Heaven & Hell escrita por Nightmare


Capítulo 8
Chapter 7. Races


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, pessoal! Espero que todos estejam tendo uma ótima sexta :3

Hoje teremos a primeira corrida de Caroline e Firestarter. Vamos ver o que eles conseguem fazer~



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O primeiro dia das garotas em Striaton fora corrido, porém, aproveitado ao máximo. Após receberem algumas dicas e ajuda de Josh em seu treinamento, as três jovens sentiam-se mais seguras e conscientes do que deveriam fazer. Adaptaram as instruções do moreno para criar seus próprios e originais métodos de batalha, desenvolvendo técnicas de ataque e defesa da melhor maneira que conseguiam.

O sol dourado escondeu-se atrás dos inúmeros prédios da cidade grande, conferindo ao céu anteriormente azul uma coloração laranja mesclada com violeta, as garotas decidiram deixar o Dreamyard. Recolheram seus monstros de bolso e guardaram suas pokébolas cuidadosamente. Desde que deixaram Nuvema, não haviam passado tantas horas consecutivas com seus fiéis companheiros, o que lhes dera a falsa sensação de que viviam novamente em um mundo harmônico; um mundo onde ambas as raças podiam dividir momentos, risadas e sorrisos. Não queriam jamais abandonar as ruínas do antigo castelo, mas precisavam retornar ao centro urbano para conseguir alguns trocados.

A cidade estava com grande movimentação, possivelmente por ser um domingo. Moradores dirigiam-se a shoppings e mercados, ou mesmo lojas de rua, para fazer suas compras da semana e aproveitar o resto do dia de folga com parentes e amigos.

Caroline decidira-se por fazer uma pequena visita aos pontos mais importantes de Striaton. Por ter vivido em uma fazenda durante grande parte de sua vida, escondida por colinas e florestas, nunca havia passado muito tempo em cidades. Suas únicas viagens se resumiam às poucas vezes em que decidira acompanhar sua mãe nas compras mensais. Agora, porém, teria tempo de sobra para conhecer aquele ambiente tão novo para ela.

Amy se voluntariou para fazer companhia à menina de cabelos negros, aproveitando a oportunidade para fotografar a cidade de ângulos diferentes e, posteriormente, vender as imagens. Sam, por outro lado, preferiu estabelecer-se em um banco de madeira próximo a lojas de rua independentes. Retirou seu bloco de desenhos e lápis da mochila, os quais carregava sempre consigo, oferecendo caricaturas e retratos realistas por um preço justo aos pedestres que por ali passavam.

Havia muito para se ver na cidade, o que superou completamente as expectativas das meninas sobre ela. Striaton havia crescido e evoluído muito nas últimas décadas, tornando-se mais urbanizada e tecnológica. A menina de cabelos castanhos conseguiu belas fotografias de monumentos, estátuas e fontes. No entanto, as melhores imagens que conseguira foram as que tirara no Parque L’air Pur, no qual Caroline insistira em ir após enjoar-se dos tumultos. Este, como o nome sugere, apresentava grande diversidade de flora, que fornecia ar puro àqueles que precisavam se distanciar das fumaças liberadas por carros e usinas. A jovem de cabelos negros poderia não aprovar a expansão exagerada por parte dos homens, destruindo espécies naturais da região apenas para afastar pokémons. Mas, reconhecia que era incrível o modo como a cidade conciliava o cinza com o verde, oferecendo o melhor dos dois mundos a todos os seus moradores e visitantes.

A noite chegou rápido. Guiadas pelas luzes brilhantes e coloridas do centro comercial de Striaton, as duas garotas retornaram ao local onde sua terceira amiga havia se instalado. Ao chegar lá, depararam-se com uma Sam sorridente. A menina informou-lhes que havia conseguido duzentos dólares durante as três horas em que ali ficara. Era muito mais do que esperava, embora soubesse que não teria tanta sorte nos próximos dias, quando a movimentação diminuiria e, consequentemente, sua clientela também. No entanto, acreditava que a quantia que conseguiria daquela forma seria suficiente para pagar sua alimentação, estadia e medicamentos de seus pokémons.

Após o longo dia, as três decidiram retornar ao hotel para que conseguissem algumas horas de descanso antes de retornar ao Mercado Negro, onde teriam de conseguir algumas informações. Afinal, ainda eram dez horas da noite e teriam de esperar que as ruas voltassem a ficar desertas para se deslocarem com segurança.

 

***

 

Novamente às quatro da manhã em ponto, o trio estava reunido na parte dos fundos do hotel. Agora, com as ruas desertas, era fácil camuflarem-se às sombras para que passassem despercebidas. Refizeram o caminho até a grande feira ilegal, como haviam feito no dia anterior, sem muitas dificuldades. Chegando ao local, pediram informações a um vendedor, que as redirecionou a uma pequena barraca no canto do estabelecimento. Na mesma havia uma senhora que, apesar de seu cansaço, sorria amigavelmente. A mais velha prontamente lhes forneceu os dados que buscavam, explicando detalhadamente sobre cada um deles.

As três meninas se alistaram para a batalha de ginásio, após descobrirem que a senhora no guichê de informações organizava grande parte dos eventos ilegais da cidade. Caroline seria a primeira a desafiar Benjamin, o famoso líder de ginásio de Striaton, enquanto as batalhas das outras duas estavam marcadas com dois dias de intervalo entre si. Sam inscreveu-se também para o Contest, que ocorreria no dia seguinte ao seu confronto com o líder de ginásio. 

Enquanto as outras duas jovens preferiram se retirar, para tentar vender seus produtos também no mercado, Caroline ficou no guichê para conseguir mais informações. Ela causou uma certa surpresa na balconista ao perguntar-lhe sobre corridas de Ponyta e ficou atônita ao descobrir que os eventos eram mensais. O próximo ocorreria em uma semana e a menina não hesitou para se inscrever. Após agradecer pela ajuda da senhora, voltou a procurar por suas amigas e, após algum tempo, decidiram ir novamente ao Dreamyard para treinar.

 

***

 

Os dias não demoraram a passar e, embora nada realmente emocionante acontecesse, as jovens e seus pokémons aproveitavam muito bem o tempo que passavam treinando nas ruínas abandonadas. Retornavam ao local todas as manhãs para preparar-se para os eventos dos quais participariam em breve.

