In The Mood For Love. escrita por antônia


Capítulo 3
parte três.




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IN THE MOOD FOR LOVE
parte três: It is a restless moment. She has kept her head lowered... to give him a chance to come closer. But he could not, for lack of courage. She turns and walks away.


25.
Em 1186, André Capellão escreveu As Regras do Amor. Apesar de Lily não acreditar nelas, naquela manhã, foi impossível não reconhecer algumas similaridades:

Regra Nº16: Quando o amante avista seu amado, o seu coração bate mais rápido.
Regra Nº24: Aquele que ama sempre age pensando em seu amado.
Regra Nº27: Um amante nunca se cansa do toque da pessoa que ama.

Ainda tinha outros pontos que ela se veria concordando com, mas, naquela manhã, observando o corpo adormecido de James (e se perguntando qual era o seu nível de obsessão por fazer isso), aquelas eram as únicas regras que ela conseguia se lembrar.

Uma das outras coisas na cabeça de Lily Evans era que, em quarenta minutos, ela deveria encontrar as suas amigas na versão bruxa e inglesa de brunch. Se Lily queria sair do lado de James tão cedo? Respostas variam.

Uma parte de Lily queria ficar, usar a desculpa que ela perdeu o horário e suas amigas fingiriam acreditar na mentira. Outra parte torcia para que ele acordasse logo e a convidasse para tomar café. E, a terceira e última parte, queria abandoná-lo logo e ver qual seria a reação dele na manhã seguinte.

Lily Evans não seguia nenhum dos seus próprios conselhos: ela se levantaria em cinco minutos, só precisava vê-lo mais um pouco.
E cinco minutos se tornaram dez e, quando dez estava prestes a se tornar quinze, ele abriu os olhos e ela fingiu que estava focada em outra coisa.

“Quando você acordou?” – James esticou o braço para pegar os óculos largados na cabeceira e, com a mão livre, acariciou o cabelo ruivo. Merlin, o cabelo dela estava um caos, os olhos pareciam menores e, na bochecha, ela tinha uma marca do travesseiro.

“Há alguns minutos.” – ela ergueu o punho de James, que tinha dormido com o relógio, e olhou o horário. – “Merda. Preciso ir logo, tenho que me encontrar com as meninas.”
“Você não pode ficar?” – quando ele perguntou, ela já estava de pé, procurando as suas roupas. – “Pensei que o plano fosse ficar na cama até cansarmos um do outro.”

“Tire suas conclusões, então.” – ela disse rindo. Lily jogou a blusa dele na cama e vestiu o sutiã. – “Amigas antes de garotos, isso é uma regra universal, James. Nem você pode mudar isso.” – ele se levantou e, ao perceber que ele ia em direção a ela, Lily recuou até as suas costas atingirem a parede mais próxima.

“Nem se eu tentar te persuadir?” – a frase mal tinha sido terminada quando ele a beijou. Talvez ele nem tenha, de fato, dito tudo aquilo e as palavras foram montadas no cérebro de Lily. De uma forma ou de outra: James Potter beijava Lily Evans e eles apreciavam todos os milésimos de segundos.

“Eu preciso de passar as próximas duas horas falando de você, James, ou então eu vou explodir.”
“Você vai me abandonar para falar sobre mim? Por que você não fala o que tem para dizer sobre mim comigo? Eu estou aberto a sugestões e elogios, e você não precisa usar roupas nem enfrentar o frio de Londres para fazer isso.” – Enquanto dizia, ele abriu o fecho do sutiã dela.

“Se eu te contar, o seu ego vai inflar tanto que corro o risco de morrer asfixiada.”
“Não se eu dizer o que acho de você. Aí o seu ego pode lutar com o meu por espaço.” – ele descansou a testa no ombro de Lily e era adorável quando ele fazia aquilo. – “Você não pode ficar mais vinte minutos?”

“Poderia se você tivesse me pedido vinte minutos atrás.”
“Isso não é justo, Lily. Você não me acordou e eu tenho que passar pelo menos dez minutos do meu dia beijando você ou então eu tenho um colapso.”

“Se você considerar o que fizemos durante a madrugada, então você já concluiu a sua meta.” – Agora, ele olhava para os olhos dela, e os olhos de Lily Evans brilhavam.
“Eu não gosto de acordar com você prestes a ir embora.” - James disse em um sussurro, fazendo com que Lily prendesse a respiração. Merlin.

“Acorde mais cedo da próxima vez então.” – ela falou, ficando nas pontas dos pés e o beijando-o antes de empurrá-lo.

Ele a observou com um sorriso, antes de ir atrás dela mais uma vez.


26.
“Por que você está sem sutiã? E atrasada?” – Marlene perguntou, assim que Lily jogou o suéter nas costas da cadeira. Com um olhar, ela entendeu. – “Oh não.” – Oh, sim. – “Você estava na casa do James?”

“Sim. Eu ia conseguir chegar no horário, mas ele consegue ser muito encantador e eu acabei tomando o uma xícara de chá… no colo dele.”
“Uau.” – Emmeline exclamou. – “Por que você sequer se importou em vir, então? Eu não teria pensado duas vezes.”

“Lily precisa de nós.” – Alice largou o croissant no prato. – “Ela acha que nós somos conselheiras amorosas ou algo do tipo, aposto que ela está surtando internamente sobre o que fazer em relação ao James e só largou ele para se impedir de se confessar para ele enquanto eles tomam café.”

“Você me conhece tão bem, Allie, que as vezes é assustador.” – Lily disse, se servindo uma nova xícara de chá. – “Vocês já sabem o que eu vou dizer… atingir a perfeição é algo bem possível ao lado de James Potter e eu quero que ele se apaixone por mim. A mesma coisa que eu disse anteontem e na quinta e na quarta e todos os dias antes disso desde que começamos essa idiotice de matéria para o dia dos namorados.”

“Ok. Você quer que eu repita o mesmo discurso sobre “dar tempo ao tempo” ou você tem alguma coisa diferente para eu ser a favor de uma luz vermelha?”
“Ou de uma luz verde.” – Marlene completou Emmeline.

“Eu não sei se ele está agindo como age com todas as garotas, mas, talvez eu tenha feito algum progresso? Nós combinamos de sair no Dia dos Namorados e, mesmo ele tendo dito que era um encontro, acho que ele só vê o plano como Algo Que Disse Na Hora Mas Que Não É Para Ser Levado A Sério… porém, ele me pediu para ficar hoje, então ele queria passar mais tempo comigo?”

“Mas ele queria passar mais tempo com você para sexo ou por quê é você?” – Emmeline perguntou, recebendo um chute de Alice na canela. – “Ai! Alice, essa é uma informação importante em relações casuais. Você nunca esteve em uma, mas nós três somos profissionais no assunto e alguém tem que fazer A Pergunta.”

“Nesse caso, acho que é a segunda opção. No início…” – Lily interrompeu tentando escolher as palavras certas e passar a manteiga no pedaço de torrada. – “Da primeira vez que transamos, ele foi embora na manhã seguinte e era justificável porquê tínhamos que trabalhar. Na manhã seguinte da segunda vez, ele tinha um jogo para cobrir e disse tchau com um post-it. Hoje, ele disse que odeia acordar quando eu estou prestes a ir embora. E eu sei que isso poderia ser interpretado como que ele prefere acordar com a cama vazia, mas não acho que ele seria tão persistente em me fazer ficar se pensasse isso.”

“Hm.”
“E… nós não passamos vinte minutos nos beijando ou… bem, vocês sabem… nós só ficamos conversando e falando sobre o que eu faço com vocês geralmente e ele tem um jogo hoje a noite. Nós estávamos conversando sobre as nossas rotinas e eu sei que não tem nada mais entediante que isso, mas foi tão bom e normal e simples e…”

“Deixe eu adivinhar, ela vai dizer algo como “foi tão, James” ou “perfeito.”” – Marlene disse, interrompendo Lily, que nem se deu o trabalho de terminar o que estava dizendo após esse comentário. – “Nós entendemos, você está agindo como a Alice agiu depois que acordou do seu sono de quatro anos e percebeu que estava apaixonado pelo nosso querido Frank.”

