Uma chance para o amor! escrita por Nane yagami, Alluka Senji


Capítulo 4
Estranho domingo!


Notas iniciais do capítulo

Olá amadinhos, como estão?

Depois de algum tempo trouxemos mais um capitulo.

Aviso: Capitulo não betado.

Aviso: A imagem que abre o capitulo foi encontrada no Google, créditos ao auto.

Desejo uma boa leitura todos!



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Não te irrites, por mais que te fizerem
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio.

Mario Quintana

 

 

Estranho domingo!

Quando o domingo anterior à semana do inicio das aulas chegou, Milo incorporou o pai ditador, ou melhor, A mãe precavida. Pontualmente às oito da manhã, vestido com um avental e munido com uma frigideira e uma colher de pau saiu batucando pela casa, promovendo um verdadeiro panelaço, a fim de acordar os adolescentes.

— Vamos acordando, cambada. Hoje teremos um dia cheio! – Dizia ao passar pelo corredor do quartos dos irmãos.

— Deixa de ser irritante! – Disse Shun, saindo do quarto vestindo um pijama curto de mais para ser algo masculino. E tampando os ouvidos com as mãos.

— Fica quieto! Cacete...— Ikki saiu com uma expressão assassina e armado com dois travesseiros.

Lançou um em Milo assim que saiu do quarto.

— Errou! – Gritou o mais velho.

Ikki ficou vermelho de raiva.

Bem, todo mundo sabe que não se acorda um leonino cedo nas férias – ainda mais sendo o ultimo dia. – muito menos com um barulho irritante como aquele. Qualquer juiz no mundo lhe daria causa ganha se ele conseguisse sufocar o irmão mais velho com aqueles travesseiros.

A irritação do moreno foi um motivo a mais para Milo aumentar a velocidade do panelaço.

— Credo! Pra que essa euforia logo cedo? – Shaka também acordou.

O loiro saiu do quarto igual a um zumbi, limpando os olhos e bocejando. O short laranja e um pouco transparente chamou a atenção dos irmãos que pararam com a algazarra momentaneamente. Shaka tentou muito ignorar a distribuição de gratuita de energia, mas foi impossível se manter dentro do quarto.

Nem teve tempo para se vestir adequadamente. E só o notou porque havia três pares de olhos totalmente perplexos voltados para si. O virginiano cruzou o braços em defesa; aquilo era constrangedor!

— Pergunta pra esse idiota! – Resmungou Ikki.

O moreno foi o primeiro a sair do transe momentâneo que o loiro causou.

Mas como é exibido esse loiro! Pensou o leonino apanhando o travesseiro do chão, planejava retornar para o quarto, mas Milo o impediu.

— Nem pense que vai voltar a dormir mocinho. – Uma veia latejou na testa de Ikki. – Nenhum de vocês vai. Hoje é dia de revisão.

— Não precisava ter acordado a gente tão cedo, Milo. Podemos fazer isso mais tarde. – Shun choramingou.

O olhar de Milo se tornou ameaçador.

— Quando estivermos sem tempo para remediar? Não senhor. Vamos revisar cedo!

— O que exatamente vamos revisar? – Shaka perguntou, ainda de braços cruzados.

— Tudo! Materiais escolares, uniformes, horários... – Milo contava nos dedos conforme falava. – Vão deixar tudo organizado para amanhã.

— Podemos ir de metrô? – Shun perguntou. Lembrava-se muito bem como Milo era no primeiro dia de aula.

— Não no primeiro dia, querido. Sabe disso. – O sorriso de esfinge de Milo fez Shaka estremecer.

— Que saco! – Resmungou Ikki.

— É mesmo... Um grande saco. – Milo falou, exasperado. – Tudo o que é essencial é um saco! Agora parem de reclamar. Estou esperando vocês lá embaixo. Fiz Waffles e ovos mexidos para o café da manhã. Então desçam logo antes que eu coma tudo.

— Que mistura mais estranha. – O indiano fez careta.

— Babaca, se comer tudo vai ter que fazer de novo! – Implicou Ikki.

— Você já tem quase dezessete, Ikki. Acho que consegue se virar na cozinha. – Devolveu Milo, o sorriso despretensioso arrancou suspiros resignados dos Amamiya. – Estou aguardando, não me façam esperar muito.

