Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 61
Brigas


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥
Perdão pela demora, foi apenas por falta de internet.
*foto citada no capítulo.



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Murilo Narrando

Mesmo que a minha segunda feira tivesse sido maravilhosa, a terça não começou tão boa assim. Acordei atrasado e o dia foi um efeito dominó. Quando era fim de tarde e cheguei em casa, estava cansado.

— Paty tá aqui. – Audrey falou animada. – Vamos ir a uma feira de tatuagens, quer vim com a gente? – pensei um pouco.

— Estou cansado. – fiz bico. – Se você fizer um café forte pra mim quem sabe eu animo. - ela riu indo pra cozinha. – Do que se trata essa feira?

— É uma exposição de tatuadores. Sempre são os mais famosos. Os melhores. É ótimo pra quem pretende fazer algo e ainda não sabe o que ou fazer um combo. – Paty explicou. – Eu só quero fazer um coraçãozinho.

— E vai perder tempo indo lá por causa de um coraçãozinho?

— Não é só pra isso. Vou passear, ver gente e comer. Também tem lanches ótimos. E só acontece uma vez por ano, não posso deixar de ir.

— Você me convenceu pela parte da comida. – sorri e ela riu. Tomei um banho e me arrumei em um tempo rápido demais se tratando de mim que costumava demorar bastante. Tomei o café e fui com elas. Adam poderia ter ido com a gente, mas ele havia sumido. Certamente estava com algum “amigo” ou tentando chegar a isso.

Acabei fazendo seis tatuagens. Saímos de lá ao fechar. Primeiro eu quis fazer uma pequena no peito, mas como eu fiquei vendo as obras do tatuador, acabei optando por uma dele e criando outras quatro. As duas do braço foram as maiores.

— Agora conta, o que significam as suas tatuagens? – olhei Patrícia.

— Nada. – ela não ficou satisfeita com a resposta.

— O relógio... – a interrompi.

— O relógio com rosas é apenas um relógio com rosas.

— Mas ele marca uma hora. E eu vi quando você pediu a hora.

— É a hora de nascimento da minha irmã. – contei e ela não pareceu acreditar. – Vou pedir a ela uma foto da certidão de nascimento. – ela se convenceu e comentou o quanto admirava a proximidade que eu tinha com Alice.

— É criação. Nossos pais nos criaram assim. Pra sermos sempre unidos.

— Lá em casa fomos criados... Ah, nem quero falar disso. – ela parou com o assunto.

— E o caduceu? – dessa vez foi Audrey. – Ele é um símbolo usado por profissões, principalmente medicina. O que isso tem a ver com você?

— Equilíbrio. O globo dourado do Caduceu representa a luz equilibrada. As duas serpentes, dispostas em lados opostos configuram forças contrárias, que podem se associar, mas nunca se confundirem. E as asas complementam a ideia.

— Interessante. E a data em romano no seu peito, o aniversário da sua irmã?

— Vocês são chatas hein?

— Somos curiosas. Quase toda mulher é, já devia estar acostumado se ama tanto sua irmã assim.

— Não. Não é o aniversário da minha irmã. Foi o dia em que eu dei a minha primeira crise.

— Por que você quis deixar registrado algo tão ruim? – Paty franziu a testa sem conseguir compreender.

— Foi a partir desse momento que tudo mudou em minha vida. Eu nunca precisei lutar tanto contra alguma coisa. Na verdade eu nunca precisei lutar por nada nem contra nada. – dei de ombros. – É importante pra mim.

— Tá. – ela concordou mesmo sem entender. – E o símbolo e a escrita acima do relógio?

— Os símbolos significam Deus é maior que altos e baixos. Também fiz pensando em tudo que passei e passo. As escritas eu não vou falar o que significa. Se eu quisesse que soubessem teria escrito na sua ou na minha língua. – ela arregalou os olhos. – Não estou sendo grosso, só não quero que me pergunte de novo.

— Está em grego, mas eu conheço alguns símbolos e já fiz a tradução para o latim... São três citações. – a inteligente da Audrey disse e colocou a mão na boca. – Desculpa. Falei sem querer. É porque eu estava tentando traduzir desde que você fez. Por que você fez citações de outra língua em grego?

— Porque eu quis.

— Não fez muito sentido. De um modo geral.

— Não faz mesmo. Só pra mim. – chegamos em casa.

