Maresia escrita por Cinderela Modernizada


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Você não é um monstro por fazer escolhas que acharia que daria certo. — Planteador.



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— O que acha desse? – Parei na frente do Paçoca usando mais uma das 50 opções que tinha separado para aquela noite. Um vestido vermelho bem esvoaçado de frente única e degradê com roxo.

 

            Paçoca estava me acompanhando desde que coloquei a primeira roupa, uma hora atrás. Ele era um parceiro e tanto e minha única companhia no momento, além de ser ótimo jurado para o meu pequeno desfile.

 Dei uma voltinha e o cachorro tampou os olhos com as patas, mostrando que não tinha gostado da roupa. Ou isso ou ele já estava cansado da minha indecisão eterna e só queria que eu o deixasse em paz. 

 

 - Não? – Me olhei no espelho, mexendo o vestido de um lado para o outro. – Verdade, acho que o anterior ficou melhor. – Tirei o vestido e fiquei só de calcinha e sutiã, de novo. 

 

Faltava apenas uma hora para o encontro com o Castiel e o meu closet estava quase que praticamente todo no chão. Meu cabelo já estava pronto e foi pura sorte a Callie ter me feito participar do seu dia da alegria ontem e todo aquele tour por salões de beleza, isso me poupou tempo da sobrancelha e manicure, além de depilação.

Peguei o vestido slim de cetim amarelo com alcinhas e o vesti. Ele era curto, mas não ao ponto de ser imoral. O decote era quadrado com um pouco de pano sobrando de forma que, se eu me inclinasse, o meu busto ficava bem a mostra. A cor realçava o moreno da minha pele e era uma roupa que daria para qualquer tipo de ambiente, salvo se o plano dele fosse nadar no mar ou fazer algum esporte. 

Mas ninguém levava alguém no primeiro encontro para fazer esporte, não é? Seria um caos!

 

— É esse! – Disse decidida, me olhando no espelho. Olhei para o Paçoca e ele estava dormindo. – Vou considerar que você disse sim. - E, também, eu não tinha mais tempo para ficar trocando de roupa.

 

            Fiz uma maquiagem básica e com um batom rosa clarinho, o vestido já chamava muita atenção, não dava para colocar um vermelho na boca e achar que estava arrasando. Como acessórios, apenas duas correntinhas douradas no pescoço e um pingo de luz na orelha. Salto alto agulha fina e uma bolsinha de mão em formato de estrela do mar. (X).

O cabelo eu tinha realmente caprichado. Lavei e deixei que secasse de forma natural para que as ondinhas dessem um aspecto de que eu tinha acabado de sair da praia, o ativador de cachos tinha ajudado muito e, além de tudo, ele tinha Glitter. 

 

 - Uau. – Diana disse entrando no closet quando eu estava passando perfume. – Se ele não cair para trás quando te ver, tem problemas.

 - Acha que exagerei? O vestido não tá muito ... vulgar? – Me olhei no espelho de novo um pouco hesitante. Acho que ainda dava tempo para trocar pelo vermelho de novo.

 - Claro que não. Você tá perfeita! – Ela disse me acalmando.  – E ele também não está nada mal. – Imediatamente destinei minha atenção para ela.

 - Ele já chegou? – Não podia dizer que Castiel não era pontual. – Como que eu não ouvi a campainha? – Perguntei sentindo que iria começar a suar.

 

Por que raios eu estava tão nervosa? Era apenas um encontro. Bom, um encontro que determinaria se eu daria conta de lidar com aquele caso e fazer o Nicholas feliz ao ponto de me recomendar para o esquadrão da Vivara ou que me faria ficaria anotando multas de trânsito para sempre, exercendo minha carreira policial de forma monótona.

 

 - Porque não temos? – Diana perguntou dando um sorriso e levantando uma sobrancelha, tentando não rir do meu nervosismo.

 - Verdade. – Assenti com a cabeça tentando ficar mais relaxada.

 - Merlia? – A olhei enquanto, sem perceber, andava de um lado para o outro closet.  – Por que você está tão nervosa? – Aquelas palavras me acertaram em cheio.

 

Por que eu estava tão nervosa?

Dei um suspiro alto, me jogando no divã verde perto da penteadeira.

