A Arte do Casamento escrita por Saori


Capítulo 2
Bons desafios são sempre bem-vindos.


Notas iniciais do capítulo

E aí, achou que eu tivesse desaparecido? É, quase isso. Mas aqui estou eu, com mais um capítulo dessa fic não abandonada! Espero que gostem. Dessa vez, vamos ficar com a narração do nosso Scorpius.

Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790998/chapter/2

Scorpius Hyperion Malfoy.

Casamentos eram, definitivamente, um porre. Sorrisos forçados, sentimentos fingidos, simpatia exagerada, presentes caros e assinaturas em um papel tão frágil que pode ser arruinado por simples gotas d’água. Afinal, o que raio as pessoas viam de tão importante em uma cerimônia de caráter tão ultrapassado? Como se um papel fosse capaz de eternizar o amor. Ou melhor, como se o amor eterno realmente existisse. Afinal, todos nós somos finitos, então como algo tão abstrato quanto o amor pode continuar a existir, mesmo depois de irmos embora? Essa era a maior mentira já contada em toda a história da humanidade. Absolutamente tudo existente nesse mundo é finito, mas as pessoas se negam a acreditar nisso. Todos nós caímos no esquecimento um dia.

Ter me escolhido para cobrir um casamento era um erro, mas minha editora-chefe negava isso a todo o custo. No entanto, a um certo ponto, eu decidi não argumentar mais, afinal, Nymphadora Tonks tinha uma das personalidades mais fortes que eu já havia visto em toda a minha vida. O fato é: depois de trabalhar por cinco anos na mesma editora, já estava na hora de uma promoção e, segundo Tonks, o melhor profissional é aquele capaz de trabalhar até mesmo com o que mais odeia. Apesar de parecer uma ideia genial, eu tenho uma teoria de que ela é apenas uma sádica entediada, mas quem sou eu para julgá-la? A última coisa que eu preciso na minha vida é ser demitido, então eu aceitei a oportunidade, mesmo que contra toda a minha vontade. Seriam só alguns meses, eu aguentaria firme, escreveria uma matéria genial que iria contra o senso comum cliché que as pessoas vivem divulgando e, em breve, ocuparia um cargo maior e poderia escrever sobre o que eu quisesse.

Eu estava convencido de que eu conseguiria, afinal, eu realmente era muito bom no que eu fazia. A única coisa que eu não esperava era ter que lidar com uma maníaca por casamentos, que era exatamente o que Rose Weasley era. Rose era reconhecida no ramo, era uma organizadora de eventos procurada e sua especialidade era em casamentos. A diferença era que, ao contrário das outras profissionais da área, ela não se comportava com uma felicidade falsa e não trabalhava à base do puro fingimento. Ela realmente gostava do que fazia, era claramente apaixonada por casamentos e, por algum motivo, isso me trazia um baita incômodo. No entanto, eu pouco me importava. Tudo o que eu precisava era suportá-la por alguns meses, e eu nem sequer a veria todos os dias.

Eu juro que eu já estava me considerando azarado o suficiente, como se nada fosse capaz de retirar mais a minha paz do que trabalhar na profissão dos sonhos com algo que eu simplesmente não suporto. Contudo, também acho que a lei de Murphy sempre foi a minha pior inimiga e, definitivamente, se algo pode dar errado, então dará e, infelizmente, para esse tipo de coisa, não há explicação ou súplica capaz de resolver.

Eu só queria um café preto, bem forte, sem adoçar e paz de espírito. O problema do café seria facilmente resolvido assim que eu me aproximasse do balcão e fizesse o meu pedido, já a paz de espírito subitamente se esvaiu assim que meus olhos se depararam com uma figura feminina ruiva, de cabelos cheios, sardas no rosto e personalidade altamente irritante. Dada a minha situação deplorável, dei-me a liberdade de respirar fundo e caminhar até o balcão. Com sorte, eu me livraria dela ao dar um simpático “bom dia”, enquanto rezaria internamente para todos os deuses críveis e não críveis para que ela me deixasse em paz. Era um plano simples e eu diria quase infalível, uma vez que nós nutríamos um sentimento mútuo de desprezo um pelo outro. Ou quase isso.

— Bom dia — cumprimentei-a com a melhor simpatia forçada que eu possuía. Uma atuação digna de um Oscar e uma carreira promissora.

— Bom dia — ela respondeu, com um sorriso quase tão falso quanto o meu.

