Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 60
Amor transcendental


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥
*foto citada no capítulo.



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Alice Narrando

Nada foi dito. Não precisava. Depois de decidir que Arthur seria novamente o meu namorado, ele e eu ficamos em seu quarto, perdidos um no olhar do outro, tentando de alguma forma resgatar todo o tempo que passamos separados. Era como estar em casa após uma viagem longa para um lugar bem distante.

No outro dia de manhã eu ainda ouvi sermão da minha mãe sobre como eu deveria dar satisfações e não deixa-los preocupados. Resolvi logo cedo já contar o que havia acontecido.

— Mãe, pai... – os olhei. – Eu e Arthur voltamos. – tentei focar na reação deles. Minha mãe parecia pensativa, já o meu pai não estava nada surpreso.

— Isso iria acontecer uma hora ou outra. – ele comentou como se tivesse uma bola de cristal. – Agora tente não terminar o seu relacionamento por qualquer dificuldade que apareça.

— Já vêm vocês. – me levantei e fui pra aula. Lá o assunto era sobre Sophia ter faltado. Lari disse que ela passou mal e todos achavam que o bebê já estava pra nascer. O que era um enorme exagero, ela não tinha nem seis meses de gestação.

Quando sai da escola Arthur me esperava na porta. Sorri ao vê-lo. Todos estranharam. Rapidamente nos abraçamos e nos beijamos. Pelo menos pra eles não foi preciso contar nada.

— Almoça comigo? – o olhei após sua proposta.

— Tenho que avisar minha mãe que inclusive deve estar vindo me buscar.

— Se ela for brigar deixa pra lá, não quero irrita-la. – ri do seu medo.

— Relaxa. – liguei pra ela e mesmo que ela tenha ficado irritada por voltar quase chegando à escola, ela não brigou comigo.

— Kevin vai ir com Sophia comprar roupas agora na hora do almoço. – o olhei estranhando.

— Como assim? – franzi a testa.

— Ela o chamou. É algo do tipo que gays entendem de moda.

— Não. O Kevin não entende nada de moda. Ele é mais básico que você.

— Por que você tá com raiva? – deu uma leve risada.

— Eu não estou com raiva.

— Tá sim. – me olhou. – Tá com ciúme do Kevin?

— Só não entendi ela ter chamado logo ele.

— Ela tá com ciuminho. – apertou meu rosto. – Relaxa. Ele nunca vai ama-la como ama você. – revirei os olhos.

— Dá pra parar de papinho e andar mais rápido? Precisamos almoçar logo pra você voltar para o trabalho.

— Então... – respirou fundo. – A gente ainda não conversou... – baixei o rosto.

— Se eu parar pra pensar nisso eu não fico com você. – desabafei.

— É o que eu imaginei.

— Eu não quero alguém ao meu lado semelhante ao Caleb. E você sabe muito bem disso.

— Você não vai ter. – pegou minha mão e beijou. – Vou fazer o que é necessário. – o olhei sem acreditar.

— Não vai ser preciso que eu te diga nada? – ele sorriu.

— Não. Não vai.  

— Nossa. Eu já me vi chorando, implorando e sofrendo.

— E mesmo assim você voltou pra mim. – nos olhamos.

— Sou boba. – dei de ombros.

— Você é perfeita. – veio me beijar após estacionar e custamos a sair do carro... Aliás, enrolamos em praticamente tudo naquele momento. Ele se atrasou muito e pareceu não ligar pra isso.

Aquele dia nós dois não nos vimos mais, ele mandou mensagem dizendo que trabalharia dobrado para poder deixar pelo menos o que ele estava fazendo pronto. Coisas que eu nem queria saber e evitava o assunto.

Quinta feira. Minha pequena bagagem para a nossa viagem já estava totalmente pronta. O assunto na escola era só esse. Por Soph ser prioridade entre a gente, ficou acertado que os adultos que iriam nos acompanhar eram os pais dela. Eu curti e acho que todo mundo também. A tia Tamy era de boa e o tio Gu era bem mais tranquilo até mesmo que o meu pai.

