As Lendas dos Retalhadores de Áries escrita por Haru


Capítulo 17
— Ele virá por vocês




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— Ele virá por vocês

Naomi estava em estado de choque. Se tinha alguma certeza naquele momento era a de que nunca sentiu tanto medo, suas mãos tremiam tão violentamente que, sem querer, ela derramou nas pernas metade da água do copo que lhe trouxeram cheio. Milhares de pensamentos circulavam pela sua cabeça, às vezes ao mesmo tempo, outras seguidamente, mas fora da própria mente ela não se achava capaz de dar um passo sem desmoronar. O chão, as paredes, o mundo ao seu redor perdeu toda a solidez. 

 Chegou na Terra de Áries há pouco mais de uma hora, fugia de Santsuki, de pessoas cuja vida um dia salvou, então foi direto ao palácio de Hayate, o único que, no auge de seu desespero, imaginou como capaz de ajudá-la. O ministro, que na hora recebia Kin e Kande, a reconheceu na mesma hora, a ouviu atentamente e pediu, antes de tudo, que Kin a acolhesse em sua casa e a tranquilizasse. Apesar do choque da notícia de que Santsuki ainda estava vivo, Kin não hesitou por um segundo em fazer o que ele mandou.

 Mari teve que buscar a água, mas acabou tendo que trazer para Kin também. A loira estava pálida como um defunto. Embora não parecesse, até Mari estava apavorada. Como ele ainda está vivo?, era a pergunta de um milhão de dólares, a que o tempo todo, sem sucesso, elas tentavam responder. Mas até isso era uma distração. A verdadeira questão, a que elas estavam evitando enfrentar, era: quem protegeria o planeta agora que Yume estava morta? Kin deu várias voltas pela sala enquanto essa pergunta se desenhava em sua mente e descompassava sua respiração. 

Só o viu pessoalmente uma vez, mas sabia que até hoje não existia ninguém na Terra capaz de derrotá-lo. Mesmo se juntasse o mundo inteiro contra ele, não via chances de vitória. Uma desolação crescente se apossava de seu coração. Será que o fim chegou? Vai ser forçada a assistir, de mãos atadas, a destruição de tudo o que amou e lutou para conservar? Chacoalhou o rosto. Fez o que podia fazer de melhor: parou de pensar. Era hora de passar por cima do medo e agir. 

— Eu tentei matá-lo. Juro que tentei. — Dizia Naomi, transtornada. — Eu quase consegui. Ele estava lá deitado de lado, de costas para a porta do quarto dele, estava com a guarda abaixada, eu quase fiz, mas... Mas uma força muito poderosa me parou, era incalculável, infinita... De repente eu não estava mais no controle das minhas ações... Então o Iorui entrou e eu só me lembro de fugir... 

 Nem Mari e nem Kin se atreviam a julgá-la. Mari entendia perfeitamente o que ela sentiu. Uma vez, numa ocasião em que Santsuki se aliou a Yume e Azin para encontrar e remover um artefato da Terra, ficou sozinha com ele por um minuto, perguntou quais eram as reais intenções dele e, com uma breve olhada, ele a deixou perturbada por semanas, durante meses teve pesadelos terríveis. Nunca contou para ninguém. Só de pensar na possibilidade de acontecer de novo quase perdia a cabeça. 

 Arashi entrou pela porta e Kin foi correndo até ele.

— Conseguiram encontrá-lo? — Foi sua pergunta. 

— Ainda não. Não temos nem ideia do último paradeiro dele, mas já localizamos dois dos outros com a descrição dada pela Naomi. — Arashi segurou as mãos de Kin e respondeu. 

— Quem está lutando com eles? — Kin queria saber. Seu irmão saiu dali acompanhado de Yue dizendo que os encontraria, então sua preocupação dobrou de tamanho. Apesar de que se os dois estavam enfrentando os capangas dele, ao menos queria dizer que não haviam dado de cara com o próprio.

