In The Mood For Love. escrita por antônia


Capítulo 1
Parte um.


Notas iniciais do capítulo

A história foi escrita para a Caroles e para o Radjily e, Carol, apesar de no final ter um capítulo destinado a agradecimentos, já queria dizer que essa história, provavelmente, não tem nada que você pediu por.

Desculpa.
Espero que goste mesmo assim!



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IN THE MOOD FOR LOVE
parte um: Feel the heat, keep the feeling burning, let the sensation explode.

00.
James Potter sabe que Lily Evans está prestes a ultrapassar os limites da sala de redação do Profeta Diário porque escuta os barulhos de saltos vindo do corredor. Trinta e cinco segundos se passam e ele continua sorrindo quando ela joga o casaco verde-escuro na mesa de madeira em frente a dele.

“Só cinquenta minutos de atraso, Evans? Tsc, eu esperava que você superasse o seu próprio recorde e atrasasse três horas como fez mês passado.”
“Oh, James, você não precisa mentir e agir como se não estivesse alegre em me ver.” - ela pausa para dar um gole no copo de café que trouxe consigo. - “Mas não se esqueça da conversa que tivemos sobre controlar os meus horários. Obsessão não combina com você.”

Eles se conhecem há dezessete anos – o que já seria o bastante para convencer qualquer iniciante no relacionamento do dois que eles têm momentos o suficiente para encher um livro de 652 páginas ou para um roteiro de uma boa novela mexicana – e, apesar de constantes provocações, é possível dizer que eles se dão bem.

Não foi sempre assim.

Durante os anos do colégio (no total, sete anos de convivência), o mais longe que eles chegaram no Caminho da Amizade – como Alice Prewett, especialista no relacionamento Evans-Potter, gosta de chamar – foi no marco de conhecidos.

É claro que “conhecidos” era muito melhor e muito mais pacífico que as antigas classificações (inimigos; estranhos que mal suportam um ao outro; estranhos), mas ainda não era exatamente o que todos que os conheciam esperavam deles. E, mesmo aos 28 anos, cinco anos após eles conquistarem o título de colegas de trabalho, a maioria das pessoas ainda não estava contente.

E, ao usar “a maioria das pessoas”, eu me refiro ao grupo de fãs, ex-alunos, alunos, colegas de trabalho, conhecidos e amigos que ainda esperam uma atualização no relacionamento dos dois. Ou, como Sirius Black gostava de dizer no último ano em Hogwarts, mas que atualmente não diz com tanta frequência, ‘parar de negar o óbvio’.

Infelizmente, aquele não seria o dia.

“Acredite: eu tenho uma lista grande o suficiente para cobrir o mundo antes de me importar com os seus horários. Só estou cansado de ser o seu garoto de recados.” - ele mente, jogando alguns envelopes na mesa de Lily - “Ao contrário de você e a sua estúpida coluna semanal, eu tenho trabalho para fazer.”

“Merlin, se você está trazendo a minha coluna à tona, significa que você percebeu que talvez você não seja tão bom de cama como você pensa.” – Lily Evans diz checando os envelopes. Nada de importante. Ela olha para ele, que ainda não pensou numa resposta. –“Desculpa ter machucado os seus sentimentos.”

“Evans, eu não preciso do seu estúpido gráfico para dizer se eu sou ou não bom na cama. E não, eu não li a sua coluna, eu tinha um prazo de entrega.”
“Então se você não tivesse um prazo, você teria lido?” - ele revira os olhos. – “E como você sabia que tinha um gráfico afinal de contas?” – ela arqueia uma sobrancelha.

James Potter sorri e ele sabe que a duas mesas de distância ela o observa.

Esse era o relacionamento dos dois: não eram exatamente amigos, não se odiavam de verdade e sabiam muito um do outro para serem indiferentes. Eles eram colegas de trabalho.

“Ok, Evans. Mas antes que você saia por aí se intrometendo na vida sexual de todo mundo: Moody passou aqui há meia hora, perguntou onde você estava e disse que queria nós dois na sala dele no momento em que você aparecesse.” – ele se levantou e esperou que Lily revirasse os olhos, sua forma de dizer você não poderia ter dito isso antes?

“Woah, a sua posição no gráfico foi tão baixa assim para você estar com esse mau humor? – Lily disse, seguindo James pela sala de redação.

Quando eles entraram no mal iluminado escritório de Alastor Moody, o editor-chefe, Lily Evans estava dando pequenos tapinhas no ombro de James Potter e dizendo que ‘tudo ia ficar bem’. James balançou a cabeça e revirou os olhos.

“Potter. Evans. Como vocês estão? Tudo bem?” – Moody apagou o cigarro no cinzeiro enquanto os dois abriam a boca, continuou antes dos dois poderem falar. – “Tenho que ir direto ao ponto porque preciso de vocês nisso o mais rápido possível. Vocês estão responsáveis pelo especial do Dia dos Namorados.” – ele olhou o calendário mágico no limite da mesa – “Para o dia 14, vamos ter um texto especial da McDonald, mas, antes disso, vamos publicar textos de vocês por 10 dias. Queremos que vocês recomendem babaquices como restaurantes, onde ir, o que fazer… montar encontros, essas coisas.”

James cruzou os braços na frente do peito. – “Moody, olha, não acho que eu sirva pra isso. Sou colunista esportivo, não tenha essa expertise.”

“E... bem... já que o James comentou…” – Lily falou, coçando a cabeça. – “Eu sei que tenho uma coluna de sexo e essas coisas, mas… escrever sobre romance? Você já leu a minha coluna? É a coisa mais pessimista depois das reportagens econômicas e de acidentes. Não são… românticas.”

Moody olhou para o cinzeiro e cruzou as mãos sobre o peito. Então ele encarou James, buscando as palavras corretas. Apesar de saber que ele e Lily participariam do projeto de todos os jeitos, ele precisava encontrar as palavras que o convenceriam e, na melhor das hipóteses, os deixariam empolgados.

“Preciso de vocês dois nesse trabalho.”
“Por que nós dois?”

“Primeiro, Potter, você foi eleito o ‘Homem do Ano’ pela Seminário das Bruxas numa votação popular”. – Alastor disse. James revirou os olhos para a frase. Aquele não era nada que ele tinha ganhado por ter feito alguma coisa importante, ele apenas tinha dado a sorte (ou azar) de ser mais interessante que os outros participantes. – “Se eu posso me aproveitar disso, eu pretendo. As pessoas estão interessadas em descobrir o seu lado romântico e eu quero explorá-lo. Qual é o método Potter para conquistar uma mulher? E, Evans, você sabe que é perfeita para isso: quantas mulheres não compartilham a sua opinião sobre o romance? O que os homens estão fazendo de errado?”

“Mandando colunistas de sexo falarem sobre romance.”
“Eu preciso de vocês dois juntos nisso e precisa ser vocês dois. E, além disso, não é uma oportunidade perfeita para vocês fazerem mais uma daquelas suas competições? Que tal algo como ‘Quem tiver o melhor encontro ganha?’… isso certamente vai aumentar o número de vendas.”


01.
“É como dizer adeus para a minha honra e dignidade.” – Lily Evans disse para Alice Prewett, Emmeline Vance e Marlene McKinnon enquanto encarava o prato principal do restaurante trouxa em que geralmente almoçavam. Salão com legumes era o especial do chefe naquele dia.

Enquanto Alice e Emmeline trabalhavam com Lily no Profeta Diário, como repórter investigativa e colunista de moda, respectivamente, Marlene trabalhava no Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas e odiava cada segundo daquilo.

“Lily, a sua honra já foi embora há muito tempo. Você não ia conseguir se despedir dela nem se tivesse a chance.” – Marlene disse, dando uma garfada no salmão. Ela também odiava peixe, mas decidiu dar uma chance ao prato do Rochelle Canteen.

“Pense pelo lado positivo, Lils.” – Alice falou, fazendo com que Emmeline parasse de separar todos os pedaços de cebola em um lado do prato. – “Se um dia você pensou em sair com o Potter, agora você pode fazer sem ter que assumir que é por vontade própria.”

“O que é incrível para a Lily porque isso significa que ela ganhou o jogo.” – Emme comentou dando um gole no suco. – “Porque a gente sabe que o real motivo por você não ter aceito aquele convite para sair com ele no natal do sétimo ano.”

“Ah é?” – Lily perguntou, sorrindo. Ela não era grande fã de discutir aquele assunto, mas queria ouvir as teorias das suas amigas.

“Porque você não queria declarar a derrota. Isso é óbvio.”
“Você ainda é um pouco teimosa, mas antigamente?” – Alice disse parando os talheres no ar. – “Você era a pessoa mais cabeça dura de todas.”

“Estava claro para todo colégio que vocês estavam afim um do outro. Você dizia que ia nas partidas de quadribol para me ver jogar, mas Emmeline sempre falava que você só ficava encarando o Potter.”

“E tem uma razão por todos acharem que vocês iam ficar juntos no final. Vocês tinham sintonia!”
“Você só disse não porque passou anos negando.” – Emmeline afirmou. – “Porque você era uma boba teimosa e não queria aceitar que o Potter tivesse razão no fim das contas.”

“E me fez perder uns vinte e cinco galeões, muito obrigada.” – Marlene falou.

Lily ponderou um pouco as falas.
Suas amigas não estavam totalmente erradas.

Era verdade: James e ela tinham se aproximado durante o sétimo ano. Afinal, como não se aproximar do rapaz que dormia do outro lado do corredor, conversava com ela durante rondas e trabalhos de monitoria, era o seu parceiro na aula de poções e um dos garotos no seu ciclo social?

E era verdade que ela, talvez, possivelmente, quem sabe?, tenha, de fato, se interessado (um pouco, porque ela não admitiria algo sério ou profundo) por ele.

“Não importa…” – ela disse por fim. – “Agora eu não vou ter que sair com o James só uma vez, e sim seis. Sem contar que Moody nos deu um prazo ridículo para planejar tudo.”

“Espere.” – Marlene falou, deixando os talheres no prato e erguendo as duas mãos. – “Isso é Lily Evans admitindo que passou metade do sétimo ano interessada em James Fleamont Potter?”

“Não sabia que só precisávamos pressioná-la um pouquinho para ela confessar. Se tivéssemos feito isso dez anos atrás, talvez você não tivesse perdido tanto dinheiro assim, Len.”

