Obi Wan despertou sobressaltado e olhou ao redor, constatando que estava em seus aposentos no templo Jedi. Esfregou o rosto na esperança de apagar o pesadelo que acabara de ter, mas as imagens ainda eram nítidas, como se tivessem acabado de acontecer. O fato era que já havia passado algumas semanas desde o fatídico dia, mas ele ainda tinha pesadelos que o impediam de ter uma boa noite de sono.

  Levantou-se da cama e caminhou até a janela de seu quarto. Estava descalço e seu corpo se retraiu um pouco devido ao chão frio, mas isso não o incomodou. Parou diante da janela e percebeu que ainda era madrugada, mas como sempre Coruscant nunca dormia. Havia um movimento intenso de naves cargueiras, naves de transporte, naves de vigia... Todos seguindo seu caminho, como se nada tivesse acontecido. Mas ele próprio não sabia como poderia seguir sabendo que ela não estaria mais lá, o esperando.

  Apoiou a mão na janela e abaixou a cabeça, fechando os olhos com força. Queria chorar, deveria chorar, porém um Jedi demonstrar suas emoções era um tabu, ninguém o entenderia. Anakin talvez, o entendesse.  Embora fosse um cavaleiro Jedi experiente, seu antigo Padawan nunca deixou de cultivar suas emoções e sentimentos e Obi Wan sabia disso, até o admirava por conseguir esconder tão bem.

  Entretanto naquele momento, só podia contar com ele mesmo, e isso era a pior parte. Fechou a mão com força e respirou fundo. Gostaria de poder voltar no tempo e ter feito diferente, pelo menos ter dito tudo o que sentia a ela, antes que fosse tarde demais.

  Ao abrir os olhos e levantar a cabeça, viu seu reflexo refletido no vidro. Tinha olheiras bem fundas típicas de quem não dormia bem há dias.  Ele sabia que comentários a seu respeito estavam sendo feitos no templo  desde que voltara de sua fracassada missão, mas não se importava com isso. Tudo o que queria era ter uma boa noite de sono para recuperar suas energias.

— Eu deveria ter morrido no lugar dela... - Ele murmurou, e seu assopro fez com que o vidro ficasse embaçado.

  Deu meia volta e retornou a sua cama, onde se sentou. Sabia que não conseguiria voltar a dormir, pois passaria o resto da noite com seus pensamentos o torturando, relembrando os erros que cometera e de que maneiras poderia ter evitado.

— Não havia como... - Ele olhou para suas mãos, em busca de respostas. - O que eu poderia ter feito?

  Poderia ter se entregado ao lado sombrio, Unindo-se a Darth Maul, aquele que matou seu mestre e fez outras tantas coisas perversas. Poderia ter deixado tudo para trás e salvado sua amada, mas ela ainda o amaria depois que ele estivesse corrompido pelas trevas?

  E o que seria de Anakin? Que exemplo daria ao seu amigo e irmão? A quem tinha enorme carinho e consideração. Seria uma traição sem precedentes. Eram Tantas perguntas cujas respostas ele não queria saber.

  Jogou-se cama e encarou o teto. Seus olhos, antes um azul tão radiante, agora transmitiam tristeza e dor e ele estava cansado demais para se importar em esconder o que estava sentindo, por isso havia pedido alguns dias de licença ao conselho. Relutantes, os mestres aceitaram e lhe concederam quatro dias, que provavelmente não bastariam para que pudesse renovar suas energias, mas precisava urgentemente se afastar de tudo e de todos, principalmente da guerra. Lembrou-se de Anakin reclamando, como sempre, de como era injustiçado e de já ter recebido castigos piores por ter quebrado regras menos importantes.

  Aquilo abrandou um pouco a dor que sentia e fechou os olhos. Seu coração estava despedaçado e duvidava que algum dia pudesse cicatrizar. Recordou-se de Satine em seus braços, confessando seu amor por ele e partindo, sem antes que ele mesmo pudesse dizer o que sentia. Aquilo foi um golpe no estomago.

Enjoado, sentou-se na cama novamente e cobriu o rosto com as mãos. Sentia-se envergonhado demais e desejava sumir.  Sua cabeça doía por causa do turbilhão de pensamentos que a habitavam.

— Eu sempre te amei Satine, nunca deixei te amar... Mas tive medo de admitir e agora nunca poderei lhe dizer... - Sua voz falhou.