“Que vai terminar comigo, por sinal.”
“Ele não vai, Alice.”
“Ele vai. Eu fiz o teste da Seminário das Bruxas e o Frank mostra todos os sinais. Sem contar que a mãe dele me detesta e se todas as pessoas em Hogwarts achavam que nós íamos nos casar logo depois da formatura e dez anos se passaram e nós nem tocamos no assunto, é sinal de que ele não vai se casar comigo e vai me largar daqui um ou dois anos.”

“Você está exagerando, primeiro que não se confia em nada da Seminário das Bruxas e segundo que Frank não é assim e você sabe disso, ele é apaixonado por você desde que aprendeu a respirar. Aposto que ele está esperando vocês completarem quinze anos de namoro porque ele gosta de números legais.”

“Ok, Len. Frank resolvido… você quer dizer algo sobre o Black antes que nós retornemos a falar sobre o Potter?” – Emmeline perguntou e, em seguida, viu as três melhores amigas revirando os olhos. Ao mesmo tempo. – “É sempre assim e eu quero falar sobre sapatos e Alice ainda tem que contar sobre algum caso bizarro de assassinato que aconteceu no norte do país, então, por favor, sigam o programa.”

“Nada a comentar, já mandei cartas para vocês. Ele me beijou na sexta, foi um pouco menos do que eu esperava, vamos sair no dia dos namorados e eu seguirei todas as dicas que a nossa sexóloga, Lily Evans, vai publicar na próxima sexta-feira…”
“Sinto muito, Len, mas o tema é Ele Não Está Tão A Fim De Você.”
“Então trate de mudar, ninguém quer ler algo pessimista na véspera do dia dos namorados.”

“Olha só o que ela se tornou.” – Emmeline riu, antes de dar um gole no seu chá. – “Ano passado, nós três estávamos indo a um karaokê e choramos assistindo Bridget Jones no apartamento da Lily.” – ela suspirou – “Isso é triste. Todas as minhas amigas entrando em um relacionamento sério… eu jurava que vocês iam ser solteironas para o resto da vida de vocês, agora vou ter que procurar novas companheiras.”

“É verdade, Lily, se eu ler algo que pode se encaixar no meu relacionamento, eu vou chorar assistindo Bridget Jones depois de terminar com o Frank por uma carta e receber um “Tudo bem” como resposta.”

“Eu vou pensar, eu tenho três dias para escrever… mas quem sabe?” – ela falou. E então, enquanto ela encarava o recém-chegado ovo com bacon, Lily percebeu o silêncio: o sinal de que deveria voltar a falar. – “Ok, aqui vamos nós. Eu conversei com ele sobre se ele achava que podia se apaixonar por mim de novo e então fiz a coisa mais estúpida da minha vida.” – Marlene estava bastante interessada, até o momento, a coisa mais estúpida tinha sido a manhã pós-Natal que Lily foi comprar vodka, usando um sobretudo e meias com renas. – “Roubei um livro da estante dele, escrevi uma mensagem, vendi o livro no primeiro sebo que encontrei vindo para cá e disse para James que, se ele achar o livro de novo, é o sinal que fomos feitos um para o outro.”

“Merlin, Lily, eu achava que você queria conquistar o Potter.”
“Você tem noção que essas coisas só dão certo em filmes ou livros, né?” – Marlene disse. – “E só dão certo porque tem um roteirista ou um ator que sempre resolve a situação.”

“Me pareceu ridiculamente poético no momento. E talvez o James já tenha se esquecido sobre isso e não vai precisar do maldito sinal quando eu falar para ele que estou apaixonada.” – Alice se engasgou com o leite.

“Quando você tomou essa decisão?”
“Durante o café? Ontem a noite? Dois dias atrás? Eu não sei, ando pensando muito nisso frequentemente. Eu só quero que ele saiba e eu tenho a esperança de que, com uma confissão, alguma coisa mude? Porque eu não consigo lembrar do que acordar sem a vontade de querer conversar com ele e, honestamente, tenho certeza de que, no nível em que eu estou, as coisas vão começar a se escalar rápido e, quando eu perceber, vou ser incapaz de viver sem ele. E aposto toda minha pequena fortuna que quando eu chegar nesse ponto, ele vai me largar.”

“Muito para pensar a respeito.” – Emmeline disse. Se fosse qualquer outro casal em questão, a loira diria que aquilo era loucura, que era impossível se apaixonar por alguém daquela forma em duas semanas.

Mas, se tratando de James Potter e Lily Evans, ela sabia que as coisas seriam e eram exatamente assim. Eles demorariam para encontrar o tempo certo, para estarem na mesma frequência e para terem a mesma profundidade de sentimentos. Eles levariam tempo, como tinham levado.

Emmeline não poderia afirmar, no entanto, se tudo aquilo resultaria em alguma coisa. Se o relacionamento deles seriam algo que duraria décadas ou se seria algo curto que duraria menos de uma semana. Ela sabia que Lily estava apaixonada, que os sentimentos da amiga tinham raízes profundas, mas ela não conseguia dizer se existia alguma decisão que não seria dolorosa.

“Devo esperar até o dia dos namorados? Ou mais? É como se eu estivesse morrendo aos poucos. Eu sei que não estraguei ele, mas eu arruinei as nossas chances, não é? E… não sei se quero me aprofundar ainda mais nisso sem que ele saiba dos meus sentimentos. Não quero descobrir o que ficar tão perto dele e nunca poder tê-lo.”

“Então diga na primeira chance que tiver.” – Alice falou. – “Assim que o pensamento aparecer na sua cabeça, você tem que parar o que é que está fazendo e dizer. Você tem que falar logo, se não as coisas vão só se acumular.”

“Sim. Lily, você tem que considerar que isso não é uma relação de duas semanas, não é como se as suas preocupações não tivessem base. Eu não acho que os seus sentimentos apareceram de uma hora para a outra em quatorze dias. Para mim, eles sempre estiveram lá, esperando alguma oportunidade para assumir o controle e, se você precisa lidar com alguma coisa, é melhor lidar com elas antes do 30.”

“Isso é verdade.” – Emmeline concordou. – “Se você acha que o momento é esse, então diga para ele. E se James Potter for idiota o suficiente, nós sempre podemos ignorar nossos problemas com uma garrafa de tequila e Renée Zellweger.”

“Ok, garotas. Eu vou passar o resto do meu domingo levando tudo isso em consideração, mas é bom ter o apoio de vocês. E com o tópico James Potter terminado, eu passo a palavra para Alice Prewett e a História Que Vai Fazer Com Que Eu Vomite Todo Meu Café Da Manhã.”
“É, como sempre, um prazer.”


27.
Antes de qualquer comentário, é preciso esclarecer uma coisa: James Potter não desvendou o código das cores dos sapatos de Lily Evans por ter algum interesse nela. Ele é um cara observador, apenas.

A única razão por ele ter uma página do seu caderno para manter um registro é porque ele percebeu um certo padrão e achou que uma investigação era necessária.
E, quando a investigação terminou, o único interesse que James Potter tinha em relação a Lily Evans era sexual. Luxúria. Paixão. Não que ele se sinta diferente, é claro.

Com isso dito, quando Lily entrou na sala de redação naquela manhã de segunda-feira e colocou o casaco dela atrás da cadeira, a terceira coisa que James observou foram os sapatos dela. Eram roxos e ele não tinha ideia do que aquilo significava.

James Potter acreditava que as cores representavam como a noite anterior tinha sido. Se ela tivesse ficado em casa sozinha, na manhã seguinte ela apareceria com sapatos pretos; se saísse com as amigas usaria a cor azul, verde ou qualquer tonalidade entre essas duas; se tivesse tido um bom amante, usaria cores quentes e se fosse um péssimo amante usaria marrom ou algo nude.

Mas nunca roxo.
E, como nas duas manhãs após terem passado a noite juntos, lá estava ela. Com roxo.