 

 - É que é aterrorizante sentir que todo o caso depende de mim, sabe? De como eu vou falar, como vou agir. Eu tenho que ser simplesmente perfeita para que ele goste de mim e isso é ... – As palavras saíram da minha boca como metralhadora, não dando nem tempo para que eu respirasse. 

 

Quando senti que meus pulmões estavam precisando de ar, parei de falar e respirei fundo.

 

 - Cansativo? – Ela completou e eu apenas assenti ofegante.

 - Eu não achei que viver uma vida dupla seria tão difícil. – Disse sarcasticamente.

 

            Diana se sentou ao meu lado no divã e pegou na minha mão com afeto, a segurando com firmeza enquanto me olhava docemente que nem a minha mãe fazia. Ah pronto, agora eu iria chorar por causa da saudade massacrante que estava sentindo dela?

 

 - Eu sei que parece difícil, mas você está se saindo incrivelmente bem. – Suas palavras saíram como se ela tivesse certeza do que estava dizendo. - Em apenas uma semana teve um avanço espetacular. – Seus olhos gentis encontraram-se com os meus. - Se aproximou da Callie e tem um cara lá embaixo segurando um buque de flores suando mais do que você. – Dei uma risada.

 - Um buque? – Ela assentiu.

 - Agora vai lá e mostra do que você é capaz! – Tentando segurar as lágrimas, dei um abraço na Diana.

 - Não acredito que você vai me fazer borrar a maquiagem. – Ela deu uma gargalhada, fazendo o meu e o seu corpo tremer – Ok, agora eu vou lá fazer o riquinho que trafica armas se apaixonar por mim. – Disse ficando de pé, tentado soar confiante.

 - Boa sorte.

 - Ah, por favor, olha esse vestido. – Disse dando uma voltinha de brincadeira. – É de matar.

 

            Desci as escadas e, como Diana disse, Castiel estava no meio da sala agachado acariciando o Paçoca com um buque de flores na mão. 

Ele estava um gato com os cabelos loiros penteados para trás, deixando seu rosto bem mais a mostra, barba feita, calça de brim bege, camisa social azul claro que deixava seus olhos bem mais vívidos e um blazer azul bem escuro que quase chegava a ser preto.

 

 - Uau, você está... uau. – Dei um sorriso envergonhado pelo jeito que ele me olhou.

 - Digo o mesmo para você. – Retribui o elogio.

 - Trouxe isso para você. – Ele me entregou o buque de flores cor-de-rosa. – Eu não sabia de que flores você gostava... – Impressão minha ou ele estava um pouco nervoso? Era errado que isso me deixasse bem mais calma? Se eu visse marcas de pizza debaixo do braço ficaria feliz demais.

 

            Para de ser estranha Merlia.

 

 - São lindas. Que flores são? – Perguntei curiosa enquanto levava as flores cor-de-rosa até o nariz para sentir o cheiro. (X)

 - Peônias. – Minha capacidade de saber as variedades de flores não era de se orgulhar. Na verdade, eu sempre achei o conceito de ganhar flores meio sem criatividade, mas é lógico que eu não diria isso para ele. 

 

Pelo que Castiel saberia, ganhar flores era a coisa que eu mais amava no mundo.

 

 - Eu amei! – Deixei as flores por cima do aparador e peguei minha bolsa. Provavelmente Diana iria colocar em um vaso ou coisa assim. – Podemos ir? – Ele assentiu.

 

 - E o Paçoca? Dando trabalho? – Castiel perguntou puxando papo quando já estávamos no trânsito.

 - Nadinha. Ele é um doce. – Respondi com um sorriso, me lembrando de como ele havia corrido que nem um doido na praia hoje de manhã na nossa corrida matinal. – Eu já disse obrigada por ter me dado ele, né? – Castiel assentiu dando uma risada.

 - Algumas várias vezes. 

 - Ele ficou me fazendo companhia enquanto eu me arrumava. – Achei melhor não comentar que ele que tinha me ajudado a escolher a roupa, talvez achasse isso meio maluquice. – Como foi seu dia? – Perguntei para puxar papo e  Castiel me olhou como se eu tivesse perguntando se ele queria bala ou algum entorpecente. – O que foi? – Perguntei um pouco confusa, repassando a pergunta na mente para ver se tinha falado alguma coisa errada.

