Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 74
Dois Sepultamentos


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao fim. Com muita coisa ruim, infelizmente. A próxima temporada provavelmente começará a ser postada amanhã. O Trailer, capa e sinopse já vão revelar muita coisa. Inclusive, ela era pra ser a última e que sempre é a de resolução das tramas, porém, entretanto e todavia um único acontecimento fez com que eu tivesse que mexer em tudo e assim atrasasse esse final, o deslocando para outra temporada. Mas confia em mim que chega ao fim! Tá tudo desalinhadamente organizado kkkk Muito obrigada a quem continuou aqui, aos fantasmas e em especial, lógiiico, a Isa e Bru, amo vocês ♥



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Alice Narrando

Sempre me perguntei o motivo dos dias tristes serem cinzentos. Eu nunca entendi muito bem. Era algo relacionado a morte ter algum poder direto no clima, no céu... Abri a janela naquela manhã e não estranhei ao ver o pouco sol e até a ameaça de alguns chuviscos aparecerem. Abri o guarda-roupas para escolher o que vestir. Eu tinha que pensar bem, essa peça de roupa seria marcada pra sempre e era fato que eu não a usaria tão cedo. Não queria mais o peso de ter que vestir algo que usei no velório do Arthur. Do meu Arthur.

É engraçado pensar nele assim já que nos últimos tempos eu terminei com ele e queria outro cara. Cara esse que eu evitei desde que cheguei a Torres. E nem lembrava mais da sua existência. As circunstâncias agora eram outras. O cenário mudou. Ninguém desaparece todos os dias, ninguém some do nada e a falta que alguém faz pode mostrar coisas que antes não conseguíamos ver. Acho que eu errei. Mais uma vez.

Se existia mesmo várias vidas e se em minha próxima vida eu conhecer Arthur, quero me redimir de tudo que fiz a ele, tudo que o fiz passar. Não foi certo. Não foi justo. E não foi legal. Todos esses anos eu o fiz sofrer, primeiro por não o corresponder, mesmo que sem ser por minha culpa, mas ele sofreu muito. Depois por Kevin. E então eu queria poupa-lo do meu problema. E por último... Eu simplesmente cansei. Fui tão cruel, ingrata e não pensei nele um minuto sequer. Achei que ele era errado em ter esperança que eu fosse recuperar minhas emoções um dia e que ele me sufocava com a história de não poder me ajudar e veio todo o seu ciúme de Orlando... Foi um prato cheio para um término. Talvez não haveria mesmo outra solução.

Parando pra pensar, Larissa é a pessoa que mais combina com ele. Eram eles que deviam ter se envolvido desde o início. E talvez se eu não tivesse sido a problemática que exigisse tanto cuidado e atenção, ele não começasse a me amar há anos e não estivesse morto agora. Seria outra realidade. Uma bem melhor. Talvez eu sempre estrague tudo.

— Já se levantou. – meu pai entrou notando logo que eu não estava bem. – Sua médica ligou, os resultados dos exames saíram. Como ela estava com urgência ela não quis nem marcar um retorno, já disse tudo por chamada com a sua mãe.

— E o que aconteceu comigo? – nos olhamos.

— Ela disse que alguma coisa está modificando os seus exames e perguntou se algo diferente havia acontecido em sua vida. Contamos de Arthur e ela concluiu que foi perde-lo. Ela não quer dar esperanças, mas pode ser o início de um progresso, pois foi uma resposta emocional. – ele disse sorrindo e com os olhos cheios de água.

— Não tenho mais motivos para voltar a ter emoções pai.

— Minha filha não diz isso! – ele me puxou me abraçando. – Vamos tomar café e depois você se arruma para irmos.

— Prefiro não comer nada.

— Você não vai ver um corpo Alice.

— Eu sei. Mesmo assim eu prefiro. – ele discordou, mas não disse mais nada. Eu me arrumei e desci os esperando. Quando entramos no carro minha mãe me olhou.

— Sabe que vai ser difícil né? – balancei a cabeça positivamente. – Pensando bem, o seu irmão podia sim estar aqui. – não disse nada, aquele assunto me irritava.

Chegamos na capela e quase todos já estavam lá, menos Kevin. Eu duvidava que ele viria mesmo. Não era o tipo dele ir a velórios. Ainda mais simbólico. Algum dos nossos amigos disse que esperariam um tempo para a cerimônia começar. No caixão haviam colocado além da roupa dele, um relógio e algum objeto do trabalho, além de fotos.

