Until My Last Breath escrita por Lady


Capítulo 10
Nono


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que disse que este seria o último, mas tendo em vista que este ficou muito longo, decidi separá-los e deixar o próximo como último, para poder escrever melhor o encerramento sem querer ser muito corrido por estar muito longo, entendem?
Boa leitura a todos!



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Nico não sabia se aquilo que via era apenas uma miragem ou se realmente Will estava na sua frente. Sentiu o ar lhe faltar nos pulmões, a boca secou e o peito doeu como se algo estivesse apertando seu coração. Não notou quando as lágrimas começaram a rolar nas bochechas e nem quando suas pernas cederam, lhe fazendo cair ao chão. Queria gritar, correr até Will e abraçar o namorado, queria ter certeza de que não estava em mais um sonho onde protagonizava o retorno do rapaz, mas foi incapaz de se mexer. O coração estava acelerado demais, descompassado, doendo e agoniado. A voz lhe sumiu e os soluços preencheram o quarto silencioso.

Will observava o menino meio atônico. Não sabia o que fazer, estava desconfortável com a reação que o rapaz teve ao vê-lo, mas algo dentro de si gritava para que ele parasse de chorar. Andou a passos receosos para perto do rapaz e se agachou de frente a ele, porém ainda se manteve calado. Tinha medo de falar alguma coisa e o menino se despedaçar mais ainda em sua frente.

As forças se esvaiam do corpo de Nico, soluços sofridos escapavam de sua boca, mesmo tentando contê-los com sua mão. Sentia seu corpo tremer por completo, a mente ainda teimava em negar que era Will ali no quarto. Devagar, sua mão se esticou para tocar a mão do loiro, mas sentiu apenas frio e névoa quando sua mão trêmula atravessou a de Will. Isso fez com que Nico derramasse mais algumas lágrimas. Mesmo que desejasse do fundo do coração, Will era apenas uma alma, jamais ele seria capaz de tocar-lhe.

Will estava confuso. Muito confuso. Ver aquele rapaz chorar tão fervorosamente apenas pela sua presença, ver a tentativa frustrada de toque e ver o quanto isso afetou o menor, o fez ficar confuso. Ele não sabia o que tinha feito para o rapaz, não sabia se o conhecia ou se eram próximos, muito menos sabia o nome dele, mas assistir o choro sofrido daquele desconhecido dilacerava sua alma em milhões de pedaços. Queria mais que tudo poder abraçar o corpo trêmulo do jovem a sua frente, queria poder acariciar seus cabelos negros, queria poder dizer que estava tudo bem, que não precisava mais chorar daquele jeito. Mas... Não sabia o que fazer. Como poderia acalentar alguém que nem conhecia? Como poderia dizer as palavras certas quando nem mesmo o nome dele sabia? Toda aquela situação fez Will querer chorar junto do rapaz.

— Eu sinto muito... — Foi apenas o que conseguiu dizer naquela hora. A incerteza em sua voz era nítida. — Não sei o que aconteceu a você, mas espero que fique bem...

E com esta frase Nico olhou incrédulo nos olhos cerúleos da alma a sua frente. Ele sentiu como se mil facas perfurassem seu coração e o ar lhe faltou, Nico se engasgou com a própria saliva em meio ao choro e entre soluços e tossidas o moreno segurava seu peito, como para tentar acalmar o coração dilacerado.

— Você não se lembra de mim?! — A pergunta soou como uma acusação na voz embargada e fraca do menor e a constatação de tal fato fê-lo fechar os olhos em descrença e dor.

Will Solace já não lembrava dele. Como o destino podia ser tão cruel assim? Como os deuses poderiam ser tão sádicos? Era realmente prazeroso observar a infelicidade alheia e desgraçar a vida dos semideuses?

O corpo ainda tremia violentamente, os olhos ardiam e o coração ainda doía miseravelmente. Mas Nico sabia que precisava se despedir do loiro, precisava dizer tudo o que ele significava para si, para só então seguir em frente. Mesmo que Will não se lembrasse dele e não entendesse uma única palavra do que seria dito.

— Will, eu... — Tentou começar, mas as palavras lhe fugiam. A garganta doía como se estivesse tentando engolir uma enorme bola de pingue-pongue.

O loiro mordeu os lábios e encarou o menino magricela a sua frente. Se sentia culpado por ter falado anteriormente, o olhar de angústia e melancolia que recebeu assim que fechou a boca foi aterrador. Desejou poder lembrar daquele rapaz e não o magoar mais.

— Eu sei que você não lembra de mim, mas só me escuta, tá? — O tom de voz quebrado do menino fez Will querer abraçá-lo.