 - Como foi meu dia? – Perguntou franzindo as sobrancelhas, repetindo a pergunta, como se para sentir o gosto daquelas palavras na boca.

 - É uma pergunta bem simples. – Será que ele tinha algum problema mental ou coisa do tipo? Isso com toda certeza estragaria muitos dos meus planos para hoje. 

 - É que, bom, não quero parecer desolado ou estranho demais... – Opa, já era querido. - ... mas eu não estou acostumado com essa pergunta. – Disse com um sorriso fraco.

 

             Ok, como assim ele não estava acostumado com uma pergunta de como tinha sido seu dia? Eu simplesmente tinha que responder isso todos os dias quando chegava do serviço à Elisa. Ela sempre me enchia de perguntas e só me deixava em paz quando eu contava nos mínimos detalhes.

Mostrar que se importa em ouvir as pessoas que ama é importante Merlia”, ela sempre dizia quando eu resmungava. Nunca achei que sentiria tantas saudades de ficar meia hora sentada no sofá contando sobre o meu dia e ouvindo sobre o dela.

 

 - Seus pais não perguntam como foi seu dia? – Ele fez que não com a cabeça enquanto olhava para a frente, prestando atenção no trânsito, ou fingindo prestar.

 - Meus pais não são bem o sinônimo de atenciosos. – Disse de forma seca.

 - Eu sinto muito. – Era estranho para mim o conceito de que, mesmo sendo podre de rico, ele não teve o amor que eu tive quando pequena ou todo o carinho familiar.

 

Será que ter dinheiro fazia você perder a noção de atenção por aqueles que você deveria amar?

 

 - Ok, funciona assim. – Me virei no banco para ficar de frente para ele, lhe concedendo toda a minha atenção e tomando cuidado para que meu vestido não subisse. – Eu vou perguntar como foi o seu dia e você vai me contar. – Ele olhou para mim e deu um sorriso que eu não consegui não retribuir. – Eu sei que parece um pouco complicado, mas é bem ok.

 - Bem ok? – Perguntou achando graça do meu vocabulário. – Você não precisa fazer isso... – Começou a dizer, mas eu o interrompi.

 - Pronto? – Perguntei como se fossemos fazer uma coisa maluca e não apenas conversar sobre o dia dele. – Castiel? – Disse me ajeitando no banco.

 - Oi? – Perguntou ainda com um sorriso que ficou bem maior.

— Poderia me contar como foi o seu dia? – Perguntei polidamente, o que o fez dar uma gargalhada alta.

 - Você é bem engraçada! – Ele disse parando o carro no sinaleiro, tirando as mãos do volante e olhando para mim de forma atenciosa.

 - Ainda esperando. – Comente e ele meneou com a cabeça, até que viu que eu não iria desistir daquilo e começou a falar.

 - Acordei cedo, fui caminhar na praia ...

 - Cedo quanto? Quero detalhes. – Disse o interrompendo.

 - Umas sete da manhã. – Completou depois de pensar um pouco. - Fui correr na praia, voltei para casa, tomei banho e me arrumei para um café da manhã com investidores no clube. O que foi um saco, não gosto muito de reuniões de manhã. – Ele fez uma careta que me fez rir. - E meu pai estava com o humor péssimo, ficou toda hora me interrompendo.

 - Seu pai parece bem rígido. – Comentei e ele assentiu pesadamente.

 - Quando o assunto é a empresa ou negócios, sim. Mas esse é o seu diferencial. - Ele disse quase que com admiração, mas não chegava a isso. 

 - E você quer ser como ele? – Perguntei tentando conhecer e entender melhor o Castiel. Se ele via o pai como um exemplo a ser seguido, eu precisava saber. 

 - Não, quero ser como eu devo ser. – E mais uma vez ele me surpreendeu com uma resposta que eu não estava preparada para receber. - Depois fui almoçar com a minha mãe que falou por uma hora sobre sua campanha e sobre você. - Ele completou sobre o relatório de como tinha sido o seu dia. 

 - Sobre mim? – Perguntei curiosa, com as sobrancelhas arqueadas.

 

Daniela Cross tinha se lembrado de mim? Eu sei que tínhamos nos conhecidos no brunch de sua candidatura, mas achei que tinha sido tão insignificante que ela nem lembraria da minha existência.

 

 - Queria saber quem você era e de onde eu te conhecia. – Explicou.

