Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 73
Caso Encerrado


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Murilo Narrando

Arthur havia desaparecido. O meu primo mais próximo e amigo favorito. Eu estava despedaçado e se eu estava assim imaginava o Kevin que era tão apegado a ele. Era inevitável me preocupar. Não conseguia não pensar nele o tempo todo e no quanto ele devia estar sofrendo. E então eu liguei pra ele. E vi com meus próprios olhos o tamanho da dor que ele sentia.

“Olá pequeno Murilo. Digo... Pequeno não no tamanho, mas na importância.”— Caleb disse atendendo minha ligação. Revirei os olhos.

— Você sabe que o seu filho está se deteriorando né? – perguntei me referindo a Kevin. Ele deu uma risadinha típica de sua maldade.

“E claro que você não pode impedir se preocupar. O que quer que eu faça pelo seu amado?”— eu não conseguia nem mesmo ver Caleb. Estava me controlando ao máximo. E fazia isso pensando em Kevin, por ele. Mas se aquele homem continuasse agindo assim o meu coração que já estava acelerado iria acelerar ainda mais e eu acabaria perdendo o controle. Isso não podia acontecer.

— O óbvio, trazer Arthur de volta. – ele riu me fazendo ficar pior.

“Acha que se eu tivesse esse poder já não teria feito?”— sua falsidade era algo que me descontrolava totalmente.

— Caleb vamos falar sério. Sei que está envolvido nesse desaparecimento, de alguma forma. Então é melhor agir rápido antes de perder Kevin também.

“Tá. Eu tiro o Kevin da masmorra. E você... Você me ajuda.”— comecei a ficar com a respiração pesada. Aquele cara era tão sujo. Tão absurdamente nojento. Eu não acreditava nas coisas que ele era capaz.

— O que quer de mim?

“Você não pode me dar nada Murilo. Não pode convencer Kevin a sair com mulheres.”— desliguei o celular na cara dele e comecei a tentar controlar minha respiração. Era inacreditável o quanto escroto ele era e as merdas que ele dizia.

Para o meu azar eu estava sozinho em casa. Azura havia saído com Patty para verem alguma peça de algum gosto peculiar delas e Adam... Como sempre, nunca se sabia. Eu colocava a mão no peito e tentava controlar o ritmo cardíaco e respiratório. Totalmente em vão. Não sei onde eu estava com a cabeça ao ligar para aquele psicopata sem alma e sem coração. Tempo suficiente se passou para eu ter a certeza que eu precisava ir para um hospital. Liguei para uma das meninas e passei o resto da noite mais infernal dois últimos tempos.

— Você teve uma crise feia. – Patty falou assim que acordei. – Os médicos te deram tantos sedativos que pensei que fosse acordar só daqui dois dias. – ela deu um sorriso meigo e carinhoso. – Audrey foi buscar roupa limpa pra você e Adam disse que tomaria um banho e viria. – eu não queria perguntar nada e nem dizer nada. – Descansa. Vou ficar aqui ao seu lado.

— Se você quiser ir pra casa, pode ir. – ela deu uma risadinha.

— Não, não. Eu já estive mais vezes em hospitais que você imagina. Estou habituada.

— Obrigado. – sorri e ela fez carinho em rosto.

— Desculpe interromper o casal. – Adam chegou com Audrey ao lado. – O que aconteceu Murilo? Você estava tão bem. – respirei fundo. Não queria ter que dizer que eu liguei para o meu ex sogro. Iria ouvir que fiz errado e eu já sabia disso.

— Não o pressione Adam. É tudo que ele menos precisa. – Patty o cortou. Depois ela começou um papo ameno e Audrey disse que eu deveria ligar para Gardan já que ele era responsável por mim. Preferi não preocupa-lo, uma vez que eu estava bem agora.

Cheguei em casa e liguei pra Alice, queria saber como ela estava. Nos últimos dias era do mesmo jeito de sempre, mas com um ar preocupado que ela não tinha antes. Talvez fosse com Kevin, talvez com Arthur. Não sabia ao certo. Hoje ela estava diferente. Ela havia me contado que Kevin estava sendo hostil com ela, que ele cobrava uma atitude que ela não podia ter e que isso de alguma forma estava surtindo algum efeito nela. Mas não o bastante para ela ter suas emoções e sentir o mesmo que todos estavam sentindo.