Caroline estava ligeiramente insegura quanto à corrida. Por isso, resolveu investir em treinamentos de agilidade com seu Ponyta, mesmo que já houvessem feito tantos em Rainbow Valley. Após se alistar para a corrida, Caroline conseguiu um tempo livre para ligar para sua mãe, informando-a sobre os acontecimentos de sua jornada e até mesmo apresentando-lhe Leroy, através de uma chamada de vídeo. Em meio à toda a correria desde que saíra de casa, a menina mal havia percebido o quanto sentia falta da mulher que lhe criara com tanto amor. Embora sentisse uma forte vontade de revê-la, não queria abandonar sua viagem agora.

Após diversos treinos, o dia tão esperado havia chegado. Caroline mal podia conter sua animação, assim como Firestarter, que esperara por aquele momento durante sua vida. O dia em que poderia orgulhar seus pais, seguindo seus mesmos passos, finalmente chegara. Treinadora e pokémon arrumaram-se no quarto do hotel e, na hora certa, dirigiram-se junto à Amy e Sam ao local onde ocorreria o evento.

A passos lentos, Caroline desceu a escadaria de pedra, que agora já lhe era extremamente familiar. Seus olhos azul-marinho se arregalaram em surpresa quando Caroline deparou-se com um espaço completamente diferente do que era o Mercado Negro que visitara tantas vezes. As barracas coloridas haviam desaparecido, cedendo lugar a duas longas arquibancadas de metal, dispostas nas extremidades leste e oeste do local. No centro, logo à sua frente, faixas brancas pintadas no chão de terra demarcavam o espaço de cada corredor. No início de cada uma delas, havia números inseridos em quadrados, que provavelmente indicavam o número dos participantes: eram exatamente dez. Bandeiras triangulares, vermelhas e azuis, corriam pelo alto teto, trazendo mais vida ao estabelecimento. Não mais havia pessoas correndo de um lado para o outro - essas estavam organizadas, sentadas nas arquibancadas enquanto aguardavam pacientemente o início da corrida.

A garota de cabelos negros era uma grande bagunça de emoções por dentro. Sentia-se animada e ansiosa por sua primeira corrida, embora também receosa e pressionada; precisaria alcançar ao menos o terceiro lugar, caso desejasse obter a quantia necessária para manter-se até a próxima oportunidade de conseguir mais. Estava insegura, mesmo após realizar diversos treinamentos de agilidade com seu Ponyta. Tentou respirar fundo para acalmar-se mentalmente e conter a vontade de gritar, embora seus esforços não fossem tão efetivos.

— Sejam bem vindas. — soou uma voz doce e feminina. — As três irão competir?— perguntou, tranquilamente.

Caroline piscou algumas vezes, precisando de um momento para assimilar a presença da mulher à sua frente e processar suas palavras. Analisou a mulher, percebendo tratar-se, provavelmente, de uma das organizadoras do evento. Em sua camiseta havia uma etiqueta, indicando que seu nome era Cassie.

— Apenas eu. — após longos segundos, Caroline balançou a cabeça em negação.

— Então as senhoritas podem seguir com John, ele os levará até seus lugares na arquibancada. — a mulher sorriu ao fitar Amy e Sam, indicando-as o homem de expressão amigável ao seu lado.

Prontamente, a menina de cabelos negros mexeu em sua mochila, encontrando a pokébola de Leroy sem muitas dificuldades. Lembrou-se de que o Buizel estava tão animado quanto ela própria e pedira para assistir à corrida.

— Leroy, fique com elas. — a garota o instruiu, apontando para as outras duas amigas que seguiam até as arquibancadas. O Buizel assentiu sorridente antes de sair correndo.

— Desejo uma ótima corrida e boa sorte à você e seu pokémon. — Cassie se voltou para a menina de cabelos negros novamente, retirando de sua calça jeans uma espécie de crachá e entregando-o à jovem. — Você é a participante de número sete. Ao ouvir o sinal, por favor siga até a faixa correspondente. Os outros corredores estão se preparando aos fundos; lá, você encontrará todo tipo de equipamento necessário.

Caroline apenas assentiu em agradecimento, nervosa demais para balbuciar qualquer palavra. Trêmula, pôs-se a caminhar até o local indicado. A cada passo que dava, podia sentir sua respiração tornar-se mais pesada, a tensão dominando-a por completo.

Subitamente, a garota parou, determinada. Fechou os olhos, como que para se concentrar, respirando fundo. Seria sua primeira corrida, mas confiava na capacidade de Firestarter e sabia que se sairiam bem. Qualquer tipo de sensação, exceto pela adrenalina pulsando em suas veias, era desnecessária e prejudicial. Após murmurar algumas palavras de encorajamento para si mesma mentalmente, continuou, agora com uma postura confiante.

Havia seis outros competidores nos fundos, todos acompanhados de Ponytas. Mesmo sendo da mesma espécie, cada um dos pokémons apresentava características e peculiaridades próprias. A cor do fogo que percorria suas cabeças, caudas e costas variavam entre o amarelo-alaranjado e o vermelho-caqui, a diferença entre altura e físico sendo também perceptível. Caroline não via tantos dos cavalos juntos desde que saíra de sua fazenda, e achava incrível saber que mais pessoas dedicavam-se à criação deles e às corridas. Esboçando um sorriso, a menina lançou a pokébola de Firestarter ao alto e, em milésimos de segundo, uma luz branca revelou o pokémon de crina azulada.

O Ponyta shiny fitou animadamente os arredores, com seus olhos verde-bebê mergulhados em entusiasmo. Logo depois, demorou o olhar sobre a menina de cabelos negros, aproximando-se da mesma para permitir-lhe tocar o focinho.

— Você está pronto? — perguntou Caroline, o nervosismo perceptível em sua voz.

— Eu nasci pronto. — o cavalo respondeu, prontamente. — Nós dois nascemos para isso. — ele afirmou, referindo-se ao fato de que seus pais, Rapidashes, passaram sua vida inteira nas pistas, assim como a mãe de sua treinadora.

A jovem assentiu, sentindo-se preparada. Ignorou os olhares alheios, perplexos ao se depararem com o fogo azul que emanava do Ponyta recém chegado. Seguiu até um suporte preso à parede que sustentava uma sela marrom, um suadouro azul e arreios de mesma cor. A menina estava acostumada a colocá-los em Firestarter, então não apresentou dificuldades ao fazê-lo. Ajeitou, também, as caneleiras de metal que eram utilizadas diariamente pelo pokémon - elas forneciam uma proteção indispensável durante as corridas. Após certificar-se de que o equipamento do Ponyta havia sido perfeitamente colocado, Caroline passou a endireitar também as roupas que vestia. Desamassou a calça jeans azul escura e a blusa de botões branca de manga comprida, refazendo também o nó em sua gravata vinho.

— Nós não precisamos vencer. — afirmou a garota, virando-se para o cavalo.

