Em Tempos de Guerra escrita por Slinwood


Capítulo 10
Complicações




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Três dias.

Haviam três dias que Kazuko e Jiraiya discutiam uma aliança temporária.

No momento, ambos estavam sentados num dos quartos de uma hospedaria barata, ainda no centro da Vila da Grama. Bebiam chá um de frente para o outro, mas a situação não era exatamente relaxante. Kazuko tinha um veia saltando da testa enquanto tamborilava impaciente os dedos sobre a mesa. O sannin a olhava com interesse, sempre de testa franzida e vez ou outra coçando a cabeça. Ainda não acreditava cem por cento na kunoichi, e por isso continuava a fazer as mesmas perguntas, sem dúvida procurando por buracos em sua história:

—Okay, então deixa eu ver se entendi direito - nesse instante ele hesitou com a boca aberta e apontou o indicador na direção da jovem - Você é mesmo a Sasaki Kazuko que conheci faz, o que, dez anos?

—Uhum - ela murmurou, balançando a cabeça.

—Então isso quer dizer que você não morreu durante o resgate de Minato a uns meses atrás  - novamente ela concordou. O sannin agora cruzara os braços e fechara os olhos, refletindo enquanto continuava a perguntar:

—E por alguma razão você se tornou uma renegada, deixando a Folha para trás, agindo por conta própria como o Espírito Exilado do Fogo-

—Por favor não me chame assim, é ridículo- - a jovem disse por entre os dentes.

—... , invadindo esconderijos do Orochimaru, libertando prisioneiros a torto e a direito-

Pare— 

—... e implorando pela minha ajuda. Esqueci alguma coisa? 

 Kazuko o fuzilava com o olhar, pronta para se levantar e desistir de toda aquela enrolação e história de "pedir ajuda". Jiraiya apenas murmurava de olhos fechados, esperando uma resposta.

Droga, onde fui me meter? , pensou a kunoichi.

—Não. Isso é tudo.

—Hmmm não, não é - com esse comentário Kazuko finalmente se levantou abruptamente, a um segundo de perder a cabeça.

—Se quer perguntar alguma coisa pergunte logo, mestre, não posso mais perder tempo.

Ele finalmente abriu os olhos, mas ao falar sua voz parecia diferente, talvez mais autoritária:

—A quem você deve obediência?

De repente a língua de Kazuko começou a coçar com o impulso de contar a verdade, mas a kunoichi resistiu e deu uma resposta automática:

—A mim mesma.

—Mentira. Por que está atrás de Orochimaru?

—Ele é inimigo da Folha e você sabe muito bem disso.

—Não, ainda não tenho provas suficientes para provar nada. E se estamos falando de inimigos você também é uma, não é? - a jovem kunoichi engoliu em seco antes de responder.

—É claro que não-

—Para quem você trabalha?

—Para mim mesma.

Mentira. Como conseguiu a cura para o veneno de Sasori?

A cada pergunta a garganta de Kazuko coçava e apertava mais. Sua cabeça começou a latejar e uma voz interna a coagia a cuspir toda a verdade, mas ela a reprimia:

—É confidencial.

—Besteira. Para o que você trabalha?

—Que tipo de pergunta é essa!? Quer saber, eu desisto - a jovem bateu com um punho na mesa e foi até a porta, mas antes de sair ela olhou de relance na direção de Jiraiya - E se acha que um genjutsu como esse me faria falar está muito enganado. Esqueça o nosso acordo.

—Espere Sasaki-san-

Adeus.

Assim que bateu a porta ela pode sentir que o efeito do genjutsu fora cortado. Enquanto voltava para o próprio quarto decidiu que já estava mais do que hora de sair da vila. Afinal, haviam ninjas da Pedra e assassinos por todos os lados. Seus informantes já tinham escrito que inúmeras batalhas importantes estavam sendo travadas pelos países e que a guerra provavelmente estava próxima do fim. Não demoraria para as ruas ficarem lotadas de fugitivos e desertores também.

Além de tudo isso, ela não podia correr o risco de ser identificada. Mesmo com todo o cuidado que tomava, boatos e lendas já circulavam pelos vilarejos que passava. A chamavam por muitos nomes, mas o mais comum era O Espírito Exilado do Fogo.