— Tem uma foto de vocês dois. – Soph falou me fazendo ficar ainda mais emotiva. Vi vó Isa e lembrei que eu ainda não havia ido ver o que ela queria comigo.

— Vó. – cheguei perto dela e a abracei e beijei. – Meu pai me disse que queria conversar comigo. Acabei esquecendo.

— Sim. – ela abriu a bolsa. – É que... – começou a procurar alguma coisa e tirou algo que não pude ver o que era. – Arthur um dia me fez um pedido... Como neto mais velho eu não podia negar. Ele me pediu a aliança de casamente da tataravó Luiza. Ela está na família há gerações. – ela me mostrou o objeto. – Tem uma história linda aqui. E vocês construiriam a de vocês. – ela recuperou a fala após se emocionar. – Infelizmente o destino não deixou. Mas eu quero que ela seja sua. Era a vontade dele.

— Não vó, eu não posso aceitar. Deixa para o Yuri dar a quem ele se casar.

— Deixe o meu neto feliz onde ele estiver. Estou te pedindo Alice. – não aguentei dizer não a ela e peguei a aliança a colocando no dedo. – Se você se casar com alguém algum dia e ganhar outra aliança use as duas ou a guarde com carinho, a deixando na família. Promete? – apertei o seu rosto e a beijei.

— Claro vó. Prometo.

— E o seu irmão, quando vai vim? Ele tá deixando seu avô e eu magoados.

— Nem me fala. Já cansei de brigar com ele.

— Mãe vem se sentar. Já está muito tempo em pé. – Luna a tirou de perto de mim e eu voltei para os meus amigos. Todos, absolutamente todos olhavam para trás. Caleb havia chegado com Kevin.

— É sempre aquilo. A tal da entrada triunfal. – Ryan comentou quando ele chegou perto da gente. Ele não respondeu nada e apenas o olhou. Estava sério e olhava para o caixão como se existisse mesmo alguém lá.

— Você tá tão lindo. – falei e parei em sua frente. – Ficou ainda mais branquinho com toda essa roupa preta. – beijei seu rosto demoradamente e de uma forma muito carinhosa.

— Só queria saber de onde tirou todo esse frio para usar um sobretudo. – ele continuou com as mãos no bolso do enorme casaco e só moveu os olhos para olhar o dono das palavras e depois voltou a olhar o caixão. – Acho que ele não está muito para conversa.

— O que você quer fazer? – Rafael o perguntou baixinho pegando o braço dele e entrelaçando a mão dos dois. Segui o olhar do Kevin e vi que estava parado no quadro com a foto de Arthur.

— Kev você quer sair daqui? – perguntei bem próxima a seu rosto. Pra variar ele não disse nada. Um táxi parou e eu arregalei os olhos e o meu coração disparou.

— Quem será? – Soph questionou olhando.

— Será que é o meu irmão? – perguntei e todos olharam o veículo. – Que seja o meu irmão. Que seja o meu irmão.

— Não é. – Kevin disse e Rafael fechou a cara. – É uma garota. Dá pra ver daqui. – ela saiu do carro e eu dei um suspiro triste.

— Você quer tanto assim vê-lo? – olhei para Kevin sem acreditar em sua pergunta.

— Não é aquela garota que ficava com Arthur? – Soph enxerida perguntou. – Pelo menos eu já a vi com ele.

— Ei Letícia. – Rafael a cumprimentou e conversou um pouco com ela antes dela ir pra dentro.

— Cadê Otávia? – perguntei olhando em volta.

— Aquela ali? – Alê apontou para o lado. Ela vinha cambaleando.

— Ela tá bêbada! – Ryan exclamou e saiu correndo a levando certamente para o banheiro.

— Não adiantou nada do que eu disse a ela. – Rafa comentou com pesar.

— Ela só vai parar quando aceitar e às vezes... Aceitar é difícil. – Kevin opinou sem olhar pra ninguém.

— Eu vou estapear sua cara toda se você começar a agir assim. – avisei.

— Assim como? – me encarou.

— Ah Kevin, eu estou triste demais pra me preocupar com você. – bati no peito do Rafael. – Boa sorte aí amiguinho.