A vários quilômetros dali, Haru lutava com Asa. Acertou vários socos no grandalhão mas, graças à carapaça de terra de que ele se vestiu, nenhum surtiu o efeito esperado nele, muito pelo contrário, os punhos de Haru era que estavam machucados. O garoto não fazia ideia de como iria atravessar aquilo. A vantagem, no entanto, era que Asa ganhava em força e resistência o mesmo tanto que perdia em velocidade e mal conseguia se mover. Para vencer, tudo o que tinha que fazer era romper a armadura do oponente. E precisava fazer isso enquanto ele estava confiante nela. 

Recuou e olhou em volta. Analisou a arena. Um beco largo, bastante amplo, vazio, clareado pela luz do sol. A luz. Há meses descobriu uma técnica, uma habilidade em seu arsenal, desde então vinha treinando-a, o problema era que progrediu muito pouco no objetivo de dominá-la. Tenho que fazer funcionar aqui e agora. Era a melhor oportunidade que tinha de finalizar aquilo, o que tinha que fazer rápido, pois precisava ir ajudar Yue que estava lidando com dois. Asa o olhava com um sorriso inescrupuloso no rosto. 

Fechou os olhos. Espalhou chikara pelo corpo inteiro, cerrou os punhos e se concentrou na meta. Coberto de uma aura branca, investiu contra o oponente que, de tão seguro de si, não moveu um dedo para se proteger de seu ataque. No caminho, Haru converteu o punho em pura luz, desferiu o soco, atravessou o corpo de Asa com ele e rematerializou a mão quando ela estava dentro dele. Conseguiu feri-lo. Infelizmente, sua falta de controle sobre a técnica o manteve preso ao corpo do adversário. 

Asa acertou uma mãozada em sua cara, mandando-o para longe. Haru deixou um rombo em seu peito, alguns centímetros acima e teria conseguido matá-lo. Não podia aceitar aquilo. A culpa era sua, sabia, foi displicente. Eu te subestimei, admitiu, olhando Haru se reerguer com o rosto inchado pela mãozada que ganhou e os punhos encharcados de sangue. O meu sangue, pensava injuriado, avançando lentamente na direção do jovem ariano. 

Chutou, Haru se defendeu. Bloqueou o soco de Haru com os braços, Haru voltou a transformar as mãos em luz, transgrediu a defesa dele e o socou no queixo. Asa levou, em seguida, uma cotovelada no estômago, mas segurou Haru pela cabeça e deu uma joelhada no meio da cara dele. De repente, o perdeu de vista. Ficou invisível de novo, deduziu, girando, tentando localizá-lo, mas antes que pudesse recebeu um chute na cabeça e voou longe. Sentou com as mãos na terra. 

Fundiu-se com o solo para sentir os passos de Haru. O rastreou. Ergueu uma barreira de terra entre o punho de Haru e o seu rosto, que já iam de encontro um ao outro. Um segundo após Haru atingir sua barreira, Asa o acertou com um pisão e o mandou de volta para onde saiu. Ele ficou invisível novamente, mas notou que Asa o detectava pelo contato de seus pés com a terra e usou as asas para não ter que pisar nela. 

— Então é assim que vai fazer as coisas, hã?! — Asa, agoniado, exclamou. — Pois eu tenho uma coisinha pra você. É a primeira vez que chego ao ponto de usar isso, portanto enquanto morre sinta-se honrado!

Asa parou onde estava, fixou os pés no chão e cerrou as mãos. A arena e todo o reino começaram a tremer de maneira abrupta. Haru o atacou para impedi-lo de fazer o que quer que ele estivesse tentando fazer, mas Asa se fundiu completamente com a terra e ficou fora de seu alcance. Uma sombra cobriu por completo a Nação de Órion, que continuava a sacudir de ponta a ponta. Um meteoro com quilômetros de extensão descia em direção ao reino. 

Michiko, com as mãos no pescoço de Yue, pronta para finalizá-la com a ajuda de Iorui, parou, a largou no chão e olhou para o alto. Aquele desgraçado quer nos matar, disse para si mesma, sentindo-se traída. Sua distração quase lhe custou a vida, Yue a apunhalou no estômago mas teria atingido seu coração com a espada se Iorui não tivesse interferido e chutado Yue para longe. 