Alice Narrando

Discutir com Kevin estava virando rotina. Ele me hostilizava, me criticava e me culpava por eu não ter emoções. Queria que eu chorasse como todos pelo desaparecimento de Arthur, como se eu fosse mesmo capaz disso.

 - Estava bom quando você tinha parado de vim. – ele disse assim que entrei em seu quarto.

— Vamos voltar para a capital daqui uns dias e temos que resolver isso, você não pode me odiar assim.

— Eu não te odeio. Só odeio a forma como não se importa com o meu irmão. Ele desapareceu indo te salvar.

— Kevin ele vai aparecer. Calma.

— Por que pensa assim Alice? – nos olhamos.

— A melhor parte de não ter emoções é que posso pensar racionalmente. Você era assim Kevin, agora é o contrário, um monte de neuroses e incertezas. Você virou uma grande bolha emocional.

— Me fez sentir falta da velha Alice. – falou de um jeito sério me olhando nos olhos.

— Não aguento mais você me tratando assim. – sai de sua casa e fui pra casa da minha vó. Luna chorava compulsivamente. E meu avô a acalmava.

— Eles disseram que não tem como fazer mais nada. Já procuraram por todos os lugares e não tem pistas para abrir um caso. – Larissa me disse com os olhos vermelhos assim que cheguei. Parece que aquilo foi como uma facada, minha ficha realmente caiu. Arthur não voltaria. Fiquei alguns minutos atônita e sem reação. Não ouvia nada e nem sentia nada. Era como se eu realmente não estivesse ali. Nem sei quanto tempo se passou, mas o que sei é que sai dali e fui sem direção alguma pela rua parando em uma das praças de Torres.

— Até que enfim te achei. Não faz mais isso Alice. – ouvi a voz de Aline. – O que aconteceu para você sair daquele jeito?

— Não sei. – respondi bastante confusa. – Acho que... Isso tudo... Tá causando alguma coisa em mim. Eu não sei explicar.

— Você não está pronta para enfrentar a realidade de uma situação difícil. Mesmo sem sentir emoções. Isso com certeza está te machucando.

— Acha possível que ele nunca mais volte? – a olhei com o que parecia ser medo.

— Alice... – ela suspirou e encarou os próprios pés. – Os polícias deram o caso como encerrado. Não tem mais onde fazer buscas. Se Arthur está em algum lugar ele é longe o bastante para não encontrarem.

— Acho que vamos ter que nos contentar em não o ter mais por perto.

— Sim. Acho que sim. Isso é tão triste e inacreditável. – ficamos um tempo em silêncio. Olhei ao longe e vi todos vindo.

— O que eles estão fazendo? – perguntei continuando olhando.

— Não sei. – esperamos que chegassem até a gente.

— Parece que tem todo um processo burocrático para que... Para ele finalmente ser dado como morto. – o corajoso Ryan disse antes de se sentar. Larissa chorava e foi abraçada pela irmã.

— Cadê o Kevin? – perguntei a Rafael.

— Tá trancado no porão da casa dele. Não quer nem mesmo me ver.

— Rafa não tem perigo dele... – Alê não conseguiu acabar a pergunta.

— Você conhece o Kevin, não conhece? Nem devia pensar isso.

— Mas ele e Arthur... – o loiro ficou ainda mais bravo.

— Não importa nada que a polícia diga e nem o tempo que passe. Eu acredito na capacidade de Arthur de sobreviver a qualquer coisa. E sei que no fundo Kevin também acredita nisso. E é isso que o manterá vivo.

— Não pensa em sair da engenharia e ir pra política não? Você é ótimo com discursos e palavras. – Ryan debochou. – Ele não vai voltar Rafael. É melhor aceitar.

— Se eu aceitar sou capaz de matar o pai dele então é melhor eu me iludir mesmo.

— Yuri você precisa falar como está se sentindo. – Gih se direcionou ao garoto que estava em silêncio.

— O que quer eu diga? Estou despedaçado Giovana. Arthur sempre foi tudo pra mim, meu exemplo, o meu maior irmão e melhor amigo. Não tem o que dizer.

— Gente... Acho que devemos orar pela alma dele. – Rafael encarou Giovana com raiva. – Tá. Não falo mais nada.

— É tudo culpa sua. – Larissa de repente se revoltou e me atacou. – Se ele não te amasse tanto e não se preocupasse tanto com você não iria sair correndo para te salvar e correr perigo. – abaixei o rosto sentindo o peso das suas palavras. No fundo ela tinha razão.