Talvez a sua hipótese estava errada, é claro. Dessa forma, anos de pesquisa e as tentativas de escutar pedaços de conversa na copa do Jornal tinham sido desnecessárias. Ou, talvez, a cor significasse um ótimo amante (porque bom e ótimo tem grandes diferenças)… ou um horrível amante.

“Lily.” – ele a chamou. Estavam andando pela Columbia Road, tentando juntar informações para o último texto a ser publicado no jornal: o de conselhos amorosos. Um dos assuntos abordados era flores. – “Qual é a sua opinião sobre roxo?”

Ao lado dele, Lily o encarou. – “Eu gosto da cor. Geralmente o vermelho do meu cabelo não combina com tons tipo púrpura, mas eu gosto de roxo.”

“Certo.” – James disse. – “Mas se o roxo fosse uma pessoa. Você acha que ela seria sua amiga ou algo a mais?”
“Bem, James, eu nunca cheguei a personificar cores… se você precisar visitar um medibruxo ou então querer um número de um psicólogo, eu posso te ajudar.”

“Azul por exemplo seria um amigo, certo?” – ele decidiu ignorar o comentário dela. Lily escondeu um sorriso com a mão. – “E verde também. Vermelho seria um ex-namorado. E roxo seria…”
“Um amigo de infância?”

Ele parou de caminhar, fazendo com que Lily parasse também. – “Amigo? Ok, eu consigo ver isso. Mas seria um amigo mais… você sabe…”
“Hm… o meu melhor amigo?” – ela perguntou, não tendo ideia do que ele estava sugerindo. – “Tem centenas de floristas ao nosso redor, James, não seria melhor você perguntar sobre cor e seus significados a eles?”

“Deixa pra lá. Era só algo que estava pensando sobre.” – ele colocou as mãos dentre dos bolsos, decidido esquecer o assunto. – “Por que flores são tão importantes, afinal? Não é melhor ir com as infalíveis rosas vermelhas?”
“Uma vez entrevistei um cara que terminou com o namorado por ter ganhado rosas vermelhas. Elas são cliché, James, eu quero algo especial.”
“Isso foi uma indireta?” – James perguntou com uma sobrancelha arqueada. – “O que você quer então? Rosas brancas?”

“Merlin, não. Rosas brancas significam castidade. Eu não sei se gostaria de ganhar algo que passasse essa mensagem do meu amante. Agora, ande por aí e faça algumas perguntas, nossa reserva é 13hr e…” – ela puxou o pulso de James – “… falta só quarenta minutos.”

“Lily Evans preocupada com horários? É a primeira vez na vida que vejo isso acontecer.” – ele se abaixou para que os rostos ficassem na mesma altura. – “Nem quando você era monitora-chefe você chegava no horário.”

Ela se aproximou. – “Talvez seja sua influência.” – e, dando um rápido beijo, se afastou. – “Daqui a trinta minutos aqui e não se atrase.”

James sorriu, sabendo bem que era ela quem se atrasaria.
Ao ter cabelos ruivos fora do campo de visão, ele bagunçou o cabelo e arrumou os óculos (um ritual para falar com trouxas). Em seguida, tentou focar nas inúmeras barraquinhas com arranjos florais.

Não é como se ele odiasse flores, porém, em nenhum momento da sua vida, ele se preocupou com os variados tipos e seus respectivos significados. Até aquele dia, James sabia o nome de cinco flores: tulipas (as favoritas de sua mãe); rosas (porque são clássicas); girassóis (porque elas são divertidas); petúnias e lírios (ambas por influência de Lily) – entretanto, ele sabia que, apesar de saber o nome, ele não conseguiria diferenciar uma tulipa de uma petúnia.

E, agora, não tinha apenas que aprender seus nomes como também classificar o que elas representavam. Sem contar que tinha apenas trinta minutos para ter anotações sobre a diferença entre crisântemos brancos, crisântemos amarelos e crisântemos vermelhos.

Em vinte e cinco minutos, ele tinha pequenas anotações sobre algumas flores:
Narcisos amarelos representam “amor unilateral” e “recomeços”. De acordo com o florista, eles fazem “magia” quando o assunto é conquistar ex-namorados.
Margaridas (que James resumiu como flores brancas com o centro amarelo) podiam significar pureza, inocência e lealdade.
Cravos passam várias mensagens, devido as suas cores. A pior delas é a amarela: significa rejeição e decepção.

E então tinham os lírios. Laranjas representam paixão; amarelos, felicidade e lírios brancos (a nova flor favorita de James) significam inocência – e é claro que ele sorriu antes de escrever a informação no seu caderno.

“Conseguiu alguma coisa?” – Lily perguntou, chegando doze minutos atrasada. E, antes de deixá-lo responder, ela entrelaçou suas mãos com as de James.
“Só o que não comprar. Acho que o dia de hoje só comprovou que rosas vermelhas são as melhores; nenhuma das outras flores é confiável.” – ele não conseguia deixar de notar que a mão de Lily sempre estava fria.

“Tudo bem, eu acho, não é como se fosse conveniente levar flores para um cinema.”
“Ou para um estádio de quadribol, que, por sinal, é onde vamos no sábado.”
“Não vou passar o dia dos namorados com você emburrado a noite inteira porque o seu time perdeu o campeonato, James. E você sabe que isso vai acontecer, você escrever hoje na sua coluna que a vitória das Harpies é quase certa.”

“Eu vejo o seu lado, Lily, mas eu vou ficar ainda mais chato se a minha noite for ir a um cinema assistir a um filme que você já sabe toda a história. Querer ir no Madame Puddifoot foi a sua escolha, decidir o que vamos fazer no restante da tarde deveria ser minha.” – ele parou na calçada e olhou para uma fachada que facilmente passaria despercebida. – “Deve ser aqui.”

“Por que não cancelamos o Madame Puddifoot e você me encontra em algum restaurante após o jogo? Hoje é segunda, ainda vamos conseguir alguma reserva decidirmos logo.”
“Porque eu quero passar o dia com você e já basta ser expulso da sua casa no domingo de manhã porque você tem que encontrar suas amigas.” – Lily não conseguiu evitar de sorrir.

“Então abra mão do quadribol. Eu quero usar um vestido bonito e ele provavelmente vai ser arruinado naqueles estádios sujos.” – eles se encararam sobre os cardápios por alguns minutos.
“Merda. Você venceu.”

Ao redor, as pessoas conversavam. Após alguns segundo se encarando James Potter e Lily Evans entraram em uma discussão sobre os pratos e, em seguida, sobre hábitos alimentares.

James tinha uma mania irritante (pelo menos no ponto de vista de Lily) de sempre comer as coisas na ordem da pirâmide alimentar: carboidratos, vegetais, proteínas, etc. Ela, por sua vez, demorava mais do que o necessário para comer, o que o incomodava, já que ele não entendia como ela conseguia aproveitar uma refeição fria.

Uma hora se passou e, como de costume, tinha sido perfeito.
Londres não tinha se transformado. Não tinha deixado de ser fria, as pessoas não demonstravam uma felicidade coletiva representada em filmes e, provavelmente, metade da cidade estava completamente absorta a data que se aproximava, mas Lily Evans estava apaixonada.

E ela via pequenas mensagens em corações de papéis cortados e colados nas vidraças de cafeterias, e ela via avisos em casais caminhando entre as flores, e ela via sinais nos sorrisos de James Potter. E ela queria dizer as palavras que não saíam de sua cabeça.

Mas não era o momento, ou talvez fosse, mas ela não queria pensar nas consequências. Não queria arruinar aquele momento. Transformá-lo em uma memória ruim.

Ela só queria sentir como estava se sentindo: como se eles tivessem uma chance, como se James Potter quisesse se apaixonar e, em questão de dias, tivesse deixado suas convicções de lado e permitido que os sentimentos retornarem.

Quando voltou a casa naquela tarde, Lily foi interrompida pela sua vizinha que tinha consigo um buquê de lírios brancos.
“Entregaram essa tarde, e, como você não estava, recebi por você.” – foi o que a Sra. Drew disse, antes de voltar para o mesmo apartamento que tinha saído de.

