Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 28
Vai se ferrar!




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Capítulo 27

por N.C Earnshaw

 

PAUL VESTIU O SHORT rapidamente e observou sua casa de longe, sentindo que algo estava errado. Passou uma das mãos nos cabelos tentando decidir se deveria ir ou não até lá, visto que após a última discussão com o pai, tinha evitado pisar nas proximidades. Naquela noite, havia chegado ao seu limite. E, se ainda tinha alguma esperança de que um dia o pai e ele pudessem coexistir em paz como uma família normal, havia se extinguido.

Ele nunca conseguiria entender os motivos daquele que era quem mais deveria amá-lo, tê-lo tratado feito lixo durante toda sua vida. Quando se deixou apanhar pelo que se prometeu ser a última vez, com o coração cheio de dor, resolveu dar um fim àquele ciclo e seguir com sua vida. Paul confessava que seria difícil assistir de longe seu pai se degradando, confessava que mesmo com toda a violência o amava, mas ele não aguentava carregar aquele fardo por muito mais tempo. 

Sua confirmação de que algo estava errado veio ao ver o mercedes de Wendy estacionado na porta. O som de um coração humano batendo mostrava que seu pai estava em casa, e um terror incontrolável congelou seus ossos por alguns segundos. Sua garota estava na presença de alguém que não tinha escrúpulos. Se Daniel batia na sua própria esposa e em seu filho, quem dirá em uma garota que não significava nada para ele? 

Assim que esses pensamentos se fixaram em sua mente, ele correu o mais rápido possível até a casa; esquecendo completamente que Wendy era uma vampira poderosa e o Lahote mais velho não teria qualquer chance se a atacasse. 

Logo que ele irrompeu pela porta de um modo digno de um filme de ação, achou que encontraria, no mínimo, seu pai apertando o pescoço da garota. No entanto, o que viu o deixou desconcertado. A sala de estar estava completamente limpa e o chão de madeira brilhava de uma maneira que Paul nem imaginava que podia brilhar. O lugar não cheirava mais a bunda, e ele não enxergava mais a mancha gordurosa do pedaço de pizza que tinha esquecido por algumas semanas quando tinha dez anos. A única janela estava aberta e o ambiente, pela primeira vez em muito tempo, estava claro e arejado. Mas, o que mais o deixou chocado, foi a figura sentada no centro do sofá. 

Quando era mais novo, seu maior sonho era um dia chegar da escola e encontrar seu pai daquela maneira, esperando sua chegada. Com a barba feita, os cabelos limpos e as roupas passadas, tentando mostrá-lo que estava mudando e a vida dos dois iria melhorar a partir dali, que ele ia se esforçar para ser um pai melhor. Um pai como Harry Clearwater ou como Billy Black. Um pai que o amasse. 

Paul não conseguiu desviar os olhos de Daniel, nem mesmo quando Wendy se aproximou e agarrou sua mão, encostando o corpo em seu braço e apoiando o queixo em seu ombro. Eles assistiram por alguns minutos o homem folheando alguns panfletos, a presença da Cullen o consolando enquanto ele se deixava levar por seus sonhos infantis. 

— Você está bem? — Foi a primeira coisa que disse assim que saiu do estupor, deixando de lado as bobagens de quando era criança e aceitando a realidade. 

A garota ergueu a cabeça para fitar seus olhos com uma expressão engraçada no rosto. 

— Está perguntando se eu estou bem? — Ela bufou baixinho, completamente exasperada. — Por qual motivo não estaria?

— Fiquei com medo que ele te machucasse — admitiu o lobo. Entretanto, logo que as palavras saíram da sua boca, sentiu-se um idiota. 

— Sei me defender muito bem. 

A voz dela ecoou os seus pensamentos. Ele sorriu fraquinho ao ver seu semblante determinado, e acariciou sua cabeça do jeito que sabia que ela gostava. Wendy soltou um gemido suave. Se Paul fosse humano, não teria ouvido, mas como tinha uma audição apurada pôde ser agraciado com aquele som dos deuses. 