  Dizer aquilo em voz alta foi o estopim e logo lagrimas surgiram em seus olhos e ele as deixou fluírem livremente por seu rosto. Sabia que a morte era algo inevitável e que por isso os Jedi não deviam se apegar a nada, não deviam formar laços com ninguém, nem com o próprio sangue... Mas Obi Wan falhou. Pela primeira vez em muito tempo ele percebeu que não era um Jedi perfeito e que ele inevitavelmente, aprendeu a amar.

  Primeiro Satine, depois Anakin e os demais homens e mulheres que já haviam estado ao seu lado durante sua vida de Jedi, os quais considerava sua família, mas Satine foi um amor diferente. Um amor proibido, que jamais poderia ter se concretizado... Ou poderia?

  Ainda chorando, Obi Wan deitou-se novamente e deixou-se levar pelos pensamentos que inundavam sua mente, pois sabia que era inútil lutar contra eles. Com os olhos cheios de lagrimas, ele enfim adormeceu e dessa vez sonhou.

 Abriu os olhos e encontrou-se em uma espécie de sala totalmente branca. Não havia portas nem janelas e nenhum sinal de que tivesse mais alguém ali. Seu coração acelerou, pois temia estar em outro pesadelo, revivendo aquele dia em que perdera parte de sua alma, mas então algo tocou em suas costas, que o fez virar imediatamente.

 Ali diante de Obi Wan, estava ela. Usava um vestido simples, com mangas de seda e com o cabelo solto, sem nenhum tipo de enfeite. Embora não fosse seu estilo usual, estava linda, pensou o Jedi.

— Meu querido Obi...- Ela tocou-lhe o rosto suavemente, o que deu ao Jedi a impressão de estar sendo tocado por uma brisa.- Seu coração esta carregado de dor, posso sentir. Por favor, não se culpe. Eu estou bem.

  O Jedi estava imóvel, totalmente hipnotizado pela Imagem da Duquesa, que tinha uma expressão pacifica no rosto. Não conseguia pronunciar uma palavra sequer, estava concentrado demais em memorizar cada detalhe de sua amada antes que seu sonho terminasse.

— Me concede uma ultima dança, meu cavaleiro?- Ela ofereceu-lhe a mão.

  Obi Wan pegou sua mão delicadamente e teve a sensação de segurar uma seda, o que lhe causou certa tristeza. Ela não estava ali de fato, pois era um sonho e não passaria disso. Colocou a mão em sua cintura e se aproximaram. Tão perto, Ele teve vontade de abraça-la e pedir perdão por não ter conseguido salvar sua vida. Tentou novamente pronunciar algumas palavras, mas não saia som algum de sua boca.

— Já disse, não foi culpa sua. - Ela apoiou a cabeça em seu ombro. - Você precisa continuar seu caminho, Obi Wan... Precisa ser forte para o que estar por vir... Não vai ser fácil, mas quero que saiba que sempre estarei com você, bem aqui. - Ela pôs a mão em seu peito. - Nunca se esqueça, eu sempre te amarei...

  Dançaram pelo que pareceram horas, mas na verdade não passou de minutos. Obi Wan percebeu que ela estava se tornando translucida e sentindo o medo tomar conta de seu coração, tentou seguras suas mãos com um pouco mais de força, o que foi em vão. Satine não parecia assustada, pelo contrario, estava sorrindo e uma luz muito forte brilhava ao seu redor, o que fez o Jedi então sentir um enorme alivio em seu coração e, como se as palavras explodissem de seu peito, exclamou emocionado:

— Eu também sempre te amei Satine e continuarei amando por toda minha vida...

  Ao proferir as palavras, um clarão tomou conta do ambiente e Obi Wan acordou em seu quarto, ofegante. Olhou ao redor, esperando encontrar algum sinal dela, mas não havia nada, apenas a sensação de alivio que tomava conta de seu coração. Pela primeira vez em muitos dias, ele sentia-se em paz consigo mesmo. Tocou a face onde Satine havia lhe feito um carinho e sorriu. Não era um sorriso de felicidade, pois ele jamais seria completamente feliz novamente, mas sim um sorriso de compreensão. Sabia que não seria capaz de superar a perda de sua amada e que isso o assombraria pelo resto da vida... Mas de alguma forma, tinha certeza de que ela sempre estaria zelando por ele.