O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ^^



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Enquanto eu concentrava todo meu ódio nos policiais, um pequeno grupo de manifestantes saiu do meio da multidão e se jogaram contra a barreira de policiais formada pela Polícia Militar.

Enquanto os policiais se concentravam em deter aqueles que haviam se jogado contra a barreira, não perceberam que deixaram uma brecha para que certa quantidade de manifestantes passasse.

E foi o que aconteceu. Aproveitando o espaço deixado pelos policiais, muitos dos que protestavam entraram e seguiram em direção à entrada da prefeitura. Entre esses, estava eu.

Empurramos as portas da prefeitura, e nem os seguranças que lá dentro estavam conseguiram nos impedir. Fala sério, se nem os policiais nos pararam, o que fez eles acharem que conseguiriam?

Em questão de tempo, já havia dentro do prédio cerca de 100 pessoas, todas querendo chegar até a sala do prefeito. Mas, aos poucos, os manifestantes foram desmaiando, e caindo no chão. Uma equipe de policiais havia entrado na prefeitura e estavam apagando os manifestantes usando tasers.

Vendo aquilo, eu me coloquei na frente do grupo e fui o mais rápido que pude em direção à sala do prefeito Tiberius. Alguns policiais foram correndo atrás de mim. Quando virei o corredor, pude ver a porta, e fui correndo até lá. Eu nem sei o que faria quando entrasse, mas coisa boa não seria. Quando estava a menos de um metro da porta, senti um choque no meu antebraço direito e cai no chão, desmaiada.

*

Acordei olhando para um teto cheio de fortes luzes fluorescentes. As paredes brancas brilhavam fortemente à luz dessas lâmpadas. Quando olhei para a parede ao lado, vi o símbolo da delegacia municipal. Imediatamente gelei ao ver que estava algemada. No banco ao lado, estavam outros manifestantes, também algemados.

— Acordou? – disse um dos policiais.

— Tire essa coisa de mim!

— Só quando seus pais chegarem, senhorita... – ele me olhou esperando que eu dissesse o meu nome.

— Evelyn.

— Evelyn! Você foi uma das 50 apreendidas na manifestação.

— Vocês me desmaiaram usando uma arma de choque! Não foi?

— Não usaríamos se não tivesse provocado.

— A voltagem em que o seu taser estava era muito alta! Isso é abuso de poder!

— Vai querer falar de leis agora? Lembre-se que a criminosa nessa história é você.

Que vontade eu tinha de xingar aquele fardado idiota, mas eu sabia que se eu fizesse isso as coisas iriam piorar.

— Tenho direito a uma ligação? – perguntei – Ou isso é coisa de cinema?

— Você pode ligar. Mas vai ter que ter alguém para ouvir sua ligação. – disse isso e apontou para uma policial que estava próxima à porta da delegacia, de braços cruzados, vendo todo o movimento.

A policial me levou até o corredor onde estava o telefone da polícia. Embora eu tivesse pedido uma ligação, não fazia ideia de para quem eu iria ligar. Telefonei, então, para a primeira pessoa que veio na minha mente.

*

Na casa de Jeanne, ela falava com uma outra colega dela a respeito do capítulo da novela que passou naquele dia.

— Eu estou te dizendo, aquele personagem vai ser desmascarado nos próximos capítulos. – dizia Jeanne, deitada na cama e falando ao telefone – Só um minutinho, tem outra pessoa na linha.

— Jeanne! – falei – Escute, eu preciso da sua ajuda agora!

— Evelyn? Mulher, que aflição é essa? Já voltou da manifestação?

— Eu estou na delegacia.

— O quê? – ao ouvir isso, Jeanne mudou sua posição de deitada para sentada e passou a ouvir atentamente o que eu dizia.

— Eu fui apreendida na manifestação.

— Evelyn! Sua... Eu... Eu disse! Essa manifestação não era boa ideia!

— Escuta, Jeanne, depois você me dá a bronca que quiser, agora eu preciso que me ajude.

— O que quer que eu faça? Pague sua fiança? Não posso, o dinheiro que eu tenho é para fazer o cabelo.

— Jeanne, eu não estou de brincad

eira! Trate de me ajudar!

— Amiga, por favor, deixe de drama! Eu não posso fazer nada. Por que ligou para mim e não para os seus pais?

— Você tá louca? Meus pais não podem saber que eu fui presa!

— Você tem dinheiro para pagar a fiança?

— É claro que não!

— Então eles vão ter que saber, uma hora ou outra.

— Eu posso fazer outra ligação? – perguntei à policial.

Ela respondeu negativamente com a cabeça.

— Escute, Jeanne! Eu não posso ligar para eles. E realmente eu acho melhor que eles não saibam! Por favor, peça para seus pais me ajudarem.

— Eu vou dizer a eles.