— Paul, eu…

A Cullen estava completamente nervosa com a reação do lobo, ela tinha ultrapassado todos os limites e se enfiado em um assunto que não era da conta dela. Apesar de suas intenções serem boas, compreendia que muita gente não concordaria com suas atitudes. Estava controlando a vida de alguém como se a pessoa fosse um fantoche e, por mais que considerasse Daniel Lahote uma escória, entendia que era errado. No entanto, também sabia que se não tivesse tomado uma atitude logo, o desfecho da história entre Paul e o seu pai seria muito mais trágica. 

Wendy admitia que estava errando de acordo com a ética do pai, Carlisle. Mas era o erro mais certo que cometeu em toda sua vida. 

Ela havia dito para si mesma que ia arcar com as consequências de seus atos. Entretanto, ali estava ela. Completamente assustada com o que Paul faria quando entendesse o que estava acontecendo e soubesse o que ela tinha feito.  

— Eu sei, linda — sussurrou o quileute apertando a cintura dela e olhando para o outro Lahote de esguelha. — Acho que já entendi o que está rolando. 

Ele depositou um beijo em sua testa e a abraçou. 

— Não, não acho que esteja entendendo, Paul — vociferou a vampira se afastando do aperto. — Se entendesse de verdade, não estaria me abraçando. 

O lobo a encarou com confusão estampada em seu rosto. 

— Tudo bem, agora não estou mesmo entendendo nada — reclamou, exasperado. — Pode me explicar? 

Wendy cerrou os dentes e fechou as mãos em punho, como se estivesse se preparando para uma batalha árdua. Ele arqueou uma das sobrancelhas, perguntando-se o que diabos estava acontecendo para o seu imprinting estar surtando daquela maneira. Estava até parecendo ele mesmo. Céus. 

— Controlei seu pai — desabafou ela, infeliz, apontando para o sofá em que o Sr. Lahote continuava a estudar os panfletos com interesse, ignorando completamente as duas presenças que haviam iniciado uma discussão. 

— Isso eu percebi assim que entrei — debochou Paul, rindo. — Precisaria mesmo de algum controle mental pra o velho tomar banho e limpar a casa. 

— Controlei o seu pai para aceitar ir morar por um tempo em uma clínica de reabilitação — continuou a garota, cortando sua diversão. 

— Oh! — Ele não soube muito bem o que fazer com aquela informação, então continuou parado a encarando. 

— Sei que você deve estar me odiando agora — expôs Wendy com o coração apertado. Ela estava sentindo uma vontade imensa de chorar ao perceber que ele não reagiu à sua confissão, porém sendo uma vampira, o máximo que conseguiu, foi sentir o veneno queimando seus olhos. — Errei em não te perguntar antes, mas quando você me falou o que ele tinha feito, não consegui ficar sem fazer nada. 

— Wen-… — tentou interromper Paul. 

— Estou apaixonada por você, Paul Lahote — desabafou a Cullen. — E quero muito mesmo que você seja feliz e…

O Lahote não conseguiu se segurar após ouvir sua confissão. Com as mãos suadas e o coração acelerado, puxou para si a mulher que ele amava. Sim, amava. Não estava apenas apaixonado. Amava-a com cada fibra do seu corpo, com cada batida do seu coração. Amava as covinhas profundas, amava o jeito que ela sorria, amava o quanto ela se importava com seu bem-estar, amava seu toque… Ele poderia ficar dias listando as coisas que amava naquela vampira e, aquela realização, o fez se sentir infinito. Pela primeira vez em muito tempo, homem e lobo estavam sintonizados pelo amor que sentiam pela mesma garota. 

Paul acariciou seu rosto e olhou bem no fundo dos seus olhos, admirando por alguns instantes a cor âmbar. 

— Eu também estou apaixonado por você. — Ele confessou uma parte dos seus sentimentos. Admitia para si mesmo que dizer pela primeira vez que amava Wendy na frente do seu pai hipnotizado não era o momento mais romântico. 

— Então não está com raiva? — indagou a Cullen, esperançosa. 

— Raiva por você tirar um peso morto das minhas costas? — Ele sorriu e beijou o canto dos lábios dela. — Eu deveria te agradecer, isso sim. 

Paul aproximou os lábios dos dela, mas assim que abriu a boca para iniciar o beijo, ela desviou a cabeça. 

