Amor Perfeito XIV escrita por Lola
Notas iniciais do capítulo
Boa Leitura ♥
Giovana Narrando
Não poderia imaginar que saber que Sophia estava grávida de Yuri iria me trazer tantos problemas.
— Precisamos conversar. – ele falou assim que cheguei a sua casa, me abordando na sala, achei aquilo bem estranho e sua seriedade me assustou ainda mais.
— Sobre? – perguntei um pouco receosa.
— O que você sabe sobre Sophia? – olhei para os lados.
— O que? Como assim?
— Ela está grávida e eu quero que me conte o que sabe.
— É... Yuri, eu não sei... – quase gaguejei.
— Então eu vou te falar. Larissa descobriu que a irmã estava grávida, procurou meu irmão Kevin que contou ao meu irmão Arthur que decidiram contar a todos vocês como se a minha vida fosse pauta de reunião de todo bando.
— Quem disse isso pra você?
— É verdade? – ele olhou fixamente em meus olhos.
— Me deixa explicar.
— Você já sabia que ela estava grávida? Você já sabia Giovana? – concordei gestualmente.
— Sinto muito Yuri. – falei quase chorando.
— Confiei em você. – ele disse baixo e em um tom de decepção e saiu.
Chamei todos para nos reunimos e eu estava tão nervosa que não conseguia nem falar direito.
— A gente conversou ontem a noite, Sophia nos disse sobre a gravidez. Quem foi que contou pra alguém que falou para o Yuri? E outra, ele foi envenenado, a forma como ele me questionou nem foi como aconteceu! Nenhum de vocês podia ter feito isso.
— Calminha aí Giovana.
— Ele estava muito zangado e se vocês vissem a expressão no rosto dele... Ele se sentiu traído. Ele confiava em mim.
— Envenenado? Então ele voltou a manter contato com Diana certamente.
— Otávia deve ter contado para o namoradinho que contou a irmã que fez o serviço sujo. – Kevin concluiu e a olhou.
— Eu sei disso desde o primeiro dia praticamente, há dias atrás. Se fosse assim já era pra ter acontecido muito antes.
— Que seja também, os dramas do Yuri não são relevantes. Como dissemos ontem Sophia tem que contar aos pais.
— Ela teria que contar a ele também e agora ele tá com raiva da história antes de saber.
— Esse garoto é tão patético que me faz querer que o Kevin desse uma lição nele.
— Alguém precisa conversar com ele antes que ele faça alguma idiotice.
— O Arthur é que sempre sabe a coisa certa a se dizer e no caso... Yuri não está muito afim de ouvir o irmão.
— A reunião era por isso? – Kevin perguntou se levantando. – Temos coisa muito mais importante para resolver agora.
— O seu irmão também é importante. – reclamei. – E vocês dois ainda nem tentaram conversar com ele.
— É gravidez, é conversa, é morte, é tudo. E eu estou de ressaca e minha cabeça está doendo. – ele foi pra outro lugar me fazendo desistir de tentar resolver alguma coisa.
Alice Narrando
Para esquecer a tristeza que eu sentia por não falar e nem ver meu irmão eu decidi que iria fazer uma festa de aniversário. Assim eu me ocupava. E mais que isso, eu me livrara um pouco das preocupações, já que eu sabia que Kevin e Arthur estavam aprontando alguma coisa para poderem se livrar da vingança contra o pai. Não seria bom pensar nisso.
— Ai eu estava na casa do Alexandre e a Larissa chegou. – Aline contou me deixando surpresa. Eu a chamei para ir comigo decidir o tema da festa e eu estava em duvida entre festa neon e festa a fantasia e ela não me ajudava nem um pouco. Devia ter chamado Sophia, mas ela só vomitava nos últimos dias.
— O que você estava fazendo na casa dele? – continuei concentrada em minha missão. – E ela, o que foi fazer lá?
— Ah... Eu estava ficando com ele né? – ela deu uma risadinha tímida. – Ela eu já não sei, mas o que eu quero dizer é que foi o maior climão.
— Ok. Mas e o tema da festa? – a olhei e ela sorriu.
— Acho que deveria ser a tropical. Olha como os itens são lindos e você ouviu a moça dizer que é a mais pedida do catálogo. – fiquei olhando pra ela pra ver se ela conseguia achar alguma conexão entre tropical e eu. – Tá bom. – ela passou as folhas da pasta. – E festa na piscina? Pode ser na mansão dos seus avós. Ou você aluga um sitio como a Otávia fez né? Ela me contou que foi maravilhoso.
— Isso só da confusão.
