Bem Perto escrita por ro_dollores


Capítulo 4
Encontro


Notas iniciais do capítulo

Ele chamou, ela aceitou!



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Grissom estava aparando a barba, rindo de si mesmo, lembrando o quanto se sentia bem em companhia dela. O problema era que ele estava ocupado demais com seu livro, seu agente estava o pressionando, sendo cobrado pela editora. Sua vontade era passar mais tempo com ela.

O café estava delicioso, ela contou sobre sua mania de cafeína, que muitas vezes precisava se policiar, ele foi solidário à ela, dizendo que a profissão os viciava.

Ela atendeu duas vezes o telefone. Uma delas sobre trabalho, algo acontecendo na prisão federal e outra era sua mãe. Pela maneira como respondia à dezena de perguntas, ele percebeu que Sara era tratada com muitos cuidados, foi reconfortante. Seu carinho por ela subiu mais um degrau, quando seu pai também quis falar com ela. Ela riu com ele, depois terminou declarando que os amava.

“Meus pais acham que eu tenho dez anos!”

“E isso é muito bom!”

“Sim … muito bom, menos quando querem colocar fitas coloridas em meus cabelos.” - Ela quase caiu da cadeira quando ele a encarou com os olhos arregalados, acreditando na brincadeira dela.

Os dois riram, confortáveis com a presença um do outro.

Logo ele estava se despedindo, se desculpando por tomar o tempo dela.

“Não diga isso, sua companhia é muito agradável!”

Surpreso, ele devolveu a gentileza.

“Eu … digo o mesmo!”

Grissom finalizou sua tarefa e olhou no espelho, inspecionando com atenção. Estava perfeito. 

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Sara olhou para as águas calmas e sorveu mais um gole de seu achocolatado quente, o clima gelado, criava uma ilusão de ótica sobre o lago, a visão esfumaçada como um filme noir. Era lindo! O clima ali era tão maluco, virava de calor para frio em minutos. 

Com passos lentos ela subiu o jardim, coordenando mentalmente uma agenda para o dia.

Na noite anterior, ela havia recebido algumas pautas de uma reunião  para aquela manhã, e estaria ocupada por quase todo o dia, repassando casos e impressões.

Ela preparou algumas refeições, vários sanduíches, abasteceu sua máquina de café e foi tomar seu banho.

No horário marcado, ela estava pronta e cheia de energia para um longo dia. Acostumada com aquele tipo de reunião, sua mente ligou o modo foco total e deu início aos trabalhos.

Grissom estava a todo vapor com seu livro, ele decidiu adiantar o que pudesse para poder reservar um tempo para si. Talvez pudesse incluir Sara em seus planos, o que na verdade era seu segundo maior desejo.

Se ele não tivesse a conhecido, com certeza, mal colocaria o nariz para fora da porta. Seus dias só precisavam ser elaborados com organização e concentração, otimizando seu tão precioso tempo. 

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Sara sentiu cheiro de chuva e notou que a sala estava muito escura, ela acendeu algumas luzes e voltou para finalizar seu relatório de pesquisa.

Todas as pautas foram cumpridas com sucesso.

Ela podia se dar ao luxo de fazer alguns passeios, ou quem sabe, se divertir um pouco e, contando com alguma sorte, ter um tempo de qualidade com seu vizinho.

A ideia lhe pareceu muito tentadora. O problema seria como abordar sem parecer tão atirada.

Um forte clarão e depois a escuridão total. Alguns segundos depois, a luz voltou, os geradores haviam sido acionados, com toda certeza.

Seus ombros estavam doloridos, seus olhos cansados, ela ligou a TV e se esticou no sofá, adormecendo imediatamente.

O barulho da campainha a despertou, ainda sonolenta, tentou se acostumar com o ambiente. Devagar ela se sentou e esticou seu corpo descansado.

“Só um minuto!”

Ao abrir, sua surpresa foi imensa.

“Você está ocupada?”

“Acabei de acordar, adormeci no sofá.”

“Desculpe se estou atrapalhando seu descanso.”

“Não atrapalhou, se tivesse feito, eu estaria soltando fogo pelas ventas, sou muito mal humorada quando acordo!”

Grissom ficou olhando para ela, tentando formar as mesmas palavras que ensaiou durante horas. Se sua coragem longe dela parecia avassaladora, estar frente a frente lhe trouxe uma covardia implacável. Ela era linda, com seus olhos um tanto inchados e aquele sorriso tão natural, traduzindo seu bem estar.

“Entre!”

Ele estava com os cabelos molhados, cheiroso e bem vestido em suas calças escuras e camisa branca com os punhos abotoados. Lindo!.

