Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 46
Preso


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Alice Narrando

Voltar as aulas era sempre a mesma coisa. Exceto por algumas pessoas novas. O segundo ano também não trouxe muita novidade. Por sorte ou azar, meus amigos continuaram em minha sala, como no ano anterior. Eu iria sentir muita falta de Kevin agora e das implicâncias dele com todo mundo.

— Alice. – olhei pra Sophia. – Como a Otávia ficou com toda a história do Danilo?

— E eu sei? Sou a pessoa que menos saberia disso.

— Você não pode deixar suas vitaminas pra trás está escutando? – Larissa chegou nervosa e perguntou a irmã. – No meio da manhã tem que tomar a... – ela a interrompeu.

— Já sei o que tenho que fazer, você não é minha mãe.

— Se eu fosse você não estaria grávida agora.

— Não comecem as duas. – falei e as olhei.

— E a Diana? – ela olhou a garota de longe.

— Ela não se importa com ninguém, só com ela. – praguejei. – Não importa quanto mal faça.

— Até agora não acredito que os dois... – Soph começou a falar e fez uma expressão de nojo. – E então se explica como ela é uma pessoa doente desde sempre.

— Não me lembra dessas coisas. – Lari falou e quase bufou. – Vamos fingir que somos normais e convivemos com pessoas normais. – elas sorriram.

— As irmãs complicadas já estão se dando bem. – olhei pra cima e agradeci mentalmente.

— Cheguei atrasada. – Gih disse se sentando.

— Ter dois caras pra sonhar toma tempo mesmo. – Larissa a alfinetou.

— A professora entrou. – avisei antes que elas começassem a discutir. O fato é que mesmo achando ou tendo a certeza que Giovana havia superado Alexandre e ainda por cima não tendo nada com ele, Soph contou a irmã a minha desconfiança de que na verdade a loira não havia superado. E agora Lari não conseguiu ficar com a boca fechada. O que já era de se esperar se tratando dela.

No intervalo estávamos todos conversando sobre tudo e o assunto agora era Yuri e Kevin. O primeiro iria começar a estudar semana que vem na mesma faculdade que o Arthur e Rafael. Eu ainda não sabia qual curso ele iria fazer, mas desconfiávamos que fosse o mesmo do irmão. Já Kevin não demonstrava querer muita coisa da vida. Traço que ele deve ter puxado do pai.

— Você vai voltar à rotina normal? – Otávia perguntou puxando assunto. Suspirei. O gelo entre a gente de vários dias já estava indo longe demais. Éramos amigas e tínhamos que superar isso.

— Sim. – respondi e sorri. – Só não sei como vai ser. Agora sem o meu irmão definitivamente aqui... O meu pai não tem tempo pra me levar e buscar nos lugares... Minha casa fica um pouquinho afastada do centro... – suspirei. – Kevin estava fazendo esse favor a mim até mesmo antes de todo aquele perigo. – sorri ao lembrar. – Mas agora ele trabalha lá no hotel, ele também não vai ter tempo.

— Mas ele certamente pode sair quando quiser. Se pedir ele vai. E tem o Arthur... Vocês não estão se falando?

— Não. – respirei fundo. – Ele quer me esquecer e eu acho melhor nos mantermos distantes.

— Distantes? – ela riu. – Isso é impossível.

— Sim, eu sei. Mas não é como pedir um favor a ele. Vamos nos encontrar, mas não a sós e nem como antes, entende?

— Pode ser. – nos olhamos. Conversamos mais um pouco sobre o horário que eu pretendia ir a academia e os cursos que eu continuaria fazendo. Do jeito dela Otávia estava demonstrando estar arrependida. Eu só esperava que esse arrependimento viesse munido de mudança. Ela não podia julgar tudo e todos e achar que estava tudo bem. A vida não funcionava assim. É um pouco clichê dizer, mas juízes estão em tribunais e Deus no céu. Vamos deixar isso para o grande dia, quando Ele voltar. E pensar em Deus me lembrava Rafael... Queria tanto ajuda-los de alguma forma, mas não havia como.

Na hora de irmos embora Alexandre e Ryan contavam algum caso engraçado sobre os dois serem os únicos garotos a estarem com a gente, já que Murilo estava fora e Kevin e Yuri se formaram. As meninas riam e eu simplesmente me desliguei porque foi quando recebi uma mensagem do meu irmão.

