Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 27
Algumas coisas entram nos eixos




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Era um corredor escuro, porém conhecido. Ele corria na direção de uma luz brilhante como uma mariposa voava para a lâmpada quando sentiu uma mão fria segurando seu braço.

— Ainda não é sua hora. Volte. – uma voz familiar lhe falou.

Seu corpo foi sugado para trás a uma grande velocidade, fazendo-o sentir uma espécie de baque. Seus olhos abriram rapidamente. O quarto estava iluminado pela luz do dia, mas ele não sabia quantas horas eram. O cheiro inconfundível de hospital penetrou em suas narinas e Cebola gemeu de dor. Seu pescoço doía, assim como o rosto e o restante do corpo. Provavelmente, a única coisa que não doía eram os cabelos.

— Cebola? Pode me ouvir? – a voz de uma mulher o chamou.

Pouco depois ele sentiu duas mãos examinando seu rosto.

— Hum... está se recuperando bem. Eu pensei que estivesse pior. Se continuar assim, vou te dar alta amanhã.

— O que aconteceu? – perguntou com dificuldade para falar.

— Você não se lembra, rapaz? Bem, por enquanto vamos deixar quieto. Você precisa descansar. Tente dormir um pouco.

Seus olhos ficaram pesados e ele acabou dormindo mesmo. O tempo que passou, ele não soube dizer. Pelo cheiro de comida que tinha no ar, Cebola deduziu que devia ser o almoço. Ou seria o jantar? Ele abriu os olhos e dessa vez pode enxergar melhor. Rosália tinha recebido uma bandeja e colocava comida no prato.

— Você precisa comer algo. O doutor recomendou uma sopa bem leve porque você ainda deve estar com dificuldade para engolir. Vem, vou te ajudar. – Ela acionou um botão que fez a parte de cima da cama se erguer e o ajudou a se acomodar melhor na posição sentada.

A sopa tinha um cheiro relativamente bom para algo feito num hospital e também não era ruim.

— Está conseguindo engolir?

— Dói, mas dá pra levar de boa. – ele tomou mais algumas colheradas e perguntou. – Ontem a noite, o que aconteceu? Tá tudo embolado na minha cabeça.

Ela suspirou de tristeza.

— O Rômulo te bateu. Deus do céu, como ele pode fazer aquilo? Er... quer dizer, eu sei que já mandei ele te dar uns tapas, mas nunca foi para machucar! Ele ficou louco!

— Seu braço... – ele notou que havia hematomas nos braços dela e o esquerdo parecia não se mover direito.

— Ele me machucou também e me jogou no chão. Se não fosse você, teria feito pior. Por que foi me defender? Olha como você ficou!

— Eu não podia deixar ele te bater desse jeito.

— Moleque bobo... – ela resmungou pegando o prato vazio e lhe dando um potinho com gelatina de morango.

A refeição fez com que ele se sentisse melhor e mais lúcido. O que tinha acontecido naquela noite voltou à sua memória rapidamente.

— Por quanto tempo eu fiquei apagado?

— Não muito, só desde ontem a noite. Os paramédicos chegaram a pensar que você não fosse resistir, mas acabou agüentando bem.

— Você conseguiu fazer o Rômulo parar?

— Eu? Não, eu fui tentar e ele me jogou no chão. Um amigo seu é que me ouviu gritar e veio te socorrer.

Pelo que Rosália falou, só podia ser o Cascão. Ela disse que o rapaz entrou na casa como um foguete e deu um chute na cabeça de Rômulo que o fez cair para o lado. O sujeito ainda tentou reagir e ele o acertou com um soco no estômago, lhe deu uma rasteira e lhe acertou vários socos no rosto que o fez ficar atordoado tempo suficiente para que seus pais viessem ajudar.

— Eu chamei a polícia, só que o miserável fugiu. Tem uma viatura vigiando a casa e um legista já fez o exame de corpo delito. Eu também prestei queixa na delegacia.

Cebola ficou surpreso. Rosália foi mesmo capaz de chamar a polícia para o próprio filho?

— Ele me roubou, me enganou e depois me agrediu. Já agüentei muita coisa do pai dele, não vou agüentar dele também. – ela explicou ao ver o espanto do rapaz. – Só que agora eu não sei como fazer porque ele não pagou nada da dívida. Acho que vou ter que vender a casa...

