Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 27
Virar homem




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AVISO: Contém gatilho.

 

Capítulo 26

por N.C Earnshaw

 

PAUL ENTROU EM CASA cantarolando baixinho. O encontro havia sido perfeito e ele não podia estar mais feliz, pois, conseguia ainda sentir o gosto da boca de Wendy. Suas mãos tremiam ao lembrar a maciez da sua pele, e seu corpo clamava por mais contato entre os dois. 

Estava sendo extremamente difícil conter os impulsos, segurar o lobo que rosnava dentro de si, e apenas desejava rasgar as roupas de Wendy e fazê-la sua. 

Paul estava preso em um namoro de adolescente, com meros beijos e amassos. E, para a sua própria surpresa, nem passava por sua cabeça tentar ultrapassar o limite com seu imprinting. Queria que a primeira vez dos dois fosse incrível e todos os blá blá blá’s românticos que as garotas sonhavam.

Antes, para ele, sexo era só uma maneira de aliviar o estresse e esquecer os problemas. Odiava a ideia de se ligar a outra pessoa, por isso evitava sair com alguém mais de uma vez. Com Wendy era diferente, por mais que isso fosse soar clichê. Ele queria impressioná-la, queria ficar cada segundo de cada dia ao lado dela. Era algo forte e intenso, algo que o estava deixando bastante assustado. E excitado. 

Paul foi em direção à cozinha procurar alguma coisa comestível. Ele duvidava muito que ia encontrar algo além de cerveja e restos de comida, entretanto, iria tentar, dado que estava morrendo de fome e não havia comido nada em respeito a Wendy. Não ia levar sua garota para o assistir se empanturrar de comida no primeiro encontro. 

Abriu os armários e a geladeira, esperançoso, mas se decepcionou. Não tinha nada. Era muito tarde para ir até à casa da Emily comer, então teria que dormir com fome. 

Bufou alto, irritado com sua própria estupidez. Deveria ter comprado alguns hambúrgueres no caminho de volta. 

Fechou as portas do armário com força e fez uma nota mental de ir ao mercado comprar algumas besteiras no dia seguinte. Apesar de evitar passar muito tempo em casa, gostava de deixar comida guardada para situações como aquela. 

— Por que não procura no lixo? — As costas de Paul tencionaram ao ouvir a voz do seu pai, e seu humor decaiu no segundo que sentiu a presença dele atrás de si. O cheiro de bebida feriu suas narinas e o deixou com uma sensação forte de enjoo. — Está surdo, moleque?

O garoto ignorou seu chamado, xingando mentalmente por seu pai manchar uma noite que tinha sido tão perfeita. Como tudo em sua vida desde criança, Daniel Lahote tinha o prazer de estragar cada momento bom, cada coisa boa que aparecia para ele. E o mais triste, era que continuava a se decepcionar cada vez que ele o fazia. A ferida que tinha dentro do seu peito, causada pelo desdém do seu pai, nunca sarava. 

Paul levantou lentamente, pensando no quão aquela cena era comum entre eles e o quanto ele estava cansado de toda aquela merda. Até a droga das falas eram iguais! Seu pai o encontrava em algum lugar da casa querendo brigar por um motivo qualquer, ele ignorava, o pai perguntava se ele estava surdo e o insultava de todos os nomes possíveis. Paul sendo Paul e tendo o pior temperamento de todo estado de Washington, revidava. Era cansativo, estressante e estava acabando com ele. 

— Eu me pergunto porque continuo aqui aguentando suas merdas. — O lobo se virou para ver a expressão do seu pai com determinação pulsando dentro de si. 

Daniel congelou por alguns segundos, estranhando o tom calmo que o filho havia usado, quando esperava gritos e um semblante furioso. O típico Paul enraivecido. No entanto, à sua frente, estava um homem frio e com um brilho estranho nos olhos. Desinteresse. Aquilo o tirou do eixo por algum tempo, porém ele conseguiu se recuperar. 

 — Sei porque você está aqui — afirmou Daniel ferozmente apertando a lata de cerveja com a mão e jogando na bancada ao lado de Paul. O objeto passou raspando perto da orelha dele, mas o lobo não se moveu, inalterado. Seu pai não o dava medo. Era mais forte, mais rápido e aqueles shows de jogar coisas nele não o afetavam mais. — É um vagabundo inútil que não tem pra onde ir, vive às minhas custas, na minha casa e comendo da minha comida!

