Naruto estava chateado.

Faz uns vinte minutos que voltaram de uma social com uns colegas de curso da Hinata e ela já tinha notado o incomodo do namorado.

Chegaram ao quarto que ele divide com Shikamaru e o loiro parecia deslocado, no próprio quarto. Havia trocado pouquíssimas palavras e o pior de tudo, ele estava revisando suas próprias anotações.

Com certeza ele estava chateado, mas ela ainda não sabia ao certo com o que.

Hinata deitou na cama e pegou um livro, mas jamais se concentraria. Esperava que ele dissesse o que estava errado quando sentisse vontade, mas ela mesma começava a ficar impaciente.

— As crianças têm mais ossos em seu corpo do que os adultos – comentou, sem desviar os olhos do livro no qual ela só tinha lido uma linha.

— O quê? – Ele girou um pouco a cabeça para fitá-la.

— Eu disse que as crianças têm mais ossos em seu corpo do que os adultos. É uma curiosidade – repetiu, desviando o olhar do livro para ele.

— Ah, sim... – Ele pronunciou e então coçou a nuca, como se decidisse o que fazer.

— Posso saber o que está acontecendo?

— Como assim?

— Bem, é sábado à noite e você está fingindo que está estudando, em quase total silêncio. E eu estou aqui na sua cama, fingindo que estou lendo.

O jovem loiro suspirou, desviando o olhar, passou a mão no rosto e passou a balançar a perna freneticamente. Hinata percebeu que não era chateação, era mais.

— Com o que está irritado?

— Com absolutamente todos os garotos sem noção da sua turma – disparou. A expressão de confusão em Hinata foi tão clara que ele continuou – É sempre desse jeito com você? Eles sempre te dão toda aquela atenção?

Hinata estava surpresa. Ela tinha notado o incomodo dele, mas não achou que seria tanto.

— Desmembre esse “Toda aquela atenção”, por favor – Pediu.

— “Hina é boa demais pra esse curso” – Imitou exageradamente – “Hina é fantástica”, “Hina é uma garota fora do comum”, “Não sei o que faria sem a Hina”, “Hina isso”, “Hina aquilo”... “Hina”, não Hinata.

— É sério isso? Você sabe que eles estavam só brincando com você, não sabe?

— Os olhares não tinha nada de brincadeira e eu estava lá, com você – Acusou.

Ele disse quase raivoso e a reação da Hinata foi sorrir, deixando-o mais inconformado.

— Não é nada engraçado.

— Naruto, você está com ciúmes? – Perguntou, no final da risada, só para confirmar.

— Ciúmes? Eu estou possesso – Completou ficando de pé – Como é quando eu não estou por perto? Você sempre responde a todos eles?

Hinata o olhou por um momento e respirou fundo, ficando em pé também. Ela tinha aprendido a lidar com os colegas de turma e Naruto já conhecia a todos, mas era a primeira vez que saiam todos juntos e talvez tenha sido demais para ele.

Também é a primeira vez que ele reage assim, com ciúmes transbordando pelos poros.

— Como você acha que é? Acha que eu encorajo eles? – A morena perguntou cruzando os braços.

— Não intencionalmente, mas você é uma menina legal, é linda... Talvez, sem querer...

— Talvez eu sem querer os encoraje a dar em cima de mim?

— Eu não disse isso.

— Então diz – Hinata o fitou seriamente e o viu vacilar. O loiro colocou as mãos na cintura e bufou baixinho, fitando o chão, então ela continuou – Naruto, absolutamente todos os garotos estavam implicantes? E só comigo? – Ela perguntou, mas ele não respondeu – Todos eles estavam dando em cima de mim?

— Não, mas dois deles, sem sombra nenhuma de dúvidas, estavam te olhando de um jeito... – Afirmou, respirando fundo, então voltou a fitá-la – O Toneri gosta de você e ele nem finge que não... Eu posso até admitir que o restante estivesse só implicando, mas não espere que eu fique passivo assistindo isso.

— Hmm... Que pena – Ela cruzou os braços e baixou o olhar, fingindo decepção, deixando-o confuso – Só dois deles? Eu já estava começando a me sentir muito irresistível, sabe?

— Hinata, não faz isso – Ele alertou irritado e ela voltou a rir.

— Tudo bem, então vamos por os pingos nos “is”. Não sei do outro, mas é verdade que talvez Toneri goste de mim... Ele demonstrou interesse algumas vezes e realmente nem tenta disfarçar... Tanto quanto aquela Shion absolutamente gosta de você – Alfinetou. Já fazia muito tempo que ele queria falar dessa menina, mas não achava prudente – Como é com ela, quando eu não estou por perto?

— Ah, Hina, por favor, você conhece a menina, ela é sem limites, pra não chamar de louca. Você está preocupada com ela?

— Você a encoraja?

— Claro que não, de forma alguma – Respondeu ofendido.

— Você a esnoba, vira a cara pra ela quando ela fala com você? – Perguntou calmamente.

