Corações Perdidos escrita por Choi


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Perder Bree foi como perder a mim mesmo. Ela era minha melhor amiga, todos meus irmãos eram, na verdade. Mas Bree, como a caçula, sempre foi a mais mimada por todos, o que fazia Alice morrer de ciúmes, mas nem a pequena fadinha – como todos da família chamavam Alice – conseguia resistir aos olhos escuros e redondos de Bree quando ela queria algo.

Crescer na minha família e com meus irmãos foi a maior dádiva que meus pais me deram. Eles sempre foram amorosos, e meus irmãos companheiros. Emmett, como o mais velho, deveria ser o responsável e pé no chão, mas ele sempre foi o chefe de nossas traquinagens e sempre tinha ideias que nos deixavam de castigo.

Eu sempre fui calmo e muito cuidadoso com nossas irmãs mais novas, enquanto Emmett só faltava esmaga-las toda vez que resolvia ser carinhoso.

Alice era animada demais, como se todo dia comesse dois quilos de açúcar, mas por causa de sua hiperatividade, mamãe nunca lhe dava doces. Nem seu olhar pidão – muito parecido com o de Bree – convencia nossa querida mãe. Ela ainda é assim, mas hoje em sua, sua criatividade para brincadeiras é completamente voltada a moda.

Bree, diferente de todos nós, sempre foi muito quietinha, obedecia a tudo que papai e mamãe lhes dizia. Gostava de brincar sozinha, e assistia desenhos animados em outras línguas, o que fazia ela e Alice brigarem muito.

Apesar disso, ela era muito apegada a mim. Acho que por termos gostos parecidos quanto a livros e filmes – que Emmett dizia ser “engomadinho” demais para ele.

Eu tinha vinte e um anos e estava no meu ultimo ano da faculdade, estudando loucamente para passar em todas as provas. Estava morando no campus da faculdade e não via muito minha família.

Estar ocupado com a faculdade e estágio, acabou me afastando de todos. Era uma época em que Emmett já estava casado e Alice fazia um intercâmbio, então acho que Bree acabou se sentindo sozinha, por ser a única de nós em casa.

Voltei para casa quando mamãe me ligou preocupada com Bree, dizendo que não estava gostando das novas amizades de minha irmã. Ela saia e voltava tarde para casa, as vezes até bêbada. A preocupação dos meus pais fazia sentido, e era algo novo, eles não sabiam lidar, afinal os três primeiros filhos nunca haviam dado esse tipo de trabalho.

Quando cheguei, não reconheci minha irmã mais nova. Ela estava diferente. Havia cortado o cabelo bem curtinho, usava muita maquiagem, e roupas curtas e escuras, até mesmo seu linguajar estava diferente.

Eu não soube agir, não a reconhecia.

Hoje eu sei que devia ter apenas a acolhido em meus braços e ter dito o quanto eu a amava e queria seu bem.

Mamãe pediu para eu conversar com ela, afinal eu sempre soube lidar com Bree. Claro, que mal faria?

A convidei para sair comigo, mas no meio do caminho começamos a brigar. Ela gritava dizendo que me odiava e que odiava a todos nós, que queria ir embora de casa, que não se importava mais com a escola.

Brigar com ela me deixou tão transtornado que perdi o controle do carro. Minha última lembrança dela antes de desmaiar foi seu rosto coberto por lágrimas e sangue. Sua mão segurou a minha, e até hoje minha mente fantasia ela pedindo perdão, mas não sei se foi algo que realmente aconteceu.

Acordei um mês depois e descobri sua morte, foi como se eu morresse junto também, eu queria ter morrido, na verdade. A culpa me corroeu dia após dia, fazendo eu apenas sobreviver, e não viver.

A morte de Bree fez nossa família desmoronar. Papai e mamãe não eram os mesmos, brigavam sempre, sobre qualquer coisa, Emmett não soube lidar com isso e se jogou na bebida por um tempo, deixando de ser meu irmão bobão. Sorte a nossa que ele tinha Rosalie com ele que não o deixou desmoronar e o trouxe de volta. Alice voltou para casa, mas não aguentou viver entre nós, e foi morar fora para fazer a faculdade, se afastando definitivamente.

E tinha eu. Terminei a faculdade, consegui um bom emprego e também me afastei. Estando longe da minha família era fácil dizer para mim mesmo que nada havia acontecido, mesmo que pesadelos daquela noite ainda me afetasse e me fizesse acordar aos gritos e suado, desejando que nada não passasse daquilo: pesadelos.

Quando me formei, fui para a Chicago onde consegui um ótimo emprego que me manteve por muitos anos. Conquistei muitas coisas estando em Chicago, mesmo sendo novo, e depois de três anos resolvi voltar.

Eu não esperava encontrar minha família como era antigamente. A dor da perda estaria sempre entre nós, mas foi ótimo encontrar meus pais bem e juntos, fazendo funcionar o novo formato.

Carlisle me confidenciou o quanto Bella foi importante nesse processo, mas não disse como.

Quando a conheci, a julguei achando que era mais uma aproveitadora, mas havia algo em Bella, uma sombra escura que me dizia que ela era só mais uma vitima da vida, sobre isso eu entendia.

