Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 58
Pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Alice Narrando

Acordei naquela tarde de sábado no hospital. Não entendia nada que havia acontecido. Comecei a passar mal, o meu estômago se revirava e minhas vistas escureceram. Olhei para os meus pais ao meu lado, ele abraçava os próprios braços e andava lentamente quase em círculos e ela estava grudada a cama.

— Mãe... – chamei ainda um pouco fraca.

— Alice! – fez carinho em meu cabelo. – Como está se sentindo?

— Mais ou menos. O que aconteceu?

— Você desmaiou. Agora está tudo bem.

— Por que eu desmaiei? – eles se olharam.

— Filha... – ele começou a falar. – Eu e sua mãe medicamos você sem você saber. Foi tudo com permissão da sua médica, ela sabia que podia acontecer algo do tipo, mas não imaginava que fosse nesse nível.

— Por isso perguntavam se eu estava sentindo tontura o tempo todo. – resmunguei.

— Está muito brava com a gente?

— Já estou acostumada. Vocês sempre me disseram o que fazer e não fazer. Nunca tive liberdade. Pela primeira vez que gritei a minha escolha eu sabia que de alguma forma passariam por cima.

— Alice fizemos para o seu bem.

— Sempre é mãe. – eu não iria ficar discutindo aquilo.

— O tratamento é necessário Alice.

— Eu parar no hospital também né?

— Não pararia se estivesse fazendo da forma correta.

— É, porque eu já estaria nele.

— Não trate como se fosse um câncer e uma quimioterapia, também não é assim.

— Eu só quero descansar e me recuperar, dá pra gente parar com essa conversa?

— O médico havia dito que você precisaria ficar aqui uns dias, porém sua médica veio te ver e discordou. Você vai receber alta daqui a pouco. O repouso é necessário apenas por hoje. Amanhã pode voltar sua vida ao normal sem muito esforço físico. Ela quer fazer uns exames na semana que vem. E vamos voltar a conversar sobre o tratamento.

Quando cheguei em casa Arthur me esperava no portão. E não parecia muito amigável com os meus pais, principalmente minha mãe. Acho que ela deve ter dado alguma patada nele no calor das emoções. Após ter certeza que eu estava bem ele foi embora.

— Por que está me ligando invés de vim aqui? – perguntei a Kevin pela chamada de vídeo.

“Por dois motivos. Na verdade três. Primeiro por Arthur já ter ido aí e ter me dito que você está bem. Segundo por meu namorado não me deixar sair dessa cama e terceiro e mais importante por eu saber que você é forte e não precisa de ninguém te mimando.”

— Você tá completamente errado. Eu preciso de mimo e você devia estar aqui.

“Tudo bem, vou tomar um banho e já estou indo.”— ouvi Rafael dizer que eu conseguia tudo dele igualzinho alguém bem próximo a mim. – “Não liga pra ele, um espírito ciumento tomou conta de seu corpo.”— sorriu parecendo não ligar para a fala do namorado. – “Vou desligar, daqui a pouco estou aí.”

— Não, não precisa vim. Eu estou brincando. E eu estou tomando remédios que me dão sono e daqui a pouco vou dormir. A gente se vê amanhã.

“Tem certeza?”— sorri o convencendo. – “Se mudar de ideia me liga que eu vou.”

Não era justo eu chama-lo quando ele estava com o namorado, mesmo que Rafael tivesse as crises de ciúme dele, eu me coloquei em seu lugar e também não iria gostar nada. Eu não morreria por um sábado a noite sozinha.

Acabei não ficando sozinha. As meninas vieram me ver. Aline ficou depois que elas foram embora e ficamos conversando por tanto tempo que ela quase dormiu aqui. Pensando em um passado distante, quando ela ficou com meu irmão, hoje eu penso que eles podiam ter dado certo. Eu iria gostar de tê-la como cunhada. Muito mesmo.

Era domingo e Danilo procurou Kevin sem obter sucesso. Assim que ele me disse isso eu abandonei o almoço em família e amigos e fui até o hotel, já que sabia que ele havia dormido na cobertura com Rafael. Fui sem ninguém perceber, pois todos estavam preocupados comigo e não achariam certo. A recepcionista me recebeu mais sorridente que o normal e deixou que eu subisse como normalmente fazia. Sai do elevador e entrei pela porta de vidro encontrando Arthur de cueca na cozinha. Quase dei um grito. Ele pediu para que eu esperasse e foi até o quarto dele.