— Vadia! — Extraiu a lâmina do estômago e exclamou, sentindo o sangue escorrer pelo abdômen e as pernas. 

— Temos que dar o fora daqui, o idiota do Asa vai destruir o reino inteiro! — Disse Iorui, com os olhos no meteoro. — Se ele chegou a tanto, significa que aquele garoto não é pouca coisa, que o levou ao limite, muito mais longe do que eu jamais consegui! 

Eles concordaram e se foram. Yue, exausta, sentindo dores pelo corpo inteiro graças aos golpes que levou dos dois, não conseguia nem se mover, caiu e deitou-se ali mesmo. Fechou os olhos. Confiante de que Haru ou algum de seus amigos daria um jeito naquilo, sorriu. Se aqueles desgraçados achavam que o Reino de Órion acabaria daquele jeito, era porque não tinham ideia de com quem estavam lidando. 

Haru, com o olhar fixado naquele grande meteoro, deu uma risada, abriu as asas, voou até seu centro, pôs as mãos nele e, com o máximo de forças que tinha a seu dispor, empurrou-o para cima. Contra todas as expectativas, conseguiu parar a queda do meteoro. Vermelho como um pimentão, com veias saltando pelo rosto e pelos braços, ultrapassou todos os limites que lhe eram conhecidos até então e começou a mover a enorme rocha para cima.

Vamos!!, ele se forçava, empregando forças que nem sabia que tinha, e então lhe veio a mente tudo o que estava em jogo. Sua casa, a vida de seus amigos, sua irmã. Tudo o que sua mãe, que não chegou nem a conhecer, construiu, protegeu. Aquele lugar era sua herança, mantê-lo de pé era seu dever, falhar ali era o mesmo que falhar como guerreiro. Força, retalhador!, se encorajou, soltando um brado que se ouviu por todo o reino. 

A sombra foi se apequenando, se apequenando e se apequenou até não ser capaz de cobrir mais nem a mais humilde casa da nação. Haru a arremessou para o alto, aterrissou e riu diante do desafio. Um plano animou-lhe o coração, ele focou toda a força no punho direito, arqueou as pernas, se alavancou para cima, alçou voo até a rocha e a esmurrou com tanta vontade e poder que a lançou para o espaço. Asa, embasbacado, olhava aquilo de queixo caído. Chegou a duvidar do testemunho de seus olhos, a cogitar que estava sonhando. 

— Não dá... pra acreditar!! — Se atirou ao solo com as mãos no chão, derrotado. 

— O que achou que iria acontecer? — Disse Inari, logo atrás dele. — Pensou que chegaria, destruiria o nosso reino e depois iria embora? Aprenda agora uma lição que o homem que você segue nunca aprendeu: sempre haverão homens e mulheres valentes capazes de se superar para defender aquilo que pessoas como você almejam destruir.

Gray pôs uma espada na nuca de Asa, acreditando rendê-lo. Insubmisso, incapaz de aceitar a derrota, Asa imprudentemente tentou atacar quem lhe rendia, mas Haru veio voando como um míssil e acertou um chute em sua cara, uma voadora tão poderosa que, pela inconsequência de seu autor, não só atirou longe o alvo como decretou a morte dele. Asa agonizava enterrado na cratera que seu próprio corpo abriu na parede no instante da colisão. 

Inari, Haru e Gray foram até ele ver se arrancavam alguma informação sobre o paradeiro de Santsuki, mas sua resposta à pergunta dos três, entre uma série de tosses banhadas de sangue, foi uma enérgica risada. 

 — Querem saber onde ele está? Vocês não precisam procurar... Logo saberão, ele não está se escondendo, está brincando com vocês! Ele virá até vocês! — Complementou, cada vez mais fraco. — Mas não vão gostar disso... se acham que acabou, estão muito enganados... O pior ainda está por vir... 