— Vamos ir jantar na casa da sua vó. Vai se arrumar. – minha mãe avisou da porta do meu quarto.

— Por que isso? Hoje é quinta. – resmunguei com preguiça.

— Temos que acertar tudo sobre essa viagem. Todos os pais, primos e amigos vão estar presentes. Vocês não são independentes.

— Você que acha. – dei uma risada a irritando.

— Alice vai tomar banho!

Parei de provoca-la e fui. Minha mãe estava muito preocupada pela viagem. Ela imaginava um acidente na estrada ou um afogamento quando chegássemos. Por ela com certeza ela mesma iria, mas o meu pai a convenceu que eles precisavam me deixar longe deles um pouquinho. Às vezes meu pai era um santo.

— Se divertiram muito hoje? – abordei Kevin e Sophia assim que cheguei.

— Sim. Foi hilário. Você viu a foto que Larissa tirou do Kevin? – ela respondeu e riu.

— Aquilo lá reflete bem o meu humor. Eu tive que trocar de roupa, sair no meu horário de almoço e ainda te aguentar. Não Sophia, isso nunca mais vai se repetir. – enquanto ele reclamava ela ria. – Por que não chamou o Ryan, Alexandre ou o Yuri que é pai dessa criança?

— Eu não estava comprando roupa para o bebê. Era pra mim. E eu queria a sua opinião. Admite que foi divertido. Tá com medo da Alice achar ruim? – ela ficou me olhando. – A cara dela não está das melhores.

— Por que ela acharia ruim? – Kevin passou os olhos entre ela e eu.

— Quem não sabe que a Alice é ciumenta?! Você é o brinquedinho dela que ninguém pode pegar.

— Meu namorado não é brinquedo de ninguém garota. – Rafael reclamou se juntando a gente. – Só se for meu. – se sentou no colo dele.

— Sai. – a mãe do Kevin exigiu. – Respeitem as pessoas e principalmente Mark e Isadora. – os encarou com seriedade. – E não é por serem vocês.

 - Até parece. – Kevin reclamou.

— Gente o jantar já está saindo. – ouvimos a voz da mais velha gritando da copa.

— Sua mãe está te chamando. – meu pai apareceu e estava bem sério. – Ah, nem precisa ir. Ela já vem.

— Por que você não me contou? – ela cruzou os braços acima do peito e quase bufava.

— Raíssa ela não tem nada a ver com isso. – ele me defendeu e eu ainda nem sabia do que se tratava.

— Isso. – ela me mostrou a foto em seu celular.

— O que? – abri a boca em espanto.

— Você não sabia? – a olhei.

— Lógico que não sabia mãe. – ela pegou o aparelho de volta.

— Eu vou ligar pra ele. Amanhã ele vem embora se é assim que ele pretende viver por lá.

— Assim como mãe? – franzi a testa.

— Sem dar satisfações. Ele devia questionar a mim e ao seu pai antes. Você fez isso também né? Eu jurava que era influência sua.

— Eu tenho culpa agora. – apontei pra mim. – Mãe deixa o Murilo em paz!

— E por que ele cortou o cabelo assim? Quem corta o cabelo desse jeito?

— Deve ser moda lá. – dei de ombros.

— Ele tá em Paris Alice. Onde as pessoas são elegantes e não cortam o cabelo desse jeito.

— Já tem um tempinho mãe, ele me falou que vai deixar crescer e pentear do jeito que você gosta. – a acalmei.

— Aí tá vendo? Você sabe de tudo! - olhou para o meu pai após sua fala. - E você ligue para o Gardan e cancele a compra do carro pra ele. Isso não vai acontecer! – ela saiu com raiva.

— Você não está bravo com ele? – olhei meu pai.