— Obrigada pela companhia, pelas risadas, pelas fotos... – Paty disse nos olhando e me encarou. – Apesar de você ser chato e sair com cara de poucos amigos.

— Eu estava com plástico no meu braço e tirei só pra tirar a foto, você é uma ingrata, sabia?

— Amo quando você faz essa cara de inconformado. – estreitei os olhos.

— A inconformada aqui é você, sempre tá inconformada comigo. – ela deu um sorrisinho sem graça e depois se despediu.

— É Murilo... À l’impossible nul n’est tenu. – fiquei olhando pra Audrey tentando entende-la. – É um ditado francês.

— A tradução exata seria “ao impossível, ninguém está ligado”? Não entendi.

— Significa que ninguém pode dar aquilo que não tem. Você não pode dar a Patrícia o sentimento que não tem. Não a deixe pensar que pode.

— Se não está mais que claro pra ela isso eu não sei como fazer.

— Agora me explica as citações. – se sentou no braço do sofá. – “O amor vai nos despedaçar” em grego, MAS “Dum Spiro, Spero” que significa "enquanto eu respirar, eu espero". E “Umbra ex in Solem" que é uma citação que diz "Das trevas para a luz / Da sombra para o sol". Nada nessa tatuagem faz sentido.

— O amor vai nos despedaçar é parte de uma música. E parabéns, você traduz grego muito bem. – a encarei com raiva. – A palavra “mas” está em maiúsculo porque traz a ideia de força e superioridade. A citação é do político romano, escritor e filósofo Marcus Cícero, pode ter muitos pontos de vista, mas pra mim significa que mesmo despedaçado eu vou esperar pelo amor e por fim essa última citação é a mais importante. Tem um significado íntimo e especial pra mim. Você não entenderia.

— Tem algo a ver com o seu transtorno? – sua voz saiu baixa e receosa.

— Não. – sorri pequeno. – Sabe o meu primo e ex namorado? – ela concordou. – Sempre vi nele alguma coisa que ninguém via. Isso era por que ele insistia em viver nas trevas. De alguma forma eu o convenci a ir pra luz. – ficamos nos olhando.

— Então tudo é sobre ele.

— Não. – neguei veementemente. – Não quis dizer que eu vou esperar pelo amor dele.

— Então por que a última citação é sobre ele?

— Porque foi muito marcante pra mim. Eu o estava ajudando apenas pra tentar me distrair dos meus próprios dramas e problemas e... Do nada ele reluziu tanto que... Fez com que tudo acontecesse entre a gente.

— Por que não diz a ele que ainda o ama Murilo? – abaixei a cabeça.

— Ele já sabe. – suspirei. – Um dia eu ainda vou superar. Tá tudo bem.

— Olá queridos. – Adam entrou e parecia bem animado. – Quero contar a experiência sexual mais intensa que eu tive... – me levantei.

— Não sou obrigado. Mesmo. Fica com esse castigo Audrey. – fui dormir.

— Murilo na sexta nós vamos mesmo ao aniversário do irmão da Paty? – olhei pra Audrey.

— Ainda é terça feira de manhã. Acabei de levantar. Estamos indo pra aula. E é a segunda vez que você fala desse aniversário. Você tá interessada no irmão dela? – ela se levantou e foi para o quarto.

— Você vacilou feio. – Adam falou e riu. – Audrey odeia que brinca com a fidelidade dela.

— Por que ela tá tão entusiasmada com esse aniversário?

— Não tá entusiasmada. Ela só quer saber se você vai.

Fiquei mal por ela ter ficado daquele jeito e com certeza eu me desculparia. E era certeza também que eu iria nessa festa, ainda mais agora depois de toda essa indisposição.

Alice Narrando

Era fim de tarde do primeiro dia da viagem e eu estava amando tudo. Combinamos de ir ao centro da cidade, bater perna, comermos e comprarmos algumas coisas. Tio Gu e a tia Tamy foram com a gente e isso não impedia nada de nos divertirmos. Após acabar de tomar o meu sorvete percebi Kevin encostado em seu carro, cheguei perto dele e ele me olhou.

— Cadê o Rafael? – observei o pessoal procurando o loiro.

— Adivinha? – revirou os olhos. – Fumando. O que ele não pode fumar em público. – fiz uma “ah” sútil.

— Como você aguenta? – quase ri.