O quileute arqueou uma das sobrancelhas, decidido a mudar sua postura durante suas discussões. Por muito tempo tinha dado o que seu pai queria, tinha sido um saco de pancada durante toda a infância e parte da adolescência. Depois que ficou forte o bastante para enfrentá-lo fisicamente, achou que tudo iria mudar. Entretanto, ali estava ele, escutando mais uma vez um discurso sobre como ele era inútil e um desperdício de espaço. 

— Mais alguma coisa? — indagou Paul, desdenhoso, ao perceber a respiração ofegante do seu pai. “Então é assim que as pessoas se sentem me observando perder o controle”, pensou ele, enquanto observava uma veia saltando na testa do homem. “Interessante”. 

— Acha que aquela vadia que te trouxe aqui vai ficar por muito tempo ao seu lado? — Daniel se aproximou mais do lobo tentando intimidá-lo. Contudo, Paul não baixou a cabeça, segurou seu olhar firmemente. — Assim que ela cansar do merdinha que você é, e cair em si que você é só um pobre garoto com nada pra oferecer além do que tem entre as pernas, vai ficar sozinho e choramingando pelos cantos. E quer saber uma coisa? Vou adorar ver isso. 

— Acho que está confundindo a Wendy com a mamãe. — As palavras saíram de sua boca sem pensar, mas ele não se arrependeu. Tudo que o pai tinha dito até ali durante todos os anos de sua vida, não eram sobre Paul, assim como a vadia que ele descreveu não era Wendy. Era sobre seu pai e sua mãe. Sempre tinha sido sobre eles. O Lahote mais novo só tinha demorado a perceber. 

— Não abra essa boca imunda pra falar dessa mulher na minha casa! — gritou Daniel, transtornado. — Aquela puta não é a sua mãe, nunca foi. Ou esqueceu que ela te deixou aqui comigo pra apodrecer? 

— Como eu poderia esquecer, hein? Você faz questão de me lembrar todos os dias! — Paul segurou as mãos uma na outra, tentando controlar a tremedeira e o lobo dentro de si, pronto para atacar. — Ela foi uma mãe de merda por me abandonar, mas não a culpo por ela ter deixado essa casa! Qualquer lugar é melhor que ficar aqui e ter que conviver com um bastardo feito você. 

Ele levantou o punho para socar o rosto do filho e cambaleou mais para perto. Ainda estava muito bêbado e sua mira, péssima. 

Paul fitou aquela figura indo até ele tropeçando nas próprias pernas e sentiu pena.

Pena. Que coisa ínfima para se sentir diante da pessoa que devia ser seu mundo!

Ele deixou que o pai acertasse o soco. E Daniel, assim que sentiu o seu punho em contato com o maxilar do garoto, ficou em choque. Fazia anos que Paul não admitia ser golpeado. 

O olhar dele ficou repassando em sua mente durante toda a noite. 

   ☀ 

Daniel Lahote era um homem amargurado. Passava a maior parte da semana bêbado, exceto nos dias que arranjava alguns bicos de carpintaria e era obrigado a trabalhar. Morava em uma casa pequena na reserva quileute, herdada dos seus pais logo que faleceram. E nunca teve grandes expectativas de subir na vida. 

Quando mais novo, ele pensava que o seu artesanato o levaria a algum lugar. Que suas peças seriam expostas em museus de arte e ele seria alguém importante e admirado por muitos. Suas esperanças se partiram assim que, aos 15 anos, seu pai encontrou seus “brinquedos”. Ele pisou-os na sua frente, destruiu tudo o que ele passara dias trabalhando. Aquilo tudo era lixo e ele tinha que crescer e virar homem. 

Virar homem. Quantas surras tomou por esse motivo. Quantas vezes apanhou até quase desmaiar porque havia feito algo que não era considerado viril. 

Como chorar. 

A última vez que lembrava ter chorado foi aos 5. Tinha caído e se machucado. Ele lembrava da sua mãe o levando até o quarto, longe das vistas de seu pai, e deixando ele abafar os soluços desesperados na barra da saia dela. 

O pai os viu ali. E, naquele dia, não foi Daniel que sofreu as consequências dos seus atos. Foi a sua mãe. Sua linda e adorada mãe. Ele ainda conseguia ouvir seus gritos. Depois daquele episódio, ele prometeu que nunca mais iria chorar. 

Aos 20, os pais já haviam falecido. Primeiro, sua mãe se foi, desgastada demais para aguentar a vida que levava. E meses depois, seu pai. Daniel não podia dizer que sentiu saudades. 

