Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 68
Tratamento


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789024/chapter/68

Murilo Narrando

Acordei ao lado de Paty e fiquei fazendo carinho em seu cabelo, ela sorriu e continuou de olhos fechados. Imaginei o quanto seria problemático convencê-la de que ela não precisava mais fugir de mim. Só que eu não queria pensar nisso agora.

— Você fez um sexo bem silencioso. – Adam comentou quando coloquei os pés na cozinha. – Isso não é nada bom.

— Se preocupa com a sua vida. E que por sinal anda bem confusa... – apertei os olhos me arrependendo das minhas palavras.

— Sabia que ela contaria. – deu de ombros. – Não tem problema, não há segredo entre nós. – me olhou. – Por isso estou dizendo... Você tá encrencado.

— Vamos falar de você. – me sentei frente a ele. – O que deu na sua cabeça?

— Em minha cabeça nada. Mais fácil perguntar o que deu em meu pau. Eu não sei o que acontece com ele. – dei uma ligeira risada.

— Você tem sérios problemas. De personalidade e tudo mais.

— É eu tenho. E eu não estou afim de falar sobre isso. – fechou a cara. Vi que era melhor não forçar. – E aí, vai namorar a surtadinha? – olhei o corredor com medo de ela estar vindo. – Se ela quebrar alguma coisa nesse apartamento você paga.

— Quem falou que ela quebra as coisas?

— Ela veio de uma clínica psiquiátrica. É mínimo que eu espero dela. – fiquei olhando em seus olhos por um tempo. – Sem ofensa.

— É bem difícil ser sem ofensa.

— Talvez eu me interne também. – desabafou baixinho. – Eu devo ser louco.

— Antes fosse. Você é só safado mesmo. – ele riu e olhou para o lado. Vi Patrícia vindo vestida com uma blusa minha.

— Bom dia. – passei a mão em volta da sua cintura assim que ela chegou mais perto. – Vamos sair pra tomar café? – questionei a olhando.

— Acho melhor não. Eu não avisei a minha mãe que iria dormir fora de casa e... – vi que ela estava dando desculpas. Ela olhou pra mim e para o Adam.

— Eu tenho que sair da minha cozinha pra vocês conversarem?

— Por que tá sendo idiota? – tentei entender a atitude dele.

— Estou em conflito interno Murilo, me deixa.

— Vem. – peguei a mão dela e a guiei para o quarto.

— O que ele tem? – ela me questionou quando nos sentamos na cama.

— Nada que realmente vale a pena ser citado. – suspirei. – E então, qual é o problema?

— Não quero ir rápido demais. E acabamos de dormir juntos. Não vamos sair pra tomar café e depois passarmos o dia grudado um no outro. É letal. Você sabe disso.

— Por que é letal?

— Você não consegue ver que somos um perigo?

— Pode me explicar isso direito?

— Você vai me pressionar e eu... Eu vou me fechar porque é isso que eu faço, é assim que eu sou. 

— Como assim eu vou te pressionar?

— Sua cabeça funciona assim Murilo. Vai dizer que você já não pensou em como me convencer a ficar contigo? – fiquei impressionado com a exatidão das suas palavras. – Você tem um problema que te faz querer as coisas rápido demais e eu tenho um problema que me faz correr de enfrentar qualquer coisa. Somos opostos.

Fiquei um tempo pensando naquilo. E talvez ela estivesse mesmo certa. Talvez não. Na teoria ela estava certa. Mas na prática eu sabia que podíamos ser o equilíbrio um do outro se assim quiséssemos. Pelo menos eu acreditava nisso.

— Não quero te fazer desistir. É só que... É muito complicado. – a beijei antes que ela dissesse mais alguma coisa e deixasse tudo ainda mais difícil.

— Pode ir. – sorri. – Eu vou confiar em você e deixar com que conduza o rumo desse relacionamento, então não me faça me arrepender disso.

— Como se você tivesse outra opção. – deu uma risada provocativa.

— Eu poderia ser insistente. E mais apreensivo ainda.

— Sua insistência não me convence e sua ansiedade não me assusta.

— Eu disse apreensivo e não ansioso.

— É a mesma coisa.

— Você tem que melhorar sua definição de palavras. – a puxei a abraçando. – E quando eu vou te ver de novo?

— Essa pergunta é uma ótima definição de apreensão e ansiedade. – ri. – Mais tarde eu venho te ver.