Milo desceu cantarolando.

— Espero que ele não grude amanhã. – Ralhou Ikki, antes de entrar no próprio quarto.

Shaka e Shun fizeram o mesmo, antes que o barulho infernal retornasse.

—ooo0ooo—

Alguns minutos depois e a algazarra acontecia durante o café. Mais precisamente na cozinha, lugar onde os adolescentes presenciaram uma cena bastante inusitada. Ao menos para Shaka que nunca vira algo tão... Tão... Nem sabia explicar! Mas ele se sentia profundamente constrangido em ver um empolgadíssimo Milo escutando Rolling In The Deep através do aparelho celular. Bem, talvez, se fosse somente isso Shaka poderia conviver sem maiores constrangimentos, mas o loiro estava praticamente incorporando Adele, no refrão da musica, com uma colher de sopa servindo de microfone enquanto ele fitava alguns ovos e gingava no ritmo na musica como se estivesse em um palco.

Shaka parou na entrada, Shun ao lado dele. Ikki, no entanto, entrou na cozinha e fez sua melhor expressão descrente. Quem diria que aquele era o responsável da casa?

— Mas que porra é essa? – Ikki esbravejou.

O que não afetou em nada o escorpiano que além de continuar cantando, ainda virou-se para fazer uma apresentação para os irmãos.

We could've had it all

Nós poderíamos ter tido tudo

(You're gonna wish you never had met me)

(Você vai desejar nunca ter me conhecido)

 

Rolling in the deep

Rolando nas profundezas

 

(Tears are gonna fall, rolling in the deep)

(Lágrimas cairão, rolando nas profundezas)

 

You had my heart inside of your hand

Você teve o meu coração na palma da sua mão

 

 (You're gonna wish you never had met me)

(Você vai desejar nunca ter me conhecido)

 

And you played it to the beat

E você brincou com ele, no ritmo da música.

 

(Tears are gonna fall, rolling in the deep)

(Lágrimas cairão, rolando nas profundezas)

— Deixe de palhaçada. Eu não acredito que você realmente comeu todos os ovos? – Ikki ralhou.

— E vai deixar queimar o que está preparando agora. – Shaka falou tentando soar calmo.

Aos poucos o indiano descobria como era fazer parte de uma família. Como algo banal conseguia parecer tão essencial. Como alguns traquejos e hábitos eram indispensáveis e fazia com que ele se sentisse cada vez mais um estranho.

Um mundo totalmente novo e desconhecido!

Seguindo Shun e Ikki até a mesa, dessa vez ele optou por sentou-se um pouco mais próximo de Shun e de frente para Ikki que aparentemente não esboçou nenhuma reação. Bom, mas isso acontecia somente porque Shaka havia mostrado ao moreno que ele não se dobraria tão fácil para as birras dele. Pensava Shaka.

O virginiano estava tão chateado quanto Ikki, mas nem por isso saia descontando nas pessoas. Apenas se mostrava indiferente.

Milo apagou o fogo e levou os ovos mexidos para a mesa.

— Em minha defesa... Vocês demoraram! – Defendeu-se o mais velho. Direcionando-se especialmente para Ikki, falou. – Além do mais, você tem nos agraciado tanto com sua presença nas refeições que eu, realmente, não cogitei que você desceria. Por isso caprichei mais nos Waffles!

O olhar assassino voltou a reinar no rosto do mais velho dos Amamiya. Milo sabia que Ikki detestava Waffles. Por isso o provocava daquela maneira.

— Vá ao inferno. Você não me deu escolha. – Retrucou entredentes.

Milo, no entanto, não se abalou. Já estava acostumado com o humor do irmão. Dentre os três, Ikki detinha a personalidade mais forte e parecia estar sempre de mau humor. Mas o escorpiano sabia que não era bem assim..., pelo menos se levasse em conta os sorrisos e o jeito leve que Ikki exibia quando estava a sós com Shun. Aquela fachada de zangado e pose de durão só enganava quem não o conhecia.