Os olhos do Cebola brilharam ao se lembrar que ainda tinha uma carta na manga.

— Acho que não, tia. Tem alguém que pode nos ajudar.

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— Me quebra um ovo que eu tô chocada! – Denise falou ao ouvir as últimas novidades do Cascão, o que era estranho. Normalmente era ela quem trazia as notícias.

Eles estavam do lado de fora do colégio, onde tinham mais liberdade para conversar antes do sinal bater. Mônica e Magali também ouviam tudo sem acreditar.

— Gente, eu não acredito que aquele desgraçado bateu no Cebola! Ah, eu vou acertar a cara dele! – Mônica falou dando um soco no poste que o fez balançar.

— E eu vou quebrar todos os dentes dele! – Magali também estava furiosa.

— Pois eu deitei o sarrafo nele! – Cascão falou orgulhoso.

Os outros alunos também ouviam a novidade e estavam muito indignados. E também admirados porque Cascão lhes disse que ele apanhou daquele jeito para defender a tia, uma pobre senhora indefesa.

Quando o sinal bateu, todos tiveram que entrar e no meio do caminho Cascão falou com as garotas com a voz baixa.

— Ele estava todo detonado quando a ambulância chegou, só que tem uma coisa...

— Que coisa?

— Olha, vocês não vão acreditar!

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Denise estava ansiosa para espalhar a última notícia e foi conversando com as amigas enquanto elas iam para a sala. Elas falavam em voz baixa, embora estivessem espantadas.

— Coitado, foi defender a tia e apanhou! – Cascuda falou sentindo pena do Cebola, que não era má pessoa no fim das contas.

— Pois é. Mas o Cascão disse que ele foi socorrido. Vamos ver como vai ficar. – Denise falou e mais a frente viu Antônio repreendendo um aluno por causa de sabe-se lá o quê. Provavelmente o coitado deve ter cutucado o nariz na hora errada.

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— Vá agora para a diretoria ter uma conversa com o Sr. Boris! Esse tipo de coisa é inaceitável!

O rapaz não teve outra escolha não ser obedecer. Seus amigos logo abaixaram a cabeça quando Antônio lhes dirigiu um olhar ameaçador.

— Vão todos para a sala agora que a aula vai começar. Não quero ninguém no corredor!

Foi quando ele viu Denise passando ali perto com as amigas. A moça não falou nada, apenas lhe dirigiu um olhar rápido e foi embora balançando a cabeça levemente. Aquilo foi como levar outro tapa na cara.

“Ai ai... você não mudou nada, né fofo? Sempre o mesmo Tonhão da Rua de Baixo querendo tocar o terror em todo mundo! Que decepção...”

Aquele olhar que ela lhe deu foi como se ele tivesse confirmado tudo que tinha lhe falado outro dia e ele negou ferozmente.

Será que no fim das contas, ele continuava sendo o Tonhão da Rua de Baixo?

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— Minha nossa, o que aconteceu com você, garoto? – Afonso perguntou assim que viu o aspecto do Cebola.

— Eu levei a maior surra do meu primo ontem. Ele foi bater na minha tia e eu não podia deixar.

— Fez bem. Temos que ser cavalheiros. E a sua tia? Você conversou com ela?

— Conversei sim e ela vai aceitar a sua ajuda. Ah, olha ela ali!

Rosália entrou no quarto trazendo uma garrafa de água mineral e um pacote de biscoitos que tinha comprado para lanchar.

— Tia, esse é o Sr. Afonso, o advogado que vai ajudar a gente.

— Encantado, senhora! – ele cumprimentou apertando a mão dela com gentileza.

— Igualmente. – o rosto dela corou ao ver aquele homem tão bonito e charmoso na sua frente.

— Eu sei que o momento não é exatamente bom, mas eu gostaria de saber mais alguns detalhes da sua dívida para ver o que eu posso fazer.

Os dois sentaram no sofá que ficava no quarto e Rosália disse tudo o que sabia.

Seu finado marido era sócio de uma construtora, tendo um terço do negócio junto com outros dois sócios. Tudo parecia ir bem até que ele teve um aneurisma cerebral, vindo a falecer em pouco tempo.

