MeliZoe e os Olimpianos escrita por Zoe


Capítulo 16
Honrando tradições antigas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Sentei do lado de Gavin no ônibus, as meninas ainda estavam com certo rancor de mim. Não podia calpa-las. Com certeza,eu sabia da minha incapacidade de fazer boas estratégias de batalha e eu cedi a minha ansiedade naquele estacionamento. Minha falta de conhecimento sobre esse mundo também não me ajudava. Queria saber tudo que pudesse, mas aparentemente essas eram coisas que só vivendo para aprender.
Já me sentia grata suficiente por terem me contado as histórias da criação, algumas historias que antes eu aprendia como mitos, e sobre aventuras de alguns ex-campistas. Amava ouvir sobre meu novo mundo. Parecia tão diferente do mundo em que eu cresci.
Dormi um pouco no ônibus. Estava acostumada a ficar muito tempo sem comer ou dormir, mas isso não me ajudava a pensar melhor. E eu precisava de toda ajuda possível nessa área.
A jornada demorou 3 horas, paramos na rodoviária e decidimos que precisávamos comer. Nossos estômagos pareciam competir para ver quem grunhia mais alto. Ninguem queria tentar outra lanchonete na rodoviária. Perguntamos a um funcionário e ele disse que o próximo ônibus sairia daqui a algumas horas e iria para Chicago. Não era Califórnia, mas estávamos ficando mais perto.
Vanessa disse algo sobre adorar Chicago, mas não entendi o resto da conversa, então me desliguei. Saímos da rodoviária para procurar um restaurante para comer. Silvia disse que poderíamos comer em um restaurante chamado Empire, e Vanessa pediu que, pelo menos, comprássemos chapéus e óculos para as câmeras não nos reconhecer.
Desistimos dessa ideia quando vimos que o restaurante estava cheio. Aparentemente era parte de uma rede mundial de hotéis de luxo. Silvia queria esperar na fila, mas Vanessa e Gavin preferiram procurar outro lugar (e Vanessa parecia muito aliviada com isso). Não dei minha opinião, estava dando espaço para elas me perdoarem.
Sentamos em um café a poucos quarteirões da rodoviária. Pedimos hambúrgueres e batatas fritas para todos, além de refrigerantes e Milk–shakes. Fazia anos que eu não comia tão bem. O cheiro de meu hambúrguer de grão de bico e cebola quase mascarava o enorme cheiro de açafrão que Gavin ainda exalava.
“Silvia, posso te perguntar algo que ficou em minha mente? Sobre um dos dons que você disse que Afrodite pode dar...” Eu pergunto a ela, tentando quebrar o silencio.
“Claro” Ela me responde, passando uma de suas batatas em seu milk–shake.
“Se Afrodite muda sua aparência para aparecer como o padrão de beleza de cada um, porque você nasceu assim, alta, loira, magra, com olhos claros...” Não terminei minha frase e Vanessa começou a rir.
“Esse é o padrão de beleza de meu pai.” Ela me respondeu e parecia estar analisando minha reação.
“Então você nasceu como a mulher perfeita para seu pai? Isso não é um pouco errado?” Eu falo instintivamente e Gavin e Vanessa começam a rir alto.
“Sabe, Luna, incesto não é algo tão horroroso assim no Olimpo, como você acha que minha mãe nasceu?” Silvia fala comigo, brincando.
“Da espuma do mar?” Eu respondo tentando lembrar do que ouvi nas aulas de historia na escola ha anos atras.
“Sim, geração espontânea!” Ela diz e ri alto conosco.
E todos caímos de rir. As outras mesas nos encaravam um pouco. Eramos um grupo estranho de adolescentes sujos e malcheirosos comendo tudo que víamos pela frente e rindo como loucos. Nem posso imaginar o que achavam de nós...
“Seu pai é o que, um homem, branco, hétero e rico?” Eu pergunto a ela, curiosa sobre sua família.
“Meu pai é grego. Então seria mais como homem, cor de oliva, liberal e rico. Essa é a imagem de Afrodite que passava na TV” Ela apontou para seu rosto. “Ele achava que ela era assim, ela foi assim.”
“Parece um pouco problemático.” Eu respondo.
“Tento não pensar muito nisso.” Ela me diz e dá de ombros.
“Acho que você conseguiria se quisesse, seu cérebro não é, tipo, do tamanho de um amendoim?”
A pergunta não veio de nosso grupo. Um garoto parado atrás dela disse. Usava uma das camisetas roxas que eu aprendera que era do Acampamento Romano. Os amigos dele não riram. Nem nós.