— Um café preto, sem açúcar — pedi à atendente, desviando a minha atenção de Rose, com a esperança de que ela fosse embora.

Felizmente, foi como se ela tivesse lido a minha mente. A ruiva simplesmente deu meia-volta e caminhou para longe do balcão. Havia poucas coisas realmente prazerosas na minha rotina nada empolgante e o momento do meu café era o mais precioso dos meus dias. Por algum motivo, era quando eu tinha as minhas ideias mais geniais de escrita, mesmo que não fossem tão boas quanto eu as achasse. Eu não fazia literalmente nada demais, só me sentava na cafeteria, todos os dias de manhã, com o meu café preto, notebook e algum livro. As ideias simplesmente vinham, sem qualquer explicação.

Quando a bebida finalmente ficou pronta, peguei a pequena xícara de café e olhei ao meu redor. Andei por entre as mesas e cadeiras, na esperança de encontrar uma única mesa vazia, mas não aconteceu. Na mesa do canto, próxima da janela, avistei Rose Weasley e foi exatamente naquele momento que eu entrei em um dilema. Havia duas opções igualmente detestáveis que eu podia escolher. Opção número um: não viver o momento mais valioso do meu dia e seguir em frente, mesmo que pensar nisso doesse em meu âmago. Opção número dois: vencer o meu irrefutável orgulho e pedir para compartilhar a mesa com ninguém mais, ninguém menos, do que a pessoa mais chata que eu havia conhecido naquela semana e, consequentemente, abrir mão da minha tão preciosa paz de espírito.

Enquanto eu pensava na árdua decisão que precisava tomar, nossos olhos se cruzaram e, ao olhar no fundo daqueles olhos azulados, encontrei um vestígio de iniciativa. Contei mentalmente: “um, dois, três” e, nesse exato momento, a ouvi chamar o meu nome, alto o suficiente para que eu ouvisse daquela distância.

— Malfoy — O tom de voz dela não possuía qualquer ânimo, mas eu a compreendia muito bem.

Rose Weasley era o padrão da menina correta, aquela que tentava fielmente seguir os princípios da bondade, quaisquer que fossem os sacrifícios necessários. Mesmo que isso significasse ter que aturar a minha companhia. Admito que eu sempre fui bom em ler as pessoas, talvez esse fosse até mesmo o grande diferencial que me tornava tão especial em minha profissão. Entretanto, quando se tratava dela, era diferente. Era ainda mais claro. Rose, apesar da personalidade forte e decidida, era completamente transparente.

— Weasley — retruquei, com um sorriso forçado nos lábios.

— Pode se sentar aqui, se quiser — falou, tentando parecer educada. — Quer dizer, todos os outros lugares estão ocupados e acho que você não conhece mais ninguém aqui, então...

Dada a minha enorme falta de opção, resolvi render-me àquela situação.

— Ah, certo. Obrigado por isso — proferi, ao mesmo tempo em que me sentava na cadeira, de frente para ela. — Então, o que faz aqui a essa hora da manhã? — Olhei para o meu relógio de pulso. — Sete e meia, ainda está bem cedo, não?

— Sim, mas eu sempre acordei cedo — Ela deu de ombros. — Enfim, eu sempre venho a essa cafeteria de manhã, é a minha favorita.

— Sério? — Lista de coisas que eu e Rose Weasley temos em comum: a mesma cafeteria favorita. E essa provavelmente seria a única coisa. — Mora aqui perto?

— Ah, sim — Acenou positivamente com a cabeça. — Moro há duas quadras daqui.

— Nossa, isso é bem perto — “Bem mais perto do que eu gostaria”, completei mentalmente.

Rose bebericou um gole da sua bebida, que parecia ser um chocolate quente, mas logo voltou seus olhos azuis para mim novamente.

— E você, o que faz acordado tão cedo? Achei que fosse do tipo que se atrasa para qualquer compromisso.

Ergui as sobrancelhas, fingindo ter sido afetado por aquela tentativa de comentário maldoso, mas logo caí na risada.

Touché — Fingi uma careta. — Eu acordo bem cedo, chegar atrasado é apenas um charme particular.

— Ou um péssimo hábito — ela resmungou baixinho, mas eu fingi não compreender. Definitivamente, me estressar às sete e meia da manhã não estava na minha lista de desejos. — Então, como conheceu Victoire e Teddy? — indagou, com os olhos repletos de curiosidade.

