Quem lhe ensinou a amar? escrita por La Rue


Capítulo 1
O Presente


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores aqui estou trazendo o spin-off prometido de Fios do Destino. Como bem sabem Fios do Destino se passa pós “Mar de Monstros”, já essa traremos a infância da Clarisse até provavelmente a sua missão em busca do velocino e a sua interação com pessoas que são importantes na sua vida. Não é obrigado ler Fios do Destino para acompanhar essa, mas seria uma experiência ainda melhor.

Alguns caps. vão ser relacionados a memórias ou a personagens apresentados em Fios do Destino, de modo que alguns caps. podem demorar a sair por ter alguma ligação com o cap. da outra fic.

Como esse é o primeiro ele não vai ter ligação com nenhum, por isso estou postando ele bem mais cedo que o devido.

Acredito que é isso, caso tenham alguma dúvida, estou à disposição. Boa leitura a todos!!!



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"Eu compreendo

Que você está caindo

Mas, ainda assim

Continue atrás da luz

 

Se você pudesse voar

E nunca mais pousar

Você iria direto ao azul céu que brilha

Nunca pare de procurar pois um dia você encontrará"

 

~***~

 

Ela não tinha mais esperança, tal palavra, não existia em seu vocabulário pessoal, estava com quase dez anos de idade, suas chances de ser acolhida por alguma família eram as mais baixas possíveis, abandonada em um orfanato que mais parecia um depósito de futuros delinquentes. Seu nome era Clarisse La Rue, residia em Phoenix no Arizona, crescera naquela instituição desde que se entendia por gente… Sem sinal de quem seriam os seus progenitores, sem qualquer lembrança por mais estúpida que fosse para guardar de recordação, um absoluto nada.

Era raro alguma criança daquele local ser adotada e toda vez que alguém parecia ter algum interesse nunca era por ela. Em sua maioria os candidatos à adoção eram subnutridos, possuíam expressões vazias ou tristes, vestimentas das mais precárias e ela não saía muito dessa linha… Porém enquanto seus olhos verdes analisavam a cena de um dos seus companheiros de quarto conversando com um casal que vez ou outra visitava o local ela se perguntava o que havia acontecido com o que deveria ser a sua família. Quem era seu pai? Quem era sua mãe? O que teria ocorrido para que algum deles ou ambos lhe deixassem a sua própria sorte?

Mais um garoto estava partindo, por mais inveja que sentisse também sentia certo alívio pelo mesmo, ninguém merecia passar o resto da infância e a adolescência em um local como aquele. Podia ter pouca idade ainda, mas tinha noção que seu tempo estava passando, que ela talvez nunca saísse daquele lugar asqueroso para ter o conforto de braços amorosos… Talvez aquilo não fosse pra ela, afinal como poderia querer aquilo que não era? Amorosa? Gentil? Educada? Não… Não fazia parte de si. Contudo fizera uma promessa para ela mesma, não definharia ali como muitos outros, ela merecia coisa melhor, nem que o seu melhor fosse ficar sozinha vagando por aí.

—Não se sinta dessa forma, logo você também encontrará o seu lugar. - a voz amena e já bem conhecida trouxe algum conforto a todo o peso que sentia no momento.

Estava imersa em seus pensamentos, como acontecia inúmeras vezes, tanto que mal notara quando Rachel sentara ao seu lado. Uma mulher jovem, extremamente bela, cabelos e olhos cor de chocolate era uma das assistentes, trabalhava no orfanato há pouco tempo e fazia trabalho voluntário nas horas vagas em outras instituições… Era o único conforto de La Rue naquele inferno, alguém que poderia confiar de verdade.

"Seu lugar"... Ela preferia ser realista a se enganar, acreditar naquilo só lhe traria apenas uma falsa esperança de que algo bom estaria lhe aguardando, mas a forma que a mais velha falava denota alguma certeza que nem mesmo ela possuía mais.

As duas foram interrompidas por Samuel, um dos garotos com quem Clarisse dividia o quarto, o mesmo que estava sendo adotado. O menino de cabelos cor de areia e olhos azuis como um céu límpido - tinha seis anos - abraçou a companheira que foi pega de surpresa… O aperto foi forte, mas a garota estava tão atônita que não soube como corresponder, não se lembrava se algum dia ganhou ou deu algum abraço, mas pelo visto não.

—Obrigada por tudo, Clarisse. - agradeceu baixinho antes de voltar apressadamente para o casal que lhe aguardava com um sorriso no rosto.

—Ele sempre vai se lembrar de você. - comentou Rachel após a interação entre as duas crianças.

Clarisse ficou quieta, mas a assistente poderia confirmar com certeza que no rosto da garotinha tinha o resquício de um sorriso.

Samuel era um dos alvos favoritos dos valentões do orfanato, era pequeno, frágil e tinha medo de revidar qualquer uma das investidas, na verdade era apenas uma criança de seis anos, não tinha condições de revidar nada. Clarisse já estava acostumada com aquilo, não era raro vê-la no meio de brigas, com hematomas pelo corpo, ela era alta para sua idade, aprendera a se defender cedo e sozinha e por mais que tentasse se manter longe de confusão para não chamar atenção ela não conseguia compactuar com o comportamento doentio dos rapazes mais velhos.