Ela queria se certificar de que o companheiro não se sentiria pressionado. Afinal, embora precisasse também do prêmio em dinheiro oferecido aos três primeiros colocados, o principal objetivo das corridas era fornecer-lhes prazer e diversão.

— Mas nós iremos. — o Ponyta respondeu, confiante.

Era difícil contrariar a determinação de Firestarter, porém, seu comportamento preocupava a garota. Embora raramente fosse competitivo, sabia que isso poderia ocorrer e não seria saudável para o cavalo.

Caroline abriu sua boca, pronta para recitar mais um de seus discursos sobre “a real importância das corridas”, mas foi interrompida por uma voz que soou através dos microfones. Era um aviso para os participantes se organizarem, para que o evento fosse iniciado. A garota soltou um longo suspiro antes de montar o Ponyta, ajeitando-se sobre a sela e segurando firmemente as rédeas azuis. Junto aos outros competidores, pokémon e treinadora posicionaram-se em seu respectivo lugar, em frente à faixa de número sete.

Somente ao ouvir a contagem regressiva, iniciada em cinco, a menina pôde sentir toda a confiança se esvair de seu corpo, cedendo lugar à tensão e ao nervosismo. Parecia que o sangue deixara seu corpo, tornando-a mais fria e pálida. Diversos pensamentos invadiram sua mente, pressionando-a.

Caroline fechou os olhos, concentrando-se. Sabia que deveria esvaziar sua mente de qualquer outro pensamento alheio à corrida. Afinal, se deixasse seu nervosismo transparecer, poderia prejudicar Firestarter. Encarou a linha de chegada a aproximadamente quarenta metros de distância, seus olhos azul marinho tornando-se mais escuros. Aos poucos, recuperou sua confiança e determinação: não deixaria que suas emoções a derrubassem.

E, quando se dera conta, a contagem havia chegado ao fim. A garota agarrou as rédeas com força ao sentir seu Ponyta arrancar, atingindo os cinquenta quilômetros por hora dentro de poucos segundos. A partir daí, sua velocidade apenas aumentou. Caroline olhou de relance para os lados, percebendo que estava, no momento, em quarto lugar. Precisamos de mais do que isso, pensou. Abaixou-se, dobrando seu corpo, assim como o cavalo esticou seu pescoço para a frente, em uma tentativa de reduzir a resistência do ar e ganhar mais velocidade. A garota notou dois corredores sendo deixados para trás, assegurando-lhe de que deveria estar em segundo lugar agora. Mantenha, nossa posição está boa, pensou. Firestarter esforçou-se para ultrapassar o Ponyta que ocupava a primeira posição, mas não obteve sucesso. O outro foi mais rápido e cruzou a linha de chegada poucos milésimos de segundo antes do cavalo de crinas azuis.

Caroline arfava, embora não tanto quanto o Ponyta shiny. A corrida não havia sido longa e nem ao menos apresentou obstáculos; era, de fato, para iniciantes. Porém, para chegar aos setenta quilômetros por hora, os pulmões de Firestarter precisaram de muito ar. Ar que lhe fora insuficiente durante a corrida e, portanto, precisava recuperar agora.

Dominada por sua curiosidade, Caroline virou-se para encarar aquele que, por pouco, a vencera. E arregalou os olhos ao se deparar com um rosto familiar.

— A corrida desta madrugada foi incrível, não? — cantarolou uma voz masculina ao microfone, convidando a plateia a aplaudir e assobiar. — Vamos dar uma olhada em nossos vencedores!

O anunciador se aproximou do final da pista, fitando um papel em suas mãos que, provavelmente, continha os dados dos participantes.

— Em primeiro lugar , temos… Connor Collins e Blaze!
A platéia gritava em adoração ao rapaz e sua Ponyta, ambos esboçando sorrisos vitoriosos. Caroline, porém, apenas manteve sua expressão surpresa, fitando o loiro incrédula - e com certa raiva. Ele não apenas a havia derrotado em uma batalha, mas agora também em uma corrida. A garota estava tão ocupada encarando o vencedor com um olhar mortífero que nem ao menos notou o apresentador se aproximar.

— E, em segundo, Caroline Kavanagh e Firestarter! — o homem abriu um sorriso brilhante, colocando uma fita azul no dorso do pokémon e entregando à menina um envelope com o prêmio: 700 dólares.

A jovem de cabelos negros agradeceu, forçando um sorriso e guardando o envelope em seu bolso. Depois, sua atenção se voltou novamente para o loiro. Pela primeira vez naquela noite, olhos azuis de tons diferentes - um brilhante vívido e outro escuro e tempestuoso - se encontraram. Rapidamente, Caroline desviou o olhar, bufando. Percebeu que seu Ponyta compartilhava do mesmo desgosto pelo rapaz e sua égua quando este fez o mesmo.

Imersa em seus pensamentos, a garota nem ao menos ouviu o apresentador anunciar quem chegara em terceiro lugar e, antes que pudesse perceber, o evento já chegava ao fim.

— Com isso, finalizamos o evento de hoje. Agradeço à todos por sua presença e espero vê-los novamente mês que vem! — o homem finalizou, logo desaparecendo tão repentinamente quanto havia aparecido.

Calmamente, Caroline desceu das costas de seu Ponyta e, observando que os outros faziam o mesmo, dirigiu-se ao local onde havia se preparado. Removeu cautelosamente o equipamento de Firestarter, devolvendo-o ao mesmo suporte do qual os apanhara. Colocou o dinheiro que recebera em sua bolsa, voltando-se para o cavalo em seguida. Utilizou uma escova para remover o excesso de suor dos curtos pelos do Ponyta shiny e, ao acabar, suspirou.

— Você foi ótimo, garoto. — exclamou, com um sorriso orgulhoso em seu rosto.

Sua posição havia sido quase perfeita, o Ponyta se saíra incrivelmente bem em sua primeira corrida oficial. Era inegável, porém, que se sentiria melhor caso não fosse Connor a obter o primeiro lugar. Não via problemas em perder mas, de todas as pessoas do mundo, por que logo para ele?

— Não, não fui. — o cavalo bufou, irritado. Detestava perder, ainda mais para aquela égua. Ali estava sua competitividade, subindo à tona novamente. — Eu poderia ter vencido. Se eu tivesse me concentrado mais, podia… — não conseguiu terminar, pois foi interrompido pela menina.

— Fire, você foi incrível. Conseguir segundo lugar em sua primeira corrida é algo excepcional. Eu estou muito orgulhosa de você. — sorriu, acariciando o focinho do Ponyta como sempre fazia para acalmá-lo.