“Eu não disse nada.”
“Você não negou nada, o que já é suficiente para mim.” – Alice disse, sorrindo. – “Eu sabia que ela estava com ciúmes quando a grifinória ganhou o campeonato e James Potter beijou aquela garota na comemoração.”

“Eu me lembro dela! Era aquela loira!”
“Não, ela era morena. Kennedy Green.”
“A baixa?”
“Não, Em. Ela era alta.” – Emmeline concordou com a cabeça, mesmo que ainda não se lembrasse da garota.

“ As coisas já estão ruins o suficiente.” – Lily parou de comer. – “Outro dia eu tive um sonho desnecessariamente pornográfico com o James.”
“Isso é novidade.”

“Qual a diferença de um sonho pornográfico para um sonho desnecessariamente pornográfico?”
“Como um sonho pode ser desnecessariamente pornográfico?”

Lily se lembrou o porquê de não ter mencionado o episódio para suas amigas. Ela tinha várias coisas para comentar, principalmente o fato de flashes surgiram as vezes, enquanto ela o encara do outro lado da mesa.

“Agora eu não tenho só que sair com ele, como planejar três encontros para ganhar a maldita competição que fizemos.” – disse, excluindo qualquer menção aos seus devaneios.

“Competição?”
“Eu não acredito.”
“Isso é tãaao Lily Evans e James Potter.”

“Não foi nossa ideia, faz tudo parte do plano estúpido do Moody e… nós aceitamos porque torna as coisas muito mais divertidas do que bolar encontros idiotas? Merlin, olhe só para mim, eu sou capaz de criar três encontros fabulosos?”

“Eu espero que sim.” – Alice disse segurando uma risada. – “Por que o Frank vai precisar de você. É nosso 13º dia dos namorados e ele ainda não sabe o que fazer. Ano passado ele me trouxe jacintos, que significam tristeza. Vocês lembram que eu fiquei mal por dois dias porque achei que era o inconsciente dele dizendo que queria terminar.”

Elas se lembravam muito bem. Longas cartas com hipóteses, dúvidas e dilemas.

Acreditando que muitas pessoas sofriam da mesma questão, Lily tirou uma caneta da bolsa. “Flores. Isso é importante.” – disse fazendo uma pequena anotação no caderno de mão que sempre carregava consigo. – “Ótimo, eu tenho pelo menos um assunto, só falta três encontros.”

“Você não deveria ter entrado nessa competição, Lil.” – Marlene falou – “Potter deve ter tido centenas de encontros incríveis nos últimos anos.”

“É, mas Lily tem uma coleção de encontros terríveis nos últimos anos.” – Emmeline provocou. – “E eu leio sobre eles toda sexta de manhã tentando ignorar aqueles anúncios de poções que aumentam o tamanho da sua vassoura.”

“Por sinal, como era a vassoura do Potter no seu sonho desnecessariamente pornográfico?”
“Merlin, Marlene, eu sabia que não deveria ter contado para vocês. Agora vocês três vão ficar me provocando pro resto da minha vida com isso.”

“Isso é uma mentira, Lily.” – Alice disse, interrompendo a fala para dar um gole na água. – “Você ainda não nos deu detalhes o suficiente para nós te importunarmos por uma vida inteira.”


02.
Ao voltar para o escritório, James Potter observou todos os panfletos e post-its na sua mesa. O almoço com Sirius Black e Remus Lupin foi como uma viagem para o passado: o assunto principal envolvia, como era de costume, Lily Evans e encontros.

Contudo, ao contrário do ar de excitação que os três garotos compartilhavam toda vez que abordavam esses dois assuntos durante os anos escolares, aos 28, o ambiente tinha sido preenchido por ceticismo, preocupação e pessimismo.

“Reservei uma mesa para vocês às 20:30.” – Dorcas Meadowes falou ao se materializar ao lado da mesa de James. Ao ver a expressão de confusão, ela explicou. – “Moody disse para reservar algumas mesas para vocês nos restaurantes mais populares do momento. Ele quer que vocês visitem esses lugares e deem um feedback para o público ter uma ideia de locais, preços, pratos e essas coisas.”

“Não sabia que ele queria que eu me tornasse um crítico gastronômico também. Talvez eu roube seu emprego, Meadowes.” – ele falou, analisando os panfletos. – “São quantos restaurantes?”

“Uns dezesseis… posso ajudar com alguns, mesmo se vocês almoçarem todos os dias úteis juntos, ainda vai faltar alguns na lista. Mas, Potter, não ouse perder a oportunidade, não tem nada melhor do que comer uma refeição incrível e ter o seu chefe pagando por isso.” – Meadowes disse, segurando a sua pena branca na mão. – “Avise a Evans quando ela chegar e converse com ela sobre datas, se vocês dois estiverem livres esse final de semana, podem matar 2 ou 4 restaurantes.”

“Tenho um jogo amanhã, mas, se forem só restaurantes, acho que consigo encontrar um tempo livre.” – James disse, um pouco incomodado com o tempo que teria que gastar naquela matéria. O que mais será que Alastor Moody iria pedir? Que ele e Lily julgassem camas de hotéis? James bagunçou o cabelo com as mãos, um hábito terrível segundo sua mãe, e anotou as informações do restaurante e do horário em outro post-it, colando-o no topo do computador de Lily.

Juntando todos os panfletos e papéis e os colocando em um lado da mesa, ele estava prestes a escrever a sua análise sobre a temporada dos Vagamundos de Wigtown quando jogou a pena sobre as folhas brancas e colocou a cabeça sobre a mesa.

Era para ser uma sexta-feira normal. A sua rotina de sexta-feira envolvia:
Ir para o trabalho
Provocar Lily Evans sobre o fato dela estar atrasada
Escrever o seu texto para o Profeta Vespertino
Encontrar Sirius e Remus para o almoço
Conversar com Benjamin Finwick, o outro comentarista esportivo, sobre a divisão de quais jogos James ia cobrir e quais jogos iam ficar responsáveis por Benjy.
Checar suas credenciais.
Fazer uma lista de tarefas para o final de semana
Começar o texto para o Profeta Dominical
Encontrar Sirius e Remus em um pub
Ir para casa, acompanhado nos dias de sorte e sozinho nos dias que tinha trabalho para fazer no sábado.


Desde que Lily Evans entrou pela sala de redação como de costume, tudo tinha dado errado. Algum padrão tinha sido quebrado, talvez Lily tivesse comprado café preto em vez de café com leite, ou mudado alguma coisa que ele não tinha percebido. Ele tinha certeza que algo estava fora de ordem, era a única explicação decente para o caos.

Eram 14:00, em quarenta minutos, James Potter receberia alguma notificação sobre como os textos para a edição vespertina precisam ser entregues até as 15:00 e ele não tinha nada. Nenhuma linha sobre o treino dos Vagamundos de Wigtown e a previsão dele para os jogos do final de semana. Nada.

E, toda vez que tentava focar no seu trabalho, o seu cérebro ia para a direção oposta e focava em olhos verdes e cabelos ruivos e no fato de que, depois de anos, ele, James Potter, finalmente teria um encontro com Lily Evans.

Ele estava agindo como um adolescente e deixando ilusões percorrerem por sua mente. Ilusões essas que não contribuíram para nada nos anos escolares e que agora continuavam provando serem de pouca utilidade. Por Merlin, ele tinha superado. Ele tinha seguido em frente. E, certo que eles às vezes flertavam, mas quem não faz isso?

Voltar para a região escura e impulsiva que era estar apaixonado por Lily Evans era algo que James Potter não precisava. Ele já tinha passado anos por lá, esperando e torcendo para uma mudança acontecer e não tinha. Não tinha acontecido no sétimo ano e não aconteceria agora, nem nunca.

“Eu odeio Londres.” – Lily Evans disse, surpreendendo-o. Geralmente ela demorava mais tempo após o horário do almoço, entrevistando pessoas para a sua coluna. – “Foi uma péssima ideia ter decidido usar esses sapatos hoje. Eu deveria ter imaginado que ia chover.”

Então foram os sapatos.
Sim. Lily estava usando sandálias sem saltos e ela nunca usava coisas do tipo.

“Nós temos um jantar hoje.” – ele anunciou. Era como se vê-la limpasse toda a mente dele, o horário de entrega, a expectativa em realizar um dos maiores desejos que ele tinha na adolescência… tudo desaparecia. – “Às 20:30. Não é um encontro, mas Moody quer que avaliemos alguns restaurantes.”

“E eu aqui pensando que você estava à procura de dicas para subir umas posições no gráfico.” – ela penteou os fios ruivos com as mãos. – “Podemos parar para um coquetel antes? Preciso fazer perguntas. O tema da semana que vem é “A influência da tecnologia trouxa: como aplicativos de namoros estão mudando os relacionamentos dos bruxos?” e eu preciso de opiniões.”

“Ok. Eu saio daqui às 16:00. Podemos nos encontrar às 20:00, no Gillywater?”
“Combinado.” – e como se aquela fosse a palavra para desbloquear as palavras de James, ele conseguiu focar no seu artigo.

Ou talvez a ideia de acabar logo se fez mais presente para James quando ele percebeu que em algumas horas, ele e Lily Evans tinham um Encontro Não Oficial.


03.
Lily passou parte da sua manhã observando o documento branco na tela do seu computador.

Na outra metade, ela bebeu o seu café, então se levantou e preparou um chá, depois decidiu dar uma caminhada pelo escritório, organizou sua correspondência, limpou a sua mesa e conversou com Emmeline sobre uma nova coleção de vestimentas bruxas.

Ela simplesmente não sabia o que escrever sobre os cinco restaurantes que tinha visitado com James Potter nos últimos três dias. Apesar de ter levado o seu caderno de mão consigo para fazer anotações, o único restaurante que tinha algum comentário foi o ‘Tempero de Bruxa’ no qual eles almoçaram sábado e Lily sabia que a frase “ambiente acolhedor, mas o cardápio não tem muitas opções” só foi escrita por que James tinha chegado dois minutos atrasado.

As outras páginas do caderno estavam preenchidas com observações para suas colunas e até mesmo respostas às perguntas que Lily tinha feito durante as refeições.