— Sua resposta demonstra a mesma ansiedade. – ela não aguentou e acabou sorrindo.

Como ela havia dito quando a noite chegou ela estava aqui. Linda, cheirosa e com um pacote em suas mãos.

— Trouxe sua cerveja favorita. – ela levantou o pacote e sorriu.

— O que eu fiz para merecer isso? – a olhei desconfiado.

— Nasceu com esse rostinho lindo. – brincou e riu. – Também trouxe chocolates e Nutella. Mas esses são pra mim. – acabou de entrar e trombou em Adam. – Ainda tá mal humorado? – ele não gostou da pergunta.

— Murilo eu estou saindo, minhas roupas estão centrifugando se você puder colocar pra secar antes de dormir eu agradeceria muito. Caso contrário elas vão ficar com cheiro de gato molhado. Eu infestarei a casa, então pensa bem antes de não fazer esse favor. – saiu me fazendo rir.

— Eu não colocaria só pela ameaça. – a puxei e a beijei.

— Você é cruel e eu não. – sorri. – Vou colocar as cervejas na geladeira e me servir, você quer? – seu semblante mudou para insatisfeita.

— Sabe que eu não bebo. – dei um sorriso fechando os olhos.

— Desculpa. – selei nossos lábios antes de ir até a cozinha e voltar.

O ponto positivo de morar com Adam e Audrey que eu dou mais valor é que em determinados momentos mesmo com algum deles ou os dois em casa, parecia que eu estava sozinho. Esse era o caso agora, nossa amiga estava em seu quarto com seu habitual fone no mais completo silêncio. Paty e eu nos sentamos na sala e conversávamos quando ela parou de falar e ficou me olhando.

— O que foi? – recapitulei o que eu havia dito em minha mente pra ver onde eu errei.

— Eu sei que você tá triste. O que é? – desviei o olhar.

— Eu não estou triste. – me esforcei para convencê-la. – Não pensa que é algo contigo.

— Todo preocupado. – sorriu. – Só quero saber o que tá acontecendo.

— Não é nada de mais. – soltei um suspiro. – É que a minha irmã tá me tratando cada vez mais... Acho que de uma forma fria. Entendo que é o problema dela e o fato de eu não dar a atenção que ela queria, mas me faz falta.

— Liga pra ela. – fiquei olhando em seus olhos. – Agora. Vai. Se um ficar tratando o outro com descaso vocês dois vão acabar se afastando. – pensei um pouco e peguei meu celular.

“Oi.”— assim que ela atendeu a chamada de vídeo vi que não estava muito bem, além do ar típico de raiva que agora ela sempre mostrava pra mim. – “Antes que pergunte não eu não estou bem.”

— O que aconteceu?

“Kevin vai se mudar de Torres. E eu não quero ficar longe dele. Parece que todo mundo vai embora. Não é mesmo?”— franzi a testa sem entender.

— Por que ele vai embora? Pra onde?

“Capital. Estudar.”

— Medicina? – ela concordou e eu sorri. – O que o fez mudar de ideia?

“O pai dele ter separado ele e o Rafael eu acho.”

— Pelo menos acarretou em uma coisa boa.

“É. Mas eu não estou mal só por isso, também estou com problemas com Arthur.”

— Não é possível.

“É possível. É muito possível. Minha médica me deu uma ideia de tratamento que envolve o mínimo de compreensão da parte dele e mesmo prometendo que assim ele faria, ele tá virando um cara que eu não conheço. Não sei se nós dois vamos resistir a isso Murilo. E eu nem sei o motivo de estar desabafando com você já que essa pessoa para qual eu estou olhando em nada lembra o meu irmão.” – Paty me olhou assustada.

— Alice... Calma. Vocês dois vão resistir a isso, seja o que for. E eu sou o mesmo. Estou sempre ligando pra você, me preocupando e tentando fazer parte da sua vida da mesma forma. Você já havia se acostumado comigo estando aqui.

“Não quero saber.”— ela ficou emburrada me fazendo sorrir. – “Você podia ter me contado que estava namorando.”— fiquei sem graça.

— Mas eu não estou.

“Pelo tom do seu rosto agora eu imagino que ela esteja ao seu lado.”— concordei sutilmente. - “Ei Paty.”— ela praticamente gritou me fazendo virar o celular enquanto Patrícia acenava. – “O que vocês estavam fazendo?”— acho que ela esperava mesmo que disséssemos algo relacionado a namoro. Paty mostrou seu pote de nutella e eu a minha cerveja.