 Asa fechou os olhos e esperou a morte vir. Tinha apenas um receio: não poder viver para ver o que Santsuki faria naquele planeta, para conhecer toda a extensão do poder dele. De resto, entretanto, partiria sem arrependimentos ou ressentimentos. Morreu numa batalha justa, um a um, dando o seu melhor, o tipo de morte reservada aos melhores. Alcançou, sem saber, o objetivo buscado pelo homem que mais admirou em vida.

Haru e Yue não quiseram ir a um hospital, foram direto para casa dar pessoalmente as notícias para Kin e os outros. Mari tratou suas feridas com analgésicos, água, gel antisséptico e curativos, Haru recusou os analgésicos e os curativos para que sobrasse mais para Yue, ela estava muito mais machucada do que ele, que só saiu da briga com a mandíbula inchada e o canto da boca cortado. 

Naomi parecia muito melhor. Saber que pelo menos um deles não oferecia mais riscos a ninguém, especialmente Asa, ajudou muito. Ela e Mari cuidavam das escoriações de Yue, a quem deitaram no grande sofá bege da sala e cobriram os braços lesionados com panos mergulhados em água quente e os joelhos ralados, a bochecha cortada e a têmpora contundida, com curativos.

O silêncio dominava a sala. Kin, da janela, olhava para a rua. Arashi, sentado no antepenúltimo degrau da escada, aguardava ansiosamente uma ligação dizendo que encontraram Santsuki. Ninguém perguntou como ele estava. Ele, que teve os pais e todos os que conhecia assassinados por aquele monstro, engoliu as dores e as mágoas para bancar o durão pros seus amigos, que precisavam disso agora mais do que nunca. 

Mas Kin se deu conta de que estava sendo insensível, de que não era a única que estava sofrendo, então foi até Arashi e o abraçou. 

 — Olha pelo lado bom, teremos a chance de nos vingar! De pé, vamos! — Tentou animá-lo, e pôs um pequeno sorriso no rosto dele. — Nós vamos localizá-lo e acabar com ele! — Garantiu ela, acariciando-lhe os cabelos e o rosto com as mãos. 

Naomi foi até os dois, arregaçou as mangas da camisa preta, cruzou os braços e perguntou:

— Alguma notícia do Iorui, do Satori e da Michiko?

— Nada, por enquanto. — Disse o guerreiro glacial. 

A francesa suspirou pesarosa. 

— Pela minha experiência, esses três soltos por aí podem causar mais estragos do que Santsuki. Iorui e Michiko se divertem muito mais do que ele com o sofrimento dos outros, são mais cruéis. — Compartilhou com eles o que sabia. — Santsuki é mais instável, não dá nunca para saber o que ele vai fazer. O nosso destino está nas mãos dele e ele sabe disso. 

— Se quisesse, ele poderia destruir a galáxia inteira. — Arashi, ciente do que dizia, prosseguiu raciocinando: — Mas ainda estamos vivos, então ele não destruiu. O que significa que ele não quer. Por que ele voltou? 

— Gente... Eu tô sentindo uma energia muito poderosa e fria... É imensurável...!! — Yue avisou. 

Os outros também notaram, mas com muito menos precisão. A Terra inteira sentiu. Os mais temidos guerreiros do planeta pararam, como que prostrados ante a grandeza daquela força. O curso das estrelas foi afetado, mesmo os astros se curvavam. O tempo fechou, o sol declarou sua desistência, se escondeu atrás das nuvens. Os oceanos não se moviam mais um milímetro, a natureza, de primeira, respondeu com calma, como se até ela estivesse com medo e tentasse passar despercebida pela origem daquele poder. O terror tomou conta do mundo. 

Arashi recebeu uma ligação. Nós o encontramos. Ouviu o endereço, agradeceu, trocou olhares com todos na sala e assim, sem nem abrir a boca, disse tudo o que eles precisavam saber. Oito dos dez retalhadores de elite estavam reunidos na presença do facínora. A arena onde a batalha ocorreria: um enorme campo verde de golfe a céu aberto. Os oito sabiam que não tinham a menor chance, mas não fugiriam. Santsuki, com seu terno e seus cabelos esvoaçando com as ventanias, os aplaudia pela coragem. 

