In The Mood For Love. escrita por antônia


Capítulo 2
Parte dois.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791860/chapter/2

IN THE MOOD FOR LOVE
parte dois: He remembers those vanished years. As though looking through a dusty window pane, the past is something he could see, but not touch. And everything he sees is blurred and indistinct.


11.
No domingo, Lily Evans encontrou Marlene McKinnon, Alice Prewett e Emmeline Vance como de costume, e, aparentemente, o assunto que ela não gostaria de tocar era o assunto preferido das suas melhores amigas.

“Como foi o encontro?”
“Foi legal.” – Quando viu a expressão das amigas, Lily revirou os olhos. – “Nós fomos no cinema e estava indo tudo bem, até as luzes se apagarem e ele começar a usar os dedos dele para tirar meu foco.”

“Espere. Muita informação.” – Emmeline falou enquanto Marlene se engasgava com o café. – “Ele te masturbou no cinema?!”

“Merlin, Emme! Não! É claro que não. De onde você tirou essa ideia?” – Emmeline soltou a respiração. – “Ele passou o braço, sabe, daquela forma como eles fazem nos filmes e ficou acariciando meu braço… e aí o meu cabelo… e aí ele moveu o meu cabelo para um lado só igual ele fez no jogo de quadribol e beijou o meu pescoço.”

Emmeline juntou as sobrancelhas. – “O que aconteceu com o mundo hoje em dia? Eu não quero ser o seu amigo, mas quero beijar o seu pescoço… é uma nova tendência?”

“Como você se sentiu?” – Alice perguntou, claramente interessada. Como especialista no relacionamento Evans-Potter, ela precisava se manter atualizada.

“Romanticamente ou sexualmente?”
“Tem uma diferença?”

“Acho que sim, Allie. Quando ele beijou o meu pescoço e depois a minha mandíbula e ficou cinco centímetros de beijar a minha boca, eu tive que me segurar para não puxar ele pela blusa de frio que ele estava usando e, quem sabe, fazer algo impróprio para um lugar público… ou seja, eu me senti atraída. Mas assim que eu lembrei que ele disse que ‘nós não fomos feitos um para outro’ e que eu talvez esteja gostando dele, eu me senti confusa e pedi para recuar.”

“Essa é a maior peça do destino, Lily.” – Marlene disse, se referindo a como os papéis tinham se invertido.
“Eu estou me tornando uma lunática. Eu acho que eu sei o que eu quero… pelo menos foi a realização que eu tive ontem: eu quero me apaixonar por ele e eu quero que ele seja o meu primeiro grande amor, porém, toda vez que eu penso nisso, me lembro que ele já tem conclusões sobre nós. E então eu estou em uma encruzilhada: eu sinto que quero tentar alguma coisa, mas talvez ele esteja certo e seja uma rua sem saída.”

“Talvez foi só uma mentira branca, Lil. Vocês vivem flertando um com o outro, não é? Ele não te beijaria no pescoço se ele não tivesse nenhum interesse.”
“Mas, Em, eu acho que esse interesse é o bom e velho interesse sexual. Eu fui pega no meu próprio jogo, porque há duas semanas eu também corresponderia esse interesse com o mesmo entusiasmo, digo, eu sempre estive atrás de relacionamentos casuais. E agora eu sei que, se ele quiser ter alguma coisa comigo, vai ser apenas isso.”

“Eu li esse texto recentemente…” – Marlene começou a dizer. – “… que todas as pessoas ao nosso redor são possíveis paixões e que nós estamos conscientes de todos eles. E então o texto diz alguma coisa envolvendo matemática e equações, mas tudo tem a ver com uma taxa de contentamento. Quando menos contente você está com a sua vida ou com as suas relações, mais suscetível você está de considerar essas opções. Talvez, a realização que você teve sobre querer se apaixonar te fez perceber mais as suas opções.”

“E, inconscientemente, eu estou rejeitando a ideia que James tem sobre nós. Isso faz sentido.” – ela admitiu depois de algum tempo. – “Sim. Faz muito sentido! Antes, as nossas provocações eram para manter esse interesse sexual mútuo e toda a pressão da idade me fez sentir como se eu precisasse de alguém e eu já estava considerando James como uma opção, isso explica o porque eu estava pensando sobre como nós teríamos sido, e a certeza dele de que não daríamos certo aumentou a minha obsessão com ele.” – Ao expor a sua recém-criada tese, Lily recebeu olhares preocupados de Alice e Emmeline.

“Mas essa é a verdade ou você está rejeitando a ideia de que você possa estar se apaixonado por ele?” – Alice disse. – “No seu aniversário, Emme disse que nada estava acontecendo, mas, Lily, o amor vem de várias formas. Ele pode vir em pequenas ondas ou de uma vez só.”

“Eu estou cansada de tentarmos analisar todas as nossas ações! Tem sempre duas opções e você que tem que decidir qual caminho seguir, Lily. Você quer estar apaixonada por James Potter ou não? Porque se a resposta for não, vá com a sua teoria e da Marlene, diga que tudo isso é da sua cabeça e então procure alguém que você quer amar de verdade. Mas se você achar que esses sentimentos existem e quiser encará-los, então você vai ter que correr atrás do Potter.”

Sem saber qual era a sua resposta. Lily deu um gole na xícara de chá, agora frio. – “Essa é a razão para eu escrever sobre sexo.”


12.
“Então você vai cozinhar para ela?” – Remus Lupin perguntou, molhando um pedaço de frango frito no molho que veio como acompanhamento. Aquele era o seu guilty pleasure. – “Não seria melhor pegar um elfo doméstico com os seus pais? Da última vez que você cozinhou para a gente, quase experienciamos um incêndio.”

“É macarrão, Moony. É impossível que dê errado.”

Na verdade, as chances eram bem altas. James não era um bom cozinheiro, apesar das tentativas de aprender a cozinhar alguma coisa e de morar sozinho há três anos, tudo que ele tinha feito até então tinham um gosto horrível. Ele estava tentando ser otimista.

“Eu li a matéria de vocês pela manhã.” – Sirius falou, observando as mãos de Remus ficarem engorduradas com o frango frito. Era nojento. – “Tenho que admitir, Moody teve uma ótima ideia. Está muito bom.”

Até então, James não tinha dito que havia beijado Lily no encontro que ela tinha planejado. Ele não via o porquê de confessar uma coisa do tipo: não é como se precisasse de algum conselho ou alguma realização sobre um assunto já acabado.

Por que Remus Lupin definitivamente teria algo a dizer. Alguma coisa sobre como eles estavam em um jogo doentio e que nenhum dos dois sabiam onde eles queriam chegar e até quando continuariam com aquilo.

E para essas perguntas, James não conseguiria encontrar respostas.
Encontrar com Lily Evans depois de cinco anos desde a formatura, tinha sido uma coincidência. Trabalharem com duas mesas de distância também. Ele tinha parado de persegui-la há anos e, mesmo com todas reaparições de Lily em sua vida, James nunca voltou a pensar que era destino ou algo do tipo. Ele nunca voltou atrás da sua decisão, porque ele já tinha passado por todas as teorias possíveis quando adolescente. Ele já tinha amado Lily Evans (ou a idealização que ele criou dela) o suficiente para uma vida. Ele já tinha se humilhado e se machucado o suficiente para repetir a dose.

Ao mesmo tempo, ele era incontrolável.
James Potter sabia que ele não precisava comentar sobre os atrasos de Lily. Sabia que não precisava comentar sobre as colunas dela, perguntar como tinha sido o final de semana, saber sobre as manias delas e sobre outros detalhes. Mas, acima disso, ele não conseguia ser um estranho.

Amigos? É, claro, eles poderiam tentar ser amigos, mas o que eles ganhariam com isso? E o que eles perderiam com isso?

E ele sabia qual era a única coisa que eles podiam ser além de colegas de trabalho. Também sabia que, em algum momento, eles explorariam a tensão sexual entre os dois até se cansarem e voltarem a conviver normalmente.

Eles só tinham transformado tudo em uma competição, como sempre faziam. Se tratava de quem daria o primeiro passo, ultrapassar a linha, confessar em voz alta o interesse. James Potter era paciente o suficiente para esperar por ela. Era divertido desafiá-la, vê-la considerar as opções, sentir que ela está a um passo de pedir por mais. O chamem de infantil o quanto quiserem, mas enquanto ela estiver disposta a brincar disso, ele também estará.

“Mas você tem que admitir: quadribol foi uma péssima ideia. Você deveria ter, pelo menos, escolhido um jogo decente. Cannons estão mortos.”
“Era o único jogo naquele dia.” – ele deu de ombros – “Eu espero que as Harpies percam, é o único jeito do Puddlemore ganhar o campeonato.”

“Lembrei porque eu odeio sair com vocês. Vocês só sabem falar sobre esportes e vassouras.”
“E eu lembrei porque odeio te acompanhar nesses almoços… não tem chance de que isso faça bem para a saúde.” – Sirius disse apontando para a batata frita. – “É nojento, Moony.”

“Quem diria que Sirius Black falaria sobre os hábitos alimentares de alguém. Era você que comia três pratos só no café da manhã, não eu, Padfoot.”

“Que saudades dos meus anos de glória!” – Sirius exclamou. – “Qual é a chance da Minnie me deixar dormir uma noite em Hogwarts para participar do banquete no dia seguinte? Eu poderia ir lá e fazer uma palestra sobre como a vida adulta não é tão emocionante assim.”

“Como se a Minerva fosse confiar em você para influenciar a futura geração.” – E após Remus rir e Sirius concordar com a cabeça, os três se entregaram a uma conversa nostálgica, relembrando Os Melhores Momentos Dos Marotos Em Hogwarts.

Pela quarta história, quando Sirius contava pela milésima vez desde que ele se conheceram o caos que ele criou no Três Vassouras ao esconder uma cobra no banheiro feminino, James Potter teve uma ideia. Uma brilhante ideia.


13.
“Qual é o melhor restaurante bruxo da cidade?” – Lily Evans perguntou. Ela e as garotas estavam usando o horário de almoço para fazerem compras na Madame Makin. A lingerie perfeita era o item procurado.

“Você está indo em restaurantes famosos a semana inteira e acha que nós sabemos?” – Emmeline disse, tentando decidir se amarelo ficava bom com o seu tom de pele. Não ficava.
“A Meadowes recomendou um chamado temper, é um restaurante discreto no centro de Londres. Ela disse que lá tem o melhor Bouillabaisse da cidade. Mas por quê você quer saber?”

“É para o meu próximo encontro com o James. Você acha que se eu usar o meu nome e falar que sou jornalista do Profeta Diário eu consigo uma mesa para amanhã à noite?”

“Lily, amanhã é terça. Ao contrário de você, a maioria das pessoas trabalha e não recebe para sair e flertar com James Potter.” – Marlene disse. – “Me desculpe… é o trabalho. Ou o fato de eu ter saído com o Sirius ontem a noite e ele ter me dado um beijo na bochecha em vez de um beijo na boca quando ele foi se despedir.”

“Meu Merlin, desde que quando é Sirius? E desde quando ele é um puritano?” – Lily perguntou, julgando o sutiã roxo que Alice tinha colocado sobre as suas roupas. – “O roxo é bonito, mas o laranja também.”

“Eu não acredito que nós nos encontramos ontem de manhã e você não disse que tinha um encontro com o Black.”
“Me desculpe, Emme. Todo aquela conversa sobre ‘considerar opções’ era porque eu estava considerando a minha opção. Eu não queria pensar que eu e o Black podíamos ser algo como ‘fomos feitos para ser’. Nós nunca nos esbarramos no Ministério, mesmo eu tendo trabalhado lá desde que saí de Hogwarts e… do nada eu encontro com ele e reconheço ele e nossos horários são os mesmo e os nossos departamentos são na mesma direção e eu nunca tinha percebido até aquele dia. Eu poderia pensar que era a mão do destino nos guiando um para o outro, mas vocês me conhecem, eu não vou acreditar nessa palhaçada e tinha que procurar algo lógico para explicar aquilo.”

“E então? Como foi o encontro?”
“Alice… foi… perfeito. Nós não tínhamos um plano. Eu não tinha combinado de encontrar com ele, mandei uma carta depois que Emmeline falou sobre ‘tomar a decisão’ e nós fomos para um bar e conversamos, e foi tão Sirius e descontraído e eu me senti tão bem. Eu realmente achei que nós tivéssemos… vocês sabem. E então ele me leva para casa e me beija na bochecha.”