— Pode entrar. – falou quando voltou já vestido. – Bom dia. Procurando Kevin? – concordei gestualmente. – Ele não está. Saiu cedo. Foi para uma pequena viagem com Fael, ele me disse o lugar, mas eu estava muito ocupado e nem prestei... – o interrompi.

— Por que a recepcionista não me disse nada?

— Ela não deve ter visto os dois saindo. A garagem é privativa, esqueceu? – revirei os olhos e bufei.

— Vou embora então. – antes que eu me mexesse ele chegou mais perto.

— Espera. Eu já estava indo me arrumar pra ir pra casa da vó. A gente vai junto. – fiquei olhando pra ele.

— Não tente se aproximar tanto de mim. Nem antes estávamos tão assim. – me virei e sai dali. Ao pisar no saguão encontrei o garoto que trabalhava com eles.

— Olá garotinha. – o encarei insatisfeita. – Tudo bem?

— Quem é você mesmo? – dei uma idiota, já que ele estava agindo assim primeiro.

— O Orlando Costa. Trabalho para os irmãos Montez. Na verdade trabalhava para Caleb e ele me colocou a disposição dos dois.

— É normal, já que o Caleb – não segurei o tom de nojo ao soltar o nome – irá para Alela.

— Ah sim. – sorriu. – Posso te acompanhar até seu destino? Aliás, posso te dar uma carona? Não sou nenhum Montez, mas... – o interrompi.

— Tá bom. Vamos. – normalmente eu não aceitaria, mas eu chegaria mais rápido e pra falar a verdade, era realmente hora do almoço e eu já estava com fome.

Ele passou em minha frente e abriu a porta pra mim me olhando sorrindo. Suspirei pesadamente e entrei.

— Não precisava fazer isso. – ele me olhou ao assumir o volante.

— Mas eu quis fazer. Espero que fique a vontade apesar de não ser nenhum carro estilo Montez. – dei uma risada. – Eu me refiro ao seu pai e não aqueles imbecis.

— Por que você não gosta deles?

— Não é óbvio? São uns mimadinhos que tem tudo que querem. E não dão valor nenhum. O mais velho é pior, o outro ainda aproveitou todas as oportunidades, o garoto sabe falar até alemão e faz contas surreais em tempos inimagináveis. – nos olhamos. – Se eu pudesse escolher só trabalharia para ele, mas... – puxou o ar e soltou de uma só vez. – Tenho que aturar aquela imitação barata de William Levy. – dei uma crise de riso. – Do que tá rindo?

— É que não tem nada a ver os dois. Você é louco.

— Claro que tem! – seu tom de voz era de indignação. – Os dois tem olhos claros, sorriso torto e músculos.

— O olho do Arthur é verde, ele não é tão loiro assim e nem a boca dele tão carnuda. Só o nariz dos dois parecem. Você viaja muito.

— Eu acho os dois idênticos. – deu de ombros. – E você conhece bem o loirinho. - me olhou por cima.

— Ele... – iria dizer que ele era meu ex namorado, mas se ele ainda não sabia, era melhor deixar assim. – É meu primo, né?

— Prontinho. – parou em frente a casa da minha vó. – Foi uma honra te trazer, quando quiser outra carona pode me procurar.

— Para com isso. – fiquei sem graça com tanta gentileza. – Muito obrigada. – tirei o cinto. Vi meu pai chegando. Eu havia vindo com minha mãe e ele tinha ido para a academia resolver algumas coisas. Pelo olhar dele notei que não gostou nada do que viu. – A gente se vê. – sai rapidamente.

Entrei e ele veio atrás de mim. Quando chamou meu nome o seu tom de voz fez o meu corpo inteiro estremecer.

— Alice. – chamou novamente me fazendo parar no meio da sala. Olhei em seu rosto com medo. – Quem era aquele?

— Considera possível eu ter amigos? – cruzei os braços. Se eu baixasse a guarda aí sim ele iria vim pra cima de mim com tudo.

— Você acabou de sair do hospital. Nem devia ter saído assim... E... – ficamos nos olhando. – Não estou te entendendo Alice.

— O que você não entende pai?

