseguiram bater o nosso recorde... não sei se é a coisa mais certa a se fazer...

— Se eles estão prontos para o próximo passo, sim, é. Além do mais, em agosto do próximo ano eles estarão com um ano e meio de namoro e um restaurante construído pelos dois. Não é apressar as coisas...

— Eles têm uma data...

E foi aí que eu entendi.

— E no que isso nos afeta? Porque eu não vejo o fato de o casamento dos dois mudar algo nas nossas vidas. Ainda mais no momento profissional em que estamos. Você com uma série programada para os próximos dois anos e eu acabando de assumir a vice diretoria... cada um sabe quando está pronto para o sim, desde que a vida esteja em ordem. E a nossa, Alexander, antes que você comece a achar que eu estou te enrolando, não está nem um pouco organizada no sentido de vida profissional.

Alex ficou calado, porém, ainda tinha muito na cabeça, pois tamborilava os dedos no volante.

E, para finalizar o assunto, apenas completei:

— Pense o que um casamento agora iria fazer com nossas vidas profissionais. Você pode não saber, mas organizar um casamento, dá trabalho. É muita burocracia, são detalhes que você nem imagina, teríamos que organizar desde a lista de convidados, até o local da cerimônia, isso sem contar nossas roupas, os padrinhos, madrinhas, dama de honra, pajem, escolher, convite, palheta de cores, comida, horário, bebidas e, o mais importante, o transporte de nossas famílias e amigos. Você, saindo cada dia mais cedo e chegando cada dia mais tarde daria conta de fazer tudo isso e, ainda ficar de sobreaviso para qualquer problema que pudesse aparecer? E, claro, com você tão em evidência, não podemos nos esquecer dos paparazzi e todas as capas de revista que o nosso casamento vai gerar, sendo verdades ou inventadas. Está preparado para isso também?

Alex mordeu o canto da boca antes de responder, e quando o fez, veio um sonoro “não” de seus lábios.

— Bom saber, porque eu também não tenho tempo nem cabeça para isso.

E foi assim que o assunto casamento foi enterrado de vez. E eu espero que por um bom tempo.

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Na manhã seguinte, Alex fez questão de me levar ao aeroporto, como era antes da cinco da manhã, achamos que não teria nenhum fotógrafo por perto. No estacionamento não tinha, assim, Alex se sentiu confortável o suficiente para descer do carro e me ajudar com a mala.

— Pode deixar que daqui eu me viro. – Garanti a ele.

— Que nada, Kat, te levo até o portão.

— Acho melhor não... não sabemos quem pode estar no saguão.

— Loira, são cinco da manhã de uma quarta-feira, não vai ter ninguém.

Pegamos o elevador até o térreo e de lá, caminhamos de mãos dadas pelo saguão, até a área do embarque privado. E, foi chegando nesta área que vimos.

— Merda... – Alex xingou do meu lado.

— Eu sigo daqui. Volte. – Pedi.

Mas era tarde.

Não eram muitos, porém os seis fizeram um alvoroço tão grande que chamou a atenção de quem passava por perto e, como todo mundo hoje em dia tem celular com câmera, essas pessoas sacaram os aparelhos e começaram a filmar e a se perguntarem quem era a pessoa. Até que uma mulher reconheceu Alex, já que o rosto dele estava em um totem não muito longe de onde estávamos, e a confusão ficou maior.

E se não fossem pelos seguranças do próprio aeroporto, eu acho que não teríamos saído daquele saguão, pois quando notei, éramos empurrados por mais fotógrafos e pelos curiosos, que, com suas câmeras ligadas, filmavam tudo, bem de perto. Tão perto que quando notei, tinha um celular praticamente grudado na minha cara.

Com muito custo atravessamos o tumulto e entramos no hangar do voo.

Enquanto Alex observava a camisa de malha que fora rasgada por alguém lá fora, eu agradeci aos seguranças.

— Vocês dois irão voar?

Um tanto sem graça, acabei por responder.

— Ele fica. Tem que voltar para o carro.

Os seis seguranças que nos ajudaram se olharam e, depois de um aceno conjunto de cabeças, um deles falou:

— Bem, se você quiser voltar por dentro, será mais tranquilo, te mostramos o caminho, Sr. Pierce.

Alex olhou para mim, como que me dizendo que se ele seguisse o segurança, não conseguiríamos nos despedir e ele ainda me deixaria ali, sozinha.

— Vai. Até porque você tem horário no set. Eu vou ficar bem. – Garanti.

Alex ainda veio me dar um abraço e um beijo e, depois de se desculpar por toda a confusão, seguiu os seguranças.

Sozinha ali na área que consideravam como VIP, fui procurar pelo hangar de onde decolaria, e, lá fiquei pensando que se Alex não tivesse cismado de me acompanhar, nada disso teria acontecido.

Sentada em uma das cadeiras, comecei a balançar o pé, ainda murmurando a nossa falta de sorte e praguejando em todos os idiomas que conheço que paparazzo é a pior raça da face da terra.

Pietra chegou depois das sete da manhã, com cara de sono e expressão cansada.

— Eu ia fazer uma piada com você, mas seu humor está de dar medo. – Ela disse quando se sentou do meu lado.

