Quem lhe ensinou a amar? escrita por La Rue


Capítulo 2
Liberdade


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos, tudo bem com vocês?

Sofri com a correria, mas consegui fazer o prometido de postar três caps. diferentes essa semana.

Bem, esse cap. está ligado ao cap. 12 de Fios do Destino... Então para quem acompanha as duas acho melhor ler primeiro o de Fios do Destino.

A não esqueçam que postei a Claribeth nova, o nome é "O Convite".

Mil desculpas desde já, pois não consegui revisar mais de uma vez como sempre faço. Ou era isso ou não tinha as três postagens.

Boa leitura a todos!!!



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"Há uma mulher que acredita

Que tudo que brilha é ouro

E ela vai comprar uma escadaria para o paraíso

E quando chegar lá, ela saberá que

Se as lojas estiverem todas fechadas

Com uma só palavra ela conseguirá o que foi buscar"

 

~***~

 

"Ares", o que diabos aquilo significava? "Vamos pense…" já ouvira aquele nome antes, não era tão tapada a esse ponto. Se pôs a pensar por alguns segundos até que a confirmação veio em sua memória, fora Rachel que a algum tempo lhe falara sobre o tal Ares, não somente dele é claro, mas também de outros deuses antigos, como eles se chamavam mesmo? Ah sim, Olimpianos ou algo nesse tipo.

Quando começara a apresentar dificuldades bem maiores em seus estudos Clarisse passou a se isolar bem mais do que antes para assim evitar ser motivo de chacota entre os demais alunos, mas foi nessa mesma época que a assistente se fez mais presente em seu cotidiano. A mulher de leves traços judeus fazia aquele emaranhado de letras que pareciam flutuar dos papéis algo menos complicado, ela tinha bem mais paciência em lidar com a sua dislexia e o TDAH e tentava tornar as coisas bem mais atrativas do que realmente eram para uma criança de dez anos.

"Lembrava com bem mais clareza que em um dia qualquer desses onde sua raiva parecia que eclodiria como um vulcão descontrolado Rachel lhe falara sobre as tais divindades da Grécia antiga. Clarisse ainda estava armada com sua  cara de poucos amigos e os braços cruzados enquanto adotava uma posição desleixada na cadeira, mas a Srta. Berry conseguira captar sua atenção com aquele mundo tão irreal, mas ao mesmo tempo tão fascinante… Queria poder viver em um mundo onde heróis salvavam cidades de monstros gigantescos.

 

—Você com certeza seria filha do senhor da guerra. - brincou a morena de olhos cor de chocolate apertando gentilmente a ponta do seu nariz. - tem muito de Ares em sua personalidade.

 

Clarisse tentou não sorrir, queria manter a cara de brava, mas algo na colocação da mais velha lhe fizera sentir algo estranho, quase como um afago em sua alma, se é que isso fosse possível de alguma forma. Ela simpatizara com o tal Ares quando a assistente lhe falara sobre seus feitos, que possuía poderes incríveis, alguém que jamais temera alguma coisa, filho dos senhores do Olimpo, Zeus e Hera… La Rue não era senhora de nada, sequer tinha pais importantes afinal se fossem alguma coisa ela não estaria jogada em um orfanato qualquer, mas seu temperamento era forte, não tinha medo de encarar os internos mais velhos e sim ela sabia que não era alguém de fácil controle.

 

—E você quem seria? Filha de Afrodite? - rebateu a mais nova quase que imediatamente. Porém se arrependeu quase tão rápido quanto sua língua.

 

A Srta. Berry apenas lhe sorriu daquela forma doce tão característica de si enquanto colocava uma insistente mecha de cabelo castanho atrás da orelha da criança, tendo assim uma melhor visão dos belos olhos que possuía.

 

—Porque diz isso, me acha bonita? - comentou Rachel de forma brincalhona enquanto via o rosto da menina enrubescer aos poucos.

 

—Pare de dizer coisas embaraçosas… - Clarisse tentou novamente colocar aquela carranca mau humorada, mas dificilmente conseguiria sustentar, aquilo nunca funcionava com a judia.

 

—Não fique envergonhada. - encorajou Rachel lhe fazendo um breve afago na covinha que possuía no queixo. - me sinto lisonjeada… Afrodite pode ser a deusa da beleza e do amor, mas também é uma divindade tão poderosa quanto os outros Olimpianos."