Lily sorriu, se apressando para abrir a porta.
O bilhete dizia (com a terrível caligrafia de James Fleamont Potter): Sabia que lírios brancos significam inocência e virgindade? Eu não podia perder a oportunidade.

E ela soube que seus sentimentos não poderiam mais ser reprimidos.


28.
Eram duas horas da manhã quando Chasing Pavements começou a tocar pela trigésima segunda vez. Lily tinha que agradecer pela existência do youtube; se o site não existisse, Adele seria substituída por Joni Mitchell e “Don’t Go To Strangers”, seguida por “To Wish Impossible Things” do The Cure, tocariam, acompanhadas por qualquer outra música triste no CD que Lily tinha comprado na saída do metrô.

Ela sabia que estava pensando muito sobre e que não se era o melhor assunto para pensar com Adele no repeat e uma garrafa de vinho, mas ela não podia se importar menos. Ela precisava tomar uma decisão.

Lily tinha tentado, nas últimas três horas, todos os métodos possíveis: lista de prós e contras; pétalas de flor; uni-duni-tê e até mesmo feito um sorteio, mas ainda não estava totalmente certa sobre o que fazer.
Ela já tinha repetido o mesmo discurso doze vezes, sabia que não ia aguentar meses com James agindo daquela maneira, como se eles fossem algo mais do que eram, mas, ao mesmo tempo, não queria se declarar e colocar tudo perder.

Se tratava, de fato, de um grande dilema.
Se ela se declarasse logo, James provavelmente a rejeitaria e, com isso, ela perderia sua chance. E, apesar de existir a possibilidade dele voltar atrás nessa decisão, Lily estava consciente que aquelas coisas aconteciam apenas nos filmes.

Mas, se ela não se confessasse logo, também colocaria tudo a perder. Lily não tinha evidências palpáveis que James estava retribuindo seus sentimentos de alguma forma e, talvez, todo aquele comportamento se tratasse de uma projeção. No entanto, não era isso que a trazia mais medo e sim a crença de que, se ela demorasse meses para se confessar, James entraria em um relacionamento sério com ela apenas pela inércia, pelo fato de eles fazerem sentido tanto no papel quando na prática.

Sem contar que esperar seria considerar que eles teriam uma relação casual de longo prazo e Lily sabia muito bem que tais relacionamentos tinham data de validade. Além disso, ela e James não tinham criado nenhuma regra, e, talvez, enquanto ela ignorava o tempo que se passava e bebia mais vinho, ele estivesse acompanhado de outra ruiva por aí.

O que aconteceria se ela perdesse a chance de se confessar?
Ela teria que vê-lo todos os dias do outro lado da mesa, agindo como se não tivesse um coração partido. Pelo menos se ela fosse rejeitada, James a daria um pouco de espaço para ela voltar a ordem natural das coisas e superar seus sentimentos.

O que trazia outra questão à tona: Seria ela capaz de superar?
Se James Potter superou, ela provavelmente conseguiria também. Mesmo os sentimentos de James terem aparecido na adolescência, eles ainda eram sentimentos. Ainda se tratavam de um desejo humano, uma tentação.

E não é como se um órgão dela fosse, literalmente, partir. Tudo acontecia no cérebro e, talvez, se ela acreditasse, a rejeição poderia ser mesmo dolorosa. Sim. Ela estava exagerando. Não ia doer. Ainda mais se ela se confessasse logo e diminuísse a profundidade dos seus sentimentos.

Lily estava decidida quando dormiu.
Quando acordou, não tinha tanta certeza assim.

Por que ela estava pensando em rejeição? Se ela tinha feito ele se apaixonar por ela uma vez, o que a impedia de fazer de novo? Ela era bonita, ela era divertida e ela era inteligente. Lily tinha tudo que era necessário para conquistá-lo.

E eles eram almas gêmeas! Seus patronos se completavam, aquilo certamente tinha que contar alguma coisa. Sim. Em um mês eles seriam um do outro.

James Potter estava começando a sentir algo, é claro que estaria. Não gosto de acordar quando você está prestes a ir embora? Aquela era a mensagem. Ele provavelmente tinha começado a ter sentimentos mas estava com medo de dizer algo, igual Colin Firth em O Diário de Bridget Jones ou qualquer outro protagonista em filmes de comédias românticas. Se o dessem um mês, ele estaria tão incontrolável quando ela.

O melhor era esperar.
Lily respirou fundo, sua mente finalmente certa da decisão: ela esperaria pelo tempo certo. Eles tinham sido um problema de timing e ela não colocaria tudo isso a perder.

“Você está fazendo de novo.” – James falou, do outro lado. Foi aí que ela percebeu que tinha ignorado tudo que ele tinha dito nos últimos cinco minutos. – “Eu não me importo, mas gostaria de saber o que está passando dentro da sua cabeça.”

Ele tinha saído um pouco mais cedo do horário de almoço para comprar comida chinesa para os dois. Lily, por passar os últimos dois dias pensando neles, não tinha nem um esboço do texto da sua coluna, que deveria ser entregue aquela tarde.

Não havia mais ninguém na sala de redação, apenas os dois e três biscoitos da sorte (para James pagar por aquele que “roubou”).

“Só coisas da coluna eu acho. Marlene me pediu para escrever um pouco mais sobre encontros.” – ela disse, comendo um pouco de macarrão em seguida. – “E não seria um problema se Moody não tivesse me dito para escrever algo romântico por causa da ocasião. Eu não sei se consigo fazer isso.”

“Você precisa de ajuda?”
“Sim. Ou eu provavelmente vou copiar o discurso do Hugh Grant em Simplesmente Amor e mandar para a publicação.”
“Você sabe que eu não entendo metade das coisas que você fala, certo?”
“Eu imaginei.” – ela decidiu abrir um dos seus biscoitos da sorte, esperando que alguma inspiração viesse deles. – “E então, o que tem para dizer que vai fazer com que eu consiga escrever alguma coisa?”

“Na verdade, eu não sou tão criativo.” – ele falou. Ela riu e começou a olhar para o teto. – “Só escreva o que você tem para dizer, Lily. Não se preocupe com o Moody ou com Marlene ou com o maldito dia dos namorados. Ainda tem pessoas que não poderiam se importar menos com essa data que ainda leem a sua coluna. Eles não querem um texto meloso, se quiserem eles podem ler a Seminário das Bruxas ou a coluna da McDonald.”

“O que acontece se eu perder meu emprego?”
“Certo, como se isso fosse acontecer.” – James sorriu. – “Moody provavelmente vai ser uns que vai ler o seu texto e rir com os seus comentários. Ele é o cara mais sem coração que eu já conheci.”

Se sentindo um pouco melhor, Lily finalmente comeu o biscoito, lendo a mensagem logo depois. O amor da sua vida está diante dos seus olhos. Ela encarou James, bem a sua frente, procurando pedaços de frango.

Durante os anos, ela tinha recebido a mesma mensagem vinte e nove vezes, mas, agora, a frase tinha outro significado. Apesar de ter tomado sua decisão oito minutos atrás, ela voltou a pensar no assunto: do que importava o fato de, na teoria, eles serem feitos um para o outro se James não acreditava mais naquilo?

A realização veio como um tapa. Ele nunca se apaixonaria por ela como tinha se apaixonado anteriormente: era ela que agora passava horas pensando neles e não o contrário; era ela que fantasiava sobre os dois; era ela que dava o primeiro passo.

E não seria o suficiente.
Ela queria viver um amor que a consumisse e queria ser amada da mesma proporção.

“James…Você está apaixonado por mim?”

.

“Não.”

.

“Sua resposta mudaria se eu dissesse que estou apaixonada por você?”

.

“Não.”

Estava feito.

Era o fim.


29.
“Ele nem sequer hesitou.” – Lily disse para o vendedor. – “Se ele tivesse hesitado, eu poderia me enganar, mas ele não deixou nem margem para isso. E, eu não sei se fico feliz por tudo estar terminado ou se me sinto mal por saber que agora somos a única coisa que eu queria que nós não fôssemos.”

