O Caminho das Estações escrita por Sallen


Capítulo 43
∾ Quando eu choro, essa é a única maneira de as flores florescerem.


Notas iniciais do capítulo

Olá, mais uma vez! Como estão?

O que acharam da capa nova? Estava me sentido inspirada em fazer algo mais "cinemático" e arrisquei num pôster! Espero que tenham gostado, eu estou levemente obcecada, me pego abrindo a história só pra admirar hahaha.

E bem, casando perfeitamente com a capa. O que acham de um capítulo só desses dois, ninguém mais além desses dois?



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O sonho parecia como uma memória antiga e distante, há muito esquecida, apesar de uma falsa memória. 

No sonho, os fantasmas retornavam à vida. Não eram mais pálidos e frios os rostos desconfigurados e sem feições. Tornavam-se rosados, expressivos e cheios de vida. No sonho, era o rosto de sua mãe como se a doença nunca a tivesse alcançado. Também via o rosto de Leo, tão jovem e forte, como se nada pudesse abalar sua alma. Até o rosto de Abigail era emoldurado no calor da vida outra vez. E junto desses fantasmas redivivos, estava o rosto de Nirav, como se sempre estivesse estado ali, como se fosse sempre seu. 

Estavam todos ao seu redor, conversando baixinho e segredando coisas que não conseguia ouvir. Todos a olhavam, sem piscar, com um vago traço de sorriso nos lábios. Ela tentou dizer algo, mas a voz parecia se extinguir em sua garganta. E eles continuaram a olhar, apenas a olhar, apesar de seus esforços para interagir. Até perceber que não a olhavam diretamente. Olhavam através dela. Viam por entre a fantasmagórica silhueta que se tornava aos poucos. E seus olhares eram frios tal como a sua própria vida que extinguia sob aqueles olhos. No sonho, eles viveriam, ela pereceria. 

Lembrava-se de acordar tão atordoada quanto assustada. Lembrava do suor frio empapando suas roupas e escorrendo por seu corpo arrepiado. Do lado de fora, uma chuva fina e ruidosa cobria o mundo inteiro com uma manta espessa cinzenta. Então, correu para as fotografias guardadas. Sentira-se zonza ao tocá-las. A fotografia de sua mãe, pouco a pouco, perdendo as cores, transformando o rosto jovem em rugas de papel, embora, em vida, Olivia nunca teria a chance de envelhecer de fato. E a outra, tão amassada, trazendo memórias das quais Juno nunca teria acesso, pois nunca a pertenceram. 

Juno passou o dia todo irrequieta com a amarga lembrança, escutando a chuva lamurienta tamborilar nas janelas. E durante todo o dia, tentou negociar com o seu pesar, embora nenhuma barganha traria ninguém de volta. Nem mesmo Nirav que, apesar de vivo, continuava longe do alcance de suas mãos. 

Se Elio percebeu sua infelicidade, não pareceu perceber ou preferiu não a perturbar. Juno agradeceu por isso, não seria capaz de conseguir explicar e, ainda que o fizesse, ele não seria capaz de entender. Ao longo de todo o dia de trabalho, respondeu às suas brincadeiras com risos automáticos e respostas monossilábicas. 

Assim que chegou em casa, enfiou-se debaixo do chuveiro, cujo som a fazia se sentir nua na chuva insistente. Apenas quando a noite chegou, a chuva cessou. Apesar disso, o céu continuava tão nublado que era incapaz de ver a lua e as estrelas. 

Já passava das oito da noite e sua tia continuava na sala, assistindo a uma novela qualquer. Juno, em seu quarto, rodava a fotografia de Leo e Nirav entre os dedos enquanto ignorava a da mãe, com receio o suficiente de tocá-la. E olhando para os dois rapazes tão diferentes, cada um em seu extremo oposto, sentiu o peso real do pedaço de papel colorido. Leo exibia uma careta, Nirav sorria. Leo tão imprudente, Nirav tão preocupado. Leo estava morto enquanto Nirav estava disposto a viver. O ar prendeu em sua garganta e a ansiedade perturbou seu espírito. Quando notou o que estava fazendo, já saía porta afora, sem dar muitas explicações à sua tia que foi deixada para trás. 

Encontrou-se no meio da noite, vagando pelas ruas vazias sob a única luz amarelada dos postes e com a fotografia entre seus dedos. O asfalto e o concreto do chão continuavam úmidos como se ainda chovesse, estalando sob o solado de suas sandálias e umedecendo seu calcanhar. E só quando o vento noturno soprou, percebeu estar desagasalhada, trajando uma blusa fina e uma calça de linho claro. A blusa de alças desnudava seus braços e o colo de seu peito, expondo sua pele ao frio e, apesar dos constantes arrepios, não sentia frio. Algo dentro de si a mantinha quente, de alguma forma. 

