O Mágico e os Ladrões de Som escrita por André Tornado


Capítulo 10
Noutro local, noutra dimensão




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Os cinco rapazes estavam siderados com a visão que se lhes apresentou, assim que entraram pela porta da cabina telefónica azul. Eram incapazes de piscar os olhos, de mexer os braços, de mover os pés, de conjurar um qualquer pensamento que os fizesse falar alguma palavra decente.

A Clara fechou a porta atrás deles e todos deram um salto ao mesmo tempo.

— Bem-vindos à TARDIS – anunciou ela e tê-lo-ia dito com mais alegria se não estivessem no meio de uma crise.

— Que lugar é este? – perguntou Mike completamente embasbacado.

— É maior… é maior… – balbuciou Dave.

— Por dentro – completou Rob.

— Isto é completamente alucinante! – exclamou Brad que continuava a segurar nas baquetas com a trouxa pendurada nestas.

— Isto é uma nave espacial! – gritou Chester.

O Doutor disse, apontando para cima com um dedo esticado.

— Correto! Estamos dentro de uma nave espacial. A minha nave espacial. Esta é a TARDIS, Time And Relative Dimension In Space. Ela é bastante suscetível, ainda mais do que eu. Por isso, portem-se bem ou irão arrepender-se de terem falado mais do que a conta. Especialmente tu, rapazinho! – E volveu o dedo para o Chester.

O interior da cabina telefónica azul iluminava-se e toda a sua consola vibrava com o regresso do Doutor. Monitores, alavancas, botões, sons e estalidos, a energia a palpitar pelo mecanismo sofisticado que ornamentava o centro da enorme sala principal, o topo da coluna decorado de símbolos a girar. Mike, Chester, Dave, Rob e Brad contemplavam, pela primeira vez, a maravilhosa tecnologia dimensional de Gallifrey e estavam completamente assombrados.

Brad olhou para trás.

— Ei, vocês deixaram cair o Joe?

O Rob mostrou as mãos.

— Foi sem querer, meu. Assustei-me com o que vi aqui dentro. – Virou-se para a Clara, tocou-lhe ao de leve no braço. – O que acontece se formos lá para fora?

— Vai estar a mesma cabina telefónica azul estacionada no passeio. Sim, meus queridos, vocês não estão a ter alucinações. É realmente maior por dentro. Agora é estranho, mas vão habituar-se rapidamente.

Chester sacudiu Mike.

— Porra, este parasita que atacou o Joe só pode ser uma coisa… do outro mundo.

— O que queres dizer, Chester? – disse Mike, a voz arrastada. Fixava os olhos na enorme engrenagem rotativa que ligava a consola ao teto, encantado com os seus estranhos desenhos. – Do outro mundo?

— Uma coisa extraterrestre, meu!

— Uma coisa extraterrestre?! – Brad largou a trouxa que caiu pesada no chão metálico. – Então, já estaremos todos contaminados! Não é um simples pano que vai conter um parasita extraterrestre!

— O vosso amigo tem razão – aquiesceu o Doutor que já manobrava algumas alavancas da consola, acionando dois monitores em simultâneo. Retirou a chave de fendas sónica do bolso do seu casaco e inseriu-a num orifício que fez acender uma profusão de luzes verticais do outro lado daquela torre envidraçada onde se viam passar circuitos e plasma. – Muito provavelmente estarão todos contaminados. Mas têm iguais probabilidades de estarem saudáveis. Vamos despistar isso, numa primeira análise. Podem fazer-me um favor e levar o vosso amigo para um dos quartos da TARDIS? A Clara mostra-vos o caminho. Não o quero a espalhar a enfermidade pelo chão, então é que acabam mesmo todos contaminados e triplicam os meus problemas neste momento.

Rob e Dave agarraram nas pontas do tapete e com grande esforço, a transportar o Joe mais pesado do que um mastodonte, foram atrás da Clara que desceu um lance de escadas metálicas e os levou através de uma porta. Ficaram Brad e Chester que se juntaram, confortando-se na presença um do outro, olhando para todos os lados, verificando cada canto daquele lugar esquisito. Ficou o Mike.

— Tu… Doutor, tu também serás… extraterrestre – disse ele, aproximando-se com cautela. Tentou não fazer a pergunta, mas notaram-se todas as suas dúvidas e até medos naquela afirmação. Enfiou as mãos nos bolsos das calças.

— Correto! Sou um extraterrestre. – O Doutor levantou os braços, fez uma dança jocosa em bicos dos pés. – Oh, surpresa! Não sou verde e nem tenho antenas flexíveis na testa. Acabei de alterar a tua ideia de como será uma entidade alienígena. Destruí parte da tua juventude… e não me importo.

— Por acaso, não…

— Conheço extraterrestres verdes com antenas flexíveis na testa, mas não creio que queiras viajar agora para o seu planeta, preocupado que estás com o teu amigo.