Assim que ele escutou o a palavra monossilábica vindo de James, Lily respirou fundo antes de se levantar e sair da sala de redação. Ela mandaria uma carta para Moody com a matéria, dizendo que alguma emergência tinha acontecido ou então aparecer no final da tarde, com a desculpa que estava entrevistando pessoas. Tudo que ela precisava naquele momento era silêncio.

E silêncio era tudo que ela impedia de existir na pequena livraria que tinha visitado pouco dia atrás, quando recomprou a edição de Mansfield Park que tinha previamente vendido, ao conversar com o mesmo vendedor que tinha comprado e vendido a edição.

“Sabe… eu não vou me sentir culpada se as coisas ficarem estranhas. Eu tenho orgulho dos meus sentimentos e o máximo que eu posso fazer é reconhecer que talvez as coisas teriam sido melhores se eles tivessem aparecido antes, mas, francamente, poderia ter sido bem pior. Eu poderia viver dentro de O Casamento do Meu Melhor Amigo e só perceber meus sentimentos por ele quando ele estivesse prestes a se casar. Eu, pelo menos, tive coragem para dizer e eu tive algo com ele… não ficou só dentro da minha cabeça.”

“Você deseja uma xícara de chá?” – o vendedor perguntou. Ele tinha passado duas horas conversando com Lily quando ela decidiu comprar o livro, alegando ter sido uma decisão estúpida que, felizmente, podia ser revertido. No fim, ela pagou mais pelo que ganhou, então ele não a julgaria.

Lily acenou positivamente com a cabeça. – “Era o melhor a se fazer, certo? Porque as pessoas só se apaixonam nesse tipo de relacionamento em filmes, certo? Não tinha como James se apaixonar por mim, certo?”

“Bem…” – John Troy, disse, se lembrando de exemplos reais. Ele decidiu não continuar a frase.
“Era diferente. Nós somos perfeitos um para o outro, mas... Às vezes não dá certo e a culpa não é só minha! Eu, pelo menos, fui corajosa para me confessar, o estúpido do James que não consegue se ver em um relacionamento sério com a pessoa que está transando. Céus, é tão ridículo. Eu provavelmente sei mais sobre ele do que qualquer um, nós nos conhecemos há dezessete anos e desde que começamos a nos beijar e et cetera, nós éramos basicamente namorados. E então ele fala que não acha que é capaz de se apaixonar por mim?”

“Você tem certeza que ele usou essas palavras?” – John perguntou, entregando uma xícara de chá à Lily. – “Nós podemos inventar palavras quando estamos com raiva.”

“Talvez ele não tinha dito essas exatas palavras, mas ele disse algo bem parecido.” – No fundo, ela sabia que não era diferente de nunca. – “Eu só não entendo! Ele me disse que “se eu quisesse algo dele, eu teria”, o que aconteceu, então? Duas semanas se passam e ele retira a oferta?!”

“Mas você aceitou entrar nesse relacionamento, Lily. Você sabia sobre os sentimentos dele e ainda assim…”
“Eu estava fazendo uma boa coisa, ok? Eu estudo sobre o amor e relações humanas, se eu quisesse eu poderia ter usado todos os meus truques e ele estaria na minha mão agora, mas eu quis que as coisas acontecessem naturalmente.”

“Você percebe que está se contradizendo, certo? Você está dizendo que queria que as coisas acontecessem naturalmente em uma relação casual e há pouco tempo você estava falando que relacionamentos sérios não saem desse tipo de relação.”

“Eu acabei de fazer a maior besteira da minha vida? Eu deveria ter esperado?”
“Não. Se estava te fazendo gastar tanta energia para pensar sobre, você deveria ter largado na primeira vez que teve a chance. Você acha que tinha chegado no seu limite?” – ela concordou. – “Então tudo está justificado. Agora vá para casa, tome um banho de banheira, escute Nora Jones e chore sobre o assunto.”

Sim. Ela poderia fazer isso.
Era apenas uma rejeição. Coisas mais terríveis já tinham acontecido.

“Eu não vou me sentir culpada. Eu não vou pensar sobre o que teríamos sido. E eu não vou me sentir sozinha no Dia dos Namorados.” – Lily falou, mais para si mesma do que para John.
“Você quer algum livro para acompanhar? Temos alguns em promoção. Eu acho que Comer, Rezar e Amar pode te ajudar.”


30.
A primeira coisa é abrir mão das coisas que lembram dele.
Ela tira o colar e o guarda na caixa de sapato que ela mais detesta, ela esconde o livro atrás dos casacos, joga as flores (agora quase mortas) no lixo e evita pensar nele.
No último item, ela falha miseravelmente. E Lily não consegue evitar de achar engraçado como as coisas são agora e como James Potter participava de pequenos momentos da sua rotina.

Chegar no trabalho, conversar com ele durante a manhã, conversar sobre alguma coisa idiota que ele disse para suas amigas durante o almoço, fazer brincadeiras com ele na parte da tarde. Ouvir as opiniões dele sobre sua coluna, ouvir a história de O Que Sirius Black Aprontou Nesse Fim De Semana, olhar para as manias dele enquanto escreve (como cantar alguma música enquanto escreve ou bater a ponta da pena na mesa) e observá-lo a procura de inspiração.

A segunda coisa é evitá-lo.
Ela chega o mais tarde que consegue, sem comentários vindo dele, e ignora a sua presença a manhã inteira. As vezes, Lily acha que ele está olhando para ela, mas tem medo de encará-lo e tudo ser um erro de interpretação da sua visão periférica.

Todos percebem que o clima é estranho. Nunca, durante aqueles cinco anos, eles estiveram em um silêncio tão desconfortável.
Em um momento, ela pensa em dizer que tudo é uma brincadeira, que ela não falava sério. Mas ela sabe que é estúpido e que seria inacreditável.

O terceiro passo é amaldiçoá-lo.
Pedir para deuses invisíveis que ele pense nela durante a noite, que sinta a falta de conversar com ela, que se arrependa de pôr um fim na sincronia deles. Ela diz para si mesma que, toda vez que ele olhar um relógio, ele pensará nela. Aquela é a forma que Lily Evans acha para se convencer de que não será esquecida.

Conversar com as suas amigas ajuda. Elas sempre acham uma forma de a deixarem feliz (mesmo que seja dizendo mentiras sobre James Potter) e não é como se nenhuma delas, talvez com exceção de Marlene, está empolgada para falar de amor. Dificilmente as conversas delas não envolvia o assunto, mas agora elas o evitam ao máximo.

Sexta-feira vem e Lily repete a rotina do dia seguinte. Sua coluna, publicada pela manhã, é mais ácida que o normal e ela sabe que, mesmo sendo sutis, assim que James ler, ele reconhecerá as referências. Ela se sente um pouco estúpida: talvez não devesse ter escrito daquela forma, não era culpa dele, afinal, não se pode forçar sentimentos. Mesmo assim, ela se vê no direito de usar o seu cupom de coração partido e não se incomoda em tentar se convencer que ele é o vilão da história (como ele mesmo disse, é sempre mais fácil criar monstros).

O dia se esvai e até o último minuto ela espera uma reviravolta. Um eu pensei sobre isso, eu sinto sua falta, qualquer coisa. Não. Não é cedo demais para isso. Quarenta e oito horas se passaram, é tempo o suficiente para refletir sobre, para voltar atrás.

Lily Evans espera James Potter dizer alguma coisa.
Ele não diz.

Ela passa o dia dos namorados com Emmeline e Alice (que cancela o encontro com Frank para por suas emoções em ordem). Elas assistem clássicos filmes de romance, criticam roteiros e choram com o final de Nosso Amor de Ontem.

“Passar o dia dos namorados com vocês não é divertido. Nós deveríamos estar zoando homens, reclamando das nossas experiências sexuais e então fazermos algum jogo com bebidas e terminar a noite jogando snap explosivo”

“Me desculpa por ter um coração.” – Alice falou, secando as lágrimas. – “Eu odeio assistir filmes por causa disso, eles me deixam sentimental.”
“Você é sentimental por natureza, Allie.”