Kenichi desceu o montante das costas. 

— Em quanto tempo você acha que Kin e Arashi chegam? — Comentou o vilão, apontando Inari. — Conheci aqueles dois quando ainda eram desse tamaninho. Estou ansioso para ver como ficaram. 

— Preocupe-se com a gente, agora. Enquanto eu estiver de pé, é em mim que você deve pensar! — Disse Kenichi, em pose de combate. Todos foram para cima de Santsuki juntos, mas ele foi na frente. 

Santsuki enfiou as mãos nos bolsos e, sem sair do lugar, esquivou-se sorridente de cada um dos golpes deles. Inari tocou a terra com as mãos e fez raios de eletricidade saltarem debaixo do chão sobre o qual o inimigo pisava, o inimigo, entretanto, desviou do ataque saindo para o lado, abaixou a cabeça e escapou de três socos: um desferido por Mahina pela esquerda, outro por Emi pela direita e o último de Kande, que atacou por trás. Santsuki avançou dois passos, virou-se de frente para elas e deitou o corpo para trás, desviando-se de mais um ataque em conjunto delas. 

Kenichi depositou no montante todo o poder que conseguiu reunir no mais curto período de tempo possível, o esticou para trás e quando achou que estava pronto, quando Mahina, Kande e Emi saíram do raio de alcance de seu ataque, desferiu o corte no ar, disparando contra Santsuki a mais poderosa técnica que um dia enviou contra alguém. O alvo, com a maior naturalidade do mundo, como se não fosse nada, correu dali, simplesmente saiu da frente, mas o ataque devastou metade do campo de golfe e brilhou o suficiente para ofuscar o planeta.

Hana tirou proveito da cegueira provocada pelo clarão e tentou socar Santsuki, que segurou sua mão. Ela sorriu. O que se seguiu, então, foi uma explosão, a mais potente que ela já detonou, e o campo de batalha ficou todo envolto numa densa nuvem de fumaça. Santsuki ainda estava de pé, não só de pé como ileso. De seu terno, entretanto, ele não podia dizer a mesma coisa.

— Droga, você...!! Você acabou com meu terno! Já chega de brincadeira! — Irritado, pegou Hana pela garganta e a ergueu no ar. Shin, Gray e Mahina o atacaram para salvá-la, mas Gray foi imobilizado da mesma forma que Hana pela mão que o vilão tinha livre, Mahina levou uma cabeçada no rosto e Shin foi tirado do combate com um pisão na cara. 

Quando Gray e Hana perderam a consciência em suas mãos, Santsuki os largou feito lixo. Kande encheu as mãos de energia, as apontou para ele e atirou um de seus raios de poder estelar, mas o oponente, após se livrar do paletó, o dissipou com uma reles barreira de energia elétrica, investiu contra ela, a socou no estômago e depois no rosto. Kande desembainhou a espada para usá-la contra ele, mas ele a tomou da mão dela e a usou para tentar matá-la. Kenichi a salvou pondo o montante entre eles. 

Inari cercou Santsuki com suas correntes de energia elétrica verde, o prendeu nelas e as apertou para eletrocutá-lo. O vilão, como também era um condutor de eletricidade ambulante, sobrecarregou as correntes dele e se livrou delas, ao mesmo tempo que tirou ele, Kande e Kenichi da batalha, arremessando cada um para um lado diferente. Só restou Emi de pé e mesmo sabendo que não tinha a menor chance de vencer, ela não se rendeu.

Santsuki a olhou, parou, arregaçou as mangas da camisa social branca e resolveu permitir que ela fizesse o que tinha em mente. Emi apontou as mãos para ele, juntou ambas, fez um círculo com elas, as carregou de energia e lançou uma esfera rosada contra Santsuki, fechando-o nela. A esfera se extinguiu numa explosão concentrada, gerando uma paleta fluorescente de cores que pela mistura lembrou um arco-íris, com um vendaval que quase carregou a própria Emi. 