Pensei que a cerimônia demoraria mais para começar, mas parece que Luna iria passar mal se aquilo não acabasse logo. O que também já era de se esperar devido aos seus inúmeros dramas a vida inteira, aquilo sim era um drama real e com motivo.

— Estamos aqui para nos despedirmos de Arthur. – o celebrante começou a falar. – Um rapaz tão jovem e tão bonito, que tinha toda uma vida pela frente, mas que de uma forma que não sabemos como – olhei para Caleb e sua cara de santo – partiu e nos deixou. Hoje o que resta são as lembranças. – Luna chorava tanto, mas tanto, mas tanto que dava para ouvir duas quadras dali. Meu pai a abraçou e saiu com ela da capela.

— Ela vai ficar bem. – minha mãe disse baixinho e fez carinho em meu cabelo.

— Você acha mesmo que eu me importo? – a olhei e depois voltei a olhar o senhor que falava.

— Hoje devemos pensar em Deus. Ele é fonte de vida e ressurreição para aqueles que nele creem. A realidade da morte é uma realidade dramática, que toca toda e qualquer pessoa humana, mas ao mesmo tempo, devemos ter o olhar fixo em Jesus Ressuscitado, crer na morte humana como uma passagem, um momento em que vamos definitivamente ao encontro de Deus, com muita esperança. Arthur foi de encontro ao Pai e peço a todos que se levantem e façam uma oração por sua alma. – assim que a oração acabou procurei Kevin com o olhar. Ele estava na última fileira e lá permanecia, com o olhar abstrato, parecendo não estar presente e começando a me deixar novamente preocupada.

— Agora eu vou abrir espaço para quem quiser prestar uma última homenagem ao nosso querido Arthur. – a primeira pessoa a se levantar foi Otávia. Fiquei com medo do show que ela daria, mas parece que Ryan controlou bem a situação, pois ela já estava bem.

— Uma vez o meu irmão me disse que nunca me decepcionaria. – ela começou a falar com lágrimas nos olhos. – E veja bem, ele me decepcionou muito, porque ele não está mais aqui. – Ravi se posicionou ao seu lado se mostrando tão abalado quanto ela. Abraçou a garota de lado de forma amorosa e beijou o topo de sua cabeça. – Eu sei que vou pensar em você todos os dias, sei que entre nós você é o que menos merecia isso. Eu te amo muito, saiba disso onde quer que esteja. – ela se virou agarrando Ravi e chorando compulsivamente em seu peito.

— Gostaria de dizer que o Arthur foi o meu filho. Quando me casei com Luna, eu me vi como pai dele e do Yuri. E é assim que vejo até hoje. E eu teria orgulho se ele fosse mesmo o meu filho. Ele nunca nos deu trabalho, sempre foi obediente e sempre fez de tudo para orgulhar a mãe. Talvez se ele realmente fosse o meu filho ele estivesse vivo hoje. – alguns não evitaram soltarem um “oh!” de espanto e ficaram de boca aberta. Ravi não era assim e se ele fez essa insinuação eu acho que é porque ele sabia de alguma coisa. Eu me levantei discretamente e fui até o meu pai.

— Pai, pai, o que o Ravi sabe? – perguntei baixinho.

— Nada. Só que perder Arthur o deixou meio louco. Isso foi ridículo e não combina nada com ele. Sua vó está tão brava. Ele precisava mesmo causar isso em um velório?

— Se ele quiser eu causo algo pior e limpo a barra dele. – Kevin falou nos ouvindo já que estávamos perto.

— Seria fácil pra você né seu infame? – meu pai o questionou de forma bem humorada e balançou a cabeça negativamente.

— Assim como respirar. E ainda posso culpar o luto. – olhou meu pai. – Vai, diz que sim.

— Calem a boca vocês. – Rafael mandou bem atrevido. – O Yuri está falando!

— Ele sempre me ensinou tudo. Sempre teve paciência comigo. E eu nunca consegui retribuir. – deu um suspiro pesado tirando do seu peito toda a dor que sentia. – Ele foi o irmão mais especial que eu poderia ter. Só quero que ele esteja em um bom lugar e em paz. Porque ele merece.

— Quero falar. – Luna subiu, um pouco mais calma. – O meu filho era alguém que tinha alguns problemas. Ele não era perfeito, afinal ninguém nesse mundo é. Por vezes ele não conseguia controlar a raiva e havia algo que ele não conseguia controlar também, o sentimento que ele sentia pela filha do meu irmão. – eu não acreditava que ela iria trazer isso a público e tornar tudo ainda mais pesado.