— Sabe Ikki, eu não me lembro de ter tido uma puberdade tão difícil quanto a sua. Também não fui um adolescente tão barulhento quanto você. – Rememorou Milo. – O que me leva a seguinte pergunta: Quanto tempo faz que você não tem uma foda descente?

A pergunta não pegou somente o leonino de surpresa. Shaka e Shun ficaram desconcertados.

O moreno suspirou profundamente, pedindo por paciência. Definitivamente, Milo era o pior irmão mais velho de todos os tempos. A indiscrição dele só perdia para sua falta de paciência.

— Seu bastardo. Isso não é da sua conta. – Disse o leonino.

— Com certeza deve ter bem mais de duas semanas. – Milo continuou alfinetando.

— Por favor, não falem como se houvessem somente vocês dois presentes. – Ralhou Shun, tão vermelho quanto um pimentão.

O sorriso de Milo ficou impossível. O escorpiano amava atiçar os irmãos, se absteve nos últimos dias somente porque estava muito ocupado com a mudança, a recepção do novo irmão e com o trabalho que teria que apresentar também no dia seguinte.

— Ora, ora, Shun... E você?

Os olhos esmeraldinos demonstraram uma indiferença inexistente e que não combinava com a cor quente no rosto do mais novo.

— Eu passo. Não sou obrigado a te responder isso. – Disse, somente.

— Shaka...

O loiro arregalou o olhar, sentiu o próprio sangue ferver e subir para suas bochechas. Ainda não dominava aquele idioma grosseiro, mas compreendia perfeitamente o teor da conversa imposta por Milo.

Sexo? Houve algum dia que esse tema passou por seus pensamentos? Viu-se perguntando.

Shaka não era muito de se entrosar.

As únicas lembranças mais próximas se resumiam a relatos. Alguns garotos que faziam questão de ficar em sua companhia, na Índia, mencionaram algumas vezes relações insossas com garotas. Sobre como era boa à sensação de um beijo, ou como Shiva dissera certa vez, quando estava namorado a serio, e fazendo um gesto no mínimo suspeito: Ah, é ótimo colocar a mão naquilo!

Shaka, particularmente, nunca quis colocar a mão “naquilo”. Ou mesmo teve algum relacionamento conclusivo com alguém. Nem mesmo comparecera em um encontro as cegas ao qual Ágoras, primo de Shiva, inventou porque teimou que Shaka deveria pelo menos saber como era beijar alguém.

Pois bem, eles que esperassem!

Dois pares de olhos se juntaram ao do escorpiano e Shaka enfiou um monte Waffles na boca. Desculpa perfeita para não ter que responder.

Ho. Não diga. Você é...

Antes que Milo pudesse concluir Ikki lhe deu uma pedalada na cabeça.

— Mané! Deixa de ser intrometido, Milo!

— Você não precisa responder se não quiser, Shaka. – Disse Shun.

As duas esmeraldas do caçula estavam voltadas para a dupla de irmãos em claro sinal de desgosto.

Milo sorriu consigo, aos poucos os mais novos estavam começando a se entenderem. Ikki até defendeu Shaka.

A agitação se seguiu para bem depois do café, quando Milo terminou de revisar uniformes, livros e bilhetes para ônibus e metro. Dinheiro do lanche e outras coisas essenciais.

Agora precisava dar devida atenção à apresentação de seu projeto.

—ooo0ooo—

O fim de tarde de domingo foi tranquila, monótona até. Ou estava ficando...

Milo estava quase se desesperando, não conseguiria terminar de forma descente sua apresentação. Estava no escritório recém-montado: um quarto vago no andar de baixo cuja ideia original era ser um quarto de jogos. Como um dia foi.

Ah, como aquele espaço guardava lembranças. Milo pensou com saudades.

Os melhores, e alguns piores, momentos de sua infância e inicio de adolescência foram ali. As reuniões dos trabalhos de casa... A maratona de videogame que na maioria das vezes acontecia durante os trabalhos de casa. O primeiro filme pornô, algo bem constrangedor de lembrar... Nunca pensou que um pequeno engano fosse se alastrar tanto. Afinal qualquer pré-adolescente desprecavido – e curioso. – poderia descobrir os vídeos de sacanagem dos pais ao confundir “Buttman” com “Batman”.

