As Lendas dos Retalhadores de Áries escrita por Haru


Capítulo 10
— O baile de máscaras




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 — O baile de máscaras

Era o dia do sexto aniversário da princesa Minna, a filha única do rei e da rainha do Reino de Órion. Uma festa estava sendo dada no palácio para celebrar esta data. Kande, Kin, Gray e Arashi foram chamados para atuar como os guarda-costas da família real porque Hayate suspeitava que alguém conhecido os queria mortos, o rei, para os assassinos não temerem os retalhadores de elite e se mostrarem, pediu que os convidados comparecessem mascarados.

A noite estava no início mas uma profunda escuridão caía em torno do grande, branco e nada modesto palácio real de vinte luxuosos quartos. Sua escadaria principal estava lotada de gente, de convidados com roupas de gala, de penetras, garçons. O frio apressava os seguranças responsáveis por verificar na lista os nomes das pessoas que pediam para entrar. Até o momento nada fora do esperado aconteceu, nenhuma ameaça foi detectada. 

Os retalhadores de elite foram para o salão se misturar com os convidados, que bebiam, riam, socializavam entre as paredes rosadas do interior do castelo e dançavam abaixo do elegante lustre que adornava o teto de madeira marrom. Arashi e Gray usavam uma bela máscara negra que cobria metade de seus rostos, vestiam terno, calça, sapatos e gravata borboleta preta por cima de uma camisa social branca.

A rainha escolheu para Kin um longo tomara que caia vermelho e para Kande um comprido vestido rosa de alças finas, suas máscaras eram prateadas e ostentavam uma grande pena cinza na ponta esquerda. As duas ficaram deslumbrantes. Os quatro circulavam pelo centro da sala de piso branco, sempre próximos da escada e uns dos outros.

A música clássica tocava tão alto que obrigava quem queria conversar a ir até o pé do ouvido do acompanhante, foi exatamente com essa intenção que Arashi pediu a mão de Kin e dela chegou perto. O que tinha para dizer a ela não podia esperar mais um único segundo para ser dito. 

— Eu te amo. — Sussurrou, fazendo o coração de Kin parar por um tempinho e depois acelerar loucamente. Ela afastou a orelha dos lábios dele e o olhou nos olhos, ele se especificou: — Estou apaixonado por você. Aconteça o que acontecer esta noite, nunca se esqueça disso. 

Kin sentiu a boca trêmula, seca, e os olhos arregalados. Realmente não esperava por aquela, ao menos não durante uma missão. Queria dizer que era recíproco, que o amava de todo o coração, estava a ponto de fazer isso quando uma explosão abalou as estruturas do palácio e a interrompeu. Os quatro trocaram olhares. 

Kande removeu a máscara do rosto e deixou o salão pela esquerda, segundo seus cálculos foi daquele lado que veio a explosão. Kin correu para a entrada, Arashi para a direita e Gray para os fundos. No calor do momento, sem notar, eles esqueceram o combinado e se dividiram.

No caminho Kin perguntava a todos se a princesa havia descido, os seguranças avisaram que entraram em contato com o rei e que pediram para adiar a aparição dela, o que a tranquilizou muito mais. "Merda", praguejava em pensamentos. "Meu gato se declara pra mim e bum, isso acontece", reclamava consigo mesma, descendo as escadas. "Não podiam esperar mais alguns minutos?", condenava os responsáveis pela bagunça enquanto olhava ao redor.

O barulho fez os penetras e quem mais aguardava para entrar fugirem correndo, esvaziou completamente o pátio da frente do palácio. Kin escutou um outro som, dessa vez vindo do alto, então olhou para o telhado da morada real. Estava em chamas. Assim que se deu conta da quantidade de fogo que ameaçava corroer o castelo, abriu suas asas e voou até lá em cima. 

Havia um retalhador rendendo o rei, a rainha e a pequena aniversariante no espaçoso quarto dela, um rapaz de cabelos verdes, curtos, camisa negra que expunham os braços, calça comprida e botas. Kin invadiu o quarto pelo alto e, com sua velha espada dourada em mãos, ficou entre ele e a família real. 

— Quem é você e como chegou aqui sem ser detectado?! — Kin foi direto ao ponto, soube na hora que o viu que ele não era de Órion. 

