Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem escrita por Allyssa aka Nard


Capítulo 10
"Sorry, I thought I heard something"


Notas iniciais do capítulo

Bom, praticamente metade do capítulo é um flashback explicando o backstory do Nard e da Hanna, mas prometo que a história "principal" começa no próximo capítulo, esse capítulo foi pra fechar as pontas soltas desses 2. Já comecei a impulsionar a história no final desse capítulo e espero que tenham gostem! ♥



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P.O.V Hanna

 

Era mais um dia normal no orfanato, com as aulas improvisadas e os moleques desesperados para serem adotados. Para mim e para Nard, ser adotados era um sonho, algo que nos libertaria daquela prisão. Mesmo com todas as boas recomendações e feedbacks, aquele orfanato era um inferno na terra.

Nós tínhamos que seguir um grupo enorme de regras, e muitas delas sendo injustas. Tínhamos que nos curvar ao ver a “diretora”, como servos e não podíamos tocar em quase nada. Comíamos apenas sopa rala uma vez por dia, e os pais interessados em adoção eram enganados, já que nesses dias nós comíamos de verdade. Éramos proibidos de falar o que acontecia para os adultos e batiam em nós se contássemos, além de nos chamarem de loucos em público. 

Não podíamos sair e nunca recebíamos correspondência, que depois descobrimos ser escondida e tínhamos privilégios de televisão por 2 horas por semana. Tínhamos uma sala de aula improvisada, com um professor particular que nos tratava como escravos, como objetos, e adorava nos humilhar na frente do resto da sala.

Com o ambiente hostil, não era de se esperar que as crianças de lá fossem “boazinhas”. Éramos briguentos e os adolescentes, que chamávamos de “veteranos”, viviam fazendo bullying com a gente. Eu e Nard conseguimos sobreviver 8 anos naquele lugar, nunca tendo sabido quem foram nossos pais. Não sabíamos nem nossos sobrenomes, e nunca soubemos se nossos pais morreram ou se simplesmente nos abandonaram.

Como sempre, os funcionários nos acordavam na base de porradas com seus cintos, batendo cada vez mais forte a quem não acordasse. Eu sempre dormia com meus aparelhos para ouvir as batidas, e dormia no fundo do quarto para evitar que ele quebre.

Levantei com um pouco de dor, já que dormíamos no chão e ajudei Nard a se levantar antes dos funcionários chegarem perto de nós. Como sempre, nos levaram para a sala de aula, onde o Sr. Kretz nos esperava, com sua palmatória em mão. 

Sentei ao lado de Nard, no fundo da sala, e esperamos para ver quem ia ser o primeiro a levar uma palmada gratuita do dia. “Sr. Nard” ele disse, no seu clássico tom de desdém. Ele tinha uma pele extremamente clara, quase albina, olhos pretos e cabelos da mesma cor, parecendo um vampiro. “Esse domo que você chama de barriga dói a minha vista. Eu acho que você andou roubando comida, como sempre. Venha ao centro da sala, você claramente precisa de uma lição” ele completou.

Como sempre, ninguém disse nada, por puro medo das consequências e vi o rosto de Nard ficar vermelho de raiva. Demos ainda mais azar quando vimos que o Sr. Kretz disse isso na hora que os bullies adolescentes passaram na porta. 

Carl, o mais alto deles, entrou na sala e disse, com seu clássico tom de desdém: “Você ouviu Bolinha. Vai lá pro meio da sala”. Ele deu um sorriso malicioso e saiu da sala, ao mesmo tempo que Nard levantava. Normalmente eu ficaria apenas sem resposta, mas algo me veio em mente naquele dia e me levantei junto.

“Você não pode bater nele por ele ter hipotiroidismo!” eu falei, no tom mais corajoso que pude. Vi os olhos da sala se virarem em minha direção em surpresa, mas o Sr. Kretz simplesmente riu. “Desculpe, você disse alguma coisa?” ele disse, desdenhoso, colocando a mão na orelha. “Pensei que eu tivesse ouvido algo…” ele olhou pela sala com a mão na testa, como se estivesse procurando algo. “Ah! Foi só você, Hanna, tinha esquecido de colocar meu aparelho” ele completou, e fechei meu pulso em raiva.

“Já que você quer defender o Bolinha tão desesperadamente, acho que você deve receber a lição por ele” ele disse, calmamente, como se estivesse dando uma palestra. Então ele se virou e falou rispidamente: “EM DOBRO!”. Encarei os olhos dele profundamente enquanto ia para o meio da sala, determinada a mostrar força ao resto da sala.

Ele batucava a palmatória maliciosamente e quando cheguei perto, ele cheirou meu cabelo de forma nojenta, que naquela época entendi como um “gesto malvado” mas compreendi as segundas intenções quando cresci. Nard parecia ter percebido a problemática do gesto, porque ele berrou “Deixe ela em paz!” apontando o dedo carnudo ao rosto do Sr. Kretz.

Ele se aproximou, encarando o Sr. Kretz da mesma forma que o encarei antes, mas o Sr. Kretz pareceu inafetado. “Já que estamos tendo tantos jovens corajosos hoje-” ele encarou o resto da sala “ você deveria fazer o trabalho por mim”. Ele entregou a palmatória pro Nard, que pegou rapidamente, em raiva.