Ao perceber que outros competidores e espectadores já se dissipavam do grande subsolo, Caroline achou melhor fazer o mesmo. Porém, ao se virar, deparou-se com a figura que menos gostaria de ver no momento.

— Não vai parabenizar o vencedor? — o garoto provocou, um sorriso de canto brincando em seus olhos. Ao seu lado estava a Ponyta, fitando Firestarter com seus olhos rosa-cereja.

— Como sabia que iríamos nos encontrar de novo? — indagou a menina, ignorando completamente a pergunta que o outro lhe fizera. Desde a batalha no Mercado Negro de Accumula, aquela dúvida percorria sua mente. Como ele poderia ter tanta certeza de que haveria uma “próxima vez”?

— Hm? — o loiro arqueou uma das sobrancelhas, inicialmente confuso. Porém, sua expressão brincalhona logo retornou, enquanto ele se recordava das próprias palavras. — Eu sabia que você participaria da corrida. — ele afirmou e, antes que a menina lhe fizesse mais perguntas, prosseguiu: — A maior parte das pessoas que criam Ponytas participa das corridas. Mas o que realmente confirmou minha hipótese foram as caneleiras de metal que o seu usa. — ele apontou para as patas de Firestarter, onde estavam seus protetores.

Caroline havia se esquecido completamente daquele detalhe. Ainda assim, queria fazer mais perguntas ao loiro. Pela primeira vez, sentiu uma certa animação por conhecer outro corredor e, mesmo que ainda estivesse com um pouco de raiva por perder duas vezes para o garoto, havia tanto que gostaria de discutir com ele. Porém, antes que pudesse dar continuidade à conversa, foi interrompida por uma voz familiar.

— Foi incrível! — exclamou o Buizel correndo em direção à menina, extremamente agitado e animado. — Quando vocês passaram a frente de todo mundo, fizeram eles comerem poeira, e vocês… — a lontrinha falava tão rápido que era até mesmo difícil compreender o que ele dizia.

— Calma! — a menina riu. — Obrigada, Leroy. — agradeceu os elogiou por fim, observando o Buizel sorrir.

Logo atrás da lontra caramelo estavam as duas outras meninas. Acompanhadas delas, estavam o Shuppet flutuante sobre o ombro de Sam e Iki no colo de Amy. Elas sorriram, parabenizando a garota e seu pokémon pela classificação. Logo após, notaram a presença do loiro, reconhecendo-o facilmente; mas preferiram não dizer nada.

— É melhor irmos. — sugeriu Caroline. Precisavam retornar logo ao hotel para que pudessem descansar para voltar ao Dreamyard cedo, onde poderiam continuar seus treinos como vinham fazendo diariamente. Porém, assim que se virou para retirar-se, sentiu a mão do loiro agarrar seu pulso.

— Espere! — ele pediu, fitando os olhos da garota. Estendeu-lhe sua mão livre, na qual amenina de cabelos negros notou que segurava um pedaço de papel. — É o meu número de celular. Se precisar de alguma coisa, é só ligar. Vou estar na cidade por mais um tempo. — deu de ombros, soltando o pulso da jovem, que possuía uma expressão confusa.

Após longos segundos, Caroline apanhou relutantemente o papel que lhe havia sido oferecido pelo rapaz. Não entendia muito bem porque ele lhe entregara seu número, tampouco conseguia identificar um motivo para o loiro guardá-lo em seu bolso. A garota apenas assentiu, sem sorrir ou fitá-lo com qualquer expressão senão surpresa. Em seguida, chamou Firestarter e Leroy e pôs-se a caminhar, deixando Connor e Blaze para trás.

— Essas corridas são bem interessantes. — exclamou Amy ao retornar Iki para sua pokébola, assim como as outras duas garotas faziam com seus pokémons.

— Sim. — concordou Sam, logo mudando de assunto. — Aquele Connor… Não é o mesmo garoto com o qual você batalhou em Accumula? — indagou, arqueando uma das sobrancelhas.

— É ele sim. — afirmou Caroline, bufando enquanto abria a porta de saída do Mercado Negro.

A reação da menina foi suficiente para que as outras duas percebessem que Caroline não estava disposta a comentar o assunto no momento.

As três refizeram o caminho que agora lhes era tão familiar. Despediram-se ao chegar ao elevador, onde se separaram, marcando de se encontrar na recepção às nove para que pudessem degustar o café da manhã antes de retornar ao Dreamyard.

Ao entrar em seu quarto, Caroline trancou a porta e lançou-se à cama. Estava exausta mas, ao fechar seus olhos para refletir por um momento, deixou que um sorriso vitorioso iluminasse seu rosto. Podia não ter chegado em primeiro, mas obtivera dinheiro suficiente para manter-se, e a sensação de conquistar seu próprio sustento era incrível.

Além disso, desde que saíra de casa, tudo corria excepcionalmente bem. Havia sido alertada dos perigos do mundo em que vivia desde jovem, porém, parecia que tudo o que lhe haviam dito não se passava de uma mentira. Já passara mais de duas semanas por sua própria conta e risco, e não teve de enfrentar muitos obstáculos até então. Era como se vivesse naquele mundo que não conhecera, o lugar que existia antes da guerra que dividiu as raças.

Com o doce pensamento em sua mente, Caroline rapidamente adormeceu, sonhando em um dia poder livrar todos das fúteis regras impostas pelo governo e reunir os dois mundos uma vez mais.

 

***

 

— E aqui estamos nós, de novo. Uhul. — murmurou Leroy, sem tentar esconder a falta de interesse em seu tom de voz.

O mesmo local que havia lhe encantado cerca de uma semana atrás, tornara-se apenas um canto comum para onde retornava todos os dias. Não havia nada de novo para ver ou fazer, apenas as mesmas colunas derrubadas, paredes esburacadas e os mesmo treinamentos.

— Entendo que possa estar cansado daqui. — Caroline riu diante do comportamento do Buizel. — Mas, logo batalharemos contra o líder de ginásio da cidade e precisamos estar prontos para vencer. — ela acariciou o topo da cabeça da lontrinha, que pareceu se interessar pelo que a menina tinha a dizer. — Além disso, precisamos estar preparados para nos defender quando necessário. Tanto de selvagens, quanto de agentes do governo.

— Sim. Ao aceitar a proposta de Juniper, concordamos que teríamos de nos tornar mais fortes. — relembrou a jovem de cabelos brancos, brincando com o Shuppet que flutuava ao seu lado.

— Vamos começar logo isso, então. — a lontra caramelo bufou. No fundo, gostava de treinar, apenas se cansava facilmente quando tinha de fazê-lo repetitivamente.