— Cara, que azar o meu! Logo a líder! — Nervoso, agiu como se não tivesse ouvido o que Kin disse. — Eu avisei que daria no pé se isso acontecesse! Não se preocupe, logo você terá respostas para as duas perguntas, retalhadora de elite! Não é a última vez que nos vemos... Até mais!

Então, sem mais nem menos, ele aumentou as chamas e fugiu por onde Kin entrou. Em condições normais ela o teria seguido mas não podia abandonar a família real ali naquele fogaréu, seu dever era, antes de tudo, levá-los para fora em segurança, pensar mais neles até do que em si mesma.

A rainha, uma morena esbelta na flor da idade, de cabelos negros volumosos cacheados e expressivos olhos verdes, deixou sua maior riqueza nos braços de Kin: uma linda garotinha de pele castanha e cabelos iguais aos seus, sua filha. O rei, um homem negro, forte, alto, de cabeça raspada, terno e gravata, se afastou para que as duas mulheres da sua vida fossem salvas primeiro. Assim foi feito. 

Lá embaixo o casal mais importante do reino não parava de agradecer à Kin, que entre sorrisos de lisonja e de timidez, humildemente respondia o tempo todo que não havia feito mais do que sua obrigação, além de pedir desculpas por amassar o longo vestido azul da princesa e desfazer o coque da majestade. 

Kande e Gray subiram a escadaria muito apressados e só pararam de correr após chegarem em Kin. Gray já não estava mais com a gravata borboleta em volta do pescoço, a perdeu em algum lugar no caminho da volta ou da ida, não saberia dizer com certeza. Kande rasgou parte do vestido com as próprias mãos para encurtá-lo e poder correr melhor. 

— Majestades! — Exclamou Gray, respeitosamente se curvando a eles junto com Kande.

Impaciente, Kande não pôde esperar o fim da pausa que Gray fez para recuperar o fôlego antes de falar e reconheceu seu fracasso:

— Não conseguimos pegar aqueles dois e também não sabemos para onde eles foram!

— Tudo bem, eu também não consegui capturar o que estava aqui. — Revelou Kin, os consolando. — Então era um trio?

Fria e pacientemente escalando todos os degraus, Arashi, com a gravata em mãos, corrigiu Kin:

— Quarteto. Eu também perdi um deles de vista e não tenho ideia da localização dele. 

— Precisamos achá-los antes de amanhecer e sob circunstância nenhuma podemos permitir que saiam do reino! — Anunciou Kin.

Kande e Gray assentiram, Arashi voltou para a direção de onde veio o mesmo olhar diligente que fazia em situações como aquela e decidiu sozinho o que faria:

— Eu vou entrar em contato com os outros retalhadores de elite e com Hayate, vou pedir que eles reforcem a segurança das fronteiras e que ele ative a barreira. 

"Então é assim que vai ser, vai me evitar", desapontada, Kin olhava Arashi contactar Hayate através do comunicador do pulso e descer os degraus pela esquerda. Era um pouco egoísta querer conversar sobre a declaração de amor dele enquanto aqueles quatro estavam a solta pelo reino? Talvez fosse, mas ela não podia evitar. Dificilmente conseguiria se concentrar na tarefa com um ponto de interrogação daqueles em mente. 

A manhã veio, um lindo sol raiou e as buscas pelos criminosos não cessaram. Os retalhadores de elite não pararam nem por um minuto da madrugada daquela noite — em especial o grupo escolhido para proteger a família real, que não voltou para casa nem para trocar as roupas. O Reino de Órion estava em estado de alerta.

O primeiro ministro se reuniu em sua sala com os quatro retalhadores que vigiavam as fronteiras no momento da invasão e com o poderoso diretor da maior penitenciária do Reino de Órion, Kazu, um velho sisudo, robusto, branco e imponente que usava os trajes azuis escuros e o quepe de um oficial da marinha. Kazu angariou fama pelos métodos extremos de que se valia para punir os criminosos e pelos conflitos em que entrou com Yume. 

Todos preocupadamente discutiam o ocorrido e concordavam sobre quão ofensivo era a vida da família real ter corrido tamanho risco, atacar os reis de uma nação era historicamente um gesto simbólico, um insulto grave aos retalhadores dela.