— Você mudou. Não pensa mais em quem atinge com as suas atitudes. Só quer fazer a sua vontade. Está virando uma garota egoísta e sem afeição. Quase não te reconheço mais. Você tem relapsos da pessoa que você era antes, mas isso está cada vez mais raro. – encarei o chão em silêncio. – Isso é trágico.

Poderia dizer a ele tudo o que eu achava que era trágico, mas eu não queria entrar novamente nesse ciclo de drama e reclamação. Foi difícil ver que ele saiu e eu não consegui ficar triste. Se fosse antes eu choraria. Odiava machucar os meus pais. Agora, como em outras vezes, eu não preocupava tanto com isso. E era isso que era realmente trágico.

Murilo Narrando

Encarei Adam se sentando ao meu lado no sofá. Ele deu uma risada escandalosa.

— O que foi? – rodei os ombros e mudei de posição.

— Você. Parece que viu um fantasma.

— Não sabia que estava em casa. E nem imaginava te ver aqui num sábado a noite.

— Bom... – se deitou me perturbando. – Estou seguindo o seu estilo de vida. Acho que cansei de sair por aí caçando alguma coisa que eu nem sei direito o que é.

— A decepção com o cara foi grande mesmo. – ri abafado.

— E você, superou ter visto a foto do seu amor eterno?

— Não se refira a ele assim. – bufei. – Sim. Superei. Se for ficar aqui fica caladinho. Estou querendo ouvir a televisão.

— Alguém já te falou que você é chato? – me olhou e apertou os lábios.

— E já te falaram que você é folgado? – o empurrei. – Sai da minha perna.

— Cadê a doidinha? – o encarei com raiva. – Foi mal.

— Não vamos nos ver hoje. Decidi me afastar um pouco, estávamos próximos demais e isso pode gerar problemas futuros.

— Sei. Entendo bem. – pausei a série e o olhei.

— Você parece ter experiência nesse assunto.

— Ah... Já aconteceu com um amigo. Quer dizer, eu achava que éramos amigos. Ele se iludiu. Sem motivos, porque eu sempre deixei bem claro que queria apenas amizade.

— Não imagino o cenário de alguém se iludindo por você. – levei um tapa forte.

— Qual é, a agressividade é um costume francês?

— Eu não sou francês e você sabe disso.

— Sua naturalidade pouco me interessa. – revirei os olhos. – E aí, o que deu a história com o amigo? – ri levemente.

— O que você acha? Acabou a amizade. – suspirou. – Ainda bem que a gente deixou tudo conversado inicialmente. Isso não vai acontecer de novo. – gargalhei.

— Nem no auge da carência eu me interessaria por você Adam.

— Não desdenha porque você pode pagar língua tá?

— É sério. Você não chama a minha atenção. Mas... Tenho que concordar. É um alívio estar tudo certo. – fiz carinho em seu cabelo.

— Dizem que os gays e lésbicas não tem amizades, sempre rola algo entre eles pelo menos uma vez.

— Eu não sou assim. E de onde eu vim existem princípios. Amizades são amizades.

— Dizer isso te faz ser mais fofo ainda. – ele bateu os cílios ao me olhar. – E por falar de onde você veio, quando vai me levar lá?

— Nem eu estou indo como vou te levar? – Audrey saiu do quarto e se sentou na poltrona.

— O que vão fazer hoje?

— Eu pretendo ver série. Se o Adam deixar.

— Eu pretendo incomodar o Murilo. – se agarrou mais ainda a minha perna. – E você? O de sempre? Conversas noturnas com o namorado? Vem cá, vocês fazem sexo virtual? – ri da expressão dela.

— O respeito passou longe né Adam? – ela me olhou. – Cadê a Paty?

— Viu, não sou só eu que sinto a falta da doidinha no recinto.

— Quantas vezes eu vou ter que dizer para não chama-la assim? – nunca me direcionei a ele com tanta braveza.

— Por que você a chama de doidinha?

— Ela é diferente. Não reparou?

— É você que é espalhafatoso demais! As pessoas não precisam ser um letreiro piscando nem um alto falante para serem normais ou legais. – esbravejei.

— Murilo, Murilo, Murilo... – ele se sentou.

— Não. Eu não estou apaixonado. Ela passa por coisas que você nunca vai imaginar então para de julgar o jeito da garota.

— Eu a acho legal. – Audrey opinou. – E é bom ter uma presença feminina nesse lugar.

