Bem Perto escrita por ro_dollores


Capítulo 3
Dando um jeito


Notas iniciais do capítulo

Pensando, pensando e agindo



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Sara se esticou no sofá e olhou para o teto. Aquela sensação de que o conhecia não parava de sussurrar em seus pensamentos. Ele era um homem muito interessante, e ela se lembrou que depois de Bruce ela mal olhava para os homens, com ele estava sendo diferente. Talvez a cura estava em evolução e ela não havia percebido. Ela precisava passar aquilo como insistia sua mãe. Ele seria alguém que sua famĺlia aprovaria com toda certeza, mesmo parecendo alguns anos mais velho que ela, e muitos outros mais que Bruce.

Ela balançou a cabeça e começou a rir.

“Volte para a Terra, Sara!”

Grissom destravou a grande porta que fazia frente ao jardim, depois se sentou em uma cadeira na varanda com seus pensamentos um tanto confusos.

Sara tinha aquele jeito que o deixava desconcertado, a maneira como ela se comunicava, as tantas vezes que ela parecia se lembrar de algo como se fosse um déjà vu. Enquanto ela não estava olhando, ele estudou seu perfil, a forma como ela lidava com a comida, degustando calmamente. Ela era linda, olhos lindos, e ele estava em um início de encantamento. Um tanto preocupado com a tristeza que ela demonstrou ao se lembrar do noivo que se foi. De repente ele se lembrou de Sofia, ela estava trabalhando com ele, havia pouco tempo, ela era bonita, e parecia interessada nele. Era confortável e fácil saber que ela o admirava, mas a verdade era que ele não estava totalmente disposto a viver um romance, não com ela. Se um dia acontecesse, ele precisava de mais, precisava de alguém que tinha algo de desafio, de sentimentos repentinos, algo que o despertasse. Pensando bem, ele parecia ter isso com sua nova vizinha. Sara era surpreendentemente diferente. E tinha um cheiro delicioso, quase erótico, sem ser vulgar, nem intencional. E era bom se sentir vivo daquela maneira. 

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A caminhada se alongou algumas quadras mais, ela olhou para o parque infantil, algumas crianças fazendo algazarra, muitas com suas babás, bem poucas com o que parecia ser os pais. Ela caminhou até os aparelhos a céu aberto, dispostos em um círculo pavimentado, se sentou em um deles e trabalhou os braços, ainda prestando atenção ao redor. De repente, ela reconheceu as costas largas, vestidas em uma camiseta cinza, as pernas fortes levemente arqueadas e a prazerosa visão de um traseiro bem recheado e perfeito em um moletom azul marinho.

— “Muito interessante”

Ela ouviu uma risadinha discreta e olhou rapidamente para o lado. Ela tinha dito em voz alta e com toda certeza, a pessoa estava prestando atenção nela e em seu vizinho. Ela enrubesceu imediatamente.

Grissom estava tão absorto em sua atividade que não prestou atenção na interação ao seu redor. 

Uma bola colorida bateu em suas pernas e ele se agachou para devolver o objeto a um garotinho que correu até ele. Ele tocou seus cabelinhos encaracolados e sorriu, logo depois saiu para a alameda que terminava no condomínio de casas.

Ela suspirou, achando engraçado como seu coração batia mais forte enquanto prestava atenção nele. 

Logo, ela estava percorrendo o mesmo caminho, precisava enviar suas conclusões e fechar mais um trabalho bem feito.

Enquanto isso, Grissom tomava uma ducha e pensava em Sara. O que ela estaria fazendo naquele instante? 

Ele precisava se concentrar em seu livro e bater a meta que se propôs, o máximo de páginas possíveis, sempre primando pela excelência, afinal ele tinha um nome a zelar.

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E era exatamente sobre sua vida que Sara estava pesquisando, ela se impressionou com seu trabalho, muitos artigos que ela já havia lido como pesquisa, estavam apenas ordenados com as iniciais de seu nome, inclusive um deles havia sido usado em um caso em que ela não havia participado. Não havia imagens, logo ela soube que ele não era uma pessoa pública, dessas que gostavam de se expor. 

