Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 38
Palavras mal ditas


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789024/chapter/38

Giovana Narrando

Depois de eu explicar que eu e Yuri nos identificávamos por ele ser visto como o bobo e eu como a sonsa, Kevin concordou que eu podia tentar falar com ele. Talvez ele tenha me ofendido um pouco dizendo que dois animais se entendiam, mas eu não liguei muito. Fui já sabendo que a minha abordagem tinha que ser meticulosa.

— Ei. – abri a porta do seu quarto. – Posso entrar?

— Pode. – ele estava deitado vendo televisão, então cheguei e me deitei ao seu lado. – O que foi? Veio dizer o que todo mundo tá louco pra falar?

— Não. Vim só te fazer companhia mesmo. – nos olhamos. Ele riu.

— Você tentando mentir é até engraçado.

— O que ela tem Yuri? Por que essa revolta toda por uma garota?

— Não é ela Gih. É o que ela me mostrou. Não quero ser coadjuvante de ninguém. Os meus irmãos não confiam em mim. Sempre fui um lerdo idiota pra eles.

— Então você não está loucamente apaixonado e morrendo de amores?

— Não! – ele respondeu como se fosse ridículo. – Se fosse o caso eu iria ficar de boa ao vê-la indo atrás do Kevin? Não né Giovana?

— Então vocês ficaram e ela só... Envenenou você?

— Ela me mostrou como as coisas são, tudo que eu já sabia e eu não queria enxergar.

— Seus irmãos te amam Yuri.

— Tanto que nenhum deles se deu ao trabalho de vim falar comigo.

— Tá acontecendo muita coisa... O assalto com Rafael não foi assalto. Você já imaginava né?

— Mesmo assim. – notei que ele estava mais magoado que tudo.

— Por que tá tratando até sua mãe mal?

— Ela é chata. Acha que só o Arthur pode fazer as coisas.

— Ah é só revolta adolescente mesmo. – dei uma risadinha. – Ela também se preocupa com você Yuri. Você tá deixando ela e todo mundo triste. E tá se fazendo tão mal. Tá nítido isso.

— Por que tá preocupada comigo? – fiquei olhando pra ele por algum tempo.

— Como assim? – ele desviou o olhar.

— Por que se importa? A gente nunca foi amigo antes.

— Não é verdade eu conheço você desde criança Yuri, a gente se identifica você sabe disso e eu...

— Mas nunca fomos tão próximos, não desse jeito.

— Não sei por que, mas é que parecia que você precisava... – olhei em seus olhos. - As pessoas acham que eu não ligo pra nada, só porque não me importo de ser chamada de sonsa, mas eu tenho sentimentos e eu senti que você não estava bem. Não quero ficar sem fazer nada.

— Nem sei o que te dizer. – ficamos nos olhando.

— Um obrigado eu acho que por enquanto é o bastante. – sorri. – E quero que faça algo por mim... – ele mudou de expressão rapidamente.

— Giovana...

— Apenas converse com eles. Dê chance de escutar o que eles têm pra falar. Você não está errado, mas todos nós merecemos uma segunda chance. E a forma como você foi conduzido a ver os fatos foi muito mal intencionada. Os seus irmãos não erraram de propósito. E se afastar deles não é se afastar de todos os amigos e até sua família. Essa garota não é nada legal Yuri!

— Pelo menos ela não me trata como um idiota.

— Ela te manipula. É diferente. – ele ficou em silêncio, sabia que era verdade. – Você vai conversar com eles?

— Não posso, prometi a ela que só me reaproximaria deles se Kevin se aproximasse dela.

— Isso é horrível Yuri.

— Não é nenhum sacrifício, eles nunca fizeram nada por mim.

— Aposto que está repetindo as palavras dela! – me sentei. – Eles te deram um carro de aniversário. Eles sempre demonstraram que te amam, mesmo que você não consiga ver.

— Você pode só me fazer companhia? – dei um sorriso e desisti. Não precisava forçar tudo de uma só vez. Pelo menos agora sabíamos o que realmente estava acontecendo com ele.

Alice Narrando

Estava em minha prisão domiciliar sendo vigiada pelo Ryan quando Kevin entrou. A expressão no rosto dele de satisfação por tirar minha liberdade era extremamente irritante.

— O dia tá lindo, devia dar um passeio. – o olhei com raiva. – Ah é, você não pode, o Ryan te pegaria antes.

— Cala a boca Kevin!

— Não faz esse bico. – ele se sentou ao meu lado no sofá. – Vim te animar um pouco, imagino o quanto seja ruim ficar... – ele olhou em volta. – Aqui.

— Você iria dizer presa. – fechei a cara mais ainda, ele segurou a risada. – Você acha engraçado?

— É Alice, eu acho. É muito engraçado tentar a salvar a vida de uma louca inconsequente.

— Quando o Arthur vai vim ficar comigo?

— Quando ele puder, ele trabalha amorzinho.

— O que o Ryan tá fazendo no portão de casa? – meu pai perguntou ao entrar, olhei para o cara do Kevin bem satisfeita.