— Festa vintage? – discordei. – Country! Aposto que você vai amar ver o Arthur vestido de Cowboy. – a olhei com mais seriedade.
— Estava em duvida entre neon e fantasia, mas não sei...
— Por que está sendo tão difícil escolher o tema da festa? Não devia ser a parte mais fácil?
— O que acontece é que eu não estou em clima de festa. – suspirei.
— Estou percebendo. Se quiser desabafar... Ou você me chamou aqui só pra eu dar opiniões e ficar contando casos?
— Chamei porque você é legal e me lembra da Fabiana... – pensei um pouco lembrando o natal. – Já sei o que posso fazer para melhorar pelo menos um pouco. – me levantei para irmos embora.
— E o tema da festa?
— Isso pode esperar.
Quando cheguei até a casa dos meus avós tive que esperar porque Arthur e Kevin estavam conversando com Yuri. Eu andava de um lado para o outro impaciente. Quando eles saíram puxei os dois para o quarto do Arthur.
— Mal resolvemos um problema vai vim a princesa com mais um.
— Quero ir até a universidade. – Kevin deu uma risada.
— Ela é engraçada né? Ela quer ir a Paris, a universidade... Ela é cheia de vontades.
— Por que isso agora Alice? – Arthur perguntou me olhando.
— Preciso falar com Fabiana.
— Existe celular, chamada de vídeo. Eficiente e rápido.
— Não Kevin. Tem que ser pessoalmente.
— O que é tão urgente Alice?
— Arthur... Eu desfiz nossa amizade no natal. E eu preciso consertar isso.
— Por que agora amorzinho? Tanta coisa acontecendo e você quer fazer as pazes?
— Sinto falta dela. E errei. E as coisas não vão parar de acontecer.
— Espera o final de semana e eu te levo.
— Ah qual é Arthur?! E se te seguirem? Isso pode virar um banho de sangue!
— Não posso ficar me escondendo em casa Kevin. Se tiver que seguir eles vão me seguir no caminho do trabalho.
— Vou com vocês. Não tenho escolha. E vai ser legal conhecer o lugar que o meu namorado era tão... Diferente.
— Devasso o nome. – ele me fuzilou e eu sorri, depois olhei os dois. – Parece que vocês estão com problemas entre vocês dois, o que tá acontecendo?
— Vai contar a ela ou eu conto? – Kevin perguntou e Arthur parecia não querer falar no assunto.
— Discordei dele sobre um método de segurança.
— E qual método é esse? – eles se olharam.
— Seria esse. – o mais novo mostrou a arma que trazia na cintura. Quase dei um grito.
— É de verdade? – ele riu.
— Não. É de brinquedo. Claro que é de verdade.
— E você pretende fazer o que com isso?
— Tentar me defender quando eu for atacado. – olhei pra Arthur que deu de ombros.
— Você não tem noção de como foi para conseguirmos comprar isso. – meu namorado lamentou.
— Você foi com ele? – perguntei totalmente desacreditada.
— Lógico Alice. Como você acha que o Kevin voltaria de um lugar desses? – nos olhamos.
— Assassinado. – conclui.
— Esses caras que são folgados pra caralho. – ele se defendeu.
— Então agora você vai andar armado por ai?
— Diariamente. E não sou só eu. – ele olhou o irmão.
— Não acredito.
— Ele viu o namorado quase ser morto Alice... Não tive como não entrar nessa.
— Vocês vão andar armados, é essa a grande ideia para salvar a vida de vocês? – perguntei como se eles não estivessem entendendo o quanto aquilo era perigoso, arriscado e errado.
— Eles chegam com isso e a gente ataca com a mesma coisa. Estamos desesperados Alice! – olhei para o Kevin.
— Não tão desesperados... Vocês ao menos sabem atirar?
— Kevin sabe. Aprendeu desde novo, coisas do papai. – Arthur suspirou. – Ele vai me ensinar.
— Temos que supor que você vai aprender.
— Assim você me insulta. – sorri com a forma como ele falou.
— Então vai ser isso mesmo?
— Não vou colocar toda a minha fé em uma promessa do meu pai de nos proteger. Você confia nele Alice? Eu não confio. Ele é um psicopata, não dá pra confiar. E não dá pra gente ir lá e mata-lo porque parece que aí sim seremos mortos. – Kevin disse quase aos berros.
— Essa última parte foi exagero né? – perguntei olhando para Arthur.
— Com certeza. – ele respondeu me deixando aliviada.
— É, foi. Sou um cara legal agora, lembra? – ele fez aquela cara de cínico dele.
— E se vocês matarem alguém? Vão ter que lidar com a dor, a culpa, o remorso... Tirar uma vida é algo desumano demais.