“Viu! O que aconteceu com os homens? Porque eles não são o que eram antes? Era tudo tão mais fácil e agora eles ficam mandando essas mensagens subliminares.” – Emmeline exclamou. – “Primeiro, Potter com o beijo no pescoço dele e depois Black com um beijo na bochecha. O que significa?!”

“Eu ainda me senti uma vadia depois que ele foi embora. Eu estava esperando que nós transássemos depois do nosso ‘primeiro encontro’ e ele… sei lá… está tentando seguir as regras.”

“Quais regras? As regras de 1817?” – Emmeline disse, provocando uma risada na Lily. – “Por isso que eu odeio homens. Eles se vendem por aí como máquinas de sexo, deuses de uma noite só e, Merlin, quantas vezes eles esperaram ter sexo no primeiro encontro? E você que se sente uma vadia por sentir atração sexual?”

“Exatamente! Eu não deveria me sentir culpada. Mas, agora, quando eu vou ligando os pontos, a situação fica extremamente pior. Sirius Black só me quer como amiga! É por isso que ele não me beijou, não fez nenhuma daquelas insinuações sexuais e, quando eu fui cumprimentá-lo essa manhã, ele me ignorou.”

“Sabe, eu tenho uma teoria.” – Lily disse, tentando decidir entre uma peça verde ou um azul. – “James e o Black fizeram algum feitiço ou alguma poção para nos atacar. Black por você ter abandonado ele na manhã pós-formatura e James por eu ter o rejeitado tantas vezes. Tem que ser uma maldição, Len, essa é a única explicação possível.”

“Como está você e o James, por sinal?” – Alice perguntou. – “Você pensou sobre a nossa conversa de antes?”

“Sim.” – Lily entregou um conjunto vermelho para Marlene. – “Eu vou fazer isso. Fugir disso, seria covardia. Eu sei que quero isso, toda vez que eu paro para pensar sobre, fica mais claro. E, se for uma mentira, se meus sentimentos forem uma ilusão, então eles terão que virar verdadeiros de alguma forma porque eu não vou recuar. As chances de James voltar atrás com a ‘certeza’ dele, é quase nula. Eu tenho que entrar com tudo.”

“Você pode repetir tudo isso? Eu preciso pegar todas essas palavras para quando for dar o discurso no seu casamento.”

“Oh, pobre Marlene. Todas nós sabemos que eu vou ser a madrinha.” – Alice disse, escolhendo a peça laranja.


14.
“Evans!” – James Potter exclamou ao entrar na sala de redação e vê-la já sentada em sua mesa. Era a primeira vez que Lily chegava antes dele. – “No horário? Essa é uma primeira vez.”

“Prazos de entrega… você sabe como é. Por acaso, você acha que uma mulher pode mudar um homem?” – Em cima da mesa de Lily tinha um box de comida chinesa. Réplicas podiam ser encontradas nas mesas de Alice Prewett e Emmeline Vance. Comparar roupas íntimas leva tempo e sabedoria.

“Depende. Que tipo de mudança estamos falando?”
“Vamos supor que eu e você estamos namorando.” – ela disse, vendo ele roubar o biscoito da sorte. – “Mas você tem algum hábito que eu acho repulsivo ou um costume que eu não goste. Algo como nunca prestar atenção no que eu digo, checar o corpo de outras mulheres… saber todos as datas dos jogos do Puddlemere United e não guardar datas importantes do nosso relacionamento.”

“Eu vou ser mencionado na sua coluna?”
“Depende. Qual é a sua resposta?” – Lily assistiu James comer metade do biscoito e ler o recado, guardando-o no bolso da calça em seguida.
“Certo, eu acho que sim, mas tudo tem circunstâncias e casos. Exemplo, eu entendo a questão da atenção, a de olhar para outras mulheres e até mesmo das datas, mas, se por exemplo, você quisesse que eu parasse de andar com o Sirius porque você simplesmente não gosta dele, para mim é uma bandeira vermelha.”

“Eu não mandaria você parar de andar com o Black. Ele é legal e divertido e provavelmente morto se ele não conversar com a Marlene até o final de semana. Entretanto, se fosse Peter Pettigrew, seria um pedido válido, não?”
“Você acha que pedir para você deixar ser amiga do Snape, seria um pedido válido? Esse também é um ponto importante. Você pode não gostar de alguns pontos do seu parceiro e, se quer que ele mude, tem que estar preparada para ouvir o que ele quer que você mude.”

“O que você gostaria que eu mudasse?” – ele tinha sentado na mesa dela e catava pedaços de frango com palitinhos na embalagem de Lily. Aquilo era normal, mas o coração dela batia mais rápido.

“Primeiro: parar de sair todas as noites e flertar com todos os caras que você encontra. Você é comprometida, srta. Evans, e isso me deixa incrivelmente irritado. Segundo: parar de chegar atrasada toda vez que vamos sair. Você quase nunca está no horário, a única vez que você chegou no horário foi hoje. Terceiro: não usar o seu cabelo em um rabo de cavalo, é muito desconcertante.”

“Sério, James? Você tem um fetiche por rabos de cavalo?”
“O seu particularmente.” – ele disse, despreocupado, roubando não só pedaços de frango, mas comendo metade da comida que Lily tinha deixado no pote. Merlin. – “Isso significa que você está considerando o primeiro item? Agora eu posso dormir mais tranquilo.”

Ela decidiu ignorá-lo – “Agora, coisas que eu gostaria que você mudasse: primeiro, pare de roubar a minha comida. É a única coisa que eu vou ter até o seu incrível jantar. E você ainda comeu o meu biscoito da sorte. Mudança Nº2: não coma meus biscoitos da sorte.”

“Por que você precisa de biscoitos da sorte? Você é uma bruxa, Evans. E, se eu não me engano, adivinhação era uma das matérias opcionais que você fez.” – ele devolveu o pote de comida para Lily. Infelizmente, ela não conseguiria arranjar nenhum pedaço de frango no seu pedido de yakisoba. Nem cenouras. – “Por falar em jantar, podemos ir para a minha casa diretamente depois do trabalho? Pensei que você podia ir comigo e me ajudar a cozinhar caso algo dê errado.”

“Para a sua informação, James, eu uso o meu forno para guardar sapatos. Eu duvido que consiga ser de uma boa ajuda, mas por mim tudo bem. Podemos sair daqui, parar para um chá e ir para a sua casa. Eu espero que você esteja preparado, eu sou uma bisbilhoteira.”

E ela era.
James Potter descobriu isso quando ela frequentemente mexia nos livros que ele deixava na mesa do dormitório dos monitores quando eles trabalharam juntos em Hogwarts. E, agora, no apartamento dele, ela abria as gavetas do móvel na sala de estar e passava o dedo pelos livros na estante.

“Não sabia que você lia romances.” – ela disse, traçando a lombada de Mansfield Park. – “Fã da Austen?”

“Na verdade não. Não é o meu tipo de livro. Eu encontrei esse por acaso.” – James havia achado o livro no banco de uma praça uma vez. Ele não sabia se deixava o livro lá ou não, mas decidiu ficar com ele quando leu a dedicatória em uma das primeiras páginas.
“Você tem uma parte preferida?” – ela perguntou, folheando o livro. Sua mãe tinha dado uma coleção de Jane Austen para ela em um dos seus aniversários, mas ela nunca os tinha lido. Não gostava de ler histórias com homens perfeitos e irreais. Ela era uma cética.

“Sim… mas não conte para o Sirius, ele vai me achar sentimental.”
“Quem é mais sentimental que você, James? Você sabe a página? Eu quero julgar o seu gosto.”

“Eu sei de cor.” – James disse, encostado na bancada na cozinha e passando uma mão pelo cabelo. – “O que provavelmente piora a minha situação.” – ele bebeu um gole do vinho. Lily se sentou colocando as pernas em cima da cadeira e apoiando o queixo no joelho. – “Ok, o livro é sobre Fanny, ela é apaixonada pelo primo dela, Edmund, que, por sua vez, se apaixona por Mary Crawford, que se tornou uma conhecida de Edmund e das irmãs dele. Mary tem um irmão, Mr. Crawford, e você passa o livro inteiro se convencendo que, no final, Mr. Crawford e Fanny ficaram juntos. E então, tem a cena em que ele se confessa e pela primeira vez em todo o livro, ele usa o primeiro nome dela em vez de Srta. Prince e eu acho toda a cena absurdamente linda.”

Ao terminar a pequena contextualização, Lily percebeu que James nunca a chamava pelo primeiro nome.

“Você realmente quer ouvir isso? É um pouco dramático.” – ele falou, novamente passando a mão pelos cabelos escuros.
“Ande logo, James, a sua missão é me impressionar.”

“Certo. Lá vai…” – James limpou a garganta. – “‘Não é com protestos que eu me esforçarei para convencê-la de que me entendeu mal; não é lhe dizendo que as minhas afeições são estáveis. A minha conduta falará por mim, a ausência, a distância e o tempo falarão por mim. Tudo isso provará que, se alguém a merece, esse alguém sou eu. Eu não tenho medo. Sim, minha querida e doce Fanny, talvez eu ainda não tenha esse direito, mas por qual outro nome eu poderia chamá-la? Por acaso supõe que esteja presente na minha imaginação sobre qualquer outro nome? Não. É em ‘Fanny’ que eu penso o dia inteiro e sonho a noite inteira.’” – Lily o observava com uma certa admiração e ele rompeu o olhar, tentando quebrar o feitiço. – “Eu acho que me esqueci de metade do discurso, mas essas são as partes mais interessantes.”

“E eles não ficam juntos no final?”
“Não. Ele tem um caso com uma mulher casada e a reputação dele é manchada para sempre. Mary e Edmund também não se casam e no fim ele percebe que ele e a Fanny são perfeitos um para o outro. Esse livro é um absurdo, mas é igualmente interessante.”

“O que você quer dizer?” – ela esperava que ele revelasse algum segredo, como se saber mais sobre ele a ajudasse a terminar o quebra-cabeça.

“Todos os personagens são tolos. Por exemplo, Mr. Crawford: ele dá o seu discurso e ele sabe que terá algum impacto em Fanny, ela ama alguém que está cegamente apaixonado por outra mulher e ela sabe que as chances dela e Edmund ficarem juntas são praticamente nulas. E no livro todo, ela é sempre ignorada, Henry Crawford a viu e ela consideraria isso em algum momento. Mas, ele é um tolo. Ele desconfia de si mesmo e perde sua chance. E a autora ainda diz, no fim do livro, que eles teriam sido felizes se tivessem ficado juntos, que Fanny teria entregue o seu coração. E o que resta a ele? Anos considerando a possibilidade do que eles teriam sido.”

Apesar de saber que não tinha nenhuma acusação na fala de James, Lily Evans conseguiu ver um pouco dos dois na situação e não gostou nenhum pouco da analogia que formou na sua cabeça.

“Você nunca me chama de Lily.” – ela disse e ele riu enquanto jogava o macarrão na panela.
“Sério, Evans? De tudo que eu disse, isso é tudo que você tem para dizer?”
“Eu poderia te provocar com o seu lado romântico e contar tudo isso para o Moody para você ficar encarregado de fazer o ranking dos Melhores Romances Semanais do Profeta Diário, mas eu prefiro que mudemos de assunto: eu te chamo de James desde o sétimo ano, por quê você ainda me chama de Evans?”

“Que eu saiba, você me amaldiçoava para te chamar pelo sobrenome em Hogwarts.” – ele disse, os óculos embaçados por causa do vapor da água quente. – “Da última vez você deixou o meu cabelo azul por um mês, Evans.”

“Mas as coisas mudaram. Nós somos colegas de trabalho agora.”
“Eu trabalho com a Meadowes também e eu a chamo de Meadowes.”
“Sim, mas a Meadowes não tem que aguentar você todos os dias. Vamos lá, James, agora que eu percebi que eu te chamo pelo primeiro nome e você ainda me chama pelo meu sobrenome.” – Lily tentou justificar. – “Diga.”

“Ok… Lily. Você está satisfeita?”
“Na verdade, sim. É tão melhor que Evans. Você só tem permissão para me chamar de Lily de agora em diante.” – ela disse. Tinha algo apelativo na forma em que ele disse o seu nome.

“A Lily Evans de anos atrás estaria decepcionada. Toda vez que eu te chamava de Lily, você dizia ‘É Evans, Potter.’” – ele a imitou, com uma voz fina e aguda.

“Eu não falo assim, James!”
“Sim, você fala, Lily.” – e ela estava prestes a retrucar. Mas soava tão bem… Ah, que tola. Lily Evans, a tola apaixonada. Espalhe para a cidade ouvir, por favor.