Mas a pergunta mais importante a ser feita: como eles entraram no reino sem ter suas presenças percebidas? O sistema de segurança de Órion foi prioritariamente feito para instantaneamente apontar os invasores. A segunda mais importante, era: como eles sumiram sem deixar rastros? Só alguém que conhece bem um lugar sabe onde ir para se esconder nele. 

Entre todos os ministros, Hayate era o dono do menor e mais humilde gabinete. Ele possuía pisos verdes, paredes e teto vermelhos, quatro janelas quadradas de um metro e meio de extensão atrás da mesa de madeira dele e cadeiras na frente dela para os requisitados se sentarem. Quando lhe indagavam por que ele não pediu uma sala maior, mais como a dos outros ministros, sempre respondia que gostava daquela porque ela lhe fazia sentir-se um gigante. 

— As barreiras já foram abaixadas e os retalhadores de elite estão nas fronteiras, aqueles invasores não vão sair daqui. — Salientou Hayate.

— Excelente. O que fez com os quatro que chamou para ser guarda-costas da família real? — Perguntou Kazu. 

— Eles se espalharam pelo reino mas estão acordados há dias, Kin não dorme há uma semana. — Hayate redarguiu. — Devem estar exaustos, vou mandá-los descansar. 

 — Não pode, hoje precisamos mais dela do que nunca. — Kazu ansiosamente retrucou. — Dê-lhe até as dezesseis horas de hoje, garanto que até lá ela os terá achado. 

O primeiro ministro discordou:

 — Kin tem grandes habilidades para momentos de crise mas eu a conheço, não está no auge de suas capacidades, precisa parar. Vou ligar pra ela.

"Vá em frente, ela mesma não vai concordar", pensou Kazu, desistindo de protestar. Mandar para casa a retalhadora de elite mais poderosa da organização era, na sua opinião, a maior estupidez que podia ser feita numa hora daquelas, não importava o quanto ela estivesse cansada. Kin e seus companheiros, na concepção de Kazu, eram máquinas a serviço do reino e, como tal, não poderiam parar enquanto pudessem se mover. Um modo extremo de ver as coisas, maior motivo de suas discussões com Yume, mas digno dele.  

Kin estava de pé no alto de um telhado quando recebeu a ligação e, apesar de mentalmente, emocionalmente e fisicamente exausta, não seguiu o conselho de Hayate. Kazu acertou em cheio. Convivia com jovens retalhadores, trabalhava com eles diariamente, os conhecia, sabia como eles pensavam melhor do que qualquer um, portanto prever seus passos e manipulá-los não era grande coisa para ele, nem uma novidade entre suas atitudes. 

 — Eu tô bem! — Ela insistia. — Com todo o respeito, não posso! Não vou pra casa dormir enquanto esses invasores ainda estão no meu reino, eu não conseguiria!

Por fim, Hayate cedeu e permitiu que ela continuasse trabalhando, pois sabia que não seria capaz de convencê-la e que proibi-la mesmo assim seria pior. A condição que impôs, no entanto, foi a de ficar pessoalmente de olho nela para garantir que ela ficaria bem e Kin, sem outra saída, concordou. Era a sua deixa para resolver tudo no menor tempo possível e agir sem compaixão.

Ninguém teria de socorrê-la. 

— Devia ter escutado o seu ministro... — Uma voz feminina anunciou a presença de uma segunda guerreira poderosa e confiante nas proximidades. — Foi insolência e estupidez, nada do esperado da líder dos retalhadores de elite. Um retalhador inteligente sabe a hora de parar. 

O nome da guerreira invasora era Minerva. Ela tinha exatos vinte anos de idade, uma longa cabeleira grisalha que amarrava para trás pela praticidade, pele quase tão alva quanto neve, olhos negros e um corpo magro que ornava sempre com vestidos discretos, rodados, todos do mesmo modelo mas de cores diferentes — naquela manhã o verde escuro lhe soou como a melhor opção. Sua personalidade era até mais explosiva que a de Kin, embora fosse dois anos mais velha que a loira. 

Mas a Retalhadora de Órion não estava para brincadeiras, aquele era um péssimo dia para se apresentar como adversário dela. 

— Você vai responder todas as perguntas que eu fizer ou eu vou te esquartejar. — Kin foi curta e grossa com ela, não tinha interesse algum na enrolação que geralmente envolvia o início de uma luta. 