Foi difícil acompanhar o que aconteceu em seguida.
“É sim...” Silvia começou a dizer e acabou a frase com um soco no rosto do garoto. Ele caiu para trás e derrubou uma garçonete que levava café para uma mesa. O café se derramou no rosto dele e, em meio a gritos, ele tentou chutar Silvia, que rapidamente mudou de posição e pisou na perna dele. “Sinceramente... Que tipo de treinamento Lupa tem dado a vocês, cãezinhos?” E foi embora.
Vanessa deixou um pouco de dinheiro em cima da mesa e nós fomos atrás de Silvia. Ela não parecia muito abalada, mas sim feliz. Ela disse que isso acontecia muito quando era mais nova. Parecia uma falta de respeito imensa, porem ela não parecia se importar.
“Só vamos embora... Preferia quando os deuses faziam de tudo para não nos vermos em missões.” Ela me diz parecendo um pouco incomodada com a situação, mas sorrindo.
“Porque eles faziam isso?” Eu pergunto a eles, não entendendo muito do que estava acontecendo.
“Sempre que gregos e romanos se encontravam, se matavam até quase a extinção. Mas, é claro, Percy resolveu isso também.” Ela me responde, mas eu continuo perdida.
“Cuidado, vai parecer que você não gosta do herói mais famoso desde... O outro Percy. Perceu.” Vanessa fala e olha estranhamente para o céu.
“Eu estaria morta se ele não houvesse salvado o mundo. Quatro vezes. E mais algumas menores. Mas ele teve toda a diversão na sua época e agora nós brincamos de captura a bandeira com romanos.” Silvia responde, ainda irritada.
“Fico feliz que não tenha ninguém aqui pra te ouvir agora. Voce parece ingrata e mesquinha, e a procura de uma briga.” Vanessa continua. Queria ter esse tipo de intimidade com elas, poder dizer a verdade de forma quase rude e ser compreendida.
“Se ela quiser uma, estou aqui.” O garoto que levou um soco na cara passou por nós balançando a chave de um carro e riu. “Que foi? Tem andado de ônibus? Parece...” E foi embora.
Seus amigos foram atrás, pareciam muito envergonhados. Nós também estávamos, mas tentamos não expressar tanto.
“Sabe, eu aceito um duelo em troca do carro... O grande bundão do Império que roubou nossa cultura contra a coitadinha da filha da deusa da beleza.” Silvia falou e o garoto se virou para nós rindo.
“Que tal líder contra líder? E se nós ganharmos eu fico com sua espada. Achei que gregos usavam bronze, ouro pertence ao maior Império do Ocidente.” Ele responde parecendo mais arrogante do que antes, se fosse possivel.
Olhei para Silvia implorando que ela dissesse que não. Eu estava cansada e com certeza não estava pronta para lutar. Tinha treinado apenas um dia e crianças de 10 anos me derrubaram mais vezes que eu pude contar.
Silvia olhou para mim com uma expressão triste, mas não disse nada.
“Eu não posso decidir isso por ela. Se quiser lutar comigo, estou aqui, se não tiver coragem para me encarar, tenho um ônibus pra pegar.” Ela deu de costas novamente. Parece que era especialista em largar frases de efeito e sair andando.
Não sabia se era o charme de Silvia ou apenas minhas estratégias idiotas de batalha, mas não me responsabilizo pelo o que falei depois.
“Tudo bem, eu luto. Se eu ganhar, chegaremos mais rápido, e se eu perder derreto a arma do meu bracelete para te fazer uma nova espada.” Eu falo com ela, rapidamente me arrependendo das palavras.
“Não precisa fazer isso.” Ela me diz e eu consigo sentir a sinceridade em suas palavras.
“Mas eu quero. Não só porque ele é um imbecil, mas vai ser divertido. Divertido, Silvia. Somos aliados agora. Nós duelamos como amigos, sim?” Olhei para o garoto, mas ele não me respondeu.
“Sim. E se perder nós te damos uma carona, de qualquer forma. Estamos indo para Davenport.” Quem me respondeu foi a garota que estava atrás dele. Ela era baixinha e tinha a pele clara. Seu cabelos cacheados estavam presos em um turbante que apenas deixava alguns cachos para fora. Exalava uma energia forte que me intimidou, como uma confiança de quem nunca perdera uma batalha.
E eu já perdi varias.
Provavelmente, mais do que venci.