Não sabia como, mas ainda conhecia o caminho que seguia. Na verdade, nunca soube bem como o conhecia tão bem, desde aquela primeira vez no lapso de teimosia e inconsequência. Era como se suas pernas fossem treinadas e, no fundo de sua cabeça, houvesse um mapa implícito tatuado em seu cérebro. Depois de sete anos, conseguia traçar de olhos fechados todos os caminhos que levavam à casa de Nirav. E, no entanto, se alguém perguntasse tal informação, talvez não fosse capaz de explicar. 

E lá estava a casa, irretocável e imutável, sólida e persistente, como se nenhum dia tivesse passado desde o último. Era quase como se, por um instante, Juno retornasse no tempo, como aquela garota inconsistente de anos atrás, desesperada por saber o que fazer e fazer tudo errado. Pois a sensação ainda era a mesma. Quando olhava para aquela casa simples, com as camadas de tinta nova a descascar sobre as mais antigas, alguns tijolos aparecendo, portas e janelas marcadas pelo tempo com as dobradiças desgastadas pelo uso, sentia-se estranhamente em casa. Dessa vez, no entanto, esperava estar fazendo algo bom, diferente da última. 

Por um momento, hesitou diante da porta. As janelas entreabertas revelavam a luz acesa no interior, porém, poderia ser qualquer outra pessoa morando ali agora. Olhando ao redor, procurou o carro dele e, por um instante, quase não o reconheceu estacionado no beco do outro lado da rua. Ainda assim, erguendo a mão, o receio tendeu a paralisar sua ação. E foi com medo mesmo que bateu na porta. Só então lembrou-se do pai dele. E o que faria, caso fosse o pai a atender? Sentiu as mãos suarem enquanto esperava. Uma espera que pareceu demorar uma vida inteira. Conforme os segundos se arrastavam e ela permanecia no vazio daquela porta velha, o bater de seu coração ficou tão alto a ponto de parecer ressoar dentro de sua cabeça. Até que se tornou insuportável esperar mais. 

Logo quando estava desistindo, a tranca gritou ao abrir a porta. 

— Juno? 

Não era o pai dele, só ele mesmo. Em pé, mantendo a porta aberta com o peso do corpo. Usava um casaco cor de café e uma calça preta de moletom, dois números mais largos, e seus pés calçavam apenas chinelos velhos. Seus cabelos crescidos estavam bagunçados, com os cachos disformes a ornamentar a fisionomia surpresa ao encontrá-la ali. Ele esfregou a barba com os dedos, como se estivesse afastando o sono do rosto. 

— Desculpe aparecer assim, tão de repente. — ela inclinou a cabeça para baixo, evitando encontrar seu olhar. — Espero não ter atrapalhado nada, eu só... — girando o pedaço de papel entre os dedos, aproximou-se da casa uma outra vez. — Queria te entregar isto. 

Ao estender a foto para ele, notou que seus dedos estavam instáveis. Não era o vento frio, não era só ansiedade. As benditas borboletas no estômago continuavam se agitando, embora Juno tivesse idade o suficiente para terem perecido. 

Nirav pareceu tão confuso quanto surpreso ao pegar a foto amassada entre os dedos. Juno não soube o que fazer, por isso, permaneceu de pé, observando-o, curiosa com a sua reação. Era difícil saber o que ele sentia, considerando seu semblante tão conflitante. Porém, o silêncio entre os lábios abertos fez com que Juno sorrisse. 

— Eu encontrei essa nas antigas coisas dele, perdida dentro de um livro. — explicou, esmagando os dedos uns nos outros até estalarem. — Havia outra, com uma moça ruiva. E também um poema, ou coisa do tipo. — não conseguia desviar o olhar da expressão dele, queria tanto saber como ele se sentia. 

Ele fungou, enfim, retirando a atenção da fotografia para dar a ela seu mais terno olhar. Então, acenou um gesto delicado com a cabeça. 

— Obrigado. — um sorriso triste manchou seus lábios enquanto ele balançava a foto entre os dedos. — Eu já não me lembrava mais do rosto dele. 

Juno compreendia, pela primeira vez, o que aquilo queria dizer. 

— Desde que minha mãe faleceu, o rosto dela tem se tornado um grande borrão. E cada vez fica mais difícil se lembrar. — deu por si tendo as palavras jorrando de sua boca de forma descontrolada, a voz era um misto de pesar e nervosismo, tornando-se  mais trêmula a cada palavra. — Eu tenho medo de que chegue o dia que eu me esqueça não só do rosto dela, mas de quem ela era. Tenho medo de esquecer tanto até não ter mais o que lembrar. E eu sinto que é minha culpa, por nunca ter tentado fazer diferente, nunca ter aproveitado enquanto ela estava viva. Ela era só a minha mãe doente e, depois, não era nem isso. No fim, ela era só alguém que estava sofrendo e precisava da minha ajuda. 