— Apenas conversando Alice.  – ela não pareceu nada convencida. – Fora esses problemas tá tudo bem? Como você está passando?

“Bem na medida do possível.”

Ficamos conversamos mais um tempo até desligarmos. Olhei para Patrícia que sorria assim que larguei o celular.

— Pronto. Agora você parece bem melhor. – seu sorriso ficou ainda maior.

— Você sempre vai saber o que tem que ser feito para que eu melhore? – ela ficou me olhando enquanto pensava.

— Acho que não tenho poder pra isso.

— Eu acho que tem sim. – segurei seu queixo e a beijei. Havia dito aquilo na mais legítima franqueza. E a minha teoria de sermos o equilíbrio um do outro ganhava cada vez mais força.

Alice Narrando

Minha médica deu uma missão impossível a mim, ela queria que eu ficasse em contato com alguém que não estava ligado ao meu problema e o objetivo era que eu esquecesse o que eu passava, a minha frustração e tensão não ajudava em nada segundo ela.

— Já pensou em alguém? – minha mãe questionou no carro no caminho de volta. – Isso é importante Alice.

— Tem a Aline, mas...

— A Aline é igual aos seus amigos. Não tem nenhuma diferença. Você não entendeu o que ela disse. – suspirei de forma falha.

— A única pessoa viável é alguém que o Arthur nunca aceitaria.

— Aquele garoto? – me olhou por segundos. Concordei. – Não tem mais ninguém?

— Não mãe. E você sabe disso.

— É uma péssima ideia, só que é necessário. Ele vai ter que confiar em você. Deixa que eu converse com ele.

Pensei em discutir com ela o motivo disso, de ser ela quem devia conversar com ele e não eu, mas deixei pra lá como eu fazia com a maioria das coisas.

Ela me deixou na casa dos meus avós, era segunda e eu havia faltado ao primeiro dia de aula pós férias de julho. Essas consultas eram mais importantes, diziam os meus pais. Não sei o que era pior, ser uma estudiosa sem emoções ou uma completa ignorante... Eu apostava no segundo.

No fim da tarde todos estavam aqui e eu iria com Arthur levar Alícia e Fabiana para a rodoviária para elas irem embora, mesmo que eu não quisesse que a Fabi fosse.

— AH! – gritei ao passar pela parte lateral da casa. Coloquei a mão na boca e sai andando mais rápido.

— Nunca viu duas garotas se beijando? – Kevin me perguntou enquanto mexia em seu celular. Eu o encarei com raiva.

— Eu estou surpresa. Você sabia disso? – me olhou como se eu fosse idiota.

— Alícia e Aline? – concordei impaciente. – Claro.

— Por que você sempre sabe de tudo?

— A pergunta certa é porque você nunca sabe de nada.

— Devo ser sonsa igual a Giovana. – reclamei revirando os olhos. – Acha que isso é sério?

— Não. – fez uma expressão de desagrado. – Elas estão se pegando. Relaxa Alice você não vai perder sua amiguinha. – riu me fazendo ficar ainda mais brava.

— Mudando de assunto... – encarei o chão. – Vai acontecer algo ruim. Preciso que você me ajude com Arthur.

— O que é? – ele parou no mesmo instante com as gracinhas e ficou sério.

— Orlando vai ter que me ajudar com o meu problema.

— COMO ASSIM? – arregalei os olhos. – Ele é médico e eu não sei?

— Fica calmo Kevin. É que a minha médica pediu que eu me aproximasse de alguém que não fizesse parte do cotidiano desse diagnóstico sabe...

— E você pensou logo nele? Isso é tão injusto Alice!

— Tá eu sei, mas não tem mais ninguém.

— Você podia ir pra universidade e ficar com Fabiana.

— E não me formar no ensino médio. Ótima ideia! Meus pais inclusive vão adorar. – respirei fundo. – Não adianta Kevin, não tem outra saída.

— Você não me parece tão insatisfeita. – me julgou. – Gosta dele. Gosta de estar com ele.

— Sim. E já disse isso ao Arthur. – me olhou ainda mais indignado.

— Eu não namoraria você nunca!

— A começar por eu ser mulher. – ficamos em silêncio. – Kevin... Tem coisas que é difícil dizer em voz alta. Uma delas é que eu preciso de ajuda. Minha médica acha que eu vou progredir fazendo isso, então eu tenho que tentar.

