O Mágico e os Ladrões de Som escrita por André Tornado
O Doutor explicou brevemente o que se passava para que a Clara ouvisse e para que todos ficassem cientes da ameaça que estavam a enfrentar. Um fungo parasita vindo do espaço pretendia invadir a Terra, utilizando os humanos como veículo e que, depois de utilizados, seriam descartados. Por outras palavras, uma vez nutridos, os fungos matavam os humanos que os tinham alojado. Havia também o detalhe fundamental de que o desenvolvimento dessa criatura se processava por meio de absorção de ondas sonoras.
Joe Hahn, o disc jockey da banda norte-americana Linkin Park, era o primeiro humano contaminado.
Mike perguntou:
— O fungo simplesmente apareceu aqui na Terra? Ou foi… plantado?
— Ainda podemos descobrir isso, mas não creio que seja crucial, neste momento, meu rapaz – respondeu o Doutor.
— Mike… o meu nome é Mike – suspirou ele, desalentado.
— O que temos de fazer é descobrir uma maneira eficaz de eliminar o parasita. Salvar o vosso amigo e salvar a Terra.
— Não bastam os meus gritos… – lembrou Chester.
— Não. Daqui a pouco tempo, depois de reconfigurar as suas células, o parasita vai gostar dos teus gritos e vai crescer ainda mais – explicou Mike. – O maldito bicho aprende, Chaz. Não queremos que ele se desenvolva, queremos… eliminá-lo.
— Foi o que o Doutor disse – completou Brad. – O parasita gosta de som. Surpreendeu-se primeiro com os teus gritos, mas agora que já os conhece vai querer mais. Se gritares ao pé do Joe, ele fica mais doente.
— Ah…
— E quanto ao Joe? – perguntou Rob, apontando com o polegar, por cima do ombro.
— Está seguro. A TARDIS cuida dele – informou o Doutor. Voltou-se para Brad. – Meu rapaz, traz-me a tigela. Despeja-a aqui dentro. – Abriu um contentor puxando uma alavanca.
— Tenho de tocar nisso? Outra vez? – enojou-se o guitarrista.
— Deixa estar que eu pego na tigela – ofereceu-se Dave.
O baixista recolheu a trouxa, desatou e retirou o lenço que tapava a tigela e aproximou-se da consola. Virou-a para dentro da portinhola escura que o Doutor tratou de fechar, empurrando a mesma alavanca. A consola vibrou, mais luzes se acenderam. A Clara abraçou-se a si própria. Um zunido preencheu o silêncio.
— O que quer isso dizer… que a TARDIS cuida dele? – insistiu o baterista.
— Significa que a TARDIS não vai deixar a infeção espalhar-se mais enquanto estiver a dormir aqui dentro – explicou Clara. – O Joe estará seguro até encontrarmos uma maneira de derrotar o fungo parasita, expulsá-lo do corpo dele e também da Terra.
— Oh… E depois podemos ir tocar…
— Continuas preocupado com o espetáculo – irritou-se Chester.
— Eu sou assim, meu. Sou bastante responsável.
— E nós não somos? – tornou o vocalista, elevando a voz.
— Acalma-te, Chaz – pediu Brad, abraçando-o pelos ombros. – Temos uma máquina do tempo, Rob. A TARDIS é uma máquina do tempo, contou-nos o Doutor. Por isso, vamos chegar ao palco a horas de dar o nosso espetáculo, sem que ninguém se aperceba de algum atraso. Vamos até fintar a Cammy.
— Hum… interessante… estamos dentro de uma máquina do tempo? – considerou Rob. – Esta cabina telefónica é um prodígio!
Mike perguntou, circunvagando o olhar pelo compartimento:
— Por que razão existem tantas bandeiras amarelas e vermelhas por aqui? E faixas e fitas e até balões? Estavam a preparar uma festa?
— Na realidade… nós estamos em Milton Keynes para ir ver-vos tocar e cantar no espetáculo deste final de tarde – disse Clara entremostrando um sorriso. – Fizemos a viagem na TARDIS até este dia para isso. Fui eu que pedi para virmos para junho de 2008. Viemos… viemos do futuro…
— Do futuro? Uau! De que futuro? – perguntou Chester, espantado.
— Não muito distante – contou Clara abrindo mais o sorriso. – De alguns anos para a frente…
— Isso é muito cool, Clara.
— Obrigada, Chester.
— A decoração vermelha e amarela é por causa da final do campeonato europeu de futebol, que se vai realizar hoje, entre a Alemanha e a Espanha – explicou Dave, que se interessava por tudo o que era desporto, incluindo futebol. – Quero dizer, hoje é o dia em que também vamos tocar em Milton Keynes. Como estamos dentro de uma máquina do tempo, acho difícil definir o hoje, percebem? Não concordam comigo? Bem… o Doutor está a torcer pela Espanha.