Estar com ele era tão calmo e simples e certo. Em quem ela tinha se transformado? Um pouco mais de uma semana atrás ela provocava ele sobre a sua ‘habilidade’ na cama e agora, ela estava encantada com a forma que ele dizia o seu nome.

“Preparada para comer a pior refeição da sua vida?”
“Sonhando a respeito.” – Enquanto James colocava o prato com comida na mesa enfeitada precariamente com velas, Lily prendia o cabelo em um rabo de cavalo.

“Oh, Lily, isso é jogar sujo.” – ele disse. Os seus lábios passariam o resto da noite desejando beijá-la como tinham feito no encontro anterior.


15.
“Quantos encontros você acha que temos que esperar para transar?” – Lily perguntou, encarando Marlene e Emmeline. Alice estava ocupada almoçando com o namorado.

“Não me diga que você também foi afetada pelo vírus. O que aconteceu com vocês?”
“Estatísticas.” – Lily e Marlene responderam em uníssono. – “Você sabia que se os homens não estão comprometidos em um relacionamento, a tendência é eles perderam atração romântica após o sexo?”

“Você está lendo muitas revistas, Len. É um pouco preocupante.” – Emmeline disse, pegando uma colher do sorvete de chá-verde. Ela sabe o que você vai dizer: É inverno, você não deveria tomar sorvete quando está fazendo 14° C, mas ela não se importava. Processe-a. – “E por que o súbito interesse? Você está planejando algo com o Potter?”

“A minha maior prioridade não é ter o James na minha cama, mas ele é bastante atraente… e eu estava pensando sobre. Eu pretendo usar um vestido tão atraente quanto hoje a noite… então, se eu estiver excitada, eu devo fazer ou devo esperar como a minha mãe sempre me mandou?”

“Primeiro, uma coisa é clara: você deveria ter escutado a sua mãe. Teria te poupado de péssimas experiências.” – Marlene disse, rindo. Lily deu um tapa leve no ombro da amiga. – “Só faça, Lily. Vocês se conhecem há anos, você não precisa mais ficar jogando joguinhos. Eu, por outro lado, não sei se o Sirius está tentando se vingar de mim, ou tentando fazer com que nós viremos algo sério.”

“Sabe, eu preciso mudar de amigas. Vocês levam a ciência e costumes muito ao pé da letra. Por que vocês não seguem o próprio ritmo de vocês e aproveitam? Vocês realmente querem ser neuróticas pro resto da vida de vocês por causa de romance?”

“Ela está fazendo de novo.” – Marlene comentou, abrindo um chocolate. – “Nos julgando.”
“Ela tem razão? Nós estamos matando o bom velho amor com teses, teorias, equações, palestras e pesquisas?” – Lily questionou, arqueando uma sobrancelha. – “Eu estou obcecada? Eu sei muito? Isso é justo?”

As três ficaram ponderando.
Quanto mais pensava no assunto, Lily sentia a sua cabeça pesar. Ela sabia que estava pensando muito no assunto, muito mais do que deveria, mas, pelo menos em relação a James, ela se sentia desesperada em fazer com que tudo desse certo.

Ela queria tanto que ele correspondesse os seus sentimentos. Queria que ele se sentisse da mesma forma que ela: o conjunto de sentimentos divergentes e convergentes; a oscilação entre querer ser unicamente dele e, ao mesmo tempo, não querer causar dano a tudo ao redor da vida dela. Mas era justo usar o conhecimento que tinha para conquistá-lo? A ideia de fazê-lo se apaixonar por ela era tão impossível de acontecer naturalmente que ela precisa usar teorias comportamentais para manipulá-lo?

‘Não importa o que você quisesse, seria seu porque você é você, Evans.’ – ele tinha dito, mas ela conseguiria acreditar naquilo? Ela conseguiria fechar os olhos e se entregar?

“Foi uma péssima ideia ter essa conversa sem a Alice. Nós somos três solteironas que só tiveram péssimos namorados. Alice saberia o que nos dizer.” – Marlene cortou o longo silêncio.

Porque, se ela não se entregasse, qual era o ponto?
Se ela não quisesse sentir os altos e baixos, então porque ela estava tentando? Merlin, ela queria que os sentimentos de James por ela fossem genuínos, não frutos de uma lavagem cerebral.

“Eu vou concordar com a Emmeline.” – ela anunciou. – “Você está certa, eu deveria seguir o ‘meu’ ritmo e torcer para que tudo aconteça naturalmente. Vou parar de usar os números ao me favor e começar a depender das minhas emoções.”

“E o que fazer quando ele está usando os números?” – Marlene perguntou. O esforço que ela estava colocando naquela relação com Sirius era adorável e novo. – “Eu espero que ele me chame para sair logo. Eu estou cansada do jogo ‘faça ela esperar três dias para ligar’, primeiro porque funciona e segundo porque eu me sinto manipulada. Eu juro que se tudo isso for um plano de vingança estúpido, eu vou matá-lo.” – ela exclamou, fazendo com que Emmeline e Lily sorrissem.

“Se ele não te chamar para sair, eu acho que você tem o direito de matá-lo. Deve estar nas regras.” – Lily disse, sorrindo. – “Mas então concordamos que eu devo usar aquele vestido azul-marinho que eu comprei para ir na festa de Natal do Profeta Diário dois anos atrás, desisti na última hora e que agora está escondido atrás da minha geladeira para eu não lembrar o quanto eu gastei nele?”

“Isso não deveria nem ser uma pergunta, Lily. Você obviamente tem que usar aquele vestido, não é uma opção.” – Emmeline falou. – “E, eu só vou dar o meu último comentário: vocês duas precisam arrumar a vida amorosa de vocês, olha só a volta que nós demos por causa de homens. Eles não merecem o nosso esforço ou a nossa energia perdida.”

Marlene McKinnon e Lily Evans não podiam concordar menos.


16.
Os olhos de James Potter vagaram pelo restaurante e acharam Lily Evans entrando pela porta. Subitamente, ele se viu mudo.

Merlin, ela estava linda.

“Me desculpe te deixar esperando. Alice me disse que era um restaurante discreto, mas eu não sabia que era tão discreto assim.” – ela disse, se inclinando e cumprimentando James com um beijo na bochecha. – “Onde está a sua educação, James? Você não vai dizer boa noite?”

“Perdão, Lily. Você está estonteante, eu não sabia o que dizer por um momento.” – Lily se sentou na cadeira vaga a frente dele. O colar que ele havia presenteado brilhava no pescoço dela. – “Ou dois.” – ele adicionou ao ver o quão absurdamente bela Lily era.

“Ser elogiada pelo Homem do Ano… eu posso mencionar isso no meu currículo?”
“Vocês do jornal nunca vão deixar isso morrer, vão?” – ele sorriu, passando uma mão pelos cabelos castanhos. Ele era absurdamente lindo, Lily não conseguia parar de observá-lo.
“Claro que não! Você é nosso orgulho. Além de ser o jornalista que mais aparece no Seminário das Bruxas, você também foi só eleito como O Melhor Solteiro como o Homem do Ano… e por votação popular!”

“Tudo isso por causa do meu charme, Lily.” – ele acenou para o garçom. – “Podemos ir de vinho branco ou você quer outra coisa?”

“Vinha branco está bem.” – ela concordou. James encheu a taça vazia com água. Ela abriu o cardápio e folheou-o. – “Então… eu fiz uma lista dos tópicos menos discutidos em um encontro para evitá-los, caso a gente chegasse neles. Mas não seria legal chegar a conclusão do por que eles são os menos discutidos?”

“Não me diga que você tem uma lista e um caderno na sua bolsa.”
“Eu tenho. E a minha caderneta está toda amassada porquê ela não cabia na bolsa, mas era a única bolsa que eu tinha que combinaria com esse vestido.” – Ao escutar a palavra vestido, James observou a peça novamente. Merlin. – “Eu sei que não é o lugar mais apropriado, porém é interessante.”

Enquanto experimentava o vinho trazido pelo garçom, James duvidava daquela afirmação. Tinha uma razão pela qual aqueles assuntos eram tabus e ele podia imaginar algum deles: política; dinheiro; antigos relacionamentos e… sexo. Ele achava ser capaz de desviar dos três primeiros, mas ele não conseguia pensar em nenhum encontro ou refeição que tiveram até o momento em que Lily não tivesse dito nada relacionado ao último tópico.

“Você nunca para trabalhar?” – ele perguntou assim que os dois tinham feito o pedido para o prato principal.

“A resposta para essa pergunta é incrivelmente pessimista. Eu só não consigo desativar o meu cérebro! Tem perguntas para serem feitas e assuntos para serem discutidos.”
“E você sempre parece capaz de atrelar qualquer pergunta com sexo ou outro tipo de relacionamento.”

“É a minha vida, James.” – Lily deu um gole no vinho e experimentou o couvert. – “E eu estou pensando em escrever um livro. Uma ficção, mas usar todos as informações que eu descobri nos últimos anos. Com certeza vai ser um best-seller. Vai ficar na lista do Profeta Diário por meses.”

“Como você se tornou uma colunista de sexo, por sinal?”
“Não me pergunte coisas que eu não sei explicar. Depois que eu saí de Hogwarts, eu achava que fosse virar uma preparadora de poções, mas acho que passei a me interessar mais sobre como uma poção do amor funciona e suas consequências do que como prepará-la, junte isso com coquetéis e voilá! A notícia ruim é que eu me vejo desempregada daqui a cinco anos, mas a notícia boa é que eu não serei apenas uma escritora best-seller, como pretendo começar a realizar pesquisas na área. Eu quero descobrir o que nos leva a nos apaixonarmos, desvendar todos esses pequenos segredos.” – ela disse. – “E você? Por que você se tornou um comentarista de esportes e não um jogador oficial?”

“Primeiro, se eu virasse um jogador oficial, os outros jogadores não teriam chance. E, mesmo recebendo ofertas, quando eu coloquei no papel, eu percebi que tinha mais a perder do que a ganhar. Eu sou um amante de esportes em geral e, apesar do meu foco no jornal ser quadribol, eu ainda tenho a oportunidade de comentar excitantes jogos de Bexigas e até esportes trouxas. Sem contar que eu posso me afastar, se quiser. Ser um jogador profissional é ter a sua vida dependente do jogo… eu não queria isso, nem a chance de perder a paixão em quadribol.”

Eles passaram um momento se observando.
O silêncio surgiu e um barulho na mesa ao lado fez com que James desviasse o olhar.

“Ok.” – ela disse, puxando da bolsa um pequeno papel com, no mínimo, doze itens. – “Nós podemos fazer isso? São perguntas pessoais, mas, honestamente, eu estou morrendo de curiosidade.”

“Quando você não faz uma pergunta pessoal, Lily?” – ele deslizou o antebraço um pouco pela mesa.
“Você está pronto?” – perguntou após morder o lábio inferior, certa de que estava recebendo toda a atenção possível. James respondeu com um murmúrio. – “Qual foi a pior experiência sexual que você já teve?”


Duas horas depois, Lily Evans e James Potter tentavam alongar o encontro pedindo uma segunda xícara de café (uma péssima decisão a se tomar quando o dia seguinte era uma quarta-feira) e riscavam mais um item na lista dela.

Ela nunca tinha se divertido tanto. Eles passaram todo o tempo (entrada, prato principal, sobremesa e primeiro café) trocando olhares sobre as taças de vinho e sobre a vela mágica entre os dois. E, quanto mais descontraídos eles ficavam, mais forte o coração de Lily batia dentro de seu peito.

“Preparado para a última pergunta?” – ela perguntou, brincando com o pingente do colar. James, do outro lado da mesa e com dois botões da camisa social desfeitos, assentiu. – “Qual é a sua fantasia sexual?”
Ela o assistiu abrir um sorriso – um dos sorrisos charmosos dele – e percebeu o castanho realçar nos olhos castanhos esverdeados. Lily Evans já tinha visto aquela expressão antes e qualquer que fosse a resposta de James para aquela pergunta, ela estava prestando toda a atenção possível.

“Isso não é pessoal demais?” – ele perguntou. – “Se eu confessar, você promete contar a sua?”
“Você é o entrevistado, James, não o entrevistador. É algo tão sujo assim?”

“Não sujo, mas certamente embaraçoso.” – Lily arqueou uma sobrancelha, desafiando-o. – “Eu preciso contar a minha fantasia com todos os mínimos detalhes, ou posso apenas dar as informações principais?”