 Nico sentia o coração despedaçado bater frenético no peito. As lágrimas ainda rolavam nas bochechas encharcadas e a garganta doía, mas ele precisava daquilo. Precisava de tantas coisas naquele momento, mas as palavras lhe fugiam. Não sabia nem por onde começar.

— Desde que você me conheceu, você sempre me deu forças, me sustentou quando eu achei que fosse cair e me apoiou através de tudo o que passei... — O moreno sussurrava as palavras para Will, a tristeza era palpável. — Quando eu estava fraco, você me dava forças. Quando eu estava cego e louco para voltar aos velhos costumes, você me fazia enxergar novamente e ver a verdade em seus olhos. Você me amou como nunca ninguém me amou antes e com você eu idealizei sonhos que aos poucos foram se tornando realidade...

Will sentia verdade nas palavras do rapaz. Sentia-se estranho, como se estivesse escutando uma confissão de amor para outra pessoa. Correu os olhos por todo o corpo do moreno e viu que ele já não tremia tanto quanto antes, mas as lágrimas ainda estavam presentes nos olhos castanhos.

— Você sempre acreditou em mim e disse que eu poderia fazer o que quisesse... Sempre enxergou o melhor em mim... Sempre... — Will soube que o menino chorava apenas pelo tom de voz cada vez mais quebrado no rapaz.

Algo dentro de si começava a se revirar. Sentia vontade de chorar, mesmo não podendo. Sentia uma tristeza profunda se apoderar de si e crispou os lábios. Como pode esquecer alguém que aparentemente amava tanto?

— Eu te agradeço, Will. Sou grato por você ter entrado na minha vida e me amado... Sou grato por toda a fé que você teve em mim, por toda a luz que você levou pra minha vida, por todo o amor que eu achei que não merecia... — Cada frase era dita com muita dor e verdade. — Eu amo você, Will, e sempre vou te amar... Até meu último suspiro e depois dele.

Enquanto escutava, Will ficava cada vez mais perplexo. Quem era aquele rapaz? Havia tanto amor e verdade naquelas palavras que o deixavam embasbacado. Não sabia como agir, não sabia o que dizer, não sabia... Não sabia como as lágrimas poderiam estar escorrendo por ser olhos e molhando suas bochechas. Não sabia como aos poucos, seu coração começava a dar leves princípios de batidas.

— Eu te amei quando dei o último suspiro e te amarei até depois disso... — Sua voz rouca ecoou pelo quarto, fazendo-se presente junto dos soluços de Nico. Will não sabia como soube daquilo, então sentiu algo estranho. Levou sua mão até o peito e sentiu as batidas fracas de seu coração outrora parado; franziu a testa.

Por sua vez, Nico não deixou de notar que a alma de Will estava cada vez mais estranha. Enquanto falava, mais especificamente desabafava e se declarava para ele, a alma de Will Solace foi perdendo a cor, ficando levemente mais translúcida. Se assustou quando viu lágrimas caindo dos olhos azuis e arregalou os olhos com a fala do namorado. O que estava acontecendo?

— Tudo está confuso... Eu não me sinto bem... Minha mente está... Estou confuso... —Will disse ainda com lágrimas nos olhos e com a mão no peito, apertando o tecido da blusa. O olhar perdido que deu ao moreno evidenciou sua confusão mental. — Você... Eu conheço você...

Nico soluçou. Não sabia o que estava acontecendo, mas o desespero começou a tomar conta dele. A alma de Will cada vez mais ia se esvaindo na sua frente, o rapaz parecia estar com dor, a mão apertava o peito e as lágrimas não paravam de cair dos olhos azuis. Nem mesmo o fato de aparentemente Will estar lembrando de si, fazia ele ficar aliviado com o que acontecia.

— Ni... Co...? Nico! É você?! — A voz rouca exclamou, nem ao menos percebia que estava mais transparente a cada minuto. Tentou abraçar o namorado, mas seus braços atravessaram o menor. Viu que o outro chorava e desejou mais que tudo, que pudesse tocá-lo para enxugar cada uma das lágrimas salgadas.

— Will? Você se lembra de mim? Como...? — A incredulidade indisfarçada quase fez Will rir. Quase.

— Eu te amo, Nico. Nunca se esqueça disso.

