O Caminho das Estações escrita por Sallen


Capítulo 11
∾ Estou esperando por você, mesmo que seja para começar uma briga.


Notas iniciais do capítulo

Olá, mais uma vez! Estou aqui, novamente para trazer dor e sofrimento, como de costume, até quando?

Eu olho para meus personagens e continuo... I am once again asking why are you the way that you are?



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Parada, de pé na calçada, Juno contemplava a casa à sua frente. Pequena e simples, as paredes coloridas em tinta branca que começava a descascar nos cantos mais distantes. Parecia vazia, o silêncio era total vindo lá de dentro assim como a escuridão. Era a primeira vez que estava ali, mesmo não sabendo se era uma boa ideia. Não sabia bem o que estava fazendo, mas não conseguia ir embora tampouco.  

Era manhã e o sol já estava encoberto por nuvens acinzentadas, que roubavam toda a cor do mundo, fazendo-o parecer descolorido. Havia um vento frio, o insistente dos últimos dias, porém parecia mais úmido dessa vez. Talvez a chuva espreitasse, pronta para abordar Florencia a qualquer momento.  

Estava ainda mais cedo quando Juno decidiu sair de casa. No primeiro instante, não tinha destino nenhum em mente. Seu corpo pesava, reclamando da noite de insônia, pedindo para que continuasse deitada. Abigail também protestou, perguntando-a o que era tão importante para ser feito tão cedo. Juno não respondeu, temendo caso abrisse a boca, não conseguisse mais fechá-la.  

Precisava apenas sair, observar o mundo fora dos cômodos que a emparedavam. Precisava respirar, no entanto, nem todo o ar do mundo parecia suficiente para amenizar a sensação de sufocamento que continuava a estrangular a garganta de Juno.  

Havia tantas coisas presas dentro de si mesma e pareciam continuar crescendo até não haver mais espaço em seu corpo limitado. Não sabia o que fazer com todos aqueles sentimentos, só sabia que não conseguia se livrar deles. Então, pouco a pouco de cada vez, a sufocavam.  

Sentia-se presa ao mesmo tempo que também se sentia perdida. Quando olhava para as pessoas ao seu redor, a sensação era até pior. Só conseguia sentir o peso de cada uma delas, esmagando seu ser e expondo seu cerne. Tinha medo de encará-las por tempo demais e dar-lhes abertura para descobrir o que estava escondendo, sentindo, protegendo.  

Queria alguém para conversar, pois encontrava-se sozinha. Alguém com quem pudesse mostrar os segredos que agora pareciam pesar uma tonelada. Uma pessoa que não a julgasse como alguém que cometeu um grande erro, e sim que a olhasse como o humano que era. Uma pessoa capaz de entender que não foi capaz de resistir, mas que não era fraca por isso. Porém, sabia que era pedir demais.  

A busca vã de consolação com sua mãe era apenas uma amostra do que encontraria em outras pessoas. Não encontraria nada, além de julgamentos e acusações. Havia cometido um erro que colocou todo o seu redor em jogo e qualquer movimento equivocado causaria sua derrota.  

Não conseguia revelar a verdade para suas tias, pois temia como reagiriam diante da exposição de seus erros. Juno conseguia sentir o julgamento iminente. Quase podia escutar o timbre de suas vozes e o peso de seus sermões. Era uma mulher comprometida, com um relacionamento estável e tinha um homem bom ao seu lado. Como ousaria estragar tudo o que tinha em troca de uma diversão? Não era mais uma adolescente para agir de acordo com impulsos infantis. Estava desperdiçando uma vida inteira em troca de quê? Não, Juno já tinha sua própria cabeça repetindo essas mesmas palavras, não precisava de outras pessoas para reafirmarem-nas.  

Tampouco seria capaz de contar a suas amigas. Apesar de todo o apego e afeto que construíram tão rápido, Juno continuava sendo uma intrusa naquela relação. E seria ainda pior, na verdade, considerando os últimos acontecimentos, porque entre suas amigas havia Louise.  

Toda a empolgação das meninas em relação as novidades de Lou acertavam Juno de forma diferente. Era dolorido e incômodo, como se estivesse sendo roubada ou descartada. No entanto, como ninguém podia saber, simplesmente tentava ignorar todas as mensagens contando os detalhes, segredando os desejos e as fantasias que criavam. A foto ainda era como uma presença opressora para Juno, porém era sua dor, e apenas sua. E não tinha o direito de estragar as expectativas de Lou. Seria mais uma traição em seu nome. A garota de fora que bagunçou tudo quando chegou e partiu como se nada tivesse acontecido.  