— Ele quer se inscrever para o exército e então já está treinando. Tente ignora-lo, quando ele estava em minha casa eu fiz o mesmo. – não aguentei e ri. – Do que você tá rindo Alice? É importante ter um sonho mesmo que ele seja cruel e nada esperançoso.

— Vou subir e tomar um banho. – meu pai disse nos olhando como se fossemos loucos.

— Sua mãe tá com as amigas no shopping?

— Sim e a ideia foi da rainha do consumo da sua mãe. – o olhei com a cara mais cínica que eu conseguia.

— Cadê a Giovana? – Ryan perguntou entrando.

— Na função de tirar o menino Yuri das sombras. – Kevin respondeu o olhando. – E eu tô vigiando a Alice. – ele me olhou me provocando.

— Ele não te perguntou isso.

— Então quem tá vigiando pra que Diana não faça nada a Giovana?

— Otávia me perguntou se podia cuidar disso e eu me perguntei por que não, se ela transa com o irmão de Diana ela entende de gente anormal.

— Kevin! – chamei sua atenção.

— Se ela fizer alguma besteira, meu instinto diz que Yuri vai defender Giovana e então a louca da Diana tem dois alvos novos esquecendo eu e meu irmão e eu me livro de dois problemas. – olhei sua cara de psicopata.

— Espera... Esses dois alvos novos seriam...

— Giovana e Otávia. Sonsa.

— Isso não pode acontecer Kevin! – seu celular tocou.

— Não vai, é só uma variável Alice. Poderíamos pensar em tudo se não estivéssemos muito ocupados com suas intenções de ser heroína. - ele se levantou para atender.

— Que é? – ele atendeu como sempre muito educado.

A pessoa disse alguma coisa.

— O que? – pelo seu tom de voz ao fazer essa pergunta ele não gostou do que ouviu. – Por quê? – ele ficou pouco tempo escutando. – Quais perguntas?

Sua expressão ia ficando cada vez pior.

— Isso não é nada bom. Estou indo ai agora. – ele desligou e nos olhou.

— O que aconteceu? – perguntei e ele ignorou.

— Você fica de babá. – ele apontou para Ryan. – E você... – ele me olhou. – Vai ler um livro, aprender uma nova língua, tentar... – o interrompi.

— Vou aprender a língua dos imbecis para me comunicar com você.

— Você me magoa sempre e parte meu coraçãozinho. Dói tanto. – joguei a almofada nele e ele saiu quase correndo.

— Vou fazer um lanche pra gente. – falei insatisfeita.

— Acha que a Giovana e Yuri tem alguma coisa? – Ryan me perguntou assim que nos sentamos para comer.

— Não. – respondi rindo. – De onde tirou isso?

— Não sei... O jeito que ela falou que eles tinham essa ligação de menosprezados... – ele tentou não zombar daquilo.

— Para com isso Ryan. – o repreendi.

— Ah cara o Yuri sempre foi o bobão e a Giovana... É a Giovana. – não aguentei e ri. – Quem é que me mandou parar?

— Vejo que está bem divertido vigiar Alice. – respirei fundo ao ouvir a frase de Arthur.

— Falta uma hora mais ou menos pra você sair do trabalho.

— Sai mais cedo. Estava preocupado com você nessa situação... Vejo que não precisava.

— Tá com ciúme de nós dois? – Ryan perguntou se levantando. – Olha pra você, sua autoestima devia ser bem melhor. – ele respirou fundo. – Meu turno acabou então eu vou pra casa.

— Vou te levar. – Arthur falou e ele rejeitou.

— Não é tão longe eu vou andando. Já fiz isso muitas vezes quando eu e Murilo saiamos a noite. Obrigado. – assim que ele saiu fiquei olhando para Arthur.

— Você fez a mesma cena de quando me pegou rindo com Rafael antes de irmos para o abrigo. Vai começar tudo de novo?

— O Ryan é bonito e ele é legal e...

— Legal? O Ryan é o cara mais rabugento do mundo Arthur!

— O que eu quero dizer é que ele não é bobinho... Ele é esperto, ele sabe ganhar uma garota se ele a quiser.

— Você decide me prender e ainda quer ter crise de ciúme? Sério mesmo? O idiota do seu irmão já veio aqui cheio de gracinha. Vocês dois podiam sair da minha vida, eu seria muito mais feliz. – sei que eu peguei pesado, mas quando vi já havia dito e eu não iria voltar atrás. Fui para o meu quarto mesmo sabendo que ele iria ficar lá embaixo o tempo todo.

Murilo Narrando

Não sei de onde eu tirei que estar ali seria algo fácil de passar. Não seria. Posso até ter encontrado duas pessoas legais, mas isso não mudava o fato de que tudo ali era ruim demais. Mas era o que infelizmente eu precisava.

— Posso pentear seu cabelo? – uma garota perguntou me olhando, eu havia acabado de sair do banho. Agora eu estava em um dormitório com mais três pessoas.

— Não tenho muito cabelo pra pentear. – respondi e passei a mão em minha cabeça.