— Ah, essa história — falei, já em meio a uma risada. — Na verdade, eu já conhecia o Ted. Eu o conheci na faculdade, para ser sincero. Somos grandes amigos. Uma vez, Victoire começou a ser perseguida por alguns paparazzis, eles já namoravam na época, e o Ted me pediu um favor. Eu não tinha como negar, então eu o ajudei. Eu passei um dia inteirinho enxotando paparazzis e fingindo ser o guarda-costas dela. Foi absurdamente terrível.

— Meus pêsames — Por algum motivo, ela realmente parecia lamentar. — Quer dizer, Victoire é uma ótima pessoa, mas o tempo que você passou ouvindo os ataques de histeria dela é irrecuperável, então eu só posso lamentar.

— Até que foi divertido — Dessa vez, fui eu quem deu de ombros. — Quer dizer, eu a conheci melhor, nos tornamos amigos e, oficialmente, eu sou o único jornalista em que ela confia.

— Erro dela — resmungou e revirou os olhos.

— Só porque eu não acredito em absolutamente nada sobre casamentos quer dizer que ela está errada? — falei, apenas para deixa-la irritada.

— Sim — Concordou, firme. — E, por favor, nunca mais repita essa informação perto de mim, a menos que queira que eu jogue essa xícara de café na sua cara. — Apesar das palavras de cunho agressivo, elas soaram extremamente doces. Rose era ótima em manter-se fina e educada, mesmo quando estava vermelha de raiva.

Eu deixei uma risada escapar ao analisar toda aquela situação. Estava me entretendo mais do que eu imaginava.

— Ah, Rose, você é tão inocente por ainda acreditar nessa história de “felizes para sempre”, chega a ser... — Levei uma das mãos até o meu queixo, parecendo pensativo. — Fofo, como uma criancinha.

— Eu te chamo, ofereço um lugar para se sentar e, mesmo assim, você não consegue nem mesmo ser educado? — Ela suspirou, parecendo decepcionada. — Não acredito que vou ter que aguentar tamanho cinismo por meses.

— Vai passar rapidinho — Eu sorri, completamente falso. — Isso se o casamento não terminar antes de começar.

Eu percebi que não foi um bom sinal quando ela fechou os olhos, assim como os punhos, e respirou fundo, como se buscasse autocontrole. Talvez eu tivesse ultrapassado um pouco o limite.

— Você é simplesmente insuportável — disse e, em seguida, um sorriso tomou conta dos seus lábios, como se ela fosse a pessoa mais gentil do mundo. — Sabe por que você é assim, Scorpius Malfoy? Porque você nunca experimentou amor verdadeiro e, por causa disso, sua vida é completamente vazia. Você vai a uma festa, conhece uma garota, dorme com ela e, no dia seguinte, nem sequer sabe o seu nome. É por isso que você desconhece qualquer espécie de afeição, amor ou carinho. E, além disso, também é exatamente por isso que você é um filho da mãe completamente frio, egoísta e sem coração.

Peguei-me sem palavras por alguns segundos, apenas tentando processar aquela metralhadora de insultos que atingia todo o meu ego em cheio. Afinal, quem era Rose Granger-Weasley? Uma completa estranha, que eu só havia visto uma vez na vida. Por que as palavras dela me atingiam em cheio se eu mal a conhecia? Eu não sabia responder. No entanto, algo dentro de mim me deixava furioso por aquele julgamento tão supérfluo, baseado em uma única primeira impressão. 

— É isso mesmo o que você acha? Baseado em uma única vez que me viu? — indaguei, nada satisfeito e soando levemente provocativo. — Então vamos a minha primeira impressão: você é uma garota que segue uma vida toda planejada por você mesma, que tenta se manter positiva, esforçando-se para acreditar que está realizando todos os seus sonhos. — Sorri, dissimulado. — Mas a verdade é que o seu sonho é se casar, só que você nunca experimentou nada do amor, nem sequer deu o seu primeiro beijo ainda e tenta acreditar no casamento como um conto de fadas de uma menina adulta que foi obrigada a parar de acreditar na história das princesas, porque cresceu.

Os lábios dela se moveram, mas nem uma única palavra saiu. O olhar dela expressava um misto de raiva e tristeza, a julgar pelas lágrimas que se acumulavam no canto dos olhos. Merda, eu havia agido como um babaca. Aquela não era a primeira vez, mas eu certamente havia cruzado a linha imaginária que havíamos criado entre nós e, mesmo que ela tivesse feito isso primeiro, eu havia provocado e eu havia extrapolado. Por mais que eu fosse um grande babaca e possivelmente um sem coração, eu ainda conseguia perceber os meus próprios erros. No entanto, antes que eu pudesse sequer pensar em algo para dizer, ela pegou a sua bolsa, que estava pendurada nas costas da cadeira e saiu, extremamente furiosa, batendo os pés forte contra o chão.