 - E o que você disse? Contou que eu tenho uma ótima mira para o vôlei? – O sinal abriu novamente e Castiel acelerou.

 - Achei melhor não comentar que você tentou me agredir no nosso primeiro encontro ou ela te processaria. – Foi a minha vez de dar uma gargalhada.

 - Eu não te agredi. – Me defendi e ele me olhou pelo canto do olho.

 - Não? Acho que até hoje estou com o galo da bolada que eu levei! – Ele disse de forma extremamente dramática, me fazendo menear com a cabeça.

 - E você chamou sua agressora para sair? – Perguntei entrando na brincadeira. - Não é uma ideia tão boa, não é?

 - É aquele ditado, mantenha seus amigos perto e os inimigos mais perto ainda. 

 - Tudo bem, agora estou realmente curiosa para saber para onde está me levando. Acabei de ficar com medo de ser uma revanche ou vingança. – Disse em tom de brincadeira, mas eu realmente não tinha ideia de para onde estávamos indo, ainda não conhecia a cidade o suficiente para conhecer as vias e para onde elas levavam.

 - Chegamos. – Estacionamos em um lote que parecia um estacionamento deserto, com vários carros parados e uma barra de proteção que dividia o lugar seguro de um enorme desfiladeiro e, depois, o mar.

— Tem certeza? – Perguntei um pouco em dúvida, descendo do carro e procurando qualquer coisa que pudesse parecer um restaurante ou algo do tipo.

 

Só havia uma pequena cabana no pé do morro, mas ali não poderia ser um restaurante. A não ser que fosse só para um casal. 

Será que era um daqueles restaurantes extremamente exclusivos? Eu não duvidaria nada. 

 

 - É que você está olhando para o lugar errado. – Castiel segurou meus ombros por trás e me virou para que eu pudesse ver que no topo do monte.

 - Tem um restaurante lá em cima? – Perguntei admirada, vendo luzes distantes no topo.

 - Tem. – Assentiu.

 - E como vamos chegar lá? – Se eu tivesse que subir alguma escada com aqueles sapatos, iria morrer.

 -– Vem? – Com um sorriso enigmático, ofereceu-me sua mão que, pela segunda vez, eu aceitei.

 

            Andando de mãos dadas com o Castiel, minha mente se ocupou em pensar em todas as formas em como poderíamos subir aquilo tudo para chegar no topo do monte.

 Os top três foram: helicóptero, entrada secreta e escalar com uma corda. Mas a última opção era totalmente sem lógica, não era?

 

 - Espero que não tenha medo de altura. – Castiel disse quando chegamos na frente da cabana que eu ainda não tinha noção do que era.

Ao entrarmos, constatei que realmente não era um restaurante, mas uma recepção com um grande balcão de madeira bem polido com um senhor atrás vestindo terno. Também havia uma antessala com alguns sofás e mesas dispostas de frente para um bar vazio.

 

 - Boa noite. – O maitrê disse polidamente assim que notou nossa presença. – Reservas? – Perguntou sem olhar para nós, dedicando toda a sua atenção ao enorme livro de reservas aberto como uma bíblia na sua frente. 

 

Não seria bem mais fácil usar um computador?

 

 - Cross. Mesa para dois. – Castiel disse e, como em passe de mágica, ao ouvir o seu sobrenome, o senhor levantou os olhos, assustado.

 - Sr. Cross, me desculpe, não tinha visto que era você. – Ele disse enrolando as palavras.

 - Tudo bem. – Castiel fez um gesto com a mão para mostrar que não tinha importância.

 - Podem subir, por favor. – O homem acenou com a cabeça para outro, também de terno, que nos levou até uma porta de metal.

 - Claro, teleférico. –  Sussurrei. Era uma opção tão viável, como eu não tinha pensado nisso? Bem mais aceitável do que escalar.

 - Oi? – Castiel me perguntou confuso, ainda segurando a minha mão.

 - Nada não. Falando sozinha. – Expliquei dando um sorriso de "não sou maluca".

 

A porta se abriu e entramos no elevador junto com o rapaz que apertou o único botão do painel. Era um elevador aparentemente normal, exceto pelo fundo que era de vidro.

 

 - Só por curiosidade, se fosse um prédio, quantos andares mais ou menos estaríamos subindo? – Perguntei ao rapaz enquanto, pela parte de vidro, ia vendo o quanto iamos ficando mais ditantes do chão. 