— Vocês não veem o que estão fazendo com essa garota? O Kevin a maltrata o tempo todo por ela não se preocupar, você a culpa por Arthur não estar aqui. Não é porque ela não tem emoções que ela não sente nada. Ela sente. E estão sendo cruéis com ela. – Aline me defendeu. Fiquei quieta.

— Ela tá completamente oprimida. – Ryan comentou me olhando. – Vou conversar com Kevin e ele vai se desculpar com você. – falou sério. – E você cale a boca, não é porque transou com Arthur que tem direito de insultar a garota que ele sempre amou. – todos ficaram calados. A presença que Ryan tinha agora era inquestionável.

Os dias iam passando de uma forma lenta, dolorosa e pesada. Os meus avôs estavam de um jeito que eu nunca vi, eles pareciam não ter mais vida. Não sorriam, não brincavam e nem faziam as atividades cotidianas. Tia Luna só chorava. Ravi tirou licença do trabalho e passou a estar com ela o tempo todo. O clima por lá era de enterro e tristeza.

Kevin conversou comigo. Pediu perdão. Disse que realmente se arrependia, que não devia ter me tratado daquela forma e que na verdade entendia o que acontecia comigo. Foi quando eu chorei pela primeira vez desde que isso tudo começou. Chorei de soluçar. Ele ficou muito assustado. Eu dizia o tempo todo que ele não iria mais voltar. E foi então que ele entendeu. As minhas emoções assim como a notícia de que não achariam o Arthur, vieram como uma avalanche sem controle. Ele não conseguiu me acalmar e preferiu chamar meu pai. Assim que ele chegou em sua casa e me viu no estado que eu estava ficou tão assustado e surpreso quanto Kevin.

— Filha, eu estou aqui. – ele me abraçou me fazendo esconder meu rosto em seu peito. Eu soluçava compulsivamente e já havia molhado toda sua camisa. – Alice. Olha pra mim.

— Acho que ela precisa de um calmante.

— Por que ela está assim Kevin? – eles se olharam e eu continuava sem conseguir dizer nenhuma palavra.

— Acho que as emoções dela voltaram. E ela está assim por causa do Arthur. – apertei o braço do meu pai ao ouvir o nome dele.

— Vou leva-la pra casa agora. – ele me pegou no colo e saiu comigo rapidamente de lá. –Sua médica vai ir para o hospital te atender. – avisou após fazer umas ligações no carro. – E sua mãe vai nos encontrar lá.

A consulta não pôde ser concluída, já que eu não conseguia me acalmar. Ela me receitou calmantes para aquele dia e marcou uma nova consulta em uma data mais próxima possível, que era dali dez dias.

Era oficial. Arthur foi dado como morto. Não havia mais nada a ser feito. Comecei a ficar quietinha em casa desde minha crise de choro, há três dias atrás. Estava sentada no sofá de casa quando vi Rafael entrando.

— Estou preocupado. – o olhei. – Com você e com Kevin. Vocês dois estão me deixando louco.

— O que ele fez?

— Ele tá se fechando. Se mantendo cada vez mais distante, frio... Estou com muito medo do que pode acontecer se ele continuar assim. – desliguei a tv e coloquei os pés em cima do sofá encostando meu queixo em meus joelhos.

— Você acha que ele pode voltar a ser o que era antes? – ele ficou me olhando e depois respirou fundo.

— Confia em seu irmão? Acho que sim né? Se ele fez mesmo um bom trabalho eu acho que isso não é mais possível.

— A natureza do Kevin é sombria. O pai dele o criou assim. De qualquer forma ele usa isso como escudo para sobreviver aos momentos que ele não suporta.

— Essa transformação é inevitável, não é?

— Não por ele ter você. – peguei em sua mão. – Ele te ama Rafa. E é o seu amor que não vai deixa-lo se entregar a esse lado sombrio. – seu sorriso me deixou aliviada.

— Obrigado por dizer o que eu precisava ouvir. E você como está?

— Eu não sei dizer. – olhei pra frente. – Dei uma crise enorme de choro aquele dia na casa do Kevin e depois disso... Parece que voltei ao normal. Digo... O meu normal. Pensei que minhas emoções haviam voltado. Acho que me enganei.

— Mas você está triste? – nos olhamos.

— Um pouco. Desanimada eu acho. Rafael... – encarei seus olhos. – Você sabe que ele não vai voltar né? – ele respirou fundo e desviou o olhar.