 

La Rue se pôs a sorrir com a lembrança, mesmo que ainda não tivesse qualquer sentido ter uma faca de caça que brilhava debaixo do seu travesseiro. Pode notar também que ao desembainhar a faca algo caiu em seu colchão, era um papel cuidadosamente dobrado, podia sentir o delicado perfume da assistente social no mesmo. Rachel deixara aquela faca para ela? Aquilo estava ficando bem mais confuso do que gostaria.

Pegou o papel e abriu próximo a janela onde a luz da lua lhe daria um pouco mais de claridade para sua leitura, não queria acender a luz do dormitório e chamar a atenção de alguém indesejado. O que havia escrito ali não estava em inglês - já que as letras não flutuavam ou se embaraçavam como normalmente acontecia - concentrou-se um pouco mais para poder realmente ler o que estava escrito com as mesmas letras da inscrição na faca.

"Querida Clarisse,

 

Creio que já tenha encontrado algo que deixei para você se está lendo este bilhete. Sei que tudo parece muito confuso em sua mente agora, mas quero que se lembre de minhas palavras… Você não está sozinha, você nunca esteve sozinha. Não tenho tempo para explicações, nem autorização para tal, você terá que encontrar as respostas que procura.

 

Eu sempre acreditei no que me disse… Tudo é real, mesmo que tentem a todo custo lhe mostrar que está doente. Você sabe que está certa.

 

Siga o seu coração."

 

Leu aquele papel pelo menos mais umas cinco vezes, sentia sua cabeça doer e seu peito ardia com a mesma intensidade que as batidas dolorosas de seu coração. "Tudo é real", Rachel acreditava nela, acreditava de verdade e não apenas falava aquilo para lhe dar algum falso conforto. Mas ela não conseguia entender o "Siga o seu coração"... A única certeza que lhe cercava no momento era a de que teria de fugir, a própria Berry estava ali confirmando em palavras.

Ela não tinha muito o que levar, também não queria perder tempo, tudo o que provavelmente mais estimava estava consigo e eram "presentes" recentes concedidos pela judia, não precisava de mais nada. Dobrou o papel com o mesmo cuidado de antes e colocou na bainha já devidamente afivelada em sua cintura, levaria a faca na mão, olhou para a pulseira delicada no pulso esquerdo, sendo tomada novamente por aquela estranha sensação morna ao observar o pingente de estrela.

"Siga seu coração…" pensou enquanto observava o pingente, no segundo seguinte seu pulso doeu, não era uma dor lasciva, mesmo assim incômoda o suficiente para se assustar, a pulseira dourada brilhou de forma tão intensa que fechara seus olhos e trincou os dentes para não emitir qualquer barulho. Quando abriu os olhos novamente e sua respiração já estava mais calma, não existia mais o presente que Rachel lhe dera, mas sim uma quase que imperceptível cicatriz no lugar e um fio singelo de cor prata quase que translúcido, não estava apenas amarrado ao seu pulso como também parecia seguir uma direção. Ou ela estava maluca de vez ou finalmente havia entendido… Deveria seguir o fio.

Sabia como sair do orfanato, já havia arquitetado tudo a muito tempo, mapeara aquele local cuidadosamente, tinha cada pequeno detalhe guardado em sua mente. Abriu a porta devagar e olhou o corredor assustador antes de colocar-se para fora completamente, não tinha ninguém… Seguiu, como um gato sorrateiro até a escada principal, abaixou-se e novamente analisou o perímetro, não havia ninguém.

—O que seu diretor acharia se lhe visse com uma arma?

Estava fácil demais pensou a garota quando já estava nos últimos degraus da escada, se virou lentamente, aquela voz carregada fez o pelos da sua nuca se eriçarem… Ele não deveria estar ali, eram poucos os trabalhadores que faziam o plantão noturno e o desprezível Dr. Thorn não era um deles.

—Então você realmente acha que pode fugir na surdina. - a voz era arrastada e desdenhosa como de costume. - mas dessa vez você não tem quem lhe proteja, não é mesmo?! Seu projetinho de semideusa repugnante.

Ao se virar Clarisse não o encontrou no topo da escada como achava que estaria, também olhou ao seu entorno e tudo o que podia ver era o breu assombroso e a voz daquele homem estúpido, mas algo na fala dele havia lhe tomado a atenção e não se tratava de problemas que teria se descobrissem sobre sua fuga ou se estava ou não com uma arma branca letal em suas mãos, mas sim o "semideusa"... Aquele homem havia acabado de lhe chamar daquilo, tinha certeza, outra certeza que possuía era que aquele Dr. Maluco havia fundido de vez seus miolos.