— E você esteve lá quando ela mais precisou. Você nunca a abandonou. — só quando ouviu sua voz tênue, percebeu que ele havia se aproximado até estar diante de si. 

Juno tentou sorrir, sentindo a boca tremer no gesto. 

— Eu estive até o último momento. Quando ela parou de respirar, eu estava lá. — fungou, numa tentativa de controlar o choro, olhando para baixo e fitando o chão. — Eu a vi partir. Senti quando a mão dela soltou da minha. O coração dela só parou de bater. — nunca tinha dito a ninguém e agora não conseguia deixar de contar. — Não é fácil ver alguém que você ama morrendo e não conseguir impedir. É uma culpa que você carrega. 

— Não. — ele meneou. — Não é justo que continue carregando uma culpa que não é sua. Você fez tudo o que podia, você... 

— Eu poderia ter feito mais, eu sinto que poderia! Eu queria ter feito mais! — ela ergueu os olhos até ele, entregando-o toda sua fragilidade em um suspiro. — Mas quando ela morreu, parte de mim estava aliviada. Não só por ela ter parado de sofrer, também por... 

— Por estar livre. 

— E você é a única pessoa que entende como me sinto. O único que... 

Sua voz foi abafada contra o corpo dele, quando lhe calou com um abraço. 

Seus olhos fecharam de imediato. Suas mãos prenderam com força o tecido de seu casaco entre os dedos. Não queria soltá-lo. Encontrava-se de novo no calor dos braços dele e era ali que deveria estar desde sempre. Pouco a pouco, enquanto permanecia agarrada a ele, suas dores amenizaram. Ainda que um pouco suas dores deixaram de doer estando atadas pelos braços de Nirav. 

Ele não a afastou, pelo contrário, manteve-a perto o quanto pôde. A mão dele apoiou sua cabeça e acariciou seus cabelos ao senti-la chorar em seu ombro. A outra apertou suas costas, garantindo a segurança de seu abraço. Não se importou com suas lágrimas, sua fragilidade, sua tristeza. Permaneceu ali, até o choro cessar, até Juno recuperar o fôlego. 

Partiu dela a iniciativa de se separar. E embora fosse uma atitude difícil de ser tomada, se obrigou a se afastar. Seus cabelos se desprenderam devagar do casaco dele, quase relutantes. E o cheiro dele continuou impregnado em suas narinas mesmo quando pôs a distância entre eles. 

— Desculpe, eu não queria... — deu um riso sem graça, limpando o canto do nariz com as costas da mão. — Não queria te colocar em uma situação tão desconfortável. 

— Não se desculpe por isso. — ele respondeu, tirando as mechas de cabelo de sua face, colocando-as atrás de suas orelhas. — Não é o que amigos fazem? 

Eles se entreolharam. Nirav deslizou o polegar por sua bochecha avermelhada antes de soltar seu rosto. 

— Eu sinto muito que vocês duas não tiveram tempo suficiente para serem mãe e filha como deveriam. Não pense que foi em vão, apesar disso. Estar ao seu lado até o último instante, sem nunca abandonar ela, Juno, isso é o amor em sua mais pura forma. E eu sei que também tem o senso de responsabilidade de cuidar daqueles que te deram a vida, mas vai além disso, acredite em mim. Precisa de mais do que só responsabilidade fraternal para fazer tantos sacrifícios assim. E eu sei que ela também sabia disso, mesmo nunca tendo conhecido ela. 

Juno tomou um tempo para respirar fundo e absorver as palavras dele. Por fim, acabou exibindo um sorriso. Cansado e fraco, mas ainda um sorriso. 

— Uma vez me disse que ela tinha sorte por me ter. 

— E é verdade. 

Ela suspirou, passando a mão sobre o rosto e as roupas. Então, recompôs a postura. 

— Obrigada. — disse, por fim, acenando com as mãos. — Obrigada pelas palavras gentis, pelo conforto... 

— Você precisa ir? — ele interrompeu sua despedida. 

— Não quero ocupar mais seu tempo, já é tarde. — ela deu de ombros. 

— Eu estou livre. E a noite está... — ele olhou para cima, encontrando o mesmo tempo nublado que ela. — Bem, a noite está quase bonita. — eles riram. — Quer dar uma volta? 

Juno foi pega de surpresa. Ele pareceu perceber, vendo sua boca abrir e fechar seguidas vezes enquanto piscava freneticamente. Portanto, insistiu: 

— Eu posso te contar a história da foto. 

Ele a conhecia bem demais. Não conseguia resistir uma boa história. Assim, ela concordou, pondo-se ao lado dele quando começaram a caminhar. 