Ela devorou a pesquisa como se investigasse um caso, ele era incrivelmente profissional, inteligente, profundo, detalhista. Talvez fosse a questão de achar que o conhecia, realmente, ele possuía dois livros e pela informação atualizada,  estava em andamento com um novo trabalho. O laboratório onde ele liderava uma equipe, possuía uma página bem abrangente sobre os componentes.

“Impressionante!”

E se ela o chamasse para um café, ou talvez um jantar? Seria muito abusado de sua parte? 

Sem que pudesse perceber, lá estava ela espiando a casa da frente pelas frestas da cortina de sua sala. Ela viu movimento no jardim, mas era Peter, aparando algumas árvores. Ela olhou para o vaso pesado da varanda e teve uma ideia, precisava de apenas um motivo para se aproximar da casa de Grissom, e o simpático e prestativo caseiro da vila, seria perfeito.

“Oi Peter!”

“Oi menina Sara … como vai? Precisa de algo?”

“Estou bem … será que pode ajudar a mudar um vaso de lugar?”

“Claro …”

Seu plano deu certo e ela viu a porta da frente se abrir imediatamente.

Grissom ouviu a voz dela e sentiu um calafrio imediatamente, o gesto de abrir a porta foi tão automático que ele mesmo se surpreendeu.

“Oi Sara …”

Ele estava com os cabelos molhados, uma camisa com alguns botões abertos expondo o pescoço forte, calças jeans e tênis.

Ele a olhou de cima a baixo, aprovando as roupas justas, sentindo realmente muitas batidas descontroladas dentro do peito.

Assim como ele, o coração dela se alegrou pulando em festa com o plano perfeito para chamar a atenção dele.

“Oi Grissom! Como está?”

“Vou bem … você precisa de algo?”

“Estava pedindo ao Peter para me ajudar com um vaso na varanda.”

“É algo que eu posso fazer?”

‘Com esses braços com certeza sim!’ Seu pensamento gritou e ela se segurou para não deixar transparecer que seria maravilhoso que a ajudasse.

Peter estava esperando a resposta dela, sorrindo. Era nítido a eletricidade entre eles. Ele poderia ser um velho jardineiro mas sua percepção ainda estava afiada.

“Vou aceitar sua ajuda …” - Ela se virou para Peter e o viu sorrir. - “Obrigada Peter mesmo assim, sua ajuda fica para a próxima.”

“Sem problemas, menina Sara!”

Grissom atravessou a rua ao lado dela, aquele cheiro que o chamava como se ela possuísse sua mente.

“O que você quer que eu faça exatamente?”

“É aquele vaso de exórias, vou empurrar para  a direita para aproveitar mais o sol da manhã!”

“Vamos lá, menina Sara!”

Ela deu uma gargalhada alta.

“Ele sempre me chamou dessa forma, nos conhecemos há muito tempo, ele é nosso homem de confiança, muito trabalhador, me ensinou muito sobre plantas. Eu adorava ajudá-lo.”

“Eu vi uma agenda pendurada na cozinha sobre os dias que ele realiza suas atividades.”

“Tudo aqui é muito organizado!”

“Eu notei.”

Grissom tocou o vaso de cimento muito pesado e olhou para ela, esperando que dissesse qual a melhor posição.

“Apenas mais um pouco …”

Ele o fez, depois de ver ela balançar a cabeça em aprovação, sem saber que antes ela estava agraciada com uma grata visão,  que belo traseiro ele tinha! Ele limpou as mãos uma na outra e sorriu.

“Venha lavar as mãos …”

Eles entraram e ela indicou o banheiro, querendo pular de alegria, mas se contendo.

Instantes depois ele surgiu um tanto sem jeito, olhando ao redor. 

“Aqui é muito bonito …”

“Obrigada … meus pais mudaram muita coisa … ficou muito aconchegante.”

“Ficou muito bom, realmente ….”

Houve um pequeno silêncio, depois os dois disseram algo juntos e riram da situação.

“Você primeiro, Sara …”

“Só queria agradecer ….”