—Srta. Berry, gostaria de falar com você um momento, por favor.

A morena que até então sorria amigavelmente e acariciava o ombro da menininha adotou uma postura mais séria e direcionou o olhar para onde a voz vinha. Do outro lado do pátio havia um homem de cabelos negros, bem penteados, barba cheia e olhos azuis penetrantes… Era Daniel, o novo diretor da instituição. Despediu-se de Clarisse lhe dando mais um afago nos cabelos castanhos e depois direcionou-se até a sala do seu chefe.

—O que aconteceu dessa vez? - perguntou em tom sério ao alcançar o mais velho.

—Novas reclamações sobre La Rue. - respondeu em tom um tanto pesaroso. Bem sabia que a assistente tinha um carinho especial pela menina e que estava se esforçando o suficiente para fazê-la interagir um pouco mais.

Rachel massageou a fronte levemente, ela sabia que tipos de reclamações eram, já conversara com Clarisse sobre isso diversas vezes, mas não era algo que tinha como evitar e por mais que não pudesse assumir ela entendia a garota. Ao entrarem no recinto um homem já bem conhecido pela Srta. Berry os aguardava… Não gostava dele, mas tinha que lhe aturar já que trabalhavam no mesmo local.

—Dr. Thorn… - cumprimentou Rachel apenas por educação, sentando-se na cadeira ao seu lado enquanto Daniel assumia o seu posto.

—Srta. Berry. - retrucou ele com o sotaque francês vagabundo forçado.

Dr. Thorn era um homem de postura rígida, ex-militar, tinha os cabelos curtos e grisalhos, rosto sempre bem barbeado, era alto e possuía um porte invejável para outros homens de sua idade, a única coisa que parecia destoar em sua aparência impecável era os olhos bicolores… Um castanho e o outro azul.

—Recebemos mais reclamações da La Rue, Rachel. - começou o diretor apoiando os cotovelos no tampo da mesa e direcionando os olhos azuis para sua companheira de trabalho. - os professores dizem que os sintomas estão cada vez piores e que isso tem afetado o comportamento dela… O Dr. Thorn fez uma avaliação e acha que infelizmente precisamos começar o tratamento com antipsicóticos. - pela voz do homem ele não estava nada animado com a possibilidade, mas ele só queria o que fosse melhor para a criança.

—Você a avaliou? - Rachel tentou não apertar com extrema força os braços da cadeira, mas sua sobrancelha ergueu-se lentamente. - sem a minha consulta ou permissão? Sabe que sou a única em quem ela demonstrou confiança até agora…

—Creio que esteja deixando se envolver demais com a menina. - rebateu o homem ainda mantendo sua postura enquanto destilava seu veneno. - ela vem apresentando vários traços de esquizofrenia e precisa ser tratada. Ela é agressiva, hiperativa, possui traços depressivos… Alguns professores alegaram que ela tem pequenos surtos de raiva e outras crianças disseram que já presenciaram seus "delírios".

—Poderíamos tentar uma terapia comportamental e em grupo. - insistiu Rachel tentando se concentrar em qualquer coisa que não fosse a vontade de socar o homem ao seu lado e a pontada na sua cabeça. - por favor, Daniel. 

—Analisarei melhor o caso. - os olhos azuis tentaram passar alguma tranquilidade para a mais nova. - agradeço pelo trabalho Dr. Thorn, mas acredito que um período maior para avaliar o comportamento de Clarisse seja o mais apropriado.

O mais velho crispou os lábios e as narinas dilatadas demonstravam o quanto aquilo não estava em seus planos, porém apenas arrumou sua gravata e partiu com os seus relatórios.

—Por favor, Rachel. Tente fazê-la cooperar um pouco mais. - pediu de forma cansada após a saída do doutor. - sei que ela não é uma criança ruim, mas estou em uma posição complicada.

A morena sorriu de forma aberta, estava agradecida. Tudo o que Clarisse menos precisava é que lhe tratassem como uma doente.

—Farei o meu melhor. - prometeu antes de também se retirar e voltar às suas atividades.

Quando refez o seu caminho Clarisse ainda encontrava-se sentada no banco cinzento frio, distraída balançando os seus pés.

—Teve problemas por minha causa? - perguntou com o tom de voz desanimado e a cabeça baixa, sentia-se culpada, afinal não era a primeira vez que a assistente levava seus "puxões de orelha" por estar em sua defesa.

—Não se preocupe com isso. - a morena lhe afagou os cabelos e sorriu tranquila. - como tem se saído com os estudos, está se esforçando? Precisa de alguma ajuda com o conteúdo?