“Vou sair da clínica hoje. Amanhã devo fazer a mudança para a república. Eu te mando foto de tudo lá. Eu te amo muito, sinto saudades.”— quase chorei e todos perceberam.

— Meu irmão? – Otávia perguntou um pouco tímida.

— Meu irmão. – respondi como se fosse óbvio. E era.

— Ela está sensível. – Ryan observou.

— É assim antes das regressões, eu já disse. – reclamei.

— Ou ele disse algo ruim? – Soph perguntou preocupada.

— Depois que ela ficou grávida ela está extremamente cuidadosa. Menos comigo. – Lari disse e se fez de magoada.

— Ele só avisou que sairia da clínica.

— Assunto delicado. – Alê comentou e suspirou. – Vou contar um caso engraçado pra amenizar o clima. Eu estava com os caras em um bar no centro um dia desses e uma garota veio toda se querendo pra cima de mim né, daí...

— Já começa a mentira porque garota nenhuma iria ir se querendo pra cima de você. – Ryan disse e riu. As meninas já estavam rindo também.

— Me deixa acabar de contar. Não tem um final feliz.

— Acredita nele Ryan, é verdade, eu estava lá e eu era a cadeira. – Lari disse o provocando.

— Chega. Também não vou contar mais. Era legal e vocês iriam rir horrores.

— Ainda bem que chegamos. – Otávia disse em frente a sua casa. – Não iria querer ouvir isso.

Entrei com ela e vi que meu pai já estava me esperando para irmos pra casa. Como ele disse que estaria. Fomos e então eu discuti com ele sobre a minha rotina. Minha mãe havia voltado a pegar trabalhos, ela precisava ocupar a cabeça para não se preocupar tanto com Murilo e acabar esmorecendo.

— A maior parte do tempo seremos apenas nós dois. Você tá preparada pra isso? – ele perguntou me olhando e estava sério demais.

— O que quer dizer pai?

— Não concordo com a sua mãe. Brigamos por isso. – odiei saber disso.

— Já estão brigando? Sério?

— A casa precisa dela, você precisa dela. Ela não pode simplesmente viajar a trabalho assim. Ser produtora musical é mais importante que ser mãe e esposa?

— Pai... Já tem quantos anos que ela faz os dois e deu certo?

— Mas Alice, agora é diferente. O seu irmão não está aqui. Ele te protegia. Eu me sentia melhor tendo ele por perto.

— Mamãe precisa se ocupar pai. Ficar em casa vai adoecê-la. Todo mundo precisa de uma ocupação na vida. É a lei do ser humano. Ela nunca parou, mesmo que tenha mudado de profissão ou diminuído o ritmo, não importa. Não vai ser agora que ela vai parar.

— É uma situação incômoda pra mim.

— Não vai ser sempre. Ela vai vim e vai voltar... Tenta pensar assim.

— Tá bom. – ele pareceu um pouquinho menos inconformado.

No final da tarde Kevin apareceu, segundo ele foi direto do trabalho pra lá. O que me levou a crer que o primeiro dia dele não foi tão bom assim.

— Me deixa só ficar aqui sem falar nada. – ele disse e se deitou no sofá.

— Você precisa aprender a conversar sobre o que te incomoda. Sabe disso.

— No momento absolutamente tudo me incomoda. Deixa eu quieto pra eu ir pra outro lugar onde não existe nada do que tá acontecendo.

— Só uma dúvida... O Murilo tá nesse lugar? – ele me olhou e não respondeu.

— Por que ele só consegue ver o bom das pessoas? Queria ser assim. – fiquei em silêncio e depois de um tempo ele me olhou. – O que foi? – ele perguntou ao ver que eu estava quase chorando. – Arthur?

— Não. Quer dizer... Não apenas isso. Terminei meu namoro, minha regressão, meu irmão tá longe, ele não tá bem e os meus pais estão voltando a brigar. – respirei fundo. – Acho que estamos na mesma página Kevin.

— Seus pais brigando? – ele estranhou aquilo. Claro, era de se estranhar.

— É. E ele estava com planos de pedi-la para renovar os votos de casamento. Acredita nisso? É tão contraditório toda essa falta de paciência e compreensão... – ele me interrompeu.

— Estão discordando sobre Murilo estudar fora?

— Não. Ele acha que ela deveria parar com o trabalho. É tão antiquado né?

— Você precisa dela. Alice... Sempre te ataquei e te machuquei e aquilo era tão fácil pra mim. Eu observava como era ridículo a sua falta de defesa. Isso porque você sempre teve Arthur. E agora?

