Em Tempos de Guerra escrita por Slinwood


Capítulo 11
O Coelho e a Raposa




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É claro que as coisas só iriam piorar.

Como se já não bastasse que Kazuko agora levasse semanas para encontrar um único esconderijo de Orochimaru, ela também estava sendo caçada.

Perfeito.

Lindo até.

Kazuko tinha que agradecer à Jiraiya por essa informação. Enquanto repousava em uma caverna minúscula a caminho da Vila Oculta da Cachoeira, um sapo mensageiro surgiu por trás de uma rocha coberta por musgo. Ele não tinha nada de especial, a não ser por um rolo de pergaminho preso às costas. Assim que Kazuko o pegou, leu o seguinte recado:

"Nosso amigo Danzo gosta mesmo de aprontar, viu? Fique alerta; vinte cães estão se aproximando, e outros vinte estão guardando os portões da Serpente. Este velho Sapo está em busca de novas informações, mas a deixarei atualizada. Tente não morrer."

—... mas que merda - ela disse entre os dentes ao mesmo tempo arremessando o pergaminho contra uma parede. A kunoichi precisou fechar os olhos e respirar fundo algumas vezes até se acalmar:

— É, amigo, parece que os planos vão ter que mudar.

O sapo mensageiro não respondeu.

X

— Hm... rastros bem aqui. O alvo partiu na direção das oito horas - disse o ninja com máscara de macaco. Ele estava agachado bem na entrada da caverna, analisando o solo com a ponta dos dedos.

— À quanto tempo? - perguntou outro vestindo máscara de pardal.

— Eu diria dois dias, no máximo.

— Tem certeza? Tem marcas profundas ali no fundo. Ele deve ter usado esse lugar como abrigo - retrucou a kunoichi com máscara de urso.

— Então qual é o seu chute, Mitsuki? - perguntou o Pardal.

— Partiu a três dias. Estava sozinho.

As Raízes se entreolharam por um instante até todos assentirem com a cabeça:

— Bom, de qualquer forma devemos descansar um pouco, não acham? - perguntou outro ninja - talvez o mais ignorado do quarteto - que vestia máscara de raposa.

— Pode ser. Mas já que deu a ideia, por quê não vai até aquele riacho que vimos e enche nossos cantis, Risachi? - comentou o Pardal.

A Raposa apenas deu de ombros, passando entre os companheiros que já se sentavam pelo chão. Após alguns minutos de caminhada ele chegou até o local. Agora, olhando mais de perto, não parecia grande coisa; se tratava de uma clareira em meio a floresta densa, com árvores de copas baixas e ar úmido, sufocante. O riacho em si era suficientemente limpo e tinha água fresca. Enquanto se abaixava e enchia os cantis um por um, o shinobi refletia, imerso nos próprios pensamentos.

No entanto, bem quando Risachi se levantou para voltar ao acampamento, ele pôde ver uma leve movimentação pelo canto do olho. Agindo rapida e silenciosamente, atirou uma série de kunais naquela direção ao mesmo tempo em que buscava se proteger de possíveis ataques. Por um momento, escondido ali perto de um tronco caído, apenas o som de insetos e de seu próprio coração podiam ser ouvidos, mas assim que sentiu um arrepio na espinha ele soube: era tarde demais.

Por trás de sua cabeça duas mãos surgiram, e num movimento preciso seu pescoço foi quebrado, fazendo o estalo doentio ecoar por toda a clareira.

Foram as mãos de Kazuko as responsáveis pelo assassinato.

— ... descanse em paz, Risachi - ela murmurou de cabeça baixa ao encarar o corpo tombando aos seus pés. A kunoichi precisou de um instante para se recuperar, mas engoliu em seco e se lembrou do que precisava ser feito. Após um tempo seguindo àquela equipe, Kazuko havia notado que o shinobi era discreto, raramente falava. Além disso, era suficientemente parecido com ela para que ninguém notasse a substituição que faria. Ajoelhando-se ao lado do corpo ainda quente, começou a trocar sua própria armadura pela de Risachi.

Em minutos tudo estava pronto: tanto o uniforme quanto a máscara de raposa couberam quase perfeitamente. Seu cabelo estava amarrado para trás assim como ele o usava. A maior parte do equipamento da kunoichi já havia sido mandado de volta para uma base longe dali; o restante estava escondido por entre a armadura que vestia. A única coisa a fazer agora era se livrar do corpo.

Doton! Cova de lama!

Com alguns selos, um círculo de terra se abriu abaixo de Risachi e o engoliu feito areia movediça, e nenhum rastro do que acontecera podia ser visto. Com a consciência pesada, Kazuko tomou fôlego por baixo da nova máscara, recolheu os cantis que continuavam à beira do riacho e voltou ao acampamento como se nada tivesse acontecido.