Os ventos em torno esfriaram, ficaram mais velozes, as telhas onde Kin pisava congelaram em segundos e suas articulações foram tomadas por camadas de gelo. Minerva a atacou com um soco nesse tempo, Kin se esquivou e por muito pouco não a matou com a espada, a forçou a desajeitadamente se jogar no chão com um movimento improvisado para sobreviver.

Caída, Minerva perdeu a razão quando ficou sob o olhar de superior da oponente e subiu contra-atacando com um gancho, Kin desviou dando um passo para trás, desferiu um chute alto, Minerva o bloqueou com as mãos e Kin, atacando-a com socos, a fez recuar se esquivando deles até os limites do telhado.

Assim que chegaram na ponta Minerva saltou por sobre Kin, transformou a mão num cristal de gelo para apunhalá-la pelas costas mas foi contida, Kin segurou-a pelo pulso e lhe deu uma joelhada no queixo. Fora de si, possessa, Minerva se afastou. O maldito olhar de superior da retalhadora de elite era o que mais a irava.

Minerva converteu os braços em espadas de gelo e, no auge da raiva, investiu contra Kin. Por mais ágeis, precisos e bem calculados que fossem os seus movimentos, turbinados ainda com uma fúria assassina, não acertou a retalhadora de elite com nenhum deles, pois ela, durante as esquivas que realizava, demonstrava uma maestria fora do comum até para um ser de essência. 

A retalhadora de elite fazia parecer que os golpes de sua pretensa agressora não ofereciam risco algum à sua vida. Sua atacante, quando notou isso, ficou ainda mais irritada, recuou com as vistas embaçadas e a respiração descompassada de tanto ódio. Nunca fui tão humilhada, trêmula, atônita, tentava lembrar de uma só vez em que esteve em tanta desvantagem num confronto. 

Um conglomerado de nuvens cinzas fez o céu sobre o Reino de Órion escurecer, o clima tornar-se frio e nublado. Isso não vai acabar assim, Minerva estava determinada a, se preciso, sacrificar a própria vida para derrotar aquela oponente, preferia a morte a decepcionar seus companheiros. Uma repentina tempestade de neve empesteou o campo de batalha das duas.

Heiran, o retalhador de cabelos verdes que encontrou com Kin horas atrás, muitos quilômetros longe do local da batalha, deduziu rapidamente que Minerva tinha algo a ver com aquilo e que alguma coisa estava errada. Ele passeava a céu aberto, procurava, nas suas palavras, "algum enxerido" estúpido o bastante para segui-los quando notou a mudança no tempo, seus parceiros permaneciam escondidos.

Espera, você não...! Se estava certo sobre o que achava que ela ia fazer, precisava localizá-la o quanto antes e impedi-la. Minerva era impulsiva, perdia a paciência muito facilmente, mas era uma aliada poderosa, insubstituível e, acima de tudo, sua amiga, uma companheira protetora e zelosa. A conhecia desde a infância, não conseguia nem pensar em como era sua vida antes dela e muito menos como seria viver sem ela. 

Eu sabia que não devíamos ter aceitado esse serviço, se culpava por não ter persuadido seus amigos a rejeitarem a proposta recebida, embora tivesse achado uma má ideia no minuto que a ouviu. Precisava correr. Se algum deles perdesse a vida, qualquer um, jamais se perdoaria. Aquele quarteto era como uma família para Heiran. 

Kin estava sendo frontalmente atacada com flocos afiados de neve, a maioria dos quais, contudo, destruía com sua espada de luz. Dos restos destes logo em seguida brotaram mais, que deixaram cortes aparentemente inofensivos no rosto, na nuca e na cintura da retalhadora de elite. 

A tempestade de neve repentinamente cessou, o nevoeiro se dissipou e Minerva, com os braços, as mãos e metade do rosto ensanguentados, ficou visível para Kin de novo. Ela usou o próprio corpo como matéria prima desses flocos de neve. Kin se moveu para atacá-la, mas camadas de gelo cresceram em suas feridas e começaram a cortá-la por dentro. 

— O quê!? — Exclamou, confusa, incapaz de dar mais um passo por conta dos flocos que se moviam em seu interior. 

— Você já era, guerreira de elite! — Minerva anunciou, manuseando o braço menos machucado após transformá-lo numa lâmina. — Sua arrogância te matou...