 - 35. – Ele respondeu me dando um sorriso educado.

 - Isso é incrível! – Encostei a testa no fundo de vidro, encantada com as luzes da cidade que iam aparecendo. – Só por essa vista já vale a pena. – Olhei para o Castiel e percebi que ele não estava tão radiante como eu e sim pálido que nem uma folha em branco. – Por que você está encostado aí como se fosse o Jack de Titanic e essa fosse sua tábua da salvação? – O garoto deixou escapar uma risada, mas logo ficou sério quando Castiel lhe olhou feio.

 - Não gosto muito de alturas. – Ele disse evitando a todo custo olhar além do vidro.

 - Sério? Nem deu para perceber. – Disse implicantemente enquanto me aproximava dele. – Já está no andar 29. – Como ele estava de costas para a parte luminosa, avisei na tentativa que ele ficasse mais calmo.

 - Isso era para me acalmar? – Ele disse ficando ainda mais pálido.

 - Sabe o que dá certo? – Perguntei parando na sua frente, olhando nos seus olhos. – Se distrair, tentar pensar em outra coisa.

 - Meio complicado sabendo que estamos a 35 andares do chão. – Ele disse com a respiração entrecortada. 

 - Tenho uma ideia. – Talvez fosse arriscado, mas já era hora de arriscar.

 - Qua... – Antes que ele pudesse terminar a frase, colei minha boca na sua.

 

            Seus lábios macios ficaram parados nos primeiros segundos, me fazendo ficar levemente desesperada de ele achar que eu estava sendo uma atirada. Mas logo suas mãos envolveram minha cintura, me trazendo para mais perto do seu corpo até que não houvesse nenhum espaço entre nós. Sua língua explorou a minha e minhas mãos envolveram seus cabelos, até que ouvimos a porta se abrir.

 

 - Olha, não é que deu certo? - Castiel disse quando nos afastamos, me dando um sorriso sedutor.

 - Eu sou boa em distrair as pessoas. – Respondi dando de ombros, percebendo que ele ainda não tinha tirado seu braço da minha cintura enquanto saíamos do elevador.

 - Acho que vou querer ser distraído mais vezes. – Ele sussurrou no meu ouvido, me fazendo arrepiar, enquanto uma mulher de vestido vermelho vivo se aproximou de nós.

 - Boa noite, a mesa de vocês está pronta. – Ela disse enquanto despia Castiel com o olhar, me deixando levemente incomodada. 

 

Será que não estava vendo que ele estava acompanhado?

 

            O restaurante era incrível. Totalmente chique, com cristais, taças caras, garçons andando de um lado para o outro e garrafas de vinho de mil dólares para todos os lados.

 Seguimos a moça de vermelho, passando por dentro do restaurante interno até chegarmos na sacada. A nossa mesa ficava ao lado da grade de ferro trabalhada que protegia de uma iminente queda de 35 andares até o mar.

 

 - Posso? – Castiel puxou a cadeira para mim e eu me sentei na poltrona creme acolchoada, na mesa de dois lugares redonda forrada com um pano também em tom creme e com os talheres e pratos já dispostos.

 - Aqui é... demais! Olha essa vista! – Era de se esperar que a vista ali de cima fosse incrível, mas aquilo estava além do que eu imaginava.

 

            Se não fosse a linha horizontal roxa e amarela feita pelo sol, poderia facilmente acreditar que o céu e o mar eram uma coisa só. Tudo tão azul e calmo, como se estivéssemos, bem, no topo de um morro. (X)

 

 - Contanto que você não olhe para baixo. – Castiel comentou enquanto se acomodava em sua cadeira e eu, como se fosse um desafio, olhei para baixo.

— Uau, muito alto. – Disse vendo lá em baixo o mar indo de um lado para o outro, batendo violentamente contra a pedra do morro.

 - Alguém parece ser corajosa. – O garçom disse se aproximando da nossa mesa com um sorriso para mim. – Quase ninguém tem coragem de olhar para baixo. – Explicou.

 - Não é como se eu fosse cair só de olhar para baixo, não é? – Perguntei retribuindo o sorriso gentil e pegando o cardápio que ele me ofereceu.