— A gente não tem certeza de nada Alice.

Era lindo o jeito que o Rafael acreditava que o amigo poderia aparecer mesmo com o tempo passando. Mas isso não aconteceria. Já estava nítido. Janeiro estava acabando. Eu havia feito dezessete anos. Sem motivo algum parar comemorar. E o dia de voltar para a capital se aproximava. Daqui algumas semanas iriamos. Só que eu teria a tarefa de convencer Kevin a ir. O que estava sendo muito difícil.

— Amanhã é a sua consulta. Você tá lembrando? – minha mãe perguntou assim que me levantei. Concordei e fui tomar café. Não estava nada ansiosa para saber como a minha cabeça andava. Foi apenas um episódio anormal isolado e isso não dizia nada.

— Vamos organizar um funeral simbólico. – meu pai falou ao chegar da casa dos meus avós. Minha mãe o olhou e depois olhou pra mim. – Sua vó quer falar com você Alice.

— Sobre o que? – deixei a caneca na bancada.

— Algo relacionado ao Arthur. Não sei o que é, mas parece que é importante.

— Tá. Você me deixa lá mais tarde.

— Como vai ser isso? Um caixão sem nada? – minha mãe o questionou voltando ao assunto.

— Sim. – ele respirou fundo e se sentou com a gente. – Vai ser feito como se o corpo estivesse presente, com o caixão e dentro terá roupas, fotos ou objetos dele, o representando. – segurei minha caneca e dei um suspiro baixo.

— Quem vai escolher essas coisas? Luna?

— Provavelmente né Raissa?

— Não me chama de Raissa. Por que você tá bravo?

— Não estou bravo meu amor. Desculpa. – pediu em um tom de voz muito carinhoso. – É que... O cerimonialista disse que os familiares mais próximos deverão escolher o que melhor identifica Arthur, colocar tudo no caixão e ele vai ser rigorosamente fechado. E não voltará a ser aberto. Segundo ele, a imaginação é o nosso melhor recurso para dissolver as grandes dores. Só que eu tenho medo disso não ser suficiente para conseguirmos seguir em frente.

— Acha que o melhor seria deixar em aberto? Como se ele não estivesse morto?

— Não sei. Mas fazer um velório usual, porém um pouco mais curto, não me parece uma boa ideia.

— Vai ter algum representante religioso? Sim né?

— Luna está decidindo tudo. – meu pai respondeu e passou os dedos entre os fios de seu cabelo. – Acho que ela vai cremar o caixão, ouvi Caleb cogitar a ideia.

— Como se aquele ser sem escrúpulos pudesse opinar em alguma coisa. – reclamei.

— Respeite o pai dos seus primos. – olhei para o meu pai. – Eu também não gosto dele. Mas temos que aceita-lo.

— Murilo não vai vim né?

— Não e eu concordo. As aulas dele já voltaram e ele não vai vim de lá apenas para uma cerimônia sem corpo.

— O jeito com que Murilo ignora a família e a cidade e você aplaude pai é lindo de ver.

— Sei que sente a falta do seu irmão, mas ele sabe o que faz e ele tá bem assim.

Nem dei continuidade àquela discussão. Acho que Murilo só voltaria a Torres quando um de nós morresse, eu, minha mãe ou meu pai. Mais tarde todos nossos amigos nos reunimos, menos Kevin. Decidi ir até a casa dele com Rafael. Ao chegarmos vi que o medo de Rafa havia motivo.

— Vamos perde-lo Rafael. – comentei olhando Kevin. Ele nem se mexia. – Ele tá distante de tudo o que faz ser humano. Ele precisa muito de você agora. – ele deu um suspiro.

— Não sei mais o que fazer Alice. Já fiz de tudo. Não me sinto capaz.

— Quer que eu ligue para o meu irmão e ele vem fazer o seu papel? – o provoquei. – Aposto que não. Então vai lá e não desiste até que o seu namorado demonstre alguma reação positiva. – coloquei a mão em suas costas. – Vou voltar para o pessoal.

Deixei os dois por lá torcendo para que Rafael conseguisse tirar Kevin daquele poço em que ele estava se enfiando. Falar de Murilo com ele era quase mágico, eu não entendia suas motivações, mas se funcionava era o suficiente.


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Notas finais do capítulo

Até quinta (ou sexta) ♥



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