Então, só restava uma pessoa. A única pessoa que era capaz de compreender todo aquele caos. Afinal, era quem fazia parte daquela bagunça.  

Estava diante da casa de Nirav, apesar não ter sido esse seu destino quando saiu de casa. Nunca havia estado ali, sequer sabia como era a casa dele. Apenas recordava-se de algumas explicações vagas de Helena há algum tempo. De alguma forma, seus pés a arrastaram até aquela casa, como se sempre soubesse o caminho. Como se fosse o único caminho a seguir.  

Ainda não sabia o que pretendia fazer. Deveria ter seguido o conselho de Nicholas e preparado as malas para voltarem. Não parecia restar mais nada e o que parecia restar já não importava mais. Ainda assim, não conseguia desviar os olhos da porta branca e das janelas fechadas. Não conseguia deixar de se questionar se Nirav estava lá dentro e o que estaria fazendo. Será que estaria dormindo e sonhando com Louise? Ou será que estaria insone e pensando em Juno?  

Juno suspirou, balançando a cabeça, considerando desistir. O vento gelado bagunçava seus cabelos e arrepiava seu corpo, obrigando-a abraçar a si mesma. O moletom velho e a calça folgada não pareciam o suficiente para deter o frio. E parecia que logo iria chover. Deveria ir embora, mas não conseguia.  

Algumas pessoas passaram por ela, encarando a figura estática, atrapalhando o caminho da calçada. Recebeu alguns cumprimentos, alguns olhares desconfiados e outros semblantes pensativos. Como ela, também pareciam se questionar o que estava fazendo ali.  

Hesitante, ela caminhou até perto da porta. Chegou a erguer a mão para bater e abaixou logo em seguida. Um xingamento infantil escapou de seus lábios enquanto ela retornava à ponta da calçada. Procurou pelo celular, observando as mensagens que Nirav ainda não havia respondido. Não adiantaria de nada mandar outras, seriam apenas mais lixo eletrônico. Deveria ir embora, mas resolveu ligar para Nirav.  

A ligação estendeu, prolongando o ruído da espera. Juno fechou os olhos, aguardando a quebra do silêncio. Percebeu que estava nervosa, suas mãos queriam suar, mesmo não sentindo calor algum. Era a primeira vez que o ligava e tinha medo de que ele não atendesse. Estava quase desistindo, parecia demorar uma eternidade até escutar a voz do outro lado sussurrando seu nome.  

— Juno? — a voz era suave, embora rouca pelo sono, o suficiente para fazer o coração dela palpitar.  

Percebeu que sentia saudades. Saudades da voz que a chamava, do homem do outro lado da linha e tudo o que ele representava. Uma saudade sufocante que, talvez, tenha sido a razão que a arrastou até ali.  

Juno mordeu a ponta do polegar, controlando a ansiedade.  

— Você está em casa? — sua voz saiu engasgada, como se estivesse falando pela primeira vez em muito tempo.  

— Estou, por quê?  

Ela respirou fundo, observando as janelas e procurando algum movimento do lado interior para depois tornar a fitar a porta branca.  

— Pode abrir a porta? — pediu, fungando o nariz. — Está frio.  

Escutou um suspiro do outro lado. Conseguia imaginá-lo coçando os cabelos e passando a mão sobre o rosto enquanto se aproximava até a porta. Foi capaz de escutar o clique da fechadura através da ligação.  

Então, Nirav surgiu diante de seus olhos. Estava com o tronco nu, vestindo apenas uma calça de moletom azul. Seus cabelos estavam bagunçados, com os cachos enroscados uns nos outros. O semblante demonstrava sono, reafirmado pelos olhinhos caídos. Estava lindo.  

Eles se encararam por um instante, ainda com os celulares escorados nas orelhas, sem desligar a ligação. Só por admirá-lo, Juno conseguia sentir os batimentos em seu coração serem capaz de movimentar seu peito. E se antes estava com frio, agora sentia um calor percorrer por todo seu corpo.  

— Por que não bateu na porta? — ele questionou pelo celular, mesmo sendo capaz de ser ouvido de onde ela estava.  

— Eu não sabia se estava em casa, mas só pensei nisso quando já estava aqui.  

Ele coçou a barba, analisando-a. Percebeu um tom de irritação em seus olhos.  

— Seu namorado sabe que está aqui?  

Juno abaixou a cabeça, fugindo do olhar de Nirav. Não, não sabia. Havia o deixado dormindo enquanto inventava qualquer desculpa para sair de casa. Em sua defesa, não tinha como destino a casa de Nirav até então.  