Seu primeiro beijo adolescente também aconteceu naquela sala e pasmem, não foi com uma garota como todos acham que foi. Certo que Camus parecia, e muito, com uma garota quando tinha treze anos, mas o garoto de aparência frágil, pele clara e grande olhos vítreos era um garoto. Tímido. Quase não tinha amigos e só falava o essencial, ainda se perguntava como haviam se tornado amigos. E o lance do beijo então...

Milo sentiu os olhos lacrimejarem.

Era melhor começar logo antes que o drama fizesse um dueto com a saudade e sobrepujasse toda vontade de fazer aquele trabalho. Porque verdade fosse dita, estava muito atrasado, e não disponibilizava de outro espaço. E aquele ambiente era o mais tranquilo da casa naquele momento. Poderia espalhar suas coisas sem problemas e sem se importar que alguém corresse o riso de pisar em seu material.

Enquanto isso na sala...

Shaka folheava um livro, marcando uma página e outra com papeis coloridos. Enquanto Shun tentava achar algo interessante na TV aberta. Mas só havia programas de auditório ou Reality’s.

— Quando vamos ter TV a cabo?

O mais jovem perguntou sem esperar realmente por uma resposta.

— Quando Milo criar vergonha na cara e resolver pressionar o pessoal da operadora que nos fornece internet móvel.

A resposta veio dos fundos, bem próximo ao corredor que dava acesso a escada. Ikki vinha com uma toalha enrolado no pescoço, os cabelos muito soltos, como se ele tivesse acabado de lavar, e pingando. Não parecia mais estar enfezado, Shun diria até que ele aparentava leveza.

— O que houve? – Shun perguntou. Ikki havia passado os últimos dias completamente explosivo e sem paciência.

Ikki sorriu traquino, foi até o irmão e cochichou algo no ouvido dele. Algo deveras inquietante, o fez mudar de uma expressão desinteressada para uma que eximia surpresa e indecisão.

— Milo não deixaria. – Ele disse depois de algum tempo.

— Ele não precisa saber. – Retrucou Ikki.

— Eu não sei... Assim até parecer que vamos fazer algo de errado.

— Ah, qual é Shun. É o nosso ultimo dia livre. Precisamos aproveitar pelo menos as cinzas... – Ikki tentava convencer. – Se você se importa tanto, eu vou falar com Milo.

Os olhos de Shun brilharam. Detestava sair sem a permissão do irmão mais velho. No fundo, sentia que devia isso, ao menos. Milo era sempre tão protetor.

Ikki foi até o escritório improvisado de Milo pedir “permissão” para um passeio. Até parece que Milo o deixaria ir se soubesse para onde pretendia.

O escorpiano permanecia ocupado, havia pensado em algumas coisas, mas todas a longa distancia. O que precisava mesmo era uma base. Porém o vigor guardado especialmente para aquela atividade estava se esvaindo sem que ele tivesse um grande progresso.

— Projeto difícil? – Ikki perguntou da porta, meio dentro e meio fora. Milo o mataria se ele resolvesse pisar em alguns daqueles papeis.

Milo estranhou a presença do irmão ali.

— Um pouco. Não tenho uma base completa do lugar então não sei exatamente onde mexer, entende?

Ikki não respondeu, apenas moveu a boca e cabeça com descaso. Milo não mexeria em nada, ele apenas rabiscaria um papel mostrando a melhor forma. Um engenheiro daria o aval e os pedreiros e auxiliares contratados por uma empreiteira faria a movimentação. Mas claro, ele não estava disposto a explicar tudo isso para o irmão.

— E você? O que está fazendo de bom? – Milo perguntou com aquele ar de desconfiança que ele sempre dispensava a Ikki.

— Quero ir ao cinema. – O moreno disse.

— Agora não dá. Tenho muita coisa a fazer.

— Você não precisa ir. Eu posso ficar responsável pelo Shun.

Milo o olhou com olhos interrogatórios.

— Qual é Milo, é apenas uma ida ao cinema.

— Você tem o dom de fazer coisas simples se tornarem complicadas. – Declarou o escorpiano.

— Você não pode estragar a vida de adolescentes desse jeito.