— Você anda instável desde que você regrediu. Em alguns momentos eu mal te reconheço. A Alice que eu conheço não machucaria quem ama dessa forma. Sabe o quanto vai doer nele ver vocês dois juntos?

— Não consegue entender que agora desde que esse pesadelo começou, é o único dia em que há esperanças? Eu não reagi bem ao tratamento. Então essa foi a solução que ela encontrou.

— Diz pra mim como você se sente Alice. Em relação a sua regressão.

— Sem esperança, impotente. Mas principalmente sinto que é meu destino... Eu posso nunca mais ter emoções. Entende isso? – sem que eu o pedisse ele me abraçou.

— Tudo bem. – deu um suspiro triste. – Se isso for uma cura pra você, que passe vinte e quatro horas com aquele imbecil. Vou cuidar do Arthur. Mas Alice... – se separou de mim e me olhou. – Só vou poder fazer isso essas duas primeiras semanas. O resto vai ter que ser com Rafael.

— Por quê? – minha testa com certeza estava enrugada.

— Não é nada certo, é algo que eu ainda estou cogitando.

— E pra isso terá que sair de Torres? – concordou. – E o seu namoro?

— Temos que dar um jeito de passar por isso. E já tive provas suficientes que nosso relacionamento sobrevive a qualquer coisa. Não importa o que aconteça.

— Que romântico e profundo! – abri os olhos em espanto.

— Então... É o que eu tenho que fazer não importa o quanto ele peça o contrário. Sei que vai ser difícil. Mas fazemos escolhas difíceis não é mesmo? – deu um sorriso compreensivo me mostrando que havia me entendido. E o que eu amava nele era isso, no fim ele sempre me entendia.

Juntamo-nos ao pessoal novamente e pouco tempo depois Rafael chegou a mim na área da piscina onde estávamos e aproveitou que eu estava sozinha. Ele queria desabafar e fazer perguntas.

— O Kevin está me traindo. – o olhei sem acreditar em sua afirmação. – É verdade. Ele tá estranho. Eu o conheço. Ele fica o tempo todo no celular. E ele se assusta quando eu chego perto e tá com um comportamento totalmente bizarro. Eu já até sei quem é. E foi de ontem pra hoje. Ele me deixou em casa e se encontrou com ele.

— Meu Deus. Você é inacreditável Rafael.

— Ele ficou o dia inteiro no celular. Ele tá se afastando de mim. Ele mal conversou comigo hoje. Sou esperto Alice.

— Você é doido isso sim. – minha expressão era hilária.

— É o Danilo. E não vai demorar pra ele terminar. É por isso que ainda não o confrontei. Porque sei que vai ser o fim.

— Você ainda tá frequentando a terapia?

— Vou ir até a casa daquele filho da puta. – se levantou. Eu o puxei de volta.

— Ele não está te traindo seu louco. – ficou me olhando esperando respostas. – Também não sei o que está acontecendo, mas ele não tá te traindo. Ele acabou de me falar o quanto vocês vão ficar juntos não importa o que aconteça.

— Sim. Com ele me traindo.

— O que tá acontecendo? – Arthur chegou e se sentou ao meu lado.

— Seu melhor amigo é paranoico.

— Kevin tá evitando ele. – ele fez sinal para o irmão. – Por que você tá evitando seu namorado?

— Não estou evitando. – Rafael ficou calado. E eu pensei que ele iria soltar as paranoias dele de uma só vez. Parecia que Arthur e Kevin estavam conversando por olhares. – Toma, revira meu celular. – o entregou o aparelho.

— Você já apagou.

— Fica com ele até a noite, uma hora vai aparecer alguma coisa, não?

— Tá bloqueado!

— Vê a lista de bloqueados.

— Se não tem nada por que você não sai desse celular?

— Tem que ter um motivo?

— Se vocês dois vão fazer uma cena, eu acho melhor esperar um pouco, porque alguém que iria se aproveitar muito disso acabou de chegar. – olhamos Diana entrando com Danilo.

— Quem convidou esses dois? – Rafael perguntou bastante estressado.

— Eles sempre vieram sem ser convidados. Não é novidade. E eu não sei nem o motivo de terem se tocado e parado de vim. Porém essa felicidade não podia ser eterna.

