Obi Wan encontrava-se bem afastado da multidão, encostado a uma parede ao fundo do grandioso salão onde acontecia um evento beneficente. Ele geralmente se alegrava com festas e era bem sociável, mas aquela em especial o estava deixando nervoso. O motivo? Uma Certa loira de olhos azuis.  Com um copo na mão direita, ele evitava olhar em direção a ela, que conversava alegremente com um sujeito que ele não conhecia, há apenas alguns metros de distancia. Direcionou seu olhar para mestre Yoda e Mestre Windu, que conversavam em particular em um canto mais afastado. Não era o único desconfortável ali, concluiu. 

    Com um só gole, bebeu todo o liquido e apanhou outro copo de um droid serviçal que passava por perto.  Tinha noção de seus limites quanto à bebida, mas precisava se distrair com alguma coisa já que estava praticamente sendo forçado a participar daquele evento.

— Daqui a pouco vai se fundir com a parede, Obi Wan.

  Anakin se juntou ao seu velho mestre. Tomou um gole de sua bebida e deu um suspiro. Era ele quem geralmente se sentia incomodado em eventos patrocinados pelo senado, pois tinha que observar de longe sua amada Padmé interagindo com vários homens importantes e aquilo o deixava com ciúmes. Entretanto, tinha interesse em outra pessoa naquela noite. Seu velho amigo  e sua falha tentativa em não demonstrar seu evidente desconforto.

— Não sei o que quer dizer. – O Jedi mais velho murmurou. – Estou perfeitamente bem aqui. – Ele encarou seu amigo, que observava Padmé do outro lado do salão e ergueu uma sobrancelha. – Talvez você queira se fundir em alguma coisa, Anakin... Está ficando desleixado demais. – Ele deu uma batida de leve no ombro de seu amigo e se afastou.

 Aquilo fez o jovem cavaleiro Jedi engasgar com a bebida. Ficou tão constrangido que cuspiu as palavras.

— Mestre, o que está insinuando?

  Obi Wan já estava longe para responder, deixando um Anakin branco como cera para trás. Não estava a fim de conversar, queria ficar sozinho e tentar lidar com o turbilhão de emoções que estava sentindo. Caminhou sem rumo por um tempo, tentando em vão não pensar nela. Ao mesmo tempo em que se lembrava com carinho das palavras proferidas por Satine, desejava que ela nunca o tivesse feito. Sabia que era uma situação extrema e que ela temia que nunca mais tivesse a oportunidade de dizer o que sentia pelo Jedi, mas aquilo fez com que os sentimentos que Obi Wan havia guardado voltassem à tona, enchendo seu coração de duvida e desejo. Perdido em seus pensamentos, ele não percebeu que chegara até o fim do corredor, onde havia uma enorme janela cuja vista mostrava o fluxo intenso de Corusant. Não era uma visão muito agradável para ele no momento, pois estava farto de ver naves e mais naves, voando para lá e para cá, sem nunca chegar a um destino real, pois ele próprio estava perdido, sem saber que rumo tomar em sua vida. Surpreso, percebeu que havia mais alguém ali e era justamente aquela que vinha evitando a noite toda.

 Ficou tão concentrado observando seus companheiros Jedi que não notou que a Duquesa havia deixado o sujeito desagradável sozinho no salão um pouco antes dele sair também. E agora lá estava ela, deslumbrante naquele vestido, com alguns fios de seu cabelo loiro balançando com a brisa que entrava por uma fresta da Janela. Estava de costas para ele, portanto não percebeu que ele a observava com enorme admiração. Tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe, pensou o mestre Jedi.

  Não sabia por quanto tempo mais poderia ficar ali, admirando sua beleza sem poder demonstrar todo aquele sentimento que vinha guardando por tantos anos, e que ameaçavam vir à tona naquele instante. Devagar, começou a se virar pronto para voltar de onde veio quando ela murmurou:

— Queria que estivesse aqui, Ben.

  Aquilo foi o suficiente para deixar o velho Jedi desconcertado. Sem querer, acabou esbarrando em um vaso de flores, fazendo com que caísse e se espatifasse no chão. Na época em que estavam em Mandalore, fugindo dos caçadores, Satine passou a chamar Obi Wan carinhosamente de Ben, fortalecendo ainda mais o laço entre eles. Fechou os olhos por um instante na esperança de que ela não o percebesse ali e quando os abriu, Satine o encarava boquiaberta.

— Estava me espionando? – Ela disse se afastando da janela.

— O que? Não, claro que não... – Ele tropeçou nos cacos do vaso. –Eu só estava de passagem e acabei esbarrando nisso – Ele olhou para o que restou do vaso e das flores no chão.

  Mesmo vestindo a roupa clássica de um general Jedi, continuava lindo, pensou Satine. Ela caminhou até ele e pôs a mão em sua barba e o contemplou por alguns segundos.

— Sabe que até combina com você. – Ela sorriu. – Apesar de lhe fazer parecer mais velho e muito mais serio do que realmente é. Será que aquele jovem Jedi ainda está ai em algum lugar?

— Agradeço Duquesa. – Ele segurou sua mão e a beijou. Ela percebeu que Obi Wan tremia um pouco. Nunca o vira parecendo tão inseguro e indefeso. – Aquele jovem Jedi cresceu Satine e agora é um mestre Jedi. – Ele tentou sorrir, mas era evidente que estava incomodado com alguma coisa.

— Me evitou a noite toda. – Ela recuou, parecendo ofendida. – Por que? Fiz algo errado? Alguma coisa está incomodando você, posso sentir.

  A mudança brusca no assunto o pegou de surpresa. Seu desalento estava tão evidente assim? Ela não lhe devia nenhuma satisfação, ainda mais de sua vida amorosa, que parecia estar bem movimentada, mas parecia disposta a esclarecer qualquer que fosse o mal entendido.