— Eu não basto amiguinha?

— Ah Adam, você é uma coisa... O Murilo já disse. Espalhafatosa linda. – mandou beijou. – E eu digo uma garota pra conversar coisas de garotas.

— Pra desabafar do quanto sente falta do pênis do seu namorado? – ela se levantou.

— É por isso que eu não converso muito tempo com você. Eu não sei nem por que moramos juntos.

— Vou te lembrar. É por que eu te faço rir. E, além disso, você não achou outra pessoa. Não iria mesmo pagar o aluguel sozinha. E eu ainda trouxe mais um. E quando ele foi embora, veja só eu trouxe outro. Sou a solução de todos os seus problemas. – ele riu. Ela não aguentou e sorriu.

— Tudo tem um preço. – ela falou indo para dentro.

— Amanhã... – antes que ele continuasse eu o cortei.

— Vou ao hotel almoçar com Gardan.

— Por que hein?

— Ele é meu responsável aqui e quer me ver pra saber do curso e de como andam as coisas. E principalmente porque eu gosto dele e estou com saudade.

— Ele ainda te leva em toda consulta e te liga um monte de vezes. Nem dá pra sentir saudade.

— Tá com ciúme? – ri alto.

— Não. Eu não quero ser seu pai seu idiota. É que amanhã é domingo, odeio passar domingos sozinho. – fiquei observando sua expressão sofrida.

— Quer vim comigo? – ele sorriu grande. – Vai se comportar. Não diz putarias ou besteiras perto dele e segura a onda quando passar homens que você achar interessante.

— Aí você já pegou pesado demais. Posso pelo menos olhar? Só um pouquinho? Só a bundinha de ladinho, prometo não virar o rosto.

— Sai. – o empurrei com força fazendo com que ele caísse no chão. – Minha paciência pra você hoje já se esgotou.

Ele me deixou finalmente ver televisão em paz. Mas já era tarde e eu estava com sono. Fui deitar e antes, como de costume em quase todos os dias, liguei para Alice.

— Como assim desmaiou? – ela contou tudo que havia acontecido e da forma como nossos pais a tratavam, como um bebê. – Você deve estar muito chateada e com razão.

“Nem tanto. Eu esperava isso deles. A gente se chateia quando é pego de surpresa.”— ela estava um pouco estranha. Sem brilho nem aparentando emoção.

— Como você está Alice? Não fisicamente. Mas como você se sente.

“Ainda estou oscilando bastante. Agora acho que a montanha russa desceu. Tá bem perceptível né?”

— Então quando você não sente demais você não sente nada? É isso?

“Pode dizer que sim. Mas não quero falar de mim e do meu problema. E você, como tá? Além de amando o seu curso e sua vida.”

— Ah... Não sei. – comecei a soltar a respiração pesada. Talvez me abrir com Alice seja a única forma de não enlouquecer. – Tem dias em que eu consigo não pensar nele e fica tudo bem. Mas na maioria dos dias eu volto para aquele abrigo e... Só queria entender por que com toda essa distância e esse tempo passando eu não consigo seguir o meu caminho. Tenho que ficar voltando e voltando nisso.

“Por que não tenta com alguém de novo Murilo? Ou sei lá, vai se arriscando.”

— Não dá. Eu falo dele o tempo todo. E... Mesmo que eu me policie para não falar, eu olho pra pessoa imaginando aqueles olhos e aquele sorriso sarcástico que só ele tem. É pior se eu tentar.

“Muh... Ele tá feliz com Rafael.”— desviei o olhar da tela. – “Odeio dizer isso, mas eu preciso aproveitar que estou em minha fase mais sem emoção alguma.”— suspirei. – “Eles brigam o tempo todo, Rafa morre de ciúme dele e qualquer coisa é motivo para discussão, mas isso acontece exatamente porque os dois se amam.”— encolhi os ombros. Ouvir tudo aquilo era tão difícil, por mais que fossem coisas que eu já sabia. – “Quero que você seja feliz, por isso você tem que fazer o maior esforço do mundo pra seguir em frente. Mesmo que ele sinta algo ainda por você e a gente sabe que sente, ele segue firme na escolha dele. Cheguei a duvidar que os dois dessem certo, mas analisando friamente, eles se completam.”

— Por que analisando friamente?