X

— Ele não está longe, se preparem - sussurrou Mitsuki ao restante da equipe. Eles corriam pelas árvores à toda, mas aos poucos foram desacelerando. Com um sinal da Ursa, os quatro se separaram para cercar o alvo. A mais ou menos sete metros abaixo de onde estavam, o renegado descansava sentado sobre uma grande pedra, assobiando e balançando as pernas no ritmo da canção.

"Hm, então vai ser assim...", refletiu Mitsuki. Ela buscava por sinais de fios ou qualquer coisa que acionasse armadilhas antes de agir, mas o Pardal e o Macaco se lançaram ao mesmo tempo pelos flancos do inimigo mascarado. Tudo aconteceu tão de repente e em câmera lenta que ela não conseguiu gritar para que parassem.

Doton! Cortina de poeira!

Com uma série de selos, o renegado criou uma grande explosão de poeira, e apenas os gritos dos ninjas e o som de lâminas se encontrando podiam ser ouvidos.

Sem conseguirem enxergar mesmo com os rostos protegidos por suas máscaras, "Risachi" e Mitsuki mantiveram suas posições. A batalha no solo ficava mais intensa a cada segundo, até o momento em que tudo ficou silencioso. Mitsuki engoliu em seco e pôde sentir uma gota de suor escorrer de sua testa. Não havia nem mesmo o som de animais ao redor, que com certeza haviam se afastado para se protegerem. Foi só com um alto assobio vindo do lado oposto em que estava que a Ursa voltou a se mexer.

Se movimentando com o máximo de cuidado, ela chegou até onde a Raposa estava. O companheiro levantou um dedo sobre os lábios em sinal de silêncio e com uma mão mandou que ela o seguisse. Precisaram desviar de algumas armadilhas para sairem da área tomada pela poeira, mas enfim conseguiram. Antes que qualquer um pudesse dizer algo, duas sombras os cercaram com espadas em mãos:

— Ah, são só vocês - disse uma voz feminina que vestia máscara de coelho. Mitsuki se lembrava dela do início da missão. Era chamada de Su - Jurava que tínhamos encontrado o alvo. Onde está o resto da sua equipe?

— Foram atacados pelo renegado. E o que aconteceu com a sua? - indagou Mitsuki.

A kunoichi de cabelos púrpura bufou enquanto guardava a espada nas costas e se aproximava:

— Estão presos em armadilhas ao Norte. Um clone do alvo foi o responsável, mas conseguimos segui-lo até aqui antes dele desaparecer. Gou, faça um reconhecimento da área.

O parceiro de Su assentiu com a cabeça e partiu à frente na direção da nuvem de poeira.

— Descobriram algo relevante durante a luta com o inimigo? - perguntou "Risachi".

— É, na verdade sim. Por algum motivo o clone das sombras parecia esperar pela gente. Estava sentado, assobiando - Su respondia friamente enquanto encarava a Raposa bem nos olhos - Levou menos de um minuto para eliminar o resto da minha equipe. O relatório da missão não mentiu quanto disse para acabarmos com isso rápido e em grupo.

Antes que a Raposa pudesse perguntar mais alguma coisa, Gou retornou e se posicionou entre os três:

— A poeira começou a baixar, mas ainda é difícil enxergar mais do que um metro adiante. Também não sinto o cheiro do alvo, apenas o de seus companheiros. Foram nocauteados e estão imobilizados até o pescoço com algum jutsu doton.

— Tsc, preciso tirá-los de lá agora. Vamos - disse Mitsuki, mas bem quando o novo quarteto começava a se mover, o solo começou a tremer e rachaduras imensas se abriram abaixo deles. Por muito pouco "Risachi" não foi engolido pelo chão:

— Mas que porra é essa!? - gritou a Coelha.

— Nosso amigo renegado nos enganou! Escondeu o próprio cheiro para nos encurralar! - Mitsuki respondeu arfando enquanto subia na primeira árvore que achou pela frente. Quando todos pareciam em segurança e longe do chão, perceberam que já não estavam mais sozinhos. No meio de toda aquela bagunça uma clareira se formou, e no centro dela o inimigo vestindo máscara branca com marcas verdes estava de pé, com uma naginata* em mãos.

— Esse imbecil vai ficar brincando com a gente? - Gou reclamou por baixo de sua máscara de cão.

— Me parece que sim - "Risachi" murmurou para si mesmo.

Cada membro do quarteto desceu de seu abrigo e começou a se dirigir para um ponto da clareira até formarem uma cruz ao redor do inimigo mascarado. Ele não disse absolutamente nada enquanto as Raízes apanhavam suas espadas e se preparavam para a batalha. Tudo o que ele fez foi girar sua arma e a apontar na direção de Gou. Com uma risada seca e sem emoção ele respondeu ao desafio:

— Vai vir atrás de mim primeiro? Por mim tudo bem.


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Notas finais do capítulo

Glossário:
Naginata* - "A naginata é basicamente uma lâmina de katana montada em um cabo de lança. (...) Com a proibição de qualquer pessoa, no Japão Medieval, exceto samurais portarem ou treinarem com katanas, mulheres e monges se especializaram no uso destas armas, (...)"



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