Num primeiro instante, não falaram nada. Apenas seguiram, lado a lado, caminhando em silêncio, contemplando o momento em que compartilhavam a companhia um do outro uma vez mais. Era quase como voltar no tempo, para uma época tão distante, quando costumavam gastar todo o tempo do mundo desse jeito. Agora já não parecia mais outra vida. Agora era o agora. E ainda melhor. 

Juno não conseguia se conter e olhava para o lado, de quando em quando, só para ter certeza de que Nirav estava ali. Ele não parecia notar, ou se notava, fingia ignorar. Mantinha as mãos no bolso do casaco, olhando tanto para a rua quanto para o céu. E aproveitando da sua suposta alienação, Juno aproveitava para roubar dele as melhores espiadas. 

Havia nele partes do rapaz de antes. Seus olhos preguiçosos, por exemplo. Continuavam com o aspecto sonolento, apesar do escuro tão vibrante em suas orbes. O sorriso também era o mesmo, um tanto recatado e tão cativante. Contudo, tantas outras coisas haviam mudado nos anos que passaram separados. Além de ter crescido uns bons centímetros (ou talvez ela tenha encolhido), não era mais um rapaz magricela, seus braços eram mais torneados e, quando ele retirou o casaco, ela conseguiu ver o contorno do peitoral marcando sob o tecido verde de sua camiseta. Reparar nisso a fez sentir as bochechas arderem. E desistiu de continuar admirando-o. 

Atravessaram uma rua juntos, permanecendo em silêncio. Se olhasse por cima do ombro, já não encontraria mais a casa dele à espreita. Avançaram pelo trânsito vazio, exceto por alguns carros e motos estacionados. Cruzaram com algumas outras pessoas, bem poucas, traçando seus caminhos para casa. Eles seguiam o caminho oposto. E embora o vento ainda soprasse frio, Nirav parecia sentir calor, e Juno controlou a necessidade de cruzar os braços para se aquecer. 

— Sabe, eu entendo um pouco quando fala sobre essa culpa que sente. — ele disse em determinado momento, finalmente quebrando o silêncio, como se estivesse esse tempo todo tomando coragem para fazê-lo. — Senti um pouco quando Abigail faleceu. 

Juno arqueou as sobrancelhas, surpresa pela repentina confissão. Precisava se lembrar que se Leo fez parte da vida de Nirav, então Abigail também fez. Ainda assim, soava estranho vê-lo falar com tanto pesar sobre ela. 

— É ainda mais complicado quando não se espera. 

— Você começa a se questionar sobre a validade de tudo. Sente que não aproveitou as pessoas ou não teve tempo suficiente com elas. Só que... se deixar, esses sentimentos consomem você. E sim, eu sei que é mais fácil falar. — ele suspirou. — Mas sei como é se sentir impotente diante de coisas que não conseguimos controlar. 

Ela engoliu com dificuldade o que ele havia dito ao encontrar mais contextos para as palavras do que gostaria. Afinal, ela também o colocou em situações assim. E não duvidava que ele culpava a si mesmo até certo ponto quando, na verdade, ela era a única antagonista. Não adiantava tentar pedir desculpas, não de novo. Só gostaria de poder ter feito as coisas diferentes, para que o poupassem de toda aquela dor. 

O silêncio pairou, outra vez, entre eles. Parte de si, queria dizer a ele qualquer coisa, entretanto, o seu silêncio já falava nas entrelinhas. Não havia palavras, desculpas, ações que consertassem suas atitudes. Portanto, manteve-se quieta até que ele acenou para um pequeno gramado, onde o rio corria mais abaixo. 

Sentaram-se na murada que protegia o vão que dava para as águas. Nirav passou uma perna para o outro lado, sem dificuldade, sentando-se de frente a ela, com as pernas abertas. Já Juno, precisou de dois saltinhos para conseguir se pôr sentada, arrancando um riso divertido dele. 

A correnteza tornava-se mais ruidosa na quietude da noite, apesar de ser lenta e fina. Olhando para baixo, quase não conseguia distinguir o rio da margem, apenas o reflexo da luz do poste próximo refletindo nas águas escurecidas mostrava a diferença. Ali, o vento soprava mais forte e Juno encolheu-se, numa vã tentativa de afastar o frio. 

— Está com frio. 

Não foi uma pergunta, ela só escolheu agir como se fosse. 

— Nem tanto, é só o vento do rio. 

Nirav estendeu o casaco que carregava e, mais do que depressa, ela abanou as mãos para recusar com cordialidade. 

— Ah, não precisa. Logo me acostumo. É sério. 

— Você está de blusa de alcinha! Vai acabar pegando um resfriado desse jeito. — insistiu, colocando o casaco entre suas mãos contra sua vontade. 

— Mas e você? 

— Eu estou bem, não se preocupe. Eu tenho sangue quente. 