Além disso, nada. E ela provavelmente nem se lembrava dos nomes dos restaurantes. Não porque a comida tinha sido ordinária ou algo do tipo, mas porque tinha sido tão fácil desaparecer do mundo durante uma conversa com o seu acompanhante. Ela não lembra muito além das brincadeiras de James, dos comentários de James, das histórias de James…

Céus, ela era um fracasso.
Ela tinha que admitir: aquelas refeições com ele tinham sido… divertidas. Ao contrário do que ela imaginou, eles não passaram o jantar ou o almoço inteiro discutindo um com o outro (como faziam em Hogwarts) ou tentando provocar um ao outro (como faziam durante o trabalho).

Lily Evans sabia que o relacionamento deles era estranho.

Quando começaram a trabalhar juntos, ela sabia que James não voltaria a importuná-la como no passado (no sexto ano, a mudança de comportamento tinha ficado clara e eles quase tinham se tornados amigos), porém, Lily não esperava que eles fossem ser próximos ou algo parecido.

Cinco anos depois, eles discutiam com frequência, brincavam um com o outro com frequência e flertavam com frequência e ela sabia que, se quisessem, poderiam facilmente começar um relacionamento casual, porém nada disso explicava o súbito interesse que tinha surgido por ele.

Ela escutou todas as frases dele atentamente… nem com o próprio chefe Lily tinha feito isso.

“Já tenho nosso primeiro encontro.” – ele anunciou do outro lado da mesa, segurando um envelope nas mãos. Ela deu outro gole no chá, talvez estava na hora de fazer outra xícara. – “Tem um jogo das Holyhead Harpies versus Chudley Cannons amanhã e também vai ter uma partida de quadribol no dia 14. É um lugar perfeito para um encontro.”

“É uma péssima ideia. Já não basta as mulheres serem trocadas por esportes o tempo inteiro, você também vai fazê-las passar por isso no dia dos namorados?”
“Um jogo de quadribol pode ser romântico.”

“Claro: pessoas bêbadas, gritando e xingando o tempo inteiro… e eu aqui achando que o romance estava morto.”

“Você não deve ter ido em jogo de quadribol desde que nos formamos de Hogwarts, Evans. Você nunca foi em um jogo comigo. Espere e verá, vai ser o melhor encontro da sua vida. Você vai esquecer todos os outros. Já pode anotar no seu caderno Potter 1, Evans 0.”

“Um homem pode sonhar.” – ela disse, revirando os olhos. Do outro lado da mesa, ele se encostou nas costas da cadeira, um estúpido sorriso em seu rosto. – “Você já terminou o seu feedback dos restaurantes? Eu estou empacada nisso desde que cheguei e eu não tenho nada. É como se nunca estivesse lá, não tenho nada sobre o lugar, sobre a comida ou sobre a música.”

“Você não é a primeira garota que me diz isso. Todas as mulheres que eu saio com dizem que eu sou muito bom em fazerem elas se esquecerem sobre o resto do mundo.”

“Ha! Não diga isso com tanta confiança, James, se elas disseram que não se lembram de nada, você deveria se preocupar.” – Lily voltou a encarar o arquivo em branco, mas escutou o baque da aterrissagem do caderno preto de James em sua mesa.

“Você pareceu aproveitar.” – comentou, antes de se levantar e ir para a conferência do Orgulho de Portree. – “Amanhã, 18:30 no estádio. Anote na sua agenda e não se atrase.”


04.
“Encontrei a McKinnon hoje no Ministério.” – Sirius Black anunciou ao chegar no apartamento de James. Era segunda-feira, ou seja, o dia em que Sirius e James se reuniam para assistir algum esporte trouxa que passasse na TV. – “Ela continua bonita. Acho que a última vez que a vi foi na nossa formatura.”

“Aquela vez em que vocês transaram e ela sumiu na manhã seguinte?” – James perguntou, abrindo uma cerveja. A provocação fez Sirius sorrir.

“Como está a Evans, por sinal?” – James revirou os olhos antes de responder. – “Incrível.” – ‘Provavelmente em alguma boate com a McKinnon enquanto nós conversamos prestes a escrever alguma matéria que é bastante inapropriada para os estudantes de Hogwarts lerem.’ ele adicionou mentalmente, entregando uma garrafa para Sirius. – “Nós vamos sair amanhã.”

“Hm.” – James sabia muito bem o que aquilo queria dizer.
“Não vai acontecer nada, Padfoot.” – E não iria. Eles tinha se encontrado quatro vezes no final de semana, sozinhos, o que é basicamente um encontro e nada de excepcional aconteceu. Não que James esperasse alguma diferença, mas, caso restasse alguma dúvida, nos últimos dias ele teve a confirmação de que, definitivamente, não tinha nenhum sentimento remanescente.

James Potter sabia que nunca tinha estado tão perto de Lily e que aquela era a oportunidade de tentar alguma coisa se quisesse. Mas ele queria?

Ele facilmente podia criar algum plano de vingança, algo que fizesse com que Lily se arrependesse de tê-lo rejeitado no passado ou até mesmo fazê-la cair de amor por eles.

Mas o que ele ganharia com isso?
Ele sabia que só faria um papel de palhaço e, além disso, não era como se importasse mais. Lily Evans era um problema resolvido.

E céus, ele tinha passado quatro anos experienciando um ridículo amor unilateral. Quatro anos perseguindo uma pessoa que não tinha nenhum interesse por ele. Quatro anos mentindo para si mesmo ao tentar se convencer que qualquer ação de Lily tinha alguma mensagem subliminar para ele. Ele tinha se exposto ao ridículo. Por que ele desejaria a mesma coisa para ela?

Amores unilaterais eram os piores. E mesmo se Lily fosse sua maior inimiga, ele ainda não desejaria o mesmo sofrimento a ela.

“Eu sei.” – Sirius falou, dando um gole na bebida. – “O que você quer assistir hoje? Basquete?” – ele perguntou, mudando o canal de televisão. James tinha gastado uma pequena fortuna conseguindo a autorização para ter o aparelho, mas tinha valido a pena.

“Pode ser.”
Enquanto esperavam o jogo começar e Sirius comentava sobre a nova política do Ministro da Magia, James ainda se ocupava pensando em Lily.

No dia seguinte ele a levaria para um jogo de Quadribol e ele ainda tinha dúvidas se aquela era a melhor ideia. Ao conversar com Alastor Moody naquela mesma tarde, o editor-chefe tinha dado um péssimo conselho ao dizer que James ‘não deveria se preocupar muito e apenas seguir o seu espírito romântico’.

Quem disse que ele tinha um espírito romântico, afinal?
Após participar de algumas campanhas esportivas, James tinha ganhado uma certa popularidade que, ao ser somada com o sucesso da sua coluna e a amizade dele com alguns jogadores e treinadores, o tornou, de um certo modo, famoso.

Tal fama construiu uma imagem de playboy, mesmo que ele nem tivesse encontros tão frequentes como muitos pensavam. E, mesmo naqueles encontros, a única pressão envolvida era a pressão de conquistar quem é que fosse sua companhia e fazê-la aproveitar. Não eram encontros que seriam minuciosamente analisados por Lily Evans e publicados no jornal mágico com maior circulação na Inglaterra.

Ugh – ele odiava isso. Odiava o dilema que sempre se formava na cabeça dele quando Lily estava envolvida. Era sempre assim: ele era preenchido por uma vontade de impressioná-la, de fazê-la olhar para ele, de ser reconhecido.

James detestava se sentir incompetente e insuficiente por não satisfazê-la. Ainda mais, detestava estar sempre correndo atrás da aprovação dela. Sempre tinha se tratado disso e, mesmo anos depois, as coisas não tinham mudado.


05.
Antes de sair do apartamento em que vivia em um bairro trouxa, Lily encarou o reflexo no espelho. Eles não tinham especificado, em momento algum, o quão a sério levariam aqueles encontros. Por isso que ela tentava decidir se a sua roupa estava entre Roupas Que Eu Usaria Em Um Encontro e Roupas Que Eu Usaria Em Um Evento Esportivo.

O porquê dela querer se encaixar no meio das duas definições, ela não saberia explicar, mas se James Potter fizesse algum comentário ou pergunta em relação a escolha das roupas, ela pensaria em alguma desculpa rápida.

Quem ela estava tentando enganar? O objetivo dela era impressioná-lo.

Assim que chegou no estádio e percebeu que estava perdida, Lily fez uma nota mental para publicar no texto do especial de Dia dos Namorados.

#Dica Nº1: Se vocês decidirem ir com um encontro em um jogo de quadribol, se encontrem em algum lugar antes de irem para o estádio. A chance de vocês se perderem no meio da multidão é grande… ainda mais se você não souber para qual time está torcendo.

“Evans!” – James Potter disse ao vê-la. Ela tinha passado os últimos dez minutos em pé, na lateral de uma das entradas. – “Eu tinha te dito para me encontrar na entrada leste, você está na sul. Sabe o quão preocupado eu fiquei?”

“Por ter me deixado sozinha?”
“Ha.” – ele riu, jogando a cabeça para trás. – “Está mais por ficar no setor popular sozinho sendo quem eu sou. Estou falando mal do desempenho do Chudley Cannons há semanas, todos os fãs devem querer me matar.”

“Então estamos torcendo para as Holyhead Harpies?”
“Merlin, não. Os Cannons são horríveis, mas se as Harpies ganharem esse jogo, elas se tornam as líderes do campeonato e o Puddlemere United tem que ganhar esse ano. Mas torcer não é importante.” – ele disse, tirando os ingressos do bolso. Lily Evans entendia tudo sobre relaxamento e diversão e, até o momento, nenhuma das sensações tinham a atingido. As botas dela tinham ficado sujas por causa de um pouco de lama que tinha se acumulado na entrada e aquilo não era divertido de nenhuma maneira.

#Dica Nº2: Vista-se como se você estivesse indo para academia, e não use peças importantes. Elas provavelmente ficarão sujas.

“Preparada para o melhor encontro da sua vida?”
“Dificilmente.” – ela murmurou, subindo as escadas atrás de James.

Lily tinha saído do jornal empolgada. A curiosidade a tinha conquistado durante o pouco tempo que se passou até o comunicado de Alastor Moody e a excitação só tinha aumentado com a proximidade do encontro, mas agora ela se sentia um pouco estúpida.

James Potter estava agindo como profissional. Ela estava ali para criticar o ambiente e a situação, não para sonhar acordada com algo que nunca tinha acontecido e que nunca aconteceria. James não ia tratá-la como ele tratava as outras mulheres, mulheres que ele estava genuinamente interessado em.