Ele deu dois passos para frente e girou rapidamente para ficar de frente a ela.

“Aconteceu alguma coisa?”

“Você gostaria de … jantar comigo?”

Ele não acreditou em suas próprias palavras! Sem lhe dar tempo para se arrepender, ou simplesmente pensar na possibilidade de ser rejeitado, ele ouviu imediatamente.

“Eu gostaria … muito!”

Para ser honesto consigo mesmo, ele quase não registrou que ela havia aceitado!

“Sério?”

“Sim … sério, e por que não?”

Ele arqueou suas sobrancelhas, tão encantador! Ela suspirou sem querer. Parecia um juvenil, suas mãos estavam suando e ela se sentiu com tranças e uma jardineira florida.

“Você precisa de um tempo … claro!”

“Estou mal vestida?”

Ele a olhou de cima a baixo, pés nus, calças de moletom e um agasalho verde escuro, sem saber exatamente o que dizer sem parecer grosseiro. Antes que proferisse algo, ela começou a rir desembestadamente.

“Desculpe, eu não pude perder a deixa … queria que olhasse para você agora. Me perdoa de verdade, estou brincando, Grissom!”

“Que alívio!”

“Eu sei … bem, que horas são?”

“Quase sete …”

“Pode ser às oito?”

“Sim … leve o tempo que precisar.”

“Nunca diga isso à uma mulher … você pode se arrepender!”

“Anotado. Você … tem algum lugar que … gostaria de ir?”

“Tem um restaurante no bairro vizinho que acho que vai gostar, é aconchegante e casual. Você estaria perfeito para o ambiente!”

Ele olhou para si mesmo, muito tímido, a ideia era apenas complementar com um blazer de corte simples e sapatos esportivos.

“Ok … estarei esperando em frente às oito, então!”

Ao atravessar a rua, sua ficha caiu como uma bomba. Ele tinha tido mesmo a coragem de fazer o convite? Havia realmente ensaiado muitas vezes e desistido outras tantas que precisou ser lembrado por sua razão que era um homem bem acima dos quarenta e não um adolescente.

Essa era a verdade, Sara deveria ter muitos anos a menos que ele, mas talvez somente em sua mente aquilo faria alguma diferença. Ela não parecia se importar. O que, com certeza, o fizera tomar a decisão certa, ela não era mesmo indiferente à ele. Ele olhou para o céu escuro, o tempo ainda estava carregado, em previsão de novas chuvas, não era um clima perfeito para uma noite de luar, mas quem sabe, assim como ele, era não se importaria.

A hora seguinte pareceu demorar dias para chegar, muito nervoso, ele olhou para o relógio a cada volta do ponteiro, e às oito em ponto, ele esperava sua convidada do lado de fora de sua Mercedes, em pé, os braços cruzados, assim como suas pernas, a cabeça inclinada de lado, tentando acalmar as batidas frenéticas de seu coração desacostumado.

Quando a porta se abriu,  a luz da sala iluminou seu entorno, criando feixes brilhantes em volta de seu corpo bem feito.

Ela estava linda e elegante em suas calças de linho natural, camisa clara e um casaco de corte fino e caimento primoroso, perfeito em seus ombros. As botas de salto lhe deixavam ainda mais alta e imponente. Os cabelos lisos, bem escovados e brilhantes.

“Você está linda … me permita dizer!”

Ele esticou sua mão para que ela lhe desse a sua, seus dedos carregaram os dela, contornando o carro luxuoso e a acomodando no banco do passageiro.

“Obrigada, cavalheiro!”

Pela centésima vez, ele admitiu que aquele perfume lhe tirava tudo, a razão, o raciocínio lógico, o rumo de seus passos, lhe deixando tonto e embevecido.

Ele balançou a cabeça, e com um sorriso bobo, se sentou ao lado dela.

Sara notou que ele estava um tanto nervoso, ele abaixou levemente a cabeça e franziu a testa, a olhando com aqueles olhos tão azuis que nada parecia mais incrível.

“Podemos ir?”

“Devemos …”

O caminho até o bairro vizinho foi agradável, o som de música clássica encheu o interior da suv com cheiro de couro novo, fazendo seu espírito levitar de leveza.

“É sua primeira vez neste lugar?”

“Sim … não conheço absolutamente nada por aqui!”

“Não se preocupe com isso, conheço cada pedacinho desta cidade!”

“Isso me deixa mais tranquilo.”

Assim que se acomodaram em seus lugares e fizeram o pedido, ele a olhou com ternura. Ela retribuiu em igual encantamento.