            Eu não corri até ela, na verdade, nem sequer me movi e a minha total falta de reação foi completamente ridícula, a ponto de todos do estabelecimento voltarem os olhares curiosos para mim, como se tivessem acabado de assistir a um grande espetáculo. Então, sem qualquer finalidade de disfarçar o que quer que tivesse acabado de acontecer, eu bebi o primeiro gole de café que, graças à toda aquela situação, já estava totalmente frio e horrível.

...

Existiam vários sentimentos com os quais eu sabia lidar facilmente: raiva, rancor, ódio, mas, certamente, culpa não entrava nessa lista. E, definitivamente, eu estava me sentindo culpado por tudo que havia acontecido mais cedo. Culpado a ponto de vencer parcialmente o meu orgulho, mandar uma mensagem para o Ted e pedir o telefone de Rose Granger-Weasley com a genuína intenção de enviar um pedido de desculpas. O único problema era que, apesar do meu subconsciente me incentivar a realizar tal ato, o meu orgulho ainda falava mais alto. Talvez fosse por isso que eu estava há cerca de quinze minutos apenas encarando o contato dela.

— Certo, Scorpius, você consegue — falei, tentando encorajar a mim mesmo. — Você foi babaca num nível acima de sua escala habitual.

Sentei reto e ajeitei a minha postura, encostando as minhas costas inteiramente na cadeira, tentando parecer determinado.

Eu: “Isso não é um pedido de desculpas, mas, hipoteticamente, se fosse, você aceitaria?”

Maníaca por casamentos: “Malfoy?”

Eu: “Que foi? Não reconheceu o bonitão da foto?”

Maníaca por casamentos: “Ha.”

Eu: “Você não tem senso de humor?”

Maníaca por casamentos: “Mais do que você imagina, menos do que se espera.”

Eu: “Nossa, que enigmática.”

Maníaca por casamentos: “Desculpa.”

Eu: “Por quê?”

Maníaca por casamentos: “Por hoje mais cedo. O que eu falei não foi legal e, se vamos trabalhar juntos, é melhor sermos, no mínimo, cordiais um com o outro.”

Eu: “Certo...”

Eu: “Será que você não sabe nem mesmo digitar sem parecer uma velha?”

Maníaca por casamentos: “Vai dormir, Malfoy. São duas da manhã.”

Eu: “Deixe-me adivinhar, você tem planos pra madrugada? Assistir comédias românticas até pegar no sono.”

Maníaca por casamentos: “Eu vou dormir, Malfoy.”

Eu: “Até amanhã, Rosie.”

Maníaca por casamentos: “Rose.”

Maníaca por casamentos: “Espera, amanhã?”

Eu: “É, amanhã. Ou vai me dizer que esqueceu das fotos do casal?”

Maníaca por casamentos: “Eu só não contava com a sua presença.”

Eu: “Eu sou um jornalista, é a minha obrigação estar lá. Minha e a de mais vários colegas de profissão.”

Maníaca por casamentos: “Enfim... Como conseguiu o meu número?”

Eu: “Não existe nada que eu queira que eu não consiga.”

Maníaca por casamentos: “Ah, claro.”

Maníaca por casamentos: “Agora eu realmente vou dormir.”

Eu: “Espera, sem um boa noite?”

Maníaca por casamentos: “É.”

Maníaca por casamentos: “Parece que você nem sempre consegue o que quer.”

Ao ler a última mensagem, uma risada escapou entre os meus lábios. Havia algo de diferente em Rose Weasley. Além de sua personalidade forte, ela tinha a língua afiada e parecia não ter medo de nada. Eu não sabia exatamente o que, mas existia algo nela que a tornava única. Apesar de conhecê-la há pouco tempo, havia uma coisa nítida para mim: Rose era uma menina complexa. Como um quebra-cabeça, ela era cheia de peças, pequenos pedaços diferentes que, juntos, formavam algo singular e extraordinário. Um verdadeiro desafio. Particularmente, quebra-cabeça sempre foi o meu jogo preferido. E eu sempre gostei deu um bom desafio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que achou? Que tal me dizer nos comentários? Espero que tenha gostado e até a próxima! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Arte do Casamento" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.