— Estou. Mas você viu como ela está descontrolada, se eu perder o equilíbrio vou só piorar a situação. – minha mãe voltou e todos ficaram olhando esperando a continuação do show.

— E quem é essa garota que ele tá postando foto com ela? Ele tá namorando é isso? Ele voltou a ficar com... – meu pai parou em sua frente e a segurou.

— Para. Se você não quer que eu seja grosso com você para agora. – todos se assustaram.

— Eu nunca vou entendê-lo. – acho que ela falou isso só pra não se calar diante do meu pai na frente de todos.

— Ele não precisa que você o entenda. – estremeci com seu tom de voz. – Se ela é namorada dele ou não você vai saber quando ele quiser que saiba. E quanto ao que ele fez eu vou conversar com ele. Agora vê se tenta se acalmar, tá parecendo uma maníaca.

Quando ele saiu vi que as lágrimas brilhavam nos seus olhos da minha mãe. O meu pai sabia como magoar alguém. Levantei e fui até ela a abraçando.

— Ele não entende o que é ser mãe. Envolve muito mais preocupação que com um pai.

— Eu sei mãe. – a olhei. – Mas o Murilo tá bem. A gente conversa direto. Ele... Agiu sem pensar, ele não é assim.

— Vou ir ligar pra ele. – ela saiu deixando a impressão que eu não consegui acalma-la.

— O que o seu irmão fez? – a curiosa da Sophia perguntou sem esperar nem um segundo.

— Uma tatuagem no antebraço. – reviraram os olhos. – Mas é grande igual a minha.

— Sua mãe é dramática demais! Cruzes.

— Ela vive em que século?

— Gente a questão não é essa. – passei a mão no rosto. – Ele tá em outro País. Sozinho. E... Não é mais aquele Murilo que a gente conhecia. Ela tá assim porque tem medo dele tá fazendo essas coisas por algum tipo de desorientação.

— Desorientado ele sempre foi. – Yuri falou e riu.

— Oi. – Arthur finalmente chegou. Ele me deu um beijo e percebeu rápido que havia algo errado. – O que foi?

— Você perdeu o espetáculo da sua sogra. – Soph contou. – O filhinho dela fez uma tatuagem e ela quase morreu.

— Alice ele não fez uma tatuagem. – ela me olhou com seu celular na mão. – Ele fez um monte. – arregalou os olhos. – Sua mãe tá certa. Eu retiro tudo o que eu disse. – peguei meu aparelho.

“O imbecil que porra tá acontecendo com você eu posso saber? Você bateu a cabeça? Você conhece os pais que tem e principalmente a mãe e faz isso Murilo? Você só pode estar de brincadeira.”

— Ele fez um relógio muito da hora no antebraço. – Yuri comentou vendo as fotos também. – E esses símbolos com essa escrita tão pequena no bíceps, o que será que é?

— Deve significar “eu sou um retardado”. – reclamei.

— Vocês pilham demais. Deixa o cara mano.

— Uma coisa é eu fazer uma tatuagem nas costas, onde ninguém vê há não ser que eu queira, outra coisa é ele encher o corpo. O Murilo devia ter esperado pelo menos ter um trabalho ou mais idade pra ter certeza do que quer. Ele passou dos limites e isso é indiscutível.

— Acho que o Kevin tá se sentindo insultado nessa conversa. – todos olharam pra ele após a fala de Alê.

— Não o coloca no meio disso. – Rafael reclamou. – Tudo que tem a ver com Murilo vocês querem enfiar o Kevin. – fiquei surpresa ao ouvir aquilo. Kevin olhou sério para o namorado.

— Vou ir ligar para o meu irmão. – sai de lá um pouco chateada. Rafael não podia tratar Kevin como se fosse propriedade dele, como se as pessoas ao redor não existissem ou ele não tivesse um passado. Todo esse ar de arrogância e superioridade dele me deu enjoo.

Fui para a área da piscina onde alguns adultos estavam, incluindo meus pais. Não demorou e Arthur estava atrás de mim.