Nico quis gritar quando, mais uma vez, viu a alma de Will sumir diante seus olhos inchados pelo choro. Tentou agarrar o braço dele quando seu corpo se evaporava, mas suas mãos atravessaram a névoa. Podia sentir o perfume de Will pelo quarto e isso o deixou mais angustiado. O que estava acontecendo? Porque Will apareceu em seu quarto? Por que ele não lembrava de si e como ele relembrou de Nico? Mas a pergunta que mais temia a resposta era para onde a alma teria ido? Por alguns segundo Nico temeu verdadeiramente que Will tivesse se desintegrado para sempre diante seus olhos.

Se esforçou para se levantar do chão, as pernas doeram com o peso do corpo magro e vacilaram quando deu os primeiros passos. Andou a passos trêmulos ao banheiro, lavou o rosto e inspirou fundo. Precisava falar com o pai, certamente ele poderia lhe responder todas as perguntas.

Ao sair do quarto tentou correr e viu que as pernas ainda não estavam firmes para tal ato. Sendo assim, andou o mais rápido que conseguiu rumo a sala do trono, onde sabia que encontraria o pai. Seu coração batia rápido, sabia que algo não estava certo, sentia no fundo da alma que a visita de Will significava alguma coisa. Será que o loiro havia ido se despedir para poder renascer? Será que eles nunca mais poderiam se ver, mesmo Nico podendo invocar a alma do amado quando estivesse recuperado? Sentiu um arrepio na espinha e apertou os passos. As lágrimas já não caiam, mas seus olhos ainda ardiam.

Não escondeu a decepção quando, ao chegar na sala do trono, não encontrou seu pai. Onde ele poderia estar? Há poucos minutos ele havia dito que teriam negócios a serem resolvidos ali, então como ele não estava lá? Bagunçou os cabelos rebeldes e suspirou retomando o fôlego.

De olhos fechados e tentando se recompor minimamente, Nico chamou por Agathe. Ela certamente saberia dizer por onde Hades se encontrava.

— Senhor Nico, o que deseja? — A voz suave e baixa da empregada do castelo soou ao seu lado.

Num suspiro cansado e tentando controlar as batidas frenéticas no coração, Nico observou o teto do salão e com uma voz controlada fez apenas uma pergunta direta:

— Onde está meu pai?

Percebeu de canto de olho a empregada crispar os lábios e apertar as mãos contra o peito, os olhos dela foram ao chão e sua forma tremeluziu.

— Me desculpe, senhor... Mas não sei se posso leva-lo até onde vossa alteza está. Não recebi ordens que me permitiam isto. — A voz baixa denunciava o nervosismo e com isso Nico soube que algo estava errado.

Arrumou a postura e fitou Agathe nos olhos.

— Agathe, eu gosto de você, tenho um apreço por você e sei que você cuida de mim aqui no castelo e só quer meu bem. Preciso saber onde meu pai está, entende? — O tom de súplica na voz apenas reafirmava a necessidade do menino de encontrar o pai.

Viu contente a empregada morder os lábios e franzir o cenho, pensativa, e foi quase inevitável sorrir contente com o suspiro frustrado e resignado dela.

— Tudo bem. — Disse a contragosto. — Irá achá-lo na primeira porta a direita no corredor dos quartos.

Nico não teve tempo nem de conseguir agradecer, Agathe desapareceu no momento que terminou de falar.

Com o coração na mão, ele andou até a sala referida pela empregada. A respiração desregulada e mãos tremendo. Quando parou de frente a porta, começou a suar frio e sentir o estômago embrulhar. O que seu pai falaria para si depois de escutar suas dúvidas? Teria a alma de Will ido embora para sempre? Renascido? A resposta lhe assustava. As mãos tremiam quando pegou na maçaneta e abriu a porta.

O quarto estava escuro e Hades estava no centro dele. Nico viu velas negras dispostas num círculo envolta de uma cama de casal e pode perceber que havia um corpo deitado nela. O pai estava de costas para a porta e recitava palavras numa língua desconhecida para Nico, as luzes das velas tremeluziam e uma névoa amarelada envolvia a cama. O rapaz fechou a porta e começou a adentrar se esgueirando pelas paredes.

Quando já lhe era possível ver de quem pertencia o corpo, Nico arregalou os olhos e tampou a boca com as mãos. Não era possível aquilo! Como o corpo de Will Solace poderia estar deitado ali no castelo de Hades como se estivesse apenas dormindo? Ele estava morto a uma semana! Queria poder ir até o namorado, abraçar o corpo deitado, verificar se ele estava mesmo ali, mas as pernas travaram e o coração bateu frenético no peito. As mãos ainda tampavam a boca para que a respiração arfante não lhe denunciasse a presença.