O alvo, que deveria estar morto, surgiu intacto poucos metros acima do ponto onde a explosão ocorreu. Emi preparou e disparou mais uma daquelas, mas Santsuki arremessou sua própria esfera de energia, feita de eletricidade, que no choque levou segundos para consumir a dela e acertá-la em cheio, levando-a ao nocaute. Todos, exatamente como o esperado, estavam no chão. Santsuki deu de ombros, virou-lhes as costas e saiu andando. Não restou um de pé. Pelo menos era o que ele pensava. 

 — Ei...!! — Kenichi o chamou, provando que ele estava errado. — Isso só acaba comigo morto!

— Já que insiste. — Concordou o vilão.

Santsuki catou uma espada do chão e a arremessou contra o rosto de Kenichi, que mal estava em condições de se manter de pé. Kenichi fez tudo o que podia para sair da frente, para que ao menos a lâmina não o atingisse em pontos vitais, mas não havia mais nada que ele pudesse fazer. Estava fraco demais até para se jogar no chão. Era seu fim. Ele pensou nos seus companheiros, todos caídos, uma visão que nunca teve e nem imaginou que teria um dia. Lamentou não poder fazer nada e fechou os olhos. 

Uma espessa barreira de gelo impediu a espada de chegar ao destino dela, ainda que por muito pouco, pois a lâmina a transpassou quase toda. O importante, entretanto, era que a vida de Kenichi fora salva. Kin não quis saber de conversa, a primeira coisa que fez quando chegou foi atacar Santsuki com sua espada. O problema, contudo, foi que Santsuki anteviu sua chegada e a desarmou com um soco no pulso, depois a chutou, a loira se defendeu mas foi atirada para perto de Kenichi e Arashi.

Os olhando de cima a baixo, Santsuki os cumprimentou sem sair do lugar, com uma salva de palmas. Agora que estavam frente a frente com ele, tanto Kin quanto Arashi não sabiam como se sentiam. Imaginaram que uma vez que o vissem espumariam de ódio, o sentimento que experimentaram no caminho era muito mais feroz, mas uma sombria e enigmática indiferença tomou conta deles. Havia certo ceticismo em seus olhares. Os dois quase não acreditavam que ele estava ali. 

— Kin e Arashi, senhoras e senhores! Ao vivo e a cores! — Comentou extasiado o facínora, olhando-os com atenção. — Sabem que por um minuto eu pensei que não viriam? Não que vocês tenham demorado, eu é que estava um pouquinho ansioso para vê-los. Não querem falar comigo? Eu entendo. Muito bem, vamos ao que interessa. Me mostrem o quanto melhoraram nesse tempo!

 Depois de transformar toda a arena em uma pista de gelo, Arashi investiu com sua espada contra Santsuki, seus movimentos eram tão velozes que o tempo que ele gastou para se aproximar do alvo foi literalmente milhares de vezes menor que o exigido num abrir e fechar de olhos. Seu inimigo, como não era qualquer um, acompanhou cada passo seu, o esperou chegar, permitiu que ele desferisse o corte, se esquivou dele com um pulo, apoiou-se em seu braço a fim de tomar impulso e saltar por sobre ele e quase foi pego no ar por Kin, tendo que pisar na cabeça do guerreiro glacial para conseguir subir mais alto e desviar do corte manobrado por ela. 

Arashi apontou suas mãos para Santsuki e caiu de costas atirando seus cristais de gelo contra ele, Santsuki, ainda no ar, girou para o lado oposto do qual vinham os disparos, caiu agachado e, se reerguendo, não tirou os olhos de cima da dupla. Kin o atacou com um chute alto, Santsuki o desviou com uma mão, Arashi tentou cortar seu rosto com uma espada, Santsuki retirou o corpo da frente, recuou e recuou mais algumas vezes enquanto os dois o atacavam ao mesmo tempo. Arashi pôs as mãos no colarinho da camisa dele, desmanchou-se em um monte de neve, a neve enroscou-se no oponente e restringiu-lhe os movimentos. 