— Estou esperando a parte que você explica como vamos ficar vivos sem matar.
— Isso tá ficando sério demais. – falei olhando nos olhos de Arthur.
— Engraçado porque quando o Rafael estava sangrando no banco de trás do meu carro eu também tive essa mesma impressão.
— Ele tá certo Alice. Por mais que me doa admitir isso. E a gente sabe que depois que acontecer vamos poder contar com Caleb para mostrar aos amigos que os filhos dele não estão pra brincadeira. Eles vão desistir.
— Tá bom então. – abandonei daquele assunto.
— Como você está? – Kevin chegou mais perto de mim. – Com aquilo do seu irmão.
— Melhorando. – suspirei. – Obrigada por se preocupar.
— É... Cada dia eu me transformo mais em alguém melhor, acho bom o Arthur se cuidar, posso roubar o lugar dele.
— Não tem como. Porque Arthur tem duas coisas que você não consegue ter. Equilíbrio e altruísmo. É por isso que ele sempre foi o centro dos nossos amigos e primos. Não quero trazer uma antiga rivalidade de volta, mas mesmo que você tenha muitas qualidades você não se preocuparia tanto com as pessoas como o Arthur, então não se compare a ele.
— Ele só fez uma brincadeira Alice. – olhei meu namorado.
— E eu só fui sincera. Não é o que ele tanto gosta de ser? Se alguém fosse com o Kevin como ele é por um dia ele não aguentaria nem as primeiras horas.
— Mas eu sou muito mais divertido. – ele piscou e se foi.
— Desteto ele. – resmunguei.
— Não detesta não, por que isso agora?
— Ele não é igual a você, ele não vê o mundo como você. Essa é a principal diferença entre vocês dois. – ele chegou mais perto de mim e fez carinho em meu cabelo.
— Nunca diga isso a ele. Você o magoaria muito.
— Por mais que eu tenha toda esperança em Kevin ás vezes eu... – fiquei sem saber o que dizer.
— Você apenas lembra quem ele sempre foi. E das características que ele ainda tem. Ele fez alguma coisa ontem que você não achou legal?
— Ele estava se divertindo ontem?
— Você sabe que não. Ele foi beber por que você mostrou a ele o quanto ele ainda se importa com Murilo.
— De qualquer forma eu não gosto quando ele se compara a você. Ele fazia muito isso antigamente, lembra? Isso dá a impressão de trazer totalmente o antigo Kevin de volta.
— Chega dele. – ele segurou meu rosto e me beijou. – Vamos ficar juntos, temos que aproveitar esse mês, antes que as aulas voltem.
— É, eu acho que temos. – sorri entre o beijo.
Ficamos juntos o resto do dia e por incrível que pareça, os dramas, problemas e ameaças ficaram um pouco de lado. Por algumas horas.
Murilo Narrando
Os quartos não tinham portas, tirando os individuais e aqueles que ficavam pessoas em casos especiais, que eu nem quis muito saber quais casos. As alas eram muitas e era difícil alguém novo ter noção de muita coisa, eu só sabia o que Paty me contava. E geralmente após a hora de dormir não passava ninguém no corredor e uma luz fraquinha ficava piscando um pouco e sinceramente... Se tivesse algum problema incomodando em sua cabeça, o ambiente não era nada propício para que você conseguisse relaxar e caísse no sono.
Levantei vagarosamente e pé por pé fui até o dormitório de Paty. Como eu imaginava ela estava com os olhos arregalados. Entrei bem rápido, mas sabia que a sombra que fiz lá dentro com certeza causaria espanto se mais alguém tivesse acordado. Sentei mais rápido ainda no chão ao lado de sua cama.
— Oi. – sussurrei bem baixinho. Ela pareceu se assustar, eu podia ouvir seu batimento cardíaco. Ela virou o rosto para o meu lado e veio com suas mãos no meu cabelo e no meu rosto, parecendo duvidar que eu era real.
— O que você está fazendo aqui? – ela perguntou em meu ouvido.
— Não conseguia dormir. Acho que estava preocupado com você.
— Tem guarda em cada corredor. Ele não te viu? – nos olhamos. – Se te pegam você vai arrumar um problemão.
— É só isso que eu sei arrumar mesmo. – dei de ombros.
— Quer deitar aqui?
— As duas últimas vezes que fiz isso não deu muito certo. Melhor não.
— Então vai pra sua cama. Tenta dormir. Eu estou bem, fica tranquilo.
— Daqui a pouco eu vou. – ela se virou de bruços e chegou mais perto da beirada.
