Parte III

“Hoje a noite não tem luar e eu estou sem ela,

Já não sei onde procurar, não sei onde ela está.

Hoje a noite não tem luar e eu estou sem ela,

Já não sei onde procurar. Onde está meu amor?”

Após o luau, Naruto e Hinata ficaram ainda mais próximos. Embarcaram naquele romance, um dia de cada vez, fazendo planos para, no máximo, até o final do verão. Nenhum dos dois falava do depois e toda vez que começavam a pensar sobre isso, desviavam o pensamento para o “agora”. Tinham decidido viver o sonho e era o que faziam a cada dia.

As famílias, claro, tentaram perguntar como aquilo seria, mas cada um a seu modo desconversava. No fim, todos acabaram aceitando e convivendo uns com os outros. Sempre que iam à praia, as famílias Namikaze e Hyuuga estavam juntas. Kushina conversava com Hiashi e Hanabi por horas, enquanto Neji ou passeava pelo local, ou fazia como Minato, retirando um livro de algum lugar e passando vários momentos lendo, sem se incomodar com calor ou barulho.

Mas uma coisa que todos também podiam ver é que o relacionamento despretensioso era sincero demais para ser tratado daquela forma. Bastava que se vissem que os olhares de Naruto e Hinata se encontravam e não desviavam para mais ninguém. Eles começaram, conforme os dias passavam, a agir de forma sincronizada. Se estavam lado a lado comendo, passavam as coisas um para o outro, seguiam na mesma direção de forma automática e pareciam, inclusive, saber quando trocar olhares. Olhares esses que pareciam bastar em vez de palavras.

Em determinado dia na praia, aconteceu a primeira mudança. Antes, eles caminhavam pela praia de mãos dadas ou Naruto passava o braço sobre os ombros dela — o que não durava muito por conta do calor —, algumas vezes iam até a água, mas voltavam logo e sentavam lado a lado, conversando por vários instantes, sem se preocupar com nada à volta. Mas agora, naquele dia, eles seguiram para a água e começaram a se tocar mais.

Hinata parecia tentar fugir dele, rindo a todo instante, por vezes até afundando e voltando à superfície rindo ainda mais. Ele, claramente, não a pegava porque não queria acabar com aquela brincadeira dos dois. Os braços nunca se esticavam completamente. Quando, porém, ele achou que era hora de tê-la em seus braços, agarrou a cintura da moça e a puxou para perto, envolvendo-a e a boca em seu pescoço, beijando ou mordendo, de longe não dava para ter certeza. Hinata gargalhava e se debatia.

Virando-a, os lábios finalmente se encontraram, o sorriso morreu, dando lugar ao carinho completamente aparente no toque. Era a primeira vez que eles se deixavam ver daquela forma e pareciam bem confortáveis com o momento, ou então esquecendo onde se encontravam.

Hiashi ficou tenso ao lado de Kushina, também observando a cena à distância. A mulher ruiva tinha um sorriso nos lábios e quando olhou para o homem ao seu lado, não conseguiu se conter e riu.

— É difícil ver nossos filhos assim, né? Mas acho que já estava demorando para acontecer, eles estavam tão conectados.

— O meu caso é mais difícil. É minha filha.

— Ora, Hiashi, o senhor vai me desculpar, mas é o meu filho também. Até pouco tempo eu era a única mulher em sua vida. — Kushina encarou o homem, que então pareceu desconcertado. — Sua filha nunca faria algo que não quisesse, assim como o meu filho não a desrespeitaria. Além do mais, eles só estão se beijando… Muito comportados e fofos, por sinal.

A fala de Kushina encerrou o assunto. Hiashi estava muito sem graça para dizer qualquer coisa e, para a mulher, ele deveria estar mesmo. Hinata era tímida, tinha notado, mas o fato de ter se aventurado em um romance de verão tinha deixado claro que ela não era tola. Admirava a menina por quem seu filho se apaixonava, só tinha medo do que poderia acontecer quando o verão chegasse ao fim.

E, eventualmente, ele chegou.

O último dia de Hinata e Naruto na praia foi juntos. Hinata tinha certeza que suas amigas iriam estranhar sua pele bronzeada, pois de todos os anos que tinha ido para lá, sempre voltava como se tivesse ficado em casa. Comentara isso com Naruto e percebeu o olhar do rapaz mudar, perder um pouco do brilho. Falar de casa lembrava aos dois que eles logo não estariam juntos. Eles iriam embora na manhã seguinte.