—Prometo que serei rápido… - disse com a voz um tanto assustadora, seguido de uma gargalhada um tanto doentia.

Clarisse chegou ao meio do saguão principal, segurava a faca com tanta força que os nós dos dedos estavam esbranquiçados, aquele homem maluco deveria estar chamando alguma atenção, então porque ninguém havia aparecido ainda? Checou o seu redor novamente até escutar um estranho barulho, seus sentidos fizeram-na pular para o lado, mas a dor lasciva em seu braço espalhou-se rapidamente pelo corpo. Pode ver logo ali ao seu lado um projétil negro de quase 30cm fincado na parede… Como ela não conseguira ver aquilo antes ou de onde viera?!

Sentiu-se perdida por alguns instantes, seriam novamente as suas alucinações? Tinha de acordar, não poderia ver coisas em um momento tão preocupante como aquele. Tentou levantar a sua mão livre para esfregar os olhos, mas não conseguia, o corte em seu braço ardia e a dor não lhe deixava fazer qualquer movimento mesmo que não fosse tão profundo, talvez o projétil que lhe atingira tivesse algum efeito paralisante ou quem sabe algum veneno… Enxugou a testa com as costas da mão que segurava a faca e manteve seus olhos mais abertos que antes, não poderia se dar ao luxo de desmaiar, se apagasse ali seria o seu fim, sabia disso.

Escutou novamente o som como se algo estivesse sendo atirado em sua direção, tentou se concentrar, mas assim que tentou rolar para longe sentiu alguém proteger o seu corpo. Próximo a sua cabeça havia mais uma daquelas coisas estranhas fincadas da parede. Tentou se afastar de quem lhe segurava, mas um cheiro tranquilizador de rosas se fez presente, lhe trazendo paz.

—Rachel, precisamos sair daqui, está acontecendo de novo… Por favor, não deixe que me levem. - suplicou a menor com os olhos amedrontados, lhe puxando pela gola do casaco. - não quero que você se machuque.

Mas a morena apesar de séria ainda trazia o seu olhar sereno. Ela deu um breve abraço em Clarisse e lhe beijou o topo da cabeça, seu olhos se estreitaram ao ver o corte no braço da criança, mesmo assim, Rachel Berry que sempre se mostrava amigável e sorridente tinha a feição fria e perigosa, até mesmo a garotinha tremeu sob o olhar que lhe analisava.

—Clarisse, me escute. - chamou a atenção da garota que ainda parecia aterrorizada. - você precisa ir embora, eu lhe darei cobertura… Apenas siga o seu caminho.

A pequena se agarrou ainda mais a sua roupa, negando veementemente com a cabeça, não passara por sua cabeça qualquer possibilidade de abandonar a judia ali a própria sorte, mesmo que ela sequer tivesse forças o suficiente para se proteger após aquele ataque.

—Por favor, Clarisse. - insistiu a Berry lhe dando mais um beijo do topo da cabeça. - eu não vou conseguir detê-lo se tiver de lhe proteger. Siga seu caminho, você vai encontrar finalmente aquilo que sempre sonhou… Prometo que nos encontraremos.

A garota de olhos verdes mordeu o canto do lábio e respirou fundo antes de secar as lágrimas. Correu para a saída onde sabia que teria menos problemas e não olhou para trás.

—Eu devia ter desconfiado desde a primeira vez que coloquei os olhos em você. - o sotaque francês carregado denotava toda a raiva que possuía. - você não vai me impedir de matá-la, sua coisinha insignificante.

—Você não vai encostar mais nenhum dedo nela. - a voz era ameaçadora, os olhos castanhos sempre ternos e cor de chocolate adquiriram um brilho em tom margenta. - vamos lá seu monstro asqueroso, revele sua verdadeira forma.

Dr. Thorn saiu da escuridão na qual se ocultava, tinha um sorriso demoníaco em seus lábios e os olhos castanho e o outro azul cintilavam de ódio. Suas mãos se transformando em patas laranjas de garras longas e mortíferas, o rosto ainda era humano, mas o corpo era de um gigantesco leão e sua cauda rígida de escorpião por onde lançava os mortais projéteis.

—É contra as regras… - disse focalizando os olhos bicolores da menor. - deuses não podem interferir de diretamente, vai contra as leis antigas.