Juno revirou os olhos ao vê-lo rir da própria brincadeira. Por fim, deu-se por vencida, aceitando colocar o agasalho. A sensação de alívio deve ter ficado explícita em seu rosto, pois ouviu-o reafirmar que estava certo. Assim que se envolveu com o casaco, precisou fingir que os arrepios eram apenas o frio se afugentando e não o efeito que o cheiro dele tinha sobre si. Ele parecia distraído demais com a foto para notar seus arrepios. 

— Foi em uma festa. — começou dizendo, mais para si do que para ela, dando um leve peteleco na fotografia. — Era na casa de uma garota que ele estava afim. Provavelmente a garota da outra foto que encontrou. 

— Ela era ruiva, bem bonita. Por um momento, quase confundi com Lou. — eles riram, divertindo-se com a ideia. 

— E que casal eles seriam! — provocou, arrancando uma risada exagerada dela. — Pensa só! 

— Nem me fale, quase fiquei com pena quando reparei que os cabelos eram tingidos de vermelho, não ruivos de verdade. 

— Ah, essa mesma. — ele fechou os olhos por um instante, pensativo. — Não me lembro do nome dela agora. Algo com Maria, Mary... tanto faz. Na verdade, lembro bem pouco dela. Lembro que ela morava em outra cidade e que, pela primeira vez, Leo estava bem empolgado com o relacionamento deles. Se é que posso chamar de relacionamento. 

— Por quê? — ela franziu o cenho, dobrando os joelhos para cima do muro e sentando sobre as pernas cruzadas 

— Leo era ainda mais complicado quando o assunto era vida amorosa. Nunca estava satisfeito e tudo era só diversão. 

— A alma gêmea de Louise, pelo que podemos ver. 

Nirav concordou, esboçando um sorriso malicioso. 

— Eu pagaria para ver isso. — ajeitou os cabelos com os dedos antes de continuar. — Dessa vez ele até parecia bem engajado. Estava sempre visitando ela, viajavam juntos, passavam vários fins de semana na casa dela... E foi num desses fins de semanas que ele veio me chamar para uma festa lá. Não que eu estivesse morrendo de vontade de ir, mas eu tive que recusar, porque minha mãe estava irritada comigo. 

— Estava de castigo?! — ela o provocou com escárnio. 

— Por aí. — respondeu, franzindo o cenho com desdém. — Ela estava irritada porque eu ficava saindo todo fim de semana com o Leo, bebíamos a noite toda e eu matava aula. Lembro dela me dizer “não estou pagando para você encher a cara de cachaça, rapaz”, sempre que podia. 

Juno ergueu a cabeça para trás, rindo da imitação afetada dele. Nirav prosseguiu: 

— Ele continuou insistindo e eu negando. Até que ele comentou que tinha uma garota que queria me conhecer, algo assim, não lembro da armadilha. Só lembro que caí feito um patinho. 

— Você foi só por causa da garota? 

— Não, claro que não. — ele fez uma careta. — Fui por causa da insistência dele. 

Ela o fulminou com um olhar desconfiado, então bateu de leve em seu joelho. 

— Mentiroso! Você foi só por causa da garota, eu consigo ver na sua cara! 

— Está bem, pode ser que sim! — ele deu-se por vencido, erguendo as mãos em rendição. — Em minha defesa, eu não era tão popular quanto Leo. Se uma menina queria me conhecer, eu não podia deixar a chance escapar. Não era como se eu tivesse um harém à minha disposição. 

— E ela estava mesmo lá? — perguntou depois de segurar o riso frouxo. 

— Estava. 

Seus olhos brilharam de curiosidade. Ela se arrastou um pouco mais para perto, apoiando os cotovelos nas coxas. 

— E como ela era? Era bonita? 

— Não lembro muito dos detalhes, acho ela se parecia um pouco com Helena. 

— Uau, então deve ter valido muito a pena! Eu teria ido só por causa dela também. — afirmou com um assobio de deleite. 

— Não valeu tanto assim. — ele pareceu pensativo, como se os pedaços da memória viessem aos poucos, conforme contava. — Ela não estava exatamente interessada em mim, como Leo tinha prometido. Na verdade, lembro dela estar muito insatisfeita. 

— Como assim? — sua voz soou ofendida. 

— Bem, era provável que tivesse um monte de outros caras que ela poderia estar beijando. E ela tinha que me beijar por causa de uma promessa que Leo fez. — ele ergueu a foto diante do rosto de Juno, apontando para o próprio rosto. Era mais novo, sem a barba a cobrir a face ou os cachos a coroar a testa, mas era o mesmo rosto que encarava agora. — E eu era assim, então... 

— Era bonito! — contestou, sem entender, passando o olhar da foto para ele. 

Nirav a fitou, desconfiado. 

— Você só está sendo gentil. — retrucou. — Olha minha cara! 