— Eu tenho você. – nos olhamos.

— Não posso fazer isso. Não posso te proteger. Eu não sou capaz disso, não sou assim. E tem o Danilo, o meu pai, o Rafael... Você vai precisar de atenção irrestrita.  É algo substancial demais pra mim.

— Eu entendo. Mas eu não consigo concordar com o meu pai. Pela minha mãe eu fico só em casa se for preciso pra me proteger sozinha.

— Não canso de dizer o quanto você é igualzinha a ele. – ele suspirou. – Relaxa. Você me tem. Se eu precisar escolher entre você e o Rafael eu acho... Que ele vai ficar chateado.

— Isso tudo é por eu lembrar tanto o Murilo? – ele pensou por bastante tempo.

— Mentiria se dissesse que não. O lance de lembra-lo é que te torna tão especial. Só que construímos uma afinidade muito grande e eu não vou te abandonar quando você mais precisa mesmo que isso talvez prejudique meu namoro.

— Mas e se o Rafael for o amor da sua vida? – perguntei um pouco triste.

— Se ele for mesmo ele vai entender. – ele sorriu. - Que inferno. – ele pegou seu celular e leu alguma mensagem que havia chegado. – Vai ficar bem se eu sair com o Danilo?

— Ele não foi a aula hoje. – contei e o olhei. – São amigos agora?

— Tenho um namorado que não posso chegar perto então... Ele é meu amante. Eu o converti como converto todos os héteros. – fiz um semblante bem confuso e desacreditado. – Se fosse verdade pelo menos eu teria todas as respostas que preciso.

— E você arrumaria um problema, os irmãos iriam se matar por sua causa.

— Seria o ideal. - ele sorriu diabolicamente. – Vamos a academia juntos mais tarde? – ele riu ao ver que eu estava surpresa. – Sei que iria pedir ao seu pai pra sair do trabalho e te trazer até aqui e que você teria que ficar na casa da vó Isa após a escola, o que seria desgastante e como eu já estarei lá... Não me custa nada vim aqui te buscar.

— Você me ama mesmo né? – ele revirou os olhos.

— Até mais tarde Alice. Eu te mando mensagem antes de sair de casa.

Quando estávamos indo embora da academia eu tentei não tocar no assunto, mas não consegui e sabia que como ele era tão esperto tinha a completa noção do que eu pensava.

— Eu percebi. – falei e ele me olhou.

— Percebeu o que? – ri ao vê-lo se fazer de sonso.

— A tensão sexual entre você e aquele carinha. – ele pegou a minha mão e colocou em seu peito.

— Olha como o meu coração disparou. Não repete isso de novo.

— Não entendi. Por quê?

— Não existe tensão sexual nenhuma.

— Calma. Não quis dizer que você vai fazer alguma coisa. E isso não te coloca em um lugar de péssimo namorado... – cocei a cabeça. - É, coloca. - dei um sorriso amarelo. – Como você e Rafael estão?

— Tá de brincadeira? – franzi a testa. – O que você acabou de afirmar não condiz com essa pergunta. E você sabe como estamos.

— Mas pareciam estar levando bem isso tudo.

— Foi o seu aniversário... Fez ele se aproximar. Mas passou.

— Não o deixe ir a academia, ele vai surtar.

— Na verdade seria uma boa ideia... Assim ele iria me querer pra mostrar ao cara que é meu namorado.

— É engraçado ele ter tanto medo de ter perder e ao mesmo tempo não conseguir te ter né?

— Engraçado não é bem a palavra certa. – ele estacionou em frente a minha casa. O telefone de Kevin era integrado ao automóvel dele e então eu vi quando a mensagem chegou ao visor central do veículo. Talvez pela sua expressão ele preferisse que eu não tivesse visto. Era de Rafael e dizia que era pra ele ir encontra-lo URGENTE e uma localização. – O que será que aconteceu? – perguntei preocupada e nos olhamos. Ele ligou e sua voz estava alteradíssima.

“Arthur acabou de ser preso. Vem pra cá agora. Não posso falar muito, anda rápido.”

A chamada finalizou e eu olhei pra Kevin assustada e sem entender.

— Não faz sentido. O Arthur nunca faria nada pra ir preso.

— Tenho que ir. Eu te falo depois. 

— Não, eu quero ir junto. – ele me olhou e respirou fundo.

— Sai Alice. – fiquei mais nervosa ainda. – Eu te ligo quando chegar em casa.