“Por que por mais que Rafael encha o saco dele e o perturbe com seu ciúme e suas exigências Kevin já provou que vai baixar cabeça e fazer o que ele quer. Não tem como não dar certo.”

— É... – respirei fundo. – Só posso esperar que eles sejam felizes então.

“E você? Quando você vai esperar que você seja feliz?”

— É uma pergunta muito difícil.

“Que a Alice boazinha cheia de emoções não faria.”— sorriu. – “Você é a minha pessoa preferida na terra, não se acabe por causa de um namoro que não deu certo.”— suspirei novamente. – “Me use como exemplo. Eu não fiz isso por Arthur.”

— É linda, mas você... – parei de falar. Nos olhamos. – Desculpa. Isso foi horrível.

“Tudo bem. Já disse, estou na descida... Nada me deixa abalada."— me senti um pouco aliviado por isso. – "Pode usar meu problema pra justificar o fato de eu conseguir seguir em frente. Só que se lembre de que eu poderia usar esse mesmo problema para me escorar incansavelmente nele. De qualquer forma eu escolhi o caminho mais difícil. E no começo foi muito doloroso e não é sempre que eu não sinto nada. O que eu quero dizer é... É possível sim seguir em frente Murilo.”

— Você o esqueceu Alice? – ela desviou o olhar.

“O que importa é que não estou me prejudicando como você está fazendo consigo mesmo. Até quando pretende viver assim?”— estava difícil conversar com ela daquele jeito. – “Daqui a pouco você vai dizer que nunca devia ter ido embora e se culpar eternamente.”

— Não. Não vou fazer isso. Não arrependo. Não disso. Mas eu podia ter tentado estar com ele de alguma forma. Eu quis a liberdade... Eu nunca havia namorado. E estava me deparando com uma primeira relação que eu nunca pensei que aconteceria. Era tudo novo pra mim. Eu precisava estar com outro cara. E eu não faria isso estando com ele. Jamais. Tudo o que aconteceu foi consequência das minhas atitudes precipitadas, agi pensando apenas em mim após tentar salva-lo porque eu achava que eu merecia isso. Era como um prêmio. Merecia pensar em mim após me sacrificar tanto por ele. Hoje nenhuma das duas coisas faz sentido. – respirei fundo. – A vida é uma bosta. – ela riu.

“Só faça o que eu disse. Se esforce mais para seguir em frente.”— sorriu docemente. Ainda parecia a mesma Alice. – “Confio em você. Você consegue.”

— Te amo muito. – suspirei. – O que você vai decidir sobre o tratamento?

“Eu? Tenho algum poder de decisão? Eles querem, vou fazer.”

— Não os odeie Alice. Estão fazendo para o seu bem, eles se preocupam muito.

“Diz isso porque eles não mandam mais em cada minuto do seu dia. Tchau Murilo. Não esqueça o que eu disse.”

Com certeza eu não esqueceria. De nenhuma palavra. Naquela noite eu sonhei com ele. Ele e Rafael se casavam. Eu estava lá no fundo, quase que no último banco. Via nitidamente em meu sonho o sorriso dos dois. Lembrava-me dos votos, expressões ditas como “nunca vou te deixar” e “te amarei eternamente”... Os olhares das pessoas admiradas. Até o Caleb estava por lá, não sei se a contragosto ou não. Acho que eles tinham um cachorro e foi quem levou as alianças. Eles abraçaram o cão carinhosamente quando o mesmo chegou até o altar. Formavam uma família. O som de violino zuniu em meu ouvido. Aplausos, pétalas caindo e o beijo. De todas as poucas vezes que vi os dois se beijando, naquele sonho foi a vez que mais parecia real e verdadeiro. Era explícito o sentimento. Eles passaram por mim e pareciam não me ver. Ninguém me via. Estavam todos tão felizes, tão alegres e sorridentes. Nem sentiam minha falta. Será que fiquei tanto tempo longe? Será que me afastei de todo mundo? Não. Ninguém nem mesmo dizia o meu nome. Será que eu morri?

Acordei assustado e suado. Olhei as horas e eram quatro da manhã. Apertei o rosto com medo. Não era um aviso, era só um pesadelo. Não era um aviso, era só um pesadelo. Repetia a frase de modo incessante até que eu mesmo me convencesse disso.

 


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Notas finais do capítulo

Até amanhãa ♥



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