— Pronto Kevin. Não vai precisar, a barra de Ravi vai ser limpa agora. – falei e fechei a cara. Ele deu uma risada. – O que foi?

— Ela vai acabar com você.

— E você vai ter que entender, ela tem que culpar alguém. – meu pai disse me fazendo ficar espantada.

— Que seja o Caleb!

— No dia em que ele desapareceu, ele estava indo salvar a vida dessa garota. – agora nem nome eu tinha mais, prazer Alice. – E como era comum, tudo girava em torno dela. Ele se mudou de casa por causa dela, ele já foi até morar na capital por causa dela. – QUE? Essa mulher precisava urgentemente de uma interdição. – Eu não sei quantas vezes ele já tentou esquecê-la e nem quantas ela já o desprezou. O Arthur morreu de amor. Morreu por amor.  Eu nunca mais vou ver meu filho, nunca mais vou ouvir a voz dele e todos os dias vou ver o motivo estampado no rosto da minha sobrinha. Se tem uma forma de despedir dele vai ser tendo ainda mais aversão a ela. Eu te odeio muito Alice. – ela saiu e o clima com certeza era pior que na vez de Ravi.

— Bom... – vó Isa apareceu quase que em um passe de mágica. – Peço que perdoem minha filha. Ela está passando por um luto muito complicado. Não pôde ver o filho, se despedir dele direito. E a ideia de abrir essa cerimônia para a família inteira e amigos dele além dos íntimos fugiu à proposta. Ela não conseguiu lidar. – respirou fundo. – Eu mesma não esperava por isso. – apontou para a “plateia”. – Aposto que tem mais curiosos que reais amigos dele, mas vamos ao que interessa. Arthur foi o meu primeiro neto. – sorriu olhando para o nada. – Lembro como se fosse hoje o dia em que ele nasceu. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. E olha que com o marido que eu tenho, eu já tive muitos e muitos dias felizes.

— Que fofa! – Larissa exclamou de um jeito deslumbrado.

— É o que a Alice diria se um dia chegasse a se casar com Arthur. – Ryan a provocou rindo baixo. Ela revirou os olhos voltando sua atenção para vó Isa.

— Uma coisa sobre ele que muitos sabem porque ele deixava claro era que amava Alice. É difícil ver alguém tão certo de algo desde tão novo. E ele nunca desviou desse caminho. Era Alice, sempre foi Alice e sempre seria Alice. – a maioria me olhava. Estava me sentindo um objeto em uma vitrine. – Eu tentava entender qual era o propósito de dois primos ficarem juntos, porque minha mãe é prima do pai de Mark, mas eu não sou prima dele então eu não vivi isso. Foi aí que o meu filho Vinicius me contou de mais um casal de primos na família. – Kevin se mexeu no banco e Rafael largou sua mão. – A minha conclusão foi que devia ser mais fácil. Se conhecem bem, convivem desde sempre, são unidos... O problema é que as dificuldades também são maiores. Como podem prever, mesmo antes da morte de Arthur, eles não ficaram juntos. – respirei fundo. – E diferente do que minha filha disse, ele não morreu de amor, ele morreu amando. Alice e Arthur podiam estar juntos que de alguma forma ele ainda morreria. Era o destino e eu acredito muito nisso. Hoje eu só peço que ele descanse em um bom lugar. Ele cumpriu sua trajetória. Até aqui nos fez feliz e nos orgulhou e isso basta. Vamos esquecer os momentos ruins e só lembrar das coisas boas. É isso que eu peço.

— Mark não vai falar nada? – minha mãe chegou perto da gente e perguntou ao meu pai.

— Não. Meu pai sempre foi de poucas palavras, não sei qual a novidade.

— Você não é mais um adolescente. Não fale assim dele. – chamou sua atenção. Depois fez carinho em meu rosto. – Como está depois disso tudo? – tirei a mão dela.

— Normal. – reclamei.

— É até bom estar ainda sem emoções. Estaria no pescoço de Luna nesse instante. – suspirou. – Fui lá falar com ela. Ela não pode levar essa ideia a diante Vinicius. Odiar nossa filha? Que culpa tem Alice na morte dele?

— Ele estava indo salva-la Raissa. Tenta entender o lado de mãe. Nossa filha não tem culpa, mas ela tá com raiva.