— Ignore. Ela acha que todo mundo é um boneco de pano. – o garoto que ficava com a gente contou e ela não gostou. – Mentira. Ela apenas trata como se fosse.

— Não é a mesma coisa? – perguntei confuso. Ele ergueu as sobrancelhas como se concordasse. Que seja. Sai para pegar o sol da manhã e já me deparei com uma cena no corredor.

— É irônico isso não? – Paty perguntou ao me abordar. Observei que a garota gritava com a enfermeira a chamando de louca. Dei uma risada.

— Cadê seu amiguinho?

— Hoje ele vai ficar de cama, tomou injeção. – a olhei sem entender. – Seu médico deve ter instruído o pessoal a agir de outra forma com você, o problema de vocês dois é o mesmo, você também deveria passar por isso. Ele toma a cada três dias.

— Meu médico costuma dizer que ninguém tem o mesmo problema, cada um é cada um.

— Não aqui. – ela deu de ombros.

— O que você tem aí? – olhei para sua mão.

— Livro, quer emprestado? Acabei de ler. Eu iria devolver pra menina que me emprestou, mas ela nem vai sentir falta. Pode pegar se quiser. – analisei a obra. – Não adianta tentar achar outra coisa, aqui só vai ter autoajuda. Quando tem. Ninguém vem equipado, afinal...

— Já entendi. Não se planeja estar aqui. Você quer me fazer sentir culpa?

— Não, jamais. Gostou da comida daqui?

— Não tenho muito que reclamar.

— Considerando que você veio do Palace, imagino que tenha.

— Como você sabe disso?

— Pesquisei. – ela sorriu. – Tenho um amigo de um amigo que trabalha com os documentos.

— Se estava curiosa por que não perguntou pra mim?

— Acabamos de nos conhecer, seria estranho.

— Considerando o lugar que estamos nada é estranho.

— Você já devia conhecer o Kevin.

— Por quê?

— O pai dele é sócio do Palace. A irmã dele e ele vivem lá. – lembrei-me da garota no elevador falando sobre o irmão.

— Ela eu conheci, ele não.

— Ele é legal. É do tipo bem discreto, mas que se solta com quem ele tem intimidade, por isso eu brinco com ele. Além disso, ele não gosta muito que fale dos pais, então não diga nada a ele sobre isso, tá?

— Ok.

— Já se questionou o que é sanidade hoje? – dei uma risada. – Não ria, estamos aqui pra isso Murilo.

— Eu estou aqui pra não morrer em um quarto de hotel.

— Por insanidade.

— Um transtorno é uma insanidade?

— Depende do grau do transtorno?

— Por que tá me perguntando?

— Uma conversa com perguntas não é mais interessante?

— Por quê?

— Se você não acha por que não para de fazer perguntas?

— Por que essa conversa está virando um questionário?

— Isso aí. Insanidade.

— Você não pode ser normal.

— Não somos. Ninguém é.

— Temos mesmo que questionar isso?

— Depende. Se você trombar com uma interna que acredita piamente que é a mulher do Presidente... Você vai começar a se questionar involuntariamente.

— Não posso discordar. – respirei fundo.

— Você tem vícios não tem?

— Como sabe?

— A maioria dos ansiosos tem vícios. Não te conto qual é do Kevin se não ele me mata.

— Dá pra parar de falar o nome dele, por favor?

— Você ama mesmo esse seu ex namorado hein? Uau. – ela fez que iria rir e não riu. – Se for cigarro eu conheço quem trafica aqui dentro.

— Qual é, isso é sério?

— Você não tá só em um local de pessoas com transtornos, tem gente aqui que quer se curar de vícios. Não tem cigarro aqui e nem pode entrar. Mas como eu disse...

— Não. Não é cigarro.

— Álcool? Tem um químico que faz uma misturinha da hora. – ela riu. – Estou só brincando. Erva? Não, não entra aqui, arriscado demais.

— Eles revistaram minha mochila e acharam... – ela começou a rir.

— Você só pode tá brincando. Quem traz drogas pra um hospital psiquiátrico? O seu médico soube disso com certeza tá?

— Que se foda ele, é tão bom e não consegue nem uma merda de remédio que funcione. – ela continuou rindo. – Qual é a graça?

— Você. Você é muito louco.

— Então estou no lugar certo. Já se questionou o que é sanidade hoje? – pisquei.

— Tá. Vou te contar uma coisa que você não vai passar e que eu sofro aqui... Para me depilar uma enfermeira tem que me assistir. – arregalei os olhos. – É aquilo né? Interna de risco.

— Isso deve ser ruim.

— Constrangedor. No início eu odiava, mas já me acostumei. Hora do almoço. – ela se levantou. – Por sorte veremos o Ke... O pinscher no jantar. – concordei e a segui. Tinha que admitir que a comida não era mesmo ruim. Outra coisa que eu devia admitir é que ter alguém pra ficar falando qualquer coisa que seja tornaria o tempo ali um pouco menos tenebroso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até amanhã ♥ (com certeza,rs)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor Perfeito XIV" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.