— Eu não aguento. Ele quase não faz isso. Na cabeça dele ele tá de férias... – deu de ombros. – Não enchi o saco porque ele anda tão bonitinho responsável. – me olhou sorrindo.

— Diferente do meu irmão. – reclamei. – Desculpa comparar o Rafael com ele. Não tem nada a ver fazer isso.

— Tudo bem. – nos olhamos. – Falando nele... Se fosse ele no lugar do Rafa... Aí sim eu estaria passando raiva. – rimos juntos.

— Sem dúvida. Mas acho que por você ele mudaria. – o loiro chegou me deixando sem graça.

— O que estão falando? – perguntou antes de se encostar ao lado do namorado.

— Nada. – Kevin respondeu rapidamente. – Não gosto nada desse cheiro.

— Será que é por que te lembra alguém? – eles se olharam. – Relaxa. Se for tá tranquilo. Ruim seria se você gostasse por esse mesmo motivo. – mordeu a bochecha dele.

— Para. – tirei os braços de Arthur que havia se aproximado da gente e me abraçou por trás, agarrando minha cintura.

— Que isso? – me olhou estranhando minha reação.

— Só não gosto que você me abrace assim.

— E precisa falar comigo desse jeito? – não gostou nada e saiu com raiva.

— O que foi? – Kevin estreitou os olhos me analisando.

— Realmente não gosto que ele me abrace daquela forma.

— Tá, mas não é só isso.

— Uma garota estava olhando o tempo todo pra ele enquanto estávamos lá e isso pode ter me deixado mais impaciente. – peguei meu celular nervosa. – E o Murilo não para de me ligar, já ligou duas vezes!

— Vai cuidar do seu irmão que eu cuido do meu. – ele olhou em meus olhos antes de ir e foi conversar com Arthur que estava bem chateado após nossa quase discussão.

Era incrível a conexão de irmãos que eu e Murilo tínhamos. Ele estava preocupado porque sentiu que eu não estava bem. E eu não estava mesmo. Mas não deixei que ele soubesse disso. Seria pior.

Na hora de irmos embora Arthur foi comprar bebidas com Kevin para levarem pra casa, isso me fez ficar mais nervosa ainda. Tentava me entender nesse momento... Fazia sentido as minhas reações, já que eu passei por um período não me importando com nada, agora tudo me afetava em proporções gigantescas. E eu odiava muito isso.

Um tempinho depois que chegamos todos estavam reunidos na parte de trás da casa, debaixo de um alpendre de madeira e na área da piscina. Se espalharam nos confortáveis estofados e bebiam a bebida que pelo visto foi comprada gelada.

— O Arthur pegou o Rafael e saiu. – Kevin me avisou assim que cheguei.

— Por quê? – olhei em seus olhos. – Pra beber? Não é né?

— Pra fugir, eu acho.

— Tá se desesperando. – balancei a cabeça negativamente.

— Faz o que é o melhor, conversa com ele.

— Por que eu tenho que fazer isso Kevin? Tenho direito de ficar com raiva.

— Ele tá agindo de maneira insana agora. Não sei você, mas eu tenho medo do que ele possa fazer. – sua voz era incisiva.

— Ele já provou que o amor dele por mim não morre nunca. – conclui confiante.

— E por isso você faz o que quer dele? Não estou preocupado pelo namoro de vocês e sim pelo que ele pode fazer a ele mesmo. Agora você está sendo egoísta Alice. – o olhei por um tempo.

— Tá usando essa palavra por que sabe que o meu pai já disse isso e que me magoa!

— Magoada ou não você tem que me ouvir. Eu conheço o meu irmão melhor do que qualquer um e não faço ideia de até aonde ele vai com tudo isso, então se você o ama eu sugiro que ligue pra ele. – se virou e se juntou novamente a todos. Ser ameaçada por Kevin não era algo muito agradável, então sim, eu liguei.

— Não sei o motivo de querer conversar agora, mas eu não acho que seja o melhor a se fazer. – Arthur falou assim que chegou.

— Quero me desculpar. – ele ficou me olhando.

— Só isso? – ele não imaginava o quanto era difícil estar dizendo aquilo. – Vou ir dormir.

— Por que você está sendo tão duro?

