Until My Last Breath escrita por Lady


Capítulo 11
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Eis o fim.
Agradeço imensamente aos que me acompanharam nesta jornada. ♥
Espero que tenham gostado, foi uma história curtinha, com sofrimento desdo o primeiro capítulo e agora no final, uma coisa mais light. Foi imenso prazer estar finalizando esta história e espero, talvez mais pra frente, voltar aqui com mais alguns projetos de capítulo únicos, ainda estou pensando nisso... Vamos ver o que o futuro nos aguarda! ♥

Aproveitem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786456/chapter/11

Nico queria poder dizer o quanto ele odiava acordar com a luz do sol lhe aquecendo a face ou o quanto odiava os pássaros cantando no parapeito da pequena janela que ele esqueceu de fechar na noite anterior, queria até poder fechar os olhos e mergulhar no sono sem sonhos que estava tendo antes do calor começar a incomodar.

Mas nada disso seria verdade se fossem proferidos em voz alta.

Era verdade, porém, que houve uma época em que Nico poderia proferir tudo isso sem soar mentiroso. Sairia por aí com uma aura lúgubre de morte e com a pele tão pálida que as veias do corpo poderiam ser todas contadas e mapeadas; o rosto fechado, roupas largas, sempre negras, anéis de caveiras e olheiras profundas. Pelo menos era assim que todos os semideuses o caracterizavam.

Mas nada disso seria verdade se fossem proferidos em voz alta pelos semideuses de agora.

O rapaz que agora se levantava da cama de solteiro, sorria um pouco mais, não tinha mais a violência da morte impregnada nele, as olheiras estavam melhores, embora ainda existissem e estivessem escuras ainda, não estava esquelético e a aos poucos melanina voltava a tingir o corpo do menino, tirando a palidez doentia dele.

Nico se enrolou no lençol da cama, calçou os chinelos e andou até a cozinha, pronto para esquentar uma água para o café matinal. Os movimentos estavam lentos e ainda sonolentos, mas ele não tinha pressa. Era sábado, um dia de descanso. Os cabelos negros se encontravam bagunçados e amaçados de um lado. Ligou o fogo, posicionou a chaleira e foi até o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes.

Quando se olhou no espelho, não conseguiu evitar o riso. Os cabelos pareciam que tinham enfrentado um tornado, o rosto estava com marcas do travesseiro, mas nada disso o incomodou e deu de ombros, escolhendo não pentear o cabelo. Não havia necessidade mesmo.

A passos lentos e silenciosos, abriu com cuidado a porta do segundo quarto do pequeno apartamento. Os olhos do rapaz demoraram um pouco a se acostumarem com o ambiente escuro, mas a respiração baixinha que vinha de dentro do cômodo, junto com um corpo encolhido na cama de casal fazia o coração de Nico se acalmar e aquecer. Fechou a porta com cuidado para não fazer barulho e acordar a pessoa que dormia.

Voltou para a cozinha, pegou algumas torradas e biscoitinhos e colocou dispostos na pequena mesa de quatro lugares da cozinha. Errou a quantidade de café e acabou passando a mais, mas deu de ombros. Teria apenas que requentar o líquido negro para tomar no fim da tarde. Serviu o café numa caneca funda, o líquido fervente esquentou rapidamente o recipiente e Nico adorou sentir o calorzinho passando para os seus dedos gelados. Embora o sol se fizesse presente, o outono ainda era frio pela manhã. Arrumou o lençol no corpo e se sentou na mesa, ambas as mãos seguravam a caneca quente e levantou-a até os lábios, o cheiro de café recém passado era tão bom, fechou os olhos quase por instinto, a narinas se dilataram para conseguirem fungar mais daquele aroma delicioso. O sorriso nos lábios foi o resultado de um prazer realizado logo pela manhã.

Não fingiu espanto, muito menos surpresa quando, ao abrir os olhos, encontrou duas deidades sentadas junto a si na pequena mesa. Apenas um sentimento pairou na mente: curiosidade. Apolo e Afrodite sorriam para si, o deus não havia mudado nada desde a última vez que Nico se encontrou com ele. Já Afrodite tinha a pele bronzeada, cabelos curtos até os ombros, loiro e levemente cacheados e olhos azuis tranquilos. Ela lhe lembrava Will.

— Bom dia, Nico. — A voz melodiosa da deusa quebrou o silêncio da cozinha. Nico apenas suspirou e colocou a caneca na mesa.

— Bom dia. Aceitam café? — A pergunta foi mais por educação, mas ao ver os deuses aceitando, se levantou para servir-lhes o líquido. — A visita de Apolo eu até esperava, uma hora ou outra, mas estou curioso com a sua visita, Afrodite.