Estiquei minha mão e Nard deu uma palmada tão fraca que eu nem sequer senti, o que causou as veias do rosto do Sr. Kretz saltarem para fora de raiva. “Se você for fazer algo, FAÇA DIREITO!” ele berrou, tirando seu cinto e batendo no braço de Nard tão forte que eu vi sangue saindo. Empurrei o Sr. Kretz e peguei a mão de Nard, e saímos correndo o mais rápido possível, sem rumo até batermos de frente com ninguém menos que Ares e Atena.

 

Saí da enfermaria preocupada, já que Nard havia sumido. Mesmo depois de descobrirmos nossos pais Olimpianos, ainda nos considerávamos irmãos. Avery me contou sobre o sumiço de Nard e fiquei com medo de ele estar tendo uma das crises dele. Já é difícil o suficiente acalmar ele quando eu estou junto, acho que seria impossível ele se acalmar sozinho, a não ser que ele tivesse com os comprimidos. 

As crises eram raras, mas eu sempre carregava uma dose extra de comprimidos para ele. Somos uns dos Campistas mais antigos do Acampamento, estando lá a 9 anos, então esconder nossos problemas era uma questão de dar exemplo para os outros. Nós sempre queremos ser exemplos para os novos campistas e se descobrissem que uma surda e um esquizofrênico eram os principais guerreiros do Acampamento, não sabíamos qual seria o resultado.

Eu sempre tiro meus aparelhos nos jogos de Capture a Bandeira e os escondo atrás do meu cabelo, o que funcionou bem durante todos os 9 anos que eu estive no Acampamento. Meus pensamentos estavam confusos, entre o desaparecimento de Nard e memórias do Orfanato. Sentei em um tronco caído, em frente à floresta e observei a paisagem na minha frente.

Mesmo com o sol refletindo no lago, eu não conseguia ficar feliz, por mais bonita que fosse a paisagem. Peguei a ponta do meu colar, uma metade de um yin-yang e passei meus dedos nela. Meu colar conseguia se conectar com a outra metade, que ficava com Nard, um lembrete que sempre estaríamos juntos. Era clichê, mas tínhamos um apego emocional muito forte.

Meus pensamentos foram logo interrompidos quando um pano cobriu minha boca e meu nariz. Sabendo que eu provavelmente desmaiaria em pouco segundos, coloquei minha mão no meu ouvido e tirei meu aparelho e o joguei para longe, esperando que alguém o encontrasse. Poderia custar meu segredo, mas como todo semideus, eu sabia que havia todo tipo de criatura tentando me matar e era melhor perder o segredo do que perder a vida. Como previsto, o mundo ficou preto em pouco segundos e eu caí em uma escuridão.

Acordei com o chão se movimentando embaixo de mim. Por estar com apenas um aparelho, era difícil ouvir o que estava acontecendo, mas ouvi vozes e um barulho de motor. Eu estava deitada no chão e percebi que meus braços estavam amarrados às minhas costas. Minhas pernas também estavam presas juntas e um pano estava segurado dentro de minha boca por um pedaço de fita. 

Fingi ainda estar dormindo enquanto testava os nós em meus braços, percebendo que eles estavam frouxos, decidi tentar ouvir a conversa na minha frente antes de escapar. Abri meus olhos lentamente, vendo meus arredores. Do jeito que o chão estava balançando e da forma em que as paredes se completavam, julguei estar em uma van ou um furgão. Vi que haviam outros 3 Campistas comigo, sendo 2 de Atena, uma menina chamada Leigh e um menino chamado Trevor, que eu conhecia apenas vagamente e um menino de Hermes, que eu não sabia o nome. Eles estavam numa situação semelhante a minha, com a exceção de eles estarem com vendas nos olhos.

Olhei ao redor lentamente e vi 2 ciclopes perto dos bancos da frente e mais outros 1 no banco de motorista. Era difícil ouvi-los, mas consegui entender as palavras “Everest”, “Tártaro”, “mão-de-obra”, “porta” e “Empusa”. Eu não queria ficar mais um segundo naquele lugar, então desatei os nós dos meus braços o mais silenciosamente possível para não perceberem e discretamente desfiz os nós das minhas pernas. Eu estava indo ajudar os outros campistas quando um dos ciclopes se virou e me viu, e em desespero, abri a porta dos fundos do furgão e pulei, me ralando toda no processo.

Vi o furgão vermelho se afastar na estrada e saí do meio da estrada a tempo de evitar um carro me atropelar. O carro parou e uma mulher saiu dele, muito confusa e perguntou se eu estava bem. Eu ainda estava tremendo um pouco de choque e demorei a responder, mas disse que sim.

Perguntei onde eu estava e ela disse que estávamos em Columbus, o que significava que eu estava bem longe de casa. Expliquei para ela que eu havia sido sequestrada, deixando de lado o fato de terem sido ciclopes e pedi se ela podia me dar uma carona à Long Island. Por sorte era para onde ela estava indo e ela deixou eu ficar no banco de passageiro. Ela estava ligando o carro quando vi os dois ciclopes de antes correndo em nossa direção.

Por causa da névoa, ela provavelmente só devia estar vendo 2 homens altos, mas quando apontei para eles e disse “F-fo-for-foram e-eles” gaguejando, ela percebeu o que estava acontecendo. Ela pisou no acelerador e olhei para trás enquanto os ciclopes sumiam com a distância e suspirei de alívio. Para evitar perguntas, o que ela devia ter várias, coloquei minha cabeça na janela fechada e pedi para ela me acordar quando estivéssemos chegando perto, o que deveria acontecer só no dia seguinte. Tentei conectar os acontecimentos a medida que eu fechava os olhos e sentia o sono vir.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, deixem seus comentários ♥