— Não, Duquesa... – Ele fez uma reverencia. – Já estou de saída, desculpe incomodá-la.

— Espere! – Ela agarrou seu braço, o fazendo olhar para ela e o Jedi percebeu que seus olhos estavam úmidos, como se tivesse chorado. – Esta me evitando por causa de Sebastian, não é? Obi Wan, ele é só um amigo, assim como...

— Como eu e você. – Ele pousou a mão delicadamente sobre a dela. – Não me deve explicações, Satine. Você deve seguir em frente, ir atrás da sua felicidade. – Ele forçou-se a olhar para ela. – Seja quem for, espero que seja agradável com você.

— Então, não se importaria? – Ela puxou a mão com força. – Não se importaria se eu por acaso viesse a me casar com ele? – Seu rosto corou como se estivesse prestes a explodir.

As palavras o atingiram como se fossem os cacos do vaso quebrado aos seus pés, enchendo seu coração de pequenos cortes profundos. Assim que viu os dois chegando juntos naquela noite, Obi Wan percebeu com grande desgosto, que não eram apenas amigos. Apesar de Satine negar, podia sentir que as intenções daquele sujeito para com ela não indicavam apenas uma amizade e isso o deixou de muito mau humor. Se não fosse um mestre Jedi, paciente e educado, certamente ensinaria aquele tal de Sebastian que Satine era uma dama e que seus pensamentos com relação a ela eram totalmente desrespeitosos.  

Sentindo-se envergonhado por estar com ciúmes, desviou o olhar.  Satine o fitava com intensidade, esperando uma resposta que ele nunca poderia dar com sinceridade.

— Quero que seja feliz Satin... - Ela o interrompeu com um tapa no rosto, que deixou uma marca vermelha bem evidente.

— Seja sincero consigo mesmo pelo menos uma vez na vida, Obi Wan! – Ela gritou, balançando a mão dolorida. – Esqueça-se de seu dever como Jedi por um momento e pense quer no que você realmente quer! Será que é pedir muito, depois de eu ter me declarado para você?– Lagrimas de raiva começaram a escorrer pelo seu rosto, borrando sua maquiagem. – Depois de quase morrer nas mãos daquela lesma nojenta chamada Merrik?

  O Jedi não era capaz de dizer o que estava doendo mais: O tapa que a Duquesa lhe dera, ou suas palavras cortantes. Massageando o rosto dolorido, ele a encarava, torcendo para que ela percebesse em seus olhos a angustia que sentia. Queria poder gritar para todos o quanto a amava e por um momento cogitou a ideia de largar toda a sua vida como Jedi e fugir com Satine naquele instante, sem ter que dar satisfações a ninguém. Não seria difícil fugir, bastavam entrar em alguma nave clandestina e partirem rumo a algum planeta fora dos domínios da Republica e longe dos separatistas. Obi Wan conhecia a Galáxia como a palma de sua mão.

  Mas então, se deu conta da de que seria impossível convencer Satine a deixar seu povo e pior ainda, ele seria incapaz de deixar sua vida de Jedi para trás, num momento tão critico como esse – A guerra não demonstrava sinais de que estava chegando ao fim – e muitas pessoas dependiam dele. O que seria de Anakin se seu mentor e amigo abandonasse tudo para viver uma historia de amor? Que tipo de legado deixaria para as próximas gerações de Jedi?

— Não... – Ele disse devagar e Satine virou o rosto encharcado pelas lagrimas que teimavam em escorrer, imaginando já saber a resposta. – Não posso negar que isso me deixaria arrasado, Satine. Mas me importo demais com você para lhe fazer esperar por mim. Às vezes, quando amamos alguém de verdade, temos que deixa-la livre para seguir em frente, mesmo que seja com outra pessoa... – Ele enxugou com carinho as lagrimas que escorriam pelo rosto dela

  Sem hesitar, Satine se jogou em seus braços e o abraçou forte. Obi Wan retribuiu gesto, beijando com ternura sua testa. Imaginar Satine com outro homem o atormentava, mas ele jamais faria Satine esperar por ele, pois sabia que nunca poderia lhe fazer feliz enquanto fosse um Jedi.

— Nunca serei feliz com outra pessoa, Obi Wan. – Ela o apertou mais forte. – Nunca poderei seguir em frente, pois entreguei meu coração a você, há muito tempo atrás. – Ela afrouxou o aperto e olhou o Jedi com carinho. – Eu te amo Ben, e esperarei por toda minha vida por você, e além dela se for preciso, meu cavaleiro Jedi.

  Obi Wan a puxou para perto de si, acariciando seus cabelos delicadamente. Queria poder eternizar aquele momento, mas sabia que ficaria apenas em suas lembranças em pouco tempo, pois logo ambos teriam que retornar para seus deveres e agir como se não sentissem nada um pelo outro. Era arriscado demais, pois Satine poderia correr um perigo ainda maior se os inimigos de Obi Wan soubessem de seu afeto por ela e ele jamais se perdoaria se algo de ruim acontecesse a sua Duquesa.

— Se quer mesmo saber, eu não tive um bom pressentimento quando vi esse tal Sebastian – Obi Wan fechou os olhos e sentiu Satine rir.

    Ficaram assim por alguns minutos, abraçados, cada um imaginando por qual caminho suas vidas teriam seguido se tivessem sido sinceros sobre seus sentimentos um com o outro logo no inicio. Enquanto ainda eram jovens e não tinham tantas responsabilidades e obrigações. Enquanto ainda tinham a chance de ficarem juntos e poderem dizer sem medo e sem consequências que se amavam.