Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 26
De novo o herói sem máscara




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O luxo da loja a surpreendeu, por isso Rosália olhou o endereço das notas mais uma vez só para conferir. Não, era mesmo aquele o lugar. Um tanto intimidada, já que não era comum uma senhora freqüentar uma loja especializada em motos, ela entrou e foi até o balcão onde o atendente a olhou com surpresa.

— Posso ajudá-la, senhora? – perguntou procurando ser educado.

— Sim. Eu queria saber se essas notas aqui são mesmo dessa loja.

O rapaz examinou rapidamente e respondeu.

— Sim senhora. Algum problema com as mercadorias? – ainda era estranho imaginar aquela mulher, que tinha idade para ser sua mãe, montando uma Harley Davidson.

— Na verdade foi meu filho quem comprou. O nome dele é Rômulo. – ela tirou uma foto da bolsa e mostrou ao atendente.

— Sim, é esse mesmo! Difícil ignorar o... hã... estilo dele.

— Ele comprou mesmo essas coisas?

Aquilo estava um tanto esquisito e o rapaz procurou se esquivar da pergunta.

— Senhora, o que os clientes compram é, digamos, confidencial.

— Não se preocupe, querido. Só quero mesmo conferir algumas coisas.

Se havia uma coisa em que Rosália tinha talento especial, era convencer as pessoas a fazer o que ela queria. Ela tinha um jeito doce e maternal de falar que desarmava qualquer um. O rapaz acabou abrindo o jogo. 

— Sim, ele comprou esses pneus. – ele respondeu. – Ele é cliente assíduo dessa loja.

— Ah, claro! É uma loja tão elegante e tem cada coisa linda! Ah, eu reconheço aquela jaqueta ali.

— É um modelo especial. Se não me engano, ele comprou uma dessas também. – sem se dar conta do que estava fazendo, o rapaz foi enumerando os itens que Rômulo tinha comprado.

Rosália conhecia a maioria deles, especialmente a jaqueta. Eram produtos que ele disse ter comprado usado, ganhado de amigos, do patrão ou como brinde das lojas.

Ao se dar por satisfeita, ela se despediu do rapaz e foi embora tremendo de raiva. Não era preciso ser um gênio da matemática para saber que todas aquelas compras ultrapassavam os quinhentos reais que deveriam ficar com o Rômulo após pagar a dívida.

Naquela manhã, quando estava colocando as roupas para lavar, ela conferiu os bolsos da calça dele e encontrou aquelas notas. No início ela até pensou que fosse algo da oficina, talvez de algum cliente. Só que uma delas falava em pneus e ela lembrou-se dos que ele tinha trazido alegando terem sido comprados de um ferro-velho por um preço módico. Os pneus estavam bem sujos e na hora ela não desconfiou. Mas depois que viu a nota, Rosália foi até a garagem e deu uma olhada. Depois de lavados, os pneus até tinham aquele cheiro característico de novo. Algo tirado do ferro velho não cheiraria assim.

“Deus do céu, será que o Rômulo está mentindo para mim?” a mulher pensou com o coração apertado. E se ele não tivesse pagando a dívida conforme tinha prometido?

Aquilo era preocupante e ela ficou angustiada ao pensar que talvez Rômulo fosse igual ao cretino do pai dele, que morreu e deixou aquela dívida monumental para ela pagar.

“Eu vou tirar isso a limpo. Aquele miserável me paga!” da bolsa ela tirou outro papel onde estava anotado o endereço da oficina onde ele trabalhava. Ele ia ter que ouvir umas poucas e boas com certeza!

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Não dava mais para adiar. Ele tinha que fazer aquilo de qualquer jeito nem que fosse preciso dar o sangue. Quando terminou de encher a banheira, Cascão colocou a ponta do pé lentamente e foi mergulhando a perna sentindo calafrios desagradáveis pelo corpo. A água estava numa temperatura agradável, mas para ele aquilo era um ritual de tortura, não de limpeza.