Se sentando na cadeira ao lado da de James, Lily pensava como ia ser o resto de sua noite. Ela havia dito para Emmeline, durante uma xícara de chá, que ficaria o jogo inteiro entediada, mas, no fundo, ela esperava que James a surpreendesse de alguma forma: que eles tivessem alguma conversa engraçada como tinham tido nos restaurantes… ou, até mesmo, que ele a convencesse que quadribol era um esporte interessante. Mas, observando o estádio que se enchia aos poucos, ela chegou a conclusão que aquilo não aconteceria.

James, de fato, a tinha levado para um local no qual, enquanto ele aproveitava o esporte que ele tanto gostava, ela analisaria o que tivesse para analisar.

Aquilo era um fiasco.

“Ok, Evans, eu consigo ver o quanto você está odiando tudo isso, mas dê um tempo, ok? Assim que o jogo começar você vai adorar isso aqui.”

“Um encontro não deveria ser entre uma pessoa e um jogo, James. Eu deveria adorar tudo isso só por estar ao seu lado, não?” – ela retrucou. Se bem que não era justo descontar sua decepção nele, ela não direito de estar desapontada, e, mesmo assim, não conseguiu evitar. – “Hipoteticamente, é claro.”

“Hipoteticamente, nós estamos apaixonados.” – Lily revirou os olhos e cruzou os braços. – “Ok, Evans, mas é a verdade. Se nós estivéssemos em um encontro pra valer, nesse momento eu perguntaria como foi o seu dia e, se eu não te conhecesse, perguntaria coisas sobre você. O problema é que eu não estou tentando te conquistar, e eu já sei tudo sobre você.”

“Bem, James, talvez você devesse tentar me conquistar. Não é o ponto de tudo isso? Me convencer que isso…” – ela rodou o indicador para representar o lugar. – “… valeria a pena?” – ele analisou o rosto dela. O pedido dela realmente partia do tédio ou da reportagem? Ou ela queria mais? ‘Isso’ era referente ao encontro ou a eles?

“Ok, mas se você se apaixonar por mim, é problema seu.” – Lily Evans soltou uma risada. Como se aquilo fosse acontecer. Se levantando, James fez um aceno com a cabeça para que ela o seguisse. – “Se você estivesse em um encontro comigo, nós estaríamos naquele lugar ali.” – ele apontou para uma parte da arquibancada que parecia como uma versão bruxa de um camarote. – “Mas assistir ao jogo daqui é muito mais divertido.”

Lily estava ao lado de James, o umbigo tocando a grade a proteção, e tentava não olhar para baixo para não ter vertigem. Nos tempos de Hogwarts, quando ela, Emmeline e Alice iam apoiar o time (especialmente Marlene, que tinha sido por três anos uma batedora), Lily contava até 100 para tentar controlar a sensação de que alguém estava prestes a empurrá-la.

Naquele dia, ela não iniciou nenhuma contagem: James Potter colocou as mãos ao lado das dela na grade e ficou atrás dela, como se a abraçasse por trás.

De repente, Lily Evans ainda tinha consciência de distância, mas, enquanto antes sua preocupação estava concentrada na diferença de altura entre ela e o chão, agora o cérebro dela calculava o quão longe estava o peito de James em relação às suas costas.

Se ela desse meio passo, eles se tocariam?
E se acontecesse, seria estranho?

Eles eram colegas de trabalho, era normal, certo?

“Os jogadores entram em breve, Evans.” – Enquanto falava, ele afastou o cabelo dela, expondo uma parte do pescoço de Lily.


Aquela tinha sido uma péssima ideia.

“Você sabe alguma coisa dos times ou quer uma pequena apresentação?” – ela balançou a cabeça negativamente. A respiração de James batia bem na curva do pescoço de Lily e ela sabia que aquela era a intenção dele, fazer com que ela não esquecesse da presença dele e focasse nela. – “Não se esqueça que estamos torcendo para os Cannons e as chances deles ganharem são nulas.”

“Por que você está aqui e não no box da imprensa? Eu não vou te atrapalhar?”
“Benjy está lá cobrindo o jogo, o único trabalho que eu estou fazendo aqui é te levando para sair.” – ela não sabia disso. – “Um jogo de quadribol é o lugar perfeito, Evans. Se o seu time ganhar, tem toda a adrenalina da vitória e se o seu time perder você tem algo para compensar a derrota.”

“Então é isso que sou? Uma compensação.”
“Não foi o que eu quis dizer.”

“A verdade é, James, que, se o seu time for derrotado e depois vocês saírem para jantar, você vai passar o resto do dia dos namorados comentando sobre os erros dos jogadores ou da arbitragem. Eu quero ser vista, não ouvir sobre quadribol a noite inteira.” – ela disse, virando o rosto para encará-lo. – “Talvez seja legal para casais que são fãs do esporte, mas vocês podem reclamar de jogos quando quiserem, o dia dos namorados tem que ser especial.”

“Mas pode ser especial.”
“Não se a sua atenção estiver focada 100% no jogo ou se você se importar com o que está acontecendo. Só existem duas opções: vocês podem ficar assistindo ao jogo, focados, ou vocês podem conversar e conversar em um lugar mais calmo e íntimo é bem melhor do que aqui.”

Mesmo com as suas opiniões, Lily tentou dar uma chance. Deveria ter alguma coisa ali, alguma emoção que fazia com que pessoas saíssem de suas casas e fossem para um maldito estádio e ela estava determinada a encontrar o que era.

“Você ainda joga?” – Lily perguntou.
“Não competitivamente. Mas eu e o Sirius ainda jogamos com alguns amigos. Fazemos parte uma associação.”

“Meu pai também participa de uma…de golfe.”
“Hm. Uma vez eu, Sirius e Remus fomos em uma excursão para Somerset e Sirius não conseguia parar de comentar o quão sem graça é o esporte. Ele não acha muito emocionante bater em uma bola parada.”

“Eu nunca entendi muito o jogo. Mas, antes de nos mudarmos para Londres, morávamos perto de um campo de mini-golfe e era muito engraçado. As pistas eram bem menores que as originais e tinham essas rampas e obstáculos impossíveis. Não importa quanta força ou quanto calculo eu fizesse, eu sempre ficava em último.”

“Foi aí que você desistiu de praticar esportes?”
“Eu não desisti. Eu jogo pôquer, snap explosivo, sempre assisto as Olimpíadas e leio a sua coluna.” – ela falou, fazendo com que James sorrisse. – “E eu corro, às vezes. Quando não está frio e estamos perto dos feriados.”

“A maioria dos feriados é no inverno.”
“Tire suas próprias conclusões.”

“Se vocês fosse uma atleta, seria jogadora de mini-golfe, então?”
“Acho que gostaria de ser jogadora de vôlei. Ou uma tenista. Provavelmente uma tenista, porque não sou a pessoa mais alta que eu conheço.”

“Tênis? Eu nunca entendi aquele jogo. Sets e pontos… não importa a quantidade de campeonatos que eu tenha assistido na TV, não consigo entender.”

“Você tem uma TV?” – Lily perguntou. – “Como?”
“Com permissão do Ministério. Se você tiver a licença, pode até assinar um daqueles pacotes de TV à cabo.”

“Eu não acredito nisso! Eu moro em um bairro trouxa e tem até alguns feitiços domésticos que não posso usar para não chamar atenção. O que acontece quando você precisa visitar algum técnico? E como você recebe contas se o seu endereço é basicamente inexistente?”

“Você está falando com um maroto, Evans. Eu sei dar os meus jeitos.”
“Inacreditável.”
“Você quer comer alguma coisa? Essas partidas podem demorar. Apesar de estarmos falando do Cannons.” – ela fez um sinal negativo com a cabeça.

“Qual foi o maior jogo de quadribol?”
“Três meses. A mais longa que eu já assisti durou uma semana.”
“Como os jogadores vivem presos em um jogo que dura tanto tempo?”
“Os capitães podem entrar em acordos e pararem o jogo por determinado tempo. E, geralmente, os jogos só são longos quando os times não acham o pomo e o placar está com pouca diferença.”

“Já imaginou jogar um jogo de três meses em Hogwarts? Será que alguém interveria?”
“Não se fosse Grifinória versus Sonserina, isso eu posso te garantir. E, pelo menos quando eu era jogador, a Grifinória nunca passaria mais de duas horas no campo, nós éramos bons.”

“Tirando o jogo que vocês perderem para a Corvinal… que durou… quinze minutos?” – Lily perguntou, querendo que tivesse levado um cachecol.

“Dezessete minutos e vinte e seis segundos, Evans. E só perdemos porque o nosso apanhador…” – ele interrompeu a frase observando o gol das Harpies e murmurou um palavrão. – “... tinha terminado na noite anterior e teve uma crise sentimental no meio da partida. Essas coisas acontecem, então não fiquei furioso, só extremamente bravo.”

“Não sabia que tinha diferença entre os dois.” – Lily disse, escutando a risada de James atrás de si.

No meio da partida, Lily estava bocejando.

James Potter estava tentando o seu melhor para fazer com que ela aproveitasse a noite, ele fazia pequenas perguntas para tentar manter uma conversa e pequenas explicações e comentários para que Lily entendesse o que estava acontecendo e ficasse empolgada como ele estava (o que tinha dado certo no início, mas após vários gols das Harpies, ela estava começando a compartilhar o mesmo descontentamento dos outros torcedores).

Apesar disso, ela ainda era capaz de dizer onde estava a prioridade de James. Não era no encontro. Não era nela. Não era na matéria para o jornal. Era Miles Elliot, artilheiro dos Cannons.

Ela decidiu tentar mais uma vez.

#Dica Nº3: Se você não está recebendo a atenção que gostaria, ou você desiste, ou você o provoca. Caso você vá com a primeira opção, as alternativas são: a) se juntar ao grupo de pessoas sentadas e conversar sobre o tempo; b) ir para casa; c) experimentar as comidas estranhas das barraquinhas no estádio. Caso vá com a segunda, boa sorte.

“Eu e Emme estamos tentando fazer alguma referência sexual com quadribol. Eu pensei em ‘fazer o gol da vitória’, o que você acha?” – Lily disse, virando 180º e ficando de costas para jogo. – “’Enfiar a bola no aro’ é bem óbvio.”

#Observação Nº1: Se ele responder algo como ‘você vai perder as jogadas se continuar conversando’, então é um dia perdido.