Viu a névoa se envolver mais ainda no corpo do rapaz morto e levantá-lo levemente. Só então Nico percebeu que a alma de Will estava ao lado do corpo morto e parecia não ter notado sua presença no quarto. Ele viu a alma encarar o corpo com o semblante aflito, as vezes tremeluzia e ficava mais fraca, mas ainda estava ali, com lágrimas escorrendo de seus olhos azuis e lhe molhando as bochechas pálidas.

Nico se sentia atordoado. O que estava acontecendo? Sua mente tentava a todo momento arranjar explicações plausíveis para o que seus olhos presenciavam, mas não entendia. Porque o corpo de Will estava ali? O que Hades estava tentando fazer? Olhou seu pai e viu o deus com os olhos completamente negros como as sombras do submundo, de seus lábios saiam palavras tão antigas quanto o próprio Hades e a aos poucos a névoa ia se intensificando no corpo gelado e sem vida do namorado.

As vezes Nico se esquecia de que seu pai era um deus, que era um ser de extremo poder e influência. Na sua pré-adolescência conturbada depois da morte de Bianca, Nico queria tanto apenas uma figura paterna que se esqueceu que Hades era o deus do submundo, dos mortos, e materializou nele seus desejos de um menino sozinho. Suas ânsias do amor paterno, suas expectativas. Mas naquele momento, enquanto o deus recitava palavras confusas para si, com o breu do quarto a lhe envolver, os olhos negros como o tártaro e com toda a névoa a espiralar no corpo de Will, Nico admirou seu pai e sentiu orgulho.

Por mais dolorido pela perda, devastado pelo luto, desnorteado e abalado, Nico sentiu o amor por Hades, seu pai, acalentar o peito ferido. Sentiu que todos os desentendimentos e trabalho duro para ensinar Hades a ser um pai tinham tido efeitos. O deus por mais frio e distante, às vezes, lhe amava e a prova era o que estava sendo feito ali diante seus olhos.

Uma a uma as velas foram se apagando pelo vento frio que surgiu no quarto, os olhos negros do deus foram voltando ao normal, a névoa levemente amarelada se envolveu na alma de Will e aos poucos elas foram se esgueirando para o corpo gélido e se infiltrando, como se o próprio corpo estivesse sugando aquela fumaça para si. Quando todas as velas se apagaram, a névoa terminou de entrar no corpo de Will Solace, a iluminação do quarto voltou ao normal e Hades cambaleou para a frente, visivelmente cansado e pálido, mais do que o normal.

— Pai! — Nico se apressou de encontro ao deus para segurá-lo e viu Hades lhe sorrir.

— Nico, não sabia que estava aqui no quarto. A quanto tempo já estava aqui bisbilhotando? — A voz rouca do deus preocupou o rapaz.

— Tempo o suficiente para entender o que aconteceu aqui. Porque agora, pai? Por que depois de uma semana me vendo sofrer o luto?

Hades sorriu para o filho e endireito a coluna, dando um longo suspiro em seguida. Parecia menos pálido e já respirava normalmente. Com uma mão guiou o filho para um pequeno sofá no canto do quarto. Se sentou e esperou Nico fazer o mesmo.

— Nico, há coisas que nem um deus pode fazer sozinho. — Começou, a voz calma e os olhos fixos nos negros do menor, tão iguais aos seus. — Eu vejo que agora não é o momento para lhe explicar tudo o que aconteceu nesta semana, mas um dia você saberá, meu filho. — Nico franziu o cenho e já estava pronto para começar a protestar, mas Hades continuou. — Eu sou um só para administrar todo o submundo, você sabe. Mesmo tendo alguns deuses menores que me auxiliam, ainda sou apenas um diante milhares de almas que chegam aqui.

E pela primeira vez, Nico percebeu o quão desgastante tudo aquilo poderia ser para o pai, pouco a pouco a rebeldia foi se aquietando dentro de si e esperou; esperou o pai terminar de falar e sanar suas muitas dúvidas.

— Há uma semana a alma de Will Solace chegava ao hades. Uma alma confusa que não aceitou a morte repentina e fugiu do julgamento, desesperado para lhe encontrar, e foi parar no Campo dos Asfódelos. — Nico prendeu a respiração diante a revelação do pai. — Eu tenho muitas coisas a fazer por aqui, não poderia me dar ao luxo de parar tudo para ir procurar uma única alma, Nico, mesmo que essa alma fosse importante ao meu filho.

Nico tremia, o coração batendo a mil, mãos suadas e pensamentos quase palpáveis.

— Você sabe o quão perigoso é para uma alma ficar vagando pelo Asfódelos, Nico. Ele quase perdeu sua essência. Aquilo que fazia dele Will Solace.