— Eu não vou demorar. — disse, sem dar a resposta requisitada.  

Por fim, Nirav desligou o celular e apontou a entrada da porta para ela.  

Era a primeira que estava na casa dele e não conseguia explicar a sensação ao passar por aquela porta. Houve um misto entre o nervosismo de estar cometendo mais um erro e a sensação de estar em casa. Sentia-se estranhamente em casa ao admirar todos os cantos com olhos curiosos.  

Uma casa pequena, como parecia do lado de fora, e simples também. Era aconchegante, aquecida e bonita. Tinha pouca mobília, mas não parecia vazia, apenas minimalista. Gostava da cor clara das paredes em contraste com o chão escuro. As plantas artificiais e os tapetes. Gostava da sala espaçosa que dividia espaço com a cozinha.  

Combinava com Nirav. Conseguia imaginá-lo no dia-a-dia, andando de um cômodo para o outro, ocupado tanto com as coisas da faculdade quanto com as tarefas de casa. Tinha a imagem dele cozinhando ou arrumando o quarto com a televisão ligada para o nada, servindo apenas como um fundo sonoro para evitar o silêncio. Por algum motivo, imaginava-o como estava em sua frente. Sem camisa, pés descalços e cabelos bagunçados. Confortável e belo.  

— Eu te acordei? — perguntou a ele, admirando-o.  

— Não. Eu já estava acordado. Na verdade, eu dormi pouco, não aguentei ficar muito tempo na cama. Estava fazendo o café. — ele indicou a cafeteira sobre a bancada da cozinha para Juno, que sorriu brevemente.  

Mais uma vez, ela olhou ao redor, contemplando a casa em que estava.  

— É uma bela casa. — comentou, sem assunto para puxar.  

Nirav apenas anuiu, cruzando os braços. O olhar dele percorreu por seu corpo, como se procurasse alguma coisa.  

Era difícil estar perto dele e sentir toda aquela distância. Feria seus sentimentos de uma forma tão íntima que nunca havia sentido antes. Era torturante e era culpa sua. 

— Então, vai me dizer o que veio fazer aqui? — sua voz entregava um tom de indignação que, mesmo incomodando, Juno não podia julgar.  

— Você e Lou... — aquelas palavras escaparam de seus lábios sem que percebesse o que estava dizendo. E só então pareceu perceber o verdadeiro motivo que a levou até ali.  

Ele a cortou, antes de qualquer outra coisa.  

— Ah, então é sobre isso.  

— Nirav, por favor... — não conseguia mais esconder, agora o estrago já estava feito e só precisava seguir em frente.  

— E importa?  

— Sim, importa!  

Sua voz tomou uma entonação mais alta, apesar de nada firme. Havia tristeza e inveja no seu timbre. Havia também um tremular que indicava um pranto omitido.  

Nirav suspirou outra vez, como se já estivesse cansado do assunto que estava apenas começando. Deu de ombros, olhando para Juno sem saber o que dizer.  

— Como aconteceu? — não tinha certeza de querer saber a resposta, mesmo assim perguntou.  

— Sendo sincero, eu não me lembro muito do que aconteceu. Estávamos no bar, bebendo, falando sobre vida amorosa ou qualquer coisa do tipo. Então, ela me beijou e eu a beijei de volta. — contou sem rodeios, balançando a cabeça. — Ainda não entendo qual o ponto de tudo isso...  

Juno fechou os olhos. Não para absorver a história, mas para impedir que a ardência se transformasse em lágrimas.  

— Por favor, diga que é mentira. — pediu, quase implorando.  

— Não vejo motivo para mentir sobre isso.  

— Não acredito que teve coragem, como pôde fazer isso? — protestou, negando a verdade.  

Nirav deu uma risada descrente, encarando-a como se tivesse perdido o juízo.  

— Desculpe... Como é? Como assim?  

— Você a beijou! — exclamou exasperada, aproximando-se dele.  

— Sim!  

— Ela é nossa amiga!  

— Helena também é uma amiga em comum. E nunca foi um problema. — ele curvou os lábios, dando uma de desentendido.  

— É diferente! — retrucou, franzindo o cenho.  

Ele a olhou, piscando algumas vezes, entre incrédulo e revoltado.  

— Diferente por quê?  

— Você sabe.  

— Ah, é? — assumiu um tom irônico, arqueando as sobrancelhas. — Então, por que não fala isso para a Lou? Por que não explica para ela o problema de nos beijarmos? O motivo de você estar tão incomodada?  