Calmamente, as jovens dirigiram-se aos respectivos lugares que ocupavam diariamente. Não demoraram muito para iniciar seus treinos, uma vez que pensavam em estratégias durante o dia e, ao retornar ao Dreamyard, precisavam apenas colocá-las em prática.

Sam se concentrava em criar belos efeitos com os golpes de seus pokémons, algo que teria de saber fazer bem caso quisesse alcançar uma colocação boa no Contest, que ocorreria em breve. Já havia desenvolvido alguns movimentos com Kahira após decidir se apresentar com ela, uma vez que Omen não parecia animado com a ideia. Portanto, enquanto a Salandit treinava combinações e seus efeitos, o Shuppet concentrava-se em seus golpes a longa distância.

Amy parecia ter desenvolvido um estilo de treinamento próprio, pedindo que Iki e Kairi se confrontassem. Assim, ambos podiam treinar agilidade e ataque como em uma batalha de verdade. A garota apenas intervia para dar dicas e testar estratégias, mas preferia deixá-los pensar sozinhos, sem que precisassem de sua ajuda para lutar. Naquele dia, no entanto, a treinadora acreditou ser melhor deixar a Riolu treinando a força de seus golpes contra algumas pilastras. Os treinos em dupla eram bons para simular batalhas mas, de modo a não ferir demais nenhum dos pokémons, eles nunca podiam usar cem por cento de sua força. E, com o dia da batalha se aproximando, era importante que seus golpes estivessem o mais poderosos possível.

Aproveitando que Kairi treinava sozinha, Amy decidiu dar uma “folga” à Iki para que, juntos, pudessem treinar um pouco mais a escrita do pequeno. Mesmo em poucos dias, o Totodile já havia evoluído muito e conseguia escrever algumas palavras simples.

— Vamos lá, Iki. — chamou a garota, sentando-se ao lado do jacarezinho e colocando seu bloco de notas e caneta no chão. — Hoje vou te ensinar uma palavra legal. Tente escrever “salvar”.

Amy demonstrou lentamente como se escrevia a palavra citada. Sabia que o jeito mais fácil de começar os ensinos seria ensinando à Iki o alfabeto, mas isso atrasaria um pouco seus resultados. Notando a frustração de seu pokémon ao não conseguir se comunicar de forma eficiente com ela, acreditou que ensinar algumas poucas palavras lhe traria uma satisfação mais imediata.

Determinado, o Totodile apanhou a caneta com sua pata esquerda, analisando cuidadosamente a palavra escrita por sua treinadora. Em seguida, pôs-se a escrevê-la da melhor forma que conseguiu, mostrando-a para a treinadora assim que terminou.

— Muito bem, Iki! — parabenizou a menina, batendo leves palmas. — É assim mesmo.

Orgulhoso, o pokémon começou a escrever algo mais, tentando formar uma frase. Novamente, mostrou-a à Amy ao acabar.

— “Eu salvar você”... — a menina leu em voz alta, logo compreendendo o que o pokémon queria dizer. — Sim, verdade. Você salvou a minha vida e a de Kairi na rota aquele dia. — ela sorriu de forma grata, acariciando o queixo do pokémon.

Por um instante, seu peito foi invadido por felicidade. Estava incrivelmente alegre por finalmente conseguir cada vez mais comunicar-se com sua nova treinadora, aprendendo palavras novas rapidamente - especialmente aquela, que significava tanto para ele. Entretanto, seu semblante pareceu ficar sério por um momento, enquanto ele lembrava-se do dia em que havia defendido Amy; e, inevitavelmente, recordou-se da vez em que não conseguira salvar àquele que amava. Uma certa tristeza atingiu o jacarezinho enquanto flashbacks de seu passado trágico atravessavam sua mente e, quase por impulso, ele tornou a rabiscar algo em seu bloquinho.

— “Não salvar ele”... — dessa vez, Amy parecia realmente confusa. — Essa eu não entendi, Iki.

O pokémon fitou a garota com seus olhos cinza, demonstrando extrema melancolia. Ele abria a boca e mexia os braços, visivelmente incomodado por não ser compreendido.

— Desculpa, Iki. Você está indo muito bem, mas eu realmente não entendo o que você quer dizer com… — antes que pudesse terminar, a garota de cabelos castanhos foi chamada.

— Amy! Uma ajudinha aqui? — sua Riolu pediu, indicando uma das pilastras caídas completamente destruída. — Preciso de um novo alvo.

— Só um minuto, Iki. — Amy pediu em um sussurro, levantando-se para auxiliar a Riolu e deixando para trás o Totodile.

Ouvindo o som da pilastra destruída, Caroline saiu de seus devaneios, voltando sua atenção para seus pokémons. Agora que já participara da corrida, podia se concentrar mais em ataque e defesa do que agilidade. Depois que se familiarizou com os golpes conhecidos por seus pokémons, pensou em algumas combinações que gostaria de testar.

— Leroy, que tal começarmos com você? — a menina de cabelos negros indagou, fitando a lontrinha.

— Tudo bem. — o Buizel assentiu, animado. Em seguida, se posicionou de costas para a treinadora, encarando uma das pilastras caídas como se esta fosse seu alvo.

— Ótimo. — a garota sorriu, não hesitando para continuar: — Não sei se vai dar certo, mas queria que você tentasse combinar Aqua Tail e Sonic Boom. Use-os nessa ordem, concentrando o poder do Aqua Tail e logo depois trocando para o outro golpe. — explicou, tentando ser o mais clara possível. Sabia que a combinação apenas funcionaria caso Leroy estivesse completamente ciente de como realizá-la.

Concentrado, o Buizel assentiu. Respirou fundo e, ao julgar-se pronto, agitou suas caudas que logo começaram a ser envoltas por finos anéis de água. Em seguida, esforçou-se para trocar de golpe rapidamente, de modo a conseguir manter resquícios do golpe anterior. Ao executar o segundo golpe, suas caudas adquiriram um tom esbranquiçado, mas ainda eram circuladas pela camada de água. Um pouco hesitante, Leroy rodopiou velozmente, criando ondas de energia branca envoltas por água. O ataque seguiu até a pilastra caída, atingindo-a e abrindo nela algumas rachaduras.

— Muito bem, rapaz! — comemorou a garota, animada por Leroy ter sido capaz de executar a combinação que havia imaginado. — Vamos treinar um pouco mais isso, para que o golpe fique ainda mais poderoso. Preciso que você se concentre ao máximo. — pediu, observando um novo sorriso iluminar o rosto do Buizel, que agora se divertia.