Ridículo.

Chegando ao quarto Kazuko se pôs a organizar rapidamente seus pertences; armas, mapas e suprimentos para uma nova viagem. Na verdade ela fazia tudo ao mesmo tempo: guardava, comia e vestia o uniforme de batalha. Aquilo era proposital para manter sua mente ocupada e longe de se martirizar por não conseguir se aliar a Jiraiya.

Após alguns minutos ela estava pronta para partir, só não do modo convencional. Deixara ienes suficientes para pagar pela estadia em cima da mesinha de cabeceira. Ela não podia permitir que outros possíveis espiões soubessem de seu paradeiro, por isso sairia pela janela. Pouco antes de vestir a máscara de rosto inteiro houveram duas batidas na porta.

Ela realmente pensou em não atender mas as batidas continuaram, e eram tão irritantemente altas que só podiam ser de uma pessoa. Bufando de impaciência, disse em voz alta:

—Entre logo, mestre.

A cabeça do sannin surgiu pela fresta da porta:

—Oh, já está partindo, é?

—...

—Foi que pensei. Eu só queria mesmo me desculpar. Acho que entende os meus motivos, não é?

—Se essa é sua ideia de desculpas eu vou embora.

, tá bom, me desculpe, Sasaki-san.

—Por? - ela começou a pressionar com um pequeno sorriso.

—An, por lançar um genjutsu em você.

—E..?

—E te fazer esperar três dias por nada.

—E...? - agora o sannin parecia confuso, a olhando sem entender.

—He, só estou brincando com o senhor. Está perdoado, mas tenho que ir.

—Espere! Tenho uma resposta para você - a jovem esperou enquanto ele pigarreava - Mesmo sem entender seus motivos acho que posso confiar em você. Bem, pelo menos por enquanto. Orochimaru tem sido meu amigo desde que éramos pirralhos, mas a alguns anos venho percebendo que seu comportamento se tornou bastante suspeito. Ele tem tido muitos encontros com o velho Danzo, e aquele lá só pode significar problemas. Para entender de verdade se são inimigos da Folha vou precisar de ajuda. Da sua ajuda, Sasaki-san. O que me diz? Parceiros?

Com um sorriso largo se formando a jovem se aproximou de Jiraiya e estendeu a mão:

—Tirou as palavras da minha boca. Parceiros - o sannin a olhou rindo como um bobo e deu um aperto firme em sua mão.

—Ótimo, agora vá. Manterei contato via sapo mensageiro, por isso fique atenta.

—Também mandarei recados através das minhas serpentes. Diga se souber de algo importante.

Assentindo com a cabeça, ambos soltaram as mãos, e Kazuko finalmente pôde vestir sua máscara de madeira e se posicionar no parapeito da janela. Pouco antes de bater a porta, Jiraiya falou em um tom bastante sério e alto o suficiente para que apenas ela escutasse:

— Eu sei que você e a Hakuja Sennin fizeram um trato, Sasaki-san - um calafrio intenso percorreu sua espinha assim que ouviu o nome da Sábia, mas ela ainda sim se manteve calada e imóvel.

—Não pense que a Cobra quer ajudá-la. Tudo o que ela faz é para o próprio bem, e ela não se importante em sacrificar alguns ninjas pelo caminho.

Assim que encontrou sua voz, Kazuko respondeu quase que imediatamente.

—Acha que sou criança? Conheço os riscos, sei que minhas ações terão muitas consequências, e as aceitarei de bom grado. É por uma boa causa.

—He, sempre é por uma boa causa. Adeus, Sasaki-san. Nos veremos em breve.

X

Era uma madrugada fria na Vila da Folha.

Mei era uma das poucas almas à vista; a jovem Raíz corria pelos telhados e via guardas, um ou outro gatuno roubando alguma casa, e assim seguia. A kunoichi vestia seu uniforme desbotado da ANBU junta da máscara de coelho, mas o ar frio ainda a fazia tremer por debaixo de todo o equipamento.