Quando o pôr do sol chegou, anunciando os momentos finais, eles estavam sentados sobre a pedra que Naruto a tinha visto pela primeira vez. Hinata estava sentada no meio de suas pernas, encostada em seu peito, fitando o horizonte com olhar vago. Ele, por sua vez, não observava o momento e, sim, a moça em seus braços. Será que existiria futuro para eles? Não podia arriscar uma promessa.

— Eu gostaria que o verão durasse mais — confessou.

— Gostaria que morássemos mais perto — Hinata disse com voz baixa, sem desviar o olhar do horizonte.

— Gostaria de ter certeza que, no futuro, depois de terminar a escola, eu pudesse lhe encontrar e fazer isso que temos ser pra sempre.

— Podemos… — Hinata se interrompeu e, balançando a cabeça, secou a lágrima que escorria por seu rosto. — Será que podemos tentar isso, caso sintamos essa vontade?

— Acho que não custa nada tentar, não é mesmo? Eu tenho seu número, você tem o meu.

— Isso me deixaria feliz… — ela disse e fechou os olhos, inclinando a cabeça para o lado e encontrando os lábios dele.

O acordo de aquele romance ser apenas durante o verão tinha sido quebrado. Se tornou inevitável que não sonhassem um com o outro mais além. Como seria se pudessem se ver todos os dias? E se eles tentassem, mesmo que a distância? Não tinham prometido esperar, sabiam que não podiam se pedir isso, mas se mantivessem o contato, será que aquilo poderia durar até poderem estarem juntos novamente? Não tinham certeza de nada, apenas que precisavam tentar.

Enquanto os lábios provavam um ao outro naquele momento tão íntimo, naquele início de despedida, só conseguiam pensar em como se sentiam. Na verdade, só conseguiam sentir. Era um misto de emoções: felicidade por estarem juntos, tristeza por se separarem, alegria por terem se encontrado, nervosismo pelo que sentiam. Os corações estavam acelerados e, em determinado momento, Naruto a virou completamente de frente para si e Hinata sentou em seu colo, colocando as pernas ao redor de seu quadril.

— O sol se pôs. Preciso voltar antes que Neji venha atrás de mim — ela murmurou, ainda sem afastar os lábios dos dele.

— Me encontre mais tarde, por favor — ele pediu, também sem afastar os lábios. — Você gostaria?

— Onde?

— Aqui. — Ele finalmente tinha parado de beijá-la. As mãos estavam na cintura de Hinata. — Acho que fica no meio do caminho para nós dois.

— Meia noite?

— Ótimo. Venha, vou lhe levar em casa.

Os dois se levantaram. O coração não estava tão apertado, pois sabiam que logo se encontrariam. Ainda assim, Naruto caminhou com ela até a casa, aproveitando para ignorar o calor e ficar abraçado àquela menina que tinha conquistado seu coração com tanta perfeição. Se despediram com um beijo e a promessa de se encontrarem.

Porém, quando a hora chegou, ela não estava lá. Naruto esperou uma hora e nada. Foi até a casa da menina e notou que os planos dos Hyuuga tinham mudado, eles tinham viajado naquela noite. Não haveria uma despedida como ele tinha planejado. Não teve chance de falar com Hinata, de explicar o que estava sentindo. Sentiu um aperto no peito, seus olhos arderam e ele encostou na parede da casa, com a cabeça baixa e deixando aquelas lágrimas escorrerem por seu rosto. Por mais que soubesse que isso logo aconteceria, tinha criado expectativas de se despedir, de dizer até logo, de combinar alguma coisa. Precisava falar para ela, mas não pudera e o fim chegara antes do que ele pensava.

O celular então vibrou. Naruto pegou rapidamente no bolso e desbloqueou a tela. O nome de Hinata apareceu como mensagem.

“Só consegui bateria agora. Não tive como avisar antes. Meu pai saiu mais cedo para não pegar trânsito na volta.

Me perdoe. Espero lhe ver no futuro.

Amor, Hinata.”

Amor. Era isso o que ele estava sentindo, não era? Ele tinha mesmo se apaixonado por ela e, agora, inevitavelmente, a amava. Podia ser um amor que não duraria muito tempo, mas amava. Mandou uma mensagem, dizendo que já sentia falta dela e esperava a encontrar logo. No final, usava a mesma despedida, sabendo que era sincero.

Ao voltar para casa, seu coração ainda doía por não ter conseguido se despedir e dizer que a amava. Mas agora sorria, pois tinha renovado as esperanças e colocara como objetivo a encontrar novamente. Em breve.

Ao olhar para o céu, encontrou apenas estrelas. Não havia lua, como ele não a tinha. Mas ele era Naruto Uzumaki Namikaze, não desistia de seus objetivos e, a partir daquele dia, tinha decidido dar uma chance para aquele amor de verão.