Milo ponderou um pouco com a promessa de um pouco de paz. Desde que se mudaram Ikki havia adquirido uma postura rígida. Sempre sem paciência ou com vontade de falar. Com a chegada de Shaka então... Se bem que teve o episodio logo pela manhã.

Talvez se Ikki se sentisse um pouco responsável...

— Ok. Mas Shaka vai junto. E quero os três de volta às dez.

Ikki bufou. Aquele loiro metido estragaria os seus planos.

— Que merda! – Exclamou Ikki.

— Olha a boca, moleque! – Retrucou Milo e o olhar que recebeu do mais novo não foi algo nada agradável.

Ali estava novamente a faísca que queimara durante toda a semana, e bem antes disso. Uma raiva totalmente sem motivos.

— Cinderela ganhou até a meia noite. – Ikki retrucou, escondendo o verdadeiro motivo do desgosto.

— A Cinderela não tinha dezesseis anos e era uma garota. A policia dificilmente prende garotas.

— Não vamos fazer nada de errado. Porque você sempre pensa o pior de mim?

Milo se perguntava a mesma coisa. Ikki não era uma pessoa ruim. No contexto geral apenas o gênio dele era difícil. Ok, teve aquela vez que em ele quebrou o nariz de outro garoto, um pouco maior que ele, na verdade bem maior que ele. Geki se a memoria de Milo não falhava. Mas tudo foi para proteger o Shun, certo? Certo! E aquela vez em que teve que ir busca-lo na delegacia porque Ikki resolveu pichar a escola durante a noite? E teve aquele episodio com o carro do professor, mas...

Adolescente! Sempre tudo muito difícil de aceitar!

O escorpiano ainda pensou em acompanhar os irmãos, mas desistiu. Eram adolescentes, no fim. E ele precisava terminar seu projeto.

E quando menos se deu, Milo estava desejando um bom filme aos mais novos.

—ooo0ooo—

Shaka nunca havia ido ao cinema, de fato, mas aquilo estava longe dos mencionados em alguns filmes. E Shaka já tinha assistido a vários filmes e não se lembrava de alguma referencia a casas. Ainda mais uma enorme.

Bem maior da que vivia atualmente.

Havia muitas pessoas, quase todas com copos nas mãos. Alguns se beijando, outros comendo, vários dançando. Pessoas em grupos em um canto. Outros sentados nos sofás em L e em pufes.

— Isso não é um cinema! – Mencionou o loiro desviando de algumas mãos atrevidas.

— Parabéns gênio. – Ikki Alfinetou.

Shaka ignorou o cinismo. O loiro não conhecia ninguém ali... E céus, jamais pensou em dizer tais palavras, mas o lugar mais seguro era ao lado de Ikki. Já duvidava que Ikki não fosse realmente a um cinema quando este falou aos cochichos com Shun, que por sinal se identificou rápido com o local, diferente dele que até pensou em descer do carro quando o moreno pediu para o taxista mudar a rota.

— O que estamos fazendo aqui, Ikki? – Interrogou curioso.

Estava realmente perdido. Era a primeira vez que se via em um lugar tão movimentado. E com uma musica infernal. O vocalista da banda gritava tanto que por um momento Shaka pensou que fosse ficar surdo.

— Calma, relaxa, não vamos ficar a noite toda. – Disse o moreno. – Só viemos prestigiar

— Mesmo porque Milo nos quer de volta as dez, né Ikki? – Shun disse estalando a língua.

Ikki passeava os olhos pelo local procurando por alguém que não tardou a encontrar.

— Ikki, você realmente veio? – Uma voz melodiosa alcançou os irmãos.

Ela era linda, cabelos loiros na altura do ombro e belíssimos olhos verdes. Usava um vestido azul-claro pontilhado e uma linda sapatinha creme. Arrancou um belo sorriso do enfezadinho encrenqueiro.

— Esmeralda.

Ikki foi cumprimentar a loira.

— Ele esqueceu bem rápido a Pandora. – Comentou Shun sarcástico, pegando um copo de bebida da bandeja de um garçom que passava por ali. – Você quer?

Shaka balançou a cabeça. Não era seguro beber nada daquele lugar, era o que ele queria dizer a Shun. Mas quando menos esperou o mais jovem já tinha sumido. Encontrou-o quase uma hora depois conversando com um rapaz loiro.