— Obrigada.

Ficamos em silêncio por alguns segundos...

— Ei, Evelyn – ela quebrou o silêncio.

— Que foi?

— Nada não... Boa sorte.

Não falamos mais nada, desligamos.

*

Fiquei sentada no banco da delegacia, cabisbaixa. Em alguns minutos, meus pais chegaram à delegacia. Meu pai, que sempre era o mais escandaloso entre os dois, já chegou lá fazendo o maior barulho.

— Muito bonito, dona Evelyn! Muito bonito! Eu sabia que essa manifestação não era uma boa ideia! CADÊ O DELEGADO DAQUI!?

— Mãe? Pai? – falei eu, surpresa – O que estão fazendo aqui?

— Minha mãe, com a paciência totalmente contrária à personalidade de pai, veio até mim com aquele olhar acolhedor que ela sempre faz, mas na sua voz dava para perceber o quão irritada ela estava.

— Ah, Evelyn... Eu não sei quando você vai tomar jeito.

— Como vocês souberam que eu estava aqui?

— Os pais da Jeanne nos contaram.

Nossa conversa era atrapalhada constantemente pelos gritos de pai.

— Amor, por favor. – disse mãe – Dá para se acalmar? O delegado já vem! – voltou os olhos para mim. – Evelyn, quando, quando você vai tomar jeito? Será que você não percebe que essa sua imprudência não é nada saudável, minha filha?

Eu não sabia o que dizer, tentava me explicar, mas as palavras não saiam. Eu não me achava imprudente, nem um pouco. Eu estava fazendo algo certo! Independente do que pensassem, eu não estava arrependida.

O delegado entrou e começou a conversa às sós com meu pai.

— Mãe, me desculpa. – eu falei. – Mas... Era necessário isso tudo.

Minha mãe não falou nada. Permaneceu em silêncio. Tentando escutar o que meu pai conversava com o delegado, mas o som da conversa deles era abafado pelos outros barulhos da delegacia. De fato, há muito tempo a delegacia não ficava tão movimentada daquela forma. Foram aproximadamente 5 minutos de conversa entre eles. Então, vieram meu pai e o delegado em direção a mim. O delegado pegou a chave, e abriu as minhas algemas.

— E então? – perguntou minha mãe.

— A Evelyn não vai precisar ficar presa. – meu pai falou.

— Sério? – perguntei.

— Sim. – o delegado respondeu.

Eu estava prestes a pular de alegria, quando o delegado continuou a falar...

— Mas... Não pense que está livre da sua pena.

— O quê?

— Você ainda vai precisar pagar pelo crime de invasão.

— Mas...

— Você vai precisar pagar uma pena alternativa.

— Pena alternativa? O que é isso?

— Serviço social. – meu pai respondeu pelo delegado.

— Serviço social? Tá de brincadeira?

— Brincadeira nenhuma, senhorita. – o delegado falou.

— E o que é que vou ter que fazer?

— Tem um projeto do governo estadual que cuida de idosos.

— EU VOU TER QUE IR PRA UM ASILO?

— Evelyn, por favor. – disse a minha mãe. – Por favor, Vossa Senhoria, explique melhor isso.

— Ela vai precisar ir até o asilo local, e terá que passar três horas por dia cuidando de um idoso.

Eu fiquei boquiaberta durante um bom período de tempo. Não conseguia acreditar naquilo.

— Por quanto tempo ela precisará fazer isso? – perguntou o meu pai.

— Vamos precisar levar essa ação a um juiz, ele determinará o tempo.

Abrir mão de três horas do meu dia para cuidar de um idoso? Qual seria o resultado disso? Eu não poderia nem imaginar!

E se alguém me falasse o que eu iria passar naqueles próximos dias, eu também não acreditaria. Muitas outras surpresas viriam com aquele serviço social.

*

Naquela mesma noite, um fazendeiro acabara de colocar suas vacas para dentro do curral. Terminou de assistir o jornal local, que falava sobre a manifestação. 

De repente, ouviu um barulho enorme no lado de fora, seguido de estranhos mugidos vindos de suas vacas.

Ia tomar um banho para poder ir dormir, mas decidiu ir investigar o que estava acontecendo.

Quando chegou ao lado de fora, viu que os suas cercas tinham sido destruídas, e que suas vacas estavam todas deitadas no chão, aparentemente mortas. Lembrou-se da notícia que o jornal havia dado antes de cobrir a manifestação, e sentiu seu coração acelerar. Com medo, entrou em sua casa e foi vagarosamente andando para trás para buscar a sua espingarda.

Antes que conseguisse, esbarrou numa figura estranha. Ao virar e olhar para ela, assustou-se.

Tudo que os vizinhos ouviram em seguida foram os seus gritos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! ^^
Até a próxima!