“Isso é preocupante, James. Mas, ok, eu aceito só as informações principais. Quem; quando; onde e como.”
“Não é o tipo de fantasia sexual que tem um como, Lily.” – ele disse e então passou uma mão no cabelo, arrumou os óculos, fechou os olhos, os abriu de novo e a encarou como se dissesse ‘não acredito que estou prestes a dizer isso.’ – “Eu. Você. Após um jogo. No vestuário.” – Se os boatos forem verdadeiros, Lily Evans corou. Ela nunca cora. – “Pronto. Quais são as suas?”

“Espere. Você não pode dizer isso e não dar os mínimos detalhes, James.” – ela exclamou. Ainda um pouco surpresa com a revelação.

“Você disse que eu podia. E, vamos lá, Lily, você realmente quer escutar toda a baboseira?”
“Sim! Eu estou na sua fantasia, eu quero saber o que acontece com a minha honra.”

“Oh, eu posso jurar para você que, se a minha fantasia fosse colocado em prática, você perderia a sua honra em questões de segundos.” – ele se inclinou na cadeira. – “O que eu posso dizer é que, tudo começa com você entrando furtivamente nos vestiários depois da vitória, usando uma blusa com um grande “Potter” atrás e decidindo me parabenizar. A sua mente pervertida por montar o resto para você. Agora, é a sua vez.”

“Merlin. Você é o pior, James.” – Lily falou, lambendo o lábio em seguida. A fantasia de James era promissora, mas ela estava certa que a dela era melhor. – “Eu. Você. Pré-exames. Biblioteca.” – ele demorou um tempo para dizer alguma coisa, os olhos dele se escurecendo cada vez mais.

Não era uma mentira. Era um segredo que ela tinha guardado para si mesma, até perceber que não era mais necessário.

“Isso soa incoerente. A biblioteca nunca estava vazia nas semanas antes dos exames.”
“É isso que deixa a coisa bem mais excitante, não acha? Não é só risco de ser pego pela Sra. Park ou pelos visitantes regulares da biblioteca. Você tem alunos de todos os anos circulando por lá e não tem só que achar um lugar secreto, mas também não pode fazer nenhum barulho.”

“E…” – ele limpou a garganta. – “Na sua fantasia, você consegue ficar em silêncio?”
“Essa é a sua forma de perguntar se nós conseguimos passar por toda experiência sem fazer um som revelador? Porque se essa for a pergunta, a resposta é… dificilmente.”


17.
“Lily me quer.” – James Potter anunciou. A declaração era tão cheia de si que Remus Lupin gargalhou. – “É uma risada de descrença? Merlin, Moony, obrigado pelo apoio.”

“Me desculpe, Prongs.” – Remus disse, após voltar ao normal. – “É como se eu tivesse viajado ao passado, só isso.”

“Eu tenho certeza, dessa vez.”
“Como você tinha certeza em todas as ocasiões passadas?” – o amigo perguntou. Sabia que não deveria provocar James, mas toda a situação era cômica.

Mesmo com o comentário cético de Remus, James estava confiante. Ontem, durante o jantar, as ações dela tinham deixado tudo bem claro. Ele esperaria ela tomar o primeiro passo para ter certeza (já que se tratava de Lily Evans), mas ele estava certo que ela queria levá-lo para a cama.

“Acredite em mim, ela está a fim de colocar um fim neste jogo.” – Oh, pobre James… se ele apenas soubesse…
“Isso é ótimo…” – Sirius disse. Ele olhou o relógio antes de prosseguir. – “Só demorou quase 20 anos.”

“É uma pena que vamos ter que cancelar a festa que estávamos planejando para vocês. Ia ter bolo, chapeuzinhos e o jogo da garrafa para ver se vocês se finalmente se beijavam.” – Remus deu um gole na cerveja amanteigada. – “Eu estava bastante empolgado… faz dez anos que saímos de Hogwarts e a chama pra sair desde o 3º ano…” – ele fez as contas – “Poucos casais aguentam 15 anos de tensão sexual.”

“Já que já temos o drama do James resolvido, podemos discutir sobre o que diabos eu tenho que fazer para conquistar a Marlene? Vocês sabem que eu não sou o tipo de pessoa que conversaria sobre isso, mas, Merlin, minha cabeça está doendo há dias. Só faz umas duas semanas que nós nos encontramos e começamos a conversar e tudo que eu vejo se torna algo que eu quero comentar com ela e fazê-la rir e ela é tão bonita.”

“Céus, não acredito que eu vivi para ver James Potter e Lily Evans transarem como para ver Sirius Black apaixonado. O mundo está prestes a acabar, eu tenho certeza.”

No início, a intenção de Sirius era se vingar: uma noite juntos e na noite seguinte ela acordava sozinha na cama. Mas quando ela o convidou para subir ele entrou em pânico. – “Eu beijei a bochecha dela, Moony. Não foi um beijo na boca, foi na porra da bochecha. Quantos anos eu tenho? 3?” – Sirius grunhiu e encostou a testa na mesa. – “É possível se sentir assim em duas semanas? Como se você estivesse perdendo o controle de tudo?”

“Eu acho que sim.” – James disse. Ele sabia mais do que devia: Lily andava comentando ultimamente que Marlene estava esperando um convite, um sinal, um beijo… qualquer coisa. – “E eu diria para você ligar para ela… talvez Lily tinha me dito que se você não fizer logo, ela vai castrá-lo.”

“Isso é medonho.”
“É a McKinnon, Moony. Não tem nada nela que não seja medonho.” – Sirius Black então sorriu para o vazio e James analisou a expressão do amigo. Por mais que as pessoas apaixonadas tivessem algo que as diferenciassem das demais, ele podia concluir que alguns sintomas eram universais.

Apesar de ter sido considerado um ‘playboy’ por vários anos, não é como se Sirius tivesse um plano de não se apaixonar por nenhuma garota. Ele tinha tentando, diversas vezes, começar um relacionamento com uma das mulheres que havia conhecido, mas, mesmo que indesejado, o desinteresse vinha em algum momento.

Ele não sabia explicar o que Marlene McKinnon tinha que atraía toda a atenção dele.
Desde que se esbarraram no ministério, Sirius Black tinha vivenciado três dos sete mecanismos de defesa teorizados por Sigmund Freud.

O primeiro deles foi a repressão. Uma tentativa de controlar a ansiedade ao considerar a possibilidade de que, talvez, no dia seguinte, ele a encontrasse novamente. A repressão era aliada ao segundo mecanismo, a negação, de que ele, Sirius Black, queria vê-la novamente, queria conversar com ela novamente e, possivelmente, retomar o relacionamento que tiveram nos anos em Hogwarts.

Poucos minutos depois, assim que ele a encontrou por acaso pela sexta vez, Sirius passou a experimentar o seu terceiro mecanismo, a racionalização. O motivo para ele querer vê-la novamente não se tratava de um possível interesse romântico, aquela ideia era inaceitável, portanto, a saudade dos seus anos de adolescência e a melancolia de ter perdido uma amizade eram as razões lógicas capazes de resolverem aquela questão.

Agora, ele passava por três outros estágios. Se ele estivesse preocupado em fazer uma análise psicológica de suas ações, Sirius Black não conseguiria reconhecer se estava sofrendo de:

1) Regressão: o retorno a um modo de expressão mais simples, visando aliviar a ansiedade: a resolução do pânico ao se despedir dela e a escolha de um beijo na bochecha do que a despedida que ele estava mais acostumado.

2) Formação Reativa: quando o ser faz algo oposto ao que realmente deseja inconsciente. O que poderia ser usado para explicar o porquê dele ainda não tê-la chamado para sair quando claramente era aquilo que ele gostaria de fazer.

3) Isolamento: usado para proteger o ego de aceitar aspectos de relacionamentos dominados pela ansiedade, o que poderia justificar o fato dele estar a evitando.

Ou se estava vivendo os três juntos.
E o único mecanismo de defesa que ele se preocupava com era a projeção. Marlene McKinnon estava, de fato, interessada em construir algo ou ele estava atribuindo esses sentimentos a ela?
Ouvir a frase de James não resolviam o embate mental que ele estava tendo consigo, mas, de uma forma ou outra, ajudavam a situação.

“Tenho que chamar Marlene para sair comigo.” – anunciou. Remus revirou os olhos, não estava óbvio?
“Sim, capitão. Você precisa.”


18.
Algumas horas depois, Lily Evans encontrava com James Potter na frente do Royal Opera House. Dessa vez, o vestido dela era de alças. Só por precaução.

Ela não era grande fã de óperas ou de espetáculos musicais, mas, enquanto se atrasava para chegar na sede do Profeta Diário, Lily acabou ganhando dois ingressos para uma apresentação de sua mãe. Os ingressos pertenciam originalmente a Petúnia Evans e ao seu marido, mas, devido a uma criança doente em casa, o casal tinha passado os ingressos para Helena Evans, que, obviamente aproveitaria a apresentação com o seu marido.

Se ele não odiassem ópera.
E foi essa a causa do telefonema que Lily recebeu, às 08:12 (exatamente doze minutos após o início do seu expediente) de sua mãe. Como ela não tinha nenhuma ideia para o encontro que deveria acontecer naquela noite, ela aceitou os ingressos, sem dizer para a sua mãe que seu acompanhante era James Potter e não uma das suas amigas.

No almoço, ela escutou de três mulheres como aquela era uma péssima ideia.
“Você desistiu de ganhar? É uma ópera, Lily, não um musical! Você só vai a óperas se você tem setenta e seis anos e dezoito netos.” – Emmeline disse.

“Eu sei que é um pouco entediante, mas eu tenho que ir. Vocês tem noção de quão absurdamente caro são entradas para óperas?”
“E daí? É o dinheiro da sua irmã. Tente vender na internet e compre um sapato novo com o que conseguir.” – Alice sugeriu. No início do almoço, as quatro tinham feito uma promessa silenciosa em não conversar sobre homens, mas ela logo foi quebrada: Frank Longbotton; James Potter; Sirius Black e qualquer homem que Emmeline tivesse encontrado na noite passada precisavam ser mencionados.

“Era ou ir em uma ópera ou ir jogar boliche. E, honestamente, eu prefiro fracassar com uma coisa ‘refinada’ do que publicar no jornal mais lido do país sobre como a ideia para um encontro romântico de uma colunista de sexo é jogar boliche.”
“Pelo menos o boliche teria te rendido alguma piada sexual.” – Marlene comentou. – “Achei que você estivesse tentando conquistar o Potter, eu duvido que ele vá gostar de toda essa experiência artística e entediante que você vai fazê-lo passar por quatro horas.”

“Vai ser legal! Talvez eu me surpreenda!”

#Spoiler Alert: não houve nada de empolgante.

Pelo menos não durante o primeiro ato. E nem na metade do segundo.
Lily olhou para o lado, James usava um terno e gravata-borboleta. Céus, ele era lindo.

Ela apoiou a cabeça no ombro dele, enquanto tentava focar na apresentação de Carmen. Segundos depois ela olhou pra cima, observando a mandíbula do rapaz. James virou a cabeça suavemente, sorrindo.

Ele passou a mão pelo encosto de braço e colocou a mão na coxa de Lily. Ela estava muito feliz que ele tinha feito aquilo, agora ela tinha outra razão para explicar o porquê de não ter focado na apresentação. Entretanto, apesar das vontades de Lily, a mão dele só ficou lá, no centro da sua coxa. Era mais um toque amigável do que algo a mais.

Merlin, ela não acreditava que estava querendo algo a mais em um salão de ópera, com centenas de pessoas ao redor dos dois.

Aproveitando o braço de James estendido, ela passava o dedo indicador pelo dedo meio do rapaz até chegar ao pulso e então retornava ao dedo. Era uma versão resumida do toque dele no cinema.

“Isso é entediante.” – ela sussurrou.
“Que bom que você sabe, Lily.” – ele respondeu assim que os olhos dele estavam observando os dela. – “Só assuma que você não sabe montar encontros.”

“Você quer ir embora e ir comer uma pizza?”
“Nós estamos no segundo ato. Você não quer saber como acaba?” – Durante a pergunta, a mão de James apertou suavemente a coxa de Lily.

“Honestamente? Não. Eu não estou acompanhando a história. Mas se você quiser, eu consigo esperar.”
“Acho que estou tão entediado quanto você. Faremos o seguinte: vamos embora durante intervalo, isso não pode durar tanto tempo assim.”

Lily assentiu com a cabeça e depois voltou a encostá-la no ombro de James. Ela fechou os olhos, sentindo que poderia dormir a qualquer momento. James começou a fazer movimentos circulares com o dedão em um ritmo tão suave que, em questão de minutos, ela realmente caiu no sono.