— Amanhã você vai jogar vôlei? – a olhei. – É lógico. Você não para quieto. – sorri. – É sério, por que você não faz nenhuma ligação?
— Meus pais sabem que estou bem. Sei que eles vão ficar me questionando e eu não quero isso.
— Não te dão remédios pra dormir aqui?
— Não. Meu médico manteve minha medicação lá de fora. Você toma? – nos olhamos.
— Não posso. Estou te fazendo muitas perguntas?
— Tá sim, mas você sempre faz. Já me acostumei.
— Eu te daria um tapa se não fosse fazer barulho.
— Posso te fazer uma pergunta? – ela concordou gestualmente. – Qual é o seu trauma de infância? – ela rapidamente gesticulou negativamente e vi que seus olhos brilharam. – Desculpa. Desculpa. – fechei os olhos. – Sempre sou um idiota. Nunca é intencional.
— Não tem problema. É só que eu não consigo falar, caso contrário eu te contava.
— Perguntei por também ter um. A minha irmã tem uma doença e precisava do meu cuidado e eu não cuidei, ela se feriu e meu pai ficou muito bravo e me mandou ficar com meu avô paterno. Só que esse avô é um tanto violento. Então fiquei sendo espancado no porão dele. – ela me olhou assustada. – Ano passado eu consegui dizer ao meu pai o quanto isso me magoou e ele se desculpou e disse que não sabia e não imaginava que ele exageraria dessa forma. Sei que ele não queria me machucar, tanto que ele nem teve coragem de fazer isso e me entregou a outra pessoa, mas foi algo que me fez odiá-lo por muitos anos.
— E com razão. Foi nessa época que as crises começaram?
— Não. Nasci com isso. – respirei fundo. – As professoras do pré diziam que eu era hiperativo sem nem mesmo ter um diagnóstico. Nem precisava. E a agitação foi piorando até virar isso. Mas do nada parou. Achei que tinha curado. – dei uma risadinha.
— Inocente. – ela sorriu. – Não existe cura para doenças mentais. Não que eu saiba. Lembro a fala do meu médico dizendo que a depressão é como hipertensão ou diabetes, podem ser controladas a ponto de viver bem. Não tem cura, mas tem controle. Só que eu ainda estou atrás desse controle.
— Eu também. – nos olhamos.
— Tem dia que tudo o que eu quero é deixar de existir, é simplesmente sumir e tudo acabar, sabe? Tipo... Por quê?! Não consigo encontrar motivo nenhum pra continuar lutando. – ela respirou fundo. – Odeio falar sobre essas coisas porque eu começo a chorar. Por isso eu prefiro ser falsamente alegre e positiva o tempo todo.
— Acho que entendo um pouco. Somos opostos. Você é triste e tenta parecer alegre. Eu sou alegre e pareço triste. Os meus amigos estranham tanto o meu jeito, disseram muito que eu mudei. Eu não estou triste... É só que não dá pra ser o mesmo de antes. Entende?
— Isso deve ser por agora você sentir que tem algo que te controla. Sintomas de um transtornado. – ela sorriu e eu sorri depois.
— É bom conversar com você. – fiz carinho em sua bochecha. – Agora vamos falar de algo bem leve para você ficar relaxada e dormir.
— Tá bom. – ela deu um sorrisinho engraçado. – O que você acha que vai ter na janta amanhã? Aposto em pato. – dei uma risada.
— Vocês só comem pato. Podia ser peixe. Estou morrendo de vontade.
— Você tem que me contar tudo sobre seu País, seu Estado, sua cidade, seu bairro, sua rua... – a olhei.
— Minha rua tem chão, árvores e só. Começamos bem.
— Você mora em uma floresta?
— Quase. Minha mãe quis morar em uma casa de pedra. Aí o que o meu pai fez? – ergui a sobrancelha. – Construiu uma casa de pedra pra ela. Ele achou um terreno grande afastado do centro e... Perfeito.
— Já vi acabamentos de pedras. Mas é toda mesmo? – concordei. – O bom que a pedra não retém calor. É ótimo para clima quente.
— Para o frio nem tanto. – fiquei olhando pra ela.
— Estou esperando. E o seu bairro?
— Não acredito. É sério?
— Sim. Vou fechar os olhos enquanto você vai contando. Não quer que eu durma? Não diz nenhum fato interessante se não rapidinho eu fico em alerta. – dei uma risadinha baixa.
— Tá bom. – respirei fundo. Fiquei falando e falando e quando vi ela havia dormido. Sorri e me levantei rapidamente indo para o meu quarto. Deitei e então dormi em menos de dois minutos.
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Até amanhã (supostamente ;) )