MeliZoe e os Olimpianos escrita por Zoe


Capítulo 14
Fico o tempo toda amarrada.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Já estava cansada de ser atingida o tempo todo. Parecia que o que mais tinha feito desde que chegara no acampamento foi desmaiar e perder tempo com inutilidades. Luna não abriu os olhos quando acordou e tentou se localizar. Mas não havia nenhuma floresta ou planta perto que ela poderia sentir e deduzir onde estava.
O máximo que poderia dizer é que estava em um lugar coberto de concreto e sem aquecedor. Não conseguia ouvir ninguém conversando, nem passos perto de si, então abriu os olhos e analisou onde estava. Parecia um estacionamento que fora largado a muitos anos. Alguns carros usados e muito velhos estavam estacionados.
Do meu lado estavam Vanessa e Silvia ainda desacordadas. Nossas armas e mochilas estevam do outro lado do estacionamento, bem longe de nós. Não conseguia ver Gavin ou a cozinheira que nos colocara ali.
Tentei analisar a situação para criar um plano. Mas provavelmente seria melhor esperar Vanessa acordar e fazer essa parte. Meus planos sempre eram perigosos demais e acabavam com o monstro me deixam com cicatrizes permanentes.
Analisei bem o lugar. Era quase do tamanho de um campo de futebol, tinha poucos carros e mais nada. Alguns lixões e aparentemente uma rampa de skate que não era usada a muito tempo. Me perguntei o que aconteceu com as crianças que andavam ali.
Alguns pedaços de madeira quase morta estavam jogadas no chão, e perto da porta havia um armário que poderia ser um depósito de panelas velhas, sujas e nojentas. Não havia mais nenhum resquício de que alguém cozinhasse ali. Nenhum fogão. Não sabia se estávamos perto ou longe da rodoviária.
E precisava encontrar Gavin.
Tentou mexer suas mãos e soltar a corda feita de fios sintéticos (não tinha explicação para o porque de saber disso, mas sabia.
Sentia que seu bracelete não estava mais no seu braço. A garota nem tivera a oportunidade de testar o objeto e já conseguira o perder. Talvez fosse por isso que seus familiares nunca lhe davam nenhum presente.
Psssss
Olhei para a direção que o barulho vinha. Vanessa estava acordada. Tentava se sentar, mas sem o uso das mãos era difícil se equilibrar ali. Ela não falava nada, mas seus olhos indicavam para eu olhar para meu lado esquerdo. Alguém estava entrando ali. Entendi que eu não deveria fazer barulho nenhum. Ela cuidaria disso. Confio completamente na cria de Atena para nos tirar dessa situação.
Entrando vinha a cozinheira, carregando Gavin. Ele tentava conversar com ela. Atrás dela, vinham dois homens. Quando apertei meus olhos, percebi que todos eles só tinham um.
Um olho quero dizer. Cada. Bem no centro do rosto, apenas um olho. O que significava que eram ciclopes. Não lembrava muito das histórias que eu ouvira há muito tempo na escola, enquanto estudava historia.
“Voce não vai querer me comer agora,eu estou muito magro. Devia me alimentar por alguns dias, assim vai ter mais carne.” Gavin suplicava.
“Voce fala demais. Te mato agora, silencio.” Respondeu o monstro.
“Mas se você me matar agora, com esse pouquinho de carne que tenho, vai ficar com fome logo.” Gavin tentou novamente.
“Não fico com fome, grande exército de satiros passando, como quantos eu quiser.” O monstro continuou.
“O exército de satiros passou por aqui?” Gavin ficou interessado no assunto, tentando me ajudar.
“CALA A BOCA!” O monstro gritou.
Os dois ciclopes homens que vinham atrás da mulher começaram a arrumar a madeira podre no meio do estacionamento. Olhei para Vanessa e ela parecia calma, com certeza já tinha pensado em algo para nos ajudar a sair dali. Ela chutava Silvia, mas a garota não acordava.
“Se eu fosse você, não me colocaria direto na fogueira. Pode queimar algumas partes. Eu fico melhor assado lentamente ao vapor.” Gavin tenta se safar novamente.