“Acorde, Bela Adormecida.” – a frase a despertou e, quando reconheceu onde estava, Lily ficou consciente do rosto de James a centímetros do dela. – “Essa é a nossa hora de escapar, se quisermos.”

“Por favor! Eu estou morrendo por uma cerveja e uma fatia de pizza, mesmo que nenhum dos dois sejam bons acompanhamentos para esse vestido.”
“Você está linda, por sinal.” – James disse, entrelaçando as mãos enquanto eles passavam pelo estreito corredor entre as cadeiras. – “Mas ainda assim, esse vestido não parece quente o suficiente para o início de fevereiro.”

“Eu tenho você para me esquentar, James. E esse vestido é mais grosso do que parece.” – eles desceram as escadas que ligavam o térreo ao salão e foram em direção da chapelaria. O coque que Lily estava usando agora estava bagunçado devido a posição que ela dormiu e, incomodada, ela o desfez tirando alguns grampos. – “Você vai querer comer pizza comigo ou você vai me abandonar pelas solitárias ruas de Londres?”

“Que tipo de cavalheiro seria eu ao abandonar uma linda donzela? Por que você está com tanto sono hoje? E você não pode dizer que é porque eu sou entediante se foi você que nos trouxe aqui em primeiro lugar.”

“Acho que foi por causa de ontem. Nós ficamos naquele restaurante até 00:00 e hoje é quarta-feira, dia de entregar a minha coluna. Passei a madrugada inteira terminando aquele texto.”
“Aquele sobre se as mulheres mudam os homens?”

“Sim. Ele vai ser publicado na sexta. Eu recebi respostas tão interessantes. Uma mulher me disse que o namorado dela se interessava mais sobre o rendimento do Puddlemore na temporada do que para o relacionamento dos dois e então ela começou…”

“Sabe, Lily, eu tenho mais um ponto que eu gostaria de mudar em você.” – ele a interrompeu.
“O que é?” – ela perguntou. Apesar de estarem fora do conservatório, as mãos deles continuava entrelaçadas.

“Pare de falar sobre o trabalho quando você deveria flertar comigo.” – James Potter virou-se para encará-la quando Lily parou no meio da calçada. Ela mordia o lábio inferior enquanto sorria. – “O que foi?” – Ela estudou a expressão no rosto dele.

“Você não acha que já flertamos o suficiente, James?” – ela arrumou o cabelo com a mão livre. – “Não é hora de deixar a reação em cadeia acontecer?” – James se perdeu nas palavras dela. Poucas palavras, mas as palavras certas para fazer com que ele sentisse o corpo dele pegando fogo.

E eles ainda disseram que aquela seria uma das noites mais frias do ano.

Lily deu um passo em direção a ele colocou uma mão no peito dele e, com o encurtamento da distância e o toque, James soube que era aquilo. Eles estavam dizendo adeus para colegas de trabalho e recebendo o provisório título de amantes.

Quando tivessem explorado o que tivesse para ser explorado, eles decidiriam se seriam estranhos, amigos ou se voltariam a ser colegas de trabalho e agir como agiam com os outros do escritório. Mas, naquele momento, os lábios de Lily Evans tocavam os lábios de James Potter.

Certamente existiam várias pesquisas e teorias e estudos para explicar como eles se sentiriam, para explicarem o calafrio que Lily sentiu descer por toda sua espinha e a eletricidade que fez com que os lábios de James recuassem milímetros dos lábios dela antes de a ansiedade tomasse o controle e ele a beijasse de novo. E certamente existem especialistas para nomear todos os hormônios no processo, para detalharem a necessidade de se moverem para mais perto, de se tocarem, de irem o mais profundo que conseguissem.

Mas o que um autor sabre sobre as inúmeras reações químicas acontecendo nos corpos de James Potter e Lily Evans enquanto eles experimentam o que mais tarde eles chamaram de pequena prévia do paraíso?

Para ele, o beijo era incomparável porque ele tinha passado décadas querendo saber como era beijá-la e a realidade era muito melhor que a fantasia.
Para ela, o beijo era inigualável porque ele era James Potter e porque ela estava se apaixonando por ele a cada hora que passava: uma queda livre sem fim.

É interessante a descrição de um evento utilizando tempo.
Por exemplo, um observador poderia dizer que o primeiro beijo de James Potter e Lily Evans demorou uma quantidade razoável de tempo (além do esperado para um beijo, mas o tempo esperado para o primeiro beijo de um casal como eles), enquanto que, se perguntado ‘Quanto tempo vocês gastaram se beijando?’ para os envolvidos, eles escolheriam um número seguido de minutos, horas, décadas.

Trazendo outra questão para ser analisada, James afirmaria que ‘em um piscar de olhos’ eles adentraram ao apartamento em um bairro trouxa em que Lily morava, porém, se o evento tivesse sido cronometrado em um bom relógio, o ‘piscar de olhos’ de James Potter equivaleria a treze minutos e vinte e sete segundos. Da mesma forma que Lily Evans reclamaria que James demorou milênios para tirar todas as peças de roupa do corpo dele, quando, na realidade, ele gastou o tempo ordinário para realizar a ação.

Apesar das divergências, na manhã seguinte, quando James Potter acordasse ao lado de Lily Evans minutos antes do relógio dela despertar, eles chegariam ao consenso de que, de fato, tinham passado muito tempo juntos, mas que todas aquelas horas estavam longes de serem o suficiente.

E, ao se afastar da cama e tentar ajustar a sua rotina matinal com o tempo que restava, ele pensava em segredos sendo desvendados, no perfume dela, nas finas alças daquele vestido preto. Pensava em o quão bem se sentiu a tê-la entregue ao momento; em o quão bom foi tê-la entregue a ele. Com um sorriso, James Potter tentava se agarrar a qualquer lembrança da noite passada que conseguisse, tentando fazer o impossível, tentando deixar aquela memória intocada, aquele momento longe das garras do esquecimento.

E, ao escutá-lo ir embora, após beijar a sua têmpora, Lily Evans tentava controlar os seus batimentos cardíacos. Ela tinha passado sua vida inteira provocando pessoas que diziam que se encaixavam e que eram certas uma para a outra, mas qual outro termo ela usaria para descrevê-los? Merlin, ela estava tão apaixonada e tão irracional e tão cega que sentia todos os seus antigos amantes se dissolverem em uma névoa. Aquilo provavelmente era obsessão, mas todos os seus pensamentos naquele momento envolviam dois sujeitos transformados em um só.


19.
“Você usou o vestido de veludo? Céus eu amo aquele vestido. Todo mundo ama aquele maldito vestido.” – Marlene McKinnon disse, em seguida dando um gole na bebida.
Lily geralmente não convocava nenhuma reunião emergencial que tirasse as suas três melhores amigas dos seus respectivos empregos no meio da manhã, mas Marlene não poderia se importar menos com o seu trabalho e era quinta-feira, mesmo se Emmeline ou Alice tivessem algum prazo de entrega, elas compareceriam.

“E como foi, os boatos de Hogwarts são ou não verdadeiros?” – Emmeline exclamou, provavelmente soando mais ansiosa do que deveria.

“Olhe só para a Lil, Emme… definitivamente são mais que verdadeiros.” – Alice disse, sorrindo. Como especialista no relacionamento Evans-Potter, aquele era um grande momento. – “Merlin, Lily está tão alegre que não sei se é o fato dela estar apaixonada ou se James é tão bom assim em achar o pomo-de-ouro.”

“Só estou dizendo que quando ele é realmente talentoso.” – Lily admitiu. Desde a manhã ela não tinha conseguido tirar o sorriso do rosto, o que, diversas vezes, foi a causa do desvio de atenção de James Potter do outro lado das mesas. – “Olha só para o que eu estou falando, se fosse uma quinta-feira normal, nós estaríamos almoçando e eu criticaria o atendimento de bar que teria ido na noite passada… mas eu estou comentando sobre a minha fabulosa noite com James soando como uma tola apaixonada.”

“Todos nós já sabemos que você é uma tola apaixonada, Lily. Sinceramente, é absurdamente fofo. Acho que a única vez que te vi corar falando sobre sexo foi quando você perdeu a virgindade.” – Marlene falou e Lily fez uma cara de nojo. Olhando para o Fatídico Dia, ela não conseguia se lembrar de nada agradável que a faria corar sobre. As mãos de James Potter percorrendo seu corpo na noite passada por outro lado…

“Eu não vou sair por aí admitindo que ele foi a melhor transa que eu já tive em toda a minha vida.” – ela admitiu. Lily gostava de usar a noite passada como uma prévia de todas as outras noites que estavam por vir. – “Mas, de longe, já é a mais especial. Tudo que ele fazia ou dizia era excitante, mas, ainda assim, carinhoso e… ah… Merlin, eu escrevo sobre sexo, eu não deveria ficar sem palavras tentando descrever.”

“Você não precisa descrever, Lily. Nós só estávamos interessada na parte suja da coisa, guarde seus sentimentos para você, eu não quero ser infectada por esse vírus que você e a Len estão sofrendo.” – Emmeline disse. Lily estreitou os olhos para a amiga.

“O problema foi as duzentas e trinta e quatro dúvidas que surgiram na minha cabeça quando ele foi embora.” – Lily decidiu ignorar o comentário da amiga. Na sala de redação, Moody provavelmente estava atrás dela, mas ela não se importava. – “Ele passou a noite, o que me deixou esperançosa, mas… eu sei que ele não está apaixonado por mim e eu sei que nós temos muito chão pela frente, só que não sei se agora ele nos vê como ‘apenas uma relação casual’ ou se ele considera a possibilidade de sermos algo além disso.”

“E voltamos a programação normal.” – Emmeline disse, atrás da xícara. – “Lily, há dias eu estou te dizendo para parar de pensar demais no assunto. Relações casuais têm algo próximo de 0% de funcionarem, alguém sempre acaba se entregando e começando alguma coisa séria. Com o Potter talvez demore mais, mas isso não significa que não vai acontecer.”

“Levando em consideração o nosso histórico e a minha sorte, eu não duvidaria que nós somos o algo próximo de 0%.” – ela parou para suspirar. – “E não estou dizendo que já vejo a minha derrota no fim da linha, mas… eu estou com medo de falhar e eu de ter meu coração partido em míseros pedaços se isso acontecer. Merlin, eu tenho vinte nove anos e estou com medo de James Potter quebrar o meu coração, desde quando eu virei parte da maioria da ala feminina de Hogwarts doze anos atrás?”

“Mesmo se der certo, o medo vai continuar em você, Lil.” – Alice confessou. – “Ontem a noite eu quase disse para o Frank que eu quero me casar. Nós estávamos lá, jantando e estar com ele é tão confortável e tão perfeito e eu literalmente tive que morder a minha bochecha para não dizer que eu quero me casar com ele, porque, na minha cabeça, tem alguma razão para ele não ter feito o pedido até agora e eu estou com tanto medo dele dizer que casamento não está nos planos dele ou pior.” – As amigas conseguiram ver a aflição na voz de Alice. – “E eu estou com ele há treze anos, Lily. Se eu me sinto assim, você que ainda está começando a experimentar isso vai sentir também.”

“Foda-se James Potter, Allie! Eu quero saber como você está se sentindo.” – Lily exclamou.
“Horrível. Eu tive um pesadelo com isso. No dia dos namorados eu dizia ‘Frank, eu quero me casar’ e ele me respondia com um ‘Tudo bem’. Eu não quero que ele case comigo porque na lógica faz sentido ou porque nós estamos juntos há tanto tempo, eu quero que ele sinta que é incapaz de viver sem mim e que está na hora de nós começarmos a ter uma família. Eu quero ser indispensável para ele.”

“E nós aqui pensando que tudo era um mar de flores.” – Marlene disse. Recentemente, a mulher tinha passado a acreditar que todos os seus problemas se resolveriam assim que Sirius Black deixasse claro que queria ter um relacionamento sério com ela, ao escutar a confissão de Alice, ela ficou feliz por não ter admitido o seu mais novo pensamento. Relacionamentos podiam aliviar alguns problemas, mas certamente traziam outros.

“Eu o amo tanto. E eu sei que tem muitos temas em que nós não estamos na mesma página e talvez ‘casamento’ nem seja tão importante assim, mas é um sonho… eu não sei se consigo me desfazer da família perfeita que eu criei na minha cabeça desde os dezoito anos.”

“Mas a família continuaria perfeita se o Frank não estivesse lá?” – Emmeline perguntou, relembrando Alice do provável dilema que estava sendo discutido na cabeça dela. – “Mais um tema para a sua coluna, Lily, até onde se é possível fazer concessões em relacionamentos?”