“Eu, particularmente, gosto de ‘achar o pomo de ouro’, eu sou muito bom nisso.” – ele se inclinou para comentar isso no próximo ao ouvido de Lily. Naquela posição, ela pode sentir o cheiro de hortelã e canela.

Correção. Não era uma péssima ideia. Era uma tragédia.

“Você foi um artilheiro nos tempos da escola.”
“Mas eu sou talentoso, Evans, eu posso jogar em qualquer posição.”

E, apesar de eles terem tido centenas de conversas parecidas, Lily sentiu a sua respiração falhar e o seu coração bater mais rápido.

Tudo aquilo tinha que ser reflexo da lembrança de seu sonho e dos comentários de suas amigas sobre o assunto. Ele não estava sentindo nada de verdade, eram apenas projeções do seu cérebro. Merlin, porque ela tinha sugerido aquilo? O que tinha acontecido com o “ser profissional”?

“Williams avistou o pomo” – James disse, olhando para o jogador, mas Lily não se virou para tentar acompanhar o apanhador com o olhar. Se ele pegasse, os Cannons ganharia e seria uma virada histórica.

“O que acontece se eles ganharem?”
“Hipoteticamente, eu beijo você.”

E enquanto eles se encaravam, o mundo seguia em frente: Williams abria a mão prestes a conquistar a vitória, mas no último segundo perdia velocidade e era ultrapassado por Olivia Jones, apanhadora das Harpies, que garantia a vitória para o seu time. E pessoas gritavam palavras de desaprovação, mas eles continuavam encantados, achando que o resto do mundo era inexistente ou que o tempo tinha parado.

Nenhum pensamento, nenhuma ação.
Estavam estáticos.

O olhar é uma das coisas mais importantes para se levar em consideração quando você está flertando com alguém. Aparentemente, o olhar manda uma mensagem para o cérebro que responde com uma de duas opções: retirada ou aproximação.

Lily Evans sabia disso muito bem.
Ela sabia que deveria romper aquela troca antes que fosse tarde demais, porque entre ir embora ou adentrar na perigosa área que seria se envolver com James Potter, ela escolheria a segunda opção.


06.
“E então?” – Alastor Moody perguntou na manhã seguinte ao se sentar na borda da mesa ao lado de Lily. – “Como foi ontem?”

“James teve a pior ideia de todas. Ele nos levou a um jogo de quadribol e foi tão entediante que eu pensei que poderia adormecer por um momento.” – Lily disse, parando de digitar o seu texto e encarando o colega de trabalho na outra mesa.

“Eu admito que talvez não tenha sido a minha melhor ideia” – Apesar de ter dito isso, ele estava convencido de que não tinha sido uma péssima ideia. Evans passou um bom tempo sorrindo, chamou o goleiro do Cannons de ‘idiota sem talento’ (e James pediu para Benjy colocar isso no texto dele) e ainda tinha teve todo o momento no final… ele nunca se arrependeria de ter visto os olhos de Lily brilhando naquela intensidade.

“Bem, terminem os textos e mandem para os revisores. Vamos publicá-lo na segunda.” – Boatos que Alastor Moody não ficava tão empolgado desde… bem… desde sempre. – “Já sabem quando vai ser o próximo encontro?”

“Na sexta.” – Lily informou. – “É a minha vez. Vou mostrar para o James o que é um encontro de verdade. Hoje só vamos em dois daqueles restaurantes para o almoço e jantar e fazer uma daquelas perguntas ‘Por que o Dia dos Namorados é importante para você?’”

“Por que vocês não escrevem algo sobre presentes?” – Edgar Bones sugeriu, parando no corredor. Ele nunca conseguia escolher o que era o mais adequado. Flores? Chocolates? Ursos de pelúcia? – “É um pesadelo achar o presente ideal.”

“Eu gostei dessa ideia. É algo bastante comum entre os casais, não é?” – Moody disse, olhando para Lily. Ela se segurou para dizer que não sabia, o último dia dos namorados que ela passou namorando tinha sido seis anos atrás e eles nem saíram em um encontro.

“Para mulheres é fácil.” – James comentou do outro lado da mesa. Ao perceber o olhar questionador de Alastor, Edgar e Lily, ele prosseguiu. – “Basta você aparecer na casa dele, com um sobretudo, nada por baixo e sem precisar ir embora na manhã seguinte.”

“Você tem certeza que o Potter foi a escolha mais adequada?” – Bones disse, sorrindo. Ele deu um tapinha no ombro de Alastor antes de voltar para a sua mesa. Moody também se levantou, murmurando um ‘eu espero que sim’ e indo em direção ao terraço para fumar um cigarro.

“Céus, James.” – Lily falou, com um olhar reprovador.
“É a verdade. Aposto que eles concordam comigo… Sirius concordaria também se estivesse aqui.”
“E mais uma explicação para a lista ‘O que os homens estão fazendo de errado.’”

“Você diz isso, mas aposto que concorda comigo.”
“Não é essa a questão. É só que nós fomos contratados para falar sobre amor… e imagine só como os estudantes excitados de Hogwarts vão reagir a saber que o Homem do Ano da Seminário das Bruxas disse que o presente perfeito é uma noite de sexo?”

“Eu entendo o seu ponto, Evans… mas continua sendo a verdade.”
“Não deveria ser.” – ela falou, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo. – “Digo… presentes deveriam te fazer especial, não? Algo que te lembre dele, uma piada interna, um lado que só você percebeu nele… algum objeto que você sabe que a pessoa vai valorizar.”

“Por que não fazemos uma troca de presentes então?” – ele sugeriu, brincando com a ponta da caneta de pena. Lily ficou em silêncio por um momento. – “Nós temos um jantar hoje a noite que a Meadowes reservou, você me compra algo e eu compro algo para você.” – Não soava como um desafio, porém, mesmo assim, ela tomou a proposta como um. – “Nada de meias cinzas ou cuecas de avô, Evans. Algo que faça com que eu me sinta especial.”


07.
Lily Evans estava atrasada. Terrivelmente atrasada. “Você tem certeza que não levou um fora, Sr. Potter?” tipo de atrasada.

A mesa tinha sido reservada para as 21:00, e quarenta e oito minutos já tinha se passado e a ruiva não podia ser vista em nenhum lugar. O presente que James comprou queimava dentro do bolso do paletó dele e ele rodava a taça de água. Se ela não chegasse em quatro minutos, ele iria embora.

Doze minutos depois ela apareceu, com um vestido azul-marinho, cabelos soltos e perfeita.

“Merlin, James, eu peço mil desculpas, o meu relógio quebrou e eu achava que ainda fosse 19:30, até eu perceber que já tinha se passado duas horas e ainda era 19:30.” – ela disse, tirando o casaco e revelando as finas alças do vestido. Será que ela tinha esquecido que ainda estavam no inverno? – “Ainda bem que não perdemos a mesa, Meadowes ia me matar se isso acontecesse.”

Era verdade; Dorcas tinha feito uma avaliação no restaurante e ele tinha entrado para a lista ‘Um Dos Melhores Restaurantes Bruxos Que Eu Já Fui’. Ela tinha comentado sobre ele com Lily toda vez que elas se esbarravam na sala de redação, se eles tivesse perdido a mesa, Dorcas nunca a perdoaria.

“Fico feliz que você apareceu, o garçom veio umas cinco vezes me perguntar se eu tinha certeza que tinha companhia.” – ele se inclinou para continuar. – “E, não fique com ciúmes, mas algumas mulheres perguntaram se eu não queria acompanhá-las.”

“Você teria ficado entediado em questão de minutos, James. Eu sou a única que consegue te impressionar.” – Lily abriu o cardápio, olhando as opções. James fez um sinal para o garçom e, quando ele apareceu, pediu duas taças de vinho. – “As mulheres perderam o direito de escolha, agora?”

“É só uma taça de vinho, Evans. Você pode pedir um dos seus coquetéis complicados depois.” – ele disse, terminado de beber a água que tinha pedido quando chegou. – “Você viu que aparecemos na Seminário das Bruxas hoje?” – James se referia a pequena imagem dos dois que havia sido publicada com uma nota. A foto tinha sido tirada logo após o fim do jogo, quando Lily ainda encarava James e ele se inclinava para dizer que o jogo estava terminado.

É claro que alguém poderia confundir aquela inclinação como A Inclinação Para Um Beijo e o fato de Lily ter fechado os olhos provavelmente potencializava o erro.

“Sim, Marlene me falou sobre isso enquanto procurávamos pelo seu presente. Sabia que ela encontrou com o Black na segunda-feira e agora eles vivem se esbarrando pelo ministério, sendo que eles nunca se encontraram por lá antes?”

“O que você está insinuando, Evans?”
“Que se você sabe sobre algo, agora é a melhor hora para confessar. Ele está interessado na Len, não é?” – ela fechou o cardápio e observou. Ele usava blusa social e calças pretas. A iluminação deixava os olhos mais verdes do que castanhos e ele estava lindo.

“Padfoot está interessado em qualquer coisa que se mova. E nós não conversamos muito sobre isso… é um tópico complicado.” – Lily o encarou com um olhar questionador. – “É sério. Ninguém gosta de falar sobre a mulher que te abandonou na manhã pós-formatura.”

“Merlin, não me lembre da nossa formatura.” – ela disse, fazendo uma cara de nojo. – “Aquilo é o meu maior pesadelo.”
“O de todos nós.” – ele deu um gole na bebida recém-chegada. – “Mas eu não me lembro de nada constrangedor que você fez na formatura… ao não ser aquele maravilhoso vestido amarelo fluorescente. Ninguém conseguia tirar os olhos de você.”

“Eu estou te avisando, James. Aquele vestido é um assunto proibido, eu não tinha nenhum senso crítico quando usei aquilo. Eu prefiro esquecer e gostaria que você esquecesse também.” – James riu. Quando o silêncio se fez presente mais uma vez, Lily limpou a garganta. – “Não acredito que amanhã eu estou fazendo 29 anos. Parece que foi ontem que eu tinha você me chamando para sair todos os dias.”

“Tsc, Evans, você deveria ter aproveitado a chance. Não vejo ninguém se declarando para você nos últimos… doze anos?”
“Eu estou sendo punida por ter te rejeitado tantas vezes.” – ela falou. Lily observou James fazer o pedido com um sorriso no rosto.

