A sala de aula do 1-A está totalmente quieta. Apenas a voz da professora de inglês podia ser escutada. Os alunos a acompanha pelo livro enquanto passa sua matéria, mas nem todos estão prestando a atenção.

Segurando a lapiseira fazendo leves rabiscos em seu caderno, Yashiro só consegue pensar em Hanako desde o ocorrido no banheiro. Ele não foi procurá-la e nem ela foi a sua busca, mas não é como se lamentasse por isso, muito pelo contrário, ficou agradecida. Não fazia ideia de como encará-lo depois do acontecimento e pra piorar, nada além dele saia de sua mente. Na verdade, algumas vezes ela se lembra de Tsukasa, mas é só por raiva dos dois. Os irmãos estão estranhos quando está na frente dela, principalmente o sétimo mistério escolar que a acompanhou para protegê-la de Tsukasa, mas isso não anda acontecendo. Ele não está mais interessado nela? Será que foi o correto trocar o selinho por um beijo na testa? Ela não tinha certeza de nada além de ter passado a noite acordada por causa dele. Nunca tinha passado tanto tempo escrevendo para tirar alguém de seus pensamentos e, no final, nem deu certo.

Hanako-kun idiota. O que pensa de mim?

Se questionou, querendo o ofendê-lo ainda mais. Deveria estar aliviada por Tsukasa aparecer e mostrar como Hanako-kun se sente? Ou talvez ele quisesse aquele beijo tanto quanto ela?

— Hanako-kun, seu idiota — resmungou para si mesma.

— Vocês brigaram?

Yashiro olha em direção a voz encontrando sua melhor amiga Aoi em sua frente, mas para ser sincera, ela não queria falar com ninguém naquele instante, só que não queria ser grossa.

— Hum, não exatamente.

Ela se jogou em sua mesa ao notar que a aula tinha acabado e para mais um motivo de estresse, não prestou atenção em nenhuma das aulas que teve até agora. Suspirou mais uma vez decepcionada consigo mesma.

— O que aconteceu? Você está bem estranha hoje.

Tentou novamente parecendo o mais acolhedor que ela conseguiu. Segundos passou e nenhuma resposta ela obteve, só que não desistiria tão fácil.

— Se o Hanako-san te fez algum mal, eu acabo com ele.

Ela brincou com olhares mortais e dessa vez, finalmente, conseguindo a atenção da garota. As duas foram para o terraço para conversarem melhor sobre o assunto e assim, não ter ninguém para escutá-las sobre. Até pegaram um lugar mais longe da porta para garantir que ninguém as ouvisse sem que ambas percebessem. Com o obento nas mãos, elas iniciam suas refeições com um breve silêncio que incomodou bastante Aoi que já não sabia o que fazer. 

— Aoi, como você sabe que alguém está apaixonado por você?

Com essas simples palavras, Aoi queria esganá-lo já por fazê-la se sentir insegura sobre eles. Passou inúmeros motivos para a sua pergunta, até mesmo uma possível traição, mas Nene tinha dito que nada aconteceu.

— Bom, você só sabe. Cada um mostra de maneira diferente.

— Aoi, é tão confuso. Ele não faz meu tipo, mas eu quero estar com ele — Nene colocou seu obento do seu lado, o tampando e abraçou suas pernas — Como eu faço pra ele se apaixonar por mim?

Para Aoi, sua pergunta foi muito besta como se tivesse acabado de escutar óbvio. Não teve como não sentir pena de Hanako-san por ter se apaixonado por uma garota tão lerda e desatenta como a Nene. De qualquer forma, isso a irritou.

— Nene-chan, estamos falando da mesma pessoa? Por quem você está apaixonada dessa vez?

A forma grossa da garota de cabelos azuis fez com que Yashiro se encolhesse ainda mais e claro que Aoi percebeu o erro que acaba de cometer.

Respirou fundo e continuou.

— Está na cara que Hanako-san gosta de você. Você não viu como ele ficou quando perguntei se era por ele que você estava apaixonada? Ou como ele te protegeu quando caíram no lixo do sexto mistério escolar? Ou a forma como ele te olha?

— Mas e se ele-

— Nene-chan, eu tenho certeza absoluta que ele está super apaixonado por ti.

Elas se encaram quase como se ambas estivessem em um debate prestes a guerrear por sua opinião. Aoi já viu muitas vezes a Yashiro apaixonada pela pessoa errada e mesmo assim, ela sempre está disposta a tentar conquistar esses caras, mas quando se trata de alguém que a retribui, fica indecisa? Não tinha como não se irritar.

—  Ele gosta realmente de mim?

— Sim, gosta muito.

Seu tom debochado foi logo se desfazendo quando notou o rosto vermelho de Yashiro. Seus olhos brilham como Aoi nunca viu antes. Talvez ela nunca tivesse se apaixonado verdadeiramente? Conhecendo sua amiga como ela conhece, ela sempre sonhou em ter um namorado, em estar apaixonada e buscava por isso loucamente como se estivesse disposta a viver cenas vistas nos mangás, doramas e jogos, mas foi a primeira vez que ela presenciou o cupido atingir seu coração. Não é só uma paixãozinha cheias de expectativas criadas em sua mente que nunca vão acontecer. Podia se dizer que Aoi sentiu até inveja dela por conseguir finalmente atingir seu objetivo que tanto desejou, só que nada vence sua gratidão e admiração.

— Mas se você tem dúvidas, por que não se confessa?

— E se ele me rejeitar?

— Eu chuto a bunda dele.

Yashiro riu muito. Nunca pensou que ouviria a tão fofa Aoi dizer algo tão agressivo. No final, ela sabia que Aoi só está tentando ajudá-la e ficar deprimida não vai mudar nada.

— Certo! Eu vou jogar todo o meu charme feminino pra cima dele!

Levantou-se decidida, enquanto ouve de fundo sua querida amiga se animar junto com ela.

—  O que está acontecendo de tão bom?

Tsukasa apareceu no ar encarando o rosto de Yashiro que se petrifica como um robô que acaba de sofrer um curto. Ele ouviu tudo? Deveria ignorá-lo?

— Como foi o beijo com o Amane? Ele beija bem?

Sua aproximação de uma criança curiosa fez o rosto da pernas de rabanete corar forte. Como ele consegue fazer perguntas tão constrangedoras e invasivas de uma forma tão natural?

De repente, Hitodama entrou no meio dos dois e uma luz forte saiu dela.

— Tsukasa.

Essa voz...

Seus olhos se abriram lentamente conforma o brilho desaparece, dando de encontro com Hanako em sua frente.

Ele realmente veio...

Seus olhos arregalados observam os dois se afastarem, ficando mais longe a cada passo dela. Como nos últimos dias, ela achou que ele ia deixar seu irmão fazer o que quisesse com ela, mas não era o caso? Nem tinha notado a presença de Hitodama.

Ela riu ao se dar conta de Tsukasa está sendo puxado pela gola da camisa social como em uma cena cômica de anime onde o arrastado fica balançando seus braços pra cima e para baixo. Até seu jeito assustador parecia inofensivo quando estão juntos sendo irmãos normais.

— O que foi, Nene-chan?

— Não é nada.

Ao parar as risadas, ela pega suas coisas e vão para a saída do terraço. Quem imaginaria que sua vida ganharia alguns toques de comédia em meio a todo o drama que vivenciou até o momento.