Eles falaram sobre o trabalho, sobre o chalé e suas evoluções, ele contou sobre seu livro de entomologia, descreveu cada membro de sua equipe com um toque de bom humor.

Ela sentiu que seu trabalho era seu mundo, e seus subordinados, sua família.

Sara ouviu cada palavra, prestando atenção em cada gesto com tanta familiaridade que houve momentos em que achou que o conhecesse há anos.

Assim como ela, ele não perdeu uma só sílaba das histórias malucas de sua infância e adolescência, sua vida acadêmica, seus amigos dentro do Departamento. 

Em um momento antes da sobremesa, alguém se aproximou e um som maravilhoso de saxofone encheu seus ouvidos, em uma linda canção. O ambiente se tornou extremamente refinado com o bom gosto do toque sinfônico e perfeito.

Sem que pudesse evitar, ela fechou os olhos e deixou que a música a levasse por um caminho de sonhos. Ela não era uma princesa, a realidade de seu mundo sabia que príncipes e castelos não eram para ela, mas aquela sensação de felicidade lhe trouxe a certeza que ela estava se apaixonando por ele. E foi assustador!

Assim que abriu os olhos, ela viu o tom escurecido dos dele, traduzindo o que ele não precisava dizer. Havia paixão e desejo!

Suas mãos se tocaram quase que naturalmente. O toque macio dos dedos fortes a arrepiou.

O garçom se aproximou neste momento, interrompendo a magia do instante.

Ela olhou para o prato elaborado e se lembrou de Bruce, novamente. O que mais a apavorou foi que não se lembrava dele ter pedido a sobremesa, talvez por estar tão concentrada nele. Ele era um homem incrivelmente bonito e encantador com seus cabelos quase grisalhos e levemente encaracolados, a barba perfeita e aqueles olhos, muito azuis, profundos e misteriosos.

Grissom não conseguia desviar sua atenção dela, como se tivesse medo que a imagem dela se dissipasse e ele a perdesse. Era inacreditável que aquilo estivesse acontecendo com ele. Como tinha chegado aquilo? Ele não era suscetível a romances. 

“Não me lembro de ter pedido a sobremesa.”

“Não pediu … tomei a liberdade de anotar na sugestão que estava sobre a mesa e entregar ao garçom.”

“Isso foi sutil e surpreendente.”

“Isso significa que gostou?”

“Sim … com certeza, eu mal percebi! Obrigada por ser tão observador!”

A sobremesa dela continha damascos e creme branco, assim como o bolo que ela pedira quando se encontraram por acaso no almoço.

Ele sorriu de lado, daquele jeito quase infantil, o olhar baixo, quase tímido.

Sara olhou para o outro lado da sala, curiosa. Ela não sabia que havia uma pista de dança, talvez fosse recente. Ela notou um pequeno palco, luzes escuras e duas banquetas altas ocupadas por uma dupla bem vestida, a música era agradável e ela sentiu vontade de dançar, mesmo sendo uma atividade que não estava em suas preferências.

“Você gostaria de me acompanhar?”

“Não sei … eu não sou muito boa com isso.”

“Eu também não … então … nada temos a perder.”

A última vez que havia dançado tinha sido com Bruce, parecia um tempo tão distante.

Grissom tocou delicadamente em suas costas e eles se uniram no centro do pequeno salão.

Assim que se tocaram Sara teve um choque imediato, era como se o encaixe fosse perfeito, como se tivesse vivido aquilo, a maneira como ele a segurava, a forma dele a conduzir, a chama avivada pelo atrito de seus corpos. 

Ela estremeceu.

“Sara … tudo bem?”

“Sim …”

“Você está tremendo …”

Eles se encararam e mesmo na semi escuridão, podiam sentir a tensão daquele encontro.

O calor queimando, seus corações tamborilando como se as pessoas ao redor pudessem ouvir.

Ele a abraçou com mais força, e a melodia os envolveu ainda mais. 

Assim que a música terminou eles voltaram para a mesa em total silêncio. 

A volta para casa foi diferente, o silêncio permaneceu, mas foi suave e tranquilo.

Eles se encararam diversas vezes cada vez que paravam nos semáforos pelo caminho, assim que ele estacionou em sua própria garagem, ele imediatamente contornou o automóvel até abrir a porta para ela e segurar em sua mão, para ajudá-la sair, muito cavalheiro.

Eles atravessaram a rua e pararam em frente à varanda dela.

“Obrigada pela noite, Grissom!”

“Foi maravilhoso estar com você, eu é quem devo agradecer!”

Eles se encararam, depois se aproximaram no mesmo espaço de tempo.


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Notas finais do capítulo

E então?



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