— Eu sempre fui dona de casa porque ele nunca me deixou estudar ou trabalhar fora, dizia que lugar de mulher era em casa.

— Que absurdo!

— Eu não entendia de nada sobre empresa, leis, essas coisas. Então o Rômulo se encarregou de fazer o inventário, cuidar do espólio e todo o resto. Ele disse que entendia dessas coisas porque aprendeu com o pai.

— E a dívida?

A mulher suspirou.

— Rômulo falou que ele tinha contraído uma dívida muito grande com os sócios por causa de um terreno que eles compraram e deu prejuízo porque a prefeitura não deixou construir o prédio nele.

— Hum... sei... e de quanto é essa dívida?

— Na época, era de quinhentos mil.

Por pouco Cebola não cai da cama. Quinhentos mil? Céus, ele teria que ganhar dez carros para conseguir pagar aquilo! Afonso também ficou abismado.

— Não faz sentido! Toda empresa está sujeita a fazer negócios ruins, os sócios concordaram com a compra desse terreno, não podiam ter colocado toda a responsabilidade só nas costas do seu marido!

— Foi o que eu pensei, mas Rômulo falou que a lei estava do lado deles e que nós precisávamos quitar aquela dívida para não perder a casa. Eu não tenho renda, nem mesmo uma pensão. A minha casa é tudo o que eu tenho!

Afonso coçou o queixo, achando aquilo muito estranho.

— A senhora tem o nome da empresa e dos sócios?

— Eu trouxe de casa quando fui tomar banho e me trocar.

— Perfeito. Vou investigar a fundo essa dívida. Mas eu acredito que a senhora não tem obrigação de pagar.

Os olhos dela brilharam, assim como os do Cebola.

— O senhor acha mesmo?

— Pela lei, quando a pessoa tem um único imóvel, ele não pode ser penhorado ou leiloado para o pagamento de dívidas.

— Mas está alugado...

— Mesmo assim. É seu único imóvel, a senhora é viúva, não tem renda e nem pensão. Acho que dá para fazer algo a respeito dessa dívida. Preciso de uma semana.

Rosália agradeceu várias e várias vezes com lágrimas nos olhos, pois era uma luz no fim do túnel. Cebola também agradeceu muito feliz por ver que aquela dívida tinha uma solução. Paradoxo estava certo, aquele foi o melhor caminho. Se tivesse ganhado o carro, Rosália o teria dado a Rômulo para vender e aquele imbecil ia embolsar todo o dinheiro. No fim, a dívida jamais seria paga.

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Boris levou um susto quando Sr. Malacai entrou na sua sala porque ele não esperava a visita do velho naquele dia.

— Que surpresa o senhor por aqui... a que devo essa...

— Argh, esqueça a bajulação que eu não preciso disso.

Ele engoliu em seco ao ver que o presidente estava de mal humor. E aquilo só podia significar uma coisa: mais regras idiotas.

— Eu vim aqui porque fiz outra reunião com o conselho ontem e tomamos uma decisão muito importante: os livros da biblioteca podem ser muito perigosos aos alunos!

— P-perigosos? Como assim? São livros didáticos!

— Nem todos. E mesmo os didáticos devem estar cheios de erros e mentiras que vão confundir essas mentes se não fizermos algo.

— E o que iremos fazer, senhor?

— Alguns membros da organização vão separar os livros. Os bons serão mantidos, os ruins incinerados.

Aquilo foi impossível de acreditar. Queimar livros? Aquilo era Alemanha nazista por acaso?

— Senhor, com todo respeito... queimar livros é errado! São fonte de cultura e conhecimento, não pode queimá-los só porque não concorda com seu conteúdo!

Por instantes ele pensou que o velho fosse ter um colapso nervoso.

— Quem você pensa que é para questionar minha decisão? Você não é nada, só vale alguma coisa porque eu permito! Não chega nem aos pés da sua irmã e mal consegue dirigir uma escola!

Boris ouviu tudo morrendo de vontade de jogar aquele velho esclerosado pela janela. Por que ele foi falar aquilo?

— Eu já dei minha ordem e exijo ser obedecido! Quero esses livros profanos queimados antes do fim do mês!