“EU SOU COZINHEIRA! MINHA RECEITA!” O ciclope gritou, novamente.
“Claro, não estou negando que você é uma cozinheira ótima, mas é sempre bom inovar, não?” Gavin continua tentando, somente irritando mais o ciclope.
“Não.” E o assunto acaba ai.
Os ciclopes arrumavam um dispositivo que parecia feito para empalar Gavin. Olhei para Vanessa desesperada. Silvia estava acordando, mas ainda com dificuldade. Quando olhei para os ciclopes novamente, Gavin parecia nos encarar implorando por ajuda.
Queria fazer alguma coisa, qualquer coisa louca, mas eu tinha levado uma filha de Atena comigo por uma razão. Era bom ter pessoas boas em estratégia. Não queria ser como uma filha de Ares, grande e burra.
“Senhora Ciclope, eu sei que você quer comer esse satiro com o melhor gosto possível, porque não o deixa marinando por alguns dias e depois o assa no vapor? Assim o seu aroma de bode vai ser mais aproveitado.” Silvia falava calmamente, sorria, e tentava se sentar ereta.
“Sim, eu quero aproveitar o sabor de bode.” A ciclope fala de repente. 
“Então porque não o marinar por alguns dias?” Silvia continua, convencendo o monstro.
“DIAS? Quero comer agora. O da cozinha já esta velho e aguado.” O charme de Silvia começa a falhar.
“Se você o deixar em ervar pelo menos por algumas horas... Não acha que bode vai bem com açafrão?” A filha de Afrodite tenta novamente.
“Minha mãe tinha uma receita de satiro com açafrão e tomilho deliciosa.” A ciclope pensa melhor, mudando de ideia outra vez. 
“Não gostaria de dar a oportunidade para seus filhos aproveitarem isso? Voce é uma cozinheira melhor que sua mãe...” Silvia continua usando todo seu charme.
“Claro que sou! Tenho um restaurante. Minha mãe tinha uma concessionária.” A ciclope confessa, orgulhosa. “Vão comprar açafrão e tomilho.”
“Não seria melhor cortar tomilhos frescos?” Silvia tenta.
“Não tenho tempo pra isso bode. Cale a boca.” A ciclope termina o assunto de novo. 
A ciclope o empurrou para o chão e foi embora. Ficamos sozinhos em silêncio por um tempo, sem saber se ela podia nos ouvir. Gavin não conseguia se levantar para chegar mais perto de nós. Enquanto isso, eu rastejava para mais perto das garotas.
“Pelo menos consegui mais algumas horas... Quando ela voltar, posso a convencer a o encher de manteiga, isso pode demorar mais um pouco.” Silvia fala um pouco triste.
“Não sei se Gavin gostaria disso.” Eu respondo, tentando sorrir.
“Ele não tem que gostar, tem que ficar vivo.” Silvia fala de mau humor. 
“Não consigo nos soltar daqui. Podemos tentar rastejar até o outro lado do estacionamento.” Eu tento dar alguma ideia.
“E se eles chegarem e nos encontrarem no meio do caminho?” Vanessa entra no assunto.
“Não acho que gostem tanto de carne de semideus como de bode.” Silvia comenta. “Podemos tentar uma morder a corda da outra até rasgar.”
“Esse material é sintético, nossos dentes cairiam muito antes de o rasgar.” Eu digo, não sei porque sabia essa informação, mas sabia.
“Ao invés de a convencer a amanteigar Gavin, posso fazer ela nos fazer de acompanhamento. A manteiga deixaria mais fácil para sair dessas cordas.” Silvia comenta.
“Não gostaria que chegássemos tão perto de ser comidas.” Vanessa fala de forma sombria.
“Não tenho outras idéias.” Silvia para.
“Não acho que vocês gostariam das minhas.” Eu comento.
“Sim, vamos deixar para dar uma de Zeus como ultima alternativa.” Vanessa tenta sorrir.
“Ainda esta com seu bracelete? Talvez poderia ajudar.” Silvia tenta novamente.
“Não esta comigo.” Todas ficamos mais tristes.
“E eu tenho quase certeza que vi no braço da nossa cozinheira.” Vanessa comenta.