“Tem uma rampa de bicicletas aqui perto, é perto suficiente para pagarem seu ônibus quando estiverem envergonhadas demais pra entrar em um carro conosco.” O garoto continuou e a vontade de dar um soco na cara dele aumentava a cada segundo.
“Fala demais, luta de menos.” Silvia falou alto suficiente para ele ouvir.
“Perdão por meu companheiro, ele não sabe quando calar a boca. Ele esta na época de se rebelar quando seus pais. Eles são semideuses." A menina que parecia ser a lider dele nos falou enquanto prendia o cabelo em um rabo de cavalo alto.
“Tambem esta em uma missão?” Pergunto a ela.
“Sim... Estamos tendo problemas com algumas seguidoras de Nyx... Elas tem roubado do Acampamento e é especialmente difícil pegar alguém que consegue andar na escuridão.” Ela me responde e, novamente, eu me sinto por fora do assunto e completamente perdida.
“É uma contradição mandar um adolescente rebelde para controlar outro.” Eu comento.
“Seus pais foram em muitas missões quando eram mais novos... Acho que eles queriam que ele aprendesse limites nessa. Mas é difícil impor.” Ela me diz e parece um pouco chateada com a situação.
“Não é seu lugar.” Eu falo com ela, tentando fazer ela se sentir melhor.
“Eu sou a comandante dele. É exatamente meu lugar.” E sorriu gentilmente para mim. Tinha uma beleza diferente de Silvia, não era tão obvia e claramente não pertencia a uma tela de televisão. Pertencia a um quadro renascentista, com muitos detalhes. Seu eu a visse em um museu a tomaria por alguma deusa, com certeza.
“Escolham suas armas, ninguém de fora interfere, vence quem fizer a outra ficar desacordada. Porque somos amiguinhos e não nos matamos.” O garoto insuportável falou e riu. Ignorei ele e fui deixar minha mochila com Gavin.
“Essa seria uma ótima hora de testar o bracelete...” Começou Silvia. Lembrei do meu sonho e como eu o segurava enquanto pisava nos corpos deles.
“Não... Minha lança vai ser suficiente. Não gosto de perder, mas é parte da vida. De qualquer forma teremos carona pra ir embora.” Eu digo a ela e fico orgulhosa pelo meu posicionamento e como estou crescendo nessa missão.
“Não vou entrar no carro com ele.” Silvia me responde, mostrando que talvez eu seja a única evoluindo aqui.
“Silvia, eu estou fazendo isso por nada?” Eu pergunto a ela um pouco desconfortável e muito irritada.
“Não, me perdoe.” Ela me responde e eu me sinto bem por ela pelo menos conseguir pedir perdão sinceramente.
A garota não me falara o nome dela. Lutava com o que parecia ser uma espada de ouro imperial, mas quando tirei minha lança, se transformou em uma lança quase idêntica a minha. Gostaria de saber como a arma funcionava, mas parecia que era a hora de atacar e não de perguntar.
Tomamos nossos lugares no meio da rampa. Tudo parecia muito ridículo para mim.Com certeza não seria a minha primeira opção e entretenimento. Preferia que Silvia lutasse as próprias batalhas, mas não posso culpa-la, ela se ofereceu.
Quando o garoto nos mandou começar, a menina ficou parada olhando para mim. Eu estava acostumada a lutar somente com monstros então não estava acostumada a começar o ataque. Não sei o que a fez mudar de ideia, mas ela me atacou. Correu em minha direção e sua arma se transformou novamente em uma espada.
Bloqueei seus golpes muitas vezes, vi que ela estava me afastando do meio do campo. Como o pequeno Jeremiah fazia. Não sabia o que ela estava procurando, mas comecei a a atacar de volta, a levando novamente para o centro de batalha.
A luta parecia muito mais natural para ela. Era como uma dança. Ela saia de todas minhas investidas e me deixava cair no chão repetidas vezes, sempre estendendo a mão para me ajudar a levantar. Sempre me deixando cair de novo. Tudo parecia uma brincadeira para ela.
Não sei quanto tempo ficamos nessa dança de investidas e defesas. Ela conseguiu fazer um corte no meu rosto e outro no meu braço. Eu a furara perto de sua omoplata.
Depois de um tempo eu comecei a me sentir mais forte que antes. Não sabia o que estava acontecendo, pois normalmente só me sentia mais forte dentro da floresta ou quando exposta a um Sol forte. Mas sentia uma coragem imensa, como se fosse capaz de tudo.
Ao invés de esperar o ataque dela, dessa vez dividi minha lança em duas partes. Joguei uma na direção de seu amigo insuportável. Imaginei que ele sairia do caminho e ela seria obrigada a olhar para trás. E foi exatamente o que aconteceu.