E saiu dali batendo a bengala com força no chão deixando Boris desolado com o rumo que as coisas estavam tomando, pois se aquilo estava acontecendo no Colégio Limoeiro, podia estar acontecendo nos outros também. Eles estavam a caminho de voltar para a idade das trevas.

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— Então ele vai ficar bem? Espero que sim ou isso vai atrapalhar nossos planos! – Agnes falou para as sombras. Após ouvir atentamente, ela suspirou aliviada. – Que bom. Aquela marca o torna imortal, não é? Se não fosse isso, nossos planos estariam arruinados. E quanto ao imbecil que quase estragou tudo, o que faremos com ele?

Mais sussurros e seus olhos brilharam.

— Eu posso mesmo? Obrigada, muito obrigada!

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O lugar não era o mais nobre do bairro das Pitangueiras. Os prédios eram antigos e mal cuidados, havia sujeira nas ruas, latas de lixo transbordando e cães sujos e magros farejando a procura de comida.

Ela levava sacolas de supermercado e olhava para os lados com medo de prováveis assaltantes, coisa comum naquela parte do bairro. Era uma mulher jovem, bonita, cabelos loiros e corpo bem feito. Com dificuldade, ela abriu o portão do prédio equilibrando as sacolas e logo chegou ao seu apartamento que ficava no segundo andar.

— Você demorou. – uma voz masculina resmungou.

— Você sabe que o supermercado fica longe e sempre tem fila. – ela respondeu mal humorada.

— Tá, sei. Você trouxe cerveja pelo menos?

Ela tirou as latas da sacola e foi colocando sobre a mesa junto com outros itens.

— Tá quente! – Rômulo reclamou.

— Claro que tá, eu acabei de trazer!

— Porcaria, não posso nem ter uma cerveja gelada nessa casa!

A mulher ficou indignada, mas tentou não falar nada porque sabia que ele costumava ficar agressivo quando estava zangado. O que deu em sua cabeça para gostar justamente daquele troglodita? Ah, claro. Os tais presentes caros que ele lhe dava de vez em quando.

— Eu tô com fome.

— Já vou fazer o almoço. Não tem muita coisa, meu dinheiro acabou e só recebo no fim do mês. Você bem que podia ajudar com algo, né?

— Você sabe que eu não posso ir ao banco tirar dinheiro, senão a polícia me pega. E nem tô com meu cartão, acho que perdi a carteira. Que droga, por que tudo foi dar errado pra mim?

Rômulo abriu a cerveja e tomou na temperatura que estava esperando acalmar os nervos e sua namorada foi preparar o almoço. Carne enlatada com sobras de arroz e algumas batatas fritas. Um pouco mais calmo com a cerveja, ele quis saber.

— Você sabe como andam as coisas lá em casa?

— A polícia ainda tá por ali e fiquei sabendo que andaram perguntando pros seus amigos sobre você.

Ele soltou um palavrão e voltou a tomar a cerveja. Felizmente, seus amigos não conheciam sua namorada, pois ela morava em outro bairro. Nem sua mãe a conhecia, o que acabou sendo uma dádiva. Assim eles não faziam a menor idéia de onde ele poderia estar.

— A comida tá pronta. Também tem pão, quer pra comer junto com a carne?

— Não, assim tá bom. Só me dá mais cerveja e me deixa quieto que eu quero pensar.

Sem responder nada, ela fez seu prato e foi comer na sala, ligando a TV no volume mais baixo possível. Só lhe restava torcer para que ele fosse embora o mais depressa, pois ela não agüentava mais aquele sujeito dando ordens dentro da SUA casa. Ele era muito folgado.

Entre uma garfada e outra, Rômulo ia pensando no que fazer dali para frente. O que complicava tudo era ter perdido sua carteira, que deve ter caído quando aquele sujeito lhe atacou. Seu cartão de crédito estava lá dentro, assim como seus documentos. Como sacar dinheiro sem cartão?

E por estar sendo procurado pela polícia, ele precisava ficar escondido por um tempo até a poeira abaixar. Mas esperar não era seu forte e ele foi pensando em como entrar na casa para reaver sua carteira. Ainda bem que sua mãe não tinha a senha do cartão, então por enquanto o dinheiro estava a salvo.

