Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 40
Crianças abandonadas


Notas iniciais do capítulo

Hey, reylos! Mais um capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785230/chapter/40

Foi breve o segundo, mas, para ela, pareceu durar uma eternidade. Os olhos dele vagavam de um ponto ao outro. Havia confusão, tristeza, magoa naqueles olhos. O tempo parecia transcorrer lentamente, quase parando. A garganta de Rey estava seca, o coração parecia preste a parar de bater, os músculos estavam rígidos e pesados.  

Ele a olhou. Foi apenas um instante, um frágil e diáfano instante. Antes que ela pudesse compreender aquele olhar, Ben recuou, mergulhando na escuridão.  

— Acho que você perdeu este jogominha querida neta — declarou Palpatine, soltando aquele som sibilante e repulsivo que imitava uma gargalhada. 

— Você nunca terá Ben — gritou Rey para nenhum lugar específico. — Você nunca mais vai usá-lo e feri-lo novamente!  

— Você acha isso? Ele é meu instrumento, querida neta. E eu nunca perco um instrumento.   

— Mas, ele não escolheu você! — rebateu Rey. — Ben não é seu instrumento. Ele irá fazer as escolhas dele. Você não tem poder sobre ele.  

Rey olhou em torno de si. Precisava alcançar Ben. Ele estava confuso, as mentiras de Palpatine haviam o atingido. Palpatine havia bagunçado completamente as memórias de Ben. Mas, ele não havia escolhido Palpatine e isso era o que importava. Havia luz em Ben. As trevas não eram tão poderosas quanto a luz que irradiava dele.  

O olhar perdido e repleto de tristeza e dor de Ben estava cravado em sua carne, como sabres que atravessavam cada fibra do seu ser, atingindo seu âmago. Precisava encontrá-lo. Precisava chegar até ele e consolá-lo, assegurar que ele não estava sozinho e nunca mais estaria.   

Ela seguiu na direção em que Ben havia desaparecido.  

Os pés pareciam pesar uma tonelada, enviar ar para os pulmões era uma tarefa penosa.   

— Onde você está? — O grito escapou-lhe da boca banhado de pesar e anelo. Ela precisa dele para cessar aquela dor que a dilacerava. — Por favor, responda! 

Apenas o eco que ressoou pelas paredes a respondeu.  

— Por favor! — suplicou novamente.  

Silêncio. Ela estava sozinha.  

Rey não soube por quanto tempo percorreu aquele túnel escuro. Podia ser minutos ou horas.  

Tudo o que ela queria era encontrar Ben. Precisava explicar as coisas. Precisava ajudá-lo a organizar o caos que ele se tornara. Todas aquelas imagens que ela vira na mente dele eram simplesmente medonhas. Fragmentos de memórias, peças de um quebra-cabeça gigante completamente desordenado. De todas aquelas memórias, uma se destacava, era de Liebe, quando ela falara aquelas palavras tenebrosas para ele.  

Ela fora um idiota, fugira como uma covarde depois do que acontecera entre eles. Não conseguira encarar aqueles sentimentos tão intensos e desconhecidos que abrigava em seu cerne. E tudo o que provocara fora tristeza e mágoa. Uma barreira intransponível fora criada entre eles por causa de suas escolhas. Mas aquela fora a sua escolha e ela precisava enfrentar as consequências. Ela não mais lamentaria suas escolhas. Não era possível alterar o passado. Tudo o que poderia mudar era o presente.  

Rey finalmente saiu do túnel. Olhou para todos os lados, mas não avistou nenhum sinal de Ben. Algo lhe dizia que ele já não se encontrava mais naquele lugar. Havia partido para algum canto da galáxia.   

— Rey! — Finn gritou ao longe na porta da nave. — Venha! A gente precisa sair daqui. 

Notou uma porção de pessoas atirando na nave e caças se juntando para abatê-la. Precisava ajudar os amigos.  

Ela vasculhou com os olhos ao redor de si uma última vez. Ele não estava mais lá. O melhor que tinha a fazer era partir.  

Rey correu até a nave que já estava no ar e pulou nela.  

— O que aconteceu com você? — indagou Finn, olhando para sua figura.  