“Vai, cara, você tá quase lá! Coragem!” ele colocou a outra perna e foi se sentando bem devagar enquanto rangia os dentes à medida que a água foi envolvendo seu corpo. Por fim, ele sentou-se na banheira e respirou fundo várias vezes para se acostumar com aquele volume de água ao seu redor.

Quando se sentiu menos desconfortável, ele pegou aquela coisa chamada esponja, molhou, esfregou em outra que chamavam de sabonete e foi ensaboando o corpo enquanto fechava os olhos com força e rezava mentalmente para não fraquejar e sair dali correndo pelado e coberto de espuma. Ele foi lavando cuidadosamente cada parte do seu corpo até a água ficar bem escura com tanta sujeira. Ao terminar, esvaziou a banheira feliz em ver toda aquela sujeira indo embora pelo ralo. O pior tinha passado, felizmente.

Mais limpo do que nunca e cheirando a sabonete, ele penteou os cabelos e passou perfume, depois vestiu uma roupa limpa e calçou os tênis que tinha lavado especialmente para a ocasião. Blusa amarela com o desenho de tribais vermelhos e um bermudão com uma corrente amarrada no bolso. 

— É... até que ficar limpo não é tão ruim assim. – falou ao ver sua imagem no espelho. Talvez aquele pequeno sacrifício valesse a pena no fim das contas.

Antes de sair, ele foi até a cozinha para beliscar alguma coisa e enquanto mexia na geladeira, ouviu um grito de mulher.

— Ahhh, como você entrou aqui?

— Heim? – ele tirou a cabeça da geladeira com um pedaço de salsicha na boca.

— Antenor! Socorro! Tem um ladrão em casa!

Seu pai entrou como um foguete na cozinha.

— Ladrão? Cadê? Mostra a cara do bandido!

Antes que Cascão pudesse falar alguma coisa, seu pai o agarrou torcendo um braço para trás.

— Peguei o safado, pode chamar a polícia!

— Ei, sou eu pai! Me larga!

Finalmente eles reconheceram o próprio filho e ficaram olhando com olhos arregalados e boca aberta aquele rapaz todo limpo, cheiroso e arrumado. Após segundos de choque, ambos começaram a chorar.

— Meu filho tomou banho de verdade! – Lurdinha exclamou super emocionada.

— Nunca pensei que esse dia chegaria! É para glorificar de pé!

— Ninguém merece...

— Antenor, traz o celular, temos que registrar isso!

— Mas hein?

Não adiantou protestar e ele foi obrigado a posar para várias fotos. Depois sua mãe o abraçou e encheu de beijos, coisa que antes não conseguia fazer sem desmaiar por causa do cheiro.

Só então ele pode buscar a Magali e torcia para que ela notasse o quanto estava limpo e perfumado. Todo aquele sacrifício foi por ela.

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Cebola estava à caminho da casa da Mônica para buscá-la e se sentia feliz em ter algo parecido com a noite da turma clássica, coisa que eles não tinham a muito tempo. E era bom dar uma pequena pausa nas suas investigações, que estavam empacadas, para esfriar a cabeça e se divertir um pouco.

— B-boa tarde Sr. Souza. A M-Mônica já tá plonta... pronta? – gaguejou um tanto intimidado com o pai da Mônica.

— Ela já vai descer. Venha, gostaria de tomar algo?

— Não precisa se incomodar...

O homem foi até o bar e serviu-se de uma bebida.

— Sabe, Mônica me contou outro dia com você salvou a vida dela.

— Er... contou?

— Devo dizer que você tem a minha gratidão.

— Fico feliz por ter ajudado.

O rapaz sabia que o homem estava lhe avaliando, talvez para saber se era ou não bom partido para sua filha.

— Você trabalha mesmo numa lanchonete?