Assim que chegou ao ponto de encontro numa viela qualquer dois homens da ANBU se aproximaram e mandaram que ela os seguisse. Pelas vozes e máscaras que usavam não eram ninguém que ela conhecesse, o que era bastante incomum. Mei crescera na base das Raízes e participara de missões com praticamente todos os membros, novos e antigos. O que quer que Danzo estivesse planejando não devia ser nada banal.

Após minutos de caminhada para se certificarem de que não estavam sendo seguidos, finalmente partiram em direção a reunião. O esconderijo era simples mas espaçoso, e tão amplo a ponto de fazer espiões se perderem pelo subterrâneo. Os corredores estavam cheios de vida e movimento, com membros conversando e mostrando documentos uns aos outros.

Ao entrar no grande salão de reuniões de emergência todos os presentes se viraram na direção dos três ANBU com excessão de Danzo. Deviam haver ao menos cinquenta deles sentados ao redor de uma mesa oval, e apenas três lugares continuavam vazios. Sem mais cerimônias, o trio se separou e sentou nos lugares determinados. Todas as conversas paralelas morreram e a única porta do lugar foi fechada. Com um longo pigarro, Danzo se levantou apoiando as mãos na mesa e se dirigindo ao grupo de mascarados:

—Sejam todos muito bem vindos. Agradeço pela rapidez em responderem ao chamado. Como devem saber, a guerra já está se aproximando do fim, e o País do Fogo definitivamente saíra vitorioso apesar de tantas baixas. Muitos rumores tem se espalhado pela vila sobre Sarutobi Hiruzen se aposentar do cargo de hokage e passar o cetro para um shinobi mais jovem e capacitado, e minha intenção como membro do conselho da vila é indicar Orochimaru.

Nesse momento todos murmuraram em aprovação, mas logo fizeram silêncio para que o líder continuasse:

—Pois bem. Sabendo disso, terei de designar alguns de vocês para protegerem Orochimaru assim como seus principais laboratórios. Tudo o que esse sannin lendário tem feito até hoje foi para o bem da Folha, mas existem inimigos por toda parte que não compreendem tal fato - novamente murmúrios surgiram na mesa, mas dessa vez Danzo estendeu uma das mãos pedindo silêncio - Todos já devem ter ouvido sobre os ataques do Espírito Exilado do Fogo, claramente um shinobi renegado que segue o próprio senso de justiça; uma justiça cega, infelizmente.

"Tais ações já não serão toleradas. Não permitirei que um justiceiro mascarado continue solto, andando de vila em vila, enquanto pudermos fazer algo a respeito. Designarei vinte dos melhores rastreadores nesta sala para lidar com ele. Vinte dos melhores lutadores irão proteger os laboratórios. Os dez restantes servirão como guardas  e apoio de Orochimaru. Alguém discorda sobre a divisão?"

Os cinquenta presentes se entreolharam apreensivos, mas niguém disse uma palavra:

—Ótimo. Então daqui a dois dias iniciaremos as missões. No envelope que será entregue à vocês pelo Hamiro estarão todas as informações necessárias, além de seus nomes durante as tarefas. Hamiro, por favor.

De um dos cantos do salão um ANBU de quase dois metros surgiu das sombras e começou a distribuir os envelopes. Mei o leu rapidamente:

"À KUNOICHI 008254

Nome provisório: Su

Missão: Assegurar a eliminação do renegado popularmente entitulado como "O Espírito Exilado do Fogo". Fundamental a cooperação com os outros dezenove encarregados para a tarefa.

Descrição do elemento: Identidade oficial desconhecida. Possui cabelos castanhos na altura do ombro, usa máscara branca com marcas irregulares na cor verde, bandana preta com o símbolo da Folha riscado, uniforme escuro com capuz e colete leve por cima.

Última aparição: À dez quilômetros da fronteira da Vila da Grama com a Vila da Pedra.

Observações: O elemento aparenta ser de nível jonin/ANBU. É estrategista. Utiliza ataques de médio à longo alcance. Necessário agir rapidamente para evitar maiores conflitos ou fuga."

—Muito bem. Algum comentário? - ninguém levantou a mão - Perfeito. Então irei para as considerações finais. Sugiro que terminem suas missões o mais silenciosa e discretamente possível. Daqui a três semanas teremos uma importante tarefa na Vila da Chuva, e precisarei de todo o apoio. Dispensar.


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