— Nunca torceria pela Alemanha – disse o Doutor a carregar em botões, enquanto se fixava atentamente nos monitores que tinha à frente de si. Aguardava a análise à massa viscosa inerte que se inserira no interior da consola.
— Porque és inglês? – perguntou o vocalista.
— Ele é um extraterrestre… não é inglês – emendou Brad.
— Não é a mesma coisa?
— Chester!
— Sendo um senhor do tempo nunca torceria pela Alemanha. Vocês não têm memória? Estes teus rapazes, Clara, precisam de algumas lições de História. E dizes tu que escreveram canções com mensagens políticas?
— Conheces o nosso trabalho… – hesitou Mike.
— A Clara é que conhece. Foi ela que me pediu para viajar até este dia de junho de 2008, dedicado a São Pedro, um santo católico. Sempre pensei que fosse para ver o jogo de futebol mais importante da década, entre a Alemanha e a Espanha… mas não. Quando chegámos, fui surpreendido pela vila de Milton Keynes e por um concerto de Rock!
— Doutor! Julgava que esse assunto estava esclarecido! – indignou-se ela.
— Isso funciona assim? Escolhe-se onde queremos ir e vamos? – interessou-se Brad com um minúsculo brilho nos olhos.
— Basicamente, sim… o Doutor convida-me para um passeio e eu escolho o destino – revelou Clara. – Ou para o passado ou para o futuro, na Terra ou fora do Sistema Solar.
— Uau! – exclamou Chester, aumentando o seu nível de espanto, enfeitando-o com um entusiasmo juvenil. – Posso escolher também?
— Se te portares bem e fizeres o que eu ordenar – retorquiu o Doutor, ríspido. – O que eu duvido, pois já percebi que és o mais inconstante e rebelde do grupo.
Chester resmungou. Brad sacudiu-o, continuava a abraçá-lo pelos ombros e com esse gesto pediu-lhe que não respondesse. Era óbvio que ele e o Doutor eram incompatíveis e o sentimento de aversão era mútuo.
— Está ali uma guitarra! – apontou Mike que continuava a escrutinar o interior da TARDIS.
Clara olhou para o Doutor que não fez qualquer sinal de que se importara com a descoberta. Continuava concentrado nas linhas de código e apitos que os monitores lhe devolviam. Por isso, ela revelou:
— O Doutor gosta bastante de música e toca guitarra.
— A sério? – desdenhou Chester.
Brad revirou os olhos.
— Que tipo de música tocas?
— Todo o tipo de música, Mike. É uma guitarra elétrica, por isso podes imaginar qual o meu género favorito.
O japonês sorriu, contente por o Doutor se lembrar do seu nome. Volveu o sorriso para os seus amigos e balançou o peso sobre os calcanhares, bateu com as mãos uma na outra.
— Que cara é essa? – perguntou o vocalista, afetado. – Estás a pensar convidá-lo para tocar connosco, esta noite?
Mike murchou.
— E por que não, Chaz? Depois de o Doutor salvar o Joe podíamos fazer a graça…
Chester torceu-se numa careta, como se tivesse comido algo bastante azedo.
— Vamos tocar com o Jay-Z! – acrescentou Mike.
— Conheço o Jay-Z! Não conheço este gajo de lado nenhum…
— Isso seria épico! Tocar com um Doutor extraterrestre! – exclamou Brad. – O que achas, Rob?
— Hum-hum. Seria épico!
— E tu, Dave? Também concordas com esse disparate?
— Ora, Chaz… e por que não? Não me digas que estás com ciúmes… – apontou o baixista, escamoteando um sorriso.
— Com ciúmes do quê?
Clara riu-se. Chester estava efetivamente enciumado da atenção que o Mike se dispunha a dispensar ao Doutor e, acima de tudo, não queria partilhar os seus amigos, o palco e a ribalta com alguém com quem ele claramente antipatizava.
De repente, o Doutor mexeu uma alavanca com um gesto muito teatral. Levantou o braço ao alto e gritou:
— Já está! Preparem-se!
— Preparar-nos para quê?! – admirou-se Dave. – Já está o quê?!
— Não querias viajar, rapazinho? – continuou o Doutor, olhando diretamente para Chester. Os outros mostravam-se bastante assustados e ele riu-se, deliciado com o estado de nervos deles, que vacilava entre o medo e a curiosidade. Pediu-lhes, triunfante: – Agarrem-se bem. Porque vamos viajar… e vamos sair da Terra!
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Próximo capítulo:
Através das estrelas, para longe.