Firestarter assistia ao treino, impressionado com as habilidades do companheiro, enquanto aguardava pacientemente sua vez. Gostaria de saber o que a menina havia planejado para ele. Enquanto esperava, aproveitava para observar também os outros pokémons, tentando aprender algo com seus treinos.

Porém, de súbito, seu sorriso se desmanchou, enquanto suas orelhas se levantaram rapidamente. Ele captava algum som diferente, como alguém se aproximando. Virou-se bruscamente, deparando-se com uma figura já conhecida: à sua frente, estava o mesmo gato de longos pelos cor de creme, o qual vira na primeira vez em que visitara o Dreamyard. O cavalo franziu o cenho ao perceber o ladrão se aproximando da mochila de Caroline, que jazia sobre uma pedra.

— Care. — o Ponyta shiny chamou em voz baixa, sabendo que a menina desaprovaria suas ações caso corresse em direção ao bichano, como fizera da última vez.

— Sim, Fire? — a jovem deixou Leroy sozinho por um momento, tornando sua atenção para o cavalo.

Caroline arqueou uma das sobrancelhas ao se deparar com o Ponyta encarando fixamente outro ponto. Apenas entendeu a situação ao notar o gatinho próximo à sua mochila. Calmamente, seguiu em sua direção, tentando não assustá-lo. Este, porém, parecia bem atento aos arredores e, com o primeiro passo da menina, arregalou os olhos.

O gatinho agarrou a mochila com seus dentes afiados, tentando puxá-la, mas sem sucesso: era pesada demais para ele carregar sozinho. Com medo de o pequenino sair correndo como fizera da última vez, Caroline decidiu se pronunciar:

— Ei, não precisa ter medo. — ela afirmou, aproximando-se com cautela. — Você está com fome?

Notando que seu tempo logo se esgotaria, o felino mergulhou sua cabeça na mochila semi-aberta da garota, procurando por algo que fosse de seu interesse. Encontrou algo brilhante, que logo chamou sua atenção: um celular. Apanhou-o com a boca sem hesitar, correndo o mais rápido que podia logo em seguida.

E, naquele momento, a menina de cabelos negros percebeu que o selvagem não estava atrás de comida.

— Ei! Volta aqui com isso! — Caroline gritou, observando o gatinho se afastar velozmente. O barulho assustou as outras duas jovens presentes, bem como seus pokémons, que se viraram rapidamente para descobrir do que se tratava.

De repente, porém, o felino foi atingido por uma espécie de lâmina de água esbranquiçada, sendo obrigado a parar ao cair para trás e largar o celular, abrindo a boca para soltar um gemido. O aparelho, felizmente, não parecia ter sido danificado pela água e acabou por cair sobre a grama macia a alguns metros do pokémon.

Virando-se para a direção de onde o ataque viera, Caroline deparou-se com a lontra caramelo sorrindo orgulhosamente. E, no segundo em que se distraíra, pôde ver o ladrão apossar-se do aparelho novamente. Ele parecia disposto a sair com ele, ou não sair.

Sem ao menos receber o comando de sua treinadora, Firestarter correu na direção do gato, parando à sua frente e bloqueando sua saída. Não muito satisfeito com o gesto, o pokémon selvagem franziu o cenho, mas agiu rapidamente. Utilizou suas patas traseiras para conseguir impulso e lançou-se ao ar, pulando por cima do cavalo, que ficou sem reação.

— Pare-o! — comandou Caroline, impulsivamente. Não queria ferir a criaturinha, mas não podia perder seu celular. Tranquilizou-se ao observar o Ponyta assentir e seguir o ladrão.

Felizmente, após tanto treino, Firestarter realmente aparentava estar mais rápido. Alcançou o bichano facilmente, disparando uma brasa azulada contra o chão em sua direção. Com o susto, o gatinho se virou novamente e encarou o cavalo furiosamente.

— Você não vai a lugar algum. — bufou o Ponyta shiny.

— Ninguém consegue me pegar. — retrucou o ladrãozinho, com a expressão séria.

Em poucos segundos, os olhos do gato adquiriram uma coloração azul enquanto ele continuava a fitar o robusto cavalo com seu olhar penetrante. Dentro de apenas alguns segundos, o Ponyta começou a se sentir sonolento, cambaleando até que finalmente se deitasse sobre o chão.

— Fire? — a jovem de cabelos negros chegou a tempo de ver a cena. Parecia surpresa e apreensiva por desconhecer o que o gato havia feito a seu companheiro. Impulsivamente, correu em direção ao cavalo, percebendo que o mesmo havia adormecido.

Aproveitando sua última chance, o felino tornou a correr, tentando fugir do local com o objeto roubado. Normalmente, não enfrentava grandes dificuldades em seus furtos, mas arriscaria dizer que aquele estava sendo o mais trabalhoso de sua vida. O gato saltou sobre o muro das enormes ruínas, tentando retornar à floresta. Mas, quando achou que havia sucedido, sentiu algo atingir com força suas costas. Logo depois, um brilho vermelho o envolveu.

— Agora você não foge mais. — disse o Buizel sorridente, após lançar contra o gatinho uma das esferas bicolores que apanhara da mochila de sua treinadora. — O que achou da minha primeira captura, Care? — perguntou, seguindo em direção à esfera que, após remexer-se três vezes, finalmente havia parado.

Por longos segundos, a menina apenas encarou a cena com uma expressão vazia, incapaz de compreender o que ocorrera. Abriu sua boca, como se para dizer algo, mas rapidamente a fechou. O que ela acabara de ver havia realmente acontecido? Pois parecia estranho demais para ser realidade.

— O que aconteceu aqui? — indagou Sam, aproximando-se da menina e seu Ponyta adormecido. Assim como Amy, havia deixado de treinar logo ao início da estranha situação e, confusa, procurava entender o que ocorria.

— O Leroy… Capturou um pokémon… Eu acho. — respondeu a jovem de cabelos negros, deixando as outras ainda mais perplexas.

— Você está brava? — o Buizel se aproximou da treinadora, com a cabeça baixa. Queria apenas ajudá-la a recuperar seu celular, não chateá-la.

— Não. — afirmou a garota, prontamente. — Eu só estou… Confusa. — disse, por fim. Sacudiu a cabeça, tentando raciocinar claramente.

A menina se levantou do chão, olhando para Firestarter uma última vez antes de virar-se para Leroy, que lhe entregava a pokébola em suas mãos. Caroline analisou o dispositivo, percebendo que havia um novo membro em seu time. Sentia-se feliz de certa forma, embora também receosa. Nem ao menos conhecia o pokémon e, mesmo que não guardasse ressentimentos por este ter tentado lhe roubar, não sabia se seria uma boa ideia tê-lo no time. Afinal, ele havia sido capturado contra sua vontade. Resolveu que o melhor a fazer no momento seria tentar conversar com o pequeno, então pressionou o botão central da pokébola para libertá-lo novamente.