— Ah não! Lá vai o ator. – Ryan comentou ao ver Caleb pegar o microfone.

— O meu filho e eu não combinávamos muito, é verdade. Desde novo ele me culpa por coisas que eu realmente sou culpado. E a vida é isso, uma sucessão de erros. Os adolescentes acham que são os mais astutos e que já viveram de tudo e podem julgar os erros dos adultos. – deu uma risada anasalada. – Ledo engano. E eu sei que com o passar dos anos ele reconheceria que mesmo errando, muitas vezes eu fiz o meu melhor. Eu prezei pela vida dele. – sorriu. Um sorriso intrigante. Um sorriso que dizia alguma coisa, aliás, tudo com Caleb sempre dizia algo. Mas... Eu nunca sabia o que era ao certo.

— O que seu pai quis dizer com esse sorriso Kevin? – perguntei bem baixo em seu ouvido.

— Que ele sabe o que aconteceu com Arthur. E que ele tá vivo. Como eu sou burro! – ele começou a balançar as pernas. Kevin não era nada ansioso. Só Arthur e Caleb para deixa-lo desse jeito. – Se a ida até lá foi uma emboscada... Talvez ele precisasse estar longe daqui. E talvez ele esteja escondido.

— Que? – Rafael o olhou. – Não acha que é ir longe demais forjar uma morte?

— Eu já disse que longe demais é o nome do meu pai.

— Não. Eu me nego a acreditar. – o loiro discordou.

— Já chegamos em um consenso que se alguém quiser atingir o seu pai o alvo seria sua mãe ou você, vocês são a família principal dele.

— Ele é o primogênito. Ele é mais visado Alice.

— Não. Uma vez você me disse que o seu pai ainda amava Luna. Ele não a faria passar por isso.

— O que, uma morte de mentira? Seria melhor que uma morte de verdade, não? – ele pensou um pouco. – Sabe o que é pior? O desgraçado vai vim com alguma história depois que o glorifique. Sendo que o Arthur tá nessa situação por causa dele.

— Você não tá pirando por querer ter esperança de Arthur estar vivo não?

— Foi você mesmo que viu que havia algo a mais no sorriso dele Alice!

— Mas não que ele estava vivo.

— Kevin. – meu pai o chamou. – Estão querendo saber se você não vai dizer nada.

— O que você acha Vinicius?

— Seria legal se pelo menos tentasse. – Kevin fechou os olhos e parecia ter ficado tonto. E depois de alguns minutos ele pediu que eu fosse com ele pra fora e que Rafa o esperasse lá dentro.

— Você comeu alguma coisa antes de sair? Deve ser fraqueza. Quer ir até uma lanchonete? Tem uma aqui perto. – ele fez sinal que eu parasse de falar.

— Aconteceu uma coisa estranha demais.

— Está me assustando Kevin. – falei com real medo. Agora eu estava começando a ter raiva desse vai e vem de emoções.

— O jeito que o seu pai falou me lembrou muito o seu irmão. O tom de voz, as palavras, a forma com que pronunciou... Eu não sei. Eu juro que eu tive uma visão completa de Murilo chegando e me dando a mão e me acompanhando até lá em cima e... – ele dizia numa crescente de desespero. Olhei para os lados.

— Kevin o Murilo não está aqui. – peguei meu celular e não havia mensagens ou chamadas.

— Eu sei. Isso nunca aconteceu comigo antes. O que será que isso quer dizer?

— Não faço ideia. – fiquei olhando em seus olhos. – Quer que eu ligue pra ele para vocês dois conversarem?

— Não. Ele deve estar estudando a essa hora. – sorri.

— Então vai lá e fica com o seu namorado e esquece isso. – ele concordou e nós dois entramos. Alguns de nossos amigos prestaram homenagens e todos, incluindo minha vó e pessoas que eu nem conhecia queriam que eu dissesse algo. Mesmo que isso fosse uma afronta a Luna. E ainda que eu não tivesse com as minhas emoções para poder fazer um discurso legal. Eu iria tentar. Ele merecia que eu tentasse. Meu pai foi comigo e segurou a minha mão.