Juno engoliu a seco, calando-se ao silêncio. Não tinha resposta porque não poderia fazer o que era sugerido. Além de não ter tal direito, estaria causando um dano provavelmente irreversível.  

Sentiu os lábios tremerem e foi obrigada a desviar o olhar, porém não conseguiu fugir de Nirav.  

— Pois é, foi o que imaginei.  

— Não acredito que fez isso... — murmurou, meneando a cabeça.  

Ainda conseguia sentir o peso do olhar dele. Talvez começasse a se sentir arrependida por aquela discussão. Entretanto, já era tarde demais. 

— O que tem demais nisso? Até onde eu sei, eu estou solteiro! Não tenho compromisso com ninguém! — retrucou provocativo.  

Juno o encarou, tomando a provocação como deixa. Não conseguia não discutir com ele. Era mais forte do que ela. Talvez fosse pela necessidade de confronto para extravasar. Ou talvez fosse apenas pela saudade e brigar era tudo o que sobrava. 

No fundo, sabia que queria estar em seus braços, ignorando todo o contexto do caos que os envolvia. Queria entregar a ele cada parte de sua existência e também o queria entregue, todo para si. Queria tantas coisas e disse tudo ao contrário. 

— Você se envolveu comigo e agora está beijando outra mulher como se nada tivesse acontecido entre nós! — rugiu, aumentando o tom de voz.  

— Você não tem o direito de me cobrar nada! — ele se aproximou, encarando-a de perto.  

— E o que você espera que eu faça?  

— Deveria ter pensado nisso antes de trair seu namorado comigo! — devolveu com o mesmo tom alto, revelando as nuances de sua entonação. Também estava triste, engasgado com os próprios sentimentos. — Eu nunca te cobrei nada, porque eu não tenho direito! E você também não tem! O que acha que eu deveria fazer? Servir como seu amante sempre à disposição? Esperando sua boa vontade para nos encontrarmos em segredo?  

Eles se olharam, ambos com os olhos avermelhados. Estavam tão perto que ela conseguia sentir a respiração dele balançando seus cabelos. Sua voz pareceu morrer em sua garganta, ainda assim, reuniu forças para protestar.  

— Não precisa agir como se eu não soubesse o que fiz...  

— Não parece que sabe! — ele a cortou, enfurecido. Precisou respirar fundo para prosseguir, como se estivesse fazendo um grande esforço para continuar aquela discussão. — Você continua agindo como se Nicholas não existisse, incapaz de tomar qualquer atitude quanto ao seu relacionamento enquanto eu tenho que ficar esperando por você! Eu tenho que aguentar você com ele como se não fosse nada? Isso me dá nojo! 

Ela o fitou, absorvendo suas palavras, uma a uma. Era a primeira vez que discutiam, ainda que a relação fosse tão recente. Havia algo diferente naquele confronto. Não era uma briga. Não como era com Nicholas. Quando brigava com Nicholas sentia angústia, medo e pressão. E era disso que tinha medo de enfrentar, não era?  

— Não é tão simples assim... — sua voz parecia um fino ruído prestes a quebrar.  

Nirav balançou a cabeça e ela conseguiu ver o brilho das lágrimas em seu olhar. Ele estava bem diante de seu rosto. Vulnerável, afetado. 

— Nunca é, não é mesmo? — devolveu, comprimindo os lábios. — Deveria ter pensado nisso antes de ter um caso comigo. Agora é tarde demais. 

Juno passou a mão sobre o rosto, assentindo. Deu-se por vencida. 

— Tudo bem, você está certo! — ela deu de ombros, abanando as mãos.  

— Não é questão de estar certo.  

— Vá em frente, faça como bem entender. — ironizou com raiva, afastando-se dele. — Beije quantas garotas quiser. Leve para tomar banho de cachoeira também!  

De repente, o semblante dele mudou. Estava dando um sorriso em sua direção, como se tivesse descoberto algo que ninguém mais sabia.

— Agora você só está falando besteira da boca para fora...  

Irritada com o comportamento dele, continuou a bater o pé como uma garota birrenta. 

— Já não importa mais. — sua voz tornou a vacilar, parecia prestes a chorar.  

Nirav deu uma risada, tornando a se aproximar.  

— Então por que está com ciúmes?  

— Eu não estou com ciúmes de você!  

— Ah, não? — provocou, novamente próximo, olhando-a de cima, tirando vantagem de sua altura. — E por que está aqui?  

— Eu não sei. Porque eu sou tão fraca, tão estúpida, tão covarde...  

Nirav a interrompeu, calando-a com um beijo roubado.  