— Última chance. Me diga o que eu quero saber e você só vai presa. — Kin, em maus lençóis, a olhou nos olhos e ameaçou. Mesmo na pior situação consegue manter essa pose de invencível, Minerva riu na cara dela, gesto que a loira interpretou como discordância e tomou como aval para levar adiante o plano que tinha em mente. 

Kin se inspirou em Minerva e fez do próprio corpo o canal de um raio de luz mas ao contrário dela, no entanto, não se feriu, o raio destruiu apenas os flocos de neve que Minerva infiltrou em seus cortes para atacá-la internamente. No espaço de tempo que sua adversária ficou cega devido ao clarão dourado, Kin atravessou seu peito com a espada. 

Heiran chegou bem na hora. Infelizmente só pôde olhar, testemunhar a crueldade com a qual a retalhadora de elite retirou a arma do coração de sua amiga, sua irmã. O corpo já sem vida de Minerva não chegou a tocar as telhas cor de abóbora do local da morte dela, Heiran a abraçou antes. 

— Me diga quem são vocês e por que estão aqui ou você vai ser o próximo. — Avisou Kin, o rendendo com a mesma katana que usou para matar Minerva.

— Agora isso é pessoal, retalhadora de elite. — Heiran a advertiu, explodiu-se em chamas para forçá-la a se afastar e cobriu o telhado com fumaça para não permitir que Kin visse para qual direção fugiu com o cadáver de Minerva nos braços. 

A fumaça rapidamente se dispersou pelo ar e parou de atrapalhar a visão de Kin. Ele fugiu, ela concluiu, tossindo, abanando os olhos e olhando ao redor. Contactou Hayate, contou tudo o que ocorreu, lamentou por não tê-los capturado e prometeu que era a última vez que o deixava escapar. Hayate, num tom nada familiar, até preocupante, lhe pediu que retornasse para o QG de reunião dos retalhadores de elite, ela imediatamente obedeceu. 

Qual não foi sua surpresa quando chegou no local e encontrou tudo quase que completamente em pedaços? A porta de entrada foi arrancada do lugar e uma pilha de escombros travava a passagem, Kin teve que passar por cima das pedras para se aproximar da sala. Antes mesmo de entrar, porém, foi atacada: uma shuriken de gelo, da qual desviou por muito pouco, foi arremessada contra seu rosto.

Recuou e, assim que seus olhos revelaram o responsável pela investida, teve a impressão de estar sonhando. Arashi. O guerreiro glacial lentamente saiu de dentro do QG e a encarou. Não pode ser verdade, Kin bruscamente chacoalhava a cabeça na esperança de estar num sonho muito realista ou de estar sofrendo alucinações por causa do tempo que ficou sem dormir. Mais uma shuriken voou em sua direção, dessa vez a bloqueou com sua espada de luz. Era real.

 — O que foi que deu em você?! — Gritou, muito mais confusa do que irritada e muito mais irritada por estar confusa do que por ter sido atacada por ele. 

— Recebemos ordens para prendê-lo, temos um mandato contra ele! — Emi tentou explicar, mas mais espalhou do que ajuntou. 

Kenichi apareceu na porta e disse:

— Esse traidor maldito ajudou aqueles quatro a invadirem o nosso reino!

Mahina, tão incrédula quanto Kin, pediu:

— Diga que não é verdade, Arashi! Vamos!

Arashi a fitou de relance. Estava entre os quatro, a exatos quinze metros de todos, e sabia muito bem que numa luta sem preparos ou um plano de combate não daria conta nem de Kin sozinha, que dirá dos quatro juntos; foi com essa certeza que se ajoelhou de mãos nas costas em rendição. Kenichi, que nunca foi com sua cara e se limitava a ter com ele uma relação de rivais, quase que de inimizade, rudemente o algemou. 

A emoção provocada pela cena foi demais para Kin, seus pensamentos entraram em caos, por mais que tentasse reagir não decidia o que fazer, o que dizer. Estava acordada há mais de uma semana, ferida, mental e fisicamente esgotada, aquilo foi um golpe muito duro para o seu coração. O pouco de forças que restava em seu corpo se esvaiu junto com sua vontade de continuar de pé e ela, desidratada e fraca, desmaiou, caiu de lado naquele chão empoeirado e frio.


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