Kin encheu a mão de energia, a levou até o rosto do adversário mas não conseguiu efetuar o disparo, Santsuki segurou seu braço e apontou sua mão para o alto. Arashi tentou acertá-lo pelas costas, Santsuki, que esperava por isso, deu um salto mortal por sobre Kin e a usou como escudo, a colocou na frente do ataque dele, Arashi, porém, conseguiu conter o ataque, mas por muito, muito pouco não a matou. A loira girou e tentou cortar a cabeça do vilão com sua espada, o alvo dela se abaixou, guardou as mãos no bolso, sorriu, rodou e a chutou, ela colidiu com Arashi, os dois se atrapalharam e caíram. 

— Ele não está nem se esforçando. — Constatou Kin, levantando-se e ajudando Arashi a se levantar. 

O guerreiro glacial, de pé novamente, olhou ao redor. Todos os retalhadores de elite estavam caídos, derrotados. Frustrado, assombrado, expressou uma triste verdade que jazia implícita desde o começo:

— Nós não temos a menor chance contra ele. 

— Que decepção... Então, esse tempo todo, era isso que a Terra de Áries era sem o Azin e a Yume? — Santsuki meneava a cabeça, não se conformava com o quão inferiores os dois eram. Apontou-lhes a mão direita, carregou-a com eletricidade e disse: — Parece que só o que resta agora é acabar com tudo, não?

Algo, de repente, pôs um sorriso nos lábios de Santsuki, o fez desistir de matá-los. Os doze ministros da Terra de Áries estavam vindo. Antes que ele pudesse abaixar o braço, Hayate de Órion, Hizashi de Altair, Keiko de Bellatrix, Aneha de Lesath, Onoda de Hadar, Daiki de Aldebaran, Anna de Rigel, Yuasa de Alchernar, Lili de Lira, Meisa de Erídano, Reika de Cisne e Angela de Adhara, liderados pelo ancião Hanzuki, estavam na arena. 

Uma risada involuntária explodiu da garganta de Santsuki. Os olhares sérios dos doze não inspiravam temor e nem medo algum nele, mas não foi por isso que ele riu. Sua risada veio da possibilidade de finalmente suar um pouco em combate. Sua gargalhada, no decorrer do tempo, começou a ficar mais grave. Uma aura azulada o cercou da cabeça aos pés. A aura, imperiosamente, revestiu-se de eletricidade, recobrou-se com luzes que piscavam milhões de vezes por segundo, o som ocasionado era insuportável.

 Hanzuki, Hayate, Hizashi e Keiko não se amedrontaram, tomaram a frente. Santsuki tinha boas memórias com os quatro. Se bem se lembrava, Hizashi era quem mais sentia ódio dele. De fato, o coração do Líder de Altair era um vulcão prestes a entrar em erupção. 

— Deixe este planeta agora mesmo, Santsuki... — Ordenou Hanzuki, vestindo longas roupas brancas e verdes como um general. — Do contrário, nós não teremos misericórdia!

— Hanzuki, velho amigo, quanto tempo! Infelizmente, não posso fazer isso! — Retrucou. Pensou melhor e disse: — Na verdade, por que todos nós não deixamos o planeta?! 

Santsuki estendeu os braços e envolveu todos com seu chikara. De um segundo para o outro, em seguida, os catorze sumiram de uma só vez, Kin, Arashi e os retalhadores de elite estavam sozinhos no campo de golfe onde encontraram o desgraçado. O casal, confuso, se esforçava para entender o que aconteceu. O majestoso poder emanado por eles ainda se fazia sentir, apesar de muito distante. 

Arashi então compreendeu o que houve.

— Eles não podiam lutar aqui. — explicou — A Terra não suportaria, seria completamente destruída. 

Kin concordou com ele.

Todos foram arrebatados para a lua. As maiores autoridades da Terra de Áries se uniram, ao mesmo tempo, contra o maior vilão da história da galáxia. A situação era muito mais desesperadora do que Arashi concebeu. E se eles não conseguirem?, tal pensamento o apavorava, mas não mais do que tentar pensar no que seria de Áries se todos os treze morressem. O mundo estava em suas mãos. 

Continua...


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