— Qual o problema com ela? É a mesma, eu acho bonita. — meneou a cabeça, insistindo com os braços abertos. 

— Está dizendo isso só porque me conhece agora. Duvido que na época sequer teria olhado para mim. 

Juno se sentiu ofendida. 

— Você não sabe! Não vale deduzir! 

— Parece a resposta de alguém que não me daria bola. — ele continuou provocando, talvez notando o tom ruborizado que seu rosto tomava. — Aposto que iria preferir o Leo. Só por ele ser branquelo, com cabelinho liso, todo no padrão. 

Juno escancarou a boca numa risada incrédula, encarando-o com olhos arregalados. Nirav gargalhou de sua reação. Ela desdenhou com a mão esquerda, dando-se por vencida. Então, apontou um dedo para ele. 

— Se fosse nos meus quinze anos, talvez você estivesse certo. Talvez! 

— É, sim, com certeza. — ele bufou, recusando sua desculpa esfarrapada. — Continue enganando a si mesma! 

— Poderia muito bem ser eu a me interessar por você e ter meu coração partido. — retrucou. — Já que você quer deduzir, então vamos deduzir! 

— É, mas nós dois sabemos que não seria assim. E não foi! 

— Ah, claro, como se eu não tivesse traído meu namorado com ninguém menos do que você! 

O mundo pareceu ficar mudo diante do silêncio que se seguiu após sua resposta. Só então percebeu o que havia dito. Seu rosto inteiro pareceu queimar de vergonha e seu estômago agitou-se de forma que sentiu poder vomitar. Sem coragem de olhá-lo nos olhos, afastou o rosto. 

Então, Nirav deu uma risada acanhada. 

— Que forma estranha de dizer que me acha bonito. — seu tom não indicava chateação. 

— Bem, só disse para levar isso em consideração. — ela deu de ombros, ainda sem olhá-lo. 

— Realmente, não é toda garota que faria isso por mim. Só conheço uma. 

Juno fechou os olhos, querendo derrubá-lo do muro, contentando-se somente em acompanhá-lo na risada, sentindo-se aliviada. 

— Enfim. — ele disse, limpando a garganta. — Eu comecei a me sentir desconfortável, era óbvio, ela não me queria. Se não me engano, ela chegou a me comparar com um chihuahua ou labrador. 

— Minha nossa! Por que ela diria isso? 

— Eu estava muito agitado, eu acho. 

Juno revirou os olhos. 

— Ela não poderia só ter ido embora? 

— Acho que ela estava gostando de me torturar. 

— E você de ser torturado. — concluiu, vendo-o sorrir e encolher os ombros, abdicando da culpa. 

— De qualquer forma, não aguentava mais tentar camuflar o mau humor dela com bebida. E Leo tinha desaparecido com a namorada e nunca mais apareceu. Comecei a me irritar e querer ir embora. Tive que esperar por ele até quase de manhã, quando ele apareceu totalmente bêbado e drogado. 

Juno soltou uma exclamação de desapontamento. Também reparou na expressão que nublou a face de Nirav quando ele concordou. 

— Nunca senti tanta raiva de alguém como senti dele naquele instante. — suspirou, quase irritado. Meneou a cabeça, desviando o olhar para longe. Algo lhe dizia que agora as memórias pareciam quase vívidas para ele. — Foi inevitável começar a discutir no meio da festa, com todo mundo olhando. A gente estava em outra cidade, o dia já estava raiando e nós dois alterados o suficiente para conseguir dirigir um carro que nem tínhamos licença. Eu tinha todos os motivos do mundo para estar puto com ele, mas precisava ele tirar de lá mesmo assim. Então, ele começou a fazer escândalo porque não queria me deixar dirigir. Até boa parte do caminho, foi ele quem dirigiu, completamente fora de si. Só depois de muita briga e muito caos, eu consegui fazer ele ceder o volante pra mim. Não que eu estivesse em condição alguma de dirigir também. 

— Vocês podiam ter sofrido um acidente! — deu por si revoltada, aumentando o tom de voz com ele, apesar de nada adiantar, era uma história velha, de um tempo longe do seu controle. — Onde vocês estavam com a cabeça? Não era melhor ter ficado por lá e esperado? 

Nirav nada podia fazer em sua defesa, exceto suspirar e contar a verdade: 

— Eu tinha faculdade no dia seguinte. E minha mãe já estava irritada, imagina descobrir que eu tinha matado aula por causa de baderna. 

— Não é desculpa! — não queria ter gritado, só era inevitável não se lembrar que Leo tinha justamente falecido em um acidente de carro. — Poderia ter sido você a morrer num acidente desse. 

Ele a olhou, fitando sua expressão mais preocupada do que irritada. Nada disse para contestá-la, apenas abaixou a cabeça, absorvendo suas palavras. 