Deveria estar nada apresentável, suada, os cabelos desgrenhados e descalça.  

— Tive um problema — respondeu ela, observando os caças se aproximarem da nave.  

Ouviu uma explosão. Perfeito, caças estavam atirando neles. Rey sentou-se na cadeira de piloto imediatamente e fez diversas manobras, enquanto seus amigos cuidavam da defesa.  

Era bom ter algo para fazer. Sua mente poderia focar em outra coisa que não fosse a dor que sentia no peito, que estava preste a consumi-la.  

— Atirem quando eu mandar! — gritou ela, preparando-se para fazer uma manobra perigosa, passar por entre dois caças.  

A nave não era a Millennium Falcon, mas era boa. Rey conseguiu conduzi-la entre os dois caças.  

— Agora! — ordenou. 

Eles dispararam uma rajada de tiros certeiros.  

Rey suspirou aliviada quando percebeu que eles haviam conseguido escapar.  

Os amigos se juntaram ao redor dela. Finn com uma expressão nada amigável. Rose com um olhar curioso. Hux também estava lá, ele segurava o ombro e uma mancha vermelha tingia a camisa branca dele. O ex-General da Primeira Ordem soltou um grunhido de dor.  

— Precisamos cuidar deste ferimento — falou Rose, olhando para ele.  

— Você não tinha nada que ter se enfiado na frente daquele tiro — resmungou Finn. — Podíamos muito bem ter lidado sozinhos com aquilo.  

— Ele salvou nossas vidas, Finn — interferiu Rose.  

— Por isso mesmo! Agora temos uma dívida com ele ou algo do gênero. Pensa que não sei dos planos deste aí? — disse Finn, contrariado. — Mas, você não me engana, General Abraços! Não vamos cair em seus truques. 

— Que seja — contestou Hux, com uma expressão que tentava soar casual, mas que não surgia muito efeito devido a careta de dor que ele fazia. — E eu não estava salvando vocês, eu estava salvando a minha própria pele que fique esclarecido.  

Rose conduziu Hux até o final da nave para fazer um curativo nele, deixando Rey e Finn sozinhos.  

— Você vai me explicar o que acabou de acontecer? — falou ele, sentando-se na cadeira de co-piloto.  

Rey estava exausta e preocupada. Seu coração estava em frangalhos.  

Ela olhou para o amigo. Tudo o que menos queria era que outra pessoa ficasse ferida por sua causa. Finn era seu amigo e se preocupava com ela. Ele merecia uma explicação. Também estava cansada de mentir.  

Contou a história para o amigo, sem se ater a muitos detalhes. Disse sobre como ela procurara por Ben durante aqueles três anos, que sentira que ele nunca havia ido de fato, por isso buscava uma maneira de trazê-lo. Acreditara que Ben estava no Mundo Entre Mundos e procurara por uma maneira de resgatá-lo. Falou também de como encontrara Yuri, de como sentira que ele era Ben, mesmo que ele afirmasse ser outra pessoa. 

Quando terminou, Finn estava em estado de negação.  

— Não é possível! — murmurava ele. — Não... Como ele pode estar vivo? Por quê, Rey? Por quê?  

— Ben e eu temos uma ligação... Uma ligação que não pode ser quebrada com Força ou sem Força. Somos uma díade, metades de uma mesma alma... — disse ela, sem qualquer energia para discutir com o amigo. — Só podemos existir juntos... 

Era difícil para Finn acreditar naquilo tudo. Ele nunca compreendera o relacionamento dela e de Ben. Para ele, aquilo fora uma maluquice. Perdera as contas de quantas vezes os dois já haviam discutido por causa daquilo. Para Finn, Ben era Kylo Ren, alguém que seduzia garotas indefesas.  

— Ele é Kylo Ren! — disse Finn. — Por todos os Jedi, Rey! 

Ela já não estava mais aguentando tudo aquilo, as recriminações do amigo, o fato de Ben ter desaparecido... 