Nico ergueu uma sobrancelha enquanto colocava as xícaras de café na frente dos deuses. As deidades sorriram e bebericaram o que lhes foi servido. Nico se manteve em silêncio, esperaria até algum dos dois começar a falar.

— Como está meu filho, Nico? — Apolo foi o primeiro a perguntar, embora ele as vezes observasse o filho do Olimpo, queria escutar as palavras de Nico, queria sentir que Will estava bem.

— E como você está? — Dessa vez Afrodite quem falou.

Nico bebeu mais café e mordiscou uma torrada. Lembrar de tudo o que passou quando se mudou para aquele apartamento em Nova Roma ainda lhe deixava com os cabelos em pé. O primeiro mês foi o mais complicado na visão do moreno, Will ainda estava fraco e precisava de cuidados para conseguir aos poucos voltar a se movimentar e fazer todas as coisas sozinhos, teve a pequena mudança de pertences para a casa nova e a arrumação do apartamento, mesmo tendo a ajuda de Hazel e, às vezes, Frank, Nico ainda estava terrivelmente cansado e abatido  por tudo o que havia acontecido. Naquele primeiro mês, em que o loiro estava debilitado na cama, sem poder sair das vistas do moreno, Nico conseguiu trabalhar para controlar novamente os poderes do mundo inferior. Foi o mês que Nico usou para finalmente perceber que Will não estava morto. Todas as noites tinha pesadelos com o corpo morto do namorado e a alma se esvaindo para sempre. Todas as noites acordava desesperado, suando e chorando. E todas as noites, depois de chorar e acalmar o peito dolorido, se esgueirava para o quarto do loiro e dormia na cadeira do quarto de Will, sempre depois de longas horas observando o namorado respirar.

No segundo mês, Will já conseguia andar sozinho, não longas distâncias, e sempre saia com a companhia do namorado para ampará-lo quando tinha um mal-estar. Foi o mês que eles tiraram para conhecer Nora Roma e a nova vizinhança. Nico já conseguia dormir uma noite inteira sem acordar chorando e gritando em desespero, mas sempre que isso acontecia, Will aparecia para aninhar o corpo trêmulo do namorado.

O problema começou no terceiro mês. Nico estava feliz que Will já conseguia fazer todas as outras atividades sozinho, já estava basicamente recuperado da experiência de “morte por uma semana” e foi isso que fez Nico perceber que talvez ele não estivesse tão bem quanto mostrava ao loiro. Quando o namorado estava dentro de casa, sempre as vistas dele, o rapaz se sentia bem, calmo, até tranquilo, como se tudo o que haviam passado não passasse de um sonho ruim. O terror vinha quando Will saia de casa, ou se afastava de Nico a ponto do moreno o perder de vista. Ele se sentia desesperado, agoniado, o mundo girava, o corpo tremia, lhe faltava o ar e lágrimas caiam de seus olhos. Ele só se acalmava quando o namorado aparecia a sua frente e abraçava-lhe o corpo encolhido.

Demorou a aceitar que estava traumatizado, com algo que Will chamava de estresse pós-traumático. Relutou a aceitar o diagnóstico, a doença poderia durar alguns meses, anos ou até a vida inteira. Admirava o namorado, Will passou uma semana morto, vagando perdido no Asfódelos, mesmo assim ainda tinha paciência para cuidar, acalmar e acalentar Nico. O loiro foi quem morreu, mas o traumatizado havia sido Nico.

Aos poucos, com tratamento e muita paciência e cuidado de Will, Nico estava conseguindo controlar as crises que tinha sempre que algum gatilho era acionado em sua mente. Ainda teria um longo caminho pela frente, não estava cem porcento bem, mas pelo menos conseguia garantir a Will que ficaria bem sozinho quando o loiro saísse para ir comprar um pão.

Os períodos de distanciamento mais longos eram sempre os piores para Nico, Will sempre dava um jeito de mandar uma mensagem para ele de meia em meia hora, dizendo que estava bem e que estava vivo. Só assim o moreno se acalmava e uma crise de pânico era evitada. Felizmente Will não se incomodava com nada disso, ele sabia que Nico estava batalhando para melhorar e que nada disso era culpa do menor.

Nico sabia que haviam sido longos e exaustivos seis meses desde que se mudaram para Nova Roma, ainda teriam algumas dificuldades pela frente, as vezes ele tinha algumas recaídas e passava o dia inteiro chorando desesperado achando que Will havia morrido, mesmo o rapaz estando na sua frente, mas isso eram batalhas diárias que seriam vencidas até Nico estar totalmente recuperado.