“Pare de me olhar assim, as pessoas podem concluir que você está apaixonada por mim.” – quando a viu revirar os olhos, James prosseguiu. – “É sério! Hoje a tarde fui na casa dos meus pais e minha mãe perguntou se nós estávamos tendo algo por causa da nota de hoje. Ela e meu pai voltaram com as apostas.”
“Todos do escritório também… Alice me contou que só ela acha que algo vai acontecer, que vamos nos tornar amigos coloridos ou alguma coisa parecida; ela está usando o dinheiro que ela separou para o casamento dela.”

“Não sabia que o Frank tinha feito o pedido.”
“Ele não fez… mas Alice está tentando dar dicas. Se ele não fizer um movimento logo, ela vai pedi-lo em casamento. Honestamente, ela tem razão, é o sonho dela desde sempre. Ela nos levou para experimentar vestidos umas quatro vezes nos últimos três anos.” – ele concordou com a cabeça.

Alice e Frank foram o casal de Hogwarts que todos esperavam que se casassem logo após a graduação e se divorciassem dois anos depois por terem tomado uma decisão abrupta. Não que James não acreditasse no sucesso desse tipo de relação, mas ele era um tanto cético em relação a elas. Não importa o quão apaixonado ele tivesse sido por Lily Evans, em nenhum momento ele pensou que o amor era sempre a chave para tudo.

“E você? Pretende se casar daqui a alguns anos?”
“Minha mãe todo dia me lembra que a minha ‘beleza’ não é para sempre e que eu deveria me casar logo antes que seja tarde demais. Mas eu não sei… não sei se acredito nessa coisa de cara perfeito e amor verdadeiro, entende?”

“Acho que sim.” – ele pausou. – “Eu costumava a gostar de uma garota… e claramente não era recíproco. Eu gastei tanto tempo me convencendo que, se não fosse ela, não poderia ser ninguém mais e que ela era minha alma gêmea que, quando percebi que nós definitivamente não fomos feito um para o outro, eu me senti quebrado. Trapaceado… eu tinha jurado amor para uma ilusão e, depois disso… amar não parecia uma coisa tão importante assim.”

“James…”
“Não é a sua culpa, Evans.” – ele a interrompeu. – “’Você junta duas pessoas que nunca foram juntadas antes e as vezes funciona, às vezes não; às vezes o mundo se transforma, às vezes não’. Nós não funcionamos e não íamos funcionar de qualquer forma. Você não disse ‘convença-me’, você disse ‘não’. Fui eu que decidi ser um tolo e correr atrás de uma causa perdida.”

Lily não disse mais nada, é como se as palavras de James estivesse flutuando ao redor.
Ela tinha plena consciência de que, se eles tivessem alguma coisa no presente, não seria algo romântico, com absurdas declarações de amor. Eles nunca iriam por aquele caminho. Porém, ouvi-lo dizer aquilo fez com que um nó surgisse na garganta dela.

“Não fique assim, Evans, é como se você tivesse pena de mim e eu detesto isso.” – mais uma pausa. – “Você tinha dito que foi com a McKinnon comprar o meu presente, não sabia que podíamos pedir ajuda.”

“Você é James Potter. Sabe o quanto eu tive que andar até ter uma ideia do que te dar de presente? Você é rico e popular, não conseguia pensar em nada que você provavelmente não tivesse ou que achasse legal.”

“E você conseguiu?”
“Acho que sim.” – ela retirou um embrulho quadrado da sua bolsa. Lily colocou o objeto na frente de James, analisando a reação dele.

“Eu deveria abrir isso primeiro? Ou…”
“Abra o meu primeiro.” – Ela disse, interrompendo-o. Rasgando o embrulho de papel, James Potter achou uma pequena caixa de madeira que guardava cuidadosamente um relógio prateado. – “’Dou-lhe este relógio não para que você se lembre do tempo, mas para que você possa esquecê-lo por um momento’… é uma frase de um dos meus livros favoritos e… eu achei que fosse ser legal, já que você controla os meus horários e tudo mais… você gostou?”

“Sim.” – ele limpou a garganta. – “Ele é lindo.”
“E você se sente especial?” – ela pausou para rir – “Andei o beco diagonal inteiro pensando em comprar alguma coisa de quadribol e estava prestes a desistir quando olhei para o relógio perto do banco e simplesmente não conseguia pensar em outra coisa que não fosse as suas implicâncias com os meus horários. Me pareceu a ideia perfeita, mesmo sendo uma ironia.” – James percebeu a empolgação dela e sorriu.

“Sim, Evans, eu me sinto bastante especial. Vou usá-lo da próxima vez que você me deixar esperando por uma hora.” – ele pegou o embrulho o branco e a entregou. – “Aí está.”

Primeiro, ela observou o embrulho cautelosamente, esperando que algo explodisse ou a assustasse. Quando se passaram alguns segundos e nada aconteceu, ela puxou o pequeno laço dourado e, logo depois, abriu a caixa de veludo que o embrulho escondia.

Era um colar dourado, com um pingente circular. O desenho de uma flor no pingente era extremamente delicado e, só ao segurar o colar que Lily percebeu que era um relicário. Ela ergueu os olhos e observou James até que ele percebesse que ela estava o observando.

Abrindo o colar, uma das fotos – que ela nunca tinha visto antes – era de Lily, Marlene, Alice e Emmeline sentadas na borda do Grande Lago. E a outra, era de James voando em uma vassoura e piscando um olho.

E Lily soube que aquele não era um presente que ele tinha comprado naquela mesma tarde. O desgastado papel do embrulho servia como prova. Ele tinha arranjado aquele presente já fazia um tempo… bastante tempo.

“A minha foto foi uma ideia do Sirius.” – ele disse. Não era uma mentira. O presente, inicialmente, era para ter sido entregue no aniversário de 18 anos de Lily, mas, como eles discutiram no dia anterior, pareceu errado presenteá-la.

E então, mais tarde, James tinha decidido entregar a ela durante a formatura, porém, semanas antes eles tinham discutido mais uma vez e não fazia muito sentido dar um presente à ela (que, apesar de ser monitora-chefe com ele, era praticamente uma estranha) e não dar as suas outras amigas. Sem contar que ele não queria dar a impressão de que ele estava pressionando-a ou algo parecido.


Desde então, ele tentava encontrar uma forma de se desfazer do embrulho. Aquela tinha sido a oportunidade perfeita e a razão por ele ter aparecido na casa dos seus pais durante a tarde, mesmo quando deveria trabalhar.

“Você colocaria em mim?” – Lily perguntou segurando o colar com as duas mãos. Não havia ninguém nas mesas do lado, portanto, ela não se importou em levantar e ir para o lado de James.
As pontas dos dedos dele roçaram levemente na mão de Lily quando ele pegou o colar e causaram um calafrio nela ao gentilmente se esbarrarem na nuca dela. – “Pronto.” – ele disse, dando um passo para trás. Ela tocou o pingente, que agora ficava um pouco abaixo da linha dos ossos da sua clavícula e voltou para o seu lugar.

Quando a comida chegou, eles já estavam imersos em uma conversa sobre as respostas estranhas que tinham recebido ao perguntarem para estranhos e conhecidos sobre presentes dos dias dos namorados e, mais uma vez, Lily mal conseguiu se concentrar em anotar informações sobre o restaurante e sua comida.
Ela só conseguia focar em como James preenchia o ambiente só por estar ali.


08.
“Eu estou arruinada” – Lily Evans disse durante o almoço. Naquele dia, ela tinha pedido uma salada de frango. Não era um prato que ela sequer consideraria, mas, ao despertar pela manhã, estava decidida a mudar seus hábitos alimentares.

Quando acordou, a primeira coisa que percebeu foi que agora ela tinha 365 dias antes de ter trinta anos e, o que a excitava quando era mais nova, a deixou um pouco deprimida.

“Você não está arruinada.” – Alice disse – “Se você olhar pelo lado positivo, a maioria dos trouxas não chegavam nenhum lugar perto disso há 2000 anos… e todos dizem que os 30 são os novos 20!”

“Eu estou.” – Lily ignorou o resto do comentário da amiga. – “Eu tenho uma coluna sobre sexo que não era para ser só uma diversão enquanto eu descobria o que queria fazer, mas que se tornou o meu ganha-pão e daqui a cinco anos eles vão me demitir e contratar alguém mais jovem e que saiba mais sobre as ‘tendências’ e eu não tenho nenhum plano para o que eu vou fazer depois disso. E fica pior, ontem, após o jantar com o James, eu percebi que além de nunca ter vivenciado um amor romântico, eu provavelmente vou morrer solteira.”

“Você está sendo neurótica, Lily. Você se esqueceu que Minerva McGonagall sempre tentou nos ensinar que nós não precisamos de um homem para nada?”

“Não, eu entendo a Lily.” – Marlene disse, cortando Emmeline. – “Minerva é a mulher mais incrível que nós conhecemos e ela se apaixonou, se casou e teve uma história de amor linda. Não acho quando ela dizia que nós não precisávamos de um companheiro, ela estava dizendo para nós cortamos qualquer pessoa em potencial da nossa vida. A gente levou as palavras dela a sério demais. Eu apenas disse ‘eu te amo’ para vocês e para os meus pais e, agora, toda vez que eu vejo Alice e Frank eu me pergunto quando vai ser o meu momento. Nós falhamos com as ideologias que tínhamos quando deixamos Hogwarts. Nós queremos o final brega dos livros, ter uma carreira e alguém nos esperando em casa, mas nós negamos isso por anos e em vez de nós entregarmos, nós só colecionamos experiências de sexo casual.”

“Eu li essa manhã sobre o medo de se comprometer e eu me encaixo em tudo. Eu acho que estive usando minha liberdade sexual como desculpa para não querer me entregar a alguém. Sabe… eu entendo ter fugido de experiências românticas nos últimos anos, mas não posso dizer que fiz isso porque eu não acreditava em ‘amor’, era medo. Medo de encontrar alguém que eu fosse achar que era minha alma gêmea e todos os outros clichés. E eu juro pelas barbas de Merlin que isso não me incomodava até ontem a noite, mas eu não consigo parar de pensar nisso agora.”

“Eu acho que você está exagerando, Lily.” – Alice apoiou o rosto na palma da mão. – “Passando por uma crise dos quase trinta ou alguma coisa do tipo. Não se passaram nem vinte e quatro horas, você está tendo um pequeno surto.”