— Quando nós conseguimos chegar em casa, eu tornei a brigar com ele. — continuou a contar, mantendo a voz mais baixa, quase ressentida. — Disse que estava cansado das maluquices dele e que não queria mais ser cúmplice daquela insanidade. Então, ele começou a me insultar para valer, só para me ferir. Disse que eu era frouxo, broxa, coisas do tipo. E coisas piores, bem piores. 

Quando ele arqueou as sobrancelhas de forma sugestiva em sua direção, Juno entendeu o que ele queria dizer. E isso a irritou mais do que qualquer outra coisa. Apesar de tudo, não o interrompeu. 

— Eu respondi a altura, claro. Eu disse a ele que... — então, hesitou, engasgando-se com as palavras. 

— Qualquer coisa que tenha dito, ele mereceu ouvir. 

— Disse a ele que se quisesse morrer, então que morresse sozinho e bem longe de mim. — a voz dele era um tênue fio, trêmulo e enfraquecido. — Dias depois, o acidente dele aconteceu. 

Como um quebra-cabeça, as peças se juntaram em sua mente. Lembrou-se de Nirav contar, anos atrás, que estavam brigados quando Leo faleceu. Era aquela briga. Ao olhar para o rosto dele, obteve a confirmação. 

Sua mão alcançou a dele, entrelaçando os dedos com carinho, em alguma tentativa fútil de dar conforto. Nirav mexeu em seus dedos, observando-os muito quieto. Sentiu a palma da mão dele engolir quase toda sua mão ao apertá-la. Seus dedos eram longos e finos, e estavam quentes. 

— Foi impossível não se sentir culpado. — ele murmurou, brincando com seus dedos enquanto os assistia. — Mas, de alguma forma, não me arrependo do que disse a ele. Você está certa, ele merecia ouvir. E não era só isso... — ele voltou o olhar para o seu rosto, sem nunca soltar sua mão. — Já olhou para alguém e não soube mais o que fazer com aquela pessoa? Como se não fizesse mais sentido? 

Juno mordeu o lábio e puxou a mão de volta. Afastou o olhar do dele, abaixando a cabeça. 

— É assim que se sente sobre mim? 

— Não. — a resposta veio clara e imediata, sem que ele precisasse sequer pensar. — Não me sinto assim em relação a você. 

Então, ela teve coragem de encontrar o olhar dele uma vez mais. E havia conforto naqueles olhos tão escuros. Reparou que a mão dele permaneceu imóvel, do que jeito que estava há segundos antes, quando segurava a sua. 

— Com você é diferente. 

— Diferente como? 

Foi a vez dele fugir com o olhar. Juno admirou sua face marcada pelo conflito ao observar o entorno antes de responder. 

— Se sabíamos onde estávamos todo esse tempo, por que nunca procuramos um ao outro? 

Uma pergunta difícil, apesar de ter a resposta na ponta da sua língua. Era difícil pelo que escondia implícito nas entrelinhas. O que significava nunca terem procurado um pelo outro? Era essa a verdadeira pergunta. E Juno tinha medo da resposta que poderia encontrar. 

— Eu quis te procurar. — revelou, tornando a esmagar os dedos um nos outros, embolando-os no tecido do casaco dele. — Tantas vezes eu desejei vir atrás de você. Não havia nada que eu desejasse mais, de verdade, mas tudo parecia me impedir. E eu não conseguia. No início, era uma situação complicada demais. Conforme os anos foram passando, eu me obriguei a aceitar que tinha desperdiçado minhas chances. 

 — Se soubesse que eu estava esperando por você... 

— E pensar que eu poderia ter perguntado para a minha tia. Eu queria tanto, e conseguia ver que ela também queria que eu tivesse a coragem de perguntar. Mas eu não sentia mais direito. E por isso também, nunca falei nada a ninguém. Uma palavra sequer. 

— Como suportou, Juno? 

Ela acenou com a cabeça, para lá e para cá, inexpressiva. 

— Eu não sei, não faço ideia. — ela suspirou, olhando para a rua vazia e silenciosa. — Foram sete anos sozinha, perdida e em silêncio. E todos os dias foram iguais. Eu vivi o mesmo dia todos os dias durante sete anos. Todo esse tempo estive impotente, latente e dormente. Não sei o que me fez continuar, para ser sincera. 

Nirav a olhava. Conseguiu sentir o peso do olhar dele sobre si. 

— Costumava dizer algo muito parecido antes. — ele a lembrou. — Dizia que só se sentia viva de verdade em Florencia. 

— E ainda é assim. — voltou seus olhos de encontro aos dele. — Acha que significa alguma coisa? 

— Significa que está em casa. — um doce sorriu cobriu seus lábios. — Voltou para casa. 

Vendo que ele sorria, ela também sorriu. 

— E quanto a você? — questionou, indicando-o com a mão esquerda. 