Sua mente voltou ao presente quando Afrodite colocou a xicara na mesa e tamborilou as unhas na superfície. Nico pigarreou e sorriu constrangido.

— Desculpe...

Os deuses apenas balançaram a cabeça, dispensando as desculpas do semideus de forma educada. Não era necessário explicações para a demora da resposta. Ambas as deidades observaram o quão distante a mente do jovem ficou ao se recordar dos meses anteriores, eles sabiam que havia sido difícil para Nico, e ainda estava sendo, superar o trauma da perda momentânea.

— Will está bem, está totalmente recuperado, do acidente só ficou uma pequena cicatriz arredonda no peito esquerdo. — Respondeu o semideus. Comeu outra torrada e bebeu mais café.

Observou Apolo sorrir e terminar a bebida negra. Afrodite observava a porta do quarto do rapaz loiro com um sorriso na face. Nico ergueu uma sobrancelha e decidiu tirar a dúvida que martelava seus pensamentos.

— Porque está aqui, Afrodite?

A deusa juntou as mãos no colo e só então Nico percebeu que ela se vestia de forma despojava, um vestido florido, simples até, com uma sapatilha lisa. Foi a primeira vez que ele viu a deusa tão natural, usando de joias apenas um par de brincos médios, dois anéis e uma pulseira fina de ouro no pulso esquerdo. Ele gostou dela assim, simples, com uma maquiagem muito leve, irradiando beleza natural.

Mas antes mesmo que a mulher pudesse responder a sua pergunta, Nico se lembrou do que seu pai havia lhe dito a alguns meses atrás.

— Vocês... Foram vocês que ajudaram meu pai a trazer Will de volta. — Falou com certeza. — Mas por quê?

Afrodite voltou os olhos para o semideus a sua frente e sorriu. Mesmo desgrenhado, com o rosto marcado pelo travesseiro e a voz rouca pela falta de uso ainda no começo do dia, Afrodite o achou uma graça. Para ela, Nico tinha uma beleza peculiar, não era belo como alguns de seus filhos, mas não poderia dizer que era feio, longe disso.

— Lembra de quando nos encontramos no acampamento? Logo depois de descobrir a morte de Will? — A deusa viu o rosto do jovem ruborizar momentaneamente, provavelmente se lembrando das acusações feitas a si. — Eu não poderia deixar que tudo aquilo que vocês tinham construído fosse desmoronado por um erro das moiras.

Nico franziu a sobrancelha. Um erro das moiras? Afrodite pareceu compreender a dúvida que surgiu em Nico porque logo em seguida continuou.

— Um erro, sim. Um absurdo sem tamanhos! Logo após confirmada a morte do menino, eu e Apolo estávamos indignados e queríamos procurar Asclépio, tenho certeza de que você já ouviu falar dele, não é?

Nico assentiu, prestando muita atenção a tudo o que a deusa falava.

— Infelizmente, houve alguns contratempos que tivemos que enfrentar. Zeus nos proibiu de procurar Asclépio, o bastardo ainda teve a audácia de ameaçar o pobre deus menor, proibindo-o de nos ajudar! — Afrodite revirou os olhos, como se achasse a ideia repugnante. — Tivemos que recorrer ao seu pai porque já sabíamos que milênios atrás ele já tinha revivido alguém.

— Mas como vocês conseguiram burlar as proibições de Zeus? — O rapaz estava incrédulo. Nunca havia sido muito fã do deus dos céus, mas gostava muito dos filhos dele, Thalia e Jason, e agradecia que nenhum dos irmãos tivessem puxado algum traço do pai além dos poderes divinos.

Afrodite riu divertida e abanou a mão, fazendo pouco caso do assunto.

— Uma deusa nunca esquece dos favores que ainda possui. Zeus só precisou de um pequeno lembrete em privado de toda a história. Ele jamais iria deixar que aquilo viesse a público, então não teve muita escolha a não ser me deixar resolver a burrice das moiras. Obviamente ele não sabe que Apolo e Hades estavam envolvidos, eles não têm a mesma carta na manga que eu.

Nico estava chocado. Nunca na sua vida ele havia imaginado que algo assim pudesse acontecer. Quando que um filho de Hades foi tão fortemente abençoado por Afrodite a ponto dela desafiar o rei dos deuses e reviver um morto? Talvez ele fosse o primeiro. Sentiu as bochechas esquentarem de vergonha pela dedicação dos deuses.