 - Eu sou o Luís e vou atender vocês essa noite. – O garçom, um homem de mais ou menos 35 anos e com olhos azuis gentis, disse educadamente. – Temos uma excelente carta de vinhos, tanto tinto como branco.

 - Vamos querer a garrafa do número cinco, para começar. – Castiel pediu, tomando frente. Eu sei que parecia uma coisa meio patriarcal, mas eu simplesmente achava super sexy quando o homem entendia de vinhos e tomava frente em fazer os pedidos.  – Quer dizer, a não ser que você queria outra coisa. – Ele rapidamente disse, preocupado com o que eu poderia achar.

 - Não, tudo bem, eu não entendo muito de vinho mesmo. – Luís deu um sorriso e saiu para pegar a nossa bebida.

 - O ceviche com camarão aqui é dos deuses. – Castiel disse e eu voltei a atenção para o cardápio, vendo que, como sempre, a maioria das opções continha frutos do mar.

 - Eu sou alérgica a frutos do mar. – Acho que isso podia virar meu lema daqui para frente, do tanto que eu já tinha falado. Será que faziam uma plaquinha para isso? Que nem aquelas pulseiras de pessoas que eram alérgicas a pasta de amendoim?

 - Sério? – Castiel perguntou juntando as sobrancelhas. – Eu não tinha ideia.

 - Tudo bem, eu meio que já aprendi a lidar com isso. – Respondi dando de ombros. – Contanto que eu não coma nada que saiu do mar, tudo vai ficar bem. – Expliquei e ele assentiu, como se estivesse tentando se lembrar daquilo.

 

            Castiel era engraçado. Quando estava pensando ou se esforçando para lembrar de alguma coisa, deitava levemente a cabeça e fazia um pequeno biquinho com a boca. Era fofo.

 

 - O vinho de vocês. – Luís voltou com uma garrafa de vinho branco e serviu duas taças para nós. – Já decidiram o que vão comer? – Perguntou pegando um bloquinho para anotar o pedido.

 - Vou querer o peixe lilás reduzido no vinho tinto com salada de frutas cítricas. – Castiel disse, fechando o cardápio e entregando de volta para o Luís.

 - E quanto a senhorita? – Os dois olharam para mim e eu me senti um pouco pressionada. 

 - Hm... – Olhei novamente para o cardápio, vendo os ingredientes de cada prato.

 - Se eu puder dar uma dica ... – Luís se aproximou um pouco de mim, respeitando os limites, e apontou para um prato do cardápio. – Esse prato é um dos que eu mais gosto, além de que é gostoso e totalmente feito para quem é alérgico a frutos do mar. – Olhei para onde seu dedo tinha apontado, li os ingredientes e dei um sorriso satisfeito.

 - Vai ser esse mesmo! – Fechei o cardápio e entreguei a ele.

 

            Luís deu um sorriso e saiu, deixando Castiel e eu a sós. Olhamos um para o outro por alguns segundos e demos um sorriso sem graça.

 

 - Todo primeiro encontro é estranho, não é? – Ele perguntou ainda sorrindo enquanto pegava sua taça.

 - Estranho é um grande eufemismo. – Respondi, também pegando minha taça e bebendo um gole do vinho que, sem brincadeira, era uma delícia.

 - Você perguntou sobre o meu dia... – Ele começou a dizer e eu o olhei tentando entender onde aquela conversa iria dar. -... mas não me contou do seu. – Seu sorriso me fez sorrir também.

 - E o feitiço volta contra o feiticeiro. – Ele assentiu enquanto se encostava na cadeira.

 - Esperando, e quero tudo nos mínimos detalhes. – Nossos olhares se sustentaram por alguns segundos e eu contei sobre o meu dia. Desde a hora que sai de casa para caminha com o Paçoca, até o almoço e as horas que passei para me arrumar.

 - Horas? – Ele perguntou achando que eu estava exagerando. Juntando as sobrancelhas grossas e loiras. 

 - Você não sabe o quanto foi difícil ficar bonita assim. – Comentei mexendo o cabelo para frente. – O tanto de reboco que tem na minha cara, dá para tirar com uma pá. – Imediatamente, depois que eu disse, percebi que não era uma coisa muito legal de se dizer no primeiro encontro. Mas Castiel, que estava tomando um gole do vinho, quase se engasgou com a gargalhada que deu. Tão alta que algumas pessoas das mesas ao lado nos olharam com cara feia. – Meu Deus, o que foi isso? – Perguntei também rindo de como ele estava vermelho de gargalhar, lhe oferecendo um guardanapo. 