— Se a TARDIS é uma nave… pode viajar.

— Pode e viaja bastante! Viaja através do espaço. E do tempo. Podes ir com a TARDIS a qualquer lugar e a qualquer época.

— A sério?! – exclamou Brad. – Isso é muito fixe!

— Qualquer época? Pode ir ao passado? – perguntou Mike.

O Doutor aquiesceu.

— Então… neste momento, ao estarmos aqui dentro… não estamos atrasados para o espetáculo. Podemos voltar atrás no tempo e ganhar todos os minutos que, entretanto, se passaram. E a TARDIS vai descobrir também o que foi que atacou o Joe…

— Acabou de descobrir. – O Doutor rodou um monitor, que estava acoplado à consola através de um braço metálico amovível. – Aproxima-te. Tu pareces ser o mais inteligente do teu grupo.

— Ei!

— Chiu, Chester… Não o ofendas – sugeriu Brad, baixinho. – Se ele é um extraterrestre poderá ter poderes especiais e nós não vamos querer ver um extraterrestre zangado.

— Não tenho medo dele, Delson!

— Chamo-me Mike – disse o japonês, confiante de que o Doutor tinha alguma dificuldade, ou mesmo relutância, em saber os nomes deles.

— Certo. Mike. O padrão obtido pela minha chave de fendas sónica confirma que aquilo que contaminou o vosso amigo se trata efetivamente de uma criatura alienígena que se está a instalar na Terra para a colonizar e que precisa de som para se desenvolver. Não recolhi muitos dados, mas estes são os suficientes e a minha TARDIS gosta de laborar no limite… linda menina! Eu também adoro laborar no limite. Tal é o caso atual.

— Uma criatura alienígena que se está a instalar na Terra… isso é uma invasão, no meu dicionário.

— Oh, também no meu!

— E o que mais te disse a TARDIS, Doutor? – volveu Mike.

— A criatura desenvolve-se de forma semelhante a um fungo patogénico que ataca insetos e que existe na Terra, mais exatamente que ataca formigas que habitam os ecossistemas das florestas tropicais. Ophiocordyceps unilateralis. O fungo instala-se na formiga e domina-a completamente, controlando-a, retirando-lhe a vontade própria. Conduz depois a formiga para um lugar húmido onde eclode, mata o hospedeiro e cresce, passando à próxima formiga. Durante essa reprodução, o fungo desenvolve agentes antibacterianos muito poderosos e vai se tornando cada vez mais difícil de combater devido a essa armadura biológica.

— Estás a falar do fungo da Terra ou do invasor alienígena?

— São semelhantes e operam da mesma maneira, rapaz. Estou a dar como exemplo o fungo da Terra para que percebas com o que estamos a lidar.

— Mike… o meu nome é Mike

— Sim… Mike. Depois, temos o som. Agora começam as diferenças que nos interessam. A criatura extraterrestre nutre-se não apenas das células do seu hospedeiro, mas também de som e precisa de som para se desenvolver mais rapidamente. Se receber uma sobredosagem de som, na frequência certa, fica adormecida, mas não totalmente morta. Aproveita esse estado de latência para reconfigurar o seu ADN de modo a absorver essa nova frequência que a vai fortalecer, em vez de a debilitar. A nossa criatura alienígena aprende! E fá-lo rapidamente. Foi o que aconteceu com a matéria que saltou da cabeça do vosso amigo e que está dentro daquela tigela.

— Do Joe.

— Sim, do Joe. Nós não acabámos com a criatura, ela está simplesmente anestesiada. E continua a desenvolver-se, neste momento. A criar extensões de si própria para prosseguir com a diretiva primordial implantada no seu código genético. Reproduzir-se no meio ambiente onde foi introduzida, dominar todas as criaturas que sejam diferentes e criar mutações para melhor roubar o som que lhe é indispensável. Em suma, um parasita. Um fungo parasita.

— O Joe é o primeiro hospedeiro?

— Sim, o Joe é o primeiro hospedeiro.

Chester comentou, assustado:

— Porra, o Joe está fodido…

— Chester, queres parar com os palavrões? – pediu Brad. – Sim, o Joe está numa situação bastante complicada. E nós também, que temos estado sempre com ele. Como é que podemos ficar a saber se estamos ou não contaminados, Doutor?

O Doutor sacou da chave de fendas sónica do terminal onde estava ligada. Apontou-a a cada um deles, começando pelo Mike e terminando no Chester.

— Estão todos limpos. Sosseguem.

Dave e Rob chegavam com a Clara.

— O Joe continua a dormir ferrado – contou Dave. – Então… o que temos aqui?

Mike estava pálido e engoliu em seco.

— Estamos condenados, Phoenix! – disse Chester, com bastante dramatismo.

A Clara e o Doutor entreolharam-se. Havia demasiada apreensão no rosto do senhor do tempo, cogitou ela.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Um momento de pausa.