Ikki entrosou uma conversa animada com a tal Esmeralda e Shaka não viu outra opção que não fosse sentar isoladamente em algum lugar que aquela musica ensurdecedora não chegasse.

—ooo0ooo—

Shun vagava com um copo na mão. Ainda continuava entediado.

Uma festa interessante! Seu irmão dissera. Pois bem, ele sabia qual era o interesse de Ikki: Esmeralda. Bom, não podia julgar o irmão, a infeliz era bonita, gentil e inteligente. Totalmente diferente de Pandora, que era igualmente inteligente e bonita, mas muito fútil e arrogante.

Mas podia dizer que Ikki e Pandora faziam um casal perfeito. Ambos eram explosivos.

Ikki e Esmeralda se conheciam desde pequenos, mas devido à mudança para Detroit perderam o contato. E agora estavam ali de novo, seu irmão com cara de idiota e ela com sorrisos de fadas.

Era entediante!

Shun suspirou.

— Olha só o que eu encontrei...

Os olhos esmeraldinos de Shun encontraram com azuis safiras que o olhavam com um misto de surpresa e deboche.

— Hyoga? – Shun chamou, iluminado por um sorriso saudoso. – Há quanto tempo...

Hyoga era irmão mais novo de um amigo do Milo. Ele não lembrava bem o nome, era bem pequeno quando teve que mudar para Detroit. Quase não se lembrava de Hyoga.

— O que está fazendo aqui? – Interrogou o loiro, também servido de um corpo.

— Estou acompanhando meus irmãos. E você?

— Eu? Nada de mais! Estou apenas curtindo minha festa de aniversario.

Shun sorriu surpreso. Então Hyoga era o anfitrião.

Hyoga e Shun conversaram sobre varias coisas. O loiro contou sobre uma viagem a Paris. Também contou que recentemente Camus havia conseguido a guarda oficial de Esmeralda.

A loira era filha de um dos sócios de Camus, Gulty. Mas o homem tinha uma doença seria e para a segurança da garota ela foi afastada do pai. E Camus resolveu adota-la como irmã uma vez que Gulty tinha feito muito por ele.

Nesse meio tempo de conversa o loiro foi cumprimentado por alguns amigos e conhecidos, recebia presente e abraços. Se Shun soubesse que era Hyoga o amigo a quem Ikki se referia teria trago também um presente.

— Que dançar? – Hyoga perguntou despropositadamente.

Shun sorriu seu sorriso mais deslumbrante.

— Por que não?

O virginiano acompanhou o aniversariante até o inferninho no meio do Salão, dançaria até o toque de recolher estabelecido por Milo terminasse. Não sabia quando seria a próxima vez que o irmão o deixaria ir ao “cinema”, sozinho com Ikki, de novo.

Do outro lado da sala, um rapaz se aproximou de Shaka.

— Boa noite? – Desejou. E Shaka maneou a cabeça. Olhava com o semblante fechado na direção de Ikki, se perguntando como alguém conseguia ser tão cafajeste a ponto de mentir para alguém que depositou confiança nele e ainda leva-lo junto. – Você não é daqui. É?

Shaka lançou um olhar ao intruso de cima a baixo. Tinham a mesma altura. O outro não aparentava ter mais idade que ele. Sorte, era a segunda pessoa que conhecia cujos olhos não eram azuis, mas castanhos iguais aos cabelos e as sobrancelhas. Pele bronzeada e músculos proporcionais.

— Não, não sou. – Limitou-se a responde, provando um salgadinho que ele se arriscou a pegar.

Nesse meio tempo, Ikki e Shun sumiram de seu campo de visão. E ele não sabia por quanto mais teria que aguentar aquele lugar.

— Está acompanhado? – O rapaz perguntou.

Shaka sentiu uma veia saltar. Não estava com paciência. No tempo em que passou sozinho, pensou em muitas coisas... Uma delas era que não era seu feitio mentir, e de fato não o fizera. Mas Ikki havia feito e ele estava compactuando, tão logo ele estava mentindo.

— Sim. Meus irmãos estão em algum lugar desse antro. – Falou ríspido.