Sua raiva maior era contra o Cebola, que acabou estragando tudo.

“Moleque desgraçado, se ele não morreu, eu juro que acabo com a raça dele!” o sujeito pensou apertando uma lata vazia de cerveja como se fosse uma bola de papel.

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Pela primeira vez desde que pisou naquele mundo, Cebola estava feliz por chegar em casa. Seus ferimentos estavam sarando rapidamente e a garganta quase não doía, só estava levemente dolorida. Eles chegaram de táxi e Rosália o levou até o quarto que era do Rômulo.

O lugar estava arrumado, com roupa de cama limpa e não havia aquele monte de lixo espalhado no chão. Rosália tinha limpado tudo para ele.

— Você pode ficar aqui. Aquele miserável não vai mais voltar mesmo.

— Obrigado, tia. – ele agradeceu sinceramente.

— Eu achei a tal correspondência que você tinha falado e vi que ele estava mesmo guardando muito dinheiro no banco. O meu dinheiro! Eu estava dando tudo o que tinha para ele pagar aquela dívida! Será que dá para recuperar?

— Vamos perguntar pro Afonso, ele deve saber.

— Só que eu não entendo... Tem mais dinheiro na conta dele do que eu dei durante esse tempo todo. De onde ele tirou o resto? Estou até com medo de saber!

— Do jeito que o Rômulo é, não duvido nada que tenha feito algo errado.

Rosália suspirou de tristeza e decepção. Tanto trabalho para criar seu filho só para ter aquele resultado. Ela foi preparar o almoço e Cebola se deitou feliz por finalmente ter uma cama de verdade depois de tantos dias dormindo no chão e depois no sofá.

Seu tablet tocou indicando que tinha chegado uma mensagem. Era a Mônica perguntando se ela, Magali e Cascão podiam fazer uma visita a ele durante a tarde. Ele foi até a cozinha para perguntar a Rosália se podia receber os amigos quando chutou algo sem querer. Era uma carteira.

— Tia, olha só o que eu achei no chão da sala! – ele falou entrando na cozinha.

— É a carteira do Rômulo! Deve ter caído quando seu amigo deu um chute nele.

Ela deu uma olhada e viu que tinha dinheiro, documentos e cartão de crédito.

— Se a carteira ficou pra trás, então ele não deve ter ido muito longe porque tá sem dinheiro e documento. Ele só saiu daqui com a roupa do corpo.

— A se eu tivesse a senha do cartão... – ela suspirou.

— Seu Afonso deve ajudar nisso. Aqui, tem uns amigos meus da escola que querem me visitar essa tarde...

— Por mim tudo bem, são seus amigos. Vou terminar o almoço, quando ficar pronto te chamo.

Cebola voltou para o quarto e mandou a mensagem avisando que eles podiam visitá-lo. Finalmente as coisas estavam melhorando e ele só precisava decidir o próximo passo para continuar sua investigação.

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O engenheiro examinava a casa e fazia anotações enquanto Agnes foi falando das reformas que queria.

— Quero mudar o banheiro, a cozinha e especialmente a sala! Gostaria muito de rebaixar o teto e colocar aquelas luzes, acho tão lindo!

Oui, teto rebaixado é um luxo! – Penha concordou. – Que tal uma cozinha aberta com a sala de jantar? C’est trés chic!

— E a gordura?

— Um bom exaustor resolve. E você tem a empregada parra limpar tudo, nón tem? Ah, e que tal corrimão de alumínio com guarda-corpo de vidro?

— Nossa, vai ficar lindo!

Agnes pretendia reformar a casa e Penha estava ajudando, pois tinha muito bom gosto com decoração. Ela queria tudo novo, moderno e bonito.

— Minha maior preocupação é o exterior. Não agüento mais essa fachada antiquada, mas tenho medo de não ser possível reformar...

— Bem, o layout básico da casa terá que ser respeitado, mas creio que posso dar um ar mais contemporâneo à fachada sem ter que derrubar tudo.

Eles continuaram andando pela casa e Agnes queria cada vez mais coisas. Uma sala com home theater, suíte com hidromassagem, uma grande piscina no quintal dos fundos e se possível, um jardim de inverno. Dinheiro ela tinha de sobra, pois seus pais deixaram uma boa herança.