 - É que você é engraçada! – Ele se acalmou e respirou algumas vezes antes de voltar a falar. – Algumas garotas nunca falariam isso, sabe?

 - Eu não sou como as outras garotas. – O que era aquilo? Minha voz tinha saído rouca?

 - É, não é mesmo. – Seus olhos azuis gélidos se fixaram em mim, passeando pelo meu rosto, pela minha boca, clavícula e voltando aos meus olhos. Me queimando por inteiro. Fiquei tão quente que nem sentia mais a brisa fria que o topo da montanha proporcionava.

 - E então... – Eu tinha que mudar de assunto e tirar o foco de mim antes que entrasse em combustão. – Como descobriu esse lugar?

 - Meio que conheço o dono. – Respondeu brincando com a taça, mexendo o líquido claro de um lado para o outro, sem olhar para mim.

 

            Luís voltou com nossos pratos. Uma salada estranha para o Castiel, com um peixe roxo quase cru e uma lasanha com bastante creme branco e queijo para mim. (X) Depois de verificar se precisávamos de mais alguma coisa, saiu para atender outra mesa.

— Meu Deus, isso é a melhor coisa que eu já comi aqui. – Disse enquanto levava mais um pouco da lasanha à boca.

 - Eu ainda me sinto um pouco culpado de não saber que você é alérgica a frutos do mar. – Ele disse notadamente sem graça enquanto segurava o garfo com o peixe roxo fincado nele.

 - Não precisa, sério. - Respondi. - Essa lasanha e eu estamos em um caso de amor. – Limpei a boca com um guardanapo.

 - Quer que eu saia da mesa para que vocês duas fiquem a sós? – Perguntou debochado.

 - Na verdade, quero sim.  - Ele revirou os olhos. – Você acha que eu consigo raptar o chefe ou coisa assim? - Sussurrei para ele. 

 - Não, mas acho que consigo fazer ele vir aqui. – E com isso, Castiel fez um sinal para o garçom e pediu para falar com chefe quando ele pudesse. 

 

Alguns minutos depois, um homem vestido todo de branco e com aqueles chapéus altos se aproximou da nossa mesa.

 

 - Boa noite senhores. – Ele apertou a mão do Castiel, que estava em pé, e me ofereceu um sorriso educado. – Queriam falar comigo?

— É que eu ouvi a noite toda sobre essa lasanha maravilhosa. – Castiel disse, apontando para mim e o chefe acompanhou seu olhar. – Queríamos oferecer nossos cumprimentos pelo jantar maravilhoso.

 - Estava muito, muito bom. – Completei, tentando disfarçar o tanto que estava sem graça. Todas as pessoas do restaurante olhavam para nós, talvez se perguntando o que tinha acontecido para o chefe vir até nossa mesa.

 - Obrigado, fico muito feliz. – O chefe agradeceu com um sorriso. - Ainda mais quando o elogio vem de uma senhorita tão linda! - Ele disse e eu fiquei mais sem graça ainda.

 - Se eu fosse tão linda quanto essa lasanha, eu ficaria feliz pelo resto da vida! - Respondi de volta, fazendo os dois homens darem uma gargalhada. 

 - É você que é alérgica a frutos do mar? Não é? - Me surpreendi do chefe se lembrar do pedido de cada mesa. 

 - Sou. - Disse dando um suspiro. - Teria lugar melhor para eu morar? - Perguntei tentando ser engraçada.

 - Que bom que você avisou, assim tomamos cuidado na cozinha. - O chefe disse atencioso, conversou com a gente mais um pouco e saiu.

 

            Castiel se sentou novamente e lhe lancei um olhar, observando seu modo.

 

 - Você não conhece o dono... – Constatei. - ... você é o dono! – Só aquilo explicaria como todo mundo o tratava como se ele fosse um Olimpo. 

 

O jeito que o olhavam, o modo que o garçom mal respirava quando se aproximava da nossa mesa, o chefe vindo até aqui.

 

 - Sou. – O engraçado do Castiel é que ele não fazia questão de mostrar o quanto era rico. Não se vangloriava do tanto do dinheiro que tinha e parecia ficar um pouco envergonhado quando ficava evidente como aquilo dominava a sua vida.