— Pensei que fosse ligar. – comentou me abraçando.

— Não conversa comigo agora não, me deixa quieta. – pedi mais nervosa que imaginei que estaria.

— Eu fiz alguma coisa? – arfou me fazendo olha-lo.

— Fez. Trouxe esse garoto pra cá. – soltei sem pensar.

— Que garoto? O Rafael? – nos olhamos.

— Eu não vou aceitar ele falando do meu irmão como se ele fosse um peso! – quase perdi a respiração. Ele me abraçou novamente.

— Sabia que isso ainda iria acontecer. – me separei dele.

— Isso o que? – o olhei. – Ele dizer que não é pra colocarem o nome do Kevin junto do Murilo? Você viu a forma como ele falou?

— O problema não está aí... E eu não vou dizer nada, vou deixar você descobrir sozinha.

— Descobrir o que? Que ele é um escroto? Eu estou com nojo dele!

— Alice... Ele é o namorado do Kevin. Ele tem direito de não querer que falem dele juntamente de Murilo.

— Você acha que ele tá certo então? – me afastei. – Esse direito inclui menosprezar a outra pessoa, tratar ela como se ela fosse o maior fardo de todos?

— Não faz isso meu bem. Eu não quero ver vocês dois em uma inimizade.

— Agora já era. – encolhi-me.

— Anjo... – levantou meu rosto e passou as costas das mãos suavemente em minha bochecha. – O que você tá passando com Rafael agora ele já passou com nós dois. – franzi a testa. – Ciúme do melhor amigo com o namorado.

— Ele teve ciúme de você?

— Teve. Ele se sentiu deixado de lado, achava que eu nunca tinha tempo pra ele, só pra você. E ele superou. Você vai ter que superar também. O Kevin nunca vai deixar de te amar, mesmo que um dia ele até se case.

— Cada dia mais eu percebo que não sou prioridade pra ele. Tudo é o Rafael. E eu realmente fiquei com raiva da forma como ele se referiu ao meu irmão.

— O Rafa ficou grudado no Murilo desde que o conheceu Alice. No abrigo ele ficava atrás dele o tempo todo. Se tem alguém que admira o Murilo é o Rafael. Você tem que entender a insegurança do cara também... Pra ele seu irmão fica com o Kevin a hora que ele quiser.

— Então por que ele namora? Se for pra pensar assim.

— Porque ele o ama.  

— Você acha que esse medo dele tem fundamento? – olhei dentro dos seus olhos.

— Não consigo dizer. Realmente não sei.

— Vocês são muito alienados. – neguei com a cabeça. – Não conseguem ver que o Kevin tá louco pelo Rafael como era pelo meu irmão?

— Não é assim também. Tem muitas situações em que ele deixa escapar o quanto não consegue esquecer o Murilo por nada nesse mundo. – suspirou. – Eu não sei como ele consegue sobreviver nesse emaranhado de sentimento.

— Também não sei. Não entendo. – olhei através dele. – Vou ir até meu pai, certamente ele já se desculpou com a minha mãe... Preciso ver se ela se acalmou.

— Tá bom. – beijou minha testa. – Você tá mais calma?

— Estou. – dei um sorriso contido. Após ver que tudo estava um pouco mais controlado, aproveitei que estava sozinha com meu pai na bancada da área de churrasco.

— Pai o que você acha do Murilo e o Kevin? – ele me olhou sem entender. – Só quero saber a sua opinião. – ele olhou em meus olhos.

— Murilo sente um amor transcendental pelo Kevin e esse amor é capaz de superar tudo. – prendi a respiração. Não esperava aquela resposta. – Seu irmão não vai esquecê-lo. Ele deixa claro esse amor o tempo inteiro Alice. Sublima, exalta. Até mesmo inconscientemente. – nos olhamos. – Você acha que ele fez todas essas tatuagens por quê?

— Porque ele é idiota. - falei rápido.