O engenheiro foi embora prometendo dar notícias em breve e as duas se sentaram para conversar.

— Estou muito empolgada com essa reforma. Quero essa velharia fora daqui o mais rápido possível!

— Já não erra sem tempo! E como andam as coisas com o Cebola? Você tinha dito que ele teve problemas com o primo.

— Ele está bem agora. Tudo o que eu preciso fazer é deixá-lo sozinho aqui em casa para que possa revistar tudo. As sombras me disseram que ele vai encontrar a próxima pista.

— Mesmo? Mas você procurrou durrante anos e nunca conseguiu! O que mais ele poderria fazer? Desmontar a casa?

— Espero que não, isso pode prejudicar a reforma. Vou esperar e confiar, as sombras nunca se enganam. Enquanto isso, preciso da sua ajuda para fazer algumas compras!

Os olhos da Penha se iluminaram quando Agnes pronunciou a palavra mágica. Não podia ter coisa melhor!

—_________________________________________________________

Ele teve que gastar muita sola até conseguir encontrar Denise, pois naquele dia ela não tinha ido ao shopping e nem a lanchonete. Ela estava andando na rua falando ao celular e desligou o aparelho quando o viu.

— Que foi? – perguntou surpresa ao vê-lo ali.

— Sobre hoje na escola, você precisa saber que eu só estava cumprindo as regras!

— Regras idiotas, você quer dizer. O que o garoto fez afinal?

— Havia sujeira no sapato dele!

— Oh, nossa, como isso é grave!

— Não brinque, isso é sério! Não podemos permitir desleixo entre os alunos!

— Tá bom, amore. Se concorda com essas regras idiotas, é tão idiota quanto eles. Você vai adorar ajudá-los a queimar os livros da biblioteca.

— Como é? Queimar livros? De onde tirou isso?

— Ué, você não sabe? O seu querido Sr. Malacai não te contou essa fofoca?

— Olha lá como fala!

Ela saiu andando e Antônio respirou fundo para se controlar.

— Ele nem sempre me fala das suas decisões. – Denise voltou-se para ele de novo.

— Fiquei sabendo pela secretária que o diretor tava muito aborrecido porque ele mandou queimar os livros que não estavam de acordo com o fanatismo dele.

— Sr. Malacai não é fanático!

— Ah, tá. Queimar livro não tem nada a ver com fanatismo, né?

— Se os conteúdos forem nocivos, devem ser queimados!

— Nem sei por que tô perdendo tempo. Você é igualzinho a eles.

— Com muito orgulho! Melhor do que ser uma perdida na vida que nem você!

— Ah, vai lamber os sapatos daquele velho caduco, vai!

Antônio perdeu a paciência e segurou seu braço com força.

— Olha aqui, da próxima vez que você falar assim do Sr. Malacai, eu...

— Você o quê? Vai me bater, é? Então bate, vai! Que seja na cara e pode caprichar!

Ele ficou olhando para ela, que sustentou seu olhar com fúria.

— Olha aqui seu pau mandado! Eu agüentei a Magali por anos, perto disso você não é nada! Anda, bate logo que eu tenho mais o que fazer da vida! É só isso que você sabe fazer, né?

Os gritos dela chamaram a atenção de outras pessoas que estavam passando ali perto e Antônio a soltou. Denise esfregou o braço para abrandar a dor e continuou o encarando.

— Vocês não passam de nazistas! Pensa que esse Malacai é santo, é? Então vai sonhando aí seu trouxa! E nem vem me fazer essa cara de bunda porque eu não tenho medo!

— Você não sabe do que está falando! Sr. Malacai é a melhor pessoa que eu conheço, o único que me ajudou quando eu estava na pior. Você não sabe pelo que eu passei, garota! Foi ele quem me salvou!

— Ele te salvou? Hahaha. Tá bom, fófis. Se acreditar nisso te faz bem, então vai fundo. Eu vou é fazer as minhas unhas que ganho muito mais do que ficar batendo a boca com você. Beijomeliga! Só que não.

E saiu dali de cabeça erguida deixando Antônio com a cabeça dando voltas.


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