Dois anos depois, encontrou Evelyn, uma garota simpática que vivia em outra tribo. A paixão entre os dois floresceu rapidamente. Logo ela engravidou e foram morar juntos na antiga casa dos seus pais. A vida de casados não era tão fácil quanto imaginava, as responsabilidades eram imensas e Daniel passou a trabalhar cada vez mais. Com a distância entre os dois, o casamento esfriou e as brigas começaram. Uma mais alarmante que a outra.

Os dois não suportavam mais aquele relacionamento, mas não podiam se separar. Eles não queriam se separar. Estavam tão enfeitiçados um pelo outro, que não percebiam o quão tóxico era aquilo tudo. 

Quando Evelyn estava com 6 meses de gestação, ela insistiu que iria voltar a sua tribo para ficar com sua família no final da gravidez, assim sua mãe a ajudaria com o bebê durante seu resguardo. Daniel enlouqueceu, sabia que ela não voltaria para casa se fosse embora. Para o seu horror, irado com a insistência da mulher, a esbofeteou pela primeira vez. No mesmo instante ele se arrependeu, implorou por perdão e, emocionada com a sinceridade de suas palavras, Evelyn perdoou. 

Paul nasceu e, nos primeiros meses de sua vida, as coisas entre o casal estavam maravilhosas. O bebê era o elo que faltava para que o relacionamento desse certo.

A paz não durou muito.

O pequeno Paul completou 1 ano e as brigas retornaram. Daniel bateu uma segunda vez em Evelyn. Ele se desculpou, arrependido, e ela perdoou. Então ocorreu uma terceira vez, quarta, quinta…

Um dia, anos depois, com Paul já um rapazinho, Daniel foi buscar o filho na escolinha. Assim que chegaram em casa, o garotinho correu para abraçar a mãe, mas não a encontrou. Em cima da mesa, tinha um bilhete. Um único bilhete foi o que Evelyn deixou.

À noite, após um pesadelo, o menino procurou chorando sua mãe pela casa e, quando não a achou, foi buscar consolo no seu pai. Daniel, enojado com a semelhança da criança com a mulher que o abandonou, deu um tapa no rostinho gorducho. “Aprende a virar homem, moleque”, rosnou. 

Virar homem. 

      ☀ 

Wendy cruzou as pernas, desconfortável. Apesar de ter tido um surto e limpado boa parte da sujeira da sala de estar, um odor de álcool e fluídos corporais estava impregnado no lugar, ao qual só sairia com uma limpeza mais metódica, assim como com todos os desinfetantes que ela pudesse encontrar no mercado. Quando chegou e se viu forçada a esperar, não conseguiu ficar sentada sentindo aquele cheiro pútrido, era limpar ou prender a respiração. No entanto, quando a pessoa que ela esperava chegasse, iria necessitar de ar para falar. E ela tinha uma batelada de coisas para dizer a ele.

Estar naquela casa sem Paul a fazia se sentir esquisita, ainda mais por estar ali sem ele saber. Além de estar agindo pelas costas do lobo, tinha quebrado o acordo que fez com Sam de somente pisar nas terras quileutes quando estivesse acompanhada de algum membro da matilha. Entretanto, arcaria com as consequências de seus atos sem remorso, pois, estava quebrando todas as regras para ajudar a pessoa por quem ela se descobriu estar completamente apaixonada. E, para ajudar alguém que ela tinha tamanho apreço, faria qualquer coisa.

A raiva que ela tinha cultivado por Daniel Lahote não estava escrita. Depois de todas as coisas que Paul a contou e de tudo que ela presenciou com os próprios olhos, sentia um desprezo imenso pelo homem. Apesar de acreditar em mudança, não acreditava que o seu lobo merecia passar nem mais um dia com a presença do pai em sua vida. Se Daniel um dia se arrependesse sinceramente e quisesse, de fato, consertar o relacionamento com o filho, não iria se objetar. Mas ele era um apenas um bebum violento, que fazia da vida de Paul um inferno e, agora que Wendy estava disposta a ficar para sempre em sua vida, não iria permitir que aquele abuso continuasse. 

Ela pensou por dois dias antes de tomar uma decisão. Antes de deixar de lado suas crenças e ir totalmente contra a sua personalidade. Pela primeira vez em muito tempo, iria usar suas habilidades por um motivo egoísta. Iria fazer o que evitou por anos e Carlisle, seu pai, sempre a aconselhou a evitar. Controlar a vida de outra pessoa a seu bel-prazer. 

Não que Daniel Lahote não merecesse. 

Ela prendeu o cabelo, ansiosa. O homem estava demorando mais do que ela esperava e não sabia como iria se explicar se Paul chegasse e a encontrasse ali. Ele tinha a avisado que estava passando as últimas noites em ronda e estava dormindo na casa de Sam durante o dia. Então torcia para que ele não precisasse voltar para casa. Não até ela conseguir o que queria.