“Devo terminar?”
“Alice, pela milésima vez: não.” – Lily e Emmeline disseram em uníssono.
“Mas… nós estamos passando o dia dos namorados separados! E eu sei que eu disse que não estava a fim, mas era o “não estou a fim porque não acho que nosso namoro é importante para você então me prove o contrário” meh e não o “não estou a fim, me deixe em paz, eu preciso de tempo”, entende?”

“Só queria dizer que não acredito que Marlene McKinnon e Sirius Black estão melhores que nós. Eu nunca imaginei isso acontecendo.” – Emmeline falou, comendo a azeitona do martíni feito por Lily.

“Alice, eu sei como você se sente, mas você tem que conversar com o Frank. Vocês namoram há mais de uma década, não ponha tudo a perder. Talvez só esteja sendo difícil se reconectar, mas vocês precisam discutir isso e então tomar uma decisão.”

“Mas…”
“Merlin, Allie, o peça em casamento, então. Nós estamos no século vinte e um. Ou você conversa com ele, ou você vai ficar anos sofrendo.”
“Não quero conversar com ele para ele me pedir em casamento só porque tivemos uma conversa. Eu quero que venha dele.”

“Por que você é tão cabeça dura?” – Emmeline disse. – “Você está com o amor da sua vida, que ama você também.”
“Mas as vezes estar junto não é suficiente.” – Lily falou, se lembrando da sua própria experiência. – “É preciso demonstrações de amor e sim, no sentido More Than Words do Extreme.” – percebendo o olhar confuso das amigas, ela continuou. – “Aquela música terrível do casamento da minha irmã que fala sobre amor.”

“Todas as músicas naquele casamento foram sobre amor.”
“Vocês sabem! Aquela mais que palavras para me mostrar como você se sente, que o seu amor por mim é real” – ela cantou um trecho – “Céus! A música que quando tocou assim que os meus tios tiraram todas as crianças de perto de nós porque a Marlene não parava de gritar pênis,”

“Ah, aquela.” – Alice disse quando reconheceu. – “De qualquer forma, é exatamente isso. Frank diz que me ama, mas eu não sei se ele está apaixonado por mim. E eu estou trazendo casamento à tona porque acho que seria um sinal de paixão, mas talvez nem isso seja o suficiente. Nós sempre estivemos conectados e agora… Esquece, as coisas provavelmente vão voltar ao normal e só estamos passando por uma crise.”

Lily a tocou no ombro. – “Tudo vai dar certo, Allie, e, se não der, nós pedimos férias, fazemos alguma viagem e choramos juntas em algum país absurdamente lindo como Grécia ou Vietnã.”

“Marlene provavelmente não vai querer vir com a gente, no entanto.”
“Eu fico feliz que as coisas estejam dando certo.” – Lily comentou – “Só é triste porque as coisas para ela deram certo no momento que começaram a dar errado para a gente e ela provavelmente tem uma lista de coisas para comentar sobre Sirius Black, mas não faz com medo de nós magoar.”

“Ela não vai segurar por muito tempo.” – Emmeline falou. – “E nem vocês. Toda essa coisa de não falar sobre garotos tem sido interessante nos últimos dois dias, mas eu sei que vocês estão desesperadas para falar sobre isso. E para ouvir.”

“Isso é verdade. Eu estou tão curiosa para saber que tipo de namorado é o Black. Vocês acham que ela levou flores para ela?” – Alice perguntou sorrindo.

Seria mentira admitir que todas as dúvidas e sentimentos desapareceram em questão de minutos. Entretanto, conforme o tempo passava, o clima ia ficando menos pessimista. Enquanto Emmeline Vance contava sobre a recente experiência com um cara que a pediu para chamá-lo de papai, Lily Evans e Alice Prewett passavam a acreditar que logo as coisas ficariam bem.


31.
É setembro quando James Potter encontra Frank Longbotton durante uma caminhada pelo centro de Londres.

Os meses anteriores são um pouco difíceis.
Uma hora após a confissão de Lily, James se arrepende do que disse. Queria ter sido capaz de mentir, de ter dado alguma esperança… qualquer coisa que a faria ficar e qualquer coisa que não o tornasse invisível para ela.

É assim que ele se sente agora. A existência dele é ignorada por Lily: ela nunca olha para ele, ela nunca conversa com ele e também não parece ouvi-lo (já que nunca demostra alguma reação pelos seus comentários). E é assim que os dias, semanas e meses se passam. Agora, os atrasos não são mais contados. Colunas não são comentadas. Provocações não são feitas. Os sapatos nunca são roxos. Eles são completamente estranhos.

Isso o deixa maluco.
Ansioso, ele sempre olha para ela, ele sempre tenta achar algo interessante para dizer, algo que a fará corresponder o olhar, algo que fará com que o comentário dele seja respondido. Algo que fará eles voltarem a ser como eram antes.

A indiferença é um inimigo e a frieza de Lily é tanta que ele começa a se questionar se as memórias na cabeça dele são reais. Sempre que a dúvida surge, ele olha para o relógio de pulso e lá estão eles, sorrindo, conversando, se beijando.

James sabe que não pode culpá-la; ele sabe muito bem que é preciso seguir a melhor receita que encontra para superar sentimentos. Entretanto, a medida que o tempo passa, ele tem medo de o que eles serão quando Lily superá-los (se é que já não os superou).

Ele entendia bem como era a relação deles antes. Antes, quando eles se escondiam atrás do termo colegas de trabalho para não acabarem com as chances de explorarem a atração sexual existente, mas, agora, o que restava a eles? Se as interações deles fossem reduzidas a cumprimentos formais, o que eles serão? Sem ela, qual é o futuro dele?

O tempo passa e os sapatos deixam ser pretos. Os meses vão e James Potter está sempre a procura de algo.

“Olha só se não é o Longbotton!” – ele diz, assim que reconhece o homem na frente da vitrine. Se Frank Longbotton procura anéis ou relógios, é difícil saber. – “Há quanto tempo, cara. Você não foi na festa do Profeta Diário esse ano.”

Sorrindo amigavelmente, Frank coça a têmpora antes de responder. – “É… eu e Alice estamos dando um tempo. Ou terminando.” – o sorriso de James desaparece e a expressão dele é a mesma de alguém que acredita que disse algo errado. – “Está tudo bem. Eu deveria ter percebido antes.”

James não sabe ao certo o que dizer. – “Você está ocupado agora? Eu estou procurando uma coisa, mas daqui a pouco devo desistir e ir tomar uma dessas cervejas que os trouxas vendem como se fossem a melhor coisa do mundo.”

James Potter e Frank Longbotton caminham lado a lado.
“E então? Quer falar mais sobre isso?”
“Claro, mas me avise se eu estiver sendo chato.” – Frank responde. Ele espera que aquela seja uma oportunidade para colocar os pensamentos em ordem. – “Estava tudo normal, mas então ela disse que não queria comemorar o dia dos namorados e então tudo começou a desmoronar aos poucos. Ela disse que a Lily estava mal, então as meninas saíam mais e, consequentemente, eu mal a via. Mas eu entendia, sabe? É claro que Alice tinha que estar lá pelas amigas dela, elas são mais próximas que tudo. E então duas semanas se passaram sem que nós conversássemos. Sem cartas, sem visitas, nada. E… não posso dizer por ela, mas era doloroso.” – Frank interrompeu o diálogo, tentando achar as melhores palavras. – “Tinha coisas do meu dia que eu queria compartilhar com ela, eu via casais nas ruas e pensávamos em nós… mas duas semanas se passaram e eu estava… Merlin… eu estava morrendo de saudade delas e ela estava com essa expressão… aquela maldita expressão que nunca significa que algo bom está por vir. Alice disse que precisava de tempo para pensar.”