Os olhos do rapaz sibilaram ponderativos. O loiro parecia ser alguém reservado, havia falado de irmãos e não de pretendentes ou namoradas. Tão logo o caminho estava livre. Presumiu.

— Eu sou Algol.

A língua ferina de Shaka coçou em uma retruca, mas ele optou por ser educado, no mínimo cortes. O loiro colocou um punhado de cabelo atrás da orelha, respirou fundo.

— Shaka. – Disse, paciente.

Algol sorriu. Aquele menino era bonito e ele não se arrependeria de levá-lo para cama.

— Você quer ir a um lugar mais tranquilo, Shaka? Um lugar onde essa musica não nos perturbe. – Shaka ergueu uma sobrancelha.

Porque não? Pensou. Aquela musica era realmente detestável, mas ele não poderia sair perambulando pela casa alheia.

Shaka seguiu Algol até o que lhe pareceu o projeto de um bosque: Grama curta, poucas flores e algumas arvores. Começava ao fim de um pequeno declínio. O lugar não estava totalmente escuro, mas havia bem pouca iluminação ali.

— Chegamos! – Comentou Algol recostando-se em um das arvores. – Bem mais tranquilo, não?

O indiano tinha que concordar, realmente a musica não chegava até ali. Ou melhor, som nenhum chegava até ali. Talvez, apenas alguns casais aproveitando-se da semiescuridão, e querendo um pouco de privacidade, fariam uso daquele lugar durante a noite.

Shaka cruzou os braços e se manteve a uma distancia “segura”.

— Venha até aqui. – Algol estendeu uma das mãos para o loiro.

Shaka, porém não se mexeu. Olhava ao redor tentando entender o quê exatamente aquela criatura estava querendo. Por que, claro, Shaka não pretendia fazer nada com o outro ali. Definitivamente não!

— Olha, eu acho que vou procurar meus irmãos.

Shaka girou nos calcanhares, pronto para retornar para o inferninho dentro da casa, mas Algol correu e o segurou pelos ombros com agressividade. Shaka o encarou surpreso.

— Não vai, não. – Algol falou, ainda segurando os ombros de Shaka.

— Me solta! – O loiro falou descruzando os braços e tentando pegar as mãos de Algol.

— Acalme-se. Nós só vamos nos divertir um pouco.

Algol impulsionou-se contra Shaka, empurrando até que ele encostasse em uma das arvores. Em seguida desceu as mãos para os pulsos de Shaka e os prendeu nas costas do loiro. O indiano foi pego de surpresa, Algol era forte. Estava acostumado a prender pessoas daquele jeito. Logo prendeu o corpo de Shaka de uma maneira que ele não conseguia se soltar.

Shaka sentia o corpo de Algol pressionar o seu sem delicadeza.

— Ficou louco? – Esbravejou o virginiano movendo-se, tentando se soltar.

— Fique quieto. Já disse que vamos apenas nos divertir.

— Não quero me divertir com você. Solte-me! – O olhar furioso do indiano arrancou um riso divertido do outro.

— Você vai mudar de ideia logo, logo.

Algol inclinou a cabeça e segurou um punhado de cabelos do loiro, puxando na direção oposta. Shaka exprimiu um gemido dolorido, tentando a todo custo soltar-se. Os lábios de Algol oprimiram os seus sem piedade.

Shaka ficou imobilizado. Não acreditava que aquilo estava acontecendo. Não daquele jeito. A língua daquele nojento estava tentando mesmo entrar em sua boca? Shaka tentou com mais força se soltar, mas não conseguiu. Nesse momento Algol conseguiu seu intento e encaixou sua boca na de Shaka. Mas indiano foi mais esperto, aproveitou a oportunidade e mordeu a língua do agressor.

Algol gritou, afastou-se de Shaka e levou a mão a boca. O gosto de sangue era forte. Shaka cuspiu, também havia sangue em sua boca.

— Você enlouqueceu? – Algol perguntou abafado.

Shaka não respondeu, puxou Algol pelo colarinho da camisa e o socou tão forte quanto conseguiu. O moreno caiu no chão segurando a mandíbula.

— Foi você que enlouqueceu seu idiota. – Exclamou. – Onde já se viu... Atacar as pessoas desse jeito.