— Ele quer chamar a atenção. Na cabeça do seu irmão Kevin vai se preocupar com ele. – ele olhou Kevin de longe com o namorado. Depois voltou a me olhar. – Só que sabemos que ele não está nem um pouco preocupado. É um amor de mão única.

— Não acredito que tenha algo a ver com Kevin pai. Ele só... Surtou mesmo.

— O seu irmão nunca amou ninguém Alice. – bebeu um gole do seu copo. – Ele tá perdido, insatisfeito e bem frustrado por não conseguir esquecer. Já estive no lugar dele e sei como é desesperador.

— Pra mim ele tá indo até bem... – olhei Kevin. – Se não existisse esse namorado pode ser que os dois ainda tivessem uma pequena chance. - talvez agora fosse o meu ciúme falando mais alto.

— Kevin tem uma personalidade muito complexa e que me arrisco dizer que só Murilo conhece de verdade. – analisou bem concentrado. – Isso me leva a pensar que por isso Murilo é o seu verdadeiro amor e seu equilíbrio, e Kevin ainda não sabe. – nos olhamos.

— Mas você afirmou que era um amor de mão única.

— Sim. Não tem como ele sentir sem saber que sente.

— Você acredita mesmo nisso de verdadeiro amor?

— Lógico! – falou espantado. – Acha que aguento as inúmeras crises da sua mãe por que? Não encontraria em outra pessoa o que encontro nela.

— Em pensar que quase se separaram...

— Vocês dois são nosso ponto fraco. – confessou. – E... Eu não sei mais o que fazer com o seu irmão. Ela se preocupa demais.

— Trazê-lo de volta seria uma boa ideia.

— Ele não vai ter aquela instituição pra estudar aqui. – respirou fundo.

— Não estou falando sério. Se ele visse essa cena todos os dias... – olhei para o casal. – Acho que ele iria enlouquecer.

Ficamos algum tempo em silêncio.

— Pai... – ele me olhou. – Se o Kevin ainda não sabe que o Murilo é o verdadeiro amor dele, como faz para que ele saiba?

— Não se mete nisso Alice. A gente só pode deixar o destino agir. Se for pra ser vai ser, se não for ele vai se enganar a vida toda. E olha bem pra ele, parece feliz. É tudo que importa.

— Eu não entendo muito bem dessas coisas, mas eu acho que eu não seria tão feliz ao lado de ninguém que não fosse Arthur. – ele riu. Queria dizer algo, mas se calou. Esperei um pouco e nada. – Qual é pai quero sua opinião, você tem experiência demais pra não ser compartilhada. – riu novamente.

— Existem vários níveis de felicidade. Tem gente que se contenta com o básico, o comum, o simples... O extraordinário não é pra todo mundo Alice. – ele olhou pra minha mãe que ainda reclamava com as amigas e a cunhada. – Hoje eu poderia estar feliz ao lado de alguém com filhos incríveis e vivendo uma vida boa, mas... Deitar ao lado da sua mãe todas as noites e mesmo após tantos anos abraça-la e perceber que esse nosso encaixe nunca se desfez, ver seus olhos e pensar “como aguento toda essa chatice” com um sorriso enorme no rosto... Eu sei que eu não viveria essa singularidade com ninguém. – o olhei admirada. – Mesmo que os meus pais sejam discretos, eu sempre vi neles um amor desmedido que se mostrava impossível de acabar. E acho que você e Murilo conseguem ver o mesmo em mim e Raíssa. E imagino que é o que vão querer pra vocês. – sorriu.

— Isso explica tudo. – conclui.

Sorrimos juntos. Se não me engano aquela foi a conversa mais válida e bem-sucedida que tivemos a respeito de sentimentos. Com ele tudo era explicado de uma forma clara e tão fácil de ser entendida. E acho mesmo que no fundo ele estava certo em relação a Murilo e Kevin. Só não sei se o destino iria ajudar os dois. Já eu faria a minha parte e tentaria não perder o meu amor verdadeiro por mais nenhuma coisa pequena... E se algo grande aparecesse novamente, eu faria um esforço incomum para que passássemos por isso ilesos. Essa era toda a certeza que eu tinha.