“Eu sinto a mesma coisa e meu aniversário é só em julho.” – O protesto veio de Marlene, que tinha parado de comer e focava na conversa. – “Eu passei a manhã inteira fazendo a tão famosa lista de ‘Com quantos caras você já transou com?’ e eu tenho 28 anos e eu transei com 29 caras. E, fica pior, tem pessoas ali que eu não sei o porquê eu não tentei ter nada com.” – ela se inclinou na mesa. – “Eu larguei Sirius Black na cama dele no dia seguinte da formatura e… por quê? Tudo bem que ele era um galinha, mas ele era o meu amigo, ele era divertido, extremamente bonito e o sexo foi incrível.”

“Exatamente! James me disse ontem que ele investiu em uma ‘causa perdida’ e que ele deveria ter escutado da primeira vez que eu disse ‘não’, mas no sétimo ano? Não tinha nada a respeito dele que me impedia de aceitar ir naquele encontro, nós trabalhávamos juntos na monitoria, ele me tratava bem, nós conversávamos sobre como tinha sido o dia um do outro e então eu disse não? Por que? Não acho que era por que eu sentia vergonha em assumir que eu tinha me interessado pelo Potter, mas porque eu tinha medo que nós dois resultássemos em alguma coisa.”

“Essa não deveria ser uma conversa para termos no seu aniversário, Lily. É deprimente, agora eu estou pensando sobre como eu me declarei para Amos Diggory na formatura e desapareci pelos sete anos seguintes sem nem ouvir se ele gostava de mim de volta ou não.” – Emmeline disse.

“Eu vou ficar maluca, é isso. Eu não consigo parar de pensar nisso. Nos últimos dias que ando obcecada com esse assunto. É como se eu finalmente tivesse acordado e percebido que eu arruinei todas as minhas chances de ter me entregado a alguém e do outro lado da minha mesa está James Fleamont Potter que é absurdamente lindo e inteligente e charmoso e engraçado e educado e nós podíamos estar juntos há anos se eu não fosse uma idiota.”

“Para de pensar no e se, Lily. A pior coisa que você pode fazer para si mesmo é pensar como teria sido se você tivesse ido por outro caminho.” – Alice falou, apesar de saber que quase todo mundo concordava que James Potter e Lily Evans tinham sido feitos um para o outro. – “Que colar é esse que você está usando? Você não parou de tocá-lo durante a conversa.”

Lily não tinha percebido que tinha feito isso. E, quando escutou Alice dizer, soltou o pingente e fechou os olhos. Aquilo não. Ela e James tinham saído oito vezes contando com os restaurantes que Dorcas reservava, não era aceitável que aquilo estivesse acontecendo.

“James me deu ontem. Eu estou tocando algo que ele me deu? Não precisa ser um grande gênio para saber que nos livros de romance isso significa ‘querer sentir a presença dele mesmo ele não estando lá’. Merlin, eu não acredito que eu isso está acontecendo. Nós saímos menos de dez vezes, é impossível que eu esteja começando a gostar de James Potter.”

“Não está acontecendo.” – Emmeline anunciou. – “Não está! Você está pensando muito sobre o assunto e está sendo enganada pelo seu cérebro, mas tem uma ótima forma de resolver isso.”
“Que é?”
“Seu apartamento. Coquetéis. Snap explosivo. E um galeão para cada comentário que envolva um homem.”


09.
Já havia se passado uma semana desde que Alastor Moody tinha chamado James Potter e Lily Evans para atribuir a matéria especial do Dia dos Namorados e, na segunda-feira, o primeiro texto, com o encontro que James tinha proposto, seria publicado.

Agora, era a vez de Lily.
Ela tinha tido bastante tempo para pensar no assunto e, após duas horas no telefone com a sua mãe, ela tinha finalmente encontrado a ideia perfeita: um encontro trouxa.

Às 20:02, Evans encontrava James Potter usando grossas meias de lã, um vestido perto e um sobretudo cinza que tinha lhe custado mais dinheiro que ela poderia gastar. Ela tinha escolhido ir com o tradicional encontro que sua irmã mais velha, Petúnia Evans, tinha ido diversas vezes durante a adolescência: cinema, seguido de uma caminhada aleatória pelo parque, seguido de um café em alguma das cafeterias ou lojas de chá que ficavam abertas até tarde.

Não era a ideia mais original de todas, mas, quando sua mãe disse na ligação que tinha um cinema perto da casa de Lily que estava transmitindo sessões de filmes do início dos anos 2000 e que um desses filmes era A Feiticeira, ela pensou por que não?

Ainda mais que todo o filme era uma grande brincadeira.

“Um cinema, Evans? Como isso é melhor que um jogo de quadribol?” – James perguntou assim que a viu se aproximando da porta do cinema. Ele estava usando jeans e aquilo era adorável.

“Primeiro, não tem ninguém amaldiçoando as futuras gerações de algum jogador; segundo, é bem mais íntimo; e terceiro: vocês podem se beijar sem alguém tirar uma foto de vocês e publicar na Seminário das Bruxas.”

“Pelo que eu me lembro, nós nunca nos beijamos. É a sua imaginação falando por você?” – ela revirou os olhos, tirando os ingressos da bolsa. – “Nós estávamos conversando, nós não podemos conversar durante um filme, é inapropriado.”

“Não é proibido, você pode fazer pequenos comentários. E o brilhante de um cinema é a proximidade: você precisa se inclinar para falar com a pessoa…”
“Num jogo de quadribol também.” – ele a interrompeu.
“… e você pode fazer a coisa mais importante em um relacionamento. Tocá-la.”

“Me desculpe, Evans, mas acho que essa é de longe a coisa mais importante em um relacionamento.”
“Vocês podem assistir a um filme inteiro com mãos dadas, você pode encostar a sua cabeça no ombro do seu namorado, vocês podem se beijar, colocar a mão na perna dele. É um mundo repleto de possibilidades e não precisa ter nenhuma mensagem oculta, vocês só querem ficar próximo um do outro. E a melhor parte: ninguém vai incomodar vocês por pelo menos 1h30.”

“Justo. Mas toques podem ser distratores. Não é a melhor ideia, você perde o filme inteiro pensando em outras coisas.”

“Se você realmente quer assistir ao filme, isso não acontece.” – Lily disse, entrando na fila da pipoca. James não disse mais nada, apenas sorriu. – “Você sabia que a Nicole Kidman é uma bruxa, certo?” – ele balançou a cabeça negativamente. – “Ao contrário dos trouxas, bruxos não são grandes amantes do cinema, eu não sei porquê. Talvez porquê é uma invenção trouxa que os bruxos não quiseram aderir, como computadores ou celulares, mas Nicole Kidman, se apaixonou pelo cinema quando era adolescente e decidiu ser uma atriz! E a melhor coisa é que nesse filme, ela é uma feiticeira, e ninguém sabe disso, que se torna atriz em uma série em que a personagem dela é uma feiticeira.”

“Então ela é uma bruxa que fez um filme onde ela é uma bruxa que faz uma série onde ela é uma bruxa?”
“Exatamente! E ninguém sabe disso. Ela é brilhante! Eu adoro esse filme por causa disso. É como se eu escrevesse um livro sobre… sei lá a vida da McGonagall e publicasse. Todos os trouxas iam pensar que é uma das ideias mais brilhantes que alguém já teve, quando, na verdade, eu só estava escrevendo uma biografia.”

“Você ficaria milionária, porque a história da Minnie é absurdamente incrível. Mas você também perderia a sua licença de fazer magia. Isso é quase um crime: os trouxas não devem saber que nós existimos. Aposto que Nicole Kidman recebeu alguma suspensão por causa desse filme.”

“É verdade. Mas eu fico feliz que ela tenha feito, porque eu adoro a ironia.” – Quando Lily entregou o saco de pipoca para James, ela percebeu que ele estava usando o relógio que ela tinha dado a ele duas noites atrás.

Ela também estava usando o colar (que, em apenas 48 horas, já tinha se tornado um amuleto), que provavelmente estava escondido pelas mechas ruivas. Lily sorriu ao reconhecer que eles estavam, de certa forma, ligados.

Depois de tirarem os grossos casacos e os colocarem na poltrona vazia ao lado James, eles se sentaram na sala escura. James colocou o saco de pipoca em seu colo e Lily deixou a água no porta copo entre os dois. Ele a observou: ela parecia empolgada para o filme, o que o relembrou da ideia que tinha tido quando Lily Evans afirmou que ‘se a pessoa realmente quer assistir ao filme, ela não seria distraída por toques’. Era uma ideia infantil, ele sabia disso, mas, ao mesmo tempo, ele queria provar que ela estava errada.

Na metade do filme, após Lily se inclinar para pegar algumas pipocas, James passou o braço para trás do corpo dela, fazendo com que, em vez de encostar a cabeça na poltrona, ela encontrasse descanso no braço dele.

Ela não protestou. Como também não protestou quando a mão dele começou a brincar com as mechas do cabelo dela, ou quando ele usou os dedos parar realizar um movimento vertical no braço dela, começando no meio do braço e então expandindo do topo do ombro.

Foi só quando ele ameaçou brincar com a corrente no pescoço dela, que Lily se mexeu, mudando de posição. Ele se inclinou para dizer alguma coisa.

“Todos os casais ao nosso redor estão se beijando, Evans. Uma pessoa em seu primeiro encontro pode ficar pressionada.” – ela virou a cabeça para encará-lo e James acariciou o cabelo dela. Eles estavam centímetro de distância e apenas um impulso vindo dele seria necessário para colar os lábios deles.

Ele percebeu que ela estava olhando para os lábios dele. – “Shhh, James, você está atrapalhando o filme.” – James sorriu, duvidando que com ‘atrapalhar’ ela se referisse apenas a única fala que ele tinha dito desde que o filme tinha começado.

Depois, ele decidiu voltar para o que estava fazendo. Lentamente percorrendo todo o caminho do braço de Lily, do ombro até o pulso. E. próximo as últimas cenas do filme, ele passou os cabelos ruivos para o lado, expondo o pescoço dela.

Era a segunda vez que ele fazia aquilo, e Lily Evans fechou os olhos, tentando prever o que vinha a seguir. O toque no braço dela era tão leve e tão delicado, que algumas vezes ela se perguntou se ela não estava inventando aquilo; era tão bom, e, inconscientemente, ela começou a controlar a sua respiração com ele: inspirava quando os dedos dele iam em direção ao seu pescoço e soltava o ar à medida que eles se aproximavam do seu pulso.