Shaka ainda deu mais dois socos em Algol antes de sair pisando firme dali.  Era a primeira vez que era tomado pela fúria. Aqueles dias haviam sido os piores de sua vida. Tinha sido arrancado completamente da sua zona de conforto: brigas, mentiras, solidão. O que mais faltava acontecer?

Sentiu um gomo na garganta e seus olhos arderem. Chorar? Era só o que faltava!

— Aonde vai? – Ikki segurou seu braço quando ele passou pelo Hall.

Shaka puxou o braço por instinto.

— Casa! – Respondeu somente. Completamente irritado.

Ikki gelou ao ver a fúria brilhosa que beirava os olhos do indiano.

— Shaka, espere. – Ikki pediu nervoso.

— Fique longe de mim. – O loiro gritou, andando de costa. – Você é outro idiota!

O moreno irritou-se.

— Seu egocêntrico. Não ferra a minha noite!

Shaka não respondeu, retomou o caminho, agora bem mais decidido do que antes. Não conseguia mais segurar as lagrimas em seus olhos que corriam, quentes como brasa, molhando seu rosto. Era muita coisa para ele encarar sozinho. Ele era apenas um adolescente. Não deveria estar passando por tudo aquilo.

Conseguiu um taxi assim que conseguiu sair daquele enorme caminho de pedras.

Ikki bufou, sabia que aquele metido estragaria sua noite. Retornou para festa apenas para procurar por Shun. Precisava chegar, ao menos, alguns minutos depois que Shaka.

—ooo0ooo—

Shaka chegou completamente irritado. Sua cabeça estava fervilhando e seu rosto estava quente.

Como aquele garoto era idiota!

Ele foi a vitima da historia e não precisava ter passado por aquilo se não tivesse acompanhado aquele imbecil. Deveria ter dito isso a Milo. Que não queria acompanhar Ikki a lugar algum.

— Já de volta? – Milo perguntou, mas não houve resposta.

Shaka estava uma bagunça: olhos vermelhos, cabelos desalinhados e o lábio um pouco ferido. Milo aguardou que o restante dos irmãos entrasse, o que não aconteceu.

— Onde estão os outros? – Perguntou, novamente sem resposta.

O loiro não sabia o que fazer. Continuar com a mentira contada por Ikki ou mandar um foda-se e contar a Milo todo o ocorrido. Vinha pensando o caminho todo no que fazer, mas agora, na hora da verdade, ainda estava indeciso.

Era a primeira vez com irmãos. O que fazer? O que fazer?

Milo esperava por uma resposta e não merecia ser enganado, mas e quanto a Ikki e Shun? Como eles se sentiriam se soubesse que ele os entregou? Apesar da culpa ser deles... O virginiano não gostava de agir por impulso. Estava magoado com tudo o que vinha acontecendo, mas...

Droga!

Shaka suspirou profundamente.

— Detesto filme romântico. – Falou, dando de ombros. Algo dentro de seu peito esmagando dolorosamente.

Hum...

O grego conhecia perfeitamente os irmãos e filmes românticos não era a melhor opção para eles. Mas não forçaria Shaka. O adolescente parecia estar tão atormentado. Ikki provavelmente tinha algo a ver com a historia toda.

Milo suspirou frustrado. Não havia sido uma boa ideia nos fim das contas.

Fazê-los se acostumarem uns com os outros não seria fácil. Ikki tinha um gênio difícil e Shaka era do tipo que não se deixava dominar. Precisava pensar em um meio, sutil de preferencia, para fazê-los colaborar.

— Ainda estou terminando meu trabalho. Quer me ajudar? – Ariscou Milo.

Shaka maneou com a cabeça negando. Tudo o que queria era ficar sozinho. E assim passou por Milo em direção ao próprio quarto.

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Então, chegamos ao fim de mais um capitulo!

Agradecemos aos comentários recebidos no capitulo anterior. É bom recebemos o carinho de vocês. Agradeceríamos também se os fantasminhas se pronunciassem. Sabe como é, quanto mais comentário, mais vontade escrever.

Bem, é só isso por enquanto, até o próximo capitulo. Um super beijo a todos! E tenham uma ótima semana.



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