Os irmãos foram chegando mais perto e o fato de Danilo e Kevin trocarem apenas um olhar foi o suficiente para o loiro surtar.

— Tá aí o motivo de você não precisar mais do celular né? – o loiro o alfinetou. – Estou indo embora. – saiu como um vulto.

— Tenha paciência com ele. – Arthur pediu de forma carinhosa.

— Danilo sabe que eu estou confuso e tá brincando comigo. Eu vou socar a cara dele, vamos ver se ele não vai dizer alguma coisa.

— Por que você se importa tanto? – perguntei reflexiva. – Talvez Rafael não esteja tão louco assim.

— É, eu iria querer bater no cara que eu estou afim. E eu iria me importar tanto com meu namorado se eu tivesse afim de outra pessoa. Faz muito sentido Alice. Só na sua cabeça.

— Olá Kevinho. Sinto tanto a falta do nosso namoro. – a louca falou sorrindo para o Kevin.

— E eu não sinto nem um pouco. – ele iria sair e Danilo o parou.

— Vim porque preciso falar com você.

— Vai me dar respostas?

— Não. É sobre o seu pai.

— Já sei. Ele te procurou. – eles se olharam. – Você teria que fazer algo terrível contra mim, mas invés disso me procurou. Sabe que isso é muito estranho né?

— Eu devia trair sua confiança?

— Você já fez isso uma vez, lembra? Quando eu te peguei no bar.

— Eu deixei que você me pegasse. Qual é Kevin, não sou tão burro. E se eu fosse você escutava o que eu tenho a dizer.

— Ele não pode. – meu namorado respondeu pelo irmão. – Diz pra mim. Já você sabe onde deve ir né? – Kevin assentiu e se foi.

— Ele vai usar a mãe dele contra ele. Se Kevin quiser os detalhes mande ele me procurar. – o garoto não permaneceu mais ali.

— Isso foi estranho. – comentei baixinho.

— Qual seria a participação do Danilo nisso? Ele não disse nada. – Arthur resmungou. – Se eu disser o que eu estou pensando sobre esses dois... – suspirou. Depois me olhou. – Vamos ir levar as meninas daqui a pouco, tá?

O sorriso que eu dei a ele após aquela fala foi o único durante todo o dia. Ao sairmos da rodoviária ele me deixou em casa e minha mãe pediu para conversarem. Deixei os dois lá embaixo e fui tomar banho. Assim que acabei eu o vi me esperando em minha cama.

— Vou deixar você se vestir. – saiu sem que eu dissesse nada.

— Pode voltar. – o chamei da porta e ele entrou me abraçando. Não entendi a sua atitude, mas claro, a nova Alice não entendia muita coisa quando se tratava das emoções das pessoas.

— Promete que não vai mudar nada entre a gente. – pediu ao se afastar.

— Ah. – entendi sua preocupação. – Pensei que estaria com raiva.

— Não posso. Sei que precisa disso. Só... Não faça com que eu me sinta muito inseguro.

— E como eu faria isso?

— Se divertindo demais ao lado dele e demonstrando o quanto amou a ideia da sua médica.

— Eu não amei Arthur. Acha mesmo que eu quero me aproximar de alguém só porque isso pode melhorar uma condição médica que eu tenho?

— A gente se vê amanhã. Vou ir pra casa. – achei melhor não insistir para que ele ficasse. Sabia o quanto isso tudo iria afeta-lo.

Conforme a semana foi passando os meus encontros com Orlando foram subindo de níveis. Primeiro nós apenas nos encontrávamos na saída da minha aula, depois ele passou o fim de tarde lá em casa e nos outros dias que vieram praticamente todo o tempo livre estávamos juntos.

 Sábado. Conversava com ele no celular por ligação quando cheguei à casa dos meus avós. Assim que coloquei os pés na entrada pude ver o olhar de Arthur pra mim da sala. E não era nada bom. Não que eu realmente estivesse preocupada. Isso não me afligia muito.

— Que roupa é essa? – perguntou vindo em minha direção. Meu pai que iria para a copa parou no mesmo instante em que ouviu a pergunta.

— Hum... – me olhei. – Eu acho que é um vestido de seda verde. Ou estou enganada?

— O único debochado aqui sou eu. – Kevin se intrometeu.

— Um vestido que mais parece uma camisola e você nunca usou isso.