— É, está mesmo.

— É por conta dos paparazzi de hoje mais cedo?

— Já caiu na internet?

Pietra revirou os olhos e balançou uma das mãos.

— Redes sociais, Bionda. Isso é como jogar fogo na pólvora, em segundos se espalha pelo mundo.

Gemi em frustração e só não comecei a xingar em voz alta, porque foi liberado o nosso embarque.

Minha amiga foi logo se ajeitando no sofá, dizendo que realmente iria dormir, já eu me sentei em uma das poltronas de frente para a mesa e, assim que atingimos altitude de cruzeiro, me pus a trabalhar e esperava que pelo menos isso me distraísse o suficiente até Singapura.

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Minha estadia em Singapura foi tudo o que eu previ que fosse. Cheia de trabalho, cansativa, com dificuldade para dormir, por conta do fuso horário, porém, com uma satisfatória reunião de negócios.

Como Pietra tinha adiantado, a categoria estava realmente atrás de uma nova empresa de transportes. Claro que a atual ainda queria esse contrato e outras duas entraram no páreo junto com a NT&S, contudo, na reunião, eu não vi o empenho necessário de nenhuma das três para o serviço e nem o conhecimento prévio da categoria, o que era imprescindível, já que atrasos não são tolerados, ainda mais com um calendário cada ano maior e mais apertado.

O CEO da categoria comandou a reunião que ocorreu na tarde de sexta-feira, no Centro de Hospitalidade da própria Fórmula 1 dentro do circuito, entre as duas sessões de treinos livres, e, também, contou a presença de todos os chefes de equipe e CEO dos times.

Muitas reclamações foram feitas pelas equipes, desde extravios de equipamentos a avarias, aos atrasos, principalmente quando há corrida no continente americano.

Outro ponto que foi destacado é que o equipamento das emissoras que cobrem o circo também seria de responsabilidade da empresa, o que não vinha sendo feito com muito zelo, já que no ano anterior, alguns equipamentos só foram chegar na quinta-feira, o que atrasou o cronograma das TVs e, também das equipes, já que prejudicou os horários reservados para entrevistas com pilotos e dirigentes.

Quanto a isso, a atual responsável não teve como se explicar.

E, assim, foi dada a oportunidade para as três empresas que queriam o transporte, de falarem suas ideias e melhorias que poderiam ser aplicadas. Bom, pelo menos eu falei isso, já os demais, que haviam se apresentado antes de mim, só falaram da empresa que representavam, e não da proposta.

As credenciais das empresas foram entregues, assim como nossos planos de transporte, era hora de aguardar até dezembro, para sabermos quem seria a próxima empresa a carregar o circo da Fórmula 1 pelo globo.

A reunião que deveria ter tomado o tempo exato entre um treino e outro, acabou por se estender até a metade do segundo treino, o que é claro não agradou muito aos dirigentes, contudo, se, para os poderosos da categoria isso era um grande inconveniente, para a NT&S foi uma ótima reunião, e, eu particularmente acreditava que estávamos em vantagem, mas, por enquanto, deixaria a minha opinião bem guardada em minha mente.

Como estava dentro do paddock, aproveitei para curtir um pouco do treino e tentar distrair um pouco os pensamentos, mesmo que minha mente ficasse vagando, ora para o que poderia acontecer em Paris e, ora sobre a grande responsabilidade que nos aguardaria no futuro, caso realmente a empresa fosse escolhida.

— Serão dias complicados e de muito aprendizado se nos permitirem expor o logo da empresa nessa categoria. – Murmurei baixinho enquanto via Max Verstappen fechar o treino livre como o mais rápido.

Não esperei por ninguém no circuito, assim que a bandeira encerrando o treino foi dada, encaminhei para a saída e de lá para o hotel, ainda tinha coisas para organizar e serviço para fazer.

E os próximos dois dias foi mais do mesmo, dessa vez tive pequenos encontrou e reuniões tão rápidas quanto os carros da F1 com alguns chefões, nada de muito importante foi falado, a não ser pelos chefes de Ferrari, McLaren e Mercedes que demonstraram seu apoio pela NT&S. A única cena mais incomum que aconteceu durante a minha passagem por Singapura, foi almoçar com meu pai, meu irmão e Mel na área da Mclaren, um privilégio que poucos tem.

E quando a noite de domingo se encerrou, em menos de uma hora eu já estava no jato que me levaria para casa. E foi só então que eu pude descansar um pouco e dormir.

Mas nada, nenhum aviso desse mundo, me prepararia para o que encontrei assim que pisei no saguão do aeroporto de Los Angeles.


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Notas finais do capítulo

E é isso que temos para hoje. Pelo menos consegui aparecer antes que o ano acabasse!
No mais, muito obrigada a você que leu até aqui e está acompanhando a história. Eu estou sentido que o final está se aproximando (ainda bem, porque lá se vão quase três anos desde o primeiro capítulo!) então, eu espero finalizar essa história até o meio de 2024.
Um ótimo ano para cada um de vocês, que seja repleto de realizações, amor, tempo para cuidar de si e também das pessoas que vocês amam e desejo de coração que tudo o que vocês sonham se realize!
Até o próximo capítulo!



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