Apesar do clima em que se encontrava, Alice sorriu.

“Concessão Nº1: se você o abandonou na manhã pós-formatura dez anos atrás, você pode esperar uma semana para ele chamá-la para sair. Se não acontecer, chute-o nas bolas.” – Marlene disse.
“Concessão Nº2 se ele passou anos apaixonado por você e você só descobriu seus sentimentos por ele recentemente, você consegue esperar um certo tempo para ele se apaixonar por você de novo.”


20.
No terraço, James Potter observava as pessoas caminhando pelo Beco Diagonal enquanto segurava uma xícara de chá. Logo, ele e Benjy sairiam da sala de redação para assistirem ao jogo dos Falcões de Falmouth e Pegas de Montrose e, em vez de estar sentado na sua mesa, observando suas anotações e tentando prever a escalação do jogo, ele pensava em Lily.

Os seus sentidos tinham entrado em pane e, toda sensação, de alguma forma, fazia com que ele se lembrasse dela.

Saber que, no escritório, ela mascava varinhas de alcaçuz, rodava a pena entre os dedos e tinha uma grotesca mancha em sua calça porque tinha derramado leite com caramelo durante o horário de almoço, traziam flashes da noite passada.

Tudo tinha acontecido em menos de vinte e quatro horas, mas, apesar disso, James tentava impedir que o evento fosse alterado pelo tempo. A forma como o toque dela fazia com que a pele dele formigasse; o gosto dela; o suave cheiro de perfume, shampoo e suor; os sons de prazer; a aparência dela ao se entregar, a pedir por mais… todas aquelas pequenas coisas precisavam permanecer frescas no cérebro dele. Jamais poderiam ser esquecidas.

Ele não entendia o porque de ter sido tão… glorioso. Foram os anos de provocação? Foi o fato deles se conhecerem antes mesmo de falarem o primeiro palavrão? Luxúria? Desejo? Paixão? Fosse o que fosse, ele ansiava por mais.

Ele tinha consciência que, se confessasse isso para os seus amigos, eles ririam daquela frase e nunca deixariam que James se esquecesse do episódio – o que talvez fosse uma boa coisa, já que a intenção de James era nunca esquecer.

Céus, ele adoraria ser lembrado daquelas horas em que passaram juntos. E ter alguém para comprovar, para dizer a ele que Lily Evans e James Potter tinham, momentaneamente, pertencidos um ao outro. Isso certamente ajudaria a manter a memória fresca, a combater a dúvida retroativa.

Do outro lado da mesa, ela estaria lá. Usando sapatos roxos indecifráveis. Ela estaria sorrindo, reclamando sobre sardas, comentando sobre encontros, desvendando os segredos de relacionamentos e tentando traçar a anatomia do amor.

E a única coisa que ele podia fazer era esperar. Mais 5 anos de colegas de trabalho se passariam antes de eles repetirem a dose? Tinha sido um evento único e pontual? Ele ignorava as perguntas invisíveis que formavam em sua mente: Era perigoso? Se eles se entregassem novamente, ele colocaria em risco a sua maior certeza?

“Ah, Potter, não te esperava encontrar por aqui.” – a voz de Alastor Moody surgiu atrás dele. – “Como está indo toda a matéria com a Evans?”

“Estamos quase no fim.” – ele negou o cigarro oferecido pelo editor-chefe – “Vamos no último encontro no sábado e escrever mais dois textos adicionais sobre flores e alguma baboseira. E o que você está achando? Recebemos algum feedback bom?”

“Sim, apesar de boas partes das cartas serem casais reclamando dos seus parceiros. McDonald ficou encarregada de lê-las para o texto do dia 14 e disse que estamos separando casais mais do que formando-os.” – James riu. Ele podia ver o porque disso acontecer. Naquela mesma tarde ela tinha escutado um casal discutir sobre qual encontro era o melhor, mesmo que, até o momento, só dois deles tivessem sido publicados. – “Mas o mais importante são as vendas e elas comprovam que tudo isso foi uma brilhante ideia.”

O que James estava esperando? Algum discurso sobre amar e ser amado?

“Vou voltar para o trabalho. Alguma aposta para Falmouth x Montrose?”
“Esse ano o campeonato é do Falmouth, Potter. Escreva as minhas palavras.” – James saiu do terraço antes que entrasse em uma discussão: Falmouth só ganhariam o campeonato de Merlin resolvesse aparecer para o time e conceder um milagre.

Se aqueles minutos ao lado do seu editor-chefe tivessem feito esquecer a existência de Lily Evans, logo o cérebro dele estava consciente dela novamente. Ela digitava alguma coisa no computador (uma máquina trouxa terrível que sempre causa problemas para na impressão e revisão dos textos dela, já que eles precisavam serem transcritos para o papel) e mordia o lábio inferior.

Oh, céus.

“James, ainda bem que você apareceu.” – ela disse, quando percebeu que ele caminhava até a mesa. – “Qual é a sua opinião sobre lendas urbanas de relacionamentos?”

“Você me faz tantas perguntas para a sua coluna que eu acho que deveria pedir um aumento, ou parte do seu salário.” – James falou, sentando na quina da mesa dela. Lily tinha se desfeito dos saltos e agora digitava com as duas pernas em cima da cadeira do escritório. Era a sua posição preferida. – “O que isso quer dizer?”

“Nós acreditamos em fábulas quando se trata de relacionamentos? Ele vai realmente largar a esposa? Dessa vez vai ser diferente? Ele está realmente interessado por ela ou é só sexo? Faça sua escolha e me diga se nós preferimos confiar em mitos em vez de aceitar a dura realidade.”

“Definitivamente.” – ao falar, ele pegou a mão de Lily e uma pena. – “É sempre mais fácil acreditar no felizes para sempre.” – a dureza da ponta da pena arranhava a pele dela levemente. – “Sem contar que você sempre pode criar monstros que impediram a sua fantasia de realizar. Ele não largou a esposa porque ela está o chantageando; o momento não era certo, por isso que eles também não deram certo; ele não estava preparado para um relacionamento sério. Todas essas besteiras para você não perder a esperança.” – ele largou a pena, mas ainda segurava a mão de Lily para que ela não visse o desenho. – “Mais alguma coisa? Tenho um jogo para ir agora.”

“Era só isso, James, muito obrigada.” – ele respondeu com uma piscadinha.
Agora, no pulso de Lily, tinha um horroroso relógio desenhado, apontando para as 21h30 e, ao lado dele, na igualmente horrível caligrafia dele, estava escrito minha casa. James Potter pegou a jaqueta do outro lado da mesa, enquanto ela observava o que ele tinha feito.

Então caminhou até a saída da sala de redação, onde Benjamin Fenwick o esperava com um caderno. E, na ida para o estádio, ele pensou como ele teria parecido vinte vezes mais legal se não tivesse olhado para trás.


21.
“Remus e Emme devem estar se divertindo muito.” – Lily disse, encostando a cabeça no ombro de James. Ele virou para encarar os dois perto do balcão do Caldeirão Furado conversando, mas, provavelmente, desejando ir para casa.

“Não é culpa minha. Você é que me seguiu até aqui.” – ele falou, pegando uma mecha ruiva e rodando-a no indicador.

Ele estava certo.
Era sexta-feira a noite e, em se elas estivessem seguindo a rotina, Lily Evans, Emmeline Vance e Marlene McKinnon estariam se encontrando em algum bar londrino (trouxa ou bruxo) decididas a esquecer de todo o estresse acumulado durante a semana.

Até as circunstâncias mudarem, é lógico.

Apesar de Lily ainda ver prazer em ir diariamente a bares, aproveitar a noite, conhecer pessoas, arranjar tópicos para a sua matéria, porém Lily também se contentava em repetir o que ela e James Potter tinham feito nas duas noites anteriores. Ela não diria para ninguém, mas, para ela, conversar com ele e estar ao lado dele estavam se tornando a sua forma preferida de passar o tempo.

E Marlene também não parecia contrária a mudança na programação já que, sem pensar duas vezes, trocou a saída semanal com suas melhores amigas por um primeiro encontro com Sirius Black. Encontro que, em uma possível análise, era a principal causa de James e Lily estarem reunidos observando Emmeline e Remus do outro lado do bar.

Por mais que tivessem centenas de opções para ir, James e Remus haviam escolhido o Caldeirão Furado por ser o único lugar aceitável que eles tinham certeza absoluta que não seria palco para um primeiro encontro. Por alguma razão, Sirius achava o ambiente repugnante. E, se James não tivesse comentado para Lily Evans onde iria aquela noite, ela provavelmente nunca teria sugerido o pub para Emmeline.

Tarde demais para mudar de ideia – a loira pensou assim que viu os cabelos castanhos do colega de trabalho.

“Em minha defesa, foi o primeiro lugar que a apareceu na minha cabeça. E você nos convidou para sentar como você, não fale como se não quisesse passar mais tempo comigo.” – E se ela apenas soubesse o quanto ele queria.

Estar com Lily não era fácil. Ele se via metade do tempo perdido em pensamentos, repetindo mensagens da sua consciência, arranjando explicações para as mudanças de comportamento e toda e qualquer ação que ela fizesse que causava uma pequena alteração no corpo de James.

E ele não negaria sua pequena obsessão, mas tinha uma visão clínica dela. Na percepção dele, aquele interesse era fruto de anos de questionamento e logo ele superaria aquilo. Logo eles cansariam um do outro. Assim que a comodidade chegasse na relação casual deles, eles terminariam tudo e seguiriam em frente.

“Sabe, Lily, para alguém que há duas semanas estava querendo me propor dicas de como conquistar uma mulher, você parece bem satisfeita com as minhas habilidades naturais.”

“Eu aposto que você comprou algum livro assim que viu a sua posição no gráfico.” – ela disse, uma mão repousando na perna de James. Qualquer pessoa que olhasse para os dois, diriam que eles estavam apaixonados, mesmo que reconhecer esse sentimento fosse algo muito mais complexo.

“Você está dizendo que basta livros e teorias para impressionar uma mulher?”
“James, o meu trabalho são livros e teorias para impressionar pessoas. É cruel admitir, mas foram tantos casos de amor e paixão analisados nos últimos anos que a todas essas pesquisas podem influenciar e influenciam um relacionamento.” – Agora, Lily estava virada para ele, em uma posição levemente desconfortável. – “É ao mesmo tempo fascinante, mas, ao mesmo tempo, medonho… saber demais pode causar problemas.”

“Por exemplo?” – Ele adorava vê-la empolgada enquanto passava minutos e quase horas descrevendo alguma tese científica que tinha lido. – “Ir na aula de Slughorn e descobrir cheiros que te atraem, é esse tipo de problema?”

“Pode ser um deles. Reconhecer quais são os cheiros e de quem são os cheiros podem fazer com que você não reconheça outras alternativas… estar atraído por alguém não significa que ele é a pessoa mais saudável para um relacionamento, entende?” – ela disse, pausando para dar um gole na bebida. O gelo tinha derretido completamente, deixando o hidromel aguado. – “Mas pode ser pior. Nós sabemos que existem casais com patronos complementares, o que faz deles almas gêmeas. O problema é quando, ao saber disso pessoas terminam um bom relacionamento por não aceitar ficar com alguém que não seja feito para ser. Ou achar que só porque alguém tem um patrono complementar ao seu que vocês foram feitos um para o outro.”

“Você está certa.” – James arrumou a postura e limpou a garganta. – “Acho que estávamos no sexto ano quando um professor comentou sobre patronos complementares estão relacionados a uma… conexão cósmica ou algo do tipo. E eu sei que enlouqueci quando descobri que o seu patrono é uma corça e o meu cervo…” – Ao dizer isso, ele perdeu o momento em que Lily arqueou uma sobrancelha. – “… era como se aquilo fosse um sinal.”

“Eu não sabia… disso.”
“É. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida quando no início do sétimo ano você lançou o feitiço e eu vi aquela grande imagem azul… Você está completamente certa, eu achava que só existia você em todo o universo.” – Lily sentiu como se tivesse recebido um soco no estômago. Como se todas as borboletas que apareceram minutos atrás tivessem explodido.

“Merlin, James, você definitivamente é a pessoa mais romântica que eu conheço.” – ela disse deixando óbvio sua ironia. – “Acho que vou ao banheiro e então ir embora. Você disse que temos que nos encontrar amanhãs às oito e já bem tarde.”

“Você ficou brava com o que eu disse?” – ele perguntou, juntando as sobrancelhas. Tinha sido apenas um comentário que, definitivamente, não justificava aquela mudança de comportamento.