— O que… O que houve? — o gatinho de pelos creme olhava ao redor, confuso. Apenas lembrava-se de ter sido atingido por um objeto estranho e então levado à outra dimensão. Seus olhos verdes pairaram sobre a menina à sua frente e ele recuou.

— Não precisa ter medo. — exclamou Caroline, agachando-se para ficar na altura do pokémon. — Bem, você… Foi capturado. Será parte do time agora, caso queira nos acompanhar.

— Como assim? — o gato parecia mais confuso do que assustado. Por que uma humana estaria convidando-o a ficar com ela? Por que não tentava matá-lo, como faziam aos outros de sua mesma raça?

— Qual é seu nome? — perguntou a garota, percebendo que teria muito a explicar.

— Augustus. — respondeu o pequeno, hesitante.

— Eu me chamo Caroline. — disse, com um sorriso amigável. — E aqueles dois são os outros membros do time. — apontou para a lontra caramelo e, em seguida, para o Ponyta adormecido. — Se chamam Leroy e Firestarter.

— Um time? Que tipo de time? — embora parte da confiança do gatinho começasse a se esvair, ainda possuía diversas perguntas em sua mente. Estava confuso, queria ao menos entender o que estava acontecendo e quem eram aqueles estranhos tão gentis.

— Ora, o nosso time de aventuras. — o Buizel colocou-se na conversa, respondendo à pergunta do felino. — E você faz parte dele agora, garoto. — exclamou alegre, aproximando-se do pequenino.

Enquanto os três se conheciam, Firestarter começou a recuperar seus sentidos novamente. Ouviu a conversa e, curioso, forçou seus olhos a se abrirem, apenas para deparar-se com uma cena que não conseguia compreender. Ainda um pouco cambaleante, o cavalo se levantou e foi de encontro à sua treinadora.

— O que aconteceu? — indagou, com uma expressão sonolenta e confusa estampada em seu rosto.

— Parece que temos muito o que conversar. — a menina suspirou antes de desatar a falar, relatando brevemente o ocorrido para seu Ponyta. Em seguida, dedicou-se a responder às milhares de perguntas na cabeça do mais novo membro do time.

A conversa durou cerca de uma hora e até mesmo as outras duas garotas, bem como seus pokémons, haviam se juntado à roda. Com as explicações da menina - aparentemente sua nova treinadora - o gatinho começava a compreender o que ocorria. Sentia-se feliz por fazer parte de um time, embora estivesse ainda um pouco receoso. Caroline descobrira que o ladrãozinho era um Meowth que, após se separar de seu grupo em Castelia, migrou para Striaton, continuando a roubar para sobreviver - ou simplesmente pela adrenalina de fazê-lo.

Ao ter certeza de que Augustus estava de acordo com a situação, a garota retomou o treinamento com seus outros dois pokémons. Decidiu dar um tempo para o Meowth se acostumar com sua nova vida, deixando-o apenas observar e conversar com as outras meninas e seus pokémons até que se sentisse à vontade com todos à sua volta. O gatinho nunca pensou que acompanharia uma humana novamente mas, no caso, não parecia ser má ideia - apenas gostaria de conhecer melhor sua nova treinadora e companheiros de time.

Com o cair da tarde, as três jovens decidiram que seria melhor retornar à cidade. Afinal, Amy e Sam precisavam trabalhar, e Caroline não gostava da ideia de ficar no local sozinha. A menina de cabelos negros explicou a Augustus que teria de retorná-lo para sua própria segurança, mas prometeu libertá-lo novamente assim que chegasse ao hotel.

De volta às ruas tumultuadas de Striaton, as três se despediram. Amy caminhava sem rumo, oferecendo às pessoas as belas fotografias que tirava, desejando apenas conseguir o suficiente para sobreviver. Já Sam preferia sentar-se em um dos bancos de madeira da cidade, onde o comércio de rua era mais ativo, para conseguir clientes interessados em comprar seus desenhos. Caroline, por não ter muito mais o que fazer, preferiu retornar ao hotel.

A menina dirigiu-se imediatamente ao seu quarto, para que pudesse conversar um pouco mais com o novo membro de seu time. Embora a jovem já houvesse perdido grande parte da incerteza sobre abrigar um terceiro pokémon, este ainda parecia receoso e confuso. Afinal, passara sua vida toda em florestas, apenas invadindo cidades durante a noite para roubar o que lhe fosse necessário.

Augustus ainda era dominado por uma certa desconfiança. Havia sido ensinado a não confiar em ninguém, principalmente em humanos - tivera de fugir de sua antiga casa por medo de ser encontrado. E, agora, havia sido capturado por uma menina que, apesar de aparentemente gentil, pouco sabia sobre suas reais intenções. O fato de que esta possuía outros pokémons a seu lado o acalmava, porém, somente o tempo diria se ficar com a garota seria a escolha certa.

Por outro lado, sentia-se seguro. mesmo que não conhecesse direito seus novos companheiros, estes haviam lhe assegurado de que o protegeriam. Além do mais, agora recebia comida, dormia em uma cama e possuía sempre alguém com quem pudesse conversar. A sensação de não estar mais sozinho, entregue às mãos do destino, era algo maravilhoso que o gato não gostaria de perder tão cedo.

Após mais algumas horas de conversa, risadas e brincadeiras por parte de Leroy, Caroline sentiu o cansaço invadi-la. Percebeu que com sua nova rotina, acordando cedo e passando grande parte do dia treinando, sua energia esgotava-se mais rápido. Deixou os três pokémons trocarem palavras por mais alguns minutos antes de finalmente apagar as luzes e deitar-se. Firestarter acomodou-se sobre o tapete azul, como estava acostumado a fazer, enquanto o Buizel se aconchegou entre os lençóis, ao pé da cama. Augustus parecia um pouco hesitante, sem saber direito o que fazer, mas logo foi convidado por sua nova treinadora a deitar-se ao seu lado. O gatinho adormeceu com um cafuné que recebia da mesma. Naquela noite, teve bons sonhos, retratando a nova vida que teria agora e, pela primeira vez, esquecendo-se de suas inseguranças.

 

***

 

Os dias seguintes passaram depressa. As três meninas mantinham sua rotina de ir ao Dreamyard ao nascer do sol para que pudessem treinar. Após muito esforço e árdua preparação, o grupo parecia estar pronto para enfrentar o ginásio. Haviam, de fato, tornado-se mais fortes e até mesmo desenvolveram seu próprio estilo de batalha. Caroline achou melhor não cansar muito Augustus até que ele se acostumasse com sua nova vida; por isso, decidira enfrentar o líder com a ajuda de Fire e Leroy apenas.