— Porque se eu não for vai ser pior da próxima vez. Tenho que te ensinar que você não pode me tratar como um lixo Alice. Você saber que eu te amo e que eu faço tudo por você te deu a liberdade de agir de qualquer jeito comigo. Eu estou sendo duro porque se eu deixar passar agora amanhã vou ser profundamente ferido e eu sei como é ser ferido por você. – não tiramos os olhos um do outro. – Não é nada legal. – ele se virou pra subir e eu sorri mesmo que ele não visse.

— Obrigada. – me olhou sem entender. – Por me fazer ser melhor mesmo quando eu estou nessa oscilação de emoções devido ao meu problema. Sentir nada e sentir demais tá sendo corriqueiro pra mim e a médica disse que vai ser assim até sumir minhas emoções por completo. – desviei o olhar. – Fiquei com ciúme e depois com raiva e então você me pegou daquela forma... Imediatamente me lembrou do Arthur que eu não gosto. Aquele que ficou com a garota da faculdade, aquele que eu pouco conheço.

— Não te peguei desse jeito. Mas se você quer que eu te trate como se você fosse se quebrar...  – deu de ombros. – Por mim tudo bem. Não faz muita diferença.

— É isso que eu não gosto na gente. Essa coisa mal resolvida.

— Não está mal resolvido. Eu te entendo e te aceito do jeito que você é. Nunca reclamei de nada. Só não me faz ser quem eu não sou. Sempre fui assim. Agora eu não posso te puxar e apertar sua cintura? Sério?

— Só não quero que as coisas saiam do controle.

— Não confia em si mesma?

— Perto de você não.

— Vem cá. – me aproximei e ele me beijou. – Não fala mais comigo daquele jeito, por favor. – pediu baixinho de uma forma tão mansa que deu vontade de mordê-lo inteiro.

— Tá bom. Desculpa de novo. – suspirei pesadamente.

— Não tive a intenção de te desrespeitar. Perdão. – desviei o olhar. – Olha pra mim. – o olhei. – Você precisa entender que eu não vou ser aquele Arthur novamente.

— Estou tentando. Não é muito fácil. Vamos subir, estou cansada.

— Tudo bem. Amanhã promete que não vamos brigar? – sorri concordando. Só que eu não sabia se seria assim tão simples. Eu estava uma bomba. E explodindo por qualquer motivo.

No outro dia a coisa mais linda aconteceu. Kevin deu a Rafael uma aliança de compromisso e da forma mais fofa do mundo. Eu acho difícil alguém conseguir superar isso. Mas mesmo assim, mesmo com todo esse romance e esse amor, eles discutiram.

— Ele simplesmente implicou com uma foto que eu tirei e postei e foi pra um lado totalmente desnecessário... – Kevin desabafava comigo. – Disse que não entendia o motivo de eu ainda ter Murilo em minhas redes sociais e de segui-lo.

— E você? – perguntei preocupada.

— Já o parei. Não Alice. Ele tem que entender que Murilo é meu primo. Eu já apaguei o número dele que é uma coisa mais pessoal. Isso eu não vou fazer. Não tenho um contato direto com ele, o que tem a ver eu saber da vida dele e ele da minha? – tentei não sorrir. – Você não está me levando a sério. Sua expressão diz tudo.

— Se eu não levar na brincadeira eu vou problematizar, então é melhor rir. – dei uma risada.

— Por que tá dizendo isso? – franziu a testa.

— Não entendo Kevin. Se fosse só curiosidade você poderia saber da vida dele através de mim, através do meu celular... Tem mais coisa aí...

— Não tem. – respirou fundo e vi que aquilo realmente o incomodava.

— Tá. Não vou insistir nisso. E como Rafael ficou?

— Ele se deu por vencido. Mas sei que vai voltar a falar disso qualquer dia.

— Não vai. Se você deu a palavra final não tem o que ele dizer.

— Assim espero. – finalizamos aquele assunto e fomos almoçar. Eu ficava triste por ele não conseguir enxergar que se apegava a alguma coisa do meu irmão pra não tira-lo totalmente da vida dele. Eu fiz isso com Arthur quando terminei. E por isso o entendia tão bem. Mas... Não era algo fácil de entender, muito menos expressar quando se entendia. Eu só podia esperar pela felicidade de Kevin seja com quem fosse. E depois da manhã fascinante de hoje eu até torcia para ser mesmo com Rafa.


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Notas finais do capítulo

Provavelmente até amanhã ou segunda ♥



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