“Ai.” – James disse.
“É. E meses se passaram. Isso foi no início de Março e até agora ela está pensando sobre.” – Frank falou, parando ao lado de James, que agora encarava a vitrine de uma livraria. Eles entraram e o homem continuou. – “Nós ainda conversamos por cartas, mas acho que Alice está demorando para cortar os laços de uma vez porque ela acha que vai ser menos doloroso se eu considerar que estamos terminando. A realidade? Eu estou desesperado. Toda vez que vejo uma coruja, eu penso que é alguma carta da Alice e já devo ter oitenta discursos na minha mente que planejo dizer para ela.” – ele apoiou as costas na estante, observando o teto enquanto James procurava algo entre os livros. – “Ou talvez ela quer que eu termine com ela, mas isso é impossível de acontecer. Mesmo que ela esteja se afastando cada vez mais, eu ainda sou completamente apaixonado por ela e ainda tenho esperanças que ela vá mudar de ideia sobre nós.”

“É estranho ver esse comportamento da Prewett. Eu achava que vocês estavam prestes a se casar.”
“Talvez eu devesse ter pedido-a em casamento. Estou carregando o maldito anel há anos. Era isso que estava fazendo quando você me encontrou… acho que devo comprar outro, o que eu carrego é amaldiçoado. Toda vez que estou prestes fazer o pedido alguma coisa de ruim acontece: da primeira vez, a avó da Alice morreu, depois o cachorro, e então Alice foi mandada para Escócia para comentar sobre um assassinato, sempre acontece alguma coisa.”

“Eu admiro sua perseverança, Longbotton.” – James falou, coçando a nuca e guiando o amigo para a saída.

“Eu mentiria se falasse que nunca tive dúvidas sobre nós. Estive prestes a pedir ela em casamento mais de setenta vezes e todas elas deram errada. É sério, Potter, não existe alguém mais azarado que eu: Alice dormiu uma vez enquanto eu fazia o pedido. Mas… se essa é a forma do destino em falar que nós não somos feitos um para o outro, então é melhor ele fazer com que eu seja atingido por um raio, porque não tem chances de eu desistir dela.” – Frank disse, voltando a caminha com James e logo parando na frente de outra livraria. – “E eu sei que não é o ideal, mas se Alice estiver a procura de outro tipo de homem, eu estou disposto a mudar por ela. Se ela quer um badboy, eu posso comprar uma jaqueta de couro e fazer alguma tatuagem.” – ele falou. James riu, duvidando que aquele era um pré-requisito para ser considerado mal.

“Eu acho que você é o que ela quer, Frank. Uma vez saí para jantar com a Evans e ela disse que Alice ia te pedir em casamento.”

“Era uma mentira, ela nunca fez nenhuma proposta.” – ele soltou um grunhido. – “Ah, Potter, é uma merda. Eu sinto tanta falta dela que eu criei uma miragem dela. Eu converso com uma projeção dela dentro da minha cabeça e comecei a fazer todas as atividades possíveis para evitar que eu corra até o apartamento dela e grite para o prédio todo que a amo.”

“Talvez Alice fosse gostar disso. Ela não te deixaria na rua sozinho, principalmente se você estivesse pelado. Está esfriando rápido.” – ele terminou de analisar a pilha de livros. – “Essa é a parte que eu desisto. Venha, vamos tomar aquela cerveja.”

“O que você está fazendo? Moody te mandou avaliar todas as livrarias da cidade?”
“Procurando um sinal.” – James falou. – “Talvez ele vai aparecer quando eu menos espero, mas talvez seja tarde demais.”

“Quer falar sobre isso?”
“É meio que uma história engraçada.” – ele disse, abrindo a porta do primeiro pub que passaram por. – “Acho que arruinei a única chance decente que tinha com garota. Essa garota, é claro, não sendo uma mulher qualquer e sim Lily Evans. Nós começamos algo que acabou com ela se confessando para mim e sendo rejeitada, avance quatro meses e ela está seguindo em frente e em vez de ir atrás dela, eu sou estúpido suficiente para deixar ela ir, mesmo sabendo que… que eu não quero sentir o que eu sinto por ela ou ter as coisas que nós tivemos com alguém que não seja ela.”

“Espere, eu acho que preciso de mais detalhes.” – Frank falou, fazendo um sinal para um garçom. – “Ela se declaro e você a rejeitou? Por que?”

“Tudo começa com a matéria dos dia dos namorados.” – James diz, feliz em tirar todo aquele peso do peito. – “Quando Moody disse que iríamos a encontros, eu entrei em alerta. Eu estava com medo de ainda sentir algo por ela e as coisas crescerem exponencialmente, porque sempre foi assim quando se tratava da Lily. Mas, nós saímos e era normal, sem coração saltando do peito, sem mãos suando… era uma extensão do que nos geralmente fazíamos no jornal, provocações, flertes, discussões, era só isso e eu estava ok com aquilo. E então nós estávamos ultrapassando uma linha nunca antes ultrapassada.”

Ele esperou o garçom colocar os dois copos de cerveja na mesa antes de continuar. – “Sei lá, eu deveria ter pensado duas vezes. Nós sempre flertávamos e, para mim, era como um jogo: quem confessasse ter interesse primeiro perdia e era por isso que permanecíamos naquela relação de provocar, provocar e provocar. E quando Lily me beijou… eu só… eu nunca pensaria que era por algum interesse romântico, entende?”

“Uhum.”
“E as coisas acontecem rápido. Uma hora nós estamos nos beijando e no dia seguinte eu acho que era o fim. Que nós éramos caso de uma noite e que agora vamos voltar ao normal, mas não. Talvez eu devesse ter parado ali, dito para mim mesmo que as coisas iam dar errado em algum momento, mas é claro que eu tenho que ser um idiota. Eu falo que nós vamos nos cansar um do outro, que vamos durar mais de um dia porque estamos provocando um ao outro há anos e que assim que a momento passar, vai ser o fim.”

“E então…”
“E então ela está lá quando eu acordo, e sorrindo para mim no escritório e invadindo todos os meus pensamentos e… quando ela diz que está apaixonada por mim, eu a rejeito. Porque eu sou a pessoa mais estúpida dessa cidade! Ela está bem ali, um metro de distância, esperando pelo sinal verde e…” – ele passa a mão pelos olhos, entortando os óculos. – “Eu só não entendo porque disse aquilo. Parecia tão certo no momento, mas era a verdade? Talvez eu não sentisse o que ela sentia por mim na mesma proporção, mas por quê eu achava que era impossível sentir algo parecido? E, para piorar, eu não tenho coragem de ir atrás dela e estou indo a todas malditas livrarias de Londres procurando o maldito livro para ter uma desculpa para falar com ela.”

“Merlin… por que tudo é complicado quando se trata de você e a Lily?”
“Porque eu sou o maior idiota de Londres, achei que já tivesse dito isso. Nas primeiras semanas, quando eu tinha que vê-la chegar e me acostumar com o fato de que agora eu era inexistente para ela, eu achava que o que eu estava sentindo era só uma reação e que logo ia passar. Mas ficou pior. Eu não sei dizer qual foi a causa dos meus sentimentos, mas eles existem e eu preciso achar o livro para me convencer e convencer a ela que… por quê eu estou me comportando como um adolescente?”

“Acho que você está comportando como um adulto. Nós sempre achamos que as coisas terão mais consequências do que elas geralmente tem e gastamos mais tempo do que deveríamos pensando no assunto.” – Frank dá um gole na bebida. – “Veja só, nós somos bem parecidos. Estamos evitando conversas para nos enganar.”

“É tão idiota, Frank. Eu passei quatro anos em Hogwarts dizendo para todos que era ela, onze anos depois eu repito centenas de vezes para ela que nós nunca vamos ficar juntos e sete meses depois eu estou da mesma forma que estava aos dezessete.”

“Não tem nada de idiota nisso, James. Você aceitou o que sempre te diziam para não permanecer errado, até que uma reviravolta acontece: você estava certo e era tudo uma questão de tempo e espaço. E, quando vocês estavam juntos, apesar dos sentimentos, talvez você não estivesse no clima para o amor.”