— Meu papel nesta história foi bem pouco, na verdade. Tive apenas que manter o corpo de meu filho tão saudável quanto era possível até a hora da reconexão com a alma. — Apolo comentou dando de ombros e sorrindo pequeno.

As palavras fugiram de Nico ele apenas ficou sentado, segurando a caneca de café morno, as mãos tremendo levemente e a gratidão aquecendo o peito.

— Eu... Eu não entendo. Por quê? Por que todo esse esforço por mim? Se for pelo o Will, eu até entendo, ele te ajudou, Apolo, quando você precisou e é uma pessoa muito querida e do bem, mas... Eu? Não entendo...

Afrodite se levantou da cadeira, arrumou o vestido soltinho e florido e inspirou fundo, como quem se espreguiça depois de algum tempo sentado na mesma posição. Nico apenas observou como a deusa parecia estar à vontade ali na sua cozinha.

— Ah Nico. Você ainda se vê com uma lente muito pesada de julgamentos e inferioridade. Tem que trabalhar mais essa sua autoestima, meu rapaz. — Os passos leves da deusa quase não faziam barulho no assoalho. Ela parou na frente do semideus e pousou a mão nos cabelos desgrenhados. — Eu gosto de você rapaz, foi duro observar sua vida antes de Will, todo aquele sofrimento. Até eu sei reconhecer quando vocês precisam de um conforto e paz. Só quero que aproveite esta segunda chance e viva bem.

Dito isso, Afrodite se desfez numa névoa rosa claro com o cheiro do perfume amadeirado que Nico tanto gostava sentir em Will. O menino olhou confuso a névoa rosada se dissolver lentamente e observou o único deus restante na cozinha. Apolo lhe sorria sincero.

— Só cuide de meu filho, tudo bem? A vida ainda vai ser longa, vocês têm apenas dezesseis anos, muitas coisas ainda virão, mas saiba que sempre terão a minha benção. E talvez a de Afrodite também. — Riu e se levantou. Colocou as xícaras que ele e a deusa haviam tomado o café na pia, ato que chocou mais ainda o menor, e piscou para Nico, sumindo logo em seguida, deixando apenas um calor solar na cozinha como prova de que estava ali há poucos minutos.

— Obrigado por tudo...

Nico piscou os olhos, perplexo de tudo o que havia acontecido ali. Limpou a louça suja e resolveu ir acordar o adolescente que ainda dormia. Entrou devagar no cômodo, as cortinas fechadas deixavam o quarto mais escuro, mas Nico não ligou a luz. Estava habituado com a escuridão, e Will dormia tão sereno...

— Nico? Vem deitar aqui comigo um pouco. — A voz rouca de Will soou baixinha no quarto.

— Achei que estava dormindo. — A intenção era soar sério, mas Nico falhou miseravelmente.

O moreno se deitou na cama de casal e no mesmo momento Will o abraçou, fazendo uma conchinha quase forçada com Nico. O menor não reclamou, apenas se ajeitou melhor para que o peitoral do namorado de encaixasse melhor em suas costas.

— Quando você vai começar a dormir comigo na mesma cama? — A voz sonolenta do loiro fizera cócegas no ouvido de Nico.

— Ainda não é o momento, tenha calma assanhadinho. — Riu com gosto. E fechou os olhos, aproveitando do calor humano do namorado. O sono se esgueirando traiçoeiro, as forças lhe abandonando lentamente, sabia que isso poderia acontecer, mas nunca conseguia recusar um pedido de Will. Quando estava prestes a dormir, conseguiu dizer baixinho, se aconchegando melhor ao namorado. — Eu te amo.

Naquele momento não houve respostas, ambos os rapazes estavam embalados num sono calmo.

E foi naquela manhã de sábado que Nico sonhou com Will, os dois estavam velhinhos sentados numa varanda com um cachorro golden retriever deitado na frente deles. As mãos enrugadas estavam entrelaçadas, e sorrisos sinceros emolduravam as faces. Dentro da casa se viam fotografias da família que os dois tiveram, um filho e três netinhos, e as amizades que levaram dos acampamentos. Foi ali, naquele sonho perfeito, que Nico teve a certeza de que nunca mais seria aquele menino sozinho vagando no submundo.

Ali ele teve a certeza de que amaria, e seria amado, até seu último suspiro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mais uma vez, agradeço a presença de todos nessa história que eu amei demais escrever e se tornou uma das minhas favoritas daqui. ♥
Se puderem, recomendem ela aos amigos, conhecidos, cachorro, gato, periquito, papagaio... kkkk Amei estar aqui e amei cada comentário. ♥

Até mais, galerinha! Tchau! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Until My Last Breath" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.