Murilo Narrando

 No domingo como planejado estávamos eu e Adam indo almoçar com Gardan. Chegamos ao hotel e eu iria até a sua sala, onde ele me esperava. Iria. Assim que entrei vi Eliot. Fazia um bom tempo que não nos víamos. Mais de um mês. E ele pareceu surpreso e logo abriu um sorriso tímido.

— Espera. – falei ao Adam e fui até ele.

— Oi. – sorri.

— Oi. – seus olhos se prenderam aos meus. – Como você está?

— Bem. E você? – desviei o olhar ficando sem graça.

— Bem também. E o seu tratamento?

— É... Fluindo. – sorri. – Seu pai tá aí?

— Tá. – riu. – Vai ir vê-lo?

— Claro. – dei um sorriso de lado. – Vou lá.

— Murilo... – me chamou quando eu já havia saído. Olhei pra ele. – É bom te ver. Sempre te direi isso. – sorri verdadeiramente.

— Digo o mesmo. – fiquei parado. De uma hora pra outra me veio lembranças do tempo em que ele me fazia companhia. Da forma como ele me fazia esquecer tudo por pelo menos alguns instantes... Parecia até que eu não tinha esse maldito transtorno e nem amava incansavelmente o meu primo. Eliot fazia parte de algo tão bom em minha vida. Ele achava que havia errado ao terminar comigo, mas talvez ele estivesse certo... Não dava pra ser o porto seguro de alguém a todo instante sem se perder. Hoje eu sei por que me agarrava a ele com todas as forças. Nada como deixar o tempo passar.

— Qual o problema? – parecia querer rir.

— Nenhum. Sabe... – coloquei as mãos no bolso. – Se você quiser sair algum dia... A gente ainda pode tentar ser amigos...

— É um convite interessante. – olhou para os lados. – Mas eu não sei se conseguiria ser seu amigo. – dei uma risada.

— Ainda tá nessa?

— Eu te disse quando nos conhecemos que eu era difícil de me apaixonar e mais ainda de desapaixonar. – deu de ombros.

— Você é tão lindo. – sorri. – Bem... Entre a amizade e a paixão existe um longo caminho. Quem sabe ficamos por lá? – esfreguei a nuca apostando que estava vermelho nesse momento. – Você tem meu número. – sai antes que eu fosse mais indiscreto ainda.

Vi o pai dele e contei tudo sobre o curso. Trocamos muita ideia e o tempo pareceu voar porque Adam e Gardan ficaram bastante irritados comigo. O almoço foi bem sucedido, eu não precisei esguelhar o meu amigo por alguma atitude inadequada.

— E você vai sair com ele? – Audrey questionou enquanto Adam escolhia a minha roupa. Eu já havia contado sobre Eliot e nossa conversa e que nessa segunda era a folga dele e eu e ele sairíamos juntos.

— Eles vão... – Adam nos olhou. – Praticar o acasalamento.

— Eles não são dois bichos. – ela o corrigiu.

— Você não sabe. Existe um espírito animal dentro de cada pessoa. E ele se revela na hora do sexo. – jogou a roupa em cima de mim. – Essa é perfeita. Apesar que você podia usar alguma coisa minha.

— Só se eu fosse pra uma passarela. – puxei o ar e soltei.

— Então vocês vão transar? – a garota me olhou e sorriu debilmente.

— Não sei. Eu deixei claro que poderia rolar... – admiti.

— Ele tá na seca né Audrey, o ex é um gato. Você acha que eles vão bater papo e falar do clima? Tá de sacanagem.

— Tá lembrando o aniversário do irmão da Paty? – concordei. – Eu também vou. – olhou para Adam. –Ela nos chamou.