Um rugido alto seguiu-se de uma saraivada de projéteis pontiagudos na direção de Rachel. A garota retirou uma rosa de seu casaco e fez um movimento curto com o pulso. As pétalas das rosas se dissiparam preenchendo o ambiente com o cheiro adocicado, o caule inofensivo se transformou e o som de um chicote rompendo o ar ecoou pelas paredes sólidas o local, em segundos os projéteis foram reduzidos a pó.

—Tem razão, não posso interferir. - rebateu com um sorriso presunçoso nos lábios convidativos. - mas agora que se revelou, agora está na esfera de domínio "dela".

 

O monstro estreitou o olhar de forma furiosa enquanto Rachel levara algo aos lábios. O som inconfundível e penetrante de uma trompa de caça reverberou pelas paredes obscuras.

—Eu não sou o único a cruzar o caminho daquela pequena aberração. - o sorriso malévolo pairando no rosto do manticore. - outros vão intercepta-la.

 

~***~

 

Estava mais lenta que de costume, sua vista levemente embaçada e seu braço ardia e doía impiedosamente. Será que aquilo significava que iria morrer? Será que ela decepcionaria Rachel e a si mesma e não conseguiria encontrar o seu lugar? Olhou novamente para o fio que ainda estava em seu pulso  e tentou afastar os pensamentos até porque a febre já não lhe deixava pensar qualquer coisa de forma mais racional.

Esgueirou-se pela lateral onde havia uma saída não muito utilizada, olhou pelos arredores, mas os poucos guardas noturnos não estavam por ali, ou deveriam estar dormindo em um canto qualquer. Limpou o suor que escorria pela têmpora e encostou-se sob a pedra fria, andou mais alguns poucos metros abaixada apenas por precaução, o pequeno portão de ferro estava entreaberto… Talvez a assistente tenha entrado por ali, mas onde estava o segurança? Não que ela se importasse realmente com quem fazia a guarda, mas ainda parecia algo fácil demais para ela.

Suas pernas tremeram quando atravessou o pequeno portão, a brisa fria da madrugada enchendo seus pulmões, seus batimentos como se estivessem pulsando em seus ouvidos. Estava livre?! Um grunhido atrás de si chamou-lhe a atenção, virou-se o mais rápido que lhe foi permitido a tempo de empurrar quem estava avançando sobre si. Clarisse caiu no meio fio devido o estado quase moribundo que se encontrava, mas o segurança do tal posto recuara apenas alguns passos, os olhos vidrados e vazios, a pele pálida quase cadavérica… Investiu novamente sobre a criança que por instinto lhe atingiu no peito com a faca de caça, porém teve apenas mais grunhidos.

Algo pesado bateu contra o errante, Clarisse ainda tremia, havia esfaqueado alguém sem sequer titubear. Fez de tudo para não vomitar ao ver a cabeça esmagada contra o chão e a poça de sangue… Ao olhar para cima viu um cavalo, no caso apenas o seu esqueleto branco brilhante e robusto, órbitas de fogo na cavidade ocular e com a crina em chamar. Estava cansada, enjoada e machucada demais para poder levantar e correr.

"Não é real… Não é real… " abraçou os joelhos ainda segurando firme a faca ensanguentada. Fechou os olhos e repetia o mesmo mantra incansavelmente. E se o Dr. Thorn estivesse certo? E se quando acordasse ela tivesse matado um homem inocente? E se ela realmente fosse doente?

"Levante-se garota, não me faça perder tempo com tolices"

 

Uma voz grave parecia estar dentro da sua cabeça. Rapidamente ela olhou para cima novamente o cavalo havia se aproximado o suficiente sem que percebesse e agora estava lhe observando mais intensamente com os olhos que pareciam fogo… Dessa vez não teve medo, por mais amedrontadora que parecesse a figura a sua frente, sentia que não deveria temê-lo. 

—Você… É de verdade? - disse ainda temendo que suas alucinações estivessem piorando.

"Claro que sou, que tipo de questionamento ignóbil é esse? Vamos, meu tempo aqui é breve garota!"

 

O cavalo esquelético bufou saindo ar quente de suas narinas, fazendo cabelo castanho da garota bagunçar-se ainda mais. Clarisse levantou-se com as forças que ainda possuía, mas o cavalo lhe pegou pela camiseta como um saco de farinha e lhe jogou em seu dorso.

"Segure-se… A viagem será bem mais rápida do que pode imaginar".


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Notas finais do capítulo

Então meus amigos, o que acharam?

Um grande beijo a todos e obrigada por toda a força!!!



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