“Isso não muda o fato de que provavelmente ela não esteja mais apaixonada por mim. E por isso que eu tenho que achar o sinal.”
“Eu fiz adivinhação quando estávamos em Hogwarts e a questão sobre sinais e destino é que eles só existem se você quiser acreditar neles. Esse livro que você tanto fala sobre pode ser um sinal de que vocês são predestinados, ao mesmo tempo que todas essas semanas de procura pode ser um sinal contrário, já que você ainda não o achou. Mas tem uma razão para você não ter desistido ainda, certo? Mesmo sem achá-lo, você ainda quer estar com ela.” – Frank fez mais um sinal para o garçom. – “É a sua escolha em esperar pelo destino ou ir atrás dela e então esperar por uma coincidência.”

“Não sei se posso levar a sério o conselho de um cara que ainda não conversou com a namorada cara a cara e disse o que sente.”
“Touché.”


32.
Ele observa as pessoas andando na direção contrária, quase trombando com ele. Na sua cabeça, ele monta um pequeno discurso, que será esquecido no momento em que ela abrir a porta, ou talvez antes: ele já não consegue se lembrar da primeira frase. Ele se lembra de um precisamos conversar, mas também lembra que decidiu cortar essa parte do seu discurso para não soar agressivo. Talvez ele comece com um como você está? Está frio hoje, não é? Você provavelmente está se perguntando o que vim fazer aqui. Não consigo parar de pensar por você.

Na hora, ele decidirá.
Sim.

Ele deveria confiar no seu instinto e dizer a primeira coisa que vier na cabeça. Se ele aparecer com um discurso pronto, será pior. As coisas tem que acontecer naturalmente. Sim, naturalmente. – ele repete para si mesmo.

É no chão que James Potter, a caminho do apartamento de Lily Evans, encontra uma edição desgastada de Mansfield Park e o seu coração bate mais rápido.

Ele passou uma hora pulando entre estações de metrô antes de decidir ir até ela e então mais quarenta minutos tentando entender o caótico mapa do transporte ferroviário até desistir e decidir aparatar.

Agora, ele caminha pela praça a três quarteirões do seu destino.

James está tão absorto nos seus pensamentos que quase não observa o exemplar repousando em uma lona preta e, assim que vê o livro, ele prende a respiração.

Se agacha e lê a contracapa: nada.
E então ele sente ódio. Está em branco. Nenhuma nota na caligrafia apressada de Lily e nenhuma confissão de amor escrita anos antes. Só há uma página em branco e Fanny Price e Henry Crawford e sua estúpida desistência.

E então ele larga o livro e corre: ele precisa vê-la.

“É o James.” – ele diz para o interfone, depois de apertar o botão do apartamento dela. Mil cenários passam pela sua cabeça e ele respira fundo. Sobe as escadas e encara a porta com o número 304. Do outro lado, a porta é aberta lentamente por Lily Evans, cabelos em um rabo de cavalo, calças de flanela e uma blusa branca.

Ele está sem palavras e o clima está estranho: ela encara o estado ofegante dele e tem um olhar questionador. Basta um olhar para o relógio e ele se lembra de tudo.

James Potter dá um passo a frente.

Agitado, ele está prestes a dizer alguma coisa, pedir desculpas, abraçá-la, implorar por perdão. Lá está ela. Perfeita. Tocável. Visível.
Ela olha para ele e James perde as palavras.

É no instante seguinte que avista um pequeno exemplar de Mansfield Park na estante de Lily. Uma lombada exata ao livro que há dois minutos ele deixou no chão, negando com a cabeça para o que quer que o vendedor estava dizendo.

“Desculpa.” – ele fala, desviando o olhar para Lily. Os olhos verdes dela brilham e ele se pergunta o que aquilo significa. – “Posso entrar?”

Com dois passos, ela abre espaço para ele e ele finge desfazer o nó do cachecol enquanto caminha até a estante. Ele retira o exemplar com cuidado, escutando Lily trancar a porta e passar a correntinha que ele sempre achou genial.

Lá está. Na contracapa: Você junta duas pessoas que nunca foram juntadas antes. Às vezes funciona, e algo novo é criado, e o mundo se transforma. Você sabe onde o meu coração está, James.

“Você tem ideia do quanto tempo eu gastei procurando esse livro?” – ele diz e ao mesmo tempo que o tom é acusatório, ele sorri. – “Eu andei de livraria em livraria a procura disso. Por meses eu arrastei Sirius e Remus por todo canto de Londres para achar esse maldito e ele estava aqui o tempo todo.”
“O que você está fazendo aqui, James?” – Lily pergunta, abraçando o próprio corpo.

Ele não responde e dá um passo em direção a ela. James apoia a testa no ombro dela, como tinha feito algumas vezes antes. – “Como você espera que eu ache a única coisa que me liga a você se você o mantém escondido?”

“James…”
“Eu estou apaixonado por você, Lily Evans. E talvez você já tenha seguido em frente, mas eu tenho uma prova, um sinal feito por você que nós fomos feitos um para o outro. E, dessa vez, não importa o que as outras pessoas falarem ou se você falar que somos opostos, eu não vou desistir. Você pode levar o tempo que precisar, Lily, mas você não vai conseguir nos evitar para sempre.”

James se levanta e olha para ela. Olhos verdes brilhando, lábios desejáveis entreabertos. Com uma mãe, ele acaricia o rosto dela e Lily Evans gostaria que ele fosse capaz de sentir o seu coração acelerado.

“Bem… Potter. Acho que dessa vez estou disposta a te dar chance.” – ela diz, sorrindo. É a única resposta que ela consegue pensar em e fica decepcionada pelo fato de a frase ter saído bem melhor na sua casa.

“Você rompeu com a Lula Gigante?”
“A distância se tornou um problema.” – Lily fica na ponta dos pés para beijá-lo e, obviamente, é fantástico. – “Eu senti sua falta. Muito. Eu sei que já se passaram sete meses que nós não conversamos e que eu já deveria ter superado, mas é impossível quando tudo me lembra você. Flores, chás, trabalho, até a minha própria cama. Eu estava ficando maluca e a um passo de pedir demissão e me mudar.”

“Eu deveria ter dito antes. Me desculpe por ter levado tanto tempo.”
“O que mudou?” – ela perguntou. James passa uma mecha ruiva por trás da orelha dela.

“Não é algo que eu tinha notado até há alguns meses, ou talvez até há algumas horas, mas eu estive mentindo para mim mesmo. Eu estive tão preocupado em me convencer que um mundo em que nós éramos reais era inexistente e usei palavras que parecem expressar um significado para isso em vez de buscar justificativas concretas. Não há nenhuma razão para que nós não possamos ficar juntos e eu era um fraco por pensar que existia.”

Discursos prévios desaparecem.
Palavras na ponta da língua somem.
Eles estão sincronizados.


33.
James Potter sabe que Lily Evans está prestes a ultrapassar os limites da sala de redação do Profeta Diário porquê escuta os barulhos de saltos vindo do corredor. Trinta e sete segundos se passam e ele continua sorrindo quando ela joga o casaco de couro falso na mesa de madeira em frente a dele.

“Só trinta minutos de atraso, Evans? Tsc, depois de ontem a noite, esperava que você quebrasse o seu recorde.”
“Ter um namorado que sempre acorda uma hora antes do despertador tocar está me afetando.” – ela pausa para dar um gole no café que trouxe consigo. – “Talvez, daqui a alguns dias eu esteja chegando antes de você, James.”

“Ou talvez a gente chegue no mesmo horário.”
“Essa é a sua forma de me convidar para morar com você? Eu esperava algo mais romântico.” – James Potter sorri e ele sabe que a duas mesas de distância ela o observa.

Eles se conhecem há dezoito anos – o que já seria o bastante para convencer qualquer iniciante no relacionamento do dois que eles tem momentos o suficiente para encher um livro de 726 páginas ou para um roteiro de uma novela mexicana clichê – e, caso você não tenha percebido, eles estão apaixonados.

Não foi sempre assim.


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