Clarisse deixou-se afundar ainda mais no banco, tinha sido diagnosticada com TDAH e dislexia há algum tempo, ela não era preguiçosa apesar de todos os problemas sempre lhe deixarem pra baixo, também tinha problemas quando alguém colocava alguma expectativa nela - o que quase nunca acontecia até conhecer Rachel - mas tinha uma dificuldade realmente terrível em seus estudos e isso lhe frustrava… Sempre era motivo de chacota para com os outros alunos e isso resultava em seus picos de raiva.

—Melhorei um pouco com as suas aulas, mas continuo a ter dificuldades. - confessou enquanto suas mãos se concentravam no jeans surrado de sua calça.

—Sei que está fazendo o seu melhor… Ainda tem tido pesadelos? - perguntou com certo cuidado sabia que estava entrando em território delicado.

A garotinha sentiu um tremor lhe subir pela coluna, ela não gostava de tocar naquele assunto. Não tinha controle, quando soube o que acontecia foi por terceiros e quase nenhuma das crianças queria dormir no mesmo dormitório que ela… Tinha pesadelos realmente terríveis e às vezes ela poderia jurar que via coisas até mesmo quando estava acordada. Infelizmente depois do ocorrido todos se mantiveram ainda mais afastados, receosos, com medo, sussurravam que estava sendo consumida pela loucura aos poucos.

—Você acredita em mim, não acredita?! - a voz saiu falha, mesmo que a contragosto, odiava quando sentiam pena dela. - eu não estou inventando, eu juro.

—Eu acredito em você Clarisse. - queria não ter tocado no assunto, tudo o que menos desejava era que a menina se sentisse transtornada com aquele assunto delicado. - tenho algo pra você.

La Rue lhe olhou com um misto de curiosidade e alguma outra coisa que não soube identificar, como se algo nela tivesse quebrado e precisasse de um reparo urgente para poder funcionar normalmente outra vez. Aquilo lhe fez sorrir abertamente enquanto tateava os bolsos do seu casaco, havia colocado ali, tinha certeza.

—Me foi dado por alguém muito especial… Agora quero que fique com você. - disse enquanto pegava uma pulseira com uma delicada corrente de ouro e colocava no pulso esquerdo da menina. - Feliz Aniversário, Clarisse.

Os olhos verdes alcançaram o da outra como se não estivesse acreditando naquilo. Na delicada corrente havia um pingente de estrela, pequeno e delicado, mas quanto mais olhava para ele mais lhe dava a impressão que o objeto brilhava como uma estrela de verdade… Olhou para Rachel como se esperasse por algum tipo de brincadeira ou algo assim, mas não, a assistente apenas continuou a lhe olhar com os olhos amorosos cor de chocolate, sentiu os seus arderem de forma involuntária, e instintivamente lhe abraçou com toda a força que possuía. Berry lhe retribuiu com todo carinho que havia surgido por aquela criança, era a primeira vez que Clarisse abraçava alguém na vida.

—Você ainda vai encontrar o seu lugar, pequena. - sussurrou de forma quase que inaudível. - mais cedo do que pode imaginar.

 

~***~

 

Rachel teve que partir, infelizmente sempre acontecia, a assistente sabia do seu aniversário, até ela esquecera qual era o dia, a mais velha sempre possuía sorrisos amigáveis, olhares amorosos, o toque confortador. Tentou evitar confusões naquele dia, faria isso por Rachel, mesmo que precisasse se esconder na maior parte dele ou se isolasse no dormitório agora mais vazio que antes.

Quando a noite chegou não conseguia dormir, estava inquieta demais para tal, sentia calafrios como pequenas descargas elétricas, já passara por isso antes, não era um bom sinal. Estava apoiada no parapeito da janela, olhava para o céu aparentemente mais estrelado que nos outros dias, não era de fazer orações, nem sabia como fazê-la, mas pedia pelo impossível… Deitou-se novamente na cama já desarrumada, pode sentir algo embaixo do seu travesseiro, era tão fino que saberia se tivesse algo ali antes.

Suas mãos tremeram em expectativa, os olhos verdes se estreitaram com desconfiança colocou a mão por baixo e fechou os olhos… Havia algo lá. Segurou com toda a força que possuía e puxou. Era uma faca, a maior que já vira em sua vida, 34 cm em seu tamanho total, desembainhou a mesma da proteção em couro, deveria pesar quase meio quilo… Era uma Bowie Exploit Militar, como sabia disso? Não tinha a menor ideia. A lâmina em bronze celestial pontuda e serrilhada no dorso iluminava seu rosto, mesmo que o quarto estivesse em completo breu, no cabo em madeira havia uma inscrição em algo antigo, mas que pode ler sem muita dificuldade… "Ares".


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Notas finais do capítulo

E então meus amores o que acharam? Como disse antes os caps. dessa fic vão variar um pouco de tamanho, vai depender a qual personagem a Clarisse está relacionada no momento.

Conseguiram distinguir algum personagem da série? Se não... bem, alguém aqui lembra do Dr. Espinheiro da Maldição do Titã - terceiro livro? Bem, o nome dele é Dr. Thorn em inglês e eu achei que ficaria melhor usar a versão em inglês.

Vejo vocês nos comentários!!!



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