— Mesmo se for madrugada? – ele concordou. – Promete?

— Prometo. Agora vai. Não ouviu o Rafael? – sai mesmo não querendo. E as horas até receber sua ligação foram as mais demoradas dos últimos dias.

Murilo Narrando

Como a Paty havia dito tinha a última avaliação e lá estava eu para a reunião da decisão final. Lembrar que eu estive nervoso assim há pouco tempo por causa do Kevin não me ajudava em nada, não me acalmava nem mesmo um pouquinho.

— Você parece louco pra sair daqui. – fiquei olhando pra psicóloga.

— Louco? É sério isso? – ela deu uma risada.

— Relaxa. Você está muito bem. Só tem que garantir a psicoterapia semanal.

— Ah... Claro. – suspirei.

— Não não gosta desse lugar né? – ela perguntou enquanto preenchia um papel.

— Alguém gosta? – nos olhamos brevemente.

— Algumas pessoas precisam se adaptar.

— Eu não me adaptaria.

— Ansiosos odeiam rotinas. – ela sorriu. – Isso é o pior daqui para eles.

— Não. Acho que é partilhar da dor das pessoas. Estou tocado por coisas que ouvi e altamente assustado por outras que vi. Os meus ataques que parecem um ataque cardíaco começou a não parecer nada perto de vários outros ataques que vi aqui. É tão ruim ver o lado degradante que o ser humano pode chegar. Não tenho nenhuma intenção de voltar ou fazer disso aqui um refúgio como vejo alguns fazendo... – nos olhamos.

— É assustador a ideia de alguém não conseguir se controlar ou precisar tomar choque, não é? – ela perguntou e sorriu.

— Eu só quero ir embora. Sinto falta da liberdade, sempre senti, agora mais que nunca.

— Acredite você vai dar mais valor de agora em diante. – ela se levantou. – Pode arrumar suas coisas. Você passará pela checagem médica e será liberado. Vão informar seu médico e ao seu responsável.

Concordei e sai da sala. Os últimos momentos sempre eram os mais ansiosos, embora eu nem soubesse se fazia mesmo sentido eu dizer isso.

— Sua pressão está alta. – a enfermeira avisou antes de anotar. – Deve ser por estar indo embora. – concordei.

Despedi dos meus colegas de quarto e depois fui procurar Paty e Kevin. Ele disse que me veria qualquer dia por aí e então trocamos telefones e ela falou que poderia demorar a sair, mas que eu a veria no prédio. Eu provavelmente não teria conhecido os dois se não fosse ali naquele lugar. Sai com uma sensação de que vivi uma experiência necessária. Não boa, mas que eu tinha que viver.

Gardan me abraçou ao me ver como se eu tivesse acabado de sair de um coma. Ele sentiria falta de ser meu meio pai assim que eu saísse do hotel. Olhei para o meu médico que parecia menos que sério que sempre.

— Como fiz na sua internação eu vim acompanhar na saída. – ele disse e sorriu. – Você está tendo uma evolução muito boa. Dias sem crise. Parou pra notar isso? – e era verdade.

— Não. – respondi e pensei um pouco. – Mas quando eu estava voltando de Torres... – parei de falar e pensei mais ainda. - Não foi tão sério assim. Será que os remédios enfim estão fazendo efeito?

— Não posso dar certeza. Não completaram nem seis meses desde a troca. Vou acompanhar de perto. – ele passou a mão em minha cabeça. – Qualquer coisa me ligue. Tenho que voltar para o consultório. – o agradeci por duas vezes e nos despedimos.

— Eu não aguentava mais o Eliot perguntando de você. – Gardan disse quando entramos em seu carro. Nos olhamos. – Ele terminar o namoro foi ridículo porque ele claramente tá sofrendo, tá dando até dó. - balancei a cabeça negativamente. 

— Ah, ainda tem isso. – suspirei lembrando dele.

— É sério Murilo. Ele tá acabado. Ele queria muito ir te visitar, mas eu achei melhor que ele não fosse. Fiz mal?

— Não. – respondi apenas isso. Sabia que ele queria apenas ver como eu estava, mas não era o melhor a se fazer depois de terminar comigo.

Assim que chegamos ao hotel eu fui subir para o meu quarto. Era o meio da manhã quase na hora do almoço. Combinei com Adam de ir amanhã, mas acho que hoje mesmo eu iria ir para a república. Quanto antes eu saísse dali seria melhor. 


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Notas finais do capítulo

Até amanhã ♥



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