Juno desmanchou-se em seus braços, como se estivesse pedindo por aquela intervenção desde o momento que apareceu em sua porta. E talvez estivesse, na verdade, quase implorando.  

Não conseguia resistir a ele. Seu corpo a traía, tornando-a incapaz de lutar contra. Suas pernas bambearam e suas mãos tremeram. Precisou envolver seu corpo no dele em busca de apoio para o chão que cedia sob seus pés. Não queria lutar contra.  

Naquele momento, nada mais pareceu preocupar sua mente. Não conseguia pensar em mais nada além de Nirav. O toque de suas mãos tocando e apertando toda e cada parte. O sabor dos seus lábios e as cócegas que sua barba provocava no rosto. O calor da pele nua de seu tronco. O cheiro de seu corpo.  

Seu beijo tinha um efeito eletrizante, que fazia todo o corpo de Juno estremecer. Era intenso, porém calmo. Apesar de haver urgência, não havia pressa, como se quisesse beijá-la sem intenção de parar. Deixava-a ofegante, arrancando suspiros febris que entregavam o desejo que desestabilizava Juno por inteira.

De repente, estava de volta à cachoeira. Tinha Nirav entre seus braços mais uma vez. Seus dedos percorriam os cabelos dele, sentindo a textura dos cachos que roçavam em sua pele. Então, desciam pelo pescoço, escorregando através da barba. Chegavam aos ombros e continuavam a descer pelo peitoral. Com a ponta dos dedos, conseguia sentir as batidas aceleradas do coração dele, tal como o seu próprio. Pareciam bater no mesmo ritmo ansioso. Era como se estivessem em sintonia.  

E, no entanto, com um alarme de emergência, sua mente trouxe à tona a verdade excruciante. Lembrou-se de Nicholas, esperando-a em casa. Abigail e Octavia sem respostas para sua fuga. Louise, sonhando com o homem que lhe beijava. Sua mãe. Lembrou de tudo o que a afastava de Nirav. Ou seja, toda a sua vida.  

Não queria soltá-lo, deixá-lo ir. Queria permanecer em seus braços, sentindo o calor de seu corpo. Precisava do seu beijo e do seu carinho. Talvez, podia se arriscar e ficar. Simplesmente ficar. Deveria ficar, mas se afastou.  

— Por favor, fica... — ele relutou, beijando seu rosto, desde seu queixo até sua testa.  

— Não. — insistiu, afastando-o contra sua própria vontade. Não iria conseguir parar, caso contrário. — Não, você está certo! Eu não devia ter vindo, isso foi um erro... Tudo isso foi um erro...  

Obrigou-se a se afastar dele, escapando de suas mãos. Ele não insistiu, não impôs sua vontade. Apesar de seu olhar entregar o verdadeiro desejo, Nirav não forçou, apenas a soltou.  

— Tudo isso foi um grande erro, mas já não importa mais...  

Sem esperar resposta, Juno correu porta afora, mais uma vez fugindo. Nirav até tentou alcançá-la, chamando seu nome. Ela continuou em frente, sem olhar para trás.  

— Juno! — suplicou em vão, sendo abandonado na porta de sua própria casa.  

Do lado de fora, a chuva começava a cair, fria e forte. Recebeu Juno como uma punição, encharcando até seus ossos, infligindo um frio que fazia seu corpo tremer. Juno não reclamou, não tentou se esconder da chuva, apenas continuou andando.  

Todo o seu corpo estava relutante, sofrendo com o esforço que fazia para continuar indo na direção oposta de Nirav. No entanto, era tudo o que restava a fazer. Não podia continuar insistindo no erro. Se tivesse sido mais corajosa e mais sincera, ainda teria alguma chance. Porém, agora se ousasse insistir só causaria mais dor e confusão.  

Não havia mais margem para seus erros. Todos os caminhos que seguiu a levaram até o ponto onde estava. E conseguia entender o que tinha vindo fazer ao procurar por Nirav. Estava encarando as consequências de seus erros. Por mais dolorido que fosse, estava tentando pôr um ponto final.  

Precisava encarar o fato de que havia terminado. Qualquer que fosse aquele sentimento deveria se extinguir. Por mais dolorido que fosse, era o certo a se fazer. Ela só desejava que tivesse durado um pouco mais.  

Permitiu-se chorar. A chuva que caía estava ali para esconder suas lágrimas. 


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Notas finais do capítulo

"Deveria ir embora, mas permaneceu."
"Deveria ficar, mas foi embora."

Deveria, deveria... Deveria tantas coisas e não consegue fazer nenhuma delas, não é Juno?



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