“Não foi nada …. eu … preciso ir … tenho uma chamada de vídeo com meu agente!”

“Ah … claro, seu livro …”

Ele olhou um tanto assustado, não havia tocado nesse assunto com ela!

“Então é isso …” - Ele ficou olhando para ela com as mãos nos bolsos e fez o mesmo, eu … preciso mesmo ir …”

“Oh … sim, claro!”

Ela viu ele atravessar a rua sentindo algo tão bom, tão vivo, como cheiro de chuva, e folhas no orvalho! 

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Por quase uma semana, ela não conseguiu ver seu vizinho interessante.

Ela esteve ocupada em algumas viagens para a cidade, repondo suprimentos e artigos de primeira necessidade, passeou pelas avenidas largas e algumas livrarias. O cheiro delas era delicioso, ela viajava nas muitas possibilidades dos títulos que saltavam aos olhos.

Animada, ela resolveu passar uma tarde inteira em uma delas, sua mente treinada na leitura dinamica lhe deu qualidade de tempo e aproveitamento máximo.

Tudo parecia interessante!

Ela fez uma pausa, em uma lanchonete agregada, a decoração escandinava com um toque tropical a fez lembrar de seus projetos de um apartamento que ela e Bruce estavam planejando. Era muito agradável.

Mas não foi em seu passado que sua mente viajou! Ela se imaginou dividindo uma mesa com Grissom e sorriu com a ideia, talvez, quem sabe, se houvesse uma oportunidade, ou talvez, pudesse ‘criar’ a ocasião.

Sim, ela estava muito animada em saber mais sobre o cientista interessante com trejeitos encantadores e conversa agradável e, além de tudo, um cheiro hipnotizante, sem nem imaginar que era exatamente a mesma sensação que ele tinha.

Ele desligou o telefone, e ficou olhando para o aparelho, pensativo com as últimas palavras de Catherine, sua competente substituta.

“Não se isole, Gil, olhe para os lados, interaja com as pessoas, pelo amor de Deus! Você apenas foi sozinho, isso não significa que precisa continuar sozinho!”

Mas que diabos de poder tinha aquela mulher, parecia adivinhar que ele estava tentado a se aproximar mais de uma mulher com olhos e cheiro incríveis, a mais interessante que ele havia conhecido.

Através das janelas da sala, ele viu o Liberty estacionar antes do portão da garagem.

Ela desceu, os cabelos ao vento, ondulados de uma maneira tentadora, muitas sacolas e um sorriso por acaso nos lábios. Ela estava feliz, emanando vida, possibilidades. Ele criou uma coragem quase absurda ao olhar para aquela imagem e abriu a porta.

Ao notá-lo ela acenou e abriu a porta de trás para novos pacotes.

“Precisa de ajuda?” - Ele alterou o tom de sua voz para que ela pudesse ouví-lo de longe.

“Não quero abusar … está ficando recorrente!”

Ele atravessou a rua fingindo não ter ouvido direito, agarrou o restante dos pacotes e seguiu atrás dela, exalando lentamente. 

“Não é preciso se incomodar!”

“Estou aqui pela gorjeta!”

Ela começou a rir, o som do paraíso para ele.

“Posso pagar com um café? Tenho uma máquina novinha!” - o coração dela quase parou com os segundos seguintes.

“Deve … menina Sara!”

“Sente - se, preparo rapidinho!”

Ele não obedeceu, ficou ao lado dela, descompactando as muitas sacolas, olhando curioso a quantidade exorbitante de comida que ela estava guardando nos armários e no refrigerador.

“Eu como muito bem, tenho muita sorte de ter uma genética boa, para sua informação!”

“Mas … eu não disse nada!”

“E nem precisa!”

“Sou tão óbvio assim?”

“Não! Eu é quem sou boa nisso!”

Ele sorriu docemente, enquanto ela puxava uma cadeira para ele.

“Sente-se e se aquiete, senão, não vai ganhar um pedaço de bolo.”

Era bom estar ali.

Era bom ter ele ali!


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Notas finais do capítulo

Até o próximo



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