— Não vou te beijar na frente dele — sussurrou a morena, com os olhos arregalados. 

— Ele nem está olhando — rebateu o quileute, chupando a pele fina do seu pescoço sem nem se virar para verificar. Ele enfiou uma das mãos por baixo da blusa dela, acariciando sua pele, até chegar ao tecido do seu sutiã.

— Paul, para! Não vou ficar me agarrando com você na frente do seu pai. É esquisito. 

O lobo suspirou e deu uma mordidinha no queixo dela antes de afastar. 

— Obrigada, Wendy Cullen, por livrar a minha vida de um pé-no-saco e ser uma completa estraga prazeres. 

A vampira deu um soquinho no seu ombro e ele gemeu de dor e se encolheu teatralmente. Rindo, ela se virou de costas para ele e deu de cara com olhos castanhos tão parecidos com os do lobo que ela tinha acabado de beijar. A semelhança era desconcertante, tinha que admitir. 

— E quando pretende mandar o velho para esse centro? — Paul passou as mãos ao redor de sua cintura e apoiou o queixo em seu ombro. 

— Hoje, se não se importar — informou Wendy apontando para um canto da sala. Apoiadas na parede, havia duas malas enormes e uma mochila que ele não tinha reparado antes.

— Pretendia me contar antes ou depois? — indagou o quileute encarando Daniel, que desviou os olhos do casal, desconcertado. 

— Depois. — Ela segurou a mão dele e deu leve aperto. Sabia que naquela situação, a melhor opção era que fosse sincera. — Fiquei com medo que não aceitasse e que me odiasse por causa disso, então achei melhor ganhar seu ódio com algo que fiz e te ver bem. 

— Eu nunca conseguiria te odiar. — Paul virou seu corpo para que pudessem conversar cara a cara. 

— Já odiou uma vez — murmurou com a voz embargada. 

— Eu nunca te odiei, linda. Odiei o que você é por muito tempo, mas nunca odiei você. Talvez, por algum tempo, eu tenha sentido muita raiva de ter tido um imprinting por uma vampira, fui ensinado a odiar os frios e está no meu sangue defender os humanos da sua espécie, e odiei de verdade a situação que os meus ancestrais me colocaram. E eu… Droga, sou péssimo em me expressar, mas espero que sempre lembre que sou completamente apaixonado por você e que te acho a maior gostosa!

— Está tudo bem, Paul. — Ela acariciou o rosto dele e riu. — Entendo e fico feliz que se sinta atraído por mim. 

Os olhos de Paul brilharam de uma maneira perigosa, mas ele não a agarrou como Wendy gostaria que ele tivesse feito. 

— Depois — prometeu o lobo. E a Cullen sentiu algo dentro de si, apertar-se de ansiedade. Gostaria muito que já fosse depois. — Agora, me responde uma coisa. 

— Claro. 

— Hipnotizou ele pra ficar mudo? 

— Talvez. — Ela lançou um sorriso enviesado e recebeu uma gargalhada alta em resposta. 

— Então vamos deixar ele ficar assim por mais algum tempo. 

Paul ignorou a presença do pai o máximo que pôde. Colocou as malas e a mochila no porta-malas, sentou-se no bando do passageiro e fingiu dormir a viagem toda até Seattle. Wendy já tinha organizado tudo sobre a viagem, a estadia de Daniel na clínica e a futura casa do Sr. Lahote, assim como um emprego em uma madeireira que fazia móveis e outras estruturas. Tudo estava resolvido nos mínimos detalhes e ela não queria que nada desse errado. 

Aquele ponto final na história turbulenta entre Paul e o pai, fez com que o lobo escondesse seus verdadeiros sentimentos diante da situação. Ele reagiu bem a tudo. Bem até demais. E quando ele se recusou a dirigir o carro, a garota percebeu que aquilo estava sendo mais difícil para ele do que ele queria demonstrar. 

A vampira deixou que o lobo fingisse dormir, mesmo que ele tivesse consciência que ela sabia que era apenas fingimento. O silêncio no carro era tenso e Wendy apostava que se não tivesse feito Daniel Lahote se calar, tudo teria sido mil vezes mais complicado. Aqueles dois tinham muito mágoa um pelo outro. Daniel culpava o filho por coisas que aconteceram em sua vida, apesar dele não ter culpa de nada e ter sido somente uma vítima. Paul tinha raiva de Daniel por ser um pai de merda e ter abusado dele desde seu nascimento.