— Não cheguei a esse ponto, você sabe que não precisa disso Hina, eu não me importo com... – Naruto parou ao perceber onde ela queria chegar. Era hipocrisia não admitir que ele chamava atenção. E meninas como a Shion não queriam saber se ele namorava ou não, elas apenas insistiam. Mas ele sabia bem o que queria.

E tinha certeza que Hinata também sabia. Então ele levou as duas mãos à própria nuca, irritado com ele mesmo.

A jovem morena pacientemente esperou que ele absorvesse tudo.

— Eu não incentivo ninguém – Ela repetiu, fitando-o. Ele a olhou por um breve momento e se aproximou, segurando uma de suas mãos. Baixou a cabeça até o ombro dela e descansou por um momento.

— Eu sei, eu sei... Me desculpa. Eu não gostei do modo como ele te olhou – Levantou o olhar para ela,  enquanto entrelaçava seus dedos – Porque eu sei bem o que aquele olhar significa.

— Tudo bem sentir ciúmes, eu sei bem o que é isso, mas você também sabe, muito bem, que o seu olhar é o único que me importa, não é? – Perguntou, e ele balançou a cabeça afirmando – Que bom... E eu não sou tão irresistível assim pra ter mais de duas pessoas interessadas em mim, tenho certeza que seu ciúmes cria peças em você – Falou com convicção.

Naruto sorriu como se achasse muita graça no que ela tinha dito.

— Menina... – Ele falou suavemente, enquanto segurava a face dela entre suas mãos – Você é inteiramente irresistível.

Então a beijou suavemente, tentando se desculpar pelo comportamento. Queria transmitir confiança, mostrar o quanto ele a queria. Porém o beijo tomou um rumo inesperado. Talvez fosse a vontade combinada com a adrenalina ainda presente pelo pico de irritação, fato era que estava começando a perder o controle.

Em algum momento, Hinata pode senti-lo se curvar e colocar as mãos por trás de sua coxa, para levantá-la, surpreendendo-a. Ele girou o corpo e a colocou sentada na mesa, onde momentos antes ele fingia estudar, facilitando ainda mais o beijo.

O próprio Naruto percebeu o descontrole e diminuiu o ritmo, afastando-se a contragosto, ainda respirava ofegante quando a fitou. Hinata também estava ofegante, corada e totalmente linda.

Ele precisava de uma distração.

— A língua é formada por vários músculos e por isso nunca fica cansada.

Hinata sorriu alegre.

— Isso é uma curiosidade ou está me afirmando que você é incansável?

— É uma curiosidade, sua boba.

— Bem, eu sei que você não usa esse nosso esquema em vão então a pergunta é: Está ganhando tempo ou coragem?

— Não é pra ler através de mim – Ele advertiu sorrindo – Na verdade eu queria criar uma distração – Falou jogando todo o cabelo dela para trás, o que não foi uma boa ideia, pois deixou bastante do pescoço dela amostra.

— E resolveu falar de língua? Depois desse beijo – Perguntou sarcástica, o fazendo rir.

— Foi a única coisa que me veio a cabeça – Se defendeu, sorrindo. As mãos do loiro estavam inquietas. Mexiam no cabelo dela, nos braços, brincavam com os botões da camisa dela.

— Bom... O corpo libera adrenalina quando está sob forte estresse, medo ou constrangimento, o que aumenta o fluxo de sangue e dilata os vasos sanguíneos do rosto, por isso as pessoas ficam vermelhas.

— A história da sua vida – Ele afirmou e riu quando ela revirou os olhos – O coração humano, bate em média, cem mil vezes por dia.

— O número de batimentos dobra durante o sexo – Ela disse, quase pegando a surpresa dele no ar.

Naruto engoliu em seco, sentindo a pele esquentar. O que lhe fez lembrar:

— Os batimentos acelerados fazem mais sangue circular nos vasos mais próximos da pele, então eles dilatam e a pele fica mais quente – Naruto deslizou a mão pelos braços de Hinata e pode senti-la se arrepiar.

Ele a provocaria por isso, se ele próprio também não estivesse arrepiado. Depois de um breve momento de hesitação, foi Hinata quem tomou a iniciativa.

— O Shikamaru... Não vem... Esse fim de semana... Não é?

Naruto percebeu o esforço que ela fez para não gaguejar e, mesmo corada, ela o fitava diretamente nos olhos, o tempo todo.

E assim eles permaneceram por um tempo muito maior que o esperado, apenas se olhando, se apreciando mutuamente.

Sem se importar quanto tempo havia passado, Naruto finalmente se inclinou para beija-la, ainda sem deixar de olhá-la. O beijo recomeçou devagar, exploratório. Aos poucos se tornando intenso, mas diferente do beijo urgente a pouco trocado. Porém, certamente carregado de sentimento.

Quando eles voltaram a se olhar, procuraram qualquer resquício de incerteza, um no outro, mas já não havia.

Eles se pertenciam de corpo e alma.