“Não, James. É só a forma como você deu ênfase em ‘você’… eu sei que você adora dizer para o mundo inteiro como você tem cem por cento de certeza que nós nunca daríamos certo e que somos incompatíveis… Merlin… talvez não seja o que eu quero escutar e as coisas ficam exponencialmente piores quando eu lembro que eu costumava dizer essas palavras.” – Lily fechou os olhos e respirou fundo. – “Você era um adolescente e se eu, com vinte nove anos, fico questionando os malditos porquês de eu não ser o suficiente para você, imagina como você se sentia nos seus malditos quinze anos?!”

“Me desculpe.” – ele segurou a mão dela e trouxe o pulso dela para os seus lábios. – “Você tem que saber que, no início, eu dizia isso para as coisas não ficarem estranhas entre nós.” – James não comentou sobre o fato de, recentemente, começar a achar que era um mecanismo de defesa ou sobre inconscientemente acreditar que falar aquelas palavras em voz alta a tornariam mais verdadeiras. – “Eu já te disse, Lily, se você quisesse conquistar meu coração, ele seria seu.” – ele limpou a garganta, não tendo certeza se estava prestes a dizer era o certo. – “Quando digo que nós somos impossíveis, é porque eu não seria capaz de acreditar que você é minha: seria uma piada, uma mentira, um sonho. E, em algum momento, tudo iria se desfazer.”

Lily mordeu a língua, ponderando por mais alguns segundo se deveria permanecer em silêncio ou se deveria dizer alguma coisa. As palavras de James, sempre que conversavam sobre esse assunto em particular, se tornavam tocáveis, parecendo que estavam ao redor de Lily, a encarando.

“E como James Potter se tornou tão inseguro? Você não pode afirmar que não tem nenhuma correlação com o modo que eu te tratei por anos.” – ela tinha algumas lágrimas nos olhos e torcia para que ele não pudesse vê-las.

“Você pode ter certeza de uma coisa, Lily. Não foi...” – No primeiro momento em que ele a viu, ela tinha se tornado inalcançável. Era isso que ele se referia quando, dias antes, tinha dito que havia jurado amor por uma ilusão.

Quando ele a encontrou na estação de trem, usando tranças desproporcionais e parecendo muito mais legal do que uma garota de 11 anos deveria ser, James a colocou em algum pedestal imaginário. Nos anos seguintes, tudo se tratava de ganhar a atenção dela. Por anos foi assim. Era tudo sobre o que ela acharia, se ela riria, se ela olharia para ele.

Até não ser mais.
E então ela não era tão perfeita, e então ela tinha falhas, e então ela cometia erros… e tudo isso fez ela ainda mais perfeita. Ainda mais impossível.

Não foi a forma na qual ela tinha tratado ele, porque, durante todo aquele tempo ele a considerava um ser místico, celestial e qualquer outra bobagem que a mente de um adolescente de dezesseis anos pode se permitir pensar. O problema veio depois, quando Lily Evans se tornou humana para os olhos dele, quando ele a viu de verdade, quando receber um “Sim” dela não se tratava apenas de concluir uma tarefa ou conquistar um sonho.

O objetivo era tão mais amplo que isso. Era ser capaz de fazê-la se sentir satisfeita, de fazê-la feliz. Era sentir que ela era dele na mesma proporção que ele era dela. Entretanto, a única conclusão que ele tirou de tudo isso era que seria fracasso.

Tempo passou e ele superou.
Ele se viu livre daqueles sentimentos perigosos, de imaginações desnecessárias, de futuros impossíveis. Mas a certeza permanecia com ele, como se fosse um estigma ou uma verdade absoluta.
E nem mesmo todas aqueles momentos que ele passava lado a lado não eram capazes de desconstruir um pensamento que passou anos sendo aprimorado.

“É melhor te levar em casa. Você não quer estar atrasada para o melhor encontro da sua vida.”


22.
Lily Evans não conseguia manter os olhos abertos enquanto esperava por James; ela não conseguia se lembrar da última vez que tinha acordado antes das dez horas da manhã em um sábado. Com a intenção de parecer acordada quando o seu encontro chegar, ela dava um gole no café que preparou com a ajuda de feitiços domésticos (ela tinha descoberto pela manhã que o seu fogão não funcionava).

Às 08:30, James Potter tocou a campainha. Pontual como sempre.
“Você veio de metrô?” – Lily perguntou ao abrir a porta.

“Bom dia para você também, Lily.” – ele sorria. – “E não. Eu aparatei na rua de trás e vim andando. Não queria aparatar direto no seu apartamento, o que seria da sua honra se você estivesse nua?”

“Como se tivesse algo que você não tivesse visto.”
“Não era isso que eu estava insinuando.” – ele diz, com um sorriso no rosto. – “Desculpa por te fazer acordar tão cedo, mas temos que ir logo se quisermos aproveitar o dia. Eu já tenho tudo planejado.”

“É claro que você tem. Onde vamos tem um salão de chá? Eu preciso beber água decente, o meu café tem gosto de água suja.” – Lily colocou as flores em um vaso em cima da mesa e pegou a xícara de café para despejar a bebida na pia.

“Você vai adorar. Se você estiver pronta, podemos ir agora mesmo.”
“Me deixe pegar um casaco.” – disse, entrando no closet que conectava o quarto ao banheiro.

Aquele dia estava extremamente frio. Tão frio que, ao contrário da saia que Lily pretendia usar, ela vestiu três calças e dois suéteres. Mas, James mesmo tinha dito que ela não precisava usar vestidos curtos e meias de lã, portanto, naquele sábado, ela preferia estar quente e confortável.

“Pronta.” – ela falou, voltando para a sala. James encarava a pequena estante, cheia de livros e revistas.
“Aqui vamos nós, então.” – ele arrumou os óculos e ergue o braço para que Lily apoiasse a mão. Ela não perdeu a chance de revirar os olhos antes de tocá-lo.

Em milésimos de segundos, eles estavam em uma rua e levou um piscar de olhos para Lily reconhecer a arquitetura, o cheiro de doce e o barulhento som de estudantes. James a tinha levado para um encontro em Hogsmead.

Céus, ele era tão… sentimental.

“Isso não é justo! É impossível eu dar uma nota baixa para isso, você já ganha 5.0 só pela nostalgia.” – James, no entanto, não disse nada, apenas segurou a mão dela enquanto a guiava pelas ruas.

Primeira parada: Casa de Chá de Madame Puddifoot.
“Você está brincando.” – Lily falou, assim que reconheceu a pequena loja, mais rosa e com mais babados do que ela se lembrava. Aquilo trazia boas memórias, como o seu encontro com Amos Diggory, e péssimas memórias, como quando James Potter teve um ataque de ciúmes e quase quebrou o nariz de Arthur Holland no quinto ano.

“Eu achei que seria engraçado… sem contar que nós temos que dar opções aos estudantes excitados de Hogwarts.” – ele disse, relembrando a frase que Lily tinha usado dias atrás. – “E é a única forma de compensar o meu ego por todos aquelas rejeições.”

Lily sorriu. – “Eu sabia que você estava secretamente empolgado com toda essa situação.” – ele abriu a porta para ela, um pequeno sino avisando a chegada deles. Não tinha muitos estudantes por ali, e Lily sabia que provavelmente era por causa do horário. Quando ela estava em Hogwarts, os encontros só começavam na metade da manhã ou no início da tarde.

“O que você vai querer, Lily?”
“Nós temos que escolher o menu especial da Madame Puddifoot, Potter.” – ela disse, usando a forma pela qual ela o chamava durante os anos escolares. Ele arqueou uma sobrancelha e ajeitou a postura, preparado para entrar no jogo. – “É um clássico.”

Minutos após fazerem o pedido, a mesa estava cheia de peças de um aparelho de chá de porcelana e de delicados aperitivos em pratos decorados com flores. – “Talvez devêssemos ter escolhido alguma coisa que cabe no bolso da maioria dos estudantes.” – James disse, servindo-a uma xícara de chá. Ela gostava de chá com um pouco de leite, apenas porque ela apreciava ver a mistura. – “Açúcar?” – Lily negou.

“A matéria é para eles, mas é sobre nós também. E eu duvido que alguém quer participar da Cerimônia dos Cupidos por livre e espontânea vontade.”
“Tem coisas que você faz por amor.” – ele começou a comer o salmão defumado. – “Remus veio aqui com a Jones quando eles namoraram no sexto ano.”

“E o que ele achou da experiência?” – James riu antes de responder.
“Até hoje ele compara com ser esfaqueado múltiplas vezes, jogar sal nas feridas e então mergulhar o corpo dele em uma banheira cheia de álcool… mas deve ter sido interessante. Ou, pelo menos, cômico, se você for com a pessoa certa.”

“Nós deveríamos vir.” – Lily disse, depois de passar um tempo encarando o estranho hábito de James de medir milimetricamente a proporção de leite no chá, tentando criar a mistura perfeita. – “A única pessoa que te suporta com um senso de humor melhor que o meu é Sirius Black, mas, com base no encontro de ontem, eu acho que ele estará ocupado.”

“Ok.” – Ao escutar a afirmação, Lily se lembrou do sonho de Alice, no qual Frank respondia um pedido de casamento com ‘Tudo bem’. Não era igual, mas era parecido. – “E depois de ficarmos cansados com toda a empolgação de adolescentes, nós podemos ir assistir ao jogo das Harpies.”

“Ou ir ao cinema perto da minha casa. Dessa vez, o filme é Da Magia A Sedução… e também tem a Nicole Kidman.” – ela disse, mais empolgada do que a segundos atrás. – “Ela é tão óbvia, você não acha?” – James a ignorou.

“E após o jogo, ir para o meu apartamento e comer alguma gororoba que eu vou aprender a cozinhar dois dias antes.”
“A luz de velas, certo?”
“Claro. E com pétalas de rosas por todo canto. Algum feitiço para tocar as músicas… mas nada de Carmen, porque é entediante.”
“É um encontro.”
“É um encontro.” – ele concordou.


Horas depois, Lily voltava a observar o rosto de James atentamente. Eles tinham passado o resto da manhã e início da tarde circulando pelas lojas, conversando, comentando os hábitos dos estudantes que viam e trocando carícias.

Eram 16h37 e James Potter tinha beijado-a no pescoço três vezes. Uma na Tomes & Scrolls enquanto ela observava as gigantescas estantes cheias de livros, outra quando ela experimentava a nova receita da Honeyduckes e a última quando ela estava bastante entediada olhando artigos de quadribol. Independentemente do local, ele sempre aparecia por trás dela, afastava os fios ruivos e a beijava exatamente no mesmo ponto, fazendo com que Lily sentisse as incômodas borboletas no estômago.

A sensação, mesmo duas horas depois do último beijo, não tinha desaparecido. E, enquanto ele rabiscava algo no caderno que tinha comprado, do outro lado da mesa dos Três Vassouras, Lily contemplava a sua sorte.

Era certo que ela estava atrasada, e que, no momento, não compartilhavam o mesmo interesse ou tinham as mesmas projeções para o futuro, mas, para Lily, a ideia deles juntos era bastante palpável. Eles combinavam, se completavam, pertenciam ao lado do outro…

“Pare de me encarar, Lily. O desenho vai ficar borrado, eu não consigo me concentrar.” – ele falou, o sorriso dela apenas aumentou.

“Eu não sabia que você estava desenhando.” – ela puxou o caderno pela mesa. Era um esboço desengonçado da posição em que ela tinha estado pelos últimos minutos. Longe de uma obra de arte, mas, ainda assim, bonito o bastante. – “Todos esses pontos são para ser as minhas sardas ou você estava tremendo?” – ela perguntou apontando para algumas manchas pretas no papel.

“Acredite ou não, mas tem pessoas que morreriam pelos meus desenhos.”
“Sua mãe é a única na lista, Potter.”

James revirou os olhos, sorrindo. – “Vamos? Tem mais um lugar que quero te levar.”
“Nós já andamos por toda cidade… ou você vai me levar para a Casa dos Gritos para cometer um assassinato ou então iremos até…” – ela parou. – “Hogwarts. Meu Merlin, James, nós vamos até Hogwarts? Nós podemos fazer isso?”

“De acordo com essa carta, sim.” – ele tirou um pequeno envelope do bolso interno do casaco. – “Eu mandei uma mensagem para a Minnie, pedindo permissão. Disse que temos uma matéria para fazer e que eu adoraria colocar uma nota sobre a vitória do time da grifinória na coluna e em questões de horas ela disse que nós éramos mais que bem-vindos.”