— Sim, na Super Lanchão. Eu estou ajudando minha tia porque ela tem que pagar uma dívida muito grande. Meu salário ajuda a pagar as coisas lá em casa. – Ele meio que mentiu para impressionar o futuro sogro do seu duplo.

— Que gesto nobre. Só espero que isso não esteja atrapalhando seus estudos.

— Não, claro que não. Tá tudo bem lá na escola.

Eles conversaram mais um pouco, Luiz fez algumas perguntas que Cebola procurou responder da melhor forma possível e minutos depois Mônica desceu usando uma saia preta rodada que ia um pouco abaixo da metade das coxas, blusa branca com um grande coração vermelho e uma jaquetinha preta combinando com a saia e sapatos de salto médio. Ela levava uma bolsinha de mão e usava maquiagem leve.

— Oi, Cebola... tudo bem? – ela perguntou meio preocupada ao ver seu pai aparentemente interrogando o rapaz.

— Tudo tranqüilo, Mônica. E aí, tá pronta? O Cascão e a Magali devem estar esperando a gente. – ele fez questão de deixar claro que eles não iam sozinhos ao cinema.

— Tô sim, vamos senão o filme começa.

Ela se despediu e após ouvir muitas recomendações, finalmente puderam chamar um taxi e ir ao cinema.

—_________________________________________________________

Ela estava satisfeita com o resultado no espelho. Blusa amarela de alcinha com o desenho de uma pata de gato, short jeans com as barras desfiadas vestido sobre uma meia-calça preta e botinhas. Ela tinha colocado um dos seus cintos antigos, que tinha rebites de pirâmide. No pescoço, ela colocou um colar de cordão imitando couro tendo duas chaves de aparência envelhecida como pingentes e outro menor que era uma tira ao redor do pescoço. Magali também colocou pulseiras de berloques, outras de tiras e miçangas.

Ela procurou manter um pouco do seu estilo antigo e gostou. E bem a tempo, porque a campainha tocou e ela imaginou que era o Cascão.

— E aí? – ela cumprimentou quando abriu a porta e os dois ficaram sem fala.

Eles se olharam com cara de bobos por alguns segundos e Cascão falou.

— Caramba, você tá linda mesmo! (cof cof!) quer dizer, ficou muito bom essa parada aí, er...

— Você também tá ótimo de banho tomado, cara! Foi dureza, não foi?

— Nem me fale! Ai que dor!

— Mas valeu a pena, pode apostar. E aí, bora ralar peito? Senão a gente atrasa!

Os dois saíram e de vez em quando um olhava o outro discretamente. E ambos gostavam do que viam.

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Rosália chegou em casa cuspindo fogo e enxofre de tanta raiva. Seu rosto estava vermelho e suas mãos se contorciam ansiosas para torcer o pescoço de alguém. O de Rômulo, mais especificamente.

Quando saiu da loja, ela foi até o endereço que ele tinha lhe dado falando que era da oficina onde trabalhava. Ela teve que pegar o metrô, mais dois ônibus e ainda andar um longo caminho num lugar feio e cheio de gente mal encarada só para encontrar um barzinho copo sujo.

Ela ainda tentou pedir informações e ninguém sabia de nenhuma oficina para motos com aquele nome. Rômulo mentiu para ela. Logo ele, seu filho querido, a quem ela criou com tanto carinho e sempre procurou lhe dar o melhor. Foi em vão. Aquele cretino tinha herdado o caráter do pai.

“Aquele desgraçado vai ver só uma coisa, ah se vai!” a mulher falou cerrando os punhos com raiva.

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Horas mais tarde, Cebola voltou muito feliz do cinema. Fazia tanto tempo que ele não se divertia assim! Eles assistiram a um bom filme, comeram pipoca, guloseimas e deram risadas. A conversa fluiu leve, alegre e descontraída entre os quatro como se fossem amigos há décadas. Ele notou como Cascão e Magali estavam ficando mais próximos e estava muito otimista quanto ao futuro da turma. Ele também queria ter ficado mais próximo da Mônica, mas se conteve a todo custo para proteger os sentimentos dela.