Wendy ouviu um som de um motor se aproximando. Paul já havia dito a ela que seu pai fazia bicos de carpintaria, então ele provavelmente estava voltando do trabalho. E mais sóbrio que o normal.

Ela não moveu nenhum músculo do seu corpo, tentando assustá-lo quando ele percebesse sua presença. Claro que não iria machucá-lo fisicamente, mas queria muito fazê-lo se borrar nas calças de medo. Wendy sabia que os humanos eram nervosos e se apavoraram facilmente, já tinha dado vários sustos em Bella e a garota ficava a beira de infartar. Contudo, a vampira não pegava pesado com a namorada do seu irmão. E, a diferença entre ela e o pai de Paul, era que de Bella gostava e, por ele, sentia apenas um imenso escárnio. 

Um barulho de chaves a fez se preparar. Uma Wendy dócil e abnegada não ia funcionar com aquele senhor, então ela resolveu abraçar o seu lado mais selvagem e se inspirar. Prendeu a respiração, não querendo chamar atenção dele para si. As luzes estavam apagadas e o ambiente, por ser fechado, mesmo que estivesse durante o dia, estava um completo breu.

Daniel abriu a porta bruscamente e entrou na casa sem notá-la sentada em seu sofá o assistindo. Era até cruel perceber o quanto ele estava relaxado e alienado da presença de uma predadora o avaliando. Wendy sentiu o veneno acumular em sua boca, mas não por desejar seu sangue, apenas queria fincar as presas nele e vê-lo sofrer por algumas horas. 

Ele acendeu o interruptor e se virou para se encaminhar até o sofá, entretanto, ao encontrar a garota na sua casa, soltou um grunhido e se sobressaltou. O coração do humano estava demasiadamente acelerado e a face do homem ficou pálida, sem uma gota de sangue. 

— Que porra está fazendo na minha casa, garota? — rosnou Daniel assim que o choque passou e viu quem ela era. Ele olhou ao redor procurando alguma coisa, quase que desesperado. — E onde está aquele inútil do Paul? 

Wendy o lançou um sorriso ferino e desdobrou as pernas, ignorando o chilique que ele estava dando. 

— O Paul não está. — Ela virou a cabeça de lado e passou a analisá-lo com curiosidade. O Lahote limpou a garganta, desconcertado. Contudo, não estava com tanto medo quando deveria. 

— E o que diabos está fazendo aqui? — Ele se aproximou alguns passos dela, gesticulando com as mãos enquanto falava. — Se veio encontrar o idiota que se diz meu filho, pode dar meio volta e ir embora. 

— Não vim conversar com ele, vim até aqui conversar com o senhor — expôs Wendy com a voz calma e suave. Calma até demais. 

— Eu não tenho tempo pra perder com as vadias daquele moleque! — O Lahote se colocou ao seu lado e a puxou pelo braço, arrancando-a com força do sofá e a arrastando até a porta. Ela deixou o homem a erguer e levá-la até a entrada da casa, mas, antes que ele pudesse tocar no trinco e expulsá-la dali à pontapés, Wendy o jogou na parede com uma força controlada, visto que para se livrar dele, ele precisava estar inteiro. 

— O que… — Ela o interrompeu apertando seu pescoço e o olhando bem de perto. Daniel balançava os pés, desesperado para se livrar do agarre, e seus olhos brilhavam de medo. — Monstro! 

A Cullen sorriu de lado, a vontade de matá-lo era tamanha que, por alguns segundos, cogitou fazê-lo. Ela não tinha pena de abusadores como aquele homem. A única coisa que a controlava, era a lembrança de Paul. 

— Sim, monstro — sussurrou ela mostrando suas presas. O corpo dele tremia por inteiro e gemidos de pavor escapavam por sua garganta. — Mas não estou falando sobre mim, senhor Lahote, estou falando sobre o senhor. Um monstro que machuca o próprio filho, um monstro que batia na própria mulher e a fez ir embora, deixando um garotinho inocente para trás! O Paul não merece o que você fez e ainda faz com ele.  

Ela o soltou e o deixou cair no chão como um saco de batatas. O homem ficou esparramado por alguns segundos, as pernas dobradas em um ângulo estranho e o olhar vidrado. Seu cérebro humano era lento e não estava tão sóbrio quanto ela imaginava, então levou um tempo mais do que o normal para que ele tivesse uma reação esperada. 