“Usando o seu passo de jornalista, hum? Acha que eu consigo usar a mesma desculpa?”
“Ah, definitivamente.”


23.
“Merlin. Não é estranho que eu te achava bonito quando estudávamos em Hogwarts, mas quando olho essas fotos só consigo achar que, se encontrasse você pelas ruas, te ia achar extremamente irritante?” – Lily disse, olhando para a foto de James com um troféu.

“Então você me achava bonito?” – ele diz, ignorado o resto da frase. Na cabeça dele, se ele encontrasse a versão dele com dezesseis anos, ele também ia achar aquilo.

Eles estavam aproveitando o tempo que tinham dando uma volta pelo colégio e visitando os lugares que eles relembravam alguma memória divertida. Enquanto caminhavam, contavam histórias que os dois sabiam de cor e discutiam sobre quem tinha a visão mais correta acerca dos eventos.

James Potter, por exemplo, se lembrava claramente que, no sexto ano, após um jogo de quadribol, Lily gastou três minutos completos olhando para ele sem camisa. Ela, por sua vez, não se lembrava de tal fato, da mesma forma que James não se lembrava de ter ficado bêbado em uma comemoração e ter gritado que a amava.

“Todos te achavam bonito, James. Você e o Sirius eram a dupla dinâmica da escola, roubavam corações e tudo mais.”
“Hm. Foi por isso que você nunca aceitou sair comigo?” – ele disse, rindo. Agora, eles tinham se afastado da imagem e andavam sem rumo pelos corredores. – “Ou foi porque você era perdidamente apaixonada pela Lula Gigante?”

“Você nunca vai se esquecer disso, vai?”
“Como esquecer se os meus dois melhores amigos me relembram disso constantemente? Eles provavelmente vão mencionar a ocasião no meu discurso de casamento.”

E ela tentou não imaginar a situação, mas foi transportada para um devaneio. Véu. Grinalda. Flores. James. Lily sentia que estava perdendo o controle, cada dia um pouco mais, e se tornando uma lunática: ele ainda não demonstrava metade dos sentimentos que ela sentia e, apesar da proximidade deles, o desejo James era, provavelmente, ter apenas aquilo que eles atualmente estavam tendo.

Respirando fundo, ela fez com que a nuvem desaparecesse, como se pudesse ser capaz de parar de pensar neles.

“Você acha que temos permissão para pegar um livro emprestado?” – ela perguntou, virando a direita, indo em direção a biblioteca.
“Provavelmente não.”
“Nem com o seu passe de jornalista?” – Lily brincou. – “Fomos monitores-chefes, devemos ter algum crédito com os professores e, sem querer me gabar, eu sempre fui a estudante preferida da Sra. Park.”

“Então vai ser terrível para você quando eu te contar que ela aposentou. Hogwarts agora está sobre os cuidados da Madame Pince.”
“O que?! Sra. Park saiu? Merlin, eu achava que ela fosse ficar naquele posto até morrer… ela continuou no cargo mesmo vocês tendo explodido aquela bomba asquerosa entre as estantes.”
“Aquela pegadinha me rendeu três semanas de detenção, por sinal.” – ele se lembrou do ocorrido.

Abrindo as portas da biblioteca, James fez um sinal com a cabeça para que Lily entrasse primeiro, sabendo o que vinha a seguir: ela se perderia pelos títulos e ele ficaria a mercê, da mesma forma que, horas mais cedo, ele tinha ficado quando visitaram a livraria.

Lily Evans adorava ler. Talvez não fosse fã de grandes romances, mas ela sempre estava com algum livro enquanto trabalhava nas suas colunas e, durante os anos da escola, ela passava horas na biblioteca.

Não era fascinante, mas James se tornou um fã em assisti-la traçar lombadas com os dedos e folhear livros.

“Você gosta dela?” – assustado, James se virou para encarar a criança que tinha se sentado ao lado dele. – “O meu coração parou de bater no momento em que ela entrou na biblioteca, mas, se você gostar dela, eu não vou chamá-la para sair.”

“Você acha que tem alguma chance com ela?” – ele perguntou, observando o garoto que deveria ter, na melhor das hipóteses, 13 anos.
“É claro. Eu sou o garoto mais popular da minha turma.”
“Mas você não acha que é um pouco novo para ela?” – James estava genuinamente interessado.

“Claro que não. Meu pai disse que mulheres mais velhas são mais experientes.” – Quem diria algo assim para uma criança de treze anos? – “Mas, eu entendo se você estiver com medo concorrência. Você parece legal, então, se você gostar dela, eu não vou para cima.”

Os olhos grandes do garoto encararam James e então desviaram para Lily. James a observou também: ela tinha um livro aberto e mordia o lábio inferior. Alguns segundos passaram antes que ele dissesse – “Sinto muito, garoto. Você vai ter que esperar pela próxima.”

“É. Eu imaginei… você não parou de olhar para ela desde que vocês entraram, mas não podia desistir logo de cara, entende?” – É claro que ele entendia.

Assim que o garoto se levantou, James percorreu o percurso até Lily e, por trás dela, apoiou a cabeça em seu ombro. – “Aconteceu alguma coisa?”
“Você tem que parar de conquistar garotos de treze anos, Lily. Você não quer que eles passem quatro anos atrás de você, quer?”

“Depende de como ele vai ser quinze anos depois.” – ela disse, se virando para ele. As mãos de James logo agarraram a cintura dela e ele a beijou. Entre eles, Lily segurava o livro A Arte do Amor Bruxo e, por causa disso, ela não conseguiu puxá-lo mais para perto. – “Nós podemos fazer isso?”

“Pergunta a mulher que tem uma fantasia sexual nesse exato lugar.”
“Não é nesse exato lugar… é um pouco mais para os fundos.” – falou. – “Mas mesmo se fosse, não é como se pudéssemos realizá-la: não somos estudantes, não estamos nos pré-exames e eu não estou usando aquela saia absurdamente fina do colégio e sim três calças… isso torna a fantasia bastante impraticável.”

“Eu poderia dar o meu jeito.” – James tinha o sorriso provocador no rosto. – “Ou… poderíamos ir embora e passar o resto do dia na minha cama até você se cansar de mim.”

E bastou um olhar para ele saber que ela escolheu a segunda opção.


24.
A respiração dela era suave e os olhos dela permaneciam fechados enquanto ela pensava sobre tudo. Eles estavam em um relacionamento casual sem regras. A qualquer momento, James poderia conhecer outra mulher e então Lily teria seu coração partido. A qualquer momento, ela poderia dizer que gostaria que eles fossem exclusivos e, mesmo com essa categoria, tudo poderia se desmanchar em questão de segundos e ela teria o seu coração partido.

Não importava muito os oitenta e oito caminhos que Lily tinha pensado a respeito: James Potter quebraria o coração dela.

E então, ela tinha que encarar suas possibilidades: não era com matemática e teorias que ela gostaria de conquistar James. Lily queria que os sentimentos de James aflorassem como os dela tivesse e se tornassem tão profundos quanto. Mas, era possível? Se ele tinha superado até mesmo o fato de os patronos deles serem complementares, ele conseguiria acreditar ou ver ela como uma possibilidade? Algo mais que noites compartilhadas?

Parte dela acreditava que suas amigas estavam certas: que relações casuais nunca acabam bem e o casal em questão sempre se apaixona, entretanto, quando Lily olhava para as suas experiências passadas e os seus casos de relacionamentos casuais, ela não tinha nenhum exemplo que comprovasse a crença das amigas. E, mesmo que nenhuma dessas relações antigas tivessem terminado em um coração quebrado, Lily nunca antes tinha se comprometido como tinha se comprometido com James (que não tinha ideia disso – o que deixa a situação bastante cômica e triste).

Se Emmeline Vance pudesse entrar na mente de Lily Evans naquele instante e descobrisse o que ela estava pensando, ela chamaria Lily de tola. Não era, de forma alguma, diferente da própria opinião que a mulher tinha sobre si mesma.

Ela sabia que, o próximo passo, era se confessar; prolongar o que eles estavam tendo poderia ser bom em um sentido e igualmente terrível, já que, poderia fazer com que James se apaixonasse por ela e, em contraste, piorar a recuperação que ela teria se fosse rejeitada.

Aquilo tudo era uma grande dor de cabeça.
Se Lily esperasse as coisas andariam naturalmente? Os sentimentos de James seriam genuínos ou frutos da normalidade e da calmaria? Ela se via em um dilema parecido com o de Alice: ele a desejaria de verdade ou apenas entraria em um relacionamento porque era confortável?

Com o indicador, James Potter traçava imagens nas costas de Lily, usando as inúmeras sardas como pontos. Ele achava, a medida que traçava linhas, que estava fazendo alguma obra de arte, mas, na verdade, ele repetia o mesmo triângulo várias vezes.
Então, ela se virou.
Apesar de estar escuro, devido ao horário, e ele estar sem óculos, ele ainda conseguia distinguir elementos no borrão: Lily Evans olhava para ele.

“James…” – ela começou, mudando o ângulo da cabeça e passando a mão pelo abdômen dele. – “… Tem algo que faria você mudar de ideia?”

“Hm?”
“Você disse que não acredita em nós… e que almas predestinadas e amor verdadeiro não existem, mas você acha que seria capaz de acreditar nisso?” – ele beijou o topo da cabeça dela, pensando nas palavras. – “Porque… eu estava pensando e, em algum momento, eu me tornei uma cética em relação ao destino e de que algum homem fosse capaz de me complementar, mas, agora, acho que se eu aceitar que estou apaixonada por alguém, eu vou buscar todos os sinais inexistentes que estiverem por aí.”

“Eu não sei se conseguiria fazer isso de novo. Pelo menos não em relação a você.” – James enrolou uma mecha ruiva no indicador. – “Eu já analisei todos os sinais existentes, e, honestamente, acho que a sensação que tenho em relação a nós é que, se nós fôssemos feitos um para o outro, nós já estaríamos juntos a eras.” – e Lily contemplava a resposta, se aproximando mais e escutando os batimentos cardíacos de James: eles não eram tão acelerados quanto os dela. – “Mas talvez, sim. Se a pessoa em questão for a única resposta possível.”

Ela riu. – “Algo como: “Se você receber esse papel, você é a alma gêmea de Lily Evans?”
“Exatamente.” – ele disse ironicamente. Lily apoiou o queixo no peito de James, tendo uma visão bizarra do rosto dele. – “Algo que eu sei que é você. Algo que se trata de nós.”

Então, ela se levantou.
“Ok.” – Lily disse acendendo batendo a canela na mesa do quarto de James e acendendo o abajur. Logo ela saiu pela porta do quarto, caminhando até a sala e ignorando totalmente a sua nudez.

E, como era de se esperar, James foi atrás dela, rindo, confuso e usando calças de moletom. Quando chegou na sala, com óculos tortos e a mão no cabelo, ele encontrou Lily sentada na cadeira da mesa de jantar escrevendo na primeira página de Mansfield Park.

“O que você está fazendo?” – ele disse, aparecendo atrás dela e, em seguida, beijando o seu pescoço.
“Criando um sinal.” – Lily fechou o livro e levantou. – “Amanhã vou colocar esse livro em um sebo, e se, em algum momento da sua vida, ele retornar a você, é a prova de que nós somos feitos um para o outro e vamos ter que aceitar isso.”

James riu e, não achando que ela estava falando sério, disse – “E você? Não vai precisar de um sinal que prove algo sobre nós dois?”

Então, ela o beijou.
Porque ela não diria em voz alta para ele que ela não precisava de mais nada. Lily Evans não precisava de mapas cósmicos, bilhetes da sorte ou sinais divinos, ela já tinha tido todas as provas necessárias e, acima de tudo, a incontrolável vontade de estar ao lado dele.

E ela não sabe, mas, assim que vender aquele exemplar, ela vai se arrepender. Porque, assim que uma pessoa passa a acreditar no destino e espera por um sinal dele, ela está presa. O fantasma da esperança nunca desaparece.

A medida que o tempo passa, a medida que os dias voam e os meses se tornam em anos e as pequenas coincidências param de acontecer, a pessoa se torna miserável. E Lily Evans vai se arrepender porque é impossível recomeçar com uma voz a relembrando, toda vez que olhar por um livro, que, talvez aquele seja o dia que Mansfield Park vai se materializar na frente de James Potter.

E, além disso, a dúvida a consumirá ainda mais, pois, mesmo se o livro voltar para ele, ela não sabe se ele vai procurá-la.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "In The Mood For Love." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.