— Rapaz, a Magali tava gata pra caramba! Valeu a pena eu ter tomado (argh!) banho.

— Isso é bom, porque você vai ter que fazer isso mais vezes se quiser ter alguma chance com ela.

Cascão cara de choro.

— Nem me lembra disso, véi!

— No fim das contas vai fazer bem pra você mesmo. Relaxa que com o tempo você acostuma.

Como não gostava muito de falar sobre coisas que tinham a ver com água e sabonete, Cascão mudou de assunto.

— E você com a Mônica, tá como? Ela tá afim de você, cara! Podia ter chegado nela fácil.

— Er... eu tô com muito problema ainda pra resolver... não tenho cabeça pra namoro agora. – Cebola se esquivou.

— Ué, as coisas não melhoraram pra você?

— É, mas ainda assim não tá fácil. Ela não merece um cara cheio de problemas na vida.

— Eu heim... acho que você tá complicando demais. Bobeia não porque tá assim de cara com olho grande nela!

Ele sabia disso, mas não dava para evitar. Infelizmente, aquilo era algo que seu duplo devia fazer, não ele. Caso contrário, ela correria o risco de sair magoada e ele não queria isso de jeito nenhum, pois tinha pisado muito na bola com a Mônica original e não queria fazer o mesmo com seu duplo.

— Ih, sua tia tá em casa. Será que não vai dar ruim você chegar a essa hora? – Cascão perguntou quando pararam em frente a casa do Cebola.

— Não porque ela prometeu que eu teria mais liberdade contanto que desse conta das minhas tarefas.

— Então beleza, a gente se vê amanhã.

Eles se despediram e Cebola entrou ainda sentindo-se muito feliz pelos momentos bons que passou com seus amigos alternativos.

—_________________________________________________________

O rapaz entrou na casa e ele ficou observando tudo do telhado. Segui-lo costumava ser tedioso porque geralmente não acontecia nada, mas daquela vez ele achou melhor ficar de olho. As coisas iam complicar com certeza.

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Quando entrou em casa, Cebola encontrou Rosália com cara de quem queria matar alguém, comer as tripas, beber o sangue e palitar os dentes com os ossos.

— Olha, tia, eu não me atrasei tanto assim... – ele tentou se justificar.

— Não é com você, fique tranqüilo. Grrrr! Aquele cretino me paga!

— Quem? – após raciocinar um pouco, ele se deu conta de quem ela estava falando: Rômulo. Pelo visto, ela encontrou as notas.

— Aquele desgraçado mentiu para mim! Mentiu! Ah, mas isso não vai ficar assim não, eu acabo com a raça dele hoje mesmo!

O rapaz ficou um tanto preocupado ao ver como ela estava furiosa. Rômulo não parecia o tipo que agüentava broncas quieto. Mas como não podia fazer nada no momento, ele achou melhor ir cuidar das suas tarefas até que seu primo chegasse. Uma hora e meia depois, ele apareceu e foi recebido por uma mãe furiosa cuspindo fogo pelas ventas.

— Rômulo, você pode me explicar isso aqui? – ela bradou sacudindo as notas na cara dele e não esperou resposta. – Você falou que tinha comprado aqueles pneus num ferro velho, mas comprou tudo novo numa loja chique e gastou mais de dois mil reais! De onde você tirou esse dinheiro?

Pego de surpresa, Rômulo ficou sem saber o que responder.

— Eles me falaram que você já comprou muitas coisas naquela loja. Por acaso você está gastando o dinheiro da dívida?

— Claro que não, mãe, isso nunca! É que eu faço hora extra e ganho uns trocados a mais e...