— Pelos deuses... Então foi por isso que ele não se lembrava de mim mais cedo... Agora tudo faz sentido... — O menor basicamente sussurrou, o desespero que sentiu naquele momento quando percebeu que Will já não se lembrava de si passando lentamente.

— Confesso que não sei o que aconteceu, filho. Quando a alma chegou, eu tinha a certeza de que o ritual já não teria sucesso, ele quase não se lembrava do próprio nome. — Hades confessou, mas o alívio era nítido na voz. — De algum modo, alguma coisa dentro dele despertou, foi como uma fagulha perto de palha seca. Eu já estava quase desistindo de convocar a alma para a conexão com o corpo, quase todas as velas já estavam acessas e a alma já não respondia ao chamado, ela já não reconhecia o corpo.

Nico tremia com as palavras do pai, as memórias dos momentos anteriores voltando a sua mente, a alma se esvaindo aos poucos, a lucidez nos olhos azuis, o reconhecimento, a declaração...

— Ele se lembrou de mim. — Falou atônico, os olhos miraram o corpo pálido na cama. — Ele se lembrou do que sente por mim, foi por isso que não se entregou ao esquecimento, por isso não desistiu.

Nico se levantou e correu até o corpo frágil deitado na cama. Podia ver o peito subindo e descendo numa respiração ritmada e calma, pacífica, assim como Will era. É. Seus olhos se encheram de lágrimas e as mãos trêmulas foram de encontro à cabeleira loira do rapaz. Ajeitou-lhe as madeixas e depositou um beijo na testa do namorado. O sangue que agora corria nas veias do loiro já fazia seu trabalho, fazendo a cor voltar ao rosto e o corpo sair do gelado.

— Me diga, pai, como foi possível? O que era aquilo que estava fazendo? Aquela névoa amarelada? — Queria entender, queria mais que tudo conseguir compreender tudo o que viu.

— Uma magia tão antiga quanto os deuses, Nico. A milénios atrás eu aprendi uma magia que provocou o rei dos deuses, Zeus. Eu revivi uma mortal que me era muito querida. Quando ele soube, ficou irado. Disse que o deus dos mortos não poderia dar vida as criaturas, apenas retirá-las. Me proibiu de reviver qualquer outra pessoa e disse que tal ato poderiam me trazer consequências, a mim e aos meus filhos.

Nico olhou horrorizado para o pai, mas Hades apenas levantou-se do sofá e andou até o filho.

— Mas o que ele não sabe, Nico, é que há vida na morte. Vida e morte são tão interligadas quanto o amor e ódio. Vocês estão tão acostumados em focar apenas no lado obscuro e triste da morte que esquecem de ver que há beleza nela, há liberdade, esperança. Para muitos, a morte é apenas o começo de uma nova vida.

Hades olhou para Nico e bagunçou os cabelos negros do menor.

— Enfim, embora ele tenha me proibido de “fazer tamanha atrocidade”, sempre posso abrir uma exceção para meu filho único. — Riu e Nico arregalou mais ainda os olhos, era a primeira vez que ouvia Hades rir e mais ainda, era a primeira vez que via o pai falar com tanto carinho sobre aquilo que ele era, apesar de tudo, Hades era a morte. — Confesso que tive ajuda, não poderia fazer tudo sozinho obviamente, mas para estes deuses, haverá a hora certa de te contarem a versão deles dessa história.

— Outros deuses? Como assim?

— Não agora, Nico. — O deus riu e apontou para o corpo de Will. — Agora você precisa se recompor para ajudar este jovem rapaz a se recuperar. A alma ainda levará um tempo para se restabelecer no corpo, por isso você precisará cuidar dele, pelo menos no primeiro mês ele ficará incapacitado de fazer algumas coisas sozinho, você estará apto para ajudá-lo? Já conversei com Hazel para que vocês possam ficar em Nova Roma, lá terão uma estrutura melhor para a reabilitação dos dois e talvez, uma vida nova juntos.

Nico sorriu olhando o rosto sereno do namorado e abraçou o pai. Os braços finos ao redor do pai e a cabeça pousada no peito do mais velho. O coração acelerado e as lágrimas de emoção caindo dos olhos e molhando o terno do pai, entretanto Hades não se importou com isso. Apenas retribuiu o abraço apertado do filho e respondeu a uma pergunta feita há alguns dias.

— Você merece toda a paz e alegria que eu puder lhe dar, meu filho.


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Notas finais do capítulo

A tal pergunta no final foi feita por Nico a Hades no capítulo 6 intitulado 'Quinto'.
Espero que tenham gostado e até o próximo, e último, capítulo!



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