“Não existem histórias sobre esses monstros? Como as pessoas se livram deles?” Eu pergunto a elas.
“Normalmente é necessário ser invisível ou um épico filho de Hefesto.” Vanessa me responde.
“Não acho que é a hora para perguntar sobre ser invisível?” Eu falo.
“Não...” É Silvia que me responde, ainda de mau humor.
A porta se abriu com um estrondo e os dois ciclopes mais jovens entraram. Colocaram o Gavin amarrado dentro de uma banheira e começaram a jogar uma quantidade absurda de açafrão e tomilho seco nele.
“SAIAM! VOCÊS FAZEM TUDO ERRADO!” A líder deles, ou eu poderia chamar de mãe, entrou e deu tapas na cabeça dos dois. “Tem que massagear o corpo pra o tempero entrar melhor.” E deu um tapa na cara de Gavin, que gritou de dor. “Pensem que estão fazendo pão.”
“Não, não, não, por favor.... Se me baterem muito vou perder o gosto de fresco.” Gavin chora um pouco.
“Cale a boca !!!” A ciclope grita.
“Senhora cozinheira, o que ele esta falando é verdade, você sabe que se bater muito ele vai perder o gosto de fresco. O que você deveria fazer é solta-lo e deixa-lo correr um pouco. Quando estiver suado o tempero vai grudar melhor.” Silvia tenta usar seu charme na mulher.
“Eu adoro suor de bode.” A ciclope admite.
Não conseguir conter minha careta, mas tentei disfarçar com uma tosse, tentando não atrapalhar o plano das meninas.
“Sim, soltem o bode e deixe-o correr até amanha de manha. Se você não estiver suado, vou te empalar e comer como churrasquinho, foda–se receitas.” A ciclope ameaçou Gavin e o soltou com uma tesoura que carregava no avental. Saiu com os filhos depois de chutar Gavin para começar a correr.
Ele veio até nós e parou um pouco.
“Não entendi o plano, vocês querem se livrar de mim? Não podia ter me esquecido na biblioteca?” Gavin falou conosco entre ofegos. 
“Estamos comprando tempo. Não sabemos como nos livrar das ataduras.” Vanessa explica para o satiro. “Fogo deve conseguir.”
“Não tem nenhuma chance daquilo ali fazer uma fogueira, estão podres demais.” Eu falo com eles, a madeira esta molhada e provavelmente oca por dentro. 
“Então vamos ter mais tempo enquanto eles procuram madeira.” Vanessa pensa e Gavin faz uma careta.
“Tempo pra eu marinar no meu suor e lagrimas?” Gavin fala, posso vr seu desespero no rosto.
“Se eu fosse você começaria a correr.” Silvia fala com ele.
“Não preciso de correr para ficar suado, a situação já é estressante o suficiente.” Ele replica.
“Devemos avisar sobre a madeira quando eles voltarem. Silvia faça isso. Depois os convença de nos fazer de acompanhamento. Semideuses grelhados. Quando chegarmos perto da fogueira a corda vai derreter.” Vanessa da as ordem.
“A corda vai é queimar nossos pulsos.” Eu aviso a elas.
“Se tiver uma ideia melhor nós fazemos.” Vanessa reclama comigo.
E assim o silencio se instalou novamente. Gavin correu um pouco, para lá e para cá. Pensei em o pedir para pegar as armas, já que ele estava livre, mas tinha medo demais de que os ciclopes voltassem e o vissem perto das armas. Era mais seguro jogar devagar e com inteligência.
Mesmo que minhas estratégias impulsivas tenham me deixado viva até hoje, meu corpo não me deixa esquecer que eu poderia ter feito escolhas melhores todas as vezes.
Estava com muita fome, mas nada que já não tivesse passado antes. Podia ouvir o estomago de todos ali roncando alto. Todos passamos a noite acordados. Não conseguíamos dormir, mas na queríamos conversar.
Eu soube quando amanheceu. Um pouco depois, a cozinheira entrou novamente, fazendo muito barulho, e foi checar Gavin, que estava no meio do estacionamento, correndo como nunca.