— Não sei muito bem o que dizer... Arthur estava lá sempre que eu precisava. Aliás, isso não era só comigo. Era com todos. Ele não media esforços para ajudar quem quer que fosse e isso era sua qualidade que eu mais admirava. Ele tinha um lado dele que ninguém conhecia, somente eu, seu irmão Kevin e o seu melhor amigo Rafael. Arthur às vezes não conseguia passar por conflitos internos. Quando ele sabia que não podia fazer algo e mesmo assim queria muito fazer, ele recorria a circunstâncias que poderia ferir não só ele, mas pessoas que o amavam. E ainda assim eu o amei. – não iria entrar em detalhes se o amava de fato ou não, haviam pessoas demais ali. – E quando você ama alguém mesmo conhecendo o lado obscuro dela, certamente esse amor não se acaba tão fácil. Nós dois tivemos nossos problemas, só que isso não interfere em nada em minha admiração e respeito que sempre vou ter por ele. Ainda vamos nos encontrar e com certeza rir de tudo de ruim que passamos aqui.

— Além de mata-lo quer difama-lo? – Luna questionou assim que desci. – Que história é essa de lado obscuro?

— Se você que é mãe dele não sabe não sou eu que vou dizer. – sorri e sai. Ela mereceu. Mereceu muito.

Todos nós saímos de lá de dentro e fomos pra fora. Alguns iam embora e a maioria ficava conversando. Reunimos todos nossos amigos e alguém iria dizer algo quando vi um tumulto lá dentro bem estranho.

— É, teremos outro velório. – Caleb disse chegando perto da gente. Seu aspecto e risinho me deixaram irritada no mesmo instante. Ele olhou para Kevin e depois pra mim. Fiquei em alerta. – Sua mãe acabou de desmaiar. – me olhou. – Parece que Murilinho tá bem em risco, o cara do hotel de Paris ligou para Vinicius. Houve um incêndio no prédio do curso dele.

— Ah sim, e claro que uma instituição caríssima daquela não teria sistema de combate a incêndio. - Kevin debochou.

— Claro que tem. Só não no elevador. Pobre Murilo. – coloquei a mão no peito e quase cai. – Vai ser mais um corpo que não vamos poder velar.

 - Não! – exclamei quase gritando. – Não tem a menor possibilidade do meu irmão estar morto. – Ryan me abraçou enquanto Kevin deu um soco no pai.

— Por que você o odeia tanto? – perguntou ao pai completamente descontrolado. Ele o segurava pela gola da camisa e acho que descontava nele toda a raiva de Murilo não estar bem. Caleb olhou de lado para Rafael e depois encarou o filho.

— Diz você.

— Esse joguinho psicológico não vai dar certo. – ele o soltou. Ryan me apertava tentando me acalmar. Kevin veio ver como eu estava enquanto Caleb ajeitava a roupa.

— Espero que o seu amor finalmente morra junto a ele. – Caleb comentou antes de sair e minha mãe veio se aproximando quase sendo carregada por meu pai. Eu me soltei dos meninos e me fui de encontro aos dois. Ela começou um choro desesperado e me abraçou. Olhei para o meu pai já que ela era desesperada com tudo e vi que não era um desespero infundado. Ele estava de um jeito que eu nunca havia visto na vida.

— A justiça divina chega rápido. – Luna disse passando por nós e me olhando de cima a baixo. Nem o amor dela pelo irmão aliviava as coisas. E ele nada fazia, ainda mais agora.

— É o Gardan. – meu pai disse pegando o celular. Ele disse sim algumas vezes e desligou. – Ele já está lá. Com o corpo carbonizado ele não consegue reconhecer. Vão ter que fazer os exames. De qualquer forma, vamos ter que ir pra lá. – disse olhando minha mãe.

— Como consegue dizer isso nessa calma?

— Se eu não ficar calmo você vai ficar como? – ele passou o braço por seu ombro e beijou o topo de sua cabeça. – E eu sei como é isso, já perdi alguém que eu tinha como filho. – se referiu a Arthur. - Vamos pra casa para você tomar um calmante.

— Você pode esquecer a ideia de ir pra capital. – minha mãe falou me olhando enquanto entravámos no carro do meu pai. Olhei para Kevin de longe e vi que ele nos olhava e parecia mais perdido que quando descobriu a morte de Arthur. Agora vai vim o pior tempo de todos. O âmago de Kevin com os sintomas novamente de profunda tristeza, iria se revelar e dessa vez nada nem ninguém o salvaria.


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Notas finais do capítulo

Só quero chegar na parte que todos os casais vão estar felizes, é pedir muito? :)



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