Wendy aguardou o quileute se levantar e sentir a esperança de que escaparia dela. Queria que ele sofresse de alguma forma, queria matá-lo com as próprias mãos, queria transformá-lo para que ele sentisse a dor da transformação, para em seguida jogá-lo numa fogueira e o assistir queimar. Queria que ele sentisse o medo que Paul sentiu quando era pequeno. 

Não fuja — ordenou a Cullen aparecendo em sua frente e tocando na pele exposta do seu braço. 

Ele guinchou, aterrorizado. Não entendia porque tinha obedecido a uma ordem daquela garota, não entendia o que ela era ou o que estava acontecendo. Mas tudo aquilo, a velocidade, a força, a palidez e, principalmente suas presas, fizeram-no lembrar das lendas sobre os frios. 

Daniel sentiu seu corpo ficar letárgico pelo medo. Não era tão corajoso quanto gostava de demonstrar.  

— Eu te avisei que se tocasse no Paul novamente, teríamos uma conversinha. — Wendy aproximou seu rosto do dele e deu uma pausa dramática. — Você não precisava ser um ótimo pai, sabe? Você só precisava dar apoio, levar no parquinho uma vez por semana, alimentá-lo e fingir se importar com o que ele falava. Era o mínimo que poderia ter feito por ele. É o mínimo que uma pessoa decente faria.

O Lahote estava com a respiração descompassada e tentava de todas as formas fazer o seu corpo mover para que conseguisse fugir dali, entretanto, seus pés pareciam estar grudados ao piso e apenas restava a ele pedir aos céus que alguém chegasse e impedisse aquele monstro de machucá-lo.

— O senhor não imagina a vontade que eu estou de te matar — expôs ela com os dentes cerrados e a expressão sombria. — Seria tão fácil fazer isso, tão fácil quebrar o seu pescoço.

— Vo-você não vai fazer isso! — gritou Daniel temendo por sua vida. — Paul nunca te perdoaria. 

— E espero que tenha em mente que é por causa dele que estou te deixando viver. — A Cullen sorriu de lado e se afastou, caminhando em direção ao sofá e se jogando nele, despreocupada. Era tão fácil encenar uma vilã, pensou ela. Deveria fazer aquilo mais vezes. — Vamos lá, não se acanhe, sente-se ao meu lado. Nenhum de nós vai sair daqui enquanto não resolvermos nossos problemas. 

Wendy deu duas batidinhas ao seu lado, empolgada. O homem não soube o que fazer, a versão simpática estava sendo mais assustadora do que a anterior. 

 — Não me faça ir até aí buscá-lo — cantarolou. 

Daniel cambaleou até o sofá e se sentou o mais longe possível dela. 

— O que você quer comigo, demônio? — inquiriu ele, sem desviar os olhos da figura sorridente. 

— Finalmente! — suspirou Wendy, erguendo os braços. — Enfim chegamos ao ponto. Mas antes de te falar minhas propostas, Sr. Lahote, preciso checar uma coisinha. 

Ela se esticou rapidamente e tocou no braço dele, fazendo a pergunta de um milhão de dólares. O que ela ouviu, entristeceu-a. Daniel estava quebrado em níveis que nem o amor de um filho poderia concertar. Ele foi destruído pelo seu próprio pai e quis dar o troco. Wendy se orgulhou de quebrar aquele ciclo. Paul não precisaria sofrer mais.  

 — Você vai esquecer tudo que aconteceu esta noite. Vai lembrar que eu, a namorada preocupada do seu filho veio aqui, te ofereceu uma oportunidade de mudança e você aceitou. Vai passar um tempo na reabilitação para se livrar do álcool e vai superar seus demônios. Você estava cansado de La Push e de toda a vida que levava em Forks, então vendeu a casa para conseguir se sustentar após sair do centro de reabilitação. Seu filho Paul, uma pessoa boa que nunca mereceu o que você fez com ele, vai te mandar dinheiro por algum tempo, até que consiga caminhar sozinho. Você vai se culpar todos os dias e vai se arrepender de ter maltratado seu próprio sangue, mas vai viver a sua vida. Um dia, se Paul te procurar, vai abrir sua porta e falar a verdade a ele, somente a verdade. Talvez ele dê a você o perdão que você não merece. E nunca, repito, nunca mais, vai ferir algum inocente novamente.

Sobre o centro estava um envelope pardo que ele não havia percebido antes. Wendy lhe entregou uma caneta, tirou os papéis de dentro e os deu a ele. Com as mãos trêmulas, Daniel Lahote assinou o seu destino. E, por mais estranho que isso pudesse parecer, sentiu alívio.

 

 


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