— Vão ter pessoas aguardando você lá — informou a vampira após despachar as malas, aproximando-se a passos largos dos dois homens. — Assim que sair da sala de desembarque, vai encontrar uma mulher chamada Tessa e seu marido, Joshua. Eles trabalham na clínica de reabilitação há anos e, quando liguei, fizeram questão de ir recebê-lo. Quando entrar na clínica, vão guardar todos os seus documentos e irão entregar eles de volta assim que terminar o tratamento. 

Daniel assentiu. 

Então está liberado. — Ela desfez a parte da hipnose que o mantinha em silêncio e, assim como combinado, também o fazia esquecer de tudo relacionado aos seus poderes. O Sr. Lahote levou alguns segundos para se recuperar e olhou de Wendy para Paul várias vezes. — Vou deixar vocês conversarem sozinhos. 

Antes de ela se afastar, apertou o braço de Paul e avisou que o esperaria no carro. Eles a observaram se distanciar em silêncio. 

— O que quer falar comigo, garoto? — inquiriu o Sr. Lahote assim que voltou a si. — Vai falar que me odeia e que fui um pai horrível? 

Paul soltou um riso sarcástico. 

— Não, tenho certeza que você já sabe disso. 

— Então o que quer? — Daniel tinha um semblante feroz e segurava uma das alças da mochila com força. — Se não quer me acusar e descontar sua raiva… Não vai choramingar, vai? 

— Você bem que gostaria disso, não é? — Paul tinha cerrado os punhos, mas algo passou por sua mente e ele relaxou. — Não, não vou fazer nada disso que você está pensando, mas antes que vá, quero te dizer uma coisa. 

Ele se aproximou um passo do homem e olhou no fundo dos seus olhos. 

— Sei que seu pai acabou com você, assim como você acabou comigo. — Daniel tentou se mover, contudo, Paul segurou seu braço. — Nada justifica o que fez comigo e com a mamãe, você foi um monstro... Ainda é e acredito que sempre vai ser. 

O lobo deu um sorriso de lado. 

— Ainda não te desculpo por tudo o que você fez comigo. Na verdade, eu estava planejando sumir da sua vida e deixar você morrer de coma alcoólico ou engasgado com próprio vômito. Teve sorte da minha garota ter um coração muito bom, porque por mim, você podia apodrecer no inferno. — Ele deu as costas para um Daniel estupefato. O quileute tinha certeza que se Wendy não o tivesse controlado, estariam naquele instante trocando socos um com o outro. A ideia de brigar pela primeira vez não o atraiu, pois sentia que algo estava faltando. Virou-se, determinado a encerrar seu contato com o pai com aquelas últimas e belas palavras, e gritou sem se preocupar se estava chamando atenção para si. — Vai. Se. Ferrar!

Paul o deixou para trás, assim como deixou junto toda mágoa e todas as lembranças ruins. Estava se libertando da cruz que carregou por toda sua vida e, apesar de saber que nem tudo seria substituído por coisas boas, sabia que sua felicidade estava começando naquele momento. 

Ele abriu a porta do carro e viu Wendy sentada o fitando, do mesmo jeito que ele esperava encontrá-la. O rosto de pele macia tinha uma expressão preocupada, suas mãos estavam cruzadas na frente do corpo, mas se estenderam para tocá-lo logo que ele se sentou. 

Quando seus olhos se encontraram, Paul sentiu o coração explodir com o turbilhão de sentimentos que o atingiu, era como se estivesse tendo o imprinting pela segunda vez...

E, o que ele achava ser impossível, muito mais forte. Amava Wendy Cullen com todas as suas forças e estava ansioso para viver suas vidas, juntos. 

Agarrou-se na cintura dela e ela o abraçou com força. Ele, então, deixou-se desabar pela primeira vez nos braços da mulher que amava. 

— Eu sei, meu amor. Eu sei — sussurrou Wendy, acariciando seus cabelos.

 


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