— Trocados? TROCADOS? Você nunca ia conseguir comprar ESSA jaqueta com trocados! Seu mentiroso, você falou que ganhou de um amigo, mas comprou ela novinha!

Rômulo gaguejou e viu que estava muito encrencado, pois Rosália estava a um passo de descobrir tudo. Ele tinha levado várias semanas para bolar aquele plano para enganá-la e mesmo assim teve muitas dificuldades. Sem chances de conseguir pensar em algo convincente em apenas trinta segundos.

— Olha, mãe, não é o que parece...

— É sim, seu safado, vagabundo! Você está usando o dinheiro da dívida para comprar um monte de besteiras! Aposto que a dívida está se acumulando com juros enormes!

Da cozinha, Cebola ouvia tudo ansioso para ela colocar aquele imbecil para fora de casa.

— Claro que não! Eu tô pagando tudo em dia!

— Está mesmo? Por acaso tem algum recibo? Documento? Você nunca me mostrou nada disso, eu confiei em sua palavra. Agora quero ver tudo! Anda, vai! Me mostra!

O rosto dele ficou branco, pois não tinha nada do que ela pedia.

— Que coisa, a senhora não confia em mim?

— Depois do que descobri hoje, não. Se quer conquistar minha confiança de novo, comece me provando que pagou tudo em dia. Anda logo que eu não tenho a noite inteira!

— Tá bom, peraí...

Ele foi até o quarto e fechou a porta suando frio. Droga, ele deveria ter dado um jeito de falsificar recibos e comprovantes de depósito, por que não pensou nisso antes? Quanta burrice!

— Porcaria, não tem mais jeito! Vou ter que sumir por um tempo. Muito tempo! – A idéia ganhou cada vez mais força. Ele tinha dinheiro, podia alugar um quarto bem barato numa pensão e se fosse o caso, arrumar um trabalho. Ele só precisava ganhar tempo e já sabia como fazer isso.

— Rômulo! Por que está demorando? – sua mãe chamou impaciente e ele saiu do quarto tentando aparentar tranqüilidade e lhe falou mostrando uma chave qualquer.

— Eu guardo tudo no cofre de um banco pra dar mais segurança.

— Como é que é? Para que isso?

— Porque queria que ficassem bem guardados, só isso. Os recibos estão lá e vou mostrar tudo pra senhora. Mas o banco só abre amanhã as nove.

“Fala sério, que mentiroso!” Cebola pensou ouvindo tudo da cozinha. Era óbvio que não havia nada em cofre nenhum, o sujeito só estava fazendo aquilo para ganhar tempo.

Rosália olhou bem para a cara dele e falou com as mãos na cintura.

— Então nós vamos ao banco amanhã e quero ver tudo! Ai de você se estiver faltando um único mês sem pagar!

— Fica tranqüila que tá tudo pago.

— Ainda assim eu quero saber de onde você anda tirando esse dinheiro.

Ele enumerou os trabalhos que fazia e as comissões que ganhava na venda de motos e até de alguns carros. Falou também que comprava peças para revender e que seu patrão lhe dava comissões gordas. O rosto de Rosália, ao invés de se tranqüilizar, foi ficando cada vez mais colérico até um tapa estalar direto no rosto do filho, que a olhou assustado.

— Seu mentiroso! Eu fui até o endereço da sua oficina e só tem um boteco sujo lá! Você não está trabalhando em lugar nenhum!

Aquilo sim foi uma surpresa para o Cebola, pois até então achava que aquele cara trabalhava mesmo.

Se Cebola ficou surpreso, Rômulo ficou duas vezes mais porque nunca imaginou que sua mãe fosse capaz de ir até o endereço falso que ele tinha lhe dado. Como sair dessa?

— É que mudamos de endereço... – outro tapa.

— Aquilo nunca foi uma oficina! Mentiroso, como pode fazer isso comigo?

Sem ter mais para onde fugir, Rômulo acabou partindo para o ataque.