— Vou fazer o que lá? O irmão dela namora e deve ser cheio de amigo padrãozinho insuportável. Eu quero machos que eu possa trazer pra minha cama.

— E aquele papo de levar a vida como eu? – questionei estreitando os olhos.

— Você mesmo tá se dando um tempo, por que eu não posso?

— Será que é por que tem pouquíssimos dias que você tomou essa decisão?

— Vai se arrumar Murilo. Anda. – ignorou o assunto como era o esperado.

Estar ansioso não era uma novidade pra mim, então eu já sabia que perderia o controle do meu próprio corpo e que quase surtaria. A espera por Eliot chegar parecia interminável. Ele veio me buscar e eu não devia ter concordado com isso, porque talvez ir até ele poderia ter sido menos torturante. Não sei.

Fomos a um lounge bem charmoso e aconchegante. Ele me contou sobre como as coisas andavam iguais e ao mesmo tempo um tanto diferentes e eu disse um pouco a respeito dos meus planos futuros.

— Eu realmente gosto desse lugar. – falei quando chegamos ao mirante que ele havia me apresentado tempos atrás.

— É lindo mesmo. – se sentou ao meu lado. – Eu estou querendo te perguntar uma coisa a noite toda... – o olhei. – O seu primo... Como estão as coisas? – olhei pra frente.

— Como tem que ser. Ele com o namorado dele e eu aqui. – o olhei mais uma vez. – Por que quer saber disso?

— Não sei. Curiosidade.

— Não pense em mim com sentimentos Eliot. Não vou poder correspondê-los.

— Eu sei disso. – sorriu. – Mas o fato de você não poder é que torna tudo tão... Instigante. – dei uma risada. – Eu não gosto de nada simples.

— Mas aí já é complicação demais.

— Acho que vale a pena. – vagarosamente ele chegou mais perto e acabamos nos beijando. Aquela noite poderíamos ter sido presos. Graças ao Kevin não foi a primeira vez que fiz sexo em local público. Mas era a primeira vez que eu morria de medo de ser pego. Acho que eu estava ficando um pouco covarde. Esse não era eu, não se parecia nada comigo.

— Quando a gente se vê novamente? – perguntou sem cerimônia alguma.

— Se a gente ir com isso em um ritmo muito rápido as coisas tende a sair do controle. E vai ser pior pra você e não pra mim.

— Eu já estou ciente de tudo Murilo. Não vamos namorar. Você não vai me amar e não vamos ser felizes pra sempre. Eu quero só curtir a sua companhia. Fazemos bem um ao outro e você não pode negar isso. – sorri.

— Posso ir almoçar na sua casa semana que vem? Sinto saudades da sua mãe.

— Claro. Vou dizer a ela que um amigo querido vai lá. Ela vai cair pra trás quando ver que é você. – dei uma risada.

— Boa noite. Obrigado por hoje. – assim que nos despedimos eu entrei e vi que Adam dormia no sofá.

— Vai pra cama. – deitei em cima dele.

— Sai. – ele me empurrou me fazendo cair. – Você tá cheirando a um perfume que não é seu. Nojento.

— Ahhhhh quando é você não é nem um pouco nojento. – o chutei. – Anda, vai pra cama.

— Me deixa aqui. Que saco.

— Então tá, sua coluna vai doer e eu não quero reclamações na minha cabeça amanhã.

Deixei ele lá e fui tomar um banho e dormir. Claro que antes que eu conseguisse mesmo dormir eu repetiria essa noite por várias vezes em minha cabeça e tentaria chegar a uma conclusão se daria certo ou não a gente ser esse tipo de amigos. Já que ele estava mesmo ciente de tudo e se resguardando, então eu acho que sim. Por enquanto não havia nada a temer. 


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Notas finais do capítulo

Já era pra estar explicando sobre as tatuagens na parte do Murilo, mas tive que desmembrar senão ficaria maior ainda. Estará no próximo. (:
Até amanhã ♥



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