Ela me conquistou pouco a pouco com seu jeito espontâneo e engraçado de ser. Apesar de o olhar triste estar sempre presente, Bella conseguia mascarar muito bem, e se eu não fosse tão observador, provavelmente passaria por mim.

Suas qualidades me atingiam em cheio também. Quando a ouvi cantando, era como se fosse transportado para outro mundo, um mundo onde só houvesse nós dois, e não mais tristeza, luto ou dor. Apesar de até mesmo no timbre de sua voz, haver algo errado.

Há algo sobre Bella que eu ainda não descobri, e tenho certeza que tem a ver com sua sombra, como se seu passado fosse sombrio demais para ser superado.

Carlisle e Esme têm razão ao dizer que de alguma forma, ela parece Bree, mas ao mesmo tempo as duas são completamente opostas.

Bella se tornou uma peça importante na minha vida, necessária. Quando estou com ela, meus problemas parecem sumir e até a dor em meu peito diminuí, como se mesmo tendo essa sombra escura, Bella fosse minha luz. Vê-la triste, ou chorando, me quebrava ao meio.

Pouco a pouco eu percebi que pela primeira vez, eu estava apaixonado. E o pior, por uma garota sete anos mais nova que eu, isso me matava por dentro, não queria que por minha causa, Bella se impedisse de viver tudo que uma jovem de sua idade deve viver.

Eu tive certeza que ela se sentia da mesma forma naquela noite, quando me consolou sobre Bree e esteve comigo. Seu olhar intenso e preocupado me dizia isso, mas não entendi o motivo de se afastar.

Ela tinha repulsa? Achava que eu era velho demais para ela? Gostava de outra pessoa? As vezes eu me esquecia de todos os fatores que nos envolviam, e nós éramos apenas isso... nós.

Apesar disso, de ter plena certeza dos meus sentimentos, eu estava disposto a deixar de lado, colocar no fundo do meu coração e ignorar, mesmo que doesse. Porém, Bella jogou todos meus planos para debaixo do tapete quando naquela manhã de quinta, se declarou para mim.

Ela naturalmente já era minha perdição, mas vestida em minha camisa, com os cabelos bagunçados e as bochechas coradas, tão natural, me desconcertou completamente e me tirou da órbita.

Eu devia ter reagido, dito algo, expressado algo... mas Bella saiu correndo antes que eu pudesse fazer algo, me deixando sozinho e confuso.

Trabalhar pela manhã foi mais difícil do que eu pensei, havia um caso importante em minhas mãos que eu não poderia vacilar, meu chefe havia confiado isso a mim. Coloquei Bella no canto de minha mente e me concentrei, mesmo que a imagem dela pela manhã voltasse a cada minuto.

Quando deu meu horário de almoço, eu praticamente pulei da minha mesa, pegando minhas coisas rapidamente. Ignorei Brad, meu assistente, e saí da empresa rumo a escola de Bella.

Cheguei antes do horário e batuquei os dedos no volante, ansioso, nervoso. Eu precisava a questionar sobre nossa manhã, eu precisava ter certeza do significado daquilo.

Me sentia como se fosse um adolescente prestes a se declarar para alguma menina. Eu não havia vivido isso aos quinze anos, mas provavelmente me sentiria dessa forma. Os alunos começaram a sair e logo eu a vi, acompanhada do garoto de cabelos longos. Ela parecia irritada, mas sua expressão mudou quando me viu.

Seus passos até meu carro eram lentos, e ela parou no meio do caminho, olhando fixamente em minha direção. Saí do veículo, mas não me aproximei, deixando que ela viesse.

A esse ponto, o estacionamento já estava praticamente vazio, e apenas alguns carros estavam ali.

Minha concentração em Bella foi quebrada quando ouvi o barulho de um carro derrapar e ir em direção a ela, como se fosse em câmera lenta.

Eu sabia que a atingiria, e corri, tentando ser o mais rápido possível. Mas o carro foi muito mais, e a atingiu, fugindo em seguida.

Bella estava caída no chão, ensanguentada. Me abaixei ao seu lado, gritando para alguém pedir socorro.

— Bella! Bella! ­– Gritei seu nome, querendo coloca-la em meu colo e protege-la, mas sabia que não poderia movê-la sem saber ao certo qual era sua fratura.

Seus olhos estavam sem foco e aos poucos se fechavam, como se ela estivesse morrendo de sono. Ao fundo, a voz de Carlisle veio em minha mente dizendo que quando algo assim acontecia, era melhor o paciente se manter acordado.

— Porra, não dorme – Gritei, acariciando seu cabelo castanho manchado de vermelho.

— Bella! – Não olhei para saber que era o amigo de Bella ali, parecendo desesperado e sem reação.

— Liga pra ambulância, porra – Disse, sem tirar meus olhos de Bella que cada vez mais parecia sonolenta – Não dorme, Isabella.

Mas ela me ignorou, e seus olhos se fecharam, para o meu desespero.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que vocês esperavam por um desfecho sobre o que aconteceu com a Bella, mas achei que o POV do Edward fosse importante nesse ponto da história.
Finalmente temos uma explicação bem decente sobre o acidente que tirou a vida da Bree, né? Muito triste. Acho que ela era apenas uma garota jovem que queria atenção e escolheu o modo errado de fazer isso.
Isso afetou muito toda a família, e principalmente ao Edward.
Bom, espero que vocês tenham gostado
Beijos!



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