— Ah, mãe, larga do meu pé, tá legal? Eu não te ajudo a pagar essa droga de dívida? O que mais você quer?

— Olha lá como fala comigo, seu safado! – ela tentou lhe dar outro tapa e o sujeito segurou sua mão com força. – Me solta, como ousa fazer isso com sua mãe?

— Eu faço o que me dá na telha, ouviu? Não agüento mais você me enchendo a paciência todo dia!

A mulher tentou se soltar e ele segurou seus dois braços com muita força a ponto de fazê-la gritar.

— Me solta, você está me machucando! – Cebola ouviu da cozinha e achou melhor fazer alguma coisa mesmo sabendo que ia apanhar feio.

— Ô seu tosco, não faz isso com sua mãe! – o rapaz bradou empurrando Rômulo para longe da Rosália. Pego de surpresa, ele perdeu o equilíbrio e caiu em cima do sofá.

— Não se mete nisso ou arrebento sua cara!

— Você tá na minha casa, esqueceu? Não quero saber mais de briga aqui dentro! E quer saber de uma coisa? Eu sei que você não pagou porcaria nenhuma! Tá tudo depositado numa conta que você abriu no banco!

Aquilo foi corajoso, e ao mesmo tempo uma burrice.

— Você andou xeretando minhas coisas, seu palerma?

— Sim e vi os extratos de banco na sua gaveta. Você tem mais de cem mil na sua conta!

— Como é? Você estava mesmo roubando o dinheiro para pagar a dívida? Seu vagabundo, imprestável! Você é um ordinário que nem seu pai! Saia dessa casa agora mesmo e não volta nunca mais!

Furioso ao ver seu plano fracassar, Rômulo perdeu a razão e foi para cima do Cebola a todo vapor, lhe enchendo de socos e chutes. Rosália gritou tentando fazê-lo parar e foi derrubada com um safanão forte, caindo em cima de um braço e gemendo de dor.

—_________________________________________________________

Tudo estava alegre na casa do Cascão. Lurdinha preparava o jantar enquanto Antenor assistia a um jogo junto com o filho, coisa que não fazia há muitos anos.

— Isso, vai! Ô, foi falta! – Antenor pulava do sofá várias vezes.

— Esse cara é o maior perna de pau, olha só o gol que ele perdeu! – Cascão falou indignado.

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As coisas tinham ficado complicadas como ele previu, mas não podia fazer nada porque não tinha autorização para interferir diretamente nos assuntos humanos. Por outro lado, ninguém nunca disse que ele não podia dar uma mãozinha. Suas asas bateram e ele pousou rapidamente no telhado da casa vizinha. A televisão estava ligada a um volume alto, o que ia atrapalhar.

— Deixa eu ver... isso deve ajudar. – ele mexeu na antena várias vezes e viu que tinha dado certo quando ouviu vários palavrões vindo de dentro da casa.

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Bem no momento em que o jogador ia cobrar um pênalti, a TV saiu do ar, mostrando a mensagem “sem sinal na tela”. Antenor quase arrancou os cabelos de desespero.

— Não acredito, logo agora? – o homem falou vários palavrões e Cascão também estava muito revoltado.

— Peraí... pai, fica quieto... tá ouvindo?

— Ouvindo o quê?

O rapaz prestou atenção e ouviu gritos vindo da casa do Cebola. A voz parecia ser da Rosália e tinha outra que era do Rômulo. Aquilo não podia ser bom e ele saiu correndo sem pensar duas vezes.

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— Seu moleque imbecil, vou acabar com a tua raça agora mesmo! – O sujeito bradou apertando o pescoço do Cebola com toda a força e batendo sua cabeça no chão ao mesmo tempo. O rapaz não conseguia respirar, seu rosto estava ficando roxo, o sangue escorria em abundancia e Cebola acabou perdendo os sentidos. E tudo ficou escuro.


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