— Não, Finn. Kylo é apenas uma máscara. Kylo Ren foi a máscara que ele matou. Agora, ele é Ben Solo. Um homem que passou por coisas horríveis, cujo maior crime foi querer dar amor e ser amado. As pessoas deram as costas para ele, quando tudo o que ele mais precisava era de alguém que estivesse ao seu lado. Todos nós erramos com ele. Luke, Leia, Han e eu... e o próprio Ben errou consigo mesmo. Mas, agora, ele pode consertar seus próprios erros... As pessoas merecem uma segunda chance. As pessoas mudam. Ele, você e eu também fomos crianças abandonadas. Crescemos sem amor. Fomos arrancados de nossas famílias. Tudo que desejamos eram alguém que voltasse por nós, que não desistisse de nós. Tudo o que mais desejávamos era alguém para dar e receber nosso amor.   

Rey levantou-se da cadeira de piloto e saiu, a voz estava embargada de emoção e os olhos embaraçados pelas lágrimas, ela não conseguia proferir mais nenhuma palavra. Deu um longo suspiro, enquanto olhava para a mão, lembrando da calidez dos dedos de Ben. Ele só queria alguém para segurar a sua mão.  Rey limpou as lágrimas. Sabia o que fazer. 

 

***************************************** 

Os pés de Rey pisaram na areia quente e os olhos dela percorreram a paisagem desértica que tinha em sua frente. Com passos determinados se afastou da Millennium Falcon. Se iria varrer a galáxia atrás de Ben, precisava da melhor nave que existia.  

Após escaparem da armadilha de Palpatine e da Primeira Ordem, ela foi deixada em Tatooine ao seu pedido. Fora Tatooine que usara como uma espécie de casa e refúgio nos últimos três anos. Era para lá que fugia quando as coisas se tornavam difíceis. O planeta era coberto de areia, sem o verde que tanto amava. Deveria ser exatamente por isso que o escolhera. Sem Ben, ela nunca acreditara que poderia ser realmente feliz. Lá, ela consertou a Millennium Falcon e pôs seu plano imediatamente em ação.  

A primeira parada era Jakku. Aquele planeta também fora o lar de Ben por algum tempo. Era o lugar mais lógico para onde ele iria.  

Rey caminhou em direção a pequena cabana em que viviam Declan e Matt. Eles foram por algum tempo a família de Ben. E ele gostava deles, pudera sentir quando os visitara poucos dias atrás... Estranho, mas parecia que aquela viagem havia ocorrido há séculos. Mal podia acreditar que estivera ali em Jakku sob aquele céu estrelando com Ben tão pouco tempo atrás. Porém, se fechasse os olhos, ainda podia senti-lo ali, ao lado dela. O calor do seu corpo, o toque de sua pele, seu cheiro, o sabor de seus lábios... 

Os gritos despertaram Rey do devaneio. Havia algo errado. Ela correu em direção àqueles berros. Eram de uma criança. Matt.  

Cerca de seis stormtroopers rodeavam Matt e Declan. Este lutava contra três, dando socos e chutes. Declan era um bom lutador, porém eles estavam em maior número. Um deles segurava Matt que esperneava e berrava. Não eram gritos assustados, mas de quem estava lutando.  

Rey ligou o sabre de luz e partiu para cima dos stormtroopers, derrubou um com a Força, atingiu outro com o sabre de luz. Libertou Matt, fazendo o soldado que o segurava voar pelos ares. Depois correu até Declan e acertou os stormtroopers, que o atacavam, com o sabre.  

Matt correu até Declan e o abraçou. Rey olhou para os dois, completamente confusa. O que acabara de acontecer ali? Por que eles estavam atacando Declan e Matt? 

Antes que Rey pudesse perguntar algo, outro grupo de stormtroopers surgiu.  

— Corram daqui! — ordenou Rey para Declan e Matt.  

Ela ligou o sabre e partiu para cima dos stormtroopers. Porém, estes estavam mais alertas que o grupo anterior. Rey desviou-se dos tiros com o sabre.  

Um grito cortou o ar. A coisa foi tão rápida que ela perdeu totalmente o raciocínio. Um dos stormtroopers aproximou-se de Declan e arrancou Matt de seus braços. Ele apontou o blaster para Declan. Porém, antes que Rey pudesse fazer qualquer movimento, o soldado jazia no chão.  

Matt. Ele havia derrubado o soldado com a Força. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rios Fluem Até Você" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.