 - É um lugar muito espetacular. 

 

Um violinista começou a tocar no fundo. Uma melodia suave e que combinava com o ambiente. 

 

— Não sabia que sua família investia em coisas desse tipo. – Pelo que eu tinha lido, todos os recursos da família Cross eram destinados à tecnologia.

 - E não investem. – Ele ficou alguns segundos calado e eu achei que aquele assunto tinha terminado, até que voltou a falar como se não tivesse feito uma enorme pausa. – É uma coisa só minha. – Explicou.

 - Você não é o herdeiro da Corporação? – Perguntei confusa.

 - Sou. – Sua voz não saiu nenhum pouco animada, na verdade, quase que sofrida. – Mas eu não quero continuar no ramo. – Seus olhos se encontraram com os meus. – Não quero ser o meu pai. - Sua voz saiu como se aquilo fosse seu mantra, o objetivo principal da sua vida. 

 - E por isso o restaurante? – Ele assentiu. – Acho uma ideia muito boa! De verdade!

 - Sério? – Perguntou desconfiado. – Não acha loucura eu deixar uma herança bilionária por uma coisa que talvez não dê certo? – Neguei com a cabeça.

 - Espera, você disse bilionário? – Dei um sorriso, brincando. – Eu acho que temos apenas uma vida e temos que fazer o que for necessário para viver do melhor jeito. – Apertei sua mão sobre a mesa.

 - Obrigado. – Ele murmurou apertando a minha mão de volta, me olhando no fundo dos olhos. 

 - Ai meu Deus, eu amo essa música. – Fiquei de pé quando o violinista começou a tocar uma música qualquer que eu não tinha a menor ideia de qual era. Mas estava desesperada para mudar o clima daquele lugar. – Vem dançar comigo? – Perguntei lhe estendendo a mão.

 - No meio de todo mundo? – Ele perguntou olhando para a pista de dança vazia. – Mas não tem ninguém dançando.

 - Mais espaço para nós. – Dei de ombros.

 - Você pode ficar um pouco intimidada, porque eu danço muito bem. – Ele disse pegando minha mão e me deixando guia-lo até o centro da pista de dança.

 - Se pisar no meu pé, eu vou te chutar. – Ameacei enquanto ele passava a mão pela minha cintura e eu envolvia seu pescoço com os braços.

 - Uma bolada, um chute, tô começando a achar que você não gosta de mim. – Ele disse levantando a sobrancelha enquanto começávamos a balançar de um lado para o outro.

 

            O violinista, que tinha dado um sorriso ao ver que iríamos dançar, aumentou o tom da música e fingi não perceber que algumas pessoas nos olhavam curiosas e até admiradas. 

A pista de dança era tão incrível quanto o resto do lugar, com luzes presas no topo e o chão de ladrilho na frente do pequeno tatame onde o músico estava.

 

 - Você esqueceu que eu te beijei? – Perguntei e seus olhos imediatamente voltaram para minha boca. 

 - Não tem como esquecer. – Ronronou para mim.

 

            A música acabou e outra começou a tocar quase que imediatamente, mas não paramos de dançar. Vi pelo canto do olho que um casal de idosos tinha vindo para o nosso lado e também estava balançando ao som da música. 

 

 - Acho que você incentivou algumas pessoas a virem a dançar também. – Castiel comentou enquanto me fazia dar uma giradinha. 

 

Ele não estava mentindo, ele sabia dançar muito bem.

 

 - Será que tem alguma coisa que você não sabe fazer bem? – Perguntei quando voltei para seus braços.

 - Tem. – Levantei o olhar até encontrar o seu. – Tirar você da cabeça. – E, dito isso, seus lábios se pregaram nos meus novamente para um beijo calmo.

 

            Nos afastamos e dei um sorriso, aninhando-me no seu peito, balançando no ritmo da melodia. Era para eu estar feliz, não era? Castiel tinha praticamente dito que estava afim de mim. Não era isso que eu queria? Mas por que eu não conseguia me sentir animada com aquilo? Tudo que eu conseguia sentir era uma enorme vergonha e um monstro de estar brincando com os sentimentos de uma pessoa tão legal como o garoto com o qual eu estava abraçada.

 


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