Merlin, tinha sido um péssimo dia para usar um vestido com mangas. Ela gostaria saber se ele brincaria com as alças de suas vestes se elas existissem.

Inesperado foi quando ele beijou um ponto do seu pescoço, definitivamente sentindo a pulsação dela. Ela suspirou. Ele sabia. – “E então, Evans, não acha que isso possa ser distratante?”

Sim. Ela achava. Não tinha conseguido focar, mesmo sabendo que não era nada demais. Apesar disso, Lily negou com a cabeça e James Potter aceitou o desafio.

Por que?
Ele definitivamente sabia que ela estava mentindo, ela já tinha entregado todo o jogo com o suspiro que tinha dado. Mas ele sorriu, e, se Lily pudesse vê-lo, se conseguisse se convencer a virar o rosto, veria o quão demoníaco ele parecia.

Os lábios dele voltaram ao pescoço dela. Ele não se importava: ela teria que admitir a derrota. Após passar anos ao lado dela, James Potter sentia que já tinha cedido demais. Ele a provocou, os lábios dele roçaram a pele dela até chegarem ao ponto atrás da orelha dela. Merlin, por quê ela tinha inclinado o pescoço? Por que ela não quebrava o contato?

Eram beijos calmos. Não havia nenhuma mensagem neles, a intenção era vê-la ceder e Lily sabia disso, mas o corpo dela continuava quente, ela continuava esperando o próximo local.
Quando ele mordeu o lóbulo da orelha dela, Lily fechou os olhos, sentido ele sorrir enquanto movia os lábios até a mandíbula dela. O que eles estavam fazendo?

Aquele era um sinal verde?

“Ok, James. Você venceu.” – ela cedeu, ainda de olhos fechados. James se afastou com o mesmo sorriso de antes. Lily se virou para encará-lo. – “Agora podemos voltar ao filme?” – ele acenou com a cabeça. Mas os dedos dele continuaram no braço dela até as cenas finais.

Minutos depois, os créditos subiram lentamente e as luzes da sala se acenderam. Em volta deles, a maioria dos casais sorriam um para o outro e, assim como ela, poucos pareciam ter prestado qualquer atenção no filme.

Eles se levantaram e saíram do pequeno cinema de rua e Lily fechou todos os botões do casaco dela, estava mais frio do que ela tinha esperado. James ainda tinha uma expressão de vitorioso no rosto. Ela não odiava aquilo.

“Você saía muitas vezes assim quando voltava para casa?” – James perguntou, ao lado dela. Lily havia dito para eles caminharem até acharem algum lugar aconchegante para um chá.

“Na verdade não. Antes de eu brigar com a minha irmã, ela me mandava cartas contando sobre os encontros dela e eu decidi aproveitar a oportunidade. Eu nunca tive muito tempo para conhecer alguém nas férias escolares, sempre tinha família para visitar e também alguma viagem de três dias que os meus pais inventavam.”

“E a sua irmã vinha nesses encontros o tempo todo?” – James perguntou e ao ver Lily balançar a cabeça positivamente, prosseguiu. – “E ela nunca disse o quão absurdamente chato era?”
“Não é chato…”

“É incrivelmente entediante, Evans. Eu posso concordar se ela vinha nesses encontros para passar duas horas beijando alguém até os lábios sangrarem, mas não consigo achar que um casal vem nisso por diversão.”

“Não me diga que você não gosta de filmes, James, isso não é atraente.”
“Eu gosto de filmes, Sirius e eu as vezes vamos assistir alguma coisa francesa que o Remus achou interessante.” – ele ajeitou os óculos – “Mas você precisa concordar comigo que hoje foi igual ao jogo de quadribol. Você estava interessada e não estava me dando nenhuma atenção. É exatamente eu focado no jogo do Cannons e você emburrada porque não estava gostando de nada.” – Lily achava que as situações eram bem diferentes.

“Não ouse comparar os dois, James. É diferente. Nós não namoramos… você queria que eu me virasse e ficasse te beijando sendo que nós não temos nada um com outro?” – ela perguntou, virando-se para observar o perfil dele, ela queria ver a expressão dele.

“Esse é o meu ponto! Você detonou o meu encontro porque eu estava mais concentrado no jogo do que em você, mas você estava exatamente assim durante o filme. A verdade é que se nós fôssemos alguma coisa, eu teria te beijado o jogo inteiro, do mesmo jeito que você teria me beijado o filme inteiro.”

“Tudo isso é porque eu dei 2 em 5 para o seu encontro?”
“Sim!” – ele sorria como uma criança. – “E eu vou dar 2 em 5 para o seu encontro, porque eu sou legal. Mas saiba que o seu encontro é pior Porque mesmo focado no jogo, quando você tentou me provocar, eu retribuiu e você nem teve a decência de fazer isso, Evans, você me abandonou naquela sala de cinema. Você só tinha olhos para o filme.” – Aquilo definitivamente não era verdade, mas Lily não traria isso à tona.

“Em minha defesa, pelo menos você tinha a chance de aproveitar o filme. A única coisa que eu aprendi naquele jogo, é o que eu já sabia: ou você nasce com a paixão para assistir e acompanhar esportes, ou não. E isso porque eu tentei aproveitar o jogo, você mal estava assistindo ao filme.” – Ele sabia que eles iam discutir aquilo por eras e que nunca concordariam que os dois tinham tido péssimas ideias.

Lily usou uma das mãos para tentar arrumar o cabelo que estava sendo bagunçado pelo vento. James Potter pegou a outra e colocou as mãos entrelaçadas no bolso do sobretudo. – “O seu casaco não tem bolso, tem?”
“Não.” – ela disse. – “E muito obrigada.”
“Seus dedos estão muito frios, Evans. Você deveria ter me dito alguma coisa… ou usado algo mais quente. Eu sei que você é atraente, você não precisa colocar a sua aparência antes do seu conforto quando você está comigo.”

“Você disse isso só para eu não retomar a nossa discussão?” – ela estreitou os olhos.
“Ah, Evans, eu sei que nós vamos debater sobre isso pelo resto das nossas vidas. Segunda-feira você vai aparecer na redação com uma lista de provas e números e opiniões. Só estou dizendo porque é a verdade: se tivesse algo em mim que você gostaria de conquistar, você não precisaria usar vestidos curtos e meias grossas. Não importa o que você quisesse, seria seu porque você é você, Evans.”

10.
No sábado, enquanto James Potter ia para mais um entediante jogo de quadribol, Lily Evans se reunia com Marlene McKinnon para ela fazerem o que faziam de melhor: beber e esquecer os seus problemas.

Enquanto Marlene tentava esquecer o seu emprego e os constantes encontros com Sirius Black no ministério, a meta de Lily era provar a si mesma que, ao contrário dos sinais, ela não estava começando a se apaixonar por James Potter. E, a melhor forma que as duas tinham encontrado para atingir o seu objetivo era flertar.

De acordo com especialistas, o flerte tem vários estágios, mas Lily Evans gostava de dividi-los em cinco.

O primeiro estágio é A Atenção.
Assim que você entra em um lugar (no caso de Lily, um pub) e estabelece um território seu, você começa a atrair a atenção que deseja. Cada um tem a sua estratégia, geralmente envolvem sorrir, trocar olhares, mover os ombros, mover o pescoço, fingir inocência, rir, lamber o lábio superior, morder os lábios. O que importa é conquistar olhares.

O segundo estágio é O Reconhecimento.
Assim que os olhos Lily Evans e os do loiro-desconhecido-sentado-no-outro-lado-do-pub se encontraram e eles sorriram para o outro (ou seja, se reconheceram), é a hora de do Deslocamento. Cabe a ruiva andar até o outro lado do bar nos seus finos saltos, ou fazer um pequeno movimento com a cabeça, como um convite para ele se juntar a ela.

Ela escolhe a segunda a opção. E, agora, começa o quarto estágio. A Conversa.
Importante saber que o que você diz é menos importante de como você diz. Se você começar A Conversa com um elogio, ou com uma pergunta, é mais provável que a noite dê certo: elogios e perguntas carecem de uma resposta.

“Hipoteticamente, se você precisasse começar uma conversa com uma estranha do outro lado do bar, você diria olá ou oi?” – a voz dele não é tão grossa ou rouca como a de James Potter estava durante a partida de quadribol que eles tinham ido juntos, mas não importava.

“Tudo depende de qual é a sua intenção.”

A fase final começa com O Toque.
Antes dele, o flerte passa por um estágio intermediário. A Aproximação. Coisas como se inclinar em direção ao outro, mover para mais perto, até que o tão esperado toque acontece: alguém esbarra no ombro, no antebraço, no pulso e tudo é calculado.

Esse é o momento importante. Assim que alguém toca o outro, o corpo reage: recuar é levantar uma bandeira vermelha; ignorá-lo é um sinal amarelo; mover em direção a pessoa que o tocou é acender a luz verde.

Então, vocês estão conectados. Sincronizados.
Tudo depende de qual é a sua intenção, de quando você quer mudar o ritmo ou cortar a música. Se o seu objetivo é apenas uma noite, a conexão é cortada assim que o ato sexual termina; se você quer um relacionamento sério, a dança continua por dias, meses, anos; e, se você quer apenas algo momentâneo: você inventa uma desculpa para cortar a ligação o mais cedo possível.

Lily Evans não sabia qual caminho seguir.
Não existia nenhuma razão que a impedisse de continuar a conversar com aquele homem, ele era charmoso, atraente e parecia interessado o suficiente em prosseguir com o que eles estavam fazendo. Ela podia continuar com aquilo, ditar o ritmo e ver até onde eles iriam. Ela poderia usar aquilo, para provar para si mesma que o que ela estava imaginando com James Fleamont Potter era apenas um reflexo, uma projeção.

E não era sobre aquilo que Lily tinha discutido com as suas amigas no almoço do seu aniversário?
Sobre nunca se entregar a algo sério? Sobre ter medo de se comprometer, de não cortar a ligação?

A sua mão voou para o pingente dourado enquanto Charles Edwards comentava sobre o mundo o financeiro e era como se ela tivesse tido a sua resposta.

Não era um erro. Não era um delírio. Não era um devaneio.
Ela queria se apaixonar. Ela queria amar. Mas não por qualquer um, não por um estranho em um bar, nem por George Clooney.

Ela queria James.


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