“Pare! Vamos cheirar você.” Pegou o satiro e o cheirou de perto. A expressão de felicidade dela nos fez acreditar que ela estava pronta para o temperar.
“Então, senhora cozinheira, quantas horas vai deixar ele no tempero? 12? 18?” Silvia começa a falar com sua voz doce.
“2. E se eu ficar com fome antes, menos. Mamãe nunca soube cozinhar tão bem assim.” Seus filhos chegaram e ela os mandou arrumar novamente a fogueira e um caldeirão para cozinhar Gavin.
“Chef, essas madeiras estão podres. Precisa de madeiras menos encharcadas para um fogo satisfatório.” Silvia avisa ao monstro.
“MERDA! VOCÊS NÃO FAZEM NADA! PEDI PARA BUSCAR MADEIRA NOVA E VOCÊS PEGARAM UMA ESTRAGADA DA ESQUINA! VÃO AGORA! E VOCÊS NÃO VÃO COMER MEU DELICIOSO SATIRO. VAO ALMOÇAR O AGUADO DE SEMANAS ATRÁS.” A ciclope gritava novamente com seus "filhos".
Seus filhos saíram correndo e brigando, um dando tapas no outro e o culpando por pegar madeiras estragadas.
“Sabe, chef ciclope, nós, semideuses, daríamos um bom acompanhamento. O que acha de semideuses grelhados?” Silvia começa a trabalhar na segunda parte do plano.
“Sim! Finalmente um semideus que não tenta lutar comigo e aceita sua morte. Mas devo guardar vocês para depois do satiro. Serão um lanchinho da tarde. Uma pra cada.” A ciclope responde sorrindo e batendo palmas. 
“Mas não acha que ficaríamos bem COM o satiro?” Silvia tenta novamente.
“Cale a boca e não tentei usar o charme de Afrodite comigo menininha. Eu sei o que esta fazendo. Fique na sua.”O monstro a responde, acabando o assunto com grito novamente. Parece que nossa estadia ali seria Silvia tentando vários planos e a ciclope nos calando com gritos.
Sílvia ficou calada por um tempo. A ciclope passava mais tempero em Gavin e nós nos entreolhamos. Precisávamos chegar perto do fogo e, de preferência, antes de Gavin ser cozinhado.
“NÃO VOU FICAR CALADA.” Vanessa conseguiu se levantar e saiu correndo para o outro lado do estacionamento, em direção as nossas armas.
“Pare cria de Atena! Achei que vocês deveriam ser os inteligentes!” E saiu correndo atrás da menina. Seus passos faziam o estacionamento tremer, ela alcançou Vanessa rapidamente, antes que chegasse no meio do caminho. “Tudo bem, você pode ser um aperitivo antes do almoço. Eu divido as outras duas no meio.”
Dividir ao meio. Não seria isso que a profecia queria dizer, seria? Eu cheguei no acampamento somente para morrer dias depois? E nem completar minha missão?
Mas fazia um pouco de sentido. Eu era pouco qualificada e não tinha muito talento. Talvez minha melhor jogada era o sacrifício. E se eu não fizesse nada, Silvia morreria junto comigo.
“Senhora! A cria de Afrodite disse que seus temperos não combinam e que ela estava te fazendo gastar tempo até agora.” Gritei. Silvia olhou para mim como se visse um monstro pela primeira vez.
“Me perdoe chef, essa garota esta louca. Quer se livrar de mim para fugir sozinha depois.” Silvia começou a falar mas foi interrompida pelos novos gritos do monstro.
“JÁ DISSE, NÃO USE SEU CHARME DE AFRODITE COMIGO! VOU TE COMER AGORA TAMBÉM. MEUS FILHOS DIVIDEM A OUTRA. VOCÊS TEM QUE CALAR A BOCA. EU SOU UMA ÓTIMA COZINHEIRA! TENHO UM RESTAURANTE!” E pegou Sílvia como se ela não pesasse nada. Tentei sussurrar desculpa, mas ela não olhava para mim.


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Notas finais do capítulo

Comentem!
Desculpem os capítulos longos demais, mas ja cortei no meio... Acontece que eu escrevo demais e é isso.
Amo vcs ♥



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