E, enfim, o dia chegara.

Após ligar para Juniper, esta os informou que o Ginásio escondia-se no subsolo de um hotel famoso da cidade, chamado Tunnel Resort. A informação as surpreendeu de imediato: como poderia um estabelecimento ilegal, que deveria permanecer longe dos olhos de outros, estar tão próximo de um local movimentado?

Porém, acabaram por descobrir que o dono do hotel era, na verdade, o líder. E sua secretária, a recepcionista do hotel, autorizava que entrassem no campo apenas aqueles que soubessem a “frase secreta” - a qual parecia muito estranha, mas resolveram não se preocupar com aquele detalhe.

As ruas estavam tumultuadas, conforme o usual. Havia uma grande quantidade de carros presos em congestionamentos e pessoas correndo para shoppings e mercados. Todo aquele movimento não era visto como algo bom pelas meninas, não fosse pelo fato de que não precisavam se preocupar em serem vistas daquela vez. Um dos pontos positivos do Ginásio estar localizado em um hotel era que a sua entrada, junto à de outros milhares de hóspedes, passaria despercebida.

As três, quase em conjunto, pararam subitamente ao fitar a entrada do hotel, surpresas. Um grande túnel dourado, dentro do qual corria um tapete vermelho, levava à porta giratória de entrada. O local era incrivelmente belo e sua arquitetura muito bem preparada. Ficaram ainda mais impressionadas após adentrar o estabelecimento. Correndo por cima de suas cabeças, estavam os infinitos andares do prédio, com seus corredores todos feitos de vidro com detalhes pintados em cor de ouro. Estes passavam um por cima do outro, sendo também interligados por um túnel central, que se estendia verticalmente até o último andar - era o elevador.

A perplexidade das jovens com o design do hotel de luxo era tanta que demoraram a perceber outros detalhes, como o belo chão de mármore xadrez, preto e branco. Havia também sofás vermelhos e largos que estavam posicionados nos cantos do amplo saguão. Pinturas magníficas, em quadros de molduras douradas, estavam pendurados nas paredes de mármore branco. Alguns vasos escarlate contendo girassóis repousavam sobre mesinhas de vidro.

— Eu queria ter dinheiro para ficar em um lugar desses. — murmurou Sam fitando a rede de túneis, incrédula. As outras duas, sem palavras, apenas concordaram.

Em uma situação normal, certamente passariam horas apreciando seus arredores. No entanto, Caroline estava ansiosa demais para sua batalha e insistiu que se dirigissem logo à recepção. Atrás do balcão, estava uma mulher jovem de cabelos castanhos presos em um coque alto. Seus olhos cor de mel eram ofuscados pelas lentes de seus óculos de grau. Ela vestia um uniforme branco e dourado (ou era preto e azul?), no qual estava bordado seu nome: Lydia. A mulher abriu um sorriso amigável ao se deparar com as três jovens que se aproximavam.

— Olá, queridas. À procura de um quarto? — indagou, gentilmente.

— Na verdade, queríamos apenas lhe fazer uma pergunta. — respondeu Caroline, observando a recepcionista assentir. — Como Benjamin é capaz de criar eletricidade sem uma pipa e uma chave? — hesitou um pouco, percebendo que a frase era ainda mais bizarra quando dita em voz alta.

Qualquer pessoa que estivesse por perto e houvesse escutado acharia a menina maluca, mas aquela era a frase que Juniper havia lhe contado. Ela deveria funcionar como uma espécie de senha para se entrar no ginásio. Caroline percebeu que não era uma brincadeira quando a mulher respondeu à sua pergunta com grande naturalidade, quase como se fosse algo comum.

— Pois bem, permitam-me lhes mostrar. — disse Lydia, retirando-se de trás do balcão e colocando sobre este uma plaqueta com as palavras “Volto em breve; desculpe pelo transtorno”. Com um gesto de mão, pediu as três meninas seguirem-na.

As jovens, lideradas pela recepcionista, caminharam para longe das pessoas que conversavam no saguão. Atravessaram diversos corredores e até mesmo desceram uma escada, que levava à uma porta de metal. Lydia verificou que nenhum funcionário ou hóspede curioso havia lhes seguido, retirando um molho de chaves de seu bolso em seguida. Com um movimento rápido, encaixou uma das chaves na fechadura e girou a maçaneta, segurando a porta para que as outras pudessem passar.

As quatro estavam agora em um corredor estreito e escuro, desprovido de qualquer iluminação. Tomando a frente novamente, a recepcionista colocou uma outra chave na fechadura de uma segunda porta, a qual as jovens nem ao menos haviam percebido. Porém, quando esta fora aberta, o local em que estavam se iluminou e. Assim que se recuperaram da cegueira momentânea devido à mudança de luminosidade repentina, arregalaram os olhos.

À sua frente, estendia-se uma rede de túneis ainda mais complexa do que a projetada no hotel, feita de pedra e terra. Havia poucas pessoas uniformizadas trabalhando na manutenção do local, acompanhadas por pokémons que as auxiliavam como podiam. Era possível identificar também algumas salas, similares a buracos nas paredes, embora bem esculpidas e retocadas. Direcionando seu olhar para baixo, as três puderam ver o campo de batalha, de linhas bem pintadas e posições perfeitamente demarcadas. Ao lado do mesmo, havia uma poltrona onde estava sentado um garoto bem jovem.

Após descer alguns degraus, as meninas estavam de frente para o campo, ainda impressionadas com a arquitetura complexa e bem projetada do local. Era incrível como um local tão amplo podia se esconder abaixo de um hotel famoso sem que fosse descoberto.

De súbito, as luzes se apagaram, trazendo novamente o breu ao local, como se um interruptor tivesse sido desligado. Porém, antes que pudessem questionar o que estava acontecendo, ouviram um resmungo. Em seguida, escutaram uma voz firme.

— Eddison, Thunderbolt! — comandou a voz masculina e, repentinamente, um clarão tomou conta da grande rede de túneis. Depois, uma corrente de eletricidade acendeu novamente os diversos bulbos pendurados ao teto.

— É assim, queridas, que Benjamin é capaz de gerar eletricidade sem uma pipa e uma chave. — respondeu a recepcionista, sorridente.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Leroy tem futuro como treinador?

Link do DA com o novo desenho do Augustus:

https://www.deviantart.com/heavenhellpkm

Até semana que vem e bom final de semana a todos o/



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