Nirav inclinou a cabeça, dando um riso nasal desconcertado. 

— Eu prometi que iria te esquecer. Eu jurei a mim mesmo. — confessou, olhando para ela ao alisar a própria barba. — E garanti que se tivesse de chorar, que chorasse uma vez só. Se tivesse de sofrer, que não sofresse mais do que o necessário. Estava decidido a esquecer você e estava com raiva. Estava principalmente com raiva. 

Ela piscou, sem desviar atenção dele. Esteve com raiva dela ou por ela? Não fazia diferença. 

— Porém, todos os dias, você ainda estava lá, dentro da minha cabeça, dentro de mim. E junto com você havia uma centena de dezenas de questões. Por quê? Como? E se? E se eu tivesse feito diferente, e se fizesse isso ou aquilo, e se você? Tantos “e se?”. Então, eu fiquei com ainda mais raiva, pois nenhuma dessas questões tinha resposta. — Nirav encolheu os ombros, pondo o olhar no horizonte à sua frente, repleto de casas e árvores. — Resolvi mergulhar de cabeça no meu futuro. Conseguir trabalhar, ter algum futuro digno, dar orgulho a minha mãe, encontrar outra pessoa, essas coisas. Bem, tudo isso aconteceu como planejei. E conforme os anos foram passando e o meu plano se realizando, você ficou enterrada dentro de mim, o suficiente para parecer que tinha desaparecido, mas sem nunca desaparecer de verdade. Aprendi a conviver com a sua falta até não doer mais. 

Seria mentira se dissesse que não doeu. Doeu, como doeu. No entanto, uma dor boa e necessária. Não se importou de sentir a dor, pois era a única forma de fazer curar e cicatrizar. 

— Eu construí uma vida inteira. Consegui uma carreira estável. Dei orgulho à minha mãe. Encontrei Alice. 

 Ele pontuou suas conquistas enquanto ela não tinha nada para enumerar. Não tinha uma vida. Não conseguiu uma carreira estável. Não deu nenhum tipo de orgulho à mãe morta. E estava inteira e completamente sozinha. 

— Então, eu voltei. 

— Então, você voltou. 

— Eu tive tanto medo de estragar tudo de novo que me questionei se estava tomando a decisão certa ao voltar. 

— Você tomou a decisão certa. — ele respondeu com certeza, sem hesitar. — Sendo sincero, também tive medo que seu retorno fosse estragar tudo, então percebi que precisava de você. Precisava conversar com você, entender você, ver você de novo. E agora sinto que estou quase completo. E feliz que você tenha voltado. 

Eles se entreolharam e sorriram um para o outro, de forma genuína. 

— Também fico feliz de ter voltado. 

Por fim, Juno se espreguiçou como uma gata, abrindo a boca em um bocejo sonoro. Já devia passar das dez horas, a cidade estava afogada em um profundo sono. Tudo o que se ouvia, era o barulho constante da correnteza do rio logo abaixo. E tudo o que se via, era o grande vazio das calçadas desertas e os prédios e casas imersos em escuridão. 

— Eu acabei ocupando toda a sua noite, né? — queixou-se, saltando da amurada para o chão. 

— Não estava fazendo nada demais. E foi bom conversar com você. — ele também se levantava, esticando as pernas endurecidas. — Como antes. 

Juno encontrou a mão dele estendida em direção a sua. Não hesitou em apertá-la, cumprimentando-o. 

— Obrigada por deixar essa noite mais agradável. — pouco a pouco, soltou da mão dele, sentindo os dedos deslizarem pelos seus como um afago. Afastou-se dele, já atravessando a rua, só então se virou uma última vez. — Seria hoje o aniversário da minha mãe. 

Viu a surpresa estampada nos olhos de Nirav ao se tornarem tão brilhantes e umedecidos. Juno esboçou um sorriso genuíno, sem dar-lhe tempo de dizer nada, apenas murmurou um “boa noite” e correu com passos apressados em direção à sua casa. Não sentiu o peso dos músculos enfraquecidos pela idade e falta de exercício, porém, quando chegou ao destino, estava tão ofegante quanto exausta. Sua tia já estava adormecida no sofá da sala, como costumava fazer. A televisão continuava ligada, embora o volume estivesse mudo. 

 Só quando chegou em casa, percebeu que tinha ficado com o agasalho dele. E usando o moletom de Nirav, sentindo o cheiro que emanava, Juno adormeceu, sem ter a intenção de tirá-lo. Não sonhou com nada. Dormiu com a imagem de Nirav gravada em sua mente, caminhando ao seu lado, sorrindo e conversando.


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Notas finais do capítulo

Oh, não sabem como senti saudade de capítulos assim, só dos dois conversando, andando, se acompanhando. Esses dois curam onde dói, saram todas as feridas! ♥



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