Enquanto ela olhava para seu amigo, parti a lança em duas partes menores ainda. Joguei uma para cima e me afastei. Parece que atacar o amigo dela a deixou muito nervosa, pois ela veio correndo em minha direção. Enquanto me atacava com a espada, a bloqueei com meu pedaço de lança que parecia mais uma adaga agora. A deixei na posição em que eu estava antes.
Quando ela percebeu, a lança já caia em suas costas. Ela caiu no chão e começou a sangrar. Entrei em desespero, pois não queria a machucar. Ela mesmo arrancou a lança de suas costas e jogou para mim. Se levantou e nos deu as costas.
“Não acabou, você não esta desacordada.” O garoto irritante gritava parecendo muito nervoso.
“Acabou. Ela me enganou e me atingiu.” A garota me jogou a chave do carro e saiu antes que eu pudesse pedir desculpas.
Não imaginei que ela leria a estratégia dessa forma, mas aparentemente (e novamente) estava errada. Minha lança juntou suas partes e se transformou em anel novamente.
Gavin veio me abraçar. As garotas o seguiram.
“Sabe, por um tempo achei que vocês iam largar as armas e se beijar.” Silvia me disse, sorrindo.
“Suas estratégias de luta me deixam muito confusa.” Vanessa comenta, tentando não soar ofensiva.
Seguimos o caminho dos romanos, esperando que nos levasse até o carro. Eles estavam encostados em uma Picape preta. O garoto que nos desafiara saiu quando chegamos.
“Ariane.” Foi a única coisa que ela me disse, e começou a ir embora.
“Tem certeza que não quer carona até Davenport? Iríamos passar por lá de qualquer jeito.” Eu ofereço a ela e espero que ela aceite.
“Ele nunca aceitaria.” Solto meu folego e fico um pouco desapontada quando ela me responde.
“Parece que você tem que o ensinar algumas lições sobre respeito...” Tento novamente.
Ela assentiu e foi atrás dele. O outro garoto, terceiro membro do trio, não falou nada, mas continuou parado. Ele não nos olhava nos olhos e brincava com um set de cartas mágicas vendidas em camelôs.
Silvia me disse que tinha carteira de motorista e podia nos levar. Ela e Vanessa entraram no banco da frente. Eu e Gavin sentamos na cabine de trás que contava com 6 assentos. A cabine esta cheia de embalagens de biscoito e McDonalds.
“Pode-se dizer que estamos viajando a um tempo.” Era a voz da garota atrás de mim. Ela e seu amigo entraram e fecharam a porta. Silvia arrancou o carro e fechou o compartimento entre o motorista e o banco de trás. A ouvimos ligar o radio. Imagino que estava tentando evitar o garoto.
Ele se deitou encostado na janela e fechou os olhos. Provavelmente não estava dormindo mas era melhor que ficasse em silencio.
Gavin começou a limpar o corte no meu rosto mas Ariane pediu para fazer o trabalho. Disse que poderia a ajudar com o corte dela também, mas ela respondeu que não havia necessidade.
Não falou nada enquanto passava álcool no meu rosto, mas eu podia sentir a sua respiração a centímetros da minha. Pensei o que Silvia disse sobre nós nos beijarmos. A garota era certamente linda, e muito poderosa. Queria a beijar, mas alem de achar que seria imensamente inapropriado, nunca tinha beijado ninguém.
Queria que fosse especial e não na traseira de uma picape com mais 4 pessoas.
Silvia abriu o compartimento para anunciar que a viagem demoraria 6 horas. Se quiséssemos comer poderíamos passar em um drive–thru e perguntou quão aberta eu estava a passar em Chicago, mesmo sem necessidade.
Falei que de jeito nenhum e ela se isolou novamente.
Durante a viagem conversei com Ariane sobre o acampamento Júpiter e a missão dela. Passamos em um Burguer King e eu consegui dormir por, talvez, duas horas.
Deixamos o carro estacionado. Ariane falou que podíamos ficar com ele, mas negamos. Iríamos procurar um ônibus ou outra carona agora. Ela tinha que encontrar outro semideus para a ajudar em sua missão.
Nos despedimos e fiquei com seu aroma de confiança na cabeça. Talvez devesse ter a beijado, não sabia se teria outra oportunidade.


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Notas finais do capítulo

Comentem, bbs! Amo vcs ♥
Luna esta crescendo a cada capitulo... Orgulhosa da minha filhinha de Deméter.



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