— É novo. – minha mãe falou o olhando assustada. – Ela comprou ontem. Pra combinar com o anel de esmeralda que o pai dela deu a ela. Pode ser exagerado pra um sábado a tarde, mas Alice quando compra uma roupa quer usar logo. Puxou a mim.

— Por que você deu um anel de esmeralda a ela? – encarou meu pai.

— Porque ela é minha filha e eu quis. Você tá passando bem Arthur?

— Se os dois começarem a brigar sai da frente todo mundo que eu quero a primeira fila. – Ryan quase sussurrou fazendo os meninos rirem.

— Só achei que havia acontecido alguma coisa e fosse uma recompensa, algo do tipo. É que eu não ando sabendo de muita coisa.

— Lide com essa situação como um homem. E se ela quiser andar nua ela vai andar, pare de questionar o que ela veste. Você lembra uma promessa que me fez quando te peguei gritando em minha casa né? Não precisava estar te expondo desse jeito, mas não trate Alice como objeto. Se não quem vai acabar com esse namoro sou eu.

— Eu não queria ter o Vinicius como sogro. – Kevin comentou assim que meu pai saiu. Todos o olharam. Rafael ficou inquieto.

— Não queria e já teve. Contraditório.

— Ele não sabia. Assim foi fácil. – sorriu.

— Ele tá com ótimo humor hoje, o que está acontecendo? – perguntei bastante intrigada.

— Passou na prova mais difícil que ele poderia passar na vida dele. – Rafael me respondeu. – Vai começar a fazer medicina no final do mês.

— QUE? – gritei e pulei em cima do Kevin. – Você não me contou nada.

— Contei. Eu disse que talvez eu não iria estar em Torres após as próximas semanas.

— Isso não é contar Kevin. Ser enigmático tem limite.

— Ela ficou feliz mesmo sem sentir nada? – Sophia questionou nos olhando.

— Ela não tá feliz. Ela só sabe que é algo que eu queria muito. E enquanto eu estudava e fazia minha inscrição eu tinha que ouvir que estava sendo infiel. – ele olhou o namorado.

— Se você fosse transparente isso não teria acontecido.

— Não gosto de dizer as coisas enquanto elas estão incertas, é o meu jeito.

— E eu gosto de saber de tudo, é o meu jeito. – eles ficaram se olhando.

— Falando em estudar... Lembrei que nossas aulas voltaram, já é agosto e... Nasceria meu sobrinho. – Lari comentou entristecida.

— Tinha que lembrar isso? Fatos tristes não são relevantes. – o namorado dela chamou sua atenção.

— Ah Alê é que eu sinto falta de esperar um neném. – ela se explicou.

— Quem esperava era eu. E vamos mudar de assunto. – vi que Yuri entrelaçou as suas mãos com as de Soph. Olhei pra Kevin e o olhar dele me confirmava que realmente havia algo ali, nem que seja pelo menos um clima.

— Então vamos falar de coisa boa. É o mês do aniversário do mais gostoso da cidade. – as meninas ficaram olhando para Ryan com desprezo. – Vocês sabem que eu estou com razão.

— E o que você vai fazer?

— Nada. Minha mãe ainda tá bem brava comigo... Provavelmente ela nem me deixará ter uma festa descente.

— Pior é o meu que é mês que vem e passarei sem meu irmão e sem a minha namorada.

— Por que sem sua namorada? – tentei não olha-lo.

— Porque você tem outras prioridades, esqueceu?

— Tá sendo infantil Arthur. – reclamei.

— É? E cadê ele? Tá vindo?

— Sim. Eu o chamei. Será melhor se ele se habituar a estar com todo mundo. – todos ficaram em silêncio. – Estão agindo como se eu tivesse traindo o Arthur. – olhei cada um.

— Você tá doida.

— Meu irmão era a única coisa que me ajudava a manter o equilíbrio e eu o perdi. Então eu devo estar mesmo.

— O Murilo morreu? – encarei Alexandre com raiva.

— Não, mas ele se afastou. Vão negar isso?

— Kevin se você for estudar na capital e se afastar a gente te busca amarrado.

— Vocês são muito carentes para que eu faça isso.

Após a resposta de Kevin chamaram na porta e eu sabia que era Orlando. Dei uma olhada em Arthur e vi que ele estava tenso e com raiva. Infelizmente essa situação